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MACROECONOMIA I

Curso de Finanças – FEAAC (UFC)


Prof. Frederico Alencar- fredericoalencar@caen.ufc.br
Sistema Monetário: Oferta e
Demanda de Moeda

Bibliografia:
• Capítulo 2 – Manual de Macroeconomia (USP)
Taxa de juros e demanda por
moeda
Taxa de juros e demanda de moeda

• A outra variável a afetar a demanda de


moeda é a taxa de juros, que pode ser
definida como o custo de oportunidade
de manter saldos monetários, uma vez
que, ao deixar de adquirir títulos,
optando pela manutenção da moeda, o
indivíduo está abrindo mão da
rentabilidade daqueles.
• Assim, quanto maior for a taxa de juros
menor será a demanda por moeda.
Taxa de juros e demanda de moeda

• Uma primeira questão que deve ser considerada


para estudarmos a demanda de moeda é a
diferença entre taxa de juros nominal e real.
Taxa de juros e demanda de moeda

• Considere o seguinte exemplo: se um indivíduo aplica R$ 100,00


em um CDB para resgatar R$ 110,00 daqui a um ano, temos uma
taxa de juros de 10% ao ano nesta operação, uma vez que ao
final deste período o principal estará acrescido de R$ 10,00, que
correspondem aos juros pagos pela aplicação.
• Esta taxa de juros, que corresponde ao ganho monetário da
aplicação, chamamos de taxa de juros nominal, ou seja, em
termos de moeda o indivíduo ganhou 10% sobre o montante
inicialmente aplicado.
Taxa de juros e demanda de moeda

• E em termos de poder de compra, qual foi o ganho?


• Se ao longo deste ano, os preços não subiram, isto é, se
não houve inflação, no momento do resgate da
aplicação o indivíduo terá um poder de compra 10%
superior ao que possuía no início.
• Entretanto, se o nível de preços se elevou em 10% ao
longo do ano, concluímos que não houve qualquer
incremento em termos de poder de compra, uma vez
que, para adquirir a mesma quantidade de mercadorias
que o indivíduo adquiriria com os R$ 100,00 no início do
período, terá agora que dispender R$ 110,00, já que os
preços subiram 10% no período.
Taxa de juros e demanda de moeda
• Nesse sentido, define-se a taxa real de juros como sendo o
retorno em termos de poder de compra de uma aplicação,
ou seja, corresponde à diferença entre a taxa nominal de
juros e a variação no poder aquisitivo da moeda ao longo do
período, isto é, à taxa de inflação.

r = i -π
Taxa de juros e demanda de moeda

• Mas, afinal, qual é a taxa de juros que afeta a demanda


por moeda?
• De acordo com o motivo portfólio, o indivíduo determinará
de que forma alocar sua riqueza comparando o retorno dos
diferentes ativos;
• Como o indivíduo não possui ilusão monetária, o que
interessa é a comparação entre os retornos reais dos
diferentes ativos.
Taxa de juros e demanda de moeda

• O retorno real de um título é a taxa real de juros, é o


que se ganha em termos de poder de compra pela sua
posse.
• Ocorre que, no caso da moeda, sua posse não dá direito
a qualquer retorno nominal e seu retorno real será a
variação no poder aquisitivo na moeda.
Taxa de juros e demanda de moeda
• Em um contexto inflacionário, percebemos que o retorno real da
moeda é negativo e igual à taxa de inflação.
• Assim, ao decidir sobre a composição de sua carteira de ativos, o
agente compara a diferença entre os dois retornos reais, que no
caso são:
• retorno dos títulos = r e
• retorno real da moeda = - π
• Ou seja, a diferença entre o retorno do título e da moeda será:

r - (- π) = i
Taxa de juros e demanda de moeda

• Conclui-se, portanto, que a taxa de juros relevante para


determinar a demanda por moeda é a taxa nominal de juros,
que mostra o quanto o indivíduo está perdendo em termos
reais diante da alternativa de aplicar em títulos (a taxa real de
juros dos títulos mais a perda de poder aquisitivo da moeda);
Taxa de juros e demanda de moeda

Quanto maior a taxa


nominal de juros, menor
será a demanda de moeda
e vice-versa:
Taxa de juros e demanda de moeda
Note-se, porém, que, ao fazer uma aplicação financeira,
os indivíduos desconhecem a taxa real de juros, pois não
conhecem de fato a inflação que ocorrerá enquanto os
recursos estiverem aplicados.

