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Economia Política II - 2ª frequência (Rosário Anjos)

Capítulo XI: A Moeda


1. A Origem:

Numa fase primitiva o Homem era auto-suficiente, produzia tudo o que precisava. Com os primórdios
da vida social começou-se a produzir mais (um excedente) para que se pudesse trocar por outra coisa precisa e
que não fosse da especialidade de produção da respetiva pessoa. Por exemplo: os agricultores plantavam mais
do que o suposto para poder trocar alimentos por roupa. Passou-se de um estado de auto-suficiência para uma
sociedade de troca direta de produtos.
Nestas trocas diretas havia dificuldade de reciprocidade de gostos e desejos. Por exemplo: o agricultor
que tinha à disposição certo tipo de produto para troca teria de encontrar uma pessoa que quisesse os seus
produtos e que, ao mesmo tempo, essa pessoa tivesse os produtos que o agricultor necessitasse. Então, alguns
bens começaram a ser utilizados como intermediários de troca. Por outro lado, bens como o sal, azeite ou até
cabeças de gado não podiam oferecer as vantagens que alguns metais proporcionavam.
Trata-se de produtos divisíveis (em qualquer quantidade, adequando-se aos pagamentos), imperecíveis
(não se perdem em termos materiais) e homogéneos (não havendo preferência por uma moeda de ouro ou de
prata). Alguns metais (ex: ouro e prata) podem concentrar grandes valores em pesos e volumes modestos.
Assim, um metal raro oferece a característica de ser facilmente guardado e transportado (grande valor em
pequeno peso e volume).
A existência de moeda não exclui a existência de trocas diretas. Assim acontece no comércio
internacional (barter trade), com relevo para países que não dispõem de moeda aceite internacionalmente como
meio de pagamento (dólar, iene, libra). Segundo cálculos, as trocas de produtos entre países representam 5% a
10% do comércio mundial. A nível interno são poucos os assoas de troca direta.

2. Funções:

2.1. Meio geral e definitivo de pagamento: com a moeda deixa de ser necessária a coincidência
temporal nas trocas. Podendo vender-se hoje e comprar-se mais tarde, a moeda dá uma liberdade que de
outro modo não haveria. A moeda é um meio geral de pagamento pois, sendo aceite por todos, permite a
compra de qualquer bem. É também um meio legalmente estabelecido para se fazerem pagamentos é um
meio definitivo que desonera quem estava obrigado

2.2. Unidade de conta: a moeda dá-nos uma escala de valor em relação a todos os bens do mercado.
Sem a moeda teríamos listas intermináveis com as possibilidades de troca de cada bem. Mesmo que
houvesse 100 bens no mundo o número de relações subiria a 4 950 (considerando que é a mesma a
relação de troca entre fazenda e leite e entre leite e fazenda. — 5l de leite por 3m de fazenda = 3m de
fazenda por 5l de leite). Com a moeda temos uma unidade de conta padrão como referência para todos os
bens, ou seja, o preço de um bem. Por exemplo: duas pessoas querem permutar um andar por um terreno.
Sem moeda era difícil de saber quanto vale um e outro. Se o terreno valesse 80 000€ e o andar 100 000€
a moeda acaba por servir como meio de pagamento para liquidação a diferença, ou seja, o ex proprietário
do terreno paga 20 000€ e entrega o terreno para comprar o andar..
Trata-se de uma função que permite estabelecer pagamentos diferidos, fixando-se em moeda
um valor a entregar posteriormente. No caso do metro, o quilo e o litro são unidades de conta que valem
agora, no presente, o que valerão no futuro e o que valiam no passado. A moeda é uma unidade de conta
inconstante (perde valor em períodos de inflação e ganha valor em períodos de deflação) que exige
correções monetárias.

2.3. Reserva de valor: com a moeda podemos proceder a pagamentos agora ou no futuro. Ter moeda é
ter um valor, como ter um prédio, um quadro caro, uma empresa, etc. Trata-se de um valor que se vai
perdendo quando há inflação (vale menos à medida que vai subindo o nível geral de preços). O que

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justifica ter moeda em casa, num depósito à ordem (sem ou quase sem juros), sendo que é um valor que
vai baixando? Por exemplo: uma inflação anual de 10%, quem guardou 10 mil €, ao fim de um ano, tem
um valor que permite comprar apenas 10% menos. Mesmo com inflação, ter moeda é renunciar ao ganho
que se poderia ter com a sua utilização, em consumo, num negócio ou cedendo-a a outrem para obtenção
de juros. Neste último, pode colocar-se o dinheiro num depósito a prazo, levando a detenção de moeda à
renuncia ao juro de 3% ou 4% que poderia obter-se. Há situações que justificam a detenção de alguma
moeda (motivos de preferência para liquidez).

3. Motivos de preferência pela liquidez:

3.1. Motivo-transações: um primeiro motivo está em não haver coincidência entre os recebimentos e
os pagamentos. Se houvesse, não teríamos a necessidade de deter moeda. É óbvio que não pode haver tal
coincidência. Chama-se ao motivo-transação dos indivíduos motivo-rendimento de preferência pela
liquidez. No caso dos empresários, dependerá do volume dos negócios, sendo maior a necessidade de
detenção por quem tenha uma grande atividade. Por consequência, o motivo-transação dos empresários
denomina-se de motivo-negócios. A atividade das empresas depende muito da capacidade de compra de
uma economia, dependendo também do rendimento dos cidadãos que aí fazem despesas.
A procura da moeda por este motivo depende da frequência dos pagamentos. Este motivo-
transação de preferência pela liquidez depende do rendimento e da frequência dos pagamentos.

3.2. Motivo-precaução: podemos guardar dinheiro para se fazer face a pagamentos que não podemos
corresponder com os rendimentos regularmente recebidos. Não só por despesas imprevistas mas também
por despesas previstas mas não comuns (ex.:compra de uma casa). A detenção maior ou menor da moeda
dependerá do rendimento, de circunstâncias pessoais e institucionais.
A detenção de moeda para acudir a situações imprevistas (motivo-precaução) depende do
temperamento das pessoas: uma pessoa pessimista guardará mais dinheiro em casa ou no banco do que
uma pessoa otimista que não pensa nessas eventualidades, gastando tudo em consumo. Depende também
da não existência de instituições que correspondem a situações não previstas. Por exemplo: se houver um
sistema hospitalar eficiente e grátis não vale a pena guardar dinheiro para uma eventual operação.

3.3. Motivo-especulação: está ligado à possibilidade de se ganhar dinheiro com alterações nas
cotações de títulos, comprando-os com cotação baixa e vendendo-os quando alta. Trata-se de ações, a
cotação depende de várias circunstâncias que vão desde o menor ou maior êxito da empresa até à
conjuntura da economia.
No caso das obrigações (títulos representativos de empréstimos) a cotação depende do
rendimento e da taxa de juro do mercado. Cotação nominal = rendimento x 100
juro

3.4. Motivo-financiamento: trata-se de procurar a moeda para se fazer um investimento num projeto
atrativo. Quando se pondera a realização de um investimento compara-se o ganho com os custos
previsíveis, sendo os ganhos avaliados pela taxa interna de rentabilidade e os custos pela taxa de juro do
mercado.
As expectativas de ganho dependem do rendimento disponível na sociedade e das
circunstâncias concretas de cada caso (influenciando a preferência pela liquidez). Em relação ao custo,
sendo dinheiro aforrado pelo investimento há um custo de oportunidade, a remuneração que seria
conseguida com a sua colocação no mercado financeiro. Por exemplo: aplicando o meu dinheiro num
negócio renuncio ao juro que poderia obter comprando obrigações ou depositando-o a prazo.

3.5. Motivo-colocação: detém-se moeda como mera forma de detenção de riqueza, da mesma maneira
que se detém riqueza em jóias, apartamentos, quadros. Vê-se a moeda na sua função de reserva de valor.
Não será atrativo numa época de inflação (o bem perde valor na medida da subida de preço).
A procura da moeda por este motivo depende da taxa de juro do mercado pois quem ganha
moeda renuncia ao juro que poderia obter emprestando-a.

Nota: a procura da moeda depende da taxa de juro do mercado, a par com outros fatores.

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4. Espécies de moeda: há 4 tipos de moeda, com subdivisões, com relevos que se foram alterando /
desaparecendo ao longo do tempo.

