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padrão-ouro
Já as taxas de câmbio, por sua vez, são preços especulativos — isto é, elas
surgem das transações de pessoas de negócios que, em suas operações,
consideram não apenas os acontecimentos presentes, mas também as perspectivas
futuras. Assim, a depreciação da moeda torna-se aparente de modo relativamente
rápido nas taxas de câmbio negociadas na bolsa de valores mundo afora — muito
antes de os preços de outros bens e serviços serem afetados.
Entretanto, existe uma teoria que procura explicar a formação das taxas de
câmbio com base no balanço de pagamentos, e não no poder de compra da
moeda. Essa teoria faz uma distinção entre o declínio no valor de uma moeda
nos mercados internacionais e a redução em seu poder de compra no mercado
doméstico. Para ela, há apenas uma ligeira conexão entre os dois fenômenos —
ou, para muitos de seus seguidores, não há conexão alguma. Ou seja, a
depreciação da moeda no mercado internacional não teria ligação alguma com
sua depreciação em seu mercado doméstico.
Não vamos aqui especular as razões por que tal teoria esteja sendo levada a
sério. Entre a mudança na taxa de câmbio e a mudança no poder de compra
doméstico da unidade monetária, sempre decorre um espaço de tempo —
pequeno ou grande.
Certamente, não deveria haver qualquer motivo para examinarmos essa teoria
mais a fundo. Ela aparentemente já foi aceita cientificamente. O fato de que ela
tenha hoje um papel significativo na política econômica pode ser uma razão para
se investigar a base política de sua inquestionável popularidade entre
economistas e funcionários do governo. Como resultado, portanto, vivemos hoje
sob a idéia de que o balanço de pagamentos é decisivo para a taxa de câmbio. Se
for desejável aumentar o valor da moeda estrangeira, ou evitar que ela caia mais,
o segredo estaria na manipulação do balanço de pagamentos.....
A falácia básica dessa teoria está em ela ignorar completamente o fato de que o
volume de importações e exportações depende essencialmente dos preços dos
bens. Nem as importações e nas as exportações são feitas apenas por capricho ou
diversão. Ambas são feitas de modo a possibilitar uma transação lucrativa, isto é,
de modo a se ganhar dinheiro com as diferenças nos preços de ambos os lados.
Consequentemente, importações e exportações são feitas até que as diferenças de
preço desapareçam.....
É fácil reconhecer que encontramos aqui apenas uma nova forma da velha teoria
do balanço de pagamentos favorável e desfavorável defendida pela Escola
Mercantilista dos séculos XVI e XVIII. Isso ocorreu antes da massificação do
uso de cédulas e outras moedas bancárias. O temor até então era o de que um
país com um balanço de pagamentos desfavorável poderia perder toda a sua
oferta de metais preciosos para outros países. Consequentemente, argumentava-
se que, ao se estimular as exportações e limitar as importações ao máximo
possível, um país poderia tomar precauções para impedir que isso acontecesse.
Mais tarde, desenvolveu-se a ideia de que a balança comercial sozinha não era
decisiva; ela era somente uma variável dentro do balanço de pagamentos. Logo,
todo o balanço de pagamentos deveria ser levado em consideração. Como
resultado, a teoria passou por uma reorganização parcial. Entretanto, seu
pressuposto básico — a saber, que caso o governo não controlasse suas relações
comerciais externas todos os metais preciosos poderiam fugir do país — persistiu
até finalmente perder a batalha de idéias para as criticas pesadas feitas pelos
economistas clássicos.
O balanço de pagamentos de um país nada mais é do que a soma dos balanços de
pagamento de todas as suas empresas individuais. A essência de cada balanço é
que o crédito seja igual ao débito. Ao compararmos as entradas de crédito com
as entradas de débito no balancete de uma empresa, vemos que os dois totais têm
de ser o mesmo. A situação em nada se difere para o caso do balanço de
pagamentos de todo um país. Ali, também, os totais devem sempre estar em
equilíbrio. Esse equilíbrio, que necessariamente tem de ocorrer, pois bens estão
sendo comercializados — e não doados — em transações econômicas, não é
criado primeiro praticando todas as exportações e importações, sem qualquer
consideração para com os meios de pagamento, para somente então se fazer o
ajuste do balanço em dinheiro. Não. Mais especificamente, durante uma
transação, o dinheiro ocupa exatamente a mesma posição que as mercadorias
sendo transacionadas. O dinheiro pode inclusive ser a razão habitual para se
fazer as transações.