Ou seja, o aplicador conhece apenas a taxa nominal de


juros, e possui apenas uma expectativa sobre qual deve
ser a inflação futura.

Contudo, ao aplicar em um título, o agente está


interessado no retorno real, que só será conhecido, de
fato, transcorrido o período da aplicação.

Ou seja, aplicamos com base em uma expectativa de retorno


real, que pode não se verificar caso a inflação do período seja
diferente daquela esperada.
Taxa de juros e demanda de moeda
• Essa diferença leva a dois conceitos diferentes
de taxa real de juros:
taxa ex ante, aquela que se espera receber ao
fazer determinada aplicação (é obtida pela
diferença entre a taxa nominal e a inflação
esperada), e;
 taxa ex post, que é a efetivamente ocorrida
após conhecer-se a verdadeira inflação.
• Note que, para induzir um aplicador a adquirir Mantida a taxa real de juros ex
determinado título, a taxa nominal de juros ante, qualquer alteração na
expectativa inflacionária irá
terá que se ajustar para, com base em uma
repercutir, portanto, na taxa
expectativa inflacionária, garantir-se ex ante ao nominal de juros.
poupador o retorno real desejado.
Taxa de juros e demanda de moeda

• Esse é o chamado Efeito Fisher, de acordo com o qual:

Taxa de
inflação
esperada
Efeito Fisher

• A taxa nominal de juros se eleva ou por aumentos na taxa real de juros ex


ante, ou por aumentos na expectativa de inflação.
• Como a demanda de moeda é função da taxa nominal de juros, podemos
expressá-la como uma função da expectativa de inflação e da taxa real de
juros ex ante, ou:
Efeito Fisher
• O Efeito Fisher traz importantes implicações para a questão da
política econômica.
De acordo com a equação quantitativa, vimos que uma
expansão monetária no presente iria gerar um desequilíbrio entre
a oferta de encaixes reais e a demanda, que só seria equilibrado
pela elevação de preços.
Ou seja, a expansão monetária hoje implicaria inflação hoje.
Como contrapartida deste resultado, teríamos que, para uma política de
estabilização, bastaria cessar a emissão monetária.
Efeito Fisher

• Ao introduzirmos a taxa nominal de juros como uma variável


explicativa da demanda de moeda e a expectativa de inflação
como um dos elementos para explicar a formação da taxa
nominal de juros no presente, criamos um vínculo entre
comportamento futuro do agregado monetário e a taxa de
inflação no presente.
Efeito Fisher

• Se os agentes esperam que o governo incremente a oferta de


moeda no futuro, esta informação passa a ser incorporada em suas
expectativas inflacionárias, o que eleva a taxa nominal de juros no
presente.
• Com este aumento, reduzimos a demanda por moeda, gerando um
excesso de oferta de encaixes reais, isto é, uma tentativa de os
agentes se desfazerem de moeda, o que provocará elevações de
preços no presente para equilibrar a oferta e demanda de encaixes
reais.
• Ou seja, a inflação ocorre antes mesmo da emissão monetária
Efeito Fisher
• Por outro lado, se houver a expectativa de que o governo interromperá o
processo de emissão monetária no futuro, os agentes irão rever suas
expectativas de inflação para baixo, reduzindo a taxa nominal de juros
no presente e, portanto, ampliando a demanda por encaixes reais,
gerando um excesso de demanda por moeda.
• Com isso, os preços terão que se reduzir no presente para equilibrar a
oferta e a demanda por moeda.
• Note que, com isso, caso o governo possua credibilidade, pode reduzir a
inflação no presente com o simples anúncio de que no futuro irá adotar
uma política monetária restritiva.
• Se os agentes acreditarem na promessa do governo e se este quiser
evitar uma deflação (queda generalizada no nível de preços) momentânea
na economia, terá inclusive que ampliar a oferta de moeda no presente,
para evitar o excesso de demanda por encaixes reais.
MODELO TOBIN-BAUMOL
Modelo Tobin-Baumol
• Vários autores buscam explicar a demanda por
moeda enfatizando basicamente as chamadas
decisões de portfólio dos agentes econômicos.
• De acordo com estas, a moeda entra como
parte dos ativos da economia, concorrendo
com os demais na distribuição da riqueza dos
agentes.
• Assim, a função demanda por moeda
considera a rentabilidade dos diversos ativos
existentes e o estoque de riqueza a ser alocado.
Modelo Tobin-Baumol