4.1. Moeda de metal: cunhagem de metais raros e, por isso, de alto valor. Há que considerar 2 tipos:

4.1.1. Moeda-mercadoria: com interesse histórico apenas. Moeda de metal que vale pelo seu
peso, sendo indiferente ter metal amoedado ou não.O próprio mercado, com as suas leis,
encarregava-se de levar à equivalência entre o valor facial (valor inscrito nas espécies
monetárias) e o valor do metal correspondente no mercado dos capitais.

4.1.2. Moeda de trocos: ou divisionária. Moeda metálica com valor facial superior ao valor do
metal nela contido. Com pequena expressão, a sua designação exprime a ideia de ser frequente
não ser feita com ela a totalidade dos pagamentos, com a sua entrega pelo devedor: que
entregará outro tipo de moeda, com espécies de valor unitário mais elevado. É utilizada pelo
credor apenas no acerto de pequenos montantes em relação ao montante exato a pagar.
Pretende-se que cada espécie se mantenha por muito tempo em circulação. Com uma subida
dos preços dos metais o valor metálico passa a ser superior ao valor facial, valendo a pena
vender a moeda pelo seu peso

4.2. Moeda de papel: com a evolução verificada ao longo da história, temos:

4.2.1. Moeda representativa: na origem da moeda de papel temos a situação de pessoas com
quantidades avultadas de moeda de metal procederem, por razões de segurança, ao depósito
junto de comerciantes (hoje banqueiros). Os depositantes de moeda queriam ficar com provas
dos seus valores e os depositários entregavam certificados dos depósitos feitos.
Posteriormente, para pagamentos, quem tinha moeda depositada levantava-a, contra a
apresentação dos certificados. Começou a acontecer que os destinatários destes pagamentos
não queriam ficar, também, com as moedas em casa, depositando-as contra o recebimento de
novos certificados. Para evitar inconvenientes os depositantes iniciais passaram a entregar os
certificados dos depósitos aos seus credores.
Apareceu assim a moeda representativa, os certificados representavam os montantes
correspondentes que estavam depositados.

4.2.2. Moeda fiduciária: os depositários constataram que os depositantes não vinham todos
ao mesmo tempo exigir o levantamento dos valores. Grande parte dos credores aceitava o
pagamento com os certificados, o mesmo volume de moeda metálica passou a poder estar na
base de um volume muito superior de pagamentos.
Os certificados deixaram de representar um montante depositado sendo aceites
porque quem os recebia confiava em que os montantes neles indicados seriam restituídos
sempre que se fosse junto do depositário. A moeda que circulava porque se confiava nela era a
moeda fiduciária. (fidúcia = confiança)

4.2.3. Papel-moeda ou moeda legal: vieram períodos de falta de confiança no conjunto das
economias ou em relação a alguns depositários. Com o pânico, acorreram ao mesmo tempo
quase todos os depositantes, exigindo o levantamento dos seus depósitos. Os depositários não
tinham o valor correspondente, não estavam em condições de solver os seus compromissos
(com todas as consequências que daí resultavam).
Para as evitar, as autoridades viram-se forçadas a impor a aceitação das notas como
forma correta de pagamento. Assim, não eram aceites por serem moeda na qual se confiava a
sua conversão, eram aceites por serem moeda legal. Temos, com a moeda decretada, o
chamado papel-moeda, terceira forma (atualmente a única) de moeda papel.

4.3. Moeda escritural ou bancária: a sua génese é muito semelhante à da moeda papel, mas já com
verdadeiros banqueiros. Quando se deposita dinheiro à ordem num banco passa a ter-se aí uma
disponibilidade que pode ser utilizada em pagamentos. Quem precisa de proceder um pagamento dirige-

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se ao balcão, levanta as notas necessárias e entrega-as ao credor. Este, por sua vez, vai dirigir-se a outro
banco para depositar na sua conta o montante recebido. Com este procedimento não há os custos e riscos
em tempos. Não deixa de haver riscos com a deslocação de quantias elevadas em notas, bem como uma
incomodidade desnecessária.
Numa primeira fase a utilização de cheques teve um relevo maior. Estes são títulos através dos
quais é dada uma ordem de pagamento: podendo ser nominatizados ou endossados. Com este relevo
houver quem o chama-se de moeda-cheque. Porém, nunca foi o modo exclusivo de utilização de
disponibilidades em depósitos à ordem, desde sempre foi possível utilizar estas disponibilidades com
ordens de pagamento aos bancos.
Nos dias de hoje utiliza-se mais o pagamento por multibanco e por internet, com os quais as
quantias em dívida passam de imediato das nossas contas para as contas de depósito à ordem do credor.
Havendo todas estas formas de mobilização de recursos, perdeu-se todo o sentido em falar de
moeda-cheque, devendo falar-se em moeda escritural ou bancária. Designação que, não deixando de
considerar os casos em que são utilizados cheques, abrange esses e todos os demais casos.

4.4. Os agregados M2 e M3 (a massa monetária): os casos considerados eram de verdadeira moeda


(M1). É necessário ter em conta as situações em que, embora não se disponha de moeda, tem-se uma
capacidade de compra quase igual por razões de avaliação de oportunidades de negócios, conhecimento
da realidade para se intervir através de medidas de política ou mera análise académica, para conhecer a
capacidade de compra existente uma economia. Esta capacidade não está limitada à moeda.
Num primeiro agregado podemos considerar além do M1, depósitos de prazo com até 2 anos e
os depósitos com pré-aviso até 3 meses. Este é o agregado M2 (‘quase moeda’).
Podemos considerar um agregado mais vasto, o M3, que engloba ainda acordos de recompra,
unidades de participação em fundos e títulos do mercado monetário e títulos de dívida até 2 anos. É este
agregado que o BCE tem em conta na condição da política monetária.
Para além de casos de disponibilidade quase imediata há títulos com grande liquidez, apenas
com o risco de no momento que se precisa de dinheiro estarem com uma cotação mais baixa.

5. As operações de crédito realizadas pelos bancos: importa conhecer algumas das principais operações
realizadas pelos bancos, dada a sua ligação estreita com a matéria de moeda. Contudo, há diferenças entre as
várias instituições. Nem todas podem praticar o mesmo tipo de operações. Justifica-se fazer uma referência
ao sistema financeiro.

5.1. Sistema financeiro português: no qual se pode distinguir o Banco de Portugal. Por muito tempo
deteve o monopólio de emissão de moeda em Portugal. Com a decisão de se afogar uma moeda única
europeia houve a necessidade de se alterar a própria Constituição. Hoje, o Banco de Portugal exerce as
suas funções nos termos da lei e das normas internacionais a que o Estado Português se vincula.
Os bancos centrais, nos limites do Sistema Europeu de Bancos Centrais, participam na
emissão das notas e têm a responsabilidade de supervisão dentro do seu país.
Para além do Banco de Portugal temos no nosso país instituições de crédito e sociedades
financeiras. Entende-se por instituições de crédito as empresas cuja atividade consiste em receber do
público depósitos o outros fundos reembolsáveis para os aplicarem por conta própria mediante a
concessão de crédito. Por exemplo: bancos, caixas económicas, instituições de crédito, sociedades de
investimento, etc.
Operações que as instituições de crédito podem efetuar: receção de depósitos ou outros fundos
reembolsáveis, operações de crédito, serviços de pagamento, comercialização de contratos de seguro, etc.
As sociedades financeiras são empresas que não sejam instituições de crédito, cuja atividade
principal seja a de exercer operações de crédito, incluíndo concessão de garantias e outros compromissos.
Só as instituições de crédito é que podem exercer a atividade de receção, do público, de
depósitos ou outros fundos reembolsáveis, para utilização por conta própria.

5.2. Operações passivas: os depósitos. Através destas os bancos recolhem fundos avultados, nas várias
formas de depósito.
Sendo depósitos à ordem não são remunerados com juros. Os bancos não podem contar com

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estes montantes para operações ativas de médio ou longo prazo.O ganho está em ceder o dinheiro por um
preço maior do que o preço que pagam a quem lhes “empresta” (exemplo: através dos depósitos)
Outra distinção é entre os depósitos reais (há entrada de dinheiro no banco, por exemplo, com
notas) e os depósitos fictícios (resulta de ficar na conta de um cliente dinheiro resultante de uma o mais
operações ativas).

