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FINANÇAS

INTERNACIONAIS
E CÂMBIO
Moeda, taxas
de juros e taxas
de câmbio
Felipe José Geromim dos Reis

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Definir moeda.


> Descrever a relação existente entre taxa de juros e oferta e demanda
da moeda.
> Relacionar o preço da moeda com a taxa de câmbio no longo prazo.

Introdução
Importantes decisões na economia são tomadas com base na política monetária.
As autoridades monetárias têm responsabilidade sobre a oferta de moeda,
a taxa de juros e a taxa de câmbio, instrumentos essenciais que influenciam
todo o cenário econômico nacional. Contudo, todos esses instrumentos não
podem ser entendidos sem que antes sejam compreendidos o conceito de
moeda e as bases principais de seu uso na sociedade.
Cientes do papel da moeda na economia, podemos compreender como a
oferta de moeda é um importante instrumento da atividade econômica e como
os choques monetários têm efeitos em outras variáveis, como a taxa de juros
e a taxa de câmbio.
2 Moeda, taxas de juros e taxas de câmbio

Neste capítulo, você vai conhecer a definição de moeda, além das suas
funções. Além disso, vamos refletir sobre o equilíbrio monetário, abordando
a diferença entre o longo e o curto prazo na macroeconomia. Por fim, serão
discutidas as interdependências entre a política monetária, a taxa de juros,
o nível de preços e a taxa de câmbio no longo prazo.

Moeda: definição, conceitos e funções


A moeda, tal qual é conhecida atualmente, deriva da evolução do primitivo
sistema baseado em trocas diretas, mais conhecido como “sistema de es-
cambo”, em que as transações comerciais ocorriam com base apenas nas
trocas de mercadorias produzidas ou serviços prestados. Para facilitar o
entendimento, imagine uma sociedade em que não exista nenhum tipo de
moeda e, portanto, prevaleça o sistema de escambo. Imagine também que
nessa sociedade um açougueiro deseja comprar um traje de gala de um alfaiate,
mas, como não existe moeda, este deverá estar interessado em carne para
que possa costurar o traje requerido pelo açougueiro. Caso contrário, ambos
os trabalhadores despenderiam tempo para encontrar outros trabalhadores
interessados nos seus produtos para realizarem as trocas.
Ao saber disso, você pode pensar que o sistema de escambo é ineficiente
como meio de troca predominante, já que cria muitas dificuldades comerciais
e desperdício de tempo para que ocorram as trocas. Isso acontece devido
à dupla coincidência de desejos — ou seja, no exemplo que apresentamos,
o alfaiate necessariamente tem de estar interessado em carne para que possa
fabricar o traje do açougueiro. Outra dificuldade encontrada é a quantidade
de carne que deve valer o traje de gala. Isto é, além da dupla coincidência de
desejos, também deve haver uma equiparação quantitativa entre os produtos
de ambos os trabalhadores (GREMAUD et al., 2008). Ainda considerando o
exemplo, o alfaiate e o açougueiro podem concordar que o traje valha 100 kg
de carne, mas o alfaiate pode não ter interesse em adquirir toda essa carne
de uma vez. Para facilitar esse processo, uma mercadoria de aceitação ge-
ral foi escolhida para ser a base do sistema monetário de trocas indiretas,
possibilitando o progresso econômico e sanando as dificuldades causadas
pelo sistema de escambo.
Moeda, taxas de juros e taxas de câmbio 3

Além do ouro, da prata e de outros metais preciosos, diversos outros


objetos já foram utilizados como “moeda”, no sentido de mercadoria
de aceitação geral. Entre eles, estão sal, búzios, conchas, penas, ovos, gado,
arroz, vodca, tapetes, etc.

