Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
M*V = P*Y
M = quantidade de moeda;
Quando consideramos a moeda como reserva de valor, temos novos motivos para
demandar moeda. Um segundo motivo a ser considerado é o motivo precaução. Os
indivíduos têm incerteza em relação ao futuro e guardam moeda para precaver-se dos
infortúnios. Assim, a posse de moeda dá ao seu detentor maior segurança diante das
incertezas do futuro, pois tem liquidez absoluta. Este motivo é importante em momentos (ou
países) com baixa inflação. O total de moeda que o indivíduo pode guardar para precaver-
se do futuro está directamente relacionado com o seu rendimento.
Pt = R/T
Pt = preço de titulo;
R = rendimento
A demanda por moeda depende tanto do rendimento como da taxa de juros nominal.
Quanto maior (menor) for o rendimento maior (menor) será a demanda por moeda e
quanto maior for a taxa de juros, menor será a demanda de moeda.
III. A MOEDA E A ACTIVIDADE ECONÓMICA
Assim, (T) não abrange apenas os bens e serviços incluídos no PIB, mas também os
produtos intermediários, compras de artigos de 2ª mão e serviços de factores. Chega até a
incluir transações financeiras, como, por exemplo, transferências de fundos de uma conta
de depósito à vista para um fundo do mercado monetário. As dificuldades de
operacionalização desta versão da teoria quantitativa da moeda levaram Fisher e outros
economistas clássicos, como Marshall e Pigou, a evoluírem para o conceito da equação de
trocas e da velocidade-renda da moeda.
V = PY / M: Velocidade-renda da moeda.
Fisher, como os economistas clássicos de sua época, acreditava que preços e salários
eram perfeitamente flexíveis, de maneira que o produto real (Y), sob condições normais,
estaria no seu nível de pleno emprego e poderia também ser considerado como constante
no curto prazo. Portanto, pela teoria quantitativa, como V e Y são considerados constantes,
todos os movimentos do nível de preços são determinados por mudanças proporcionais na
quantidade de moeda. (Hillbrecht, 1999)
Como MV = PY e M = k.PY,
então: k = 1 / V
PY
31Dez 31Jan 28Fev 31Mar 30Abr 31Dez 31Jan 28Fev 31Mar 30Abr
(encaixesxdias)
EM = Encaixe Médio = ---------------------------------------
N. total de dias
27.220 878,07
EM = --------------- = 878,07 k = ----------------- = 0,44
31 2.000,00
O encaixe médio durante o período, para a hipótese adotada, foi, portanto, de $ 878,07.
Esta foi a proporção média da renda recebida no período que o indivíduo manteve, em
caixa, para atender as suas necessidades de transação. (Lopes & Rossetti, p.48)
Este encaixe médio corresponde a um k = 0,44.
M = f(Y) de acordo com os economistas clássicos, a demanda por moeda é uma função
do rendimento dos indivíduos (ou famílias).
Definindo, para uma economia fechada, o rendimento nacional, Y, como a soma das
remunerações pagas aos factores de produção ao longo do processo produtivo de bens e
serviços (salários, W; aluguéis, A; juros, J; e lucros, B), podemos expressar a demanda de
moeda, em nível agregado, da seguinte forma: (Lopes & Rossetti, p.50)
L1 = k1 (W) salários
L2 = k2 (A) aluguéis
L3 = k3 (J) juros
L4 = k4 (B) lucros
---------------------------
L = k.PY
A demanda agregada de moeda, segundo a versão clássica, pode então ser expressa por:
M>L inflação
M<L deflação
M=L estabilidade de preços
a) Motivo Transação
Esse motivo foi desdobrado em dois. Keynes denominou-os motivos-renda e giro de
negócios. Quanto à renda, trata-se da necessidade de conservar recursos líquidos para
garantir a transição entre os recebimentos e os desembolsos; a força deste motivo para
induzir os agentes económicos à decisão de reter activos monetários depende, segundo
Keynes, principalmente do montante da renda regularmente recebida e da duração normal
do intervalo entre o seu recebimento e os gastos. Quanto ao giro de negócios, incluiu-se
sob este motivo a moeda retida pelas empresas para garantir os pagamentos que se
efectuam no intervalo entre as compras de insumos e remunerações dos factores e as
entradas de caixa resultantes da realização das vendas; a força deste motivo para induzir as
empresas a manter maiores ou menores saldos líquidos em caixa depende, segundo
Keynes, sobretudo do montante da produção corrente (e, portanto da renda corrente) e do
número de mãos através das quais ela passa. (Lopes & Rossetti, p. 55).