5.3. As operações ativas:

5.3.1. Descontos: feitos, com frequência, com a utilização de letras, títulos de grande
utilização na atividade económica do dia a dia.
O sacador é o primeiro interveniente numa letra (sendo ou não o credor dum
montante). Intervindo como sacador, dá ao devedor desse montante uma ordem de pagamento,
ficando escrito que no fim de um prazo deverá pagar o montante em dívida.
Reconhecendo a dívida, o devedor assina a letra (devedor passa a aceitante). É
apenas um documento de dívida e a obrigação de pagar reporta-se para o dia do vencimento.
Com frequência, o sacador, não pode esperar até essa data. Os particulares poderão esperar
dois ou mais meses. As letras são utilizadas por empresários na sua atividade industrial ou
comercial. Ora, pessoas e empresas não podem esperar tanto tempo pelos recebimentos, têm
então que: ir solvendo compromissos com fornecedores, pagar juros com regularidade o pagar
salários todas as semanas.
Com esta necessidade de antecipação de recebimentos aparece a operação de
desconto junto dos bancos comerciais. O tomador da letra dirige-se ao seu banco e solicita o
seu desconto (o banco fica com a letra contra a entrega da verba mencionada). Para o banco
isto é uma operação de garantia reforçada pois, em caso de incumprimento do aceitante, o
sacador também responde. É uma operação que lhe proporciona também um ganho (o
desconto), o juro cobrado pela cedência de dinheiro ao aceitante.

5.3.2. Abertura de crédito: uma outra via através da qual os bancos emprestam dinheiro.
Podem ser simples ou em conta corrente. As simples esgotam-se com a utilização do dinheiro
(com ou sem parcelamento).
Podem ser em dinheiro (sai mesmo dinheiro do banco) ou por aceite (o banco
empresta apenas a sua assinatura, aceitando uma letra, só sairá dinheiro se o beneficiário não
cumprir com o compromisso, assumindo a responsabilidade o banco).

6. A criação de moeda:

6.1. Da moeda metálica: com a moeda mercadoria era o próprio mercador que se encarregava de
encaminhar as coisas num caminho desejável, não havendo risco do valor facial se afastar do valor metal.
Assim, a cunhagem era livre (qualquer pessoa com metal podia pagar para o fazer amoedar) e
a moeda era vendida a peso.
Se o valor da moeda descesse, de 100 para 90, por exemplo, valia a pena os detentores de
metal procederem à cunhagem, ganhando 10 em cada caso. Passava a haver menos oferta no mercado
metalúrgico, subindo o seu preço, até ao ponto de ser quase 100 e deixava de valer a pena continuar a
proceder-se à cunhagem.
Se aumentasse o valor do metal, para 110 por exemplo, quem tivesse moeda vendia-a a peso,
ganhando mais 10 do que aquilo que lhes tinha custado a obtê-la. Havia um aumento de oferta de metal
no seu mercado, diminui-a o seu preço, até que o metal incorporado em cada moeda valesse
aproximadamente o seu valor facial (100).
Atualmente, a única hipótese que se coloca é a de haver ma moeda com valor facial superior
ao valor metálico. Assim, cunhar moeda é uma atividade rendosa. Ganhos desta natureza revertem para o
Estado pois detém o monopólio de emissão de moeda metálica.

6.2. Da moeda papel (ex.: papel-moeda): quando esta era convertível levantasse a questão de saber
como garantir dois objetivos simultaneamente: segurança da convertibilidade e estabilidade da oferta da
moeda, adequando-a às necessidades da economia. Atualmente é uma questão com valor histórico

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apenas. Neste propósito, defrontaram-se duas escolas: escola monetária e escola bancária.
De acordo com a primeira, defensora do princípio monetário, a circulação das notas devia
cingir-se a uma reserva-ouro (moeda representativa). Havia mais segurança na conversão e evitava-se
inflações duradouras (possíveis e prováveis).
De acordo com a segunda, defensora do princípio bancário, não havia tal risco, pois as notas
não chegavam ao público por capricho das autoridades mas na sequência das operações ativas solicitadas
pelo público.
Nenhuma tinha inteira razão. A primeira era criticável pela rigidez excessiva (levava à
escassez de meios de pagamento). A segunda não tinha razão na desvalorização do receio de inflação que
podia surgir como consequência de políticas incorrectas das autoridades.
Consagro-se a exigência de reservas nos bancos emissores, com as quais havia de se evitar os
riscos apontados: não poderão ser reservas limitadas da emissão necessária, por um lado, por outro
reservas demasiado permissivas ou mesmo incentivadoras de um exagero de emissão, levando a
inflações.
Solução: haver reservas proporcionais com uma percentagem de ouro ou valores-ouro e a
restante de títulos. A primeira evita excessos e com a segunda assegura-se o interesse na emissão
(evitando-se escassez).
Sendo agora a moeda papel papel-moeda (moeda legal) a problemática referida perdeu relevo,
não se pondo o problema dos bancos terem de pagar notas apresentadas a conversão. Mantem-se a prática
com exigência legal de haver reservas (âncora a eventuais excessos e uma disponibilidade de meios de
pagamento ao estrangeiro). Com a criação do euro ainda se mantém estas reservas, geridas pelo BCE, no
quadro do Sistema Europe dos Bancos Centrais. É o BCE que tem o direito exclusivo de autorizar a
emissão de notas de banco em euros na União. Estas notas são as únicas com curso legal, estas têm o
mesmo desenho em todo o espaço monetário.

6.3. Da moeda escrituras ou bancária: resulta da intervenção dos bancos comerciais.

6.3.1. A reserva de caixa: os bancos exercem uma função de intermediação, recebem dinheiro
emprestado de uns e cedem-no de empréstimo a outros: sendo o recebimento feito por
depósitos (operações passivas, fica-se a dever) e a cedência através de descontos e abertas de
crédito (operações ativas, quantias a que ficam a ter direito).
O se ganho resulta das taxas de juro aplicadas às operações ativas serem superiores às
taxas de juro aplicadas às operações passivas. Acontece que não podem utilizar todo o dinheiro
disponível (dinheiro dos depósitos) nas operações ativas, sendo obrigados a ter ma reserva de
caixa em relação aos depósitos à ordem.
Exemplo: nm depósito à ordem de 1 milhão de euros, sendo a reserva de caixa 20%
só podem emprestar 800 000€ (para descontos e aberturas de crédito). Na contabilidade fica:
Ativo: Passivo:
Dinheiro em cofre . . . . . . 200 000 Depósito à ordem . . . . . 1 000 000
Carteira Comercial . . . . . 500 000
Empréstimos . . . . . . . . . . 300 000

Temos em circulação 1 milhão de € de moeda escrituras ou bancária (depósitos à


ordem) mais 800 mil de papel-moeda, 500 mil saídos com o desconto de letras (carteira
comercial) e 300 mil saídos na sequência de aberturas de crédito (empréstimos). O milhão
deixou de contar como moeda. Fica-se com excesso de 800 mil € de criação de moeda sobre
destruição de moeda.

6.3.2. Criação de moeda pelo sistema bancário: considerando-se o conjunto do sistema


bancário verifica-se uma capacidade de criação de moeda para além do montante indicado.
As pessoas que descontam as letras ou utilizam aberturas de crédito o fazem porque
têm de proceder a pagamentos. Se assim não fosse não se sujeitavam ao pagamento de juros.
Trata-se de dinheiro que logo a seguir irá parar a outras mãos (fornecedores, trabalhadores de
empresas que procederam ao desconto de letras). Por se turno, estas pessoas não ficam com o
dinheiro em carteira, depositando-o no seu banco. Na maioria os pagamentos serão com

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cheques, que os credores vão depositar, o com transferência bancária para essas contas.
Verifica-se ma situação semelhante, nos bancos, à verificada no primeiro. Com os
depósitos de 800 mil € não há criação líquida de moeda, apenas a substituição de papel-moeda
por moeda escrituras. Os bancos têm de reter como reserva de caixa 20% (160 000€) e há m
excedente de 640 000€ que os bancos procurarão colocar no mercado (através de descontos e
abertas de crédito). A história repete-se em relação a estes movimentos com a fórmula:
k = 1 ÷ (1 - r), em que r é a razão de cada um dos termos para o que o antecede.
No caso de uma reserva de caixa de 0,20 fica: k = 1 ÷ (1 - 0,8) = 1 ÷ 0,2 = 5.
Acrescentando este coeficiente ao primeiro aumento de moeda temos: 800 x 5 = 4 000. Trata-
se de um resultado a que pode chegar-se directamente com uma fórmula que tenha no
numerador o primeiro aumento de quantidade de moeda, A: S = A ÷ (1 - r). Com o exemplo
que se tem considerado: S = 800 ÷ (1 - 0,80) = (800 ÷ 0,20) = 4 000.
Na prática é provável que se fique aquém dos volumes para que apontam as
fórmulas. É de esperar que os bancos procurem limitar-se aos valores de reserva de caixa (ficar
acima deles é não tirar total partido possível do dinheiro de que dispõem). Procurarão
emprestar todo o dinheiro, através de descontos e abertas de crédito. Não se pode esperar que
tenham, a todo o momento, o dinheiro integralmente aplicado; haverá algumas diferenças
temporais até aos momentos em que são feitos os pagamentos aos fornecedores; poderá
acontecer que estes não depositem na íntegra os montantes recebidos.
De qualquer modo é significativa a capacidade de criação de moeda do sistema
bancário. Os bancos podem ter títulos, com a compra dos quais lançam notas (moeda) em
circulação.

