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Conferências de Bretton Woods

As conferências de Bretton Woods, definindo o Sistema Bretton Woods de


gerenciamento econômico internacional, estabeleceram em julho de 1944 as regras para as
relações comerciais e financeiras entre os países mais industrializados do mundo. O sistema
Bretton Woods foi o primeiro exemplo, na história mundial, de uma ordem monetária
totalmente negociada, tendo como objetivo governar as relações monetárias entre Nações-
Estado independentes.

Preparando-se para reconstruir o capitalismo mundial enquanto a Segunda Guerra


Mundial ainda desenvolvia-se, 730 delegados de todas as 44 nações aliadas encontraram-se,
em Bretton Woods (New Hampshire), para a Conferência monetária e financeira das Nações
Unidas. Os delegados deliberaram e finalmente assinaram o Acordo de Bretton Woods
(Bretton Woods Agreement) durante as primeiras três semanas de julho de 1944.

Os acordos

Definindo um sistema de regras, instituições e procedimentos para regular a política


econômica internacional, eles estabeleceram o Banco Internacional para a Reconstrução e
Desenvolvimento (International Bank for Reconstruction and Development, ou BIRD) (mais
tarde dividido entre o Banco Mundial e o "Banco para investimentos internacionais") e o
Fundo Monetário Internacional (FMI). Essas organizações tornaram-se operacionais em
1946, depois que um número suficiente de países que ratificaram o acordo.

As principais disposições do sistema Bretton Woods foram:

1. A obrigação de cada país adotar uma política monetária que mantivesse a


taxa de câmbio de suas moedas dentro de um determinado valor indexado ao
dólar —mais ou menos um por cento— cujo valor, por sua vez, estaria ligado
ao ouro numa base fixa de 35 dólares por onça Troy e;
2. Em segundo lugar, a provisão pelo FMI de financiamento para suportar
dificuldades temporárias de pagamento.
Em 1971, diante de pressões crescentes na demanda global por ouro, Richard Nixon,
então presidente dos Estados Unidos, suspendeu unilateralmente o sistema de Bretton
Woods, cancelando a conversibilidade direta do dólar em ouro.

As origens do sistema Bretton Woods

As bases políticas do sistema Bretton Woods podem ser encontradas na confluência


de várias condições principais:

As experiências comuns da Grande Depressão;


A concentração de poder em um pequeno número de Estados e;

A presença de uma potência dominante querendo (e capaz de) assumir um


papel de liderança.

As experiências da Grande Depressão

História

A Grande Depressão, também chamada por vezes de Crise de 1929, foi uma grande
depressão econômica que teve início em 1929, e que persistiu ao longo da década de 1930,
terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. A Grande Depressão é considerada o
pior e o mais longo período de recessão econômica do século XX. Este período de depressão
econômica causou altas taxas de desemprego, quedas drásticas do produto interno bruto de
diversos países, bem como quedas drásticas na produção industrial, preços de ações, e em
praticamente todo medidor de atividade econômica, em diversos países no mundo.

Depressão e Bretton Woods

Um alto nível de concordância entre os países sobre as metas e meios do


gerenciamento econômico internacional facilitou em muito as decisões tomadas pela
Conferência de Bretton Woods. A fundação daquele acordo foi uma crença comum no
Capitalismo intervencionista.

Apesar de os países desenvolvidos diferirem quanto ao tipo de intervenções que


preferiam para suas economias nacionais (a França, por exemplo, preferia um maior
planejamento e intervenção estatal, enquanto os Estados Unidos eram favoráveis a uma
intervenção estatal mais limitada), todos, no entanto, baseavam-se predominantemente em
mecanismos de mercado e na noção de propriedade privada. Todos os governos participantes
de Bretton Woods concordavam que o caos monetário do período entre-guerras forneceu
valiosas lições.

Assim, foram as semelhanças, mais do que as diferenças, que foram postas em


evidência. A experiência da Grande Depressão, quando a proliferação de controles e barreiras
de comércio levaram ao desastre econômico, estava fresca na memória dos participantes.

