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Fundamentos de Microeconomia

Capı́tulo 8. Mercados para fatores de produção

Ciclo Básico 2◦ perı́odo / 2012

Graduação em Ciências Econômicas

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 1 / 67


Plano do capı́tulo

1 Mercados de fatores competitivos


2 Equilı́brio em um mercado de fatores competitivo
3 Mercado de fatores com poder de monopsônio
4 Mercado de fatores com poder de monopólio

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 2 / 67


Fatores

Até agora analisamos mercados de produtos finais: bens e serviços


que as empresas comercializam e os consumidores adquirem
Neste capı́tulo, discutiremos mercados de fatores: mão de obra,
matérias-primas e outros insumos de produção
Examinaremos três diferentes estruturas de mercados de fatores

1 Mercados de fatores perfeitamente competitivos


2 Mercados nos quais os compradores de fatores possuem poder de
monopsônio
3 Mercados nos quais os vendedores de fatores possuem poder de
monopólio

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Mercados de fatores competitivos

Mercado no qual nenhum vendedor ou comprador em particular


pode influenciar o preço de determinado fator
Nesse caso, cada um deles se constitui em um aceitador de preços
Isso acontece quando há um grande número de vendedores e de
compradores de um fator de produção, como trabalho ou
matéria-prima

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Demanda por um fator de produção quando apenas um
fator é variável

A demanda dos consumidores por bens e serviços é relacionada às


preferências dos mesmos (taxa marginal de substituição)
As demandas por fatores são demandas derivadas no sentindo
que dependem e derivam
I do nı́vel de produção desejado ou previsto pela empresa
I dos custos dos insumos
Para simplificar a analise, assumiremos que a empresa obtém a
produção utilizando dois insumos
I o capital K contratado pelo preço r (custo de aluguel do capital)
I o trabalho L contratado pelo preço w (salário)
Vamos supor que o capital K é fixo (como em análise de curto
prazo) e necessita apenas decidir a quantidade L de mão de obra

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Demanda por um fator de produção quando apenas um
fator é variável
Vamos supor que a empresa tenha contratado determinado
número de trabalhadores
Ela quer saber se seria lucrativo contratar um trabalhador
adicional (ou demitir um trabalhador)
A contratação desse trabalhador é justificada se a receita adicional
decorrente da produção desse trabalhador supera o custo

Receita do produto marginal do trabalho RMgPL


Receita adicional resultante da venda da produção criada pelo emprego
de uma unidade adicional do insumo trabalho

É lucrativo aumentar o insumo trabalho se

RMgPL (L) > w

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Receita do produto marginal
De que forma podemos medir a RMgPL ?
Ela é a produção adicional obtida com a unidade adicional de mão
de obra, multiplicada pela receita adicional decorrente de uma
unidade extra de produto
∆R ∆R ∆Q
RMgPL = lim = lim ×
∆L→0 ∆L ∆L→0 ∆Q ∆L
∆R
Lembra que RMg = lim∆Q→0 ∆Q
Dessa forma temos

RMgPL = (RMg)(PMgL )

Esse importante resultado é válido para qualquer mercado


competitivo de fatores, seja o mercado do produto competitivo ou
não

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Receita do produto marginal

Em um mercado competitivo de produto final, a empresa venderá


o produto pelo preço de mercado P
Nesse caso, a receita do produto marginal do trabalho é igual ao
produto marginal do trabalho vezes o preço do produto

RMgPL = (PMgL )P

Quando a empresa tem poder de monopólio no mercado de


produto e que enfrentam uma curva de demanda P (Q)
descendente, a receita marginal RMg é sempre menor do que o
preço P
Nesse caso temos
RMgPL < (PMgL )P

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Receita do produto marginal

A curva RMgPL é inclinada para baixo por causa da existência de


rendimentos decrescentes (o produto marginal do trabalho vai
caindo à medida que as horas trabalhadas vão aumentando)

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Contratações da empresa no mercado de mão de obra

No mercado competitivo de mão de obra, uma empresa se defronta


com uma oferta infinitamente elástica de trabalho SL
Ela poderá contratar tantos trabalhadores quantos desejar,
pagando o salário w
Se RMgPL > w a empresa deverá contratar unidades adicionais de
mão de obra
Se RMgPL < w a empresa deverá reduzir a mão de obra
Portanto, a condição de maximização dos lucros é

