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MACROECONOMIA I

Curso de Finanças – FEAAC (UFC)


Prof. Frederico Alencar- fredericoalencar@caen.ufc.br
Sistema Monetário: Oferta e
Demanda de Moeda

Bibliografia:
• Capítulo 2 – Manual de Macroeconomia (USP)
DEMANDA POR MOEDA
Demanda por Moeda
• Foram vistos até agora aspectos que
envolvem a oferta de moeda por parte do
Banco Central e bancos comerciais.
• Cabe, agora, analisar quais as variáveis que
afetam a demanda de moeda por parte da
coletividade (público e empresas);
• Ou seja, quais as razões que fazem que a
coletividade retenha consigo um dado volume
de moeda.
Demanda por Moeda

• De acordo com as funções destacadas para a moeda, existem


diferentes motivos para retê-la e os principais são:
1. Motivo Transação;
2. Motivo Portfólio;
Demanda por Moeda

Motivo Transação: a moeda é vista basicamente


como meio de troca, justificando-se sua demanda
apenas pela facilidade e segurança que sua posse
fornece para a realização das trocas necessárias;
O motivo transação pode ser dividido em
demanda de moeda por transação, propriamente
dito, e demanda de moeda por precaução (para
eventuais atrasos de recebimentos, ou gastos não
previstos).
Demanda por Moeda
Motivo Portfólio: considera-se a moeda como um
ativo financeiro, sendo uma forma alternativa aos
títulos e às aplicações financeiras para se guardar a
riqueza.
O motivo portfólio é também conhecido por
demanda de moeda por especulação

As teorias de demanda de moeda


buscam formalizar estes aspectos.
Demanda por Moeda

• No que se refere ao motivo transação, quanto maior o


volume de trocas que os indivíduos realizam, maior será a
quantidade necessária de moeda para tal.
• Considerando que as trocas dependem da quantidade de
produto (renda), temos que a demanda de moeda varia
positivamente com o nível de renda.
Demanda por Moeda
• Quanto ao motivo portfólio, a característica da
moeda como um ativo financeiro é que ela não
rende juros, apenas possui liquidez absoluta.
• A taxa de juros pode ser vista como o custo de
oportunidade, o que se deixa de ganhar por
guardar moeda, em vez de aplicar em títulos, ou
seja, é o preço que se paga pela retenção de
moeda.
• Assim, quanto maior a taxa de juros, menor
será o estímulo para manter saldos monetários.
Demanda por Moeda

• Percebe-se que a demanda por moeda é semelhante à


demanda de qualquer outro bem, dependendo também
do preço e da renda, mantendo uma relação inversa com
o seu preço (taxa de juros) e direta com o nível de renda;
Demanda por Moeda
• Outro ponto importante, é notar que, ao tratarmos da
demanda por moeda, estamos considerando a chamada
demanda por encaixes reais.
a ilusão monetária pode ocorrer
quando, por exemplo, os trabalhadores,
• Os indivíduos, ao definirem a quantidade de moeda que
ao receberem aumentos em seus reterão, não se importam com o valor "nominal" de face
salários nominais, oferecem seus
serviços com base nesses salários, sem
desta, mas sim com o seu poder de compra, ou seja, em
perceber o efeito dos aumentos de termos dos bens que poderá adquirir com esta
preços corroendo seus salários reais.
Com isso, a oferta de mão-de-obra com
quantidade de moeda.
ilusão monetária é maior do que
deveria ser, sem ilusão monetária. • É pressuposto considerado aqui que os indivíduos não
sofrem da chamada ilusão monetária, isto é, se apenas o
nível de preços da economia se alterar, sem que haja
qualquer modificação nas variáveis reais, o
comportamento dos agentes permanecerá inalterado,
inclusive no que diz respeito à quantidade real de moeda
que demandam.
Demanda por Moeda
• Assim, a demanda por moeda por ser considerada inicialmente como:
Demanda por moeda para transações: equação
quantitativa

