Como e Por Que o BC Intervém No Mercado de Câmbio - Nexo Jornal

06/04/2024, 11:30 Como e por que o BC intervém no mercado de câmbio - Nexo Jornal
EXPRESSO
Como e por que o BC intervém no mercado

de câmbio
Marcelo Roubicek 02 de abril de 2024 (atualizado 02/04/2024 às 21h55)
Autoridade monetária faz leilão de swaps. O ‘Nexo’ explica como

funcionam esse e outros mecanismos usados para impedir choques nas
cotações
COMPARTILHE
FOTO: DADO RUVIC/REUTERS - 07.NOV.2016
NOTAS DE UM DÓLAR.
Desde o final dos anos 1990, o Brasil adota um regime cambial que flutua livremente,
sujeito à oferta e à demanda. Mas isso não significa que o Banco Central não possa
intervir eventualmente no preço das moedas estrangeiras.
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2024/04/02/como-e-por-que-o-banco-central-intervem-no-mercado-de-cambio?utm_medium=email&ut… 1/17
Na terça-feira (2°), a autoridade monetária fez uma dessas intervenções. Foi a

primeira ação sobre o dólar desde o final de 2022.
Neste texto, o Nexo explica como funciona o mercado de câmbio no Brasil e como o
Banco Central costuma operar nele.
Como funciona o mercado de câmbio no Brasil
O Brasil tem um mercado de câmbio flutuante. Isso significa que o preço das moedas
estrangeiras é definido pela dinâmica entre oferta e demanda — sujeito, também, às
expectativas sobre o futuro.
Se há uma procura muito alta pelo dólar ou se falta moeda no mercado, a tendência é
que a cotação aumente. De forma análoga, se a demanda pelo dólar está baixa ou a
oferta está muito alta, o esperado é que a cotação caia.
Assine nossa newsletter diária

Gratuita, com os fatos mais importantes do dia para você
Insira seu e-mail
Vários fatores podem afetar esse fluxo de movimentação de moeda estrangeira. Se o

país exporta mais do que importa, por exemplo, há um saldo positivo de dólares
entrando no país via comércio.
Se um país vive uma grande instabilidade política ou econômica, é comum que

investidores tirem dólares desse lugar.
Outro fator importante é o diferencial entre os juros no Brasil e nos EUA. Um

aumento dos juros americanos significa que as aplicações no mercado americano irão
render mais. Investidores tendem a tirar seu dinheiro do Brasil para aplicar em algo
mais seguro nos EUA. E isso pode levar o dólar a se valorizar frente ao real.
Além de todos esses fatores, o mercado de câmbio também pode sofrer interferências
do Banco Central. Para entender como isso costuma acontecer, é preciso entender
como funciona o mercado futuro de câmbio — afinal, mesmo a oferta e a demanda no
presente são orientados pela expectativa do que vem pela frente.
O mercado futuro de dólares
Além do mercado de dólares à vista, existe um mercado de câmbio futuro. Na prática,

esse mercado é composto de contratos, que são muito usados por empresas e
investidores para se proteger de variações mais fortes do câmbio.
Por exemplo, imagine uma empresa brasileira que exporta um certo produto. A
receita que entra a cada mês com essas vendas para fora é, em média, de US$ 10
milhões.
Imagine, agora, que o dólar cai de R$ 5 para R$ 4 de um mês para outro. Isso significa
que, em reais, a receita dessa empresa cai de R$ 50 milhões para R$ 40 milhões.
Portanto, ela corre risco de ser prejudicada por quedas abruptas da cotação do dólar.
Agora imagine uma outra empresa que, para fabricar seu produto principal, precisa
importar um determinado insumo. A cada mês, essa empresa gasta US$ 10 milhões
comprando esse insumo.
De modo análogo à exportadora, essa empresa está exposta a variações abruptas do

câmbio — mas em um sentido contrário, já que ela perde se o dólar subir. Se a cotação
da moeda americana vai de R$ 5 para R$ 6, o custo mensal em reais sobe de R$ 50
milhões para R$ 60 milhões.
FOTO: RICARDO MORAES/REUTERS - 07.11.2016
LEQUE DE NOTAS DE US$ 50 COM NOTAS DE R$ 50
Incomodadas com o quão expostas estão ao câmbio, essas duas empresas podem
firmar um acordo: no próximo mês, a exportadora irá vender dólar a R$ 5 para a
importadora, independentemente de qual for a cotação do mercado à vista naquele
momento.
Assim, ambas empresas ganham previsibilidade: a exportadora fica com receitas mais
previsíveis, e a importadora fica com despesas mais previsíveis.
Esse acordo é chamado de “swap cambial”. Tecnicamente, essa é uma das formas que
empresas e investidores usam para se proteger de riscos de volatilidade do mercado
— prática que, de forma mais ampla, recebe o nome de “hedge”.
“Se você está com receio da variação do dólar, essas operações permitem proteger
suas finanças desse movimento”, afirmou ao Nexo Rodrigo Rodriguez, professor de
economia da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Os contratos futuros podem ser comprados e vendidos, em um mercado chamado de