RMgPL = w

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A demanda da empresa por mão de obra

A demanda da empresa por mão de obra, DL , é obtida por meio


da receita do produto marginal do trabalho, RMgPL

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Um deslocamento na oferta de trabalho

Quando o salário de mercado diminui, a empresa maximiza os


lucros movendo-se ao longo da curva do trabalho, até que a nova
remuneração w2 seja igual à receita do produto marginal de
trabalho
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A demanda da empresa por mão de obra

Lembra-se que RMgPL = (RMg)(PMgL )


Temos então ao equilı́brio

w
RMg =
PMgL

Insumos são escolhidos de tal modo que a receita marginal (obtida


pela venda do produto) seja igual ao custo marginal (decorrente
da aquisição dos insumos)
Esse princı́pio é válido tanto em mercados para produto
competitivos como em mercados não competitivos

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Demanda por um fator de produção quando diversos
insumos são variáveis

Suponhamos que a remuneração fosse de $20 por hora e a empresa


tivesse contratado 100 homens-horas
O que ocorre quando a remuneração cai para $15 por hora?
A empresa demandará mais mão de obra
Uma quantidade maior de trabalho aumenta o produto marginal
do capital

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Demanda por um fator de produção quando diversos
insumos são variáveis

Se o capital não é fixo, a empresa tende a adquirir mais


equipamentos (para igualar o aluguel do capital)
Pelo fato de haver mais equipamentos de produção, o produto
marginal do trabalho aumenta
I Com mais equipamentos, os trabalhadores conseguem ser mais
produtivos
A curva da receita do produto marginal será consequentemente
deslocada para a direita

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Demanda por um fator de produção quando diversos
insumos são variáveis

Quando a remuneração cai, a empresa passa a utilizar 140h de


trabalho, em vez de 120h se o capital fosse fixo
A e C são dois pontos da curva de demanda de trabalho (com
equipamentos variáveis), DL ; B não é
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Demanda por um fator de produção quando diversos
insumos são variáveis

A curva da demanda do trabalho é mais elástica do que qualquer


do que qualquer uma das duas curvas do produto marginal
RMgPL1 e RMgPL2
As curvas do produto marginal pressupõem ausência de variação
na quantidade de capital
A maior elasticidade(-salário) na demanda de trabalho se deve ao
fato de as empresas poderem substituir capital por trabalho no
processo produtivo, uma vez que os insumos de capital variam no
longo prazo

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A curva da demanda do mercado (com somente um
insumo variável)

Um fator de produção, como a mão de obra especializada, é


demando por empresas de vários setores industriais diferentes
À medida que passamos de um setor para outro, é provável que
encontremos diferenças substancias na demanda das empresas por
trabalho
Assim, para obter a curva da demanda total de trabalho devemos
inicialmente obter as curvas de demanda de trabalho em cada setor
O segundo passo é direto: somar as curvas de demanda de cada
setor horizontalmente

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A curva da demanda de um setor (com somente um
insumo variável)

É mais fácil quando há apenas uma único produtor


Nesse caso, a curva da receita marginal do produto é a propria
curva da demanda do insumo pelo setor
Quando há muitas empresas, a análise é mais complicada por
causa das possı́veis interações entre as empresas
Vamos analisar, por exemplo, a demanda por trabalho quando os
mercados de produto são perfeitamente competitivos
Nesse caso, temos
RMgPL = P × PMgL
como mostra a curva RMgPL1

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A curva da demanda de um setor (com somente um
insumo variável)

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A curva da demanda de um setor (com somente um
insumo variável)

Inicialmente, suponhamos que a remuneração seja de $15 por hora


e que a empresa demande 100 homens-horas de trabalho
Agora suponhamos que o salário pago por essa empresa caia para
$10 por hora
Se tudo resto ficasse constante (nı́vel de produção e preço do
produto), então a empresa contrataria 150 homens-horas
Se todas as empresas do setor podem contratar pelo salário de $10
por hora, todo o setor contratará mais mão de obra
Isso ocasionará um maior nı́vel de produção no setor
E consequentemente, um deslocamento da curva da oferta para a
direita e um preço de mercado mais baixo para o produto

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 21 / 67


A curva da demanda de um setor (com somente um
insumo variável)
A queda do preço de mercado do produto ocasiona uma queda da receita
do produto marginal
A curva da receita do produto marginal é deslocada para a esquerda
para RMgPL2