A procura de moeda para transações era identificada pelos economistas
clássicos: o estoque necessário para compensar as defasagens entre recebimentos e
pagamentos. Até aí, Keynes só inventou uma denominação.
b) Motivo precaução
Enquanto o motivo transação se refere ao atendimento de despesas ordinárias e certas,
o motivo precaução decorre da necessidade de se fazer frente a despesas extraordinárias
e incertas. Há, assim, motivos que levam os agentes a se precaverem quanto às
contingências inesperadas. A força deste segundo motivo depende, em grande parte, ainda
segundo a versão de Keynes, do custo e da segurança dos métodos para obter moeda em
caso de necessidades imprevistas. A concessão de limites para movimentação de contas
correntes, em aberto nos bancos comerciais, franqueada aos detentores de “cheques
especiais”, tende a reduzir a demanda de moeda por precaução a níveis próximos de zero.
(Lopes & Rossetti, p. 56)
Na linha clássica, Keynes admitiu que não apenas a procura de moeda por
transações, mas também a por precaução, fossem proporcionais ao rendimento
nominal, na forma marshalliana kPY, sendo k uma constante.
c) Motivo Especulação
Enquanto os dois motivos anteriores são comuns aos clássicos e a Keynes, o motivo
especulação é especificamente Keynesiano. Quanto a este terceiro motivo, Keynes procura
mostrar que, ao contrário do que pensavam os clássicos, não é irracional manter activos
monetários para satisfazer a oportunidades especulativas, desde que os agentes
económicos tenham razões para acreditar em mudanças a seu favor no preço dos títulos e,
portanto, na taxa de juros. A expectativa sobre mudanças futuras na taxa de juros está,
assim, por detrás do motivo especulação. Sob uma expectativa generalizada de alta na taxa
de juros ou de uma queda equivalente no preço dos títulos, no futuro, a retenção de saldos
monetários para fins especulativos tende a se elevar; caso contrário, a retenção de moeda
devida a esse motivo tende a diminuir. (Lopes & Rossetti, p. 56)
Para simplificar, admite-se que os preços são constantes. Assim conceitos de renda real e
de renda nominal se tornam iguais. Vamos focalizar separadamente cada um destes
componentes.
Lt i Yo Y1 Y2
A linha de raciocínio seguida por Keynes está fundamentada nessa relação simples entre os
preços de mercado dos títulos de rendimento fixo e as correspondentes taxas de juros
auferidas por seus detentores. Admitindo que os agentes económicos manteriam seus
excedentes de renda em relação as suas necessidades de consumo (isto é, poupanças) sob
a forma de ativos monetários ou de títulos adquiridos no mercado financeiro, Keynes
observou que, quando os preços dos títulos estavam altos e as taxas de juros baixas, os
agentes econômicos revelavam, de uma forma geral, forte propensão a manter aqueles
excedentes sob a forma de ativos monetários, na expectativa de que os preços caíssem e
ensejassem, se adquiridos quando então se encontrassem em queda, maiores ganhos
especulativos. Inversamente, estando baixos os preços dos títulos e altas as taxas de juros,
a manutenção de saldos monetários para fins especulativos tendia a se reduzir, dada a
preferência que então se estabelecia por aplicações em títulos, na expectativa de que seus
preços se elevassem, ensejando maiores ganhos especulativos, se vendidos quando então
se encontrassem em alta.
Aqui, cabe registrar que Keynes explicitamente admitiu que os substitutos para a moeda,
como reserva de valor, eram os títulos de LP e renda fixa. Os bens físicos não foram
admitidos como bons substitutos para a moeda, na composição do portfólio dos agentes
econômicos, pelo fato de esses bens não possuírem um mercado amplo e organizado para
as suas transações e, consequentemente, não poderem ser transformados em moeda
rapidamente e sem perda substancial de valor. O reduzido grau de liquidez desse tipo de
bens é que teria levado Keynes a raciocinar em termos de moeda ou títulos.