• Note que, neste caso, consideramos mercados


de estoques que não sofrem influência de
variáveis fluxos.
• O principal trabalho neste sentido foi o de Tobin
(1958)  Liquidity preference as behavior toward
risk. Review of Economic Studies, nº 25, 1958.
Modelo Tobin

• Considere a seguinte equação:


Modelo Tobin

• Nesse modelo (Modelo Tobin de


preferência pela liquidez), a
demanda de moeda varia
inversamente com a rentabilidade
dos demais ativos e com a
expectativa de inflação e
positivamente com a riqueza.
Modelo
Tobin

Consideremos os seguintes casos:


um aumento no estoque de riqueza, mantidas as mesmas
participações de todos os ativos, ampliará a demanda por
todos os ativos, inclusive pela moeda.
Já quanto às taxas de retorno, teremos o seguinte: um
aumento na rentabilidade de qualquer ativo, por exemplo, dos
títulos (como estes são substitutos diante dos demais e com o
estoque de riqueza dado), ampliará a demanda por títulos,
reduzindo a dos demais ativos.
No caso da inflação esperada, um aumento nesta significa
uma queda na rentabilidade da moeda, fazendo com que as
pessoas diminuam sua demanda, procurando outros ativos.
Modelo Tobin
• Esse tipo de abordagem também pode ser utilizado para explicar como a
rentabilidade dos diversos ativos se ajustam para garantir o equilíbrio no
mercado de ativos.
• Em uma abordagem do tipo equilíbrio geral, se alterarmos a oferta de
qualquer um dos ativos, todas as rentabilidades serão afetadas, de modo a
acomodar-se à oferta adicional desse ativo.
• Suponhamos que, por qualquer motivo, o investimento se amplie e as
empresas aumentem a colocação de títulos para financiá-lo.
• Isto gerará inicialmente excesso de oferta de títulos, fazendo com que
seus preços caiam, ou inversamente, sua rentabilidade se amplie.
• O aumento no retorno real dos títulos fará com que os agentes tentem
desfazer-se dos demais ativos para direcionarem a riqueza para os títulos, o
que fará com que a rentabilidade destes também se amplie.
• Note-se que este aumento nos demais ativos terá que ser menor do que
no caso dos títulos, senão os mercados não se reequilibrarão.
Modelo Tobin-Baumol

• Vimos que a demanda de moeda depende da renda e da taxa


de juros nominal, que reflete o custo de oportunidade.
Modelo Tobin-Baumol

• Na sequência, explicaremos um modelo que


indica, com base nessas duas variáveis, como os
indivíduos determinam o encaixe monetário
ótimo que desejam: é o chamado Modelo Tobin-
Baumol* de demanda de moeda.