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A curva da demanda de um setor (com somente um
insumo variável)

Isso resulta em uma menor demanda de trabalho por parte da


empresa (120h em vez de 150)
Consequentemente, a demanda de trabalho no setor será mais
baixa do que a soma horizontal das demandas de trabalho do setor
Temos que levar em consideração o fato do que o preço do produto
diminuirá à medida que todas as empresas expandirem os nı́veis de
produção em reação ao nı́vel de remuneração mais baixo

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 23 / 67


A curva da demanda de um setor (com somente um
insumo variável)

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A curva da demanda de um setor (com somente um
insumo variável)

A obtenção da curva da demanda do mercado de trabalho é


essencialmente a mesma quando o mercado do produto não é
competitivo
A única diferença é que se torna mais difı́cil prever uma
modificação no preço do produto em reação a uma variação da
remuneração
Pois, cada empresa do mercado estará determinando os preços de
forma estratégica, em vez de aceitar um preço de mercado

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A demanda por combustı́vel de aeronaves

O conhecimento da demanda por combustı́vel de aeronaves é


importante para os administradores de refinarias de petróleo que
precisam decidir as quantidades desse tipo de combustı́vel que
produzirão
Também é importante para os administradores de empresas aéreas
que precisam fazer projeções de como variarão as aquisições de
combustı́vel e os custos quando o preço do combustı́vel de
aeronaves aumentar e decidir sobre investir em aeronaves mais
eficientes
A elasticidade-preço da demanda de combustı́vel para aeronaves
depende tanto da habilidade em economizar combustı́vel como das
elasticidades da oferta e da demanda das passagens aéreas

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 26 / 67


A demanda por combustı́vel de aeronaves

As elasticidades-preço da demanda de combustı́vel para cada uma


das empresas é muito inelástica
Esse fato não é surpreendente: no curto prazo não há um bom
substituto para o combustı́vel de aeronaves

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 27 / 67


A demanda por combustı́vel de aeronaves

A demanda por combustı́vel para aeronaves no curto prazo,


RMgPCP , é mais inelástica do que a demanda no longo prazo,
RMgPLP
No curto prazo, as empresas aéreas não podem reduzir muito o
consumo de combustı́vel quando ocorre uma elevação no preço
deste
Entretanto, no longo prazo, elas podem optar por rotas mais
longas e com um consumo de combustı́vel mais eficiente, assim
como colocar aviões mais econômicos em serviço

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 28 / 67


A demanda por combustı́vel de aeronaves no curto e no
longo prazo

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Oferta de fatores de produção para uma empresa
Em um mercado de um fator de produção perfeitamente competitivo, o
preço é determinado pela intersecção das curvas de demanda e oferta de
mercado

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Oferta de fatores de produção para uma empresa
Em um mercado de fatores competitivo, uma empresa poderá adquirir
qualquer quantidade que desejar do insumo sem afetar o preço dele
Portanto, a empresa se defronta com uma curva de oferta perfeitamente
elástica para esse insumo

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Oferta de fatores de produção para uma empresa

Curva da despesa média


Curva da oferta que representa o preço por unidade que uma empresa
paga por certo bem

Curva da despesa marginal


Curva que descreve os custos adicionais da compra de uma unidade
adicional de um bem

A despesa marginal depende do fato de a empresa ser uma


compradora competitiva ou com poder de monopsônio
No caso competitivo, o custo de cada unidade é o mesmo não
importa quantas unidades adquiridas
Nesse caso, as curvas de despesa média e marginal são linhas
horizontais idênticas

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 32 / 67


Oferta do mercado de fatores de produção

A curva de oferta de mercado de um fator de produção geralmente


possui inclinação ascendente
I Em um mercado competitivo isso vem do fato que o custo marginal
da produção é normalmente crescente
É o caso do tecido e de outros insumos que sejam matéria-prima
Quando o insumo for o trabalho, serão as pessoas e não as
empresas que decidirão quanto ofertar
Nesse caso, a maximização da utilidade pelos funcionário é que
determina a oferta, em vez de ser a maximização de lucro pelas
empresas