Assim, Assaf Neto (2008, p. 9) define a moeda como “um meio de paga-
mento legalmente utilizado para realizar transações com bens e serviços”.
De forma similar, Mankiw (2015b, p. 58) afirma que a “moeda significa um
estoque de ativos que podem ser prontamente utilizados para realizar tran-
sações”. Froyen (1999, p. 395) complementa ao dizer que “moeda é tudo aquilo
que realiza funções monetárias”.
As funções monetárias são elencadas em três categorias, descritas a
seguir, conforme Gremaud et al. (2008) e Krugman, Obstfeld e Melitz (2015).

„ Função de meio de trocas: a função da moeda como meio de trocas


resolve os problemas causados pela dupla coincidência de desejos
e pela equiparação quantitativa, já que a moeda se torna um instru-
mento de troca comumente aceito. Outra vantagem da moeda como
instrumento de troca é a sua divisibilidade, que permite que os bens
e serviços sejam comercializados de forma fracionada ou dividida.
A essa altura, você já pode deduzir que a função de meio de trocas da
moeda permitiu dar agilidade e eficiência às transações comerciais,
contribuindo para a evolução dos sistemas econômicos.
„ Função de unidade de conta: a função de unidade de conta da moeda
serve como um padrão para mensurar as transações econômicas.
Você pode pensar nessa função de unidade de conta da moeda como
um “denominador comum” para a determinação dos valores dos bens
e serviços, o que é o mesmo que dizer que o valor de todos os bens
e serviços produzidos na economia podem ser expressos em moeda.
No nosso exemplo do açougueiro e do alfaiate, não é preciso que o
alfaiate mensure o seu trabalho equivalendo um montante de 100 kg
de carne, e sim equiparado um traje de gala a R$ 1.000,00, por exemplo.
Ou seja, com a função de unidade de conta, é possível realizar com-
parações entre os valores dos bens e serviços muito mais facilmente,
já que os preços das mercadorias devem ser exprimidos em valores de
moeda, e não comparados com o de outras mercadorias.
4 Moeda, taxas de juros e taxas de câmbio

Na teoria econômica, também é comum o uso das expressões “medida


de valor” e “unidade de medida” para se referir à função de unidade
de conta da moeda.

„ Função de reserva de valor: como reserva de valor, a moeda pode


transferir o poder de compra do presente para o futuro. Ou seja,
é possível guardá-la para utilizá-la no futuro. A moeda também é o
ativo da economia que tem maior liquidez, isto é, pode-se trocá-la
por qualquer outro ativo de forma imediata e sem custos de transação
elevados, diferentemente de outros ativos que podemos ter, como, por
exemplo, uma ação de uma empresa. Porém, é necessário ter cuidado
que, em economias muito inflacionárias, a moeda perde valor muito
rapidamente, corroendo o poder de compra devido à elevação dos
preços das mercadorias.

Entre o fim da década de 1980 e o início da década de 1990, o Brasil


viveu um período de hiperinflação no qual, em alguns momentos,
o índice de crescimento dos preços ultrapassou 80% ao mês — ou seja, o preço
de alguns produtos poderia quase dobrar de um mês para outro. Você pode
imaginar o quão complicado era para as pessoas manterem moeda em seu poder,
já que, rápida e bruscamente, o dinheiro brasileiro perdia valor.
Por isso, os comerciantes atualizavam os preços diariamente, e os consumi-
dores estocavam produtos para evitar manter dinheiro em seu poder. A altíssima
inflação só foi controlada em 1994, com o Plano Real, por meio do qual, entre
outras medidas, o governo criava a Unidade Real de Valor (URV), uma moeda de
transição indexada ao dólar e utilizada como unidade de conta para controlar a
inflação do cruzeiro real (a moeda brasileira então em circulação).
Em julho de 1994, a URV foi substituída pelo real, mas, até que isso ocorresse,
o cruzeiro real acumulava mais de 4.900% de inflação nos 12 meses anteriores
à criação do real.
Moeda, taxas de juros e taxas de câmbio 5

A oferta de moeda
Ciente da importância da moeda nos sistemas econômicos dos países, você
provavelmente deve pensar que a emissão desse instrumento deve ser feita
de forma centralizada e coordenada. Por isso, a oferta de moeda — ou seja,
a quantidade de moeda disponível na economia — é feita pelos bancos centrais
(BCs) dos países. O controle da oferta de moeda passa desde a impressão de
novas cédulas de dinheiro até o controle indireto sobre os depósitos à vista
feitos nos bancos privados.

