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Revisão Técnica:
Revisão Textual:
• Moeda e Inflação
• Políticas Econômicas
• Economia e democracia
Atenção
Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
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A continuidade do estudo da Macroeconomia levar-nos-á, nesta Unidade, para o
estudo da moeda e de diversas políticas econômicas.
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O estudo da moeda é um dos temas mais interessantes, importantes e, ao mesmo
tempo, complexos da macroeconomia.
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modernos, somente os bancos centrais podem imprimir ou criar papel-moeda1. No modo de
produção feudal, para fazermos um paralelo, a moeda metálica somente podia ser cunhada
pelo senhor feudal. Em razão disso, até hoje referimo-nos ao direito de criar moeda como
“direito de senhoriagem”. Isso garante que o estoque de moeda em circulação na economia
possa ser controlado, pois somente valem como moeda os valores oficialmente criados pela
autoridade monetária.
Mas por que utilizamos moeda? Como chegamos ao uso tão abstrato de um pedaço de
metal ou papel que pode representar o equivalente em valor de toneladas de outros produtos?
Para ilustrar por que utilizamos moeda, vamos pensar em uma situação hipotética.
Suponha que há, em uma economia simples, apenas 3 produtores, seus nomes são “A”, “B” e
“C”. Eles produzem, respectivamente, os produtos “PA”, “PB” e “PC”, que são distintos.
Suponha que “A” (que produz “PA”) deseja obter PB. “B”, que produz PB, deseja obter PC.
Enquanto “C”, deseja obter PA. Suponha que esta economia não conheça o uso da moeda.
Como seriam feitas as trocas? “A” não pode trocar diretamente PA com o produtor “B”, pois
A deseja PB, mas B não tem interesse em PA, e sim em PC. Da mesma forma, uma troca
direta entre B e C é impossível, pois B quer PC, mas C quer PA. Assim, a troca nesta
economia só seria possível se os três produtores se encontrassem simultaneamente para
realizar o intercâmbio. Por exemplo, A daria PA ao C, aceitando PC em troca. Em seguida, A
daria PC ao B, que daria PB em troca. A terminaria, com PB; B com PC e C com PA.
Agora imagine tentarmos fazer isso em uma economia real, com milhões de produtores
distintos, com múltiplos interesses em inúmeros produtos distintos. Seria praticamente
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Os bancos comerciais conseguem expandir a disponibilidade de moeda, mas não criam moeda propriamente dita.
Mesmo quando podem expandir a disponibilidade de moeda, os bancos comerciais estão sempre sujeitos ao controle
e à regulação dos bancos centrais.
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impossível que os produtores e consumidores desta economia conseguissem todos adquirir o
que desejam.
Contudo, com o uso da moeda, as trocas são facilitadas. Afinal, trocamos qualquer
produto por moeda, e depois trocamos moeda por qualquer outro produto (novamente,
sempre considerando a troca de valores equivalentes). Um profissional, por exemplo, oferece
seu produto (trabalho) em troca de dinheiro. Depois, utiliza este dinheiro para trocar pelos
muitos de bens que deseja adquirir.
A moeda também tem o papel de reserva de valor. Ou seja, significa que a moeda
pode ser acumulada, e este acúmulo de moeda permite, em condições ideais, que o seu
proprietário guarde a riqueza no valor equivalente ao que a soma do valor monetário
representa. Dessa forma, o proprietário de um terreno no valor de R$100 mil é tão rico, em
um dado momento, quanto um proprietário de R$100 mil em dinheiro. Com uma vantagem
ao dinheiro que pode ser trocado por qualquer mercadoria, naquele momento, inclusive pelo
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terreno. Isto é, quem possui riqueza na forma de dinheiro “vivo” pode usá-lo
instantaneamente para adquirir qualquer outro bem de soma equivalente. Já o proprietário do
terreno normalmente teria que vendê-lo para somente depois poder adquirir outros bens com
seu valor.
Outra função importante da moeda é atuar como unidade de conta, ou seja, ser um
denominador comum monetário. Isso permite a criação de uma unidade de valor (tal como o
metro é a unidade de medida para comprimentos). Por isso, medimos o valor das mercadorias
em reais, ou R$, porque é uma forma comum de apreciarmos quanto de valor há embutido
em cada mercadoria. Isso permite a comparabilidade entre elas e a troca de mercadorias de
valores iguais.
Já verificamos que uma pessoa que tem uma determinada quantidade de moeda é tão
rica quanto uma pessoa que detém bens de valor idêntico. Além disso, a moeda tem a
vantagem de poder ser trocada por qualquer outro bem imediatamente, isto é, tem liquidez
plena e é de curso forçado.
O custo em reter moeda é refletido nas taxas de juros de uma economia. Os juros,
aliás, podem também ser vistos como o “preço do dinheiro”. Ou seja, se uma economia tem
juros de 10% ao ano, significa que, para obter R$100 de que você não dispõe (um
empréstimo), você precisará pagar R$10 de juros. Naturalmente, ao final do empréstimo, você
paga os juros de R$10 e ainda precisa devolver o dinheiro que tomou emprestado. Em uma
economia de juros altos como a brasileira, dizemos que o dinheiro é caro.