mercado de derivativos. Você pode ler mais a respeito neste Explicado do Nexo sobre
bolsa de valores.
Como o Banco Central intervém no mercado
A operação mais utilizada pelo Banco Central para intervir no mercado do câmbio é o
chamado “leilão de swap cambial”. Portanto, é uma operação que mexe com o
mercado futuro de câmbio.
Na prática, o Banco Central fecha um contrato com uma instituição financeira em que
se determina duas coisas:
Quando o contrato acabar, o Banco Central vai cobrir a variação do dólar. Ou

seja, suponha que ao fim do contrato, o dólar subiu de R$ 5 para R$ 6. Para cada
dólar, o Banco Central vai pagar R$ 1 para a instituição. Há também um pequeno
acréscimo, chamado de cupom cambial
Em troca, a instituição paga ao Banco Central o equivalente à rentabilidade da

taxa Selic no período. Ou seja, em troca pela proteção, o Banco Central recebe um
retorno de juros
Suponha que uma instituição brasileira tinha dívidas em dólares. Portanto, se o dólar
subir, ela vai ficar mais endividada em reais. Se o Banco Central oferece novos
contratos desse tipo no mercado, a instituição se beneficia da proteção que eles
oferecem contra uma possível alta do dólar. Mas e o lado do Banco Central? Por que
ele faria isso?
Por que o Banco Central intervém
O mercado de câmbio é bastante movido por expectativas. Imagine, por exemplo, que
os investidores amplamente esperam que haverá um aumento de juros nos EUA. Por
causa disso, a maior parte das pessoas acredita que o dólar vai subir.
Se muita gente espera uma alta da moeda americana no futuro próximo, a tendência é
que mais pessoas tentem comprar dólar hoje. E esse aumento de demanda ajuda o
dólar a subir hoje. Portanto, a expectativa de uma alta futura do dólar “contamina” o
preço hoje.
Agora, suponha que em um momento em que se espera uma alta do dólar, o Banco
Central coloca no mercado um contrato de swap cambial nos moldes descritos acima.
Isso significa que, para ganhar com a alta futura do dólar, as pessoas não precisam
efetivamente comprar dólar hoje. Basta fechar um desses acordos com o Banco
Central, que ele irá cobrir essa variação.
Assim, o Banco Central evita que, por causa da expectativa futura, haja uma demanda
mais forte por dólares no presente. E isso ajuda a conter a cotação do dólar hoje. Além
disso, também ajuda a frear as apostas de que a moeda americana vai continuar
subindo.
FOTO: JONAS PEREIRA/AGÊNCIA SENADO
EDIFÍCIO-SEDE DO BANCO CENTRAL, EM BRASÍLIA
Ou seja, ao intervir, o Banco Central impede que o câmbio tenha movimentos muito
bruscos. “Existe uma necessidade de estabilidade na taxa de câmbio. Uma
volatilidade muito grande é ruim pro comércio, para a indústria, pros setores
exportadores e importadores”, afirmou Rodriguez, da Uerj.
Na prática, o efeito é o mesmo de um caso em que o Banco Central oferecesse dólares

no mercado futuro. Mas, na prática, ele não precisa efetivamente tirar dólares das
reservas internacionais do país para fazer isso.
“O Banco Central gera, de alguma forma, uma oferta de dólares na economia. Mas essa
oferta se dá em termos de contratos, não na forma de uma transação efetiva de
compra e venda de uma moeda estrangeira”, disse Rodriguez.
Esse mecanismo descrito acima é chamado de swap tradicional. Mas há também o

chamado “swap reverso”, em que o BC se compromete a receber a variação do câmbio
(em vez de pagar) e a pagar uma taxa de juros. Empresas e investidores que podem
perder com uma queda do dólar se protegem desse movimento.
O swap reverso tem o efeito oposto: é como se o Banco Central tirasse dólares futuros
do mercado. E isso ajuda a pressionar para cima o preço presente do dólar.
Outras formas de intervir