Os BCs dos países podem ter seus próprios nomes e serem, assim,
mais facilmente reconhecidos. Por exemplo: quando alguém se refere
ao Federal Reserve, ou simplesmente Fed, sabe-se que se trata do Banco Central
do Estados Unidos. De forma análoga, isso também vale para o Bundesbank,
na Alemanha, e para o Nippon Ginko, no Japão. No Brasil, o BC também pode ser
reconhecido simplesmente por Bacen.

Segundo Gremaud et al. (2008) e Carvalho et al. (2007), o BC pode conduzir


a política monetária controlando a oferta de moeda por meio de opera-
ções de open market, ou seja, mediante transações de títulos do governo.
Na situação em que deseja aumentar a oferta de moeda, isto é, permitir que
mais moeda circule na economia, o BC pode comprar títulos do governo dos
agentes econômicos que queiram vendê-los. Quando isso ocorre, a moeda
sai da posse do BC e entra em circulação na economia, ocasionando um
crescimento da oferta de moeda.
Isso também ocorre inversamente. Se o BC julgar necessário retirar certa
quantidade de moeda em circulação, uma opção é vender títulos do go-
verno para os demais agentes econômicos. Quando acontece essa operação,
a moeda utilizada para a compra desses títulos é recolhida pelo BC e retirada
de circulação, o que causa contração da oferta de moeda.
O BC também pode controlar a oferta de moeda obrigando os bancos
privados a depositarem parte da moeda recebida de seus clientes no BC.
Assim, para impedir o colapso do sistema financeiro, impedindo que os bancos
privados emprestem todo o dinheiro recebido, o BC determina taxas sobre
os depósitos dos clientes, que devem ficar retidos sob sua responsabilidade.
Essas taxas são chamadas “depósitos compulsórios”, e eles retiram moeda
de circulação.
6 Moeda, taxas de juros e taxas de câmbio

Como os bancos privados podem fazer empréstimos baseados no dinheiro


que os seus clientes depositam em suas contas, poderia ocorrer, em alguns
casos, de os bancos privados emprestarem todo esse dinheiro depositado.
Os depósitos compulsórios, então, impedem que isso ocorra e previnem
um colapso no sistema financeiro. Existe também o redesconto bancário,
em que o BC empresta dinheiro aos bancos privados que dele necessitem (sob
a taxa de juros de redesconto). Inversamente aos depósitos compulsórios,
o redesconto injeta liquidez na economia, aumentando a oferta de moeda.
Agora que você já sabe como ocorre a oferta de moeda, na próxima seção
você poderá aprender sobre a demanda por moeda e como a taxa de juros
interage tanto com a demanda quanto com a oferta de moeda.

Oferta e demanda de moeda e a taxa de


juros de equilíbrio
A oferta de moeda, definida pelo BC, pode ser controlada, principalmente,
pelos depósitos compulsórios (recolhimento de percentuais dos depósitos
dos clientes de bancos privados), pelos redescontos bancários (empréstimos
do BC para os bancos privados) e por operações de open market. Já a de-
manda por moeda exprime, basicamente, a quantidade de “riqueza” que os
agentes desejam manter em sua forma mais líquida (MANKIW, 2015b). Como a
moeda é o ativo mais líquido da economia, as pessoas precisam reter moeda
(em vez de outros ativos que ofereçam retornos mais elevados), porque pre-
cisam dela para adquirir bens e serviços.
Existem três principais fatores que influenciam a demanda agregada
por moeda, descritos a seguir, conforme Krugman, Obstfeld e Melitz (2015)
e Mankiw (2015a).