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Salvo no caso de uma deflação crônica, que é um caso raro nas economias capitalistas modernas.
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mínima de dinheiro que deixamos na forma líquida para realizarmos os pagamentos
necessários em nosso cotidiano.
Moeda e Inflação
Além das suas funções, custos e benefícios explorados anteriormente, a moeda tem
ainda a característica de influenciar outras variáveis econômicas, como a produção, os
investimentos, o nível de preços (e a inflação), entre outras, de forma direta ou indireta. Trata-
se, assim, de uma variável chave na economia e na condução das políticas macroeconômicas.
Trata-se da Teoria Quantitativa da Moeda. Segundo tal teoria, há uma relação entre a
quantidade de moeda na economia e os preços de produtos e serviços que são
transacionados. Esta relação está cristalizada na equação descrita a seguir:
Sendo assim, vamos supor que, em uma determinada economia, consideramos que V
e Q são constantes, em um dado momento. O que ocorre se M aumenta? A resposta é óbvia:
P deve aumentar na mesma proporção. Isso significa que, se a velocidade de circulação da
moeda estiver constante e não houver variação da produção, um aumento no estoque de
moeda será refletido em um aumento do nível de preços, ou seja, inflação. Portanto,
identificamos uma relação clara entre moeda e inflação.
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Em geral, é razoável supor que V seja estável, senão constante, no curto prazo. Mas Q
pode variar. Neste cenário, se M aumenta, para que não haja inflação, Q deve aumentar na
mesma proporção do aumento de M, pois então P ficaria constante. Ou seja, se houver
aumento da produção, M pode aumentar nesta mesma proporção sem que haja maiores
riscos de que se provoque inflação.
Existem ainda outras teorias e causas possíveis da inflação, como inflação de custos,
inflação de demanda, inflação oligopolista, entre outras, que não serão tratadas aqui.
Entretanto, o aluno interessado em se aprofundar encontrará uma vasta literatura à sua
disposição para entender o tema. É particularmente interessante a evolução do pensamento e
das teorias de inflação, desde a década de 1970 até os anos 1990, bem como a ampla
experiência brasileira no combate à inflação crônica que perdurou no país ao longo dessas
décadas. O Brasil é reconhecidamente o país com o maior conhecimento acumulado no
assunto e com maior aparelhamento para seu monitoramento (múltiplos índices de inflação,
órgãos de controle etc.).
Quando ocorre inflação, o valor da moeda se deteriora. Significa que, por um lado,
cada vez mais moeda é necessária para comprar a mesma quantidade de bens. Significa ainda
que, se a moeda for retida em sua forma líquida, ela perde poder de compra. Portanto em um
ambiente de alta inflação a moeda não serve mais como reserva de valor.
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Nesse ambiente de variações importantes de preços, aos poucos perde-se a referência
do valor da moeda; afinal, cada dia os preços sobem e não se sabe mais quanto representa o
valor de R$100. Quem se lembra da época de alta inflação no Brasil, desde a década de 1980
até o ano de 1994, irá se lembrar que não se podia fazer as contas em moeda local, pois não
se conseguia perceber o significado daquela quantidade de moeda em valor de mercadorias,
mesmo porque os valores mudavam diariamente. Assim, a moeda perdia também a função de
unidade de medida.
Outra consequência da inflação alta é que, ao se reter uma moeda que se desvaloriza
constantemente, perde-se muito poder de compra. Por isso, os agentes passam a não desejar
mais reter tal moeda e ao final passam a não aceitá-la (o que é um conflito com a legislação
que obriga seu uso). Muitas vezes os agentes de países que convivem com alta inflação
passam a tentar utilizar moedas de outros países, consideradas mais fortes, para suas trocas.
No caso brasileiro da década de 1980, houve em parte utilização de dólares pelos agentes,
ainda que de maneira informal. Por vezes utilizam-se metais nobres, como ouro ou prata.
Há ainda outros efeitos da inflação sobre a economia. Talvez o mais devastador deles
seja o desestímulo que causa ao investimento. Isso porque os investidores precisam de um
ambiente estável para tomar suas decisões de investimento. Como investimentos demoram
anos para dar retorno, o investidor precisa estimar sua rentabilidade futura, seus preços, seus
custos, etc., para poder decidir como e se vai investir. Em um ambiente de alta inflação ou
incerteza é impossível prever tais variáveis, de modo que decisões de investimento acabam
por ser postergadas. A consequência disso é que a economia passa a crescer a taxas mais
baixas do que em um ambiente de inflação controlada.
Políticas Econômicas
O que são políticas econômicas e o que eu tenho a ver com isso?
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concentrar a riqueza. Assim, é necessário que haja uma atuação da sociedade, externa ao
mercado, que possa produzir os efeitos que tal sociedade deseja e que estão para além do
poder do capitalismo na sua forma pura. Nas sociedades modernas, essa atuação é, em geral,
atribuição do Estado, ou seja, do setor público.