O swap cambial não é a única forma pela qual o Banco Central pode intervir no
mercado. Ele pode também agir no mercado à vista.
Uma forma é pelo chamado “leilão de linha”. Nesse mecanismo, o Banco Central usa
dinheiro das reservas internacionais para vender dólares no mercado à vista.
Mas essa venda é feita também com um compromisso de recompra após um certo
período. Ou seja, esses dólares saem das reservas internacionais, passam um tempo
no mercado, e voltam para as reservas. Assim, o Banco Central consegue aumentar a
disponibilidade (oferta) de dólares no curto prazo, mas o dinheiro acaba voltando
para as reservas.
FOTO: YURIKO NAKAO/REUTERS/ 02 DE AGOSTO DE 2011
NOTAS DE CEM DÓLARES RECÉM-PRODUZIDAS
Outra ferramenta que a autoridade monetária pode usar é a simples comercialização

de dólares da reserva cambial, sem compromisso de recompra.
Se o Banco Central vende dólares à vista, ele aumenta a oferta da moeda estrangeira, o
que pressiona a cotação para baixo.
Se ele compra dólares à vista do mercado, isso pressiona a cotação para cima. É uma
forma de impedir que o dólar caia demais.
A compra e venda direta de dólares era uma prática mais comum nos anos 1990. Para
manter a paridade entre o dólar e o real — parte importante dos primeiros anos do
Plano Real — o Banco Central fazia intervenções frequentes no mercado.
No começo de 1999, depois de vender quase todas as suas reservas internacionais

tentando controlar o dólar, o Banco Central desistiu do regime de câmbio fixo.
A intervenção em 2024
O novo swap tradicional feito pelo Banco Central na terça-feira (2) ocorre em um
contexto em que o dólar está em alta — no primeiro trimestre de 2023, houve alta
acumulada de 4,2%. E há expectativa de continuar subindo.
R$ 5,05
era a cotação do dólar em 1° de abril de
2024, maior cotação desde outubro de
2023
Um dos motivos para essa pressão sobre o dólar vem dos EUA. Investidores no mundo
todo esperam que a taxa de juros americana caia. Mas indicadores econômicos têm
apontado para uma economia aquecida — o que pode fazer com que os juros
permaneçam altos por algum tempo.
Outro motivo é o fato de que alguns títulos públicos atrelados ao dólar irão vencer em
meados de abril de 2024. Por uma série de motivos técnicos, esse vencimento deve
fazer com que haja uma procura pontual mais forte por dólares. Para impedir que essa
demanda mais alta se traduza em um impulso sobre a taxa de câmbio.
VEJA TAMBÉM
EXPRESSOReservas: para que

serve esse dinheiro guardado
pelo governo
SAIBA MAIS
TRECHOS ‘Os superstars da cadeia’: um espetáculo distópico no cárcere Nana Kwame Adjei-
Brenyah
EXTERNO Vinicius Júnior e a nova fronteira do racismo no esporte José Paulo Florenzano
EXPRESSO Por que a Áustria tem o maior acervo indígena brasileiro Lucas Zacari
COLUNISTAS Além das curtidas: como os jovens se veem na internet Januária Cristina Alves
EXPRESSO Como a urbanização brasileira aumenta a incidência de dengue Mariana Vick
NEWSLETTER GRATUITA
Nexo | Hoje
Enviada à noite de segunda a sexta-feira com os fatos mais importantes do dia
stevanbsd@gmail.com
Este site é protegido por reCAPTCHA e a Política de Privacidade e os Termos de Serviço Google se aplicam.
GRÁFICOS
nos eixos
O melhor em dados e gráficos selecionados por nosso time de infografia para você
stevanbsd@gmail.com
Este site é protegido por reCAPTCHA e a Política de Privacidade e os Termos de Serviço Google se aplicam.
DESTAQUES
ESPECIAL
Dia a dia do golpe: como o Brasil virou uma ditadura militar

Mariana Vick
EXPRESSO
‘Nexo’ lança novo ciclo de apoio a alunos de cursinhos

populares
Da Redação
https://www.nexojornal.com.br/expresso/2024/04/02/como-e-por-que-o-banco-central-intervem-no-mercado-de-cambio?utm_medium=email&u… 10/17
EXPRESSO
Por que a dengue é mais grave em crianças pequenas

Isadora Rupp
INTERATIVO
O seu salário diante da realidade brasileira
Gabriel Zanlorenssi, Daniel Mariani e Wellington Freitas
GRÁFICO
Como Fiji se tornou um grande exportador de água

Gabriel Zanlorenssi e Mariana Froner
EXPRESSO
Quem inventou o orelhão? E onde eles foram parar?