1. Taxa de juros: um aumento na taxa de juros ocasiona uma queda na


demanda por moeda, pois esse aumento eleva o custo de oportunidade
de reter moeda. Por exemplo: quando alguém retém moeda em vez
de comprar um título do governo que renda juros, estará deixando de
ganhar os juros do título ao custo de manter a liquidez da moeda. Isso
explica por que o aumento da taxa de juros causa queda na demanda
por moeda.
Moeda, taxas de juros e taxas de câmbio 7

2. Nível de preços: as variações nos níveis de preços dos produtos inter-


ferem na quantidade de moeda que os agentes precisam gastar para
comprar o mesmo produto. Imagine que o preço do litro de gasolina
passe de R$ 4,00 para R$ 6,00. Com isso, os indivíduos precisão reter
mais liquidez para comprar a mesma quantidade de gasolina de antes,
o que, nesse caso, aumentará a demanda por moeda.
3. Renda nacional real: um aumento na renda nacional significa um au-
mento na comercialização de bens e serviços de um país. Assim, isso
ocasiona também um aumento na demanda por moeda.

Na teoria geral de Keynes (2007), a teoria da preferência dos agentes


pela liquidez tenta esclarecer os fatores determinantes da taxa de juros.
A preferência pela liquidez é, na verdade, uma aplicação da oferta de moeda
e da demanda de moeda.

O britânico John Maynard Keynes foi um dos mais expoentes econo-


mistas da humanidade. Sua principal obra é Teoria geral do emprego,
do juro e da moeda, escrita em 1936, mas ele tem vários outros títulos impor-
tantes. Keynes ocupou o cargo de diretor do Banco da Inglaterra e presidiu a
delegação britânica na Conferência de Bretton Woods. Suas ideias ajudaram a
reconstruir a Europa após a Segunda Guerra Mundial e influenciam economistas
desde então.

Nesse sentido, a taxa de juros é ajustada para equilibrar a oferta e a


demanda por moeda (MANKIW, 2015b). Ou seja, é por meio da taxa de juros
que o BC ajusta o equilíbrio monetário. A Figura 1 apresenta a taxa de juros
de equilíbrio no mercado monetário.
8 Moeda, taxas de juros e taxas de câmbio

Taxa
de juros
Oferta de moeda

r1

Taxa de juros
de equilíbrio

r2 Demanda
por moeda

0 Md1 Quantidade fixada Md2 Quantidade


pelo BC de moeda

Figura 1. Equilíbrio no mercado monetário.


Fonte: Adaptada de Mankiw (2015b).

Na Figura 1, é possível notar que a curva da oferta de moeda é constante


e fixada pelo BC e independe das outras variáveis. Também se pode perceber
que a curva de demanda por moeda tem inclinação negativa, o que se deve
ao fato de que, à medida que se eleva a taxa de juros, cai a quantidade de-
mandada por moeda. Similarmente, conforme cai a taxa de juros, o custo de
se reter moeda também diminui, o que faz aumentar a demanda por moeda
(MANKIW, 2015b).
Ainda na Figura 1, pode-se observar que a taxa de juros está no equilíbrio,
no ponto de intersecção entre a oferta de moeda fixada pelo BC e a demanda
por moeda dos agentes econômicos. Agora imagine que a taxa de juros esteja
em outro nível. Nesse caso, os indivíduos (e demais agentes econômicos)
ajustarão suas carteiras de ativos e, dessa forma, levarão a taxa de juros
novamente para o equilíbrio. Para exemplificar, pensemos numa situação em
que a taxa de juros esteja abaixo do ponto de equilíbrio, como, por exemplo,
no nível r2 (Figura 1). Quando isso ocorre, a quantidade de moeda demandada
pelos agentes econômicos (M2d) é maior do que a oferta de moeda fixada pelo
BC. Dessa forma, os agentes econômicos tentarão aumentar a quantidade de
moeda em suas posses, vendendo seus títulos e outros ativos com menor
liquidez que rendem juros. Com isso, os emissores de títulos (entre os quais
está o governo) entendem que devem aumentar as taxas de juros pagas para
Moeda, taxas de juros e taxas de câmbio 9