Relações entre preços de mercado e taxas de juros de um título de renda fixa
preço de mercado do título ($) rendimento fixo mensal Taxa de juros ( i )
valor nominal = $ 100.000 ($) %
3% a.m. s/o valor nominal
100.000 3.000 3.00
105.000 3.000 2.85
110.000 3.000 2.73
120.000 3.000 2.50 redução
expansão
100.000 3.000 3.00
95.000 3.000 3.15
86.000 3.000 3.53
82.000 3.000 3.66
redução expansão
(Lopes & Rossetti, p.59-60)
Admitindo que o preço que um agente está disposto a pagar por um título corresponda ao
valor atual dos rendimentos futuros que ele espera auferir desse título e que a série desses
rendimentos seja relativamente longa e constante em termos absolutos, temos:
A expansão (ou redução) da taxa de juros implica a redução (ou expansão) do preço do
título.
Quando a taxa de juros de mercado se encontrava muito afastada deste conceito individual
de taxa normal, a expectativa sobre o comportamento futuro da taxa de mercado era a sua
volta à situação admitida como de normalidade. Assim, se a taxa de juros de mercado
estiver acima da taxa admitida como normal, o que se apresentava como mais provável, em
termos de previsäo para o futuro, era uma queda na taxa de mercado e o consequente
aumento dos preços dos títulos. O inverso aconteceria, segundo as expectativas individuais,
quando a taxa de juros de mercado estivesse abaixo da taxa admitida como normal; neste
caso, as expectativas seriam no sentido de uma alta na taxa de juros, equivalente a uma
queda no preço dos títulos.
Admitindo estas hipóteses básicas, vamos então considerar o tipo de raciocínio adotado por
um agente econômico que disponha de determinado excedente de renda em relação às
suas necessidades de consumo. De acordo com a linha keynesiana, sua decisão será sobre
a alocação desse excedente - se sob a forma de saldos monetários ou sob a forma de
títulos. (Lopes & Rossetti, p. 61)
Não há razão para se reter especulativamente moeda se (i'< i). Suponhamos, porém, que (i'
> i), isto é, que se espera uma alta da taxa de juros. Comprando imediatamente o título, um
indivíduo receberia, no início do período seguinte, uma renda, (R), mas à custa de uma
perda de capital (R/i - R/i').
Valeria, pois, à pena reter moeda especulativamente, se essa perda de capital fosse
superior a R, isto é:
ou seja, se:
i
i' > -------- por esta descrição, a procura especulativa de moeda se descreveria
1-i por uma equação do tipo:
Ms = (i, i') função decrescente da taxa de juros presente, i, e crescente da taxa de juros
i', esperada para o período seguinte.
Segundo, Keynes admite que, para alguma taxa de juros suficientemente baixa (por
ele estimada em torno de 2% a.a.), a procura especulativa de moeda se torne
infinitamente elástica, diante da convicção geral de que a taxa de juros só tende a
subir. Assim, a procura especulativa de moeda se descreveria por uma curva como a
da figura seguinte.
i Ls / i < 0
Lt Ls L = Lt + Ls
Na figura 04 esta soma está graficamente representada em (c), enquanto em (a) e em (b)
reproduzimos, respectivamente, as já vistas funções de demanda de moeda para fins
transacionais e para especulação. Note-se que, na soma das duas funções, quanto mais
alta a taxa de juros, menor a preferência pela liquidez monetária; todavia, há um
determinado montante de demanda de moeda que permanece inalterado, por maior que
seja a taxa de juros. Trata-se da parcela retida para transações. E, no extremo oposto da
função, se estabelece a armadilha da liquidez. (Lopes & Rossetti, p.65)
CRÍTICAS À TEORIA MONETÁRIA KEYNESIANA
Por mais revolucionária que fosse em sua época, a teoria monetária experimenta, pelo
menos, três reparos.