• Para o motivo transacional da demanda de


moeda, as pessoas reterão a moeda necessária
para realizar os pagamentos para a aquisição
de bens e serviços, isto é, para liquidar as
transações.
Demanda por moeda para transações: equação
quantitativa

• A equação quantitativa da moeda fornece uma relação entre


a quantidade de moeda e o valor total de transações realizadas
e liquidadas em moeda, de acordo com a seguinte expressão:

MV = PT
Demanda por moeda para transações: equação
quantitativa
• O termo V, velocidade de circulação da moeda, mostra
o "giro" de uma unidade monetária em um dado período
de tempo, isto é, quantas vezes ela muda de mãos.
• Assim, por exemplo, a mesma moeda de R$ 1,00
utilizada para pagar o café de manhã na padaria será
usada por seu dono para dar troco para outro indivíduo,
MV = PT que a utilizará para pagar a passagem de ônibus, sendo
repassada depois para outra pessoa, que a usará para
comprar outro produto, e assim por diante.
• Ou seja, como a nota utilizada para liquidar determinada
transação não vai para debaixo do "colchão", uma série
de outras transações serão liquidadas pela mesma
moeda/nota.
Demanda por moeda para transações: equação
quantitativa

• A este giro, ou ao número de transações que


são liquidadas por uma mesma unidade
monetária (na média) em um dado período de
tempo, denominamos por velocidade de
M*V = P*T circulação da moeda (V).
• Assim, o estoque de moeda (M) vezes seu
"giro" (velocidade de circulação) (V) é igual ao
valor total das transações realizadas (P*T).
Demanda por moeda para transações: equação
quantitativa

• Podemos transformar a equação quantitativa, e utilizar


o produto (renda) da economia, em vez do número de
transações para expressar esta igualdade.
• É razoável supor que o número de transações guarde
relação direta com o volume de produção.
• Quanto mais produzimos, mais transacionamos;
Demanda por moeda para transações: equação
quantitativa
• Devemos notar, porém, que as
duas categorias,
produção e transação, não são exatamente a
mesma coisa;
• Para
perceber a diferença, pense nos seguintes
exemplos:
 quando um indivíduo mora em casa própria, o valor do aluguel é
imputado no produto, embora não tenha ocorrido transação
nenhuma;
 quando o indivíduo produz para subsistência, também não
ocorre nenhuma transação.
Demanda por moeda para transações: equação
quantitativa

• Uma outra ressalva que deve ser colocada é que nem todas
as transações envolvem moeda.
• Por exemplo, na aquisição de um imóvel, o comprador pode
utilizar automóveis ou imóveis de menor valor como parte do
pagamento, caso o vendedor os aceite.
Demanda por moeda para transações: equação
quantitativa

• Contudo, supondo uma linearidade entre transações e produto, podemos


reescrever a equação quantitativa da seguinte forma:

MV = PY
Demanda por moeda para transações: equação
quantitativa
• Rearranjando os termos da equação para expressar a
quantidade de moeda em termos reais, temos:

MV = PY
Demanda por moeda para transações: equação
quantitativa

k é uma constante que reflete o inverso


da velocidade renda da moeda, e
chamada de coeficiente marshalliano ou
coeficiente de Cambridge.

k pode ser interpretado como a retenção


média de moeda, em relação à renda
nacional nominal
Exemplo

 Isto significa que uma unidade monetária passou de


mão em mão quatro vezes, criando renda.