Mariana Marques
EXPRESSO
O que faz uma música dar vontade de dançar, segundo este

estudo
Pedro Bardini
EXPRESSO
A homenagem a Sócrates (o jogador) numa rua francesa

Lucas Zacari
MAIS RECENTES
TRECHOS
‘Os superstars da cadeia’: um espetáculo distópico no cárcere

Nana Kwame Adjei-Brenyah
EXTERNO
Vinicius Júnior e a nova fronteira do racismo no esporte

José Paulo Florenzano
EXPRESSO
Por que a Áustria tem o maior acervo indígena brasileiro

Lucas Zacari
COLUNISTAS
Além das curtidas: como os jovens se veem na internet

Januária Cristina Alves
VER MAIS
NAVEGUE POR TEMAS
POLÍTICA ECONOMIA INTERNACIONAL SOCIEDADE CULTURA CIÊNCIA E SAÚDE
TECNOLOGIA ESPORTE MEIO AMBIENTE
ASSINE NEXO
JA É ASSINANTE?
FAÇA LOGIN
ASSINE NEXO + NYT
CONHEÇA
NOSSOS CANAIS
SOBRE O NEXO
SIGA O NEXO
© 2023 NEXO JORNAL, TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

Como e Por Que o BC Intervém No Mercado de Câmbio - Nexo Jornal

Enviado por

Dados do documento

Direitos autorais

Formatos disponíveis

Compartilhar este documento

Compartilhar ou incorporar documento

Opções de compartilhamento

Você considera este documento útil?

Este conteúdo é inapropriado?

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

Como e Por Que o BC Intervém No Mercado de Câmbio - Nexo Jornal

Enviado por

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

06/04/2024, 11:30 Como e por que o BC intervém no mercado de câmbio - Nexo Jornal

Como e por que o BC intervém no mercado

Autoridade monetária faz leilão de swaps. O ‘Nexo’ explica como

FOTO: DADO RUVIC/REUTERS - 07.NOV.2016

Na terça-feira (2°), a autoridade monetária fez uma dessas intervenções. Foi a

Como funciona o mercado de câmbio no Brasil

Assine nossa newsletter diária

Insira seu e-mail

Vários fatores podem afetar esse fluxo de movimentação de moeda estrangeira. Se o

Se um país vive uma grande instabilidade política ou econômica, é comum que

Outro fator importante é o diferencial entre os juros no Brasil e nos EUA. Um

O mercado futuro de dólares

Além do mercado de dólares à vista, existe um mercado de câmbio futuro. Na prática,

De modo análogo à exportadora, essa empresa está exposta a variações abruptas do

FOTO: RICARDO MORAES/REUTERS - 07.11.2016

LEQUE DE NOTAS DE US$ 50 COM NOTAS DE R$ 50

Os contratos futuros podem ser comprados e vendidos, em um mercado chamado de

Como o Banco Central intervém no mercado

Quando o contrato acabar, o Banco Central vai cobrir a variação do dólar. Ou

Em troca, a instituição paga ao Banco Central o equivalente à rentabilidade da

Por que o Banco Central intervém

FOTO: JONAS PEREIRA/AGÊNCIA SENADO

EDIFÍCIO-SEDE DO BANCO CENTRAL, EM BRASÍLIA

Na prática, o efeito é o mesmo de um caso em que o Banco Central oferecesse dólares

Esse mecanismo descrito acima é chamado de swap tradicional. Mas há também o

Outras formas de intervir

FOTO: YURIKO NAKAO/REUTERS/ 02 DE AGOSTO DE 2011

NOTAS DE CEM DÓLARES RECÉM-PRODUZIDAS

Outra ferramenta que a autoridade monetária pode usar é a simples comercialização

No começo de 1999, depois de vender quase todas as suas reservas internacionais

EXPRESSOReservas: para que

EXPRESSO Como a urbanização brasileira aumenta a incidência de dengue Mariana Vick

Dia a dia do golpe: como o Brasil virou uma ditadura militar

‘Nexo’ lança novo ciclo de apoio a alunos de cursinhos

Por que a dengue é mais grave em crianças pequenas

O seu salário diante da realidade brasileira

Como Fiji se tornou um grande exportador de água

Quem inventou o orelhão? E onde eles foram parar?

O que faz uma música dar vontade de dançar, segundo este

A homenagem a Sócrates (o jogador) numa rua francesa

‘Os superstars da cadeia’: um espetáculo distópico no cárcere

Vinicius Júnior e a nova fronteira do racismo no esporte

Por que a Áustria tem o maior acervo indígena brasileiro

Além das curtidas: como os jovens se veem na internet

NAVEGUE POR TEMAS

POLÍTICA ECONOMIA INTERNACIONAL SOCIEDADE CULTURA CIÊNCIA E SAÚDE

TECNOLOGIA ESPORTE MEIO AMBIENTE

ASSINE NEXO + NYT

© 2023 NEXO JORNAL, TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

Você também pode gostar