Primeiro, a hipótese de rigidez das expectativas é pouco convincente. É difícil crer que, por
muitos anos, a taxa de juros não se altere, e que ainda assim os agentes económicos
continuem apostando em sua alta num futuro próximo. Por essa razão, a procura
especulativa mais parece uma anomalia episódica do que um problema permanente no
mercado financeiro. (Simonsen & Cysne, p.334)
Se a taxa de juros estabilizar durante um período relativamente longo de tempo,
poderá desaparecer, segundo a versão keynesiana, o componente especulativo da
demanda de moeda. Dado que este componente, segundo Keynes, decorre da diferença
entre as taxas correntes e as esperadas, se não houver mudanças efetivas nas taxas
correntes, deixará de existir razão para o jogo especulativo. A distribuição de freqüência das
taxas críticas tenderá para um único valor. (Lopes & Rossetti, p.66)
Segundo, Keynes presume que o mercado financeiro só opere com títulos de renda fixa de
longo prazo. Pela fórmula (i' > i / 1 - i), a procura especulativa é hipersensível a pequenos
aumentos esperados na taxa de juros. Com i = 6% a.a., valeria à pena guardar moeda
especulativamente, desde que se esperasse para o período seguinte i' = 6,38% a.a. Com i
= 2% a.a., bastaria que a taxa esperada para o ano seguinte ultrapassasse 2,04% a.a., e
ninguém mais quereria guardar títulos. Essa hipersensibilidade resulta de que a equação
anterior presume que o mercado só negocie títulos de renda fixa perpétua. Diminuindo-se o
prazo de resgate dos títulos, reduz-se a sensibilidade da procura especulativa à taxa de
juros. Se o mercado negocia títulos de curto prazo, a procura especulativa pode até perder
qualquer sentido. Para citar um exemplo, se existem certificados de depósito com seis
meses de prazo, ninguém tem motivos para guardar moeda especulativamente à espera de
um aumento da taxa de juros daqui a seis meses. O aumento da taxa de juros desvaloriza
os títulos que se encontram longe do vencimento, mas não os que chegaram à data do
resgate. (Simonsen & Cysne, p.334)
Terceiro, não fica claro por que as reservas para precaução são mantidas em moedas e
não em títulos com boa liquidez. É de se suspeitar que a procura por moeda pelo motivo
precaução também tenha algo a ver com a taxa de juros, mas Keynes não desenvolve este
ponto. (Simonsen & Cysne, p.334) No que concerne à aplicação dos seus excedentes
monetários em relação aos saldos que devem ser mantidos para fins transacionais, o
comportamento dos agentes econômicos não se assemelha, de uma forma geral, à
hipótese básica assumida por Keynes de retenção de moeda ou aquisição de títulos.
Geralmente, o que pode ser observado é que uma decisão não exclui a outra. A maior parte
das pessoas talvez prefira uma dada combinação de moeda e títulos e não simplesmente
uma coisa ou outra. É plausível assumir que, dados os riscos envolvidos, um misto de ativos
monetários e não-monetários é que, na realidade, maximiza a satisfação individual do
agente. (Lopes & Rossetti, p.66)
A Contribuição de Tobin
James Tobin, em artigo publicado em 1958 (Liquidity Preference as Behavior Toward Risk),
trouxe importante contribuição no sentido de solucionar estas dificuldades. Em sua
chamada teoria da seleção e composição da carteira de títulos, Tobin tentou restabelecer, a
nível teórico, a demanda de moeda para especulação, livre das restrições apontadas à
dedução keynesiana tradicional. Os pontos básicos em que a contribuição de Tobin se
assenta são os seguintes:
1. O retorno total dos títulos resulta, como em Keynes, da soma da taxa de juros mais os
ganhos de capital. Estes últimos, no entanto, não se apresentam como um valor
esperado único, mas como uma distribuição de probabilidades cuja média é assumida
como o ganho mais provável. Tobin identificou o desvio padrão da distribuição dos
ganhos prováveis de capital como o risco inerente à aquisição de títulos. Assim, quanto
menos concentrada for a distribuição, menor será a probabilidade de ocorrer o valor
médio esperado dos ganhos de capital e, portanto, maior o risco inerente à carteira de
títulos.
Esses pontos básicos da contribuição de Tobin podem ser transpostos em termos gráficos,
no sentido de que possa ser derivada a função da demanda de moeda para especulação.