 Ou seja, para gerar um produto de R$ 800 bilhões,


foram necessários apenas R$ 200 bilhões de meios de
pagamento.
Teoria Quantitativa da Moeda

• Até o momento, a equação quantitativa é


um truísmo ou tautologia, isto é, uma
relação de definição.
• Ela se transforma em uma teoria, quando
fazemos hipóteses sobre os fatores que
afetam o comportamento das variáveis.
Teoria Quantitativa da Moeda

• Supondo equilíbrio monetário,


teremos uma igualdade entre a
oferta e a demanda por encaixes
reais, com o que a equação
quantitativa se transforma em uma
função da demanda por moeda
para o motivo transação, isto é, da
moeda enquanto meio de troca
Teoria Quantitativa da Moeda
• Quanto maior a renda, maior será a demanda por
moeda.
• Percebemos que o conforto decorrente da utilização
das moedas nas trocas faz com que sua demanda seja
semelhante à de qualquer bem normal, que responde
positivamente a variações na renda.
• Sendo k uma constante, determinamos, com base em
um nível de renda, qual será a quantidade de encaixes
reais desejados pelos agentes.
Teoria Quantitativa da Moeda

•É bastante razoável a hipótese sobre a constância da


velocidade da moeda no curto prazo, pois esta depende
basicamente de fatores institucionais, tais como:
os intervalos de recebimento dos agentes na economia (anual,
mensal, quinzenal, semanal etc.);
grau de desenvolvimento do sistema financeiro e;
grau de verticalização da economia.
Quanto aos intervalos de recebimento, vejamos um exemplo:
Suponhamos uma sociedade composta por um conjunto de empresas homogêneas, que
produzem um determinado produto para o qual só se utiliza o fator trabalho, o qual é
obtido junto a um conjunto homogêneo de indivíduos.

Suponhamos, ainda, que as empresas paguem os salários mensalmente, acumulando ao


longo do mês a receita da venda de seu produto, para ao final do mês pagar os salários.

Os indivíduos recebem o salário em determinada data, e ao longo do mês vão gastando-o


na aquisição do produto.

Empresas e indivíduos terão um fluxo de caixa invertido: quando os indivíduos receberem o


salário, terão o nível máximo de saldos monetários, enquanto as empresas estarão no
mínimo.

Conforme os indivíduos gastam, seu saldo monetário diminui, enquanto o da empresa


cresce, até que se atinja o próximo período de recebimento.
Exemplo - Indivíduos
Consideremos inicialmente que o conjunto de indivíduos receba R$ 300,00
por mês e gaste o salário de forma uniforme ao longo do mês, isto é, R$ 10,00
por dia (1/30 da renda por dia);

Neste caso, no dia do recebimento os indivíduos


estarão com R$ 300,00 e as empresas com R$ 0,00.

No caso dos indivíduos, seus saldos monetários irão diminuindo R$ 10,00 por dia
ao longo do mês, tal que no segundo dia estarão com R$ 290,00, no décimo dia
estarão com R$ 200,00, no décimo quinto dia com R$ 150,00, no vigésimo dia
com R$ 100,00 e no último dia com R$ 0,00.
Velocidade-Renda e coeficiente marshaliano
No caso das empresas ocorrerá o inverso: no segundo dia estarão com R$ 10,00,
no décimo dia com R$ 100,00, no décimo quinto dia com R$ 150,00, no vigésimo
com R$ 200,00 e no último com R$ 300,00.

Tanto para os indivíduos como para as empresas, o saldo médio de


moeda ao longo do mês será de R$ 150,00.

Com este valor, realizam transações no valor de R$ 300,00, ou seja, o


Coeficiente k estoque médio de moeda girou duas vezes no período, isto é, a velocidade-
renda da moeda é igual a 2 ou, inversamente, o coeficiente marshalliano k é
igual a 1/2

Por que? MV = PY  V =PY/M  V = RENDA / SALDO


 V = 300/150 = 2
Rendimentos Mensais
Rendimentos Quinzenais
Se os indivíduos passarem a receber quinzenalmente, e mantiverem o
mesmo padrão de gastos, teremos o seguinte: no primeiro dia receberão
R$ 150,00, irão gastar R$ 10,00 por dia, tal que no décimo quinto dia
estarão com um saldo de R$ 0,00, quando voltarão a receber R$ 150,00, que
se esgotarão no trigésimo dia.