7. A teoria quantitativa da moeda: remonta a Irving Fisher a formulação desta teoria. Equação das trocas:
MV = PT. Onde M é a quantidade de moeda existente num determinado período (este é m valor médio, pois
varia), V a velocidade de circulação da moeda (valor médio), P o nível geral dos preços e T o número de
transações.
Numa primeira formação o nível de preços seria proporcional à quantidade de moeda. Tendo-se: P =
MV ÷ T. P dependeria de M porque V e T seriam variáveis exógenas, não influenciáveis pela quantidade de
moeda. V dependeria dos hábitos do público e T depende da produção das empresas. Não se alterando V e T,
P variaria na proporção de M. Porém, não é realista o que se pressupõe em relação a V e a T.
V é o inverso pela preferência pela liquidez: se circula é porque não se mantém em saldo, se se mantém
em saldo deixa de circular. É uma relação inversa dada por: L = 1 ÷ V (L = preferência pela liquidez).
Com o aumento da quantidade de moeda (oferta), diminui o seu preço (taxa de juro). Com a descida da
taxa de juro aumentará a preferência pela liquidez, diminuindo a velocidade de circulação da moeda. Por
outro lado, o aumento da quantidade de moeda influencie T. Não terá influência se se nos encontrarmos
numa situação de pleno emprego. Porém, com frequência temos situações de desemprego ou subemprego,
havendo resposta do lado da oferta, aumenta T e os preços sobem em maior medida do que o aumento da
quantidade de moeda.
Em situação e pleno emprego aparece outro desmentido da formulação rígida da teoria. Passando a
haver inflação as pessoas reagem antecipando compras, fazendo-as antes dos preços aumentem. Assim,
aumenta V, subindo por isso os preços em maior medida do que o aumento da quantidade de moeda.
É por se prever que, nos termos da formulação mitigada (nos termos do qual os preços variam no
mesmo sentido que a quantidade de moeda, não necessariamente na mesma proporção), assim aconteça que
se pode justificar a intervenção das economias através da política monetária.

8. Política monetária: a par da política orçamental, é tradicionalmente ma política nacional. No caso dos
países euro, deixou de ser ma política nacional. Trata-se de uma política do Sistema Europeu de Bancos
Centrais de acordo com a linha e objetivo estabelecidos pelo Tratado de Maastricht.

8.1. Atuação sobre as reservas mínimas obrigatórias: via de atuação que pode consistir na alteração
dos valores mínimos de reserva de caixa dos bancos comerciais com o que se alterará o volume total da
moeda.

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No Sistema Europeu de Bancos Centrais o regime das reservas foi fixado por um regulamento
do BCE. Com este, os bancos têm de manter o depósito correspondente às reservas mínimas de caixa
durante um mês. Findo este, procede-se a novo apuramento e a nova constituição de reserva.
Temos assim uma via de intervenção na massa monetária.
O BCE não tem procedido a alterações das taxas de reserva como instrumentos de controlo da
moeda em circulação.

8.2. As operações em mercado aberto: uma outra via de intervenção na oferta monetária é através da
compra e venda de títulos (conseguindo-se alterar a massa monetária).
Se a quiséssemos reduzir para atenuar uma situação de inflação: tendo títulos em carteira, as
autoridades procedem à sua venda, com o que se reduz o dinheiro em circulação.
Para aumentar a massa monetária para reanimar uma economia em recessão: as autoridades
compram títulos que bancos ou outras entidades tenham em carteira passando a ser maior o volume de
moeda em circulação.
Estas operações são organizadas em leilões através dos quais o BCE se dirige aos
estabelecimentos de crédito. Podem ser de 4 tipos: operações principais de refinanciamento, operações de
refinanciamento a prazo alargado, operações ocasionais de regularização e operações estruturais.

8.3. As ‘facilidades permanentes’ de cedência e aceitação de fundos. O relevo das taxas de juro.
Podendo estar em causa nas operações utilização de títulos, no Eurossistema o dinheiro entra
ou sai dos bancos comerciais através das facilidades permanentes: a facilidade permanente de cedência
de liquidez (disponibiliza fundos) e a facilidade permanente de depósito (absorve os fundos).
No primeiro caso o BCE anuncia a taxa de juro a que o Sistema está disposto a fornecer
liquidez aos bancos que a requeiram (por iniciativa destes, os bancos centrais nacionais fornecem-lhes os
fundos requeridos à taxa de juro fixada).
No segundo caso, quando os bancos têm excesso de liquidez podem solicitar aos bancos
centrais nacionais que os recebam em depósito (sendo remunerados à taxa de juro pré-anunciada pelo
BCE).
Através destas operações, o BCE pode influenciar a circulação monetária fixando as taxas de
juro respetivas ()estas têm influência nas taxas de juro do mercado monetário e financeiro).
Se aumenta a taxa de juro da facilidade de cedência de liquidez, os bancos centrais sobem as
taxas cobradas nas suas operações ativas (se não, perdem dinheiro), cobrando menos aos clientes do que
aquilo que têm de pagar ao BCE. Tudo aponta para a redução da circulação monetária.
Se baixa a taxa de juro da facilidade os bancos comerciais, na concorrência entre si, baixam o
mais possível as taxas dos clientes, para os atrair. Consequentemente aumenta a circulação monetária.
Em relação à taxa de juro da facilidade permanente de depósito, os bancos centrais recebem
juros mais altos do que aqueles que pagam pelo depósito que recebem (sob pena de perderem dinheiro).
Assim, as taxas anunciadas pelo Eurossistema para cedência ou absorção de liquidez
funcionam como limite superior e inferior para todas as restantes operações. Nenhum banco está disposto
a obter / ceder fundos a uma taxa de juro superior / inferior à do BCE.

9. O euro:

9.1. As razões da sua criação: a ideia de haver uma moeda única na Europa vem desde o Plano Werner
(1971). Porém, só depois do êxito do Ato Único Europeu é que se verificaram condições económicas e
políticas para a sua criação.
Para a aceitação de uma moeda única era importante o reconhecimento das vantagens gerais
que poderia proporcionar. Podemos ver primeiro os benefícios e os custos de ordem geral:

a) efeitos de eficiência resultantes da exigência de uma moeda única: com diferenças mesmo
em relação ao estabelecimento de paridade fixas, mantendo cada país a sua própria moeda.
Num plano micro-económico, são relevantes os benefícios resultantes de ter deixado de ser
necessário cambiar espécies monetárias e divisas (títulos de crédito em moeda estrangeira) para a
concretização de todos os tipos de relações económicas entre os países da União, com os custos de

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transação inerentes, de ter deixado de haver imprevisibilidade em relação a possíveis variações cambiais,
com custos de incerteza e de haver um conhecimento imediato para se saber os preços dos bens e dos
fatores nos vários países (evitando-se custos de informação e de cálculo).
Não é fácil quantificar exatamente todos os custos que são evitados, mas é seguro que são
significativos, maiores (em geral) do que o ganho que os bancos e os cambistas tinham antes com a troca
de moedas e os especuladores com as variações imprevistas das cotações cambiais. A moeda única
proporcionou um acréscimo na procura de serviços bancários o que compensa a perda das percentagens
obtidas antes com a troca de moeda e divisas.
O afastamento de tais custos teve um impacto positivo na taxa de crescimento das economias.
A par do juízo que os economistas podem fazer, deve ter-se em conta a perceção que os empresários têm
das vantagens microeconomias da União Monetária.

b) Num plano macro-económico apontou-se a estabilidade de preços proporcionada pela