RTT I 2 I1 I0
Wo(1+i) M
nWo(1+i) N
Wo
0 R m
RA
Figura 05 - Demanda de moeda para especulação
Segundo a teoria da preferência pela liquidez de Tobin. Sujeito a uma dada restrição
orçamentária, o agente econômico procura maximizar a sua riqueza, no ponto em que essa
restrição orçamentária tangencia sua curva de indiferença entre riscos e retorno total
esperado dos títulos adquiridos. No gráfico estão reproduzidas suas idéias básicas sobre as
relações entre o retorno total dos títulos, RTT, e os riscos assumidos, RA. Sendo Wo o
montante de recursos aplicável em títulos, o máximo de risco é dado pelo ponto M; o
mínimo (risco zero, no caso) é dado pela intersecção dessa linha de trade-off com o eixo
vertical. Assumindo risco zero, o montante desses recursos permanece inalterado; sua
modificação implicará a liberação de uma parcela n, em termos relativos, convertida em
risco, R. Dada a parcela n dos recursos Wo aplicados em títulos, o retorno total, dada a taxa
de juros i de juros, pode ser expresso, como indicado no gráfico, por: n Wo(1+i). Se a
totalidade desses recursos for aplicada em títulos, o retorno total será então expresso por:
Wo(1+i).
É intuitivo que, se a taxa de juros se expandir, a inclinação da linha de trade-off entre riscos
e retornos se modificará, dado que, para iguais níveis de risco, maiores taxas de juros
induzirão a maiores retornos totais. Essa mudança de inclinações está também
representada na figura. E, como ali se vê claramente, a expansão da taxa de juros, mantida
a restrição orçamentária e mantida também a ideia básica de maximização da sua
satisfação entre retornos e riscos, implicará maiores parcelas de recursos para aplicações
em títulos.
i nwanW 0 i
i1
i1
i0
i0
0 R0 R1 0 Ls 1 Ls0 Ls
Na realidade, há duas razões ponderáveis para que a procura de moeda seja função
decrescente da taxa nominal de juros. Apenas essas razões não foram identificadas por
Keynes. Primeiro, comparativamente aos títulos de renda fixa, a moeda tem uma
desvantagem, mas também uma vantagem. A desvantagem é não render juros, e a
vantagem é a absoluta liquidez. Quem dispõe de moeda pode gastá-la no momento que
quiser. Já quem possui títulos e deseja aplicar o valor correspondente em algum outro bem,
precisa primeiro vendê-los. Nessa venda, fora custos de transação, há o risco de perdas de
capital (segundo motivo).
Portanto, a família precisa fazer uma escolha. Se ficar com muita riqueza em forma de
moeda em seu poder, perde os juros que ganharia se mantivesse os títulos. Ao mesmo
tempo, reduz o custo de transação de converter os títulos em dinheiro cada vez que quiser
comprar alguma coisa.
Este problema é semelhante ao da empresa que precisa definir o nível de estoques. Com
um estoque grande, sempre terá insumos para produzir ou vender. Mas manter estoques
tem um custo, pois eles não rendem juros e envolvem despesas de armazenagem e seguro.
Portanto, a empresa deve analisar se é mais conveniente manter estoques maiores e arcar
com os custos (tanto os de oportunidade quanto os diretos) ou reduzí-los. A seguir vamos
ver como Baumol e Tobin formalizaram esta idéia.
Y
M/2
moeda
M
M/2
moeda
M títulos
M/2
M moeda
tempo
A figura anterior mostra esta composição para um indivíduo que guarda em moeda Y/3 e
aplica no mercado aberto Y/3 por 10 dias e Y/3 por 20 dias. Com isso, o seu encaixe médio
ao longo do mês se reduz de M = Y/2 para M = Y/6. (Obs: Y/3 + Y/3 + Y/3 = 3Y/3 = Y).
O indivíduo quer escolher seu saldo médio (M/2) de forma a minimizar o total dos dois
custos. Algebricamente, quer achar M/2 que minimize o custo total:
CT = bY / M + i.M/2
Portanto, o valor do saldo médio em conta corrente, M/2, que minimiza o custo total é:
2bY
Md /P = M/2P = 1/2 ------- ou Md/P = M/2P = (2bY/4i) 1/2 = (bY/2i)1/2
i
Este último modelo é devido a Baumol e destaca a influência da renda real, da taxa de juros
e dos custos de transação na procura de moeda. Ele deve ser considerado complementar
ao de Tobin (de onde a identificação Tobin-Baumol na teoria monetária moderna).
A distinção keynesiana entre procura por transações, precaução e especulação parece hoje
destituída de sentido. A moeda é um ativo que, por convenção de sociedade, nada rende,
mas serve para a liquidação de qualquer pagamento. Assim, a procura de moeda se explica
por duas razões: pelos custos de transações na conversão de outros ativos em moeda e
pelos riscos de oscilação dos preços dos demais ativos.
