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INTERNACIONAIS
E CÂMBIO
Moeda estrangeira
e variação cambial
como ativos
financeiros
Felipe José Geromim dos Reis
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Um dos mais importantes ambientes em que ocorrem as transações econô-
micas é o mercado de câmbio. Com o avanço tecnológico e o progresso das
telecomunicações, além da ascensão da globalização, o mercado cambial vem
sendo cada vez mais utilizado pelos agentes econômicos. As interações entre
países e o uso de diversas moedas estrangeiras ocorrem também através
desse mercado.
Os acontecimentos no mercado cambial têm inferência sobre as taxas de
câmbio, podendo alterá-las e assim modificar o andamento do sistema eco-
nômico. Outra importante incumbência do mercado cambial é ser o ambiente
onde se trocam os ativos em moeda estrangeira, e os agentes que atuam
2 Moeda estrangeira e variação cambial como ativos financeiros
neste mercado interagem para obter a maior taxa de retorno para seus ativos,
considerando também outras variáveis, como as taxas de juros.
Neste capítulo, você vai aprender a definição de mercado de câmbio, além
de suas principais características. Também vai conhecer a diferença entre taxas
de câmbio spot e futura e saberá como se dão os retornos dos ativos neste
mercado. Por fim, vai examinar a relação das taxas de juros com as taxas de
câmbio, além de identificar como essas taxas interagem entre si.
A essa altura você pode estar se perguntando por quais motivos os agentes
econômicos escolheriam transacionar mediante taxas de juros futuras, tendo
em vista a incerteza que elas podem proporcionar. Mas pense no exemplo
a seguir: imagine que um produtor brasileiro de café precisa importar uma
máquina norte-americana que faz a moagem do grão, e essa máquina custa
hoje US$ 20 mil. O produtor sabe que sua produção de café só estará apta para
venda daqui 90 dias, porque os grãos precisam ser secos, torrados, moídos e
embalados. Porém, até que a venda do café ocorra, o produtor não dispõe de
dinheiro para comprar a máquina de moagem. Dessa forma, ele pode combinar
com algum banco em pagar uma taxa de câmbio de R$ 5,00 para cada dólar
dali a 90 dias, o que fará com que o preço da máquina seja de R$ 100 mil.
Certamente, o produtor espera faturar na venda do café o suficiente para
pagar a taxa de câmbio futura. Isso implica que, passados 90 dias, se a taxa
de câmbio spot estiver a R$ 5,50 para cada dólar, o produtor terá aumentado
seus lucros pelo mero aumento do custo do dólar, porque já havia combinado
em pagar R$ 5,00 para cada dólar 90 dias atrás. Ou seja, se antes a máquina
custava R$ 100 mil, agora custa US$ 20.000 × R$ 5,50 = R$ 110 mil. Porém,
o produtor não precisará pagar estes R$10 mil a mais, porque já havia acordado
com o banco quando do pagamento da taxa de câmbio futura.
De forma análoga, caso a taxa de câmbio spot passasse a valer R$ 4,50 para
cada dólar após os 90 dias, a máquina de moagem custaria agora R$ 90 mil
(US$ 20.000 × R$ 4,50), fazendo com que o produtor tivesse um prejuízo de R$10 mil.
Porém, na maioria das vezes as empresas utilizam as taxas de câmbio futuras
justamente para se protegerem dos riscos inerentes à variação cambial, já
que podem combinar o câmbio com o banco e se manterem seguras quanto
a qualquer flutuação que ocorra.
Taxa spot
2,0
1,5
Taxa futura
1,0
1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013
2,3
2,2
R$/US$
2,1
2,0
1,9
01/08/06
01/02/06
01/10/06
01/11/06
01/12/06
01/02/07
01/03/06
01/07/06
01/09/06
01/01/07
01/03/07
01/04/06
01/05/06
01/06/06
01/04/07
01/05/07
Futuro À vista
Figura 2. Taxas de câmbio spot e futura do real/dólar entre fevereiro de 2006 e maio de 2007.
Fonte: Adaptada de Ventura e Garcia (2012).