As políticas econômicas são o conjunto de práticas realizadas por tais agentes que estão
além ou acima do mercado, que têm por função atingir objetivos da sociedade que o
capitalismo por si só não conseguiria produzir. As políticas econômicas têm os mais variados
objetivos, sendo alguns deles, conforme já mencionamos, a desconcentração de renda, a
manutenção de altos níveis de emprego das pessoas e dos recursos, redução da pobreza,
promoção de altos níveis de bem-estar social, produção de bens públicos, estímulo à
concorrência, manutenção de inflação baixa e um ambiente econômico estável, entre muitos
outros.
Existe uma relação próxima entre o nível de produção de uma economia e o seu nível
de emprego. É, também, uma relação de mútua e direta estimulação, o que quer dizer que, ao
aumentar o nível de produção, há um aumento no nível de emprego; e ao aumentar o nível
de emprego, há um novo incentivo ao aumento de produção. Funciona assim: ao aumentar a
produção, digamos, através do investimento feito por uma empresa de fogões em uma fábrica
nova, é preciso empregar pessoas que irão trabalhar na fábrica. Portanto o investimento foi
feito e contratam-se pessoas para que haja o aumento de produção. Mas a própria
contratação de pessoas irá estimular uma segunda onda de aumento de produção. Pois as
pessoas que estavam desempregadas irão estar agora empregadas e recebendo salários e,
consequentemente, com poder de compra que não tinham antes. Isso significa que irão
consumir e, com isso estimular a produção de mais bens. Por isso, costumamos dizer que,
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quando se realiza um investimento, o aumento total na produção é maior do que o próprio
investimento, pois há um efeito multiplicador nesse estímulo.
Vamos pensar, agora, nas diversas ferramentas que os governos têm à sua disposição
para aumentar a produção (e a renda) e o emprego. Para isso, vamos relembrar a equação da
renda dada na unidade 4. Dissemos que os gastos de um país, que equivalem ao seu produto
(Y), são a soma dos gastos com bens de consumo (C), investimentos (I), despesas do setor
público (G), somando-se ainda a exportações (X) e subtraindo-se as importações (M). De
forma algébrica, podemos dizer que:
Assim, para tentar aumentar a renda nacional, o setor público pode tentar influenciar,
direta ou indiretamente, para o aumento de qualquer das variáveis C, I, G e X, ou para a
diminuição de M.
Estes são apenas alguns exemplos entre uma infinidade de práticas possíveis.
Outro ponto importante a ressaltar sobre as políticas econômicas é que elas podem ter
múltiplos efeitos, alguns desejáveis e outros indesejáveis. Exemplificadamente, um aumento
dos gastos públicos pode estimular o aumento da produção nacional, mas pode também,
como explicamos no item anterior, estimular a inflação. Assim, seria como um remédio que
traz um benefício, mas, juntamente com ele, um efeito colateral importante. Em vista disso, o
setor público deve utilizar medidas que tenham os menores efeitos negativos possíveis, como o
estímulo ao investimento privado.
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Modelos de Crescimento Econômico e Ciclos de Negócio
O crescimento econômico é um dos objetivos de política econômica mais perseguido,
entre outros fatores, pela maior abundância de bens e prosperidade que reflete, bem como
pelos seus efeitos na capacidade de consumo e emprego de uma sociedade.
Existem muitas teorias que buscam explicar esse crescimento. Na maioria delas, a
oferta é mais importante do que a demanda, isto é, sinaliza-se que, no longo prazo, as
sociedades tendem a desejar consumir tudo aquilo que podem produzir, mas há um limite
técnico e mesmo físico à capacidade de produção de uma sociedade em um dado momento.
Entretanto, o crescimento de longo prazo é dado justamente pela capacidade das sociedades
em alargar estes limites, pouco a pouco, mas continuamente.
Existem muitas outras teorias que buscam entender ou explicar por que algumas
sociedades são mais prósperas e têm economias que crescem a velocidade maiores que
outras.
O que é o desenvolvimento?
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Quais seriam outras características exigidas para o desenvolvimento? A resposta deve
ser dada, mais propriamente, pela própria sociedade que busca esse desenvolvimento, e está
relacionada com seus valores e princípios. Mas em geral, há alguns fatores normalmente
comuns a todas as sociedades.
Economia e democracia
Vimos que as sociedades têm desejos que vão além da propriedade e da abundância
material. Um destes anseios, ainda que não seja de ordem econômica, é normalmente a
liberdade, ainda que não seja um valor unânime entre os povos.
Existe uma ligação entre uma economia de mercado e a liberdade de atuação política e
econômica, isto é, a democracia. Não se trata de uma condição de existência, afinal, há
exemplos tão claros como a China, em que predomina uma sociedade de alto nível de
crescimento econômico e, ainda sim, uma sociedade com poucas liberdades políticas.
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MOCHÓN, F. Princípios de economia. São Paulo: Prentice Hall, 2007
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