1/2
Podemos ver na equação Md/P = 1/2(2bY/i) que, se o nível de preços duplicar mas todas
as outras variáveis (I, Y,b) permanecerem constantes, a demanda por M também vai dobrar.
Em geral, podemos concluir que uma alteração do nível de preços afeta na mesma
proporção o valor da quantia que se deseja ter em poder, mas a demanda real por moeda
continua inalterada.
O modelo também capta efeitos importantes da renda, taxa de juros e do custo fixo b sobre
1/2
a demanda de moeda. Como fica claro a partir da equação Md/P = 1/2(2bY/i) , um
aumento da renda real Y aumenta o valor que se deseja manter. Em outras palavras, o
aumento da renda faz com que uma família aumente suas despesas e, para suportar o
volume maior de transações, ela aumenta o valor médio de dinheiro que mantém em seu
poder. Podemos indicar o efeito quantitativo exato de um aumento de renda.
Imagine, por exemplo, uma família de sorte cuja renda real aumenta 10% e, portanto, seu
1/2
nível de Y passa a 1,10Y. Usando a expressão Md/P = (2bY/i) , podemos ver que a
demanda aumenta aproximadamente 5% (mais precisamente, aumenta em 4,88). Em
termos técnicos, dizemos que a elasticidade da renda real da demanda por moeda é ½, ou
seja, um aumento de por cento na renda real causará um aumento de /2 no valor que se
deseja manter em moeda. Isto tem uma conseqüência importante. Como a variação
percentual do dinheiro é menor que a variação percentual na renda, um aumento da renda
real leva a uma queda na proporção entre dinheiro e renda. Em outras palavras, as famílias
economizam o valor que vão manter em seu poder quando a renda real aumenta. Usando
um conceito econômico familiar, há uma economia de escala na manutenção da moeda.
Um aumento na taxa de juros precipita um declínio na demanda por moeda. Este resultado
é fácil de explicar intuitivamente: a taxa de juros maior eleva o custo de oportunidade de
manter o dinheiro, e isso faz com que as famílias reduzam o valor mantido em seu poder.
1/2
Novamente, a equação Md/P = (2bY/i) nos dá a relação exata entre Md/P e i. Um
aumento de 10% na taxa de juros gera uma redução da demanda por moeda de cerca de
5%. Portanto, a elasticidade dos juros da demanda por moeda é de -(1/2).
Em resumo, podemos dizer que a demanda por moeda é simplesmente uma função f da
taxa de juros nominal e do nível de renda, como vemos na equação seguinte:
Observação:
MV = PY MV/P = Y V = Y/(M/P)
Em primeiro lugar, o próprio nível de preços não tem efeito sobre a velocidade. Uma
duplicação do nível de preços com o mesmo nível de renda real, de custo de transação e da
taxa nominal de juros não terá efeito sobre V. Em segundo lugar, as taxas de juros com
certeza têm um efeito importante sobre a velocidade. À medida em que i aumenta, sabemos
que as famílias vão economizar o valor em seu poder indo com mais freqüência ao banco.
Portanto, para um certo Y, há uma queda em Md/P. O resultado é que taxas mais altas de
juros levam a maior velocidade de circulação da moeda. Em terceiro lugar, o aumento da
renda real influi sobre a velocidade. Já vimos que a elasticidade-renda da demanda por
moeda é ½ no modelo Baumol-Tobin. Conforme a renda real aumenta, o mesmo ocorre
com a demanda por moeda real, mas numa taxa mais lenta. Portanto, a proporção a
proporção entre renda e moeda tende a aumentar, mostrando que a velocidade deve ser
uma função crescente da renda real. Isto, naturalmente, confirma nossa afirmação anterior
de há uma economia de escala em manter moeda.
Finalmente, podemos ver que a velocidade é uma função inversa de b, o custo real de
converter ativos remunerados em dinheiro. Na prática, b é muito influenciado pelas
alterações tecnológicas e pela regulamentação financeira. As alterações na tecnologia
bancária, como a introdução dos cartões de crédito, transferência eletrônica de depósitos e
caixas eletrônicos facilitaram as transações sem exigir a ida ao banco.
