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Colégio estadual professor Júlio Szymanski

Técnico em Administração

Letícia Amaral

O que aconteceu em 1971?

Araucária
2024
Em quinze de agosto de 1971 o presidente Richard Nixon anunciou o fim da
conversibilidade entre o dólar e o ouro, consequentemente acabando com o sistema
Bretton Woods, a partir desse momento, tudo mudou.
Os Acordos de Bretton Woods foram estabelecidos em 1944, um marco crucial na
história financeira internacional, para regular as relações financeiras internacionais
após a Segunda Guerra Mundial. Eles criaram o Fundo Monetário Internacional
(FMI) e o Banco Mundial, com o objetivo de promover a estabilidade econômica e o
desenvolvimento global.

Além disso, estabeleceram um sistema de taxas de câmbio fixas, onde as moedas


nacionais estavam vinculadas ao dólar dos Estados Unidos, que por sua vez estava
ancorado ao ouro. Isso proporcionou estabilidade cambial e facilitou o comércio
internacional, promovendo o crescimento econômico em todo o mundo.
A importância foi imensa. O sistema de Bretton Woods contribuiu para as décadas
de prosperidade econômica que se seguiram, ajudando a reconstruir a Europa e a
impulsionar o desenvolvimento em todo o mundo.

Após o seu fim, as taxas de conversão entre as moedas do mundo deixaram de ser
fixas e passaram a flutuar, os Estados Unidos levaram a expansão da oferta
monetária, um fenômeno econômico que ocorre quando a quantidade de dinheiro
em circulação na economia aumenta significativamente.

A expansão da oferta monetária pode ter várias consequências econômicas. No


curto prazo, pode estimular o crescimento econômico, reduzir as taxas de juros e
aumentar a liquidez do sistema financeiro.
No entanto, a expansão excessiva da oferta monetária também pode levar a
pressões inflacionárias. Quando há muito dinheiro em circulação em relação à
quantidade de bens e serviços disponíveis na economia, os preços tendem a subir.
Exatamente a situação ocorrida com os EUA em 1971 de um modo nunca visto
antes, gerando uma grande perda do poder de compra e instabilidade econômica.

A medida de Nixon levou o processo iniciado na primeira guerra, levando a


economia global do padrão ouro ao padrão fiduciário. Câmbio flutuante é um
sistema no qual o valor de uma moeda em relação a outras é determinado pelo
mercado, através da oferta e demanda. Podem variar constantemente ao longo do
tempo, refletindo as mudanças nas condições econômicas, políticas e comerciais de
um país. Muitos países ao redor do mundo adotam o câmbio flutuante como seu
sistema de câmbio, enquanto outros optam por uma forma de regime cambial
híbrido, onde permitem que suas moedas flutuam dentro de certos limites ou
intervêm ocasionalmente no mercado para estabilizar as taxas de câmbio.

Para o mundo as taxas de câmbio flutuante constituíam o chamado escambo


parcial. Hans-Hermann Hoppe é um influente economista e filósofo político alemão.
Ele é um crítico do estado e defensor da propriedade privada e do livre mercado.
Hoppe é autor de vários livros, incluindo"A Theory of Socialism and Capitalism".

Um dos conceitos discutidos por Hoppe é o de escambo parcial, que é uma forma
de troca direta de bens e serviços sem o uso de moeda. Um vendedor não queria a
moeda do comprador e portanto este devia comprar uma outra moeda primeiro,
incorrendo em custos. As partes envolvidas na transação não trocam bens ou
serviços diretamente um pelo outro, mas em vez disso, trocam uma parte de seu
produto por uma promessa futura de receber uma parte do produto do outro.

Hoppe argumenta que é uma forma natural de troca que surge quando não há
moeda disponível ou quando as partes não confiam na moeda em circulação. Ele
sugere que pode ser mais eficiente do que o escambo direto devido à divisibilidade
dos produtos e à capacidade de trocar partes de um produto por partes de outro.

Argumenta também que ao evitar o uso de moeda e conduzir transações fora do


sistema financeiro convencional, as partes podem evitar a tributação e manter sua
privacidade financeira. No entanto, é importante notar que o escambo parcial
também tem limitações. Ele pode ser menos conveniente do que o uso de moeda e
pode ser mais difícil determinar o valor relativo dos bens e serviços envolvidos na
transação e pode ser mais suscetível a fraudes e desentendimentos entre as partes.

À medida que a integração global crescia, o custo dessa ineficiência somente


aumentava. Aliás o mercado de câmbio só existe porque as moedas não são
lastreadas em nada sólido, uma moeda sem lastro é que seu valor é baseado na
confiança do público e na aceitação geral como meio de troca.

Historicamente, muitas moedas foram lastreadas em metais preciosos, como ouro e


prata. Isso significava que o valor da moeda estava vinculado a uma quantidade
específica desses metais, garantindo sua estabilidade e aceitação generalizada. No
entanto, ao longo do tempo, os governos abandonaram o sistema de lastro em
metais preciosos em favor de moedas fiduciárias, que são moedas sem lastro.

As moedas fiduciárias têm várias vantagens sobre as moedas lastreadas em metais


preciosos. Por exemplo, elas oferecem maior flexibilidade aos bancos centrais para
ajustar a oferta monetária de acordo com as necessidades da economia. Isso pode
ser especialmente útil em tempos de recessão, quando os bancos centrais podem
precisar injetar dinheiro na economia para estimular o crescimento.

No entanto, as moedas sem lastro também apresentam desafios e riscos. Uma das
preocupações é a inflação descontrolada, já que os governos têm mais liberdade
para imprimir dinheiro sem lastro, o que pode levar a um aumento no suprimento de
dinheiro e, eventualmente, a uma perda de valor da moeda.
Além disso, a confiança do público desempenha um papel crucial no valor das
moedas sem lastro. Se os indivíduos e os mercados perderem a confiança na
moeda, seu valor pode cair rapidamente, levando a uma crise financeira e
econômica.