Segurança econômica

Também com base nas experiências do período entre-guerras, os planificadores


estadunidenses desenvolveram um conceito de segurança econômica—que um sistema
econômico liberal internacional aumentaria as possibilidades de paz no pós-guerra.

Um dos que viram tal segurança foi Cordell Hull, o secretário de Estado dos Estados
Unidos de 1933 a 1944.1 Hull acreditava que as causas fundamentais das duas guerras
mundiais estavam na discriminação econômica e guerras comerciais. Hull argumentava que:

“Comércio sem obstáculos associado com paz; altas tarifas, barreiras


comerciais e competição econômica injusta, com guerra... se
conseguíssemos tornar o comércio mais livre... mais livre no sentido
de menos discriminações e obstruções... de tal modo que um país não
ficaria mortalmente invejoso de outro e os padrões de vida de todos os
países pudessem crescer, eliminando com isso a insatisfação
econômica que alimenta a guerra, teríamos uma chance razoável de
paz durável”.

O surgimento do intervencionismo governamental

Os países desenvolvidos também concordaram que o sistema econômico liberal


internacional requeria intervencionismo do governo. Após a Grande Depressão, a
administração pública da economia emergiu como uma atividade primeira dos governos de
Estados desenvolvidos: emprego, estabilidade e crescimento eram então assuntos importantes
da política pública. Com isso, o papel do governo na economia nacional ficou associado com
a apropriação, pelo Estado, da responsabilidade de garantir a seus cidadãos um certo grau
de bem-estar econômico.

O welfare state (estado protetor) nasceu da Grande Depressão, que criou uma
necessidade popular de intervencionismo estatal na economia, e das contribuições teóricas
da escola econômica Keynesiana, que defendia a necessidade de intervenção estatal a fim de
manter níveis adequados de emprego.

Fim de Bretton Woods

No final dos anos 1960, ataques especulativos contra a libra esterlina e o dólar, moedas
fortes e de grande circulação internacional, marcaram o retorno das atividades financeiras
especulativas, que por conta da grande regulação, haviam ficado latentes durante um longo
período antecedente a essa década, mas retornaram com grande força e rapidez colocando em
xeque o sistema de câmbio fixo posto em vigor com os Acordos de Bretton Woods.

A especulação do mercado acabou gerando um excendente de dólares imcompatível


com a quantidade de ouro disponível que deveria servir de lastro para a moeda. Assim, de
acordo com Beluzzo (1995), se intensificaram de tal maneira que em 1971, Richard Nixon
suspendeu a conversibilidade do dólar a uma taxa fixa com o ouro, definitivamente
encerrando-os pela decisão de instituir o câmbio flexível e eliminar o lastro-ouro de sua
moeda. E em 1973 o sistema de paridades, mas ajustáveis, de Bretton Woods foi substituído
por um sistema de flutuações cambiais.

Em geral, duas explicações são correntemente utilizadas para explicar a crise que levou
o fim do regime monetário de Bretton Woods:

1. O forte aumento da circulação de dólares devido aos sucessivos déficits


no balanço de pagamentod dos EUA após a Segunda Guerra e;

2. O crescimento exponencial do mercado de eurodólares na segunda


metade dos anos 1960, levando ao aumento desordenado da liquidez
internacional fora do controle do Fed.

A criação de um sistema cambial muito mais flexível com o fim dos acordos de Bretton
Woods, não foi o que surpreendeu as economias de maneira geral mas sim o vigor, com que
essa ressurgência das forças de mercado, comprometeu a eficácia dos controles de capital,
que se mantinham de alguma forma controlados e ainda, como essas forças anularam os
esforços dos governos para administrar suas respectivas moedas.

Os acordos de Bretton Woods proporcionaram um grau de estabilidade admirável,


principalmente se comparado à volatilidade dos períodos precedente e subsequente, mas,
considerando que os acordos acabaram gerando problemas nos pagamentos, eles permitiram
a expansão sem precedentes no comércio e investimentos internacionais que alimentaram o
crescimento explosivo do capital no pós-guerra.

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