União Monetária (preços mais baixos e menores variações). Trata-se de estabilidade que é formalmente
fixada como objetivo a prosseguir pelo Sistema Europeu de Bancos Centrais, o Eurossistema.
Com a citação deste objetivo verifica-se a renúncia dos Estados e da Comunidade a
recorrerem à via monetária e cambial para resolverem problemas de índole conjuntural ou mesmo de
crescimento (mudança de atitude em relação à perspectiva antes dominante bem como em relação ao
reconhecimento de um papel favorável da inflação promovendo o investimento, a produção e a criação
de emprego).
Na primeira linha, julgava-se uma via eficaz e com menores custos sociais, evitando-se
sacrifícios que a via orçamental provocava, com aumento de impostos e reduções de despesas. A par
destes casos podem apontar-se muitos outros em que, na ausência de prefeitas flexibilidade salarial ou
mobilidade de mão de obra, acabou por se cair numa espiral inflacionista, com a desvalorização a
alimentar de novo a inflação; não se tendo em conta que melhor teria sido a possibilidade de, com
estabilidade, não se terem verificado desajustes e quebras de competitividade.
No que diz respeito ao papel da inflação, experiência recente levou ao abandono da sugestão
dada por Phillips. Ou seja, maior taxa de inflação seria condição necessária para o aumento de emprego,
sendo inversamente, necessário aceitar um aumento da taxa de desemprego caso o objetivo fosse
diminuir a inflação. Em relação à sugestão do autor, contribuiu em grande medida a experiência realizada
nos anos 70, com a persistência simultânea de taxas de inflação e desemprego elevadas. Como
consequência teve-se os resultados mais positivos, ocorridos em países com maior estabilidade
monetária. Por outro lado, outros estudos realizados demonstram que não existe uma relação positiva
entre inflação e crescimento.
Em todo este processo foi importante a experiência da comunidade com os melhores
resultados conseguidos por países quando aderiram ao mecanismo de câmbios do SME.
Concluindo, é de sublinhar que o próprio grau de inflação hoje verificado entre as economias
da União tornou difícil ou mesmo afastou a possibilidade de se manterem políticas monetárias
independentes. Particularmente, a partir do momento que há liberdade de circulação de capitais e de
prestação de serviços financeiros na União, a possibilidade de um país desvalorizar a sua moeda poderia
ser motivo para se verificarem fugas de capitais com graves implicações.
Trata-se de risco que ficou patente na instabilidade que se viveu na semana anterior ao
referendo francês de Setembro de 1992 (sobre o Tratado de Maastricht), tendo levado ao afastamento da
libra e da lira do mecanismo de câmbio do SME. Independentemente da opinião que se tivesse antes
acerca da implantação da moeda única esta tornou-se uma necessidade a partir do ponto de “não retorno”
a que se chegou (única forma de se evitarem instabilidade).
A facilidade de natação dos especuladores é a maior causa das crises recentes verificada; esta
facilidade só desaparecerá com a moeda única europeia (levando à estabilidade cooperai a com outras
grandes moedas do mundo que se referem no ponto d)).

c) Vantagens no plano financeiro, sendo reduzida a necessidade de reservas com uma única
moeda comunitária.
Por outro lado, deixando os países de cunhar e emitir a sua própria moeda, alguns deles

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perderão uma fonte de receita (ganhos de emissão). Não pode dizer-se, contudo, que que se trata de uma
vantagem para a sociedade em geral, pode ser ma forma de tributação que penaliza a atividade
económica dos países e o conjunto dos cidadãos.

d) Com moeda única comunitária a Europa passa a poder ter um papel de maior relevo a nível
mundial. Será possível diminuir o peso do dólar e do yen, aparecendo a Europa com um papel
importante, com uma moeda que pode figurar entre as mais utilizadas nas relações económicas
internacionais.
Há m ganho para a União, reduzindo custos de transação, de incerteza, de informação e
cálculo na medida dos empréstimos de transações comerciais com países terceiros que são feitos em
euro. Passa a ser maior a influência da União. Poderá esperar-se um ganho mundial na linha dos
entendimentos expressos ou tácitos dos mercados oligopolistas, havendo 2 o 3 grandes moedas: com a
inerente responsabilização das autoridades dos EUA na política monetária e cambial.
Atualmente, as autoridades perdem a possibilidade de continuarem a seguir políticas do menor
rigor, mesmo tendo uma atitude de não intervenção dos mercados cambiais. Será exigido m maior rigor
que, no final, beneficiará os EUA.
Só assim será possível movimentos especulativos que se manteriam entre as grandes moedas
do mundo.

9.2. Implicações para Portugal: em que medida se verificariam em Portugal os benefícios e os custos
gerais da não monetária. Tivemos (em 2002) um PIB per capita de 72,5% da média comunitária.

9.2.1. Primeiro: poderá pensar-se que ma maior aproximação real entre países será a
consequência natural dum maior crescimento global, induzido pelo acréscimo de eficiência
proporcionado pela união monetária. Não haveria preocupações com algo qe promoveria o
conjunto.
É este resultado da experiência conhecida da própria Comunidade , tendo os anos de
crescimento sido de convergência real e os de abrandamento (incluindo recessão) de
agravamento dos desequilíbrios regionais entre países.
Sendo de prever, por estas razões, que a moeda única viria promover um crescimento
da União. Não havendo razões para preocupação em Portugal.

9.2.2. Existem razões para julgar que os referidos benefícios diretos da moeda única teriam
expressão mais sensível em países mais desfavorecidos.

a) Os ganhos de eficiência beneficiariam em maior medida os países menos desenvolvidos da


Europa comunitária. Nestes há predomínio de pequenas e médias empresas com problemas de
informação e qualificação técnica para a consideração das flutuações e diferenças cambiais,
eram por isso mais sensíveis os custos da ausência da moeda única.
Por outro lado, os países mais ricos beneficiariam mais das economias de escala
proporcionadas por esta união, estando melhor preparados para tal (não tendo de ser
necessariamente assim)
Por outro lado, os ganhos em análise serão mais sensíveis em países mais abertos ao
exterior, para os quais é mais relevantes os pagamentos e recebimentos em moeda estrangeira,
representando por isso mais os ganhos resultantes de não ser necessário transaccionar moeda e
de não haver incertezas e necessidades de cálculo. O que é relevante para Portugal, com um
grau de abertura razoável.

b) Podem levantar-se dúvidas gerais no plano da intervenção conjuntural, representando a


moeda única a renúncia a um instrumento a que os países têm recorrido (inflação ou
desemprego). Por exemplo, no primeiro caso, a desvalorização e redução de oferta de moeda
seriam meios de recuperação da competitividade das economias nacionais.
Acresce o problema sentido nos países menos desenvolvidos e da periferia da União
com níveis de inflação mais elevados. Assim aconteceu em Portugal, onde o sistema de
crawling peg teve o propósito e resultado de atenuar os efeitos da diferença da inflação face à

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generalidade dos países da OCDE.
São razões acrescidas para se procurarem modos de atuação com menores custos
sociais. Não parece, contudo, que para os países da periferia deva ser diferente o juízo acerca
da intervenção cambial e monetária.
Em contraposição, serão beneficiados com a estabilidade de preços e a redução de
juros proporcionadas pela moeda única, com vantagens que poderão ultrapassar os custos da
renúncia à via cambial e monetária.

c) Por fim, no plano financeiro é de ter em conta a perda de ganhos de emissão, com relevo
para Portugal, onde em 1986-90 representavam 1,9% do PNB (mais do dobro dos valores de
Espanha, Itália, Alemanha, …). Porém, eram ganhos que estavam a perder rapidamente relevo.
Somando, há que ter em conta que com a emissão de euro há ganhos de emissão para
o BCE, não sendo receitas do orçamento da UE, mas dos países participantes. Nos termos
definidos a distribuição por estes é feita de acordo com a dimensão das economias. Esta
distribuição favorece Portugal, em relação ao escudo, que numa primeira estimativa calculou-
se que começasse por ter um ganho de 100 milhões de contos.

9.3. O papel do Sistema Europeu de Bancos Centrais e do BCE:

9.3.1. Objetivo básico a cumprir: estabilidade de preços, acordado em Maastricht. Expresso


inequivocamente no artigo 127 do TFUE e artigo 3 do TUE.
Assim se estabeleceu face à experiência bem sucedida dos países com estabilidade
monetária, sendo difícil identificar outro objetivo aceitável por todos.
É provável que se consiga a estabilidade de preços? A par de outros fatores acontece
que a probabilidade de o conseguir é maior na medida em que se trata de objetivo comum a
vários países e levado a cabo por uma instituição independente.