Baumol, William J. (1952). "The Transactions


Demand for Cash: An Inventory Theoretic
Approach". Quarterly Journal of
Economics. 66 (4): 545–556.
Modelo Tobin-Baumol
• De acordo com esse modelo, o indivíduo faz uma análise custo-
benefício entre a retenção de moeda ou a aplicação no mercado
financeiro.
• O custo de reter moeda são os juros que o indivíduo deixa de
ganhar caso aplicasse o dinheiro, enquanto o benefício refere-se ao
fato de não ter que ir ao banco para converter os títulos em
moeda, isto é, deixa de incorrer nos custos de transação.
• Podemos construir uma função custo, que depende da taxa de
juros e do número de vezes que terão que fazer a conversão de
títulos em moeda, e o agente minimizará esta função em relação a
este número de conversões.
• Determinado o número ótimo de conversões e dada a renda do
agente, determinamos o saldo médio de encaixes reais que os
agentes manterão.
Modelo Tobin-Baumol
• Como visto na análise da teoria quantitativa, o saldo de
encaixes reais mantido pelos agentes correspondia à
renda que o agente possuía durante um determinado
período, dividido por duas vezes o número de
recebimentos que o indivíduo possuía naquele período.
• Quando há apenas um recebimento no período, a
velocidade de circulação é 2;
• Quando existem dois recebimentos, passa para 4.
Modelo Tobin-Baumol

• Assim:
Modelo Tobin-Baumol
• Agora consideraremos N como o número de idas ao banco
para converter títulos em moeda.
• O modelo Tobin-Baumol considera dois tipos de custos na
composição do custo total:
O primeiro refere-se ao custo de oportunidade da retenção de
moeda, que corresponde ao juro não recebido;
O segundo corresponde ao custo da ida ao banco para
realizar a conversão (o tempo que se gasta no deslocamento,
nas filas, combustível etc.)

Enquanto o primeiro custo diminui com o aumento


de número de idas ao banco, isto é, com a menor
retenção de moeda, o segundo aumenta.
Modelo Tobin-Baumol

• Considerando um custo constante em termos


monetários para cada ida ao banco (Cd), podemos
especificar a função custo total da seguinte forma:

Custo de transação
(deslocamento)

Custo de
oportunidade
(tx. de juros)
Modelo Tobin-Baumol
Aumento do custo do
deslocamento ao
banco

Diminuição do custo de
oportunidade de perder
rentabilidade de juros
Modelo Tobin-Baumol

• Os indivíduos determinarão o quanto demandarão de


saldos monetários reais a partir da definição do N
ótimo, que é obtido pela minimização da função
custo total.
• Diferenciando a função custo total em relação a N e
igualando-a a zero, obtemos o N que minimiza a
função custo total.
Modelo Tobin-Baumol
• 𝐶𝑇 = 𝑖 𝑌
2𝑁
+ 𝐶𝑑. 𝑁 ou 𝐶𝑇 =
1
2
. 𝑖. 𝑌. 𝑁 −1 + 𝐶𝑑. 𝑁

• 𝑑𝐶𝑇
𝑑𝑁
1
= . 𝑖. 𝑌. (−1)𝑁 (−1−1)=−2 +𝐶𝑑
2

•  𝑑𝐶𝑇
𝑑𝑁
𝑖.𝑌
= − . 𝑁 −2 + 𝐶𝑑
2

• 𝑑𝑁 = − 2𝑁2 + 𝐶𝑑 = 0
𝑑𝐶𝑇 𝑖.𝑌

•  − 2𝑁2 = −𝐶𝑑 [multiplicando ambos os lados por (-1)]


𝑖.𝑌

• 2𝑁 2. 𝐶𝑑 = 𝑖. 𝑌
• 𝑁 2 = 2𝐶𝑑
𝑖.𝑌
ou 𝑁 ∗ =
𝑖.𝑌
2𝐶𝑑
Modelo Tobin-Baumol
• Dado o N ótimo (N*) definimos o saldo monetário médio ótimo:
Modelo Tobin-Baumol

• Percebemos por essa expressão que a


demanda de moeda variará
positivamente com a renda e
inversamente com a taxa de juros,
conforme descrito inicialmente.
• Assim, o modelo Tobin-Baumol dá
uma fundamentação para a retenção
de moeda a partir de um
comportamento racional dos
indivíduos, isto é, fundamenta
microeconomicamente a retenção de
moeda.

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