Era a primeira vez na história que todos os países funcionavam com dinheiro
fiduciário. Os países mais desenvolvidos continham a inflação, os países menos
desenvolvidos, ao contrário, não tinham limites inflacionários, causando episódio de
hiperinflação. Quando ocorre, os preços podem aumentar várias vezes ao dia,
levando a uma perda substancial do poder de compra da moeda e a um colapso da
confiança no sistema monetário.

Devido às suas consequências catastróficas, a hiperinflação é geralmente


considerada um dos piores cenários possíveis para uma economia e é amplamente
evitada através de políticas monetárias prudentes e de uma gestão econômica
responsável. A República de Weimar foi o regime democrático que governou a
Alemanha de 1919 a 1933. Este período ficou marcado por uma série de desafios
econômicos com destaque para a hiperinflação que assolou o país na década de
1920.

A Alemanha de Weimar enfrentou uma grave crise econômica, agravada pelas


pesadas reparações de guerra impostas pelo Tratado de Versalhes, que encerrou a
Primeira Guerra Mundial. O governo alemão tentou financiar esses pagamentos por
meio da emissão de moeda, resultando em uma hiperinflação descontrolada.

A hiperinflação atingiu seu ápice em 1923, quando o valor do marco alemão


colapsou dramaticamente. Os preços aumentavam várias vezes ao dia, e as
pessoas carregavam carrinhos cheios de dinheiro para comprar itens básicos. A
economia foi paralisada, a poupança das pessoas evaporou e a confiança no
governo e na moeda nacional foi destruída. A queda no padrão de vida leva as
pessoas ao desespero e abre espaço para medidas cada vez mais autoritárias

Veja, a hiperinflação é um desastre econômico exclusivo de moeda fiduciário, nunca


houve caso em economias que operam no padrão ouro, prata, mas existe? A
ocorrência de hiperinflação em economias operando no padrão ouro é uma situação
incomum, mas não é impossível.

A hiperinflação pode ocorrer em circunstâncias extremas. Aqui estão algumas


maneiras pelas quais isso poderia acontecer:

1. Crescimento descontrolado da oferta de moeda: Se o governo ou o banco central


decidir imprimir uma quantidade excessiva de moeda sem lastro em ouro, isso pode
levar a uma inflação descontrolada, mesmo sob o padrão ouro.
2. Crises econômicas e políticas: Eventos como guerras, instabilidade política ou
desastres naturais podem levar a pressões inflacionárias, mesmo em economias
operando sob o padrão ouro.

3. Abandono do padrão ouro: Em alguns casos, os governos podem decidir


abandonar o padrão ouro como resultado de pressões econômicas ou políticas.

Embora o ouro tenha sido historicamente considerado um ativo seguro e estável, a


capacidade de um país de manter a estabilidade monetária sob o padrão ouro
depende de uma série de fatores econômicos, políticos e institucionais.

Um dinheiro fiduciário depende exclusivamente da capacidade desses políticos de


não cair em tentação e não estacionar em sua base monetária, convenhamos, isso
não vai acontecer. A expansão constante da oferta implica uma desvalorização
contínua da moeda transferindo riqueza para aqueles que imprimem e recebem
primeiro, o então, efeito Cantillon.

Basicamente, sugere que quando o dinheiro novo é injetado na economia, ele não
se espalha uniformemente, mas tem efeitos diferentes em diferentes setores e
agentes econômicos. Os primeiros a receber o dinheiro novo, como bancos ou
grandes empresas, se beneficiam ao gastá-lo antes que os preços subam. Isso
pode levar a aumentos nos preços de ativos financeiros ou de bens de luxo que
esses agentes compram.

Enquanto isso, aqueles que recebem o dinheiro novo por último, como assalariados
ou pessoas em situação de vulnerabilidade econômica, sofrem com o aumento dos
preços sem terem experimentado um aumento proporcional em sua renda. Isso
pode resultar em uma redistribuição da riqueza em favor dos primeiros receptores
do dinheiro novo. Sempre vai haver uma emergência nacional a justificar a inflação.

Os efeitos do dinheiro fiduciário ficam evidentes ao comparar o mundo antes e


depois de 1971.
Os salários dos trabalhadores acompanhavam a produtividade, porém a partir desse
ano, embora a produtividade tenha aumentado, os salários dos trabalhadores se
mantiveram praticamente constantes.
O sistema fiduciário permite que quem está embaixo seja expropriado, quem está
em cima seja beneficiado.

A partir desse ano, a concentração de renda aumentou consideravelmente, subiu o


número de casas em que tanto o marido quanto a mulher trabalhavam para
conseguir pagar as contas e evitar se afundar em dívidas impagáveis.
Uma lata de sopa de tomate custava cerca de dez centavos de dólar, quando que
poderíamos imaginar ir ao mercado e pagar esse valor atualmente?
Após 1971, porém, o seu preço começou a aumentar significativamente. Hoje o
valor é de quase um dólar e vinte centavos. O que vale o mesmo para outros bens e
serviços.
Os salários, obviamente, não acompanharam essa mudança. A poupança diminuiu
e as pessoas passaram a economizar cada vez mais, a família se desestruturou.

Esse diagnóstico mostra a decadência social em que mergulhamos. A nossa


preferência temporal se eleva, ou seja, começamos a pensar apenas a curto prazo,
esquecendo de uma visão de futuro, gastando o que recebemos. Somos forçados a
nos tornar as piores versões de nós mesmos.

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