9.3.2. O pacto de estabilidade e crescimento: depois de ultrapassadas as dificuldades para se


chegar ao euro, ma grande exigência de rigor continuou com este pacto, proposto no Conselho
Europeu de Dublin e aprovado no CE de Amesterdão.
Proposto e acordado, não podendo admitir-se que a estabilidade e a credibilidade do
euro ficassem em causa com políticas menos rigorosas.
Trata-se de pacto nos termos do qual a exigência de se manter o défice orçamental
aquém dos 3% continuou com a moeda única, com penas pesadas para quem não cumpra.
Compreende-se que se restrinja a este objetivo as outras exigências de Maastricht, dependendo
a inflação e as taxas de juro da política monetária e estando a redução do défice público ligada
ao cumprimento anual da meta do défice orçamental.
São estabelecidas metas pesadas para quem ultrapassar o máximo fixado e que não
façam depois um esforço de recuperação. Será pouco provável que algo país chegue ao ponto
de ser sancionado, com as oportunidades de correção que lhe são dadas e o ‘peso’ das multas
previstas.
Face às dificuldades a ultrapassar e os objetivos a atingir, importa é que, para além de
uma melhor coordenação macro-económica e de um rigor maior em cada país, se verifique
uma melhor adequação de todas as políticas comunitárias.

9.3.3. O Tratado Orçamental: título abreviado que se dá ao Tratado sobre Estabilidade,


Coordenação e Governação na União Económica e Monetária celebrado (vigorado em 2013).
Nos seus termos considerando “as suas políticas económicas uma questão de
interesse comum” e “desejoso de promover condições favoráveis a um crescimento económico
mais forte na UE e de desenvolver para o efeito uma coordenação cada vez mais estreita das
políticas económicas na área do euro”, adotam determinadas medidas, designadamente: regras
de equilíbrio, definição de saldo estrutural, limite ao défice estrutural, emissão de dívida
pública, transposição da regra de equilíbrio para os ordenamentos jurídicos nacionais,
coordenação de políticas económicas, …

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Capítulo XII: Inflação

Inflação é a subida continuada e apreciável do nível geral dos preços, portanto uma generalizada
avultada subida do nível geral dos preços (declínio do valor da moeda) numa economia durante um período de
tempo. Uma subida de preços se pode ser caracterizada como inflação se ela for continua e permanente e se
simultaneamente for um fenómeno verificado na maioria dos produtos.

‣ Causas da inflação:

• Excesso de moeda em circulação;

• Aumento da procura;

• Aumento dos custos de produção;

• Procura maior que a oferta;

• Aumento dos rendimentos;

• Subida dos salários;

• Custo dos empréstimos.

‣ Consequências da inflação:

• Depreciação do valor da moeda (consumidores têm de dar mais moeda para comprar a mesma
quantidade de produtos);

• Entesouramento de ouro e de moeda;

• Deterioração das condições de vida;

• Queda do investimento;

• Aumento dos preços;

• Aumento do custo das matérias-primas;

• Aumento do custo de produção.

Nota: A inflação designa uma subida durável dos preços. Quando o preço de um único bem ou mesmo de
alguns bens aumenta, não há forçosamente inflação, já que o preço dos outros bens pode não se alterar ou
mesmo diminuir. A inflação corresponde então a uma alta do preço médio de todos os bens e serviços.

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Todos achamos que a inflação pode ser definida como uma subida continuada e apreciável do nível dos
preços, no entanto, para haver inflação não basta uma qualquer subida de preços. Para haver inflação tem que se
tratar de um processo, não bastante uma elevação momentânea, ainda que ainda que de grande expressão, tem
que se tratar de uma subida apreciável, acima de uns 3% a 5% ao ano, embora exista quem chame de inflação
rastejante uma subida aquém daquele valor. Tem que se tratar de uma subida generalizada dos preços, não
bastando que embora continuada e alta só se verifique num ou outro setor. Mesmo em inflação nem todos os
preços sobem e alguns mais do que outros.

2. Mediação:

Existe dificuldades na mediação da inflação. Aos números- índices que constituem o modo mais
comum e mais prático de comparar níveis de preços no tempo, vendo-se assim a sua subida, tem que se chegar
através de valores médios, pois nem todos os preços se alteram na mesma medida.

2.1. Escolhas e ponderações a fazer


É importante referir que realizar a mediação da alteração dos preços de todos os bens, seria
uma técnica que se revelaria de utilidade muito limitada e aliás completamente impossível.
De acordo com o tipo de estudo que se queira fazer, poderá interessar conhecer a evolução dos
preços dos bens de consumo, u dos salários (para saber se o nível de vida das pessoas melhorou ou
piorou), ou ainda os bens vendidos por grossa.
Imaginando que o que interessa conhecer é a evolução dos preços dos bens de consumo, que
mostra a alteração do custo de vida, constata-se a impossibilidade e mesmo a inutilidade de se
averiguarem os preços de absolutamente todos os bens, uma vez que existe um número avultadíssimo de
bens, importa fazer uma escolha, escolha essa que exclui obrigatoriamente os bens comprados por um
reduzido número de pessoas. Assim sendo, supondo que num país uma só pessoa está interessada ou tem
a possibilidade de comprar um determinado bem, não teria sentido dizer que com a subida apenas do seu
preço se agrava o custo de vida de um país.
Por outro lado, no respeita aos bens relativamente aos quais se justifica medir as variações dos
preços, é importante defini-los bem, não podemos referir o bem automóvel, visto que se sabe que o preço
do automóvel varia muito, um de alta gama terá um preço muito diferente de um de baixa gama
Entre vários bens e várias categorias do mesmo bem não é depois satisfatório apurar médias
não ponderadas. Se se forem comparados dos bens como comida e espetáculos, e se os seus preços
subirem respetivamente de 20 e 100%, uma média não ponderada induzir-nos-ia na ideia de que haveria
um agravamento do custo de vida de 60%. As despesas de cada um desses bens representam parcelas
muito diferentes nos orçamentos das famílias.
Terá que ser determinado através do apuramento da média pondera, onde se tem em conta a
compra de cada bem pesa nas despesas familiares.

2.2 As variações no tempo


Em grande parte dos casos, o que interessa realmente é medir os preços e saber como vão
variando no tempo.
A própria qualidade dos bens corretamente definidos vai melhorando por exemplo, o modelo
de um automóvel pode sofrer aperfeiçoamentos, sendo difícil saber quanto da subida do preço desse bem
corresponde a uma melhoria de qualidade ou um agravamento sem contrapartida para os consumidores.
Pode também acontecer com certos bens que antes até eram muito consumidos, tal com o óleo
para iluminação, e que não são gastos hoje em dia. Por sua vez, outros bens tais como recetores de TV,
que só depois dessa época começaram a ser comprados, começando as ser necessário a mediação dos
seus preços.
Por fim, a própria decomposição das despesas familiares vai-se alterando em relação a bens
que continuam a ser comprados. Logo o facto de os preços de alguns bens subirem mais do que os preços
dos outros, leva a que se substitua o consumo dos primeiros pelo o consumo dos segundos, mas também
pode levar a diferentes escolhas e alterações nos rendimentos das famílias.
Apesar de todas as dificuldades e das incorreções que não é possível evitar muito de útil se

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consegue saber através do apuramento dos índices de preços.
Um dos critérios de conversão nominal estipulado pela EU, para se entrar no euro foi a
diminuição das taxas se inflação respetivas.

2.3 A evolução verificada ao longo das décadas


Será interessante ver que houve fases muito diversas ao longo do século XX, com períodos de
inflação que alternaram com períodos de estabilidade ou mesmo descida de preços.
Constata-se um período fortemente inflacionista na segunda e em parte na terceira década do
século, se seguiu um período de descida dos preços, na sequência da Grande Depressão iniciada em
1929.
Depois de um novo período de inflação, quando da 2a Guerra Mundial, houve uma
estabilidade notória nos anos 50 e ainda 60, um novo período inflacionista teve origem na primeira crise
do petróleo (1973), alimentado em alguma medida no nosso país pela mudança política ocorrida.
A parti do final dos anos 80, começou a verificar-se uma diminuição sensível da inflação, num
processo acentuado nos anos 90, agora sob a pressão da necessidade de cumprimento dos critérios de
convergência nominal estabelecida ao Tratado de Maastricht.