V = V(i, Y)
++
P = MV/Y
A maioria dos monetaristas rejeita a noção de que a política monetária deve ser usada para
a estabilização a curto prazo. Apesar de, geralmente, reconhecerem que a moeda afeta o
produto real no curto prazo, afirmam que as relações entre moeda e produto são “longas e
variáveis”, e que na realidade não são confiáveis para o propósito de estabilização a curto
prazo. Portanto, argumentam que a política monetária deve visar o médio prazo e, neste
caso, sugerem que um crescimento estável e baixo da moeda vai gerar uma taxa estável e
baixa de inflação. (Sachs & Larrain, p.276).
De certa forma, Friedman tenta restaurar o prestígio da teoria quantitativa após as intensas
contestações de Keynes e pós-keynesianos. É verdade que isso obrigou o autor a
desenvolver uma teoria quantitativa de tal forma modificada que, segundo os críticos mais
céticos, pouco tem em comum com as versões dos neoclássicos.
O primeiro ponto a ser destacado é que, em sua nova versão, a equação MV = PY (ou M =
kPY, com k = 1/V) não pretende explicar a evolução da renda nominal, da renda real, ou do
nível de preços. Trata-se de uma equação de demanda por moeda, devendo ser
interpretada da forma:
PY
Md = ----- (ou Md = kPY)
V
Na visão Friedmaniana a moeda representa, para os indivíduos, uma das cinco formas
alternativas de alocação de riqueza. As outras possibilidades seriam títulos com rendimento
nominal constante, títulos com rendimento real constante (indexados), bens físicos e capital
humano. Desta forma, segundo Friedman, a demanda de moeda pelas famílias é função
das seguintes variáveis:
a – Renda permanente, que representa a riqueza total das pessoas, decorrente da soma
das riquezas humana e não humana (Yp).
b - Proporção da riqueza humana sobre a de natureza não humana (material) (w).
c - Custo de oportunidade de retenção de ativos monetários, dado pelos retornos de títulos
de renda variável e fixa, bem como pela taxa esperada de inflaçäo (i, r, P*).
d - Outros fatores econômicos e näo econômicos, de natureza institucional, decorrentes do
processo de de desenvolvimento histórico das economias nacionais, ou meramente
conjunturais, que interferem momentaneamente nas preferências das famílias e das
empresas quanto às diferentes formas de retençäo de ativos ( ). (Lopes & Rossetti, p. 83)
Numa análise equivalente à determinação da demanda por bens e serviços da teoria do
consumidor, os indivíduos escolheriam a quantidade de moeda a reter pela maximização de
uma função de utilidade, cujos argumentos deveriam incluir as cinco diferentes formas de
alocação de riqueza. Como, numa mudança de composição de portfólio, uma unidade
monetária alocada de determinada forma se troca sempre por uma mesma unidade
monetária alocada de maneira alternativa, o que determinará a composição de ativos será o
fluxo de rendimentos esperados associados a cada possibilidade de alocação de riqueza.
Outros fatores determinantes serão, obviamente, os gostos dos indivíduos e, numa analogia
à restrição orçamentária da teoria do consumidor, o total da riqueza.
P = nível de preços
i = taxa de juros nominal (ou seja, dos títulos de renda nominal constante)
r = taxa de juros real (ou seja, dos títulos de renda real constante)
P* = taxa de inflação esperada
w = relação entre a riqueza aplicada sob a forma de capital não-humano e a riqueza
alocada sob a forma de capital humano, ou, segundo Friedman, equivalentemente, a
relação entre os rendimentos associados ao capital não-humano e aqueles associados
ao capital humano.
Yp = renda real permanente, utilizada como "proxy" para a riqueza real (riqueza total). PY p
representa a renda nominal permanente.
= variável relacionada aos gostos e preferências dos indivíduos.
Md
--- = f (i, r, P*,w, Yp, )
P
onde agora Md/P representa a demanda por encaixes reais (ou seja, medidos em termos do
seu poder de aquisição de bens e serviços) desejados. Considera-se, assim, que as
pessoas demandam moeda por seu poder de compra, ou seja, elas demandam encaixes
reais. Passa-se agora a examinar cada uma das variáveis:
Além das formas conhecidas de riqueza material, a riqueza total é também constituída pela
riqueza humana, conceituada como o valor atual das rendas futuras geradas pelo capital
humano. A idéia de riqueza total das famílias equivale ao máximo do montante em moeda
que suas riquezas possam ser transformadas, adicionado do valor atual dos rendimentos
futuros proporcionados pela aplicaçäo da riqueza humana no processo produtivo.