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 33 / 67


Oferta de trabalho com curvatura para trás
Quando a remuneração aumenta, as horas de trabalho ofertadas
inicialmente apresentam uma elevação, mas podem começar a diminuir à
medida que as pessoas optarem por mais lazer e menos trabalho
A parte da curva da oferta da mão de obra que possui curvatura para
trás surge quando o efeito renda associado à remuneração mais elevada
(que encoraja mais lazer) é maior do que o efeito substituição (que
encoraja mais trabalho)

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Oferta de trabalho com curvatura para trás

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 35 / 67


Oferta de trabalho com curvatura para trás

Quando a remuneração aumenta de $10 para $30 por hora, a linha


do orçamento do trabalhador é deslocada de PQ para RQ
A reação do trabalhador é passar do ponto A para o ponto B
enquanto reduz as horas trabalhadas de 8 para 5 por dia
A redução das horas trabalhadas ocorre porque o efeito renda
supera o efeito substituição. Nesse caso, a curva da oferta de
trabalho passa a apresentar curvatura para trás

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 36 / 67


Equilı́brio em um mercado de fatores competitivo
Um mercado de fatores competitivo está em equilı́brio quando o
preço do insumo possibilita que a quantidade demanda seja igual à
quantidade ofertada

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 37 / 67


Equilı́brio em um mercado de fatores competitivo

Suponha que o mercado de produto também fosse perfeitamente


competitivo
Nesse caso, a curva da demanda do produto P (Q) está medindo o
benefı́cio dos consumidores pelo produto
Como temos RMgPL = P × PMgL , a demanda do insumo está
medindo o benefı́cio que os consumidores atribuiriam ao uso
adicional de insumo
A curva da oferta representa os custos marginais de produção do
insumo
Dessa forma, quando os mercados de produto e de insumo são
perfeitamente competitivos, os recursos são utilizados
eficientemente

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 38 / 67


Equilı́brio em um mercado de fatores competitivo

Quando existe poder de monopólio no mercado de produto, temos


RMgPL < P × PMgL

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Equilı́brio em um mercado de fatores competitivo

O preço do produto é a medida do valor para os consumidores de


cada unidade adicional da produção que adquirem
Assim vM = P × PMgL é o valor que os consumidores atribuem às
unidades adicionais do insumo trabalho
Portanto, o custo marginal wM pago pela empresa é menor do que
o benefı́cio para os consumidores vM
A diferença entre o beneficio total e o custo total não é
maximizado
O nı́vel de produção e a utilização do insumo não são eficientes
A eficiência econômica aumentaria se mais trabalho fosse
contratado e a produção aumentasse
Os ganhos dos consumidores superariam o lucro perdido da
empresa

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 40 / 67


Renda econômica

Definição
Para um mercado de fatores, renda econômica é a diferença entre os
pagamentos destinados a um fator de produção e o mı́nimo valor que
teria de ser despendido para poder contratar o uso de tal fator

A renda econômica associada ao emprego do trabalho é o


excedente de salário pago acima do valor mı́nimo necessário para a
contratação de trabalhadores
Vamos analisar a renda econômica do trabalho em mercados
perfeitamente competitivos

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Renda econômica

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 42 / 67


Renda econômica do trabalho em mercados
competitivos

A remuneração de equilı́brio é indicada pelo ponto A, situado na


intersecção das curvas da oferta e da demanda de trabalho
Pelo fato de a curva da oferta possuir inclinação ascendente,
alguns trabalhadores poderiam ter aceitado empregos recebendo
remuneração menor do que w?
A região de coloração cinza-clara, ABw? , é a renda econômica
recebida por todos os trabalhadores

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 43 / 67


Renda econômica em mercados competitivos

Se a curva da oferta fosse perfeitamente elástica, a renda


econômica seria igual a zero
Só há renda quando a oferta é relativamente inelástica
Quando a oferta é perfeitamente inelástica, todos os pagamentos
destinados a determinado fator de produção se constituem em
renda econômica
As terras é um exemplo de insumo com oferta inelástica (a
quantidade de terras disponı́veis para moradias ou agricultura é
fixa, pelo menos no curto prazo)

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 44 / 67


Renda econômica em mercados competitivos

Quando a curva da demanda é indicada por Di , a renda econômica


por acre é indicada por si
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Mercado de fatores com poder de monopsônio

Em alguns mercados de fatores, certos compradores individuais


possuem poder de compra
É o caso da GMe a Toyota que adquirem grandes quantidades de
freios, radiadores, pneus e outras peças
Vamos considerar que o mercado do produto é perfeitamente
competitivo
Limitaremos nossa atenção ao monopsônio puro