Esquema:

• 2ª e 3ª metade do século — período fortemente inflacionista;

• Grande Depressão em 1929 levou-descida dos preços;

• Novo período de inflação;

• 2a Guerra Mundial-levou a estabilidade notória nos anos 50 e 60;

• Crise do Petróleo de 1973 levou-período inflacionista;

• Finais dos anos 80 — diminuição da inflação;

• Diminuição da inflação: obrigação do cumprimento dos critérios de convergência nominal estabelecida


pelo Tratado de Maastricht.
Numa preocupação comum, é sensível a descida de preços no conjunto da União Europeia, mas isto também
só aconteceu visto que a essa descida era um requisito necessário para entrada na EU.
Foram vários os países que foram cumprindo igualmente os critérios, até que alguns foram entrando na EU,
visto que cumprindo os requisitos, mas o mesmo não aconteceu com o Reino Unido, a Suécia e a Dinamarca
que por uma ou outra razão não quiseram entrar, embora tivessem cumprido os requisitos.
No que diz respeito a Portugal, possuímos uma situação de maior subida de preços, no entanto foi digno de
registo que possuíamos uma taxa de desemprego mais baixa do que a taxa de desemprego do conjunto da
União. Foi também notória a aproximação da Grécia, todavia insuficiente para entrar.
Pode ver-se que as variações dos salários têm de um modo geral acompanhado as variações dos preços de
consumo: com o crescimento maiores do final dos anos 80 e reduções sensíveis ao longo dos anos 90.
As diferenças de crescimentos verificadas nos preços de consumo e nos salários levaram a que houvesse
alternadamente anos do crescimento dos salários reais (1989 e 1993) e anos de decréscimo dos salários
(1994 e 1996).

• Salário real: poder de compra para adquirir bens e serviços.

• Salário nominal: aquilo que recebe pelo o seu trabalho.

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3. Causas:

Ainda hoje não há uma teoria pacificamente aceite do que origina a inflação.

3.1. Predomínio dado a fatores de procura. A explicação monetarista


Tradicionalmente dava-se prevalência a fatores monetários na linha da teoria quantitativa da
moeda, ou seja, os preços variam no mesmo sentido (ou inclusive de acordo com uma versão rígida da
teoria, na mesma proporção) que a quantidade de moeda em circulação.
Assim, as inflações primeiro foram explicadas pelos acréscimos de moeda de metal e neste
século por excessos de papel-moeda, emitida sem a ponderação devida e geralmente coma intenção de
resolução de aflições governamentais.
Parece que ao aumento da quantidade de moeda ou da sua velocidade de circulação estará
ligado uma maior pressão de cada procura.
O que pode levar ao agravamento das despesas? Tanto as despesas privadas, em consumo ou
em investimento, como despesas públicas em serviços correntes, investimento e defesa, como ainda de
despesa exteriores, traduzidas num excesso das exportações sobre as importações.
Claro que quando uma despesa substitui a outra, quando por exemplo, o que o Estado gasta
mais com impostos corresponde ao que os particulares tiveram que passar a gastar menos, por terem pago
esses impostos, não há um acréscimo global de despesa.
No caso Português, durante muitos anos foram muitos relevantes os acréscimos de despesa
possibilitadas pelas avultadas remessas enviadas por emigrantes a trabalhar no estrangeiro.
Pode acontecer que ao aumento dos gastos corresponde a um aumento de procura, mas por
não se estar numa fase de puro emprego, neste caso os preços podem manter-se.
O agravamento dos preços verificar-se-á quando já não haver desempregados, ou quando
existir insuficiência de equipamento fixo ou de matérias-primas. A insuficiência da oferta pode resultar
da dificuldade ou impossibilidade de fazer importações que de outro modo garantiriam a produção e a
oferta.
Em muitos casos, a insuficiência da oferta relativamente a procura pode não ser geral,
verificando-se apenas num ou outro setor da economia. A subida de preços até poderia ser à primeira
vista somente num setor, mas a realidade é que existe setores dos quais muitos dependem, pelo que uma
subida de preços num é suscetível de alastramento a toda economia. Por exemplo, no setor agrícola que é
fornecedor de matéria- prima à indústria e alimentos à população, o agravamento de preços não deixará
de levar a tentativas sindicais de aumentos de salários e aumento de preços dos bens finais.

3.2. Predomínio dado a fatores de custo


Por vezes, faz-se a distinção de inflação-procura e inflação- custo.
Autonomização desta categoria de inflação foi motivada fundamentalmente por se ter
constatado que em alguns casos a subida continuada dos preços começou a dar-se sem que houvesse
pressão assinalável do lado da procura, mas apenas porque alguns custos haviam tido uma elevação
autónoma.
Um aumento autónomo de salários não é absorvido por uma redução de lucros ou por um
aumento de produtividade, pode ser o elemento desencadeador da subida.
Os salários podem subir em consequência por exemplo da libertação dos preços de certos
serviços, como poderá ser o caso de serviços de transporte, ou ainda em consequência da elevação dos
preços de bens importados tais como bens alimentares ou matérias-primas, como consequência a
desvalorização da moeda nacional relativamente as moedas estrangeiras.
A subida das matérias-primas leva diretamente a um aumento do custo de produto e a subida
dos alimentos a uma deterioração do nível de vida dos trabalhadores, que por sua vez procuram aumentos
salariais compensadores.

3.3. Predomínio dado a fatores estruturais


Autores Franceses autonomizaram outro tipo de inflação, a inflação estrutural, originada em
determinados mecanismos de formação dos preços. Também aqui, se chegou a conclusão que a inflação

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terá ocorrido sem que houvesse pressão assinalável do lado da procura dos custos.
Os casos mais citados são por exemplo, o caso dos oligopólios e monopólios que fixam
determinada margem de lucro de acordo com os objetivos que prosseguem. Mas existem também os
casos de preços fixados pelas autoridades para os produtos agrícolas, com o intuito de proteger os
agricultores em casos em que pelo jogo do mercado as remunerações seriam insuficientes.

4. Desenvolvimento:

Não há duas inflações iguais.


Ainda que na base da inflação esteja a subida autónoma de custos, um processo continuado ou até
mesmo acelerado de subida de preços só se verifica se houver pressões do lado da procura, e sem dúvida
alimentam s inflação as subidas salariais (conseguidas pelos trabalhadores como resposta a pressões iniciais da
procura).
Imaginando, que num determinado país, se dá subitamente um grande acréscimo de despesas. Trata-se
de um aumento, que se for de investimento, pode ter efeitos multiplicados no consumo, se for de consumo pode
levar a um aumento acelerado do investimento.
Embora, sabendo-se que só em determinadas condições se dá um aumento do rendimento na medida de
coeficientes de multiplicação aceleração e propulsão.
A medida que a economia se aproxima do plano de emprego, deixa de haver capacidade do lado da
oferta, resultando da pressão da procura um aumento cada vez maior do nível geral dos preços.
O que acontece é que quando sobem os preços dos bens finais aumentam as expetativas de lucro dos
empresários, que passam a produzir mais e a distribuir ± em salários, juros, rendas e lucros. Com a subida dos
preços decresce o nível de vida dos trabalhadores que fazem pressão para o aumento dos salários. Os
empresários sobem os preços para poder transferir para os consumidores o pagamento dos encargos acrescidos e
a esta subida de preços respondem de novo os sindicatos.
A subida de salários segue-se uma nova subida dos preços estabelecidos pelos empresários e assim
sucessivamente, temos então a chamada Espiral-Salários.
Em épocas de inflação o comportamento dos empresários pode ser inflacionista ainda por duas vias:

✓ Passam a fixar os preços em função não dos custos efetivamente suportados, mas dos custos atuais ou
mesmo futuros dos elementos utilizados;

✓ Em certos casos começam a substituir a aplicação dos seus lucros em mais investimentos por aplicações
meramente especulativas.

O comportamento dos consumidores tende também a ser agravador da inflação:

✓ Quando há expectativas que os preços vão subir, compra-se hoje o que se podia comprar noutro
momento. Levando isto a maior recorrência a créditos;

Espiral salários-preços:

Aumento dos salários

Os trabalhadores reúnem Os empresários aumentam


os Sindicatos e exigem o os preços
aumento dos salários.

Em casos extremos podemos chegar a inflação Galopante, ou hiper-inflação. Quando tal acontece a
moeda perde boa parte ou a totalidade das suas funções.