atrair novamente os compradores. Como consequência, a taxa de juros se


eleva e vai se aproximando do nível de equilíbrio (MANKIW, 2015b).
Similarmente, imagine agora que, por algum motivo, a taxa de juros esteja
acima do ponto de equilíbrio r1 (Figura 1). Nessa situação, a quantidade de
moeda que os agentes econômicos desejam manter (M1d) está abaixo da oferta
de moeda mantida pelo BC. Logo, os agentes econômicos que têm algum
excesso de moeda vão comprar títulos que rendem juros para aproveitar a
situação de alta de juros. Em algum tempo, os emissores de títulos reagirão a
esse excesso de moeda e reduzirão as taxas de juros oferecidas no mercado.
Conforme cai a taxa de juro, os agentes econômicos ficam mais propensos
a reter moeda, até que, novamente, haja equilíbrio no mercado monetário
(MANKIW, 2015b). Portanto, a taxa de juros é um importante instrumento de
condução da política monetária, podendo interferir diretamente na oferta e
na demanda por moeda.
Todo esse processo de equilíbrio monetário com taxa de juros é muito
bem resumido por Krugman e Obstefeld (2005, p. 272):

[...] o mercado sempre se move para uma taxa de juros na qual a oferta de moeda
real seja igual à demanda por moeda real. Se houver inicialmente um excesso de
oferta de moeda, a taxa de juros diminuirá, e, se houver inicialmente um excesso
de demanda, a taxa de juros aumentará.

Embora os depósitos compulsórios, os redescontos e as operações


de open market sejam importantes instrumentos para o controle
da oferta monetária, no Brasil a taxa de juros tem desempenhado o papel
de principal instrumento de controle da política monetária, sobretudo após
1999, quando foi estabelecido o regime de metas de inflação (BARBOZA, 2015;
LEANDRO et al., 2021).

Vimos o que ocorre quando a oferta de moeda é fixada pelo BC, mas
você pode estar se perguntando o que acontece se, por qualquer motivo,
o BC resolver modificar a oferta de moeda. A Figura 2 mostra o efeito de um
aumento na oferta de moeda pelo BC.
10 Moeda, taxas de juros e taxas de câmbio

Taxa de
juros, R Oferta
de moeda
Aumento na oferta
de moeda

R1 1

2
R2 Demanda por
moeda

M1 M2 Quantidade
de moeda

Figura 2. Efeito do aumento da oferta de moeda sobre a taxa de juros.


Fonte: Adaptada de Krugman, Obstfeld e Melitz (2015).

A Figura 2 mostra que o BC resolveu aumentar a oferta de moeda, passando


de M1 para M2. Repare que, no ponto inicial (ponto 1), o mercado monetário
estava em equilíbrio; porém, o deslocamento da oferta de moeda para M2
fez com que houvesse um excesso de quantidade de moeda em poder dos
agentes econômicos. Nessa condição, os emissores de títulos baixam os juros
para, assim, conseguirem realizar seus empréstimos em uma situação na
qual a presença de moeda é mais abundante, ou seja, há maior quantidade
de moeda em circulação. Isso ocorre até que a taxa de juros chegue ao novo
ponto de equilíbrio (ponto 2).
Analogamente, agora tente imaginar o que aconteceria se o BC resolvesse
reduzir a oferta de moeda e observe a Figura 3, que ilustra essa situação.
A oferta de moeda foi reduzida de M2 para M1. Com isso, as taxas de juros
consequentemente vão se elevar (passando de R2 para R1), já que a queda na
oferta de moeda causa um excesso de demanda por moeda, considerando-se
a taxa de juros que antes equilibrava a demanda e a oferta (ponto 2). Assim,
os agentes tentarão vender ativos que pagam juros para conseguir reaver
parte da moeda que está em falta. Como a demanda por moeda está alta,
a taxa de juros sobe até que atinja o novo ponto de equilíbrio (KRUGMAN;
OBSTELD; MELITZ, 2015).
Moeda, taxas de juros e taxas de câmbio 11