O movimento inverso se verificará no caso das empresas. Note que, neste


caso, o saldo monetário médio dos agentes será de R$ 75,00. Eles
continuarão realizando o mesmo volume de transações ao longo do mês,
mas mantendo menor quantidade de encaixes médios.

Para tal, foi ampliada a velocidade da moeda,


que para V= 4, ou k = 1/4

Por que? MV = PY  V =PY/M  V = RENDA / SALDO


 V = 300/75 = 4
Rendimentos Quinzenais
Conclusão

• Percebemos que a velocidade é inversamente relacionada ao


intervalo de recebimento e o saldo monetário está diretamente
relacionado ao intervalo de recebimento.
• Quanto menor o intervalo; menor o saldo médio.
Desenvolvimento do sistema bancário
• Outro fator a afetar a velocidade-renda da
moeda é o desenvolvimento do sistema
bancário, que amplia a velocidade de
circulação da moeda, pois podemos
considerar que os agentes mantêm parcela Assim, por exemplo, a
de seu dinheiro aplicado, enquanto não o proliferação dos caixas
utilizam para consumo, e vão resgatando automáticos amplia a
conforme as necessidades. velocidade da moeda,
• Quanto maior a facilidade de ida aos bancos diminuindo sua demanda.
para conversão de aplicações em moeda,
menor será o saldo monetário médio retido
pelos agentes, ou seja, maior será a
velocidade da moeda.
Grau de verticalização da economia.
• Por fim, ainda outro fator a afetar a velocidade-
renda da moeda é o grau de verticalização da
economia;
• Quanto mais verticalizadas as empresas, maior é
o volume de transações finalizadas através de
transferências contábeis que não envolvem
numerário.
• Se, contrariamente, as empresas terceirizam
parte de seus departamentos, diminui o grau de
verticalização e aumentam as transações
monetárias
Velocidade-renda da moeda
• Como a velocidade de circulação depende
basicamente desses fatores institucionais (a inflação
também afeta a velocidade), podemos considerá-la
constante no curto prazo;
• Supondo constante o valor de V e k, a equação
quantitativa fornece uma primeira explicação para a
aparição da inflação ao estabelecer uma relação
entre quantidade de moeda (M) e produto nominal
(PY).

M = kPY
M = kPY

• Toda variação no estoque de moeda deverá gerar uma variação de mesma


magnitude no produto nominal (PY), ou seja:

Variação % M = Variação % P + Variação % Y.

Isto é apenas uma aproximação, pois variação % (PY) ≠variação % P + variação % Y.


Os dois lados da equação não são a mesma coisa, mas para nossa finalidade esta
aproximação será útil, já que a diferença é infinitesimal.
Variação % M = Variação % P + Variação % Y.

• Considerando que o produto seja constante no


curto prazo, quer pela economia se encontrar no
pleno emprego, quer pela demora na resposta da
produção, teremos que a variação na quantidade
de moeda repercutirá basicamente sobre o nível
de preços.
• Definindo inflação como um aumento
generalizado e contínuo no nível de preços, conclui-
se, por esta expressão, que ela decorre de um
aumento contínuo na oferta de moeda.
O mecanismo de transmissão, ou seja, a forma pela qual a variação na
oferta de moeda impacta sobre o nível de preços, tem a seguinte
sequência:

Com o aumento na oferta de


moeda, os indivíduos se vêem,
inicialmente, com saldos
monetários superiores àquele
O aumento de preços fará
desejado (oferta de moeda maior
que a demanda) e, com isso, com que o saldo de encaixes
tentam se desfazer desta, reais volte ao nível desejado
ampliando a demanda por bens; pelos agentes.
OFERTA - DEMANDA

DEMANDA Como a oferta destes não


PREÇOS
OFERTA DE MOEDA > DEMANDA POR MOEDA
responde, o resultado será
um excesso de demanda por
bens com aumento de preços
para restaurar o equilíbrio no
mercado de bens.

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