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5. Efeitos:

5.1. Efeitos sobre a distribuição do rendimento e da riqueza


Ficam piores aquelas pessoas cujos os rendimentos não se alteram ou se elevam menos do que
os bens que compram, bem como credores de quantia fixas.
Quanto as rendas e aos juros, quando não são estabelecidos como montantes fixos quando os
prédios são dados de arrendamentos e as quantias são emprestadas, há atualizações legais ou
convencionados que muitas vezes não acompanham subidas verificadas no mercado.
A inflação prejudica os credores, tanto mais quanto mais longo for o prazo de empréstimo.
De um modo geral os juros e as rendas são quantias fixas estipuladas no momento dos
contratos e frequentemente os salários não sobem tanto ou pelo menos tão depressa como os preços dos
bens produzidos e vendidos. Sendo assim, com a inflação aumentam os lucros, ou seja, os rendimentos
dos empresários.
Concluindo, a inflação prejudica os capitalistas passivos e frequentemente os trabalhadores
beneficiando por outro lado os capitalistas ativos, ou seja, os empresários.

5.2. Efeitos sobre a produção e o emprego


O facto da inflação beneficiar os capitalistas ativos leva a concluir que a inflação pode ter
efeitos favoráveis sobre a produção e o emprego.
Se os lucros estão a aumentar, os empresários vão investindo mais, logo podem dar emprego a
mais pessoas.
Quando os empresários deixam de ter lucros (enquanto os preços de venda baixam a
generalidade dos custos e os empréstimos contraídos mantém-se, uma vez que estão fixados em
contratos) deixam de investir e acumulação dos prejuízos pode levar a falência. Acabam por não ganhar
muitos trabalhadores, pois o desemprego alastra e muitos capitalistas passivos acabam por não receber
juros e capitais emprestados.
A inflação deixa de ter interesse como modo de promoção da produção e do emprego quando
todos estão empregados. Passa-se de uma inflação criadora para uma inflação estéril. Quando a inflação
não leva a casos de emprego e produção chamam-se casos estagnação.

5.3. Efeitos sobre o comércio internacional:


Os países têm estado preocupados com os efeitos que a inflação pode ter sobre o comércio
internacional. No entanto, como não conseguem evitá-la procuram que ao menos se mantenha abaixo da
média dos países com as quais têm a maior parte do seu comércio. Caso contrário, sendo dificultadas as
exportações e facilitadas as importações, criam-se ou agravam-se problemas muitos difíceis nos balanços
dos pagamentos.
Imaginando, um país por ter os preços a subir, passasse a importar mais e a exportar menos,
haveria maior procura e menos oferta das divisas estrangeiras e menor procura e mais oferta das divisas
nacionais, o que levava a que o preço daquelas se elevassem. Ficavam os produtos estrangeiros mais
caros em moeda nacional e os nacionais mais baratos em moeda estrangeira.
Compreende-se por isso a preocupação que tem havido no estabelecimento de sistemas
internacionais que visam a estabilidade cambial, como é o caso do sistema do FMI, o caso mais recente,
o sistema monetário europeu. Aqui a questão deixa-se de pôr em relação aos países que adotaram o euro.

6. A problemática da política anti-inflacionista. A política na zona Euro.


A política anti-inflacionista tem que estar enquadrada no conjunto da política económica do País,
havendo que tentar garantir simultaneamente também o plano emprego e crescimento.
Se se chega a conclusão de que a inflação é causada por um excesso de moeda em circulação, ou por
um excesso de despesas públicas financiadas por empréstimos, há que evitá-los. Caso se verifique que uma
pretendida subida de salários é inflacionista devem evidenciar-se esforços para que não se dê, ou se dê em
menor medida no interesse dos próprios trabalhadores.
Na tentativa de travar a inflação surgem por sua vez problemas muitos delicados. Ora, acontece que ao
combater-se a inflação, geralmente através de uma política de redução de despesas, embora se esteja

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provavelmente a reduzir também o défice da balança dos pagamentos, também se está por outro lado a
contribuir para o aumento do desemprego e a comprometer o crescimento económico.

‣ Curva de Philips:

A ideia da inter-relacionamento com o desemprego foi muito estudada no seguimento de um artigo de


Philips, o qual com base num estudo no Reino Unido, conceituou estarem inversamente relacionados a
percentagem de subida dos salários monetários. E a percentagem de pessoas desempregadas.
O apuramento de uma relacionamento deste tipo não pode deixar de ter implicações importantes numa
política económica anti- inflacionista (ou, inversamente de plano emprego). Assim, resulta daqui que a
estabilidade de salários monetários (e de preços) só poderá ser conseguida a custo de um determinado nível de
desemprego. Se pelo contrário, se pretende lutar contra o desemprego, será necessário aceitar alguma subida
salarial, tanto maior quanto menor for a taxa de desemprego que se pretenda. Mesmo com altas subidas de
salários não seria possível evitar por completo algum desemprego.
A curva de Philips foi muito discutida, tanto no seu realismo como na sua interpretação. Pode dizer-se
aliás que em anos recentes, quando apesar de haver níveis elevados de desemprego os salários nominais (e os
preços) subiam também as taxas elevadas e estávamos perante novas curvas de Philips.
A análise da curva de Philips dá-nos a ideia da existência de objetivos conflituantes, enquanto se se
pretende antes ocupar mais braços aumenta a inflação.
A opção por um ou por outro destes objetivos, é ao fim ao cabo uma opção política.
Caso se verificasse ao mesmo tempo desemprego, inflação e desequilíbrio externo, uma política
monetária e orçamental que levasse a uma despesa menor provavelmente atenuaria a inflação e o desequilíbrio
externo. Podem e devem no entanto, ser tomadas certas precauções por forma a atenuar os efeitos de pressão
sobre os preços e desviar a procura pelos produtos estrangeiros para nacionais, não seria possível evitar alguma
agravamento de preços e do défice da balança dos pagamentos.
Será de concluir que é preferível a situação de estabilidade de preços que deverá ser proporcionada
pelo euro, podendo num ou outro caso exigir um esforço maior, mas podendo levar a soluções de raiz para os
problemas de competitividade dos países.

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Questões de aula:
1. Dos motivos de preferência pela liquidez que estudou, quais dependem exclusivamente do
rendimento ou do fator rendimento? Quase todos dependem. Tudo na economia, está pensado no rendimento
da economia.

2. Quais dependem da taxa de juro corrente no mercado? Todos, essencialmente o motivo


especulação (do rendimento, do motivo pela liquidez e da previsão sobre o futuro da taxa de juro corrente no
mercado) e colocação (quando a taxa de juro é muito baixo e só pode subir).

3. Suponha a seguinte situação: sabendo que Daniel comprou 100 mil euros em títulos
obrigacionistas da Altice há cerca de 45 dias e que, neste momento, a taxa de juro corrente no mercado é
de 0,5%, depois de ter descido meio ponto percentual e que, por cada título de 100€ o rendimento anual é
de 4€, responda às seguintes questões.
a) sabendo que os títulos foram emitidos ao par, calcule a cotação dos títulos e o valor previsível
da carteira de títulos de Daniel. C = (4 000 x 100) : 0,5 = 800 000. Um título passa sempre pela CMVM.

Ao par: valor de emissão 100€ valor de compra 100€


A baixo do par: abaixo do valor inscrito no título, ex.: valor de emissão 100€ e valor de compra 95€
Acima do par: quer dizer que o título vale mais, ex.: valor de emissão 100€ e valor de compra 105€

4. Explique a partir da equação das trocas como podemos vigiar a inflação. MV = PT, com isto
queremos dizer que quantidade de moeda em circulação não deve exceder as transações VS os preços. O
equilíbrio da equação diz-nos que se o 1º membro valer mais que o 2º é sinal de desequilíbrio e de
endividamento. O T aumentando toda a gente pode ter mais dinheiro sem que haja um ciclo inflacionista,
significa que através da equação das trocas eu fico a saber que a inflação se mede …
T = transações (PIB)

5. Explica como o salário real varia com o aumento do salário nominal e a taxa de inflação?
R: Quando o salário nominal aumenta, o salário real aumenta também, porque se o trabalhador recebe
mais pelo o seu trabalho, tem maior poder de compra para adquirir bens e serviços.
Quando a taxa de inflação aumenta, o salário real diminui (as coisas são mais caras e o dinheiro é o
mesmo), pois o preço que se paga pelos bens e serviços aumenta e o poder de compra diminui.

6. Relacione as expressões “salário real” e “poder de compra”?


R: Para explicar o conceito de salário real importa compreender primeiro o conceito de salário
nominal, uma vez que o salário real advém do salário nominal. O salário nominal corresponde ao valor do
trabalho expresso em moeda e o salário real corresponde ao poder de compra de bens e serviços com a moeda
recebida. Ora, deste modo, relacionamos salário real com o poder de compra, no entanto, podemos ainda
relacioná-los de outra forma: quando o salário real aumenta, o poder de compra diminui.

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