Assim: Lf = f( )
Em sua abordagem, Friedman admite, dadas as dificuldades de precisäo dos efeitos dos
fatores assinalados sobre a demanda de moeda, que a variável ( ) é constante,
notadamente a curto prazo. Neste caso: &Lf/& = 0
Md
----- = f(i, r, P*, w, Yp, ) = Lf
P
onde Md/P representa a demanda das famílias por encaixes reais (ou seja, medidos em
termos do seu poder de aquisição de bens e serviços) desejados.
Md
----- = f(i, r, P*, w, Yp, )
P
possa também ser utilizada, desde que a variável "" passe também a captar as possíveis
variações tecnológicas na função de produção.
Para a empresa, a moeda se constituiria numa fonte de serviços produtivos que, aliados a
outros insumos de produção, seriam utilizados na produção dos bens e serviços colocados
no mercado. Trata-se, como se pode perceber, de incluir a teoria de demanda por moeda
na teoria de demanda por bens de capital (aos quais se associam serviços produtivos) por
parte de uma empresa genérica. Assim, a funçäo da demanda de moeda pelas empresas
(Le) é :
Le = f(Yp,r, i, w, P*, )
L = Lf + Le
2. as diferentes taxas de juros e de retornos podem ser reduzidas em uma única variável,
indicadora da taxa real de retorno de todo o conjunto de ativos näo monetários disponíveis
no mercado financeiro.
L = f(Yp, i, P*)
L = f(Yp, i)
Cabe por fim registrar que estudos empíricos desenvolvidos na década de 60 por Ana
Schwartz e Milton Friedman (A Monetary History of the United States - 1963), para a
economia norte-americana, mostraram que a elasticidade da demanda de moeda em
relaçäo à taxa de juro näo é significativamente diferente de zero. Nestas condiçöes, a
funçäo agregada passa a limitar-se apenas a uma variável:
A valer a teoria friedmaniana, incluindo a hipótese de estabilidade da função V(i, P*, w, Yp,
u) e a controlabilidade da oferta monetária, a atividade econômica seria extremamente
sensível a flutuações da política monetária - flutuações estas que se transmitiriam à renda
permanente, provocando oscilações de muito maior amplitude na renda corrente. O
resultado é semelhante ao da teoria clássica, mas com muito maior força de propagação. E
a política monetária voltaria a ser o determinante básico do nível de atividade e dos preços.
Em primeiro lugar, a moeda fornece mais anonimato ao seu dono do que, por exemplo, uma
conta bancária. Esta qualidade é muito valorizada pelas pessoas e empresas engajadas em
atividades ilegais - como evasão de impostos, tráfico de drogas, contrabando etc.
Em terceiro lugar, outra razão pela qual as famílias às vezes mantém parte da sua riqueza
em moeda é a desconfiança com relação às instituições financeiras. Quando há incerteza
financeira, as pessoas correm para os bancos para retirar seu dinheiro.
Em quarto lugar, outra razão, já estudada anteriormente, na medida que foi abordada por
Keynes na Teoria Geral e depois por Tobin e outros, que é a demanda especulativa por
moeda, afirma que a demanda por moeda é positiva porque os ativos remunerados incluem
um risco e pode haver perda de capital. Uma família avessa a riscos vai preferir manter
parte do seu capital em dinheiro, mesmo que outro ativo traga um retorno.
Dos trabalhos empíricos desenvolvidos, entre outros, por Friedman, Cagan, Tobin, Latané,
Meltzer e, no Brasil, especialmente por Pastore, Moura da Silva e Contador, pode-se, a
propósito destas hipóteses relevantes, afirmar, embora sempre no condicional, que:
Referências Bibliográficas
Simonsen, Mario Henrique e Cysne, Rubens Penha. Macroeconomia. Editora Atlas S.A.
Rio de Janeiro, 1995
Lopes, Joäo do Carmo e Rossetti, José P. Economia Monetária. Editora Atlas, 6.ed.,
1992.
Hall, Robert E. e Taylor, John B. Macroeconomia. Teoria, Desempenho e Política. Editora
Campus, 1989, Rio de Janeiro.
Hillbrecht, Ronald. Economia Monetária. Editora Atlas, 1999.