8 Moeda estrangeira e variação cambial como ativos financeiros
Considerando que o preço do ativo tenha sido em reais, quando esses dois
valores são comparados e nos mostra qual foi a taxa de retorno, então esta
será a taxa de retorno de reais. Contudo, nada impede que você expresse
a taxa de retorno em quaisquer moedas estrangeiras ou até mesmo em
commodities, como o ouro, por exemplo (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Assaf Neto (2014) apresenta a seguinte equação para facilitar o entendi-
mento do retorno de um título a partir de séries históricas:
t = ( t t−1
t−1
) ∙ 100
onde:
( )
compradas a US$ 10 (12 + 1) – 10
no passado, com US$ 1 ∙ 100
de dividendos e agora 10
valendo U$ 12
( )
compradas a US$ 10
(8 + 1) − 10
no passado, com US$ 1 ∙ 100
de dividendos e agora 10
valendo U$ 8
Agora que você sabe como funciona o retorno de ativos a partir da taxa de
retorno, aprenderá o que é a taxa de retorno real. Trata-se da “taxa de retorno
calculada ao medir os valores do ativo em termos de uma cesta representativa
ampla de produtos que os poupadores compram normalmente” (KRUGMAN;
10 Moeda estrangeira e variação cambial como ativos financeiros
Retorno da pintura 22 10 12
Diferença retornos 22 – 15 = 7 12 – 5 = 7
Risco e liquidez
Com tudo isso em mente, você pode estar pensando que os agentes econô-
micos têm preferência em adquirir ativos que oferecem a maior taxa real de
retorno esperada. Contudo, existem algumas outras variáveis que são levadas
em conta na hora de avaliar os retornos dos ativos. As duas variáveis principais
além da taxa real de retorno esperada são o risco e a liquidez.
O risco é a “variabilidade que contribui para a riqueza do poupador”
(KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015, p. 281). Muitos ativos são suscetíveis
a oscilações que não podem ser previstas com muita precisão, ou seja, o
retorno real de um ativo de alto risco normalmente é imprevisível e pode ser
bastante diferente do retorno esperado.
Imagine novamente que uma pessoa comprou uma ação que esperava
pelo menos um taxa de retorno real de 6%, sendo a taxa esperada em termos
monetários de 10% e a taxa esperada de inflação de 4%. Porém, ao final do
período essa pessoa verificou que, embora a ação tenha se valorizado 12%,
a taxa inflação ficou em 8%. Isso significa que o retorno real da ação foi
12 Moeda estrangeira e variação cambial como ativos financeiros
577,50 − 500
= 0,155 × 100
500
e
R$/US$ R$/US$
RS /US$
onde:
R$ 5,50 − R$ 5,00
= 0,1 × 100
R$ 5,00
1 1’
E1R/US
2
E2R/US
Retorno esperado
em dólar
Taxas de retorno
R$1 R$2
(em termos de real)
Repare que o aumento da taxa de juros em real, passando de R$1 para R$2
(pelo deslocamento da linha vertical), considerando a taxa de câmbio inicial
(E1R/US), faz com que o retorno esperado em depósitos de real agora seja maior
do que o esperado em depósitos de dólar por uma quantia igual à distância
entre os pontos 1 e 1’. Isso faz com o que o real seja valorizado para E2R/US,
porque mais agentes tentarão aproveitar o aumento do retorno esperado dos
depósitos feitos em real. Tendo em vista que não houve alterações na taxa de
juros do dólar e na taxa de câmbio esperada, a valorização do real aumenta
o retorno esperado em real dos depósitos de dólar. Resumindo: um aumento
na taxa de juros do real faz com que o real seja valorizado.
Veja agora o que ocorre quando há uma modificação na taxa de juros do
dólar ao invés do real (Figura 4).
Aumento na
taxa de juros
do dólar
2
E2R/US
1 Retorno
E1R/US esperado
em dólar
Taxas de retorno
R$
em termos de real
Referências
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ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
EICHENGREEN, B. Privilégio exorbitante: a ascensão e a queda do dólar e o futuro do
sistema monetário internacional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
GARCIA, M. G. P.; DIDIER, T. Taxa de juros, risco cambial e risco Brasil. Pesquisa e Pla-
nejamento Econômico, v. 33, n. 2, p. 253-297, 2003.
KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M. Economia internacional: teoria e política. 6. ed. São
Paulo: Pearson, 2005.
KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M; MELITZ, M. J. Economia internacional: teoria e política.
8. ed. São Paulo: Pearson, 2015.
GRENAUD et al. Sistema monetário: oferta e demanda de moeda. In: LOPES, L. M.;
VASCONCELLOS, M. A. S. (org.). Manual de macroeconomia: básico e intermediário.
3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 59-100.
MANKIW, N. G. Macroeconomia. 8. ed. Rio de Janeiro: Antoni Bosch, 2015.
PINHEIRO, J. L. Mercado de capitais: Fundamentos e Técnicas, 5ª ed. São Paulo: Atlas,
2009.
VENTURA, A.; GARCIA, M. Mercados futuro e à vista de câmbio no Brasil: o rabo abana
o cachorro. Revista Brasileira de Economia, v. 66, n. 1, p. 21-48, 2012.
Leituras recomendadas
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Taxa Selic. Brasília: BCB, 2021. Disponível em: https://www.
bcb.gov.br/controleinflacao/taxaselic. Acesso em: 24 out. 2022.
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