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 46 / 67


Mercado de fatores com poder de monopsônio

A curva da oferta de fatores com que se defronta o monopsonista é


a curva da oferta do mercado SL
SL mostra as quantidades de insumo que os fornecedores estão
dispostos a vender à medida que o preço vai aumentando
A curva da oferta corresponde a curva de despesa média para o
monopsonista
Para a maximização de lucros do monopsonista, a curva da
despesa marginal é que se torna relevante para a tomada de
decisão sobre a quantidade a ser adquirida

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 47 / 67


Mercado de fatores com poder de monopsônio

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 48 / 67


Mercado de fatores com poder de monopsônio

Para um consumidor monopsonista que adquira um produto, a


quantidade adquirida corresponde a maximização do benefı́cio
liquido: utilidade menos despesas
Isso acontece quando o valor marginal (VMg) se torne igual à
despesa marginal (DMg)
No caso de uma empresa monopsonista que adquire um fator, o
papel do valor marginal é tomado pela receita marginal do produto
O número de unidades adquiridas é dado por L? , na intersecção da
curva da receita do produto marginal com a curva da despesa
marginal
DMg = RMgPL
A remuneração correspondente, w? , é menor que a remuneração
competitiva, wC

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 49 / 67


Poder de monopsônio

O poder de monopsônio pode surgir por razões diferentes


Se uma empresa adquire um componente que nenhuma outra
precisa, ela tem a possibilidade de atuar de forma monopsonista
no mercado desse componente
Uma outra fonte poderia ser a localização da empresa se ela é a
única grande empregadora da região (empresa mineradora)
O governo é monopsonista quando adquire mı́sseis, aeronaves e
outros equipamentos militares especializados

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 50 / 67


Poder de negociação

Em alguns mercados, há poucos fornecedores e poucos


compradores
Nesse caso, o preço é negociado pelas partes
Pode ser alto ou baixo, dependendo de quem tem maior poder de
negociação
A força do poder de negociação é determinada, em parte, pelo
número de fornecedores e compradores concorrentes, mas pode ser
definida também pela natureza da compra em si
Se cada comprador efetua compras grandes e esporádicas, ele pode
criar uma competição entre os fornecedores durante a negociação
dos preços

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 51 / 67


Mercado de aeronaves comerciais

Há dezenas de companhias aéreas que querem comprar o insumo


“aeronave”
Há somente dois produtores importantes: Boeing e Airbus
Pode-se pensar que esses dois fornecedores teriam grande
vantagem na negociação de preços
Mas acontece o oposto

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 52 / 67


Mercado de aeronaves comerciais

As companhias aéreas não compram aeronaves a cada três ou


quatro anos
Não compram uma unidade por vez mas de 20 a 30 unidades
Chega a ser um negocio de muito bilhões de $
Esses não são pedidos pequenos para a Boeing e a Airbus: elas
farão tudo o que for possı́vel para conseguir a encomenda
As companhias aéreas sabem disso e podem exercer seu “poder de
compra” negociando o preço simultaneamente com cada fornecedor

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 53 / 67


Mercado de fatores com poder de monopólio

Os vendedores de insumo podem ter poder de monopólio


Quando uma empresa tem uma patente para produzir um chip
para computadores, ela atua como monopolista
O exemplo mais importante do poder de monopólio em mercados
de fatores envolve os sindicatos de trabalhadores
Seja DL a curva de demanda do trabalho em um mercado no qual
não há poder de monopsônio: ela agrega as curvas da receita
marginal do produto de empresas que concorrem para adquirir
mão de obra
A curva da oferta de trabalho descreve a forma pela qual os
trabalhadores ofertariam trabalho se não fossem sindicalizados

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 54 / 67


Mercado de fatores com poder de monopólio

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 55 / 67


Mercado de fatores com poder de monopólio
Se o sindicado não exercesse nenhum poder de monopólio, o
mercado de trabalho seria competitivo
A quantidade L? de trabalhadores contratados nesse caso
corresponde o maior de número de trabalhadores que podem ser
contratados
Se o interesse do sindicato for maximizar a renda econômica
recebida pelos trabalhadores sindicalizados, ele poderia impor o
salário w1 levando ao nı́vel L1 de trabalhadores contratados tal que