Taxa de
juros, R
Oferta de moeda
Redução na oferta
de moeda

R1 1

2
R2
Demanda por
moeda

M1 M2 Quantidade
de moeda

Figura 3. Efeito da redução da oferta de moeda sobre a taxa de juros.


Fonte: Adaptada de Krugman, Obstfeld e Melitz (2015).

Assim, podemos concluir que “um aumento na oferta de moeda diminui a


taxa de juros, enquanto uma queda na oferta de moeda eleva a taxa de juros,
dados o nível de preços e o produto” (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005, p. 273).
Na próxima seção, você poderá aprender acerca da taxa de câmbio de
longo prazo e como essa variável se relaciona com a moeda e com os preços
da moeda.

O princípio da neutralidade da moeda diz que as variações na quan-


tidade de moeda influenciam apenas as variáveis nominais, mas não
as variáveis reais. A maioria dos economistas acredita que a neutralidade de
moeda descreve o comportamento da economia no longo prazo.
12 Moeda, taxas de juros e taxas de câmbio

O preço da moeda e a taxa de câmbio no


longo prazo
Inicialmente, devemos definir os conceitos de curto e longo prazo para a
macroeconomia, visto que essas definições de período de tempo são muito
importantes para a análise das variáveis econômicas. Conforme Gremaud
et al. (2008, p. 104), a:

[...] diferença básica entre curto e longo prazo está no comportamento dos pre-
ços, e não no tempo cronológico. Assim, o curto prazo pode ser considerado um
período de tempo no qual alguns preços (principalmente os salários) são rígidos
e não respondem a alterações da oferta e demanda agregadas. Já no longo prazo,
os preços são flexíveis e podem responder a alterações de política econômica.

A partir dessas definições, você pode considerar que não existe um perí-
odo determinado de tempo cronológico (p. ex., um ano) em que seja possível
separar o curto do longo prazo.
Com isso em mente, veja a equação abaixo, apresentada por Krugman,
Obsteld e Melitz (2015):

= ( , )

onde:

„ MS = oferta de moeda;
„ P = nível geral de preços;
„ L = demanda por moeda;
„ R = taxa de juros;
„ Y = nível de produção (ou renda).

Essa é a equação do equilíbrio no mercado monetário. Podemos reformular


a equação para que o nível de preços que atenda à condição de equilíbrio
dependa da taxa de juros, da renda e da oferta de moeda:

=
( , )
Moeda, taxas de juros e taxas de câmbio 13

Dessa forma, podemos deduzir que, quando o mercado monetário está em


equilíbrio e os fatores de produção estão empregados, o nível geral de preços
permanecerá estável se a oferta de moeda (MS) e os valores de longo prazo
da taxa de juros (R) e da produção (Y) permanecerem estáveis. Essa equação
também nos mostra que o nível geral de preços se relaciona diretamente com
a oferta de moeda. Isto é, se todas as variáveis da equação se mantiverem
constantes, uma variação na oferta de moeda causará uma variação propor-
cional no nível de preços. Imagine, por exemplo, que a oferta de moeda passe
de MS para 2MS (dobre de valor), mas todas as demais variáveis se mantenham
constantes. Nesse caso, o nível geral de preços P também deve mudar para
2P para que a equação seja atendida e se mantenha o equilíbrio no mercado
monetário (KRUGMAN; OBSTELD; MELITZ, 2015).