RMg = SL

Um objetivo alternativo para o sindicato seria maximizar os


salários agregados recebidos por todos os membros do sindicato
Nessa caso, o salário negociado deveria ser menor: w2 < w1 ,
mesmo assim maior do que o salário competitivo

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 56 / 67


Trabalhadores sindicalizados e trabalhadores não
sindicalizados

Vamos supor que o mercado de trabalho é dividido em dois


setores: um sindicalizado e outro não
A oferta total de trabalhadores é fixa SL
A demanda de mão de obra no setor sindicalizado é indicada por
DU e a do setor não sindicalizado por DN U
A demanda total do mercado DL é a soma horizontal das
demandas dos dois setores

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 57 / 67


Trabalhadores sindicalizados e trabalhadores não
sindicalizados

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 58 / 67


Trabalhadores sindicalizados e trabalhadores não
sindicalizados

O nı́vel competitivo (se o sindicato não fizer uso do poder de


monopólio) de remuneração é w?
Se o sindicato decide aumentar o salário para o nı́vel wU
O número de trabalhadores contratados no setor U apresentará
uma redução ∆LU
A medida que esses trabalhadores vão conseguir emprego no setor
não sindicalizado
O nı́vel de remuneração nesse setor vai se ajustando wN U inferior
ao nı́vel competitivo
Quando a demanda por mão de obra não é perfeitamente
inelástica, os trabalhadores sindicalizados são beneficiados à custa
dos não sindicalizados

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 59 / 67


Resumo 1.

Em um mercado competitivo de fatores de produção, a demanda


por um insumo é determinada pela receita do produto marginal,
pelo produto da receita marginal da empresa e pelo produto
margina do insumo

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 60 / 67


Resumo 2.

Uma empresa em um mercado competitivo de mão de obra


contratará trabalhadores até o ponto em que a receita do produto
marginal do trabalho for igual à remuneração paga
Esse princı́pio é análogo à condição de maximização de lucros de
que a produção deve ser aumentada até o ponto em que a receita
marginal for igual ao custo marginal.

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 61 / 67


Resumo 3.

A demanda do mercado por determinado insumo é a soma


horizontal das curvas da demanda desse insumo em todos os
setores industriais
Entretanto, a demanda de um setor por determinado insumo não é
a soma horizontal das demandas desse insumo por todas as
empresas do setor
Para a determinação apropriada da demanda de um setor, deve-se
lembrar que o preço de mercado do produto sofre variação em
resposta às variações do preço de um insumo

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 62 / 67


Resumo 4.

Quando os mercados de fatores são competitivos, o comprador de


um insumo presume que suas aquisições não terão influencia sobre
o preço
Consequentemente, tanto a curva da despesa marginal quanto a da
despesa média da empresa são perfeitamente elásticas

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 63 / 67


Resumo 5.

A oferta de mercado de um insumo como o trabalho não


necessariamente tem inclinação ascendente
A curva da oferta de mão de obra pode ter inclinação voltada para
trás se o efeito renda, associado a um nı́vel mais alto de
remuneração (isto é, mais demanda por lazer, pois o lazer é um
bem normal), for maior do que o efeito substituição (isto é, menor
demanda por lazer, devido ao fato de o preço do lazer ter se
tornado mais elevado)

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 64 / 67


Resumo 6.

Renda econômica é a diferença entre os pagamentos destinados aos


fatores de produção e o pagamento mı́nimo que teria de ser feito
para poder utilizá-los
Em um mercado de trabalho, tal renda é medida pela área situada
abaixo do nı́vel de salário e acima da curva da despesa marginal

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 65 / 67


Resumo 7.

Quando o comprador de um insumo tem poder de monopsônio, a


curva da despesa marginal está situada acima da curva da despesa
média, o que reflete o fato de o monopsonista ter de pagar um
preço mais alto para conseguir adquirir maior quantidade de
determinado insumo.

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 66 / 67


Resumo 8.

Quando o fornecedor de um insumo é um monopolista, como é o


caso dos sindicatos de trabalhadores, ele escolhe o ponto que
satisfaz seus objetivos na curva da receita do produto marginal
A maximização do nı́vel de emprego, a renda econômica e os
salários constituem três objetivos plausı́veis dos sindicatos de
trabalhadores

Victor Filipe (EPGE/FGV) Fundamentos de Microeconomia 2◦ semestre, 2012 67 / 67

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