A expressão latina ceteris paribus é usada para indicar que as variáveis


se mantêm constantes em determinada situação. Essa expressão
pode ser entendida como “todo o resto constante”, ou “mantidas inalteradas
as demais variáveis”. No nosso caso, poderíamos dizer: “modicando-se MS ,
P também deve ser modificado, ceteris paribus”.

Diante do que foi exposto, você já pode concluir que um aumento na oferta
de moeda pode aumentar o nível de preços e, consequentemente, causar
desvalorização do dinheiro, o que chamamos de “inflação”.
Agora que você já sabe como a oferta de moeda interfere no nível de preços,
vamos relacionar o preço da moeda com a taxa de câmbio no longo prazo.
Você pode considerar que o preço da moeda estrangeira em moeda nacional
é um dos inúmeros preços que temos na economia (p. ex., no caso hipotético
de US$ 1,00 custar R$ 5,00). Sendo um “preço”, a moeda estrangeira também
é afetada após modificações permanentes na oferta de moeda. Assim, para
Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), um aumento na oferta de moeda nacional
causa um aumento no preço da moeda estrangeira, ou seja, um aumento na
oferta de moeda causa uma depreciação da moeda nacional em relação às
moedas estrangeiras. De forma inversa, pode-se afirmar que uma queda na
oferta de moeda nacional proporciona uma valorização da moeda em relação
às divisas, o que é o mesmo que dizer que a queda na oferta de moeda causa
uma queda na taxa de câmbio.
14 Moeda, taxas de juros e taxas de câmbio

Para facilitar o entendimento, considere uma situação hipotética em


que o Bacen decide aumentar a oferta de moeda no país. Com essa
estratégia (e considerando tudo constante), deverá ocorrer uma depreciação
do real em relação ao dólar americano, ou seja, haverá um aumento na taxa de
câmbio no Brasil.

A Figura 4 ilustra o processo de ajuste da taxa de câmbio quando há um


aumento na oferta de moeda.

Taxa de câmbio
real/dólar, ER/U ER/U

Retorno Retorno
2’ em reais 2’ em reais
E2
R/U
E2
R/U
Retorno Retorno
3’ esperado E3R/U 4’ esperado
em dólar em dólar
E1R/U 1’

Taxas de
0 retorno 0
R2$ R1$ R2$ R1$
(em reais)

Demanda Demanda
M1R por moeda M2R por moeda
P 1R 1 P 2R 4 Oferta de moeda
M 2
M2R brasileira
R

P 1
R
2 P 1R 2

Saldos reais Saldos reais


de moeda de moeda
brasileira brasileira
(a) Efeitos de curto prazo (b) Ajuste para o equilíbrio de longo prazo

Figura 4. Efeitos a curto e longo prazo de um aumento na oferta de moeda brasileira.


Fonte: Adaptada de Krugman, Obstfeld e Melitz (2015).
Moeda, taxas de juros e taxas de câmbio 15

A Figura 4 mostra como a taxa de juros e o câmbio se comportam enquanto


o nível geral de preços aumenta durante o ajuste da economia para o equilí-
brio de longo prazo, devido a uma expansão permanente da oferta de moeda
realizada no Brasil. Perceba que o aumento na oferta de moeda pressiona
o nível de preços para cima, passando do nível inicial P1RS até alcançar PRS 2
.
Como o aumento no nível de preços deve acompanhar o aumento que houve
2
na oferta de moeda, a oferta real final de moeda 2 é mostrada igual à oferta
1
real de moeda inicial 1 . Considerando-se que o nível de produção é dado
e que a oferta de moeda voltou ao nível inicial, a taxa de juros de equilíbrio
também deve ser igual a R$1 no longo prazo (ponto 4). Ou seja, a taxa de juros
aumenta de R$2 (ponto 2) para R$1 (ponto 4) conforme o nível geral de preços
aumenta de PRS 1
para P2RS (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Essa alta da taxa de juros impacta a taxa de câmbio, já que o real é valo-
rizado em relação ao dólar durante o processo de ajuste. Mantido tudo mais
constante, o câmbio move-se para a posição de longo prazo ao longo da linha
negativamente inclinada, definindo o retorno em reais dos depósitos em dólar.
O trajeto da taxa de câmbio é marcado pela linha vertical da taxa de juros
do real quando esta se move para a direita devido ao aumento gradual do
nível geral de preços. No longo prazo (ponto 4), a taxa de câmbio de equilíbrio
E3R/U é mais alta do que no equilíbrio original (ponto 1). Assim como o nível de
preço, a taxa de câmbio do real/dólar também aumentou proporcionalmente
ao aumento na oferta de moeda (KRUGMAN; OBSTFELD; MELITZ, 2015).
Toda essa explicação pode ser resumida se você entender que um aumento
permanente na oferta de moeda causa um aumento na taxa de câmbio devido
à elevação do nível de preços no longo prazo, ou seja, a elevação da oferta
de moeda deprecia a moeda nacional no mercado de câmbio.
Após a leitura deste capítulo, você deve ser capaz de definir a moeda
como um ativo que pode ser utilizado para realizar transações e que realiza
funções monetárias, sendo meio de trocas, unidade de conta e reserva de
valor. Também deve saber como se dá a oferta de moeda e como as auto-
ridades monetárias a regulam, por meio das operações de open market,
de depósitos compulsórios e de redescontos bancários, além de entender que
a taxa de juros também tem importante influência no equilíbrio monetário.
A demanda por moeda também deve ser compreendida para que você
possa explicar como funciona o equilíbrio no mercado monetário — ou seja,
como se dá a intersecção entre as curvas de oferta de moeda e demanda
por moeda — e, com isso, estabelecer a taxa de juros de equilíbrio. Com esse
conhecimento, você é capaz de relacionar como as modificações na oferta de
moeda influenciam a taxa de juros, isto é, ao aumentar a oferta por moeda,
16 Moeda, taxas de juros e taxas de câmbio

o BC induz uma redução na taxa de juros, e vice-versa. Você também pôde


aprender que, na prática, as alterações na taxa de juros são as que conduzem
as alterações no equilíbrio monetário.
Além disso, vimos neste capítulo qual é a diferença entre o longo e o curto
prazo na macroeconomia, além de entender a relação entre o aumento na
oferta de moeda e o aumento no nível de preços, utilizando a equação do
equilíbrio no mercado monetário, em que a oferta de moeda é diretamente
proporcional ao nível geral de preços. Com isso, agora você já pode deduzir
que um aumento permanente na oferta de moeda aumenta também a taxa
de câmbio no longo prazo. E, dessa forma, um aumento na taxa de juros
incide diretamente na taxa de câmbio, causando uma valorização da moeda.
Todos esses conhecimentos adquiridos neste capítulo permitem que
você entenda como funciona a base de importantes instrumentos da teoria
econômica e como eles são utilizados no mundo em que vivemos. Agora
você consegue compreender como as decisões acerca da política monetária
interferem na realidade da população e como as interações entre variáveis
econômicas conduzem o nosso cotidiano.

Referências
ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
BARBOZA, R. M. Taxa de juros e mecanismos de transmissão da política monetária no
Brasil. Brazilian Journal of Political Economy, v. 35, n. 1, p. 133-155, 2015.
CARVALHO, F. J. C. et al. Economia monetária e financeira: teoria e política. Rio de
Janeiro: Campus, 2007.
FROYEN, R. T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 1999.
GREMAUD, A. P. et al. Sistema monetário: oferta e demanda de moeda. In: LOPES, L.
M.; VASCONCELLOS, M. A. S. (org.). Manual de macroeconomia: básico e intermediário.
3. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 59-105.
KEYNES, J. M. The general theory of employment, interest and money. London: Palgrave
Macmillan, 2007.
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