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DIREITO
FINANCEIRO
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Olá meus amigos do RevisãoPGE, tudo certo?

Sou o Renério de Castro Júnior, Procurador do Estado de Mato Grosso e membro


do RevisãoPGE. Acompanharei você neste curso que pretende esgotar o conteúdo
normalmente vista nas provas de Direito Financeiro da advocacia pública.

O objetivo é apresentar, de forma direta, porém aprofundada, todo o conteúdo


necessário à aprovação em concursos de advocacia pública.

É fato que uma preparação antecipada, focando naquilo que mais importa para
os concursos de procuradorias, o coloca um passo à frente dos concorrentes. Pensando
nisto, o curso foi elaborado como uma fonte sucinta, confiável e absolutamente
atualizada.

Preparamos o conteúdo mais completo possível para sua preparação, o que


envolve todas as suas frentes de estudo: doutrina, lei e jurisprudência.

O seu curso de Direito Financeiro conta com uma revisão completa sobre todos
os informativos do STF e STJ referentes aos últimos anos, além de algumas importantes
decisões dos TCU.

Cada um dos julgados consta no tema respectivo, por isso, recomendamos que
você leia com muita atenção as decisões judiciais que são apresentadas em aula.

Todo o nosso extensivo foi pensado de modo a propiciar uma análise completa
dos assuntos que você precisa conhecer para se tornar procurador. Por isso,
apresentamos um material completo em PDF’s, videoaulas sobre todos os temas, além
de simulados realizados e comentados pela própria equipe do RevisãoPGE.

Por vezes, nosso curso será “redundante”, um mesmo assunto que foi visto em
PDF será revisto na videoaula, isso tem uma função, fazer você reestudar aquilo que é
mais relevante, ajudando na fixação dos principais dispositivos legais, jurisprudências e
conceitos doutrinários.
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Este curso é concebido para ser o seu único material de estudos, isto é, você não
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precisará adquirir outros cursos ou materiais para estudar Direito Financeiro.


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Há mais um detalhe que merece comentários, nos últimos anos, as questões de


Direito Financeiro se demonstram retiradas, em sua grande maioria, da literalidade da
lei (especialmente a Lei 4.320/64 e a Lei de Responsabilidade Fiscal), além de alguns
dispositivos constitucionais. Por isso, em diversos momentos será feita a remissão aos
artigos de lei ou da CF/88 que, reiteradamente, são objeto de prova. Não deixe de
valorizar essa leitura!

Enfim, aproveite profundamente o curso, tire todas as suas dúvidas e usufrua


destes próximos meses de estudos intensos e, por vezes, sacrificantes. Desse modo,
todo o esforço empregado nessa fase preparatória será recompensado com a alegria
que acompanha a aprovação, nomeação, posse e efetivo exercício nesta maravilhosa
função de advogado público.

Vamos Juntos!

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Aula revista e atualizada em 31/05/2021

AULA 01 -
ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO, PRINCÍPIOS
GERAIS E FONTES DO DIREITO FINANCEIRO
COMO ESTUDAR ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO, PRINCÍPIOS GERAIS E FONTES
DO DIREITO FINANCEIRO .......................................................................................... 5
A ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO...................................................................... 5
NOÇÕES GERAIS DO DIREITO FINANCEIRO ................................................................ 8
PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO FINANCEIRO.......................................................... 11
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ..........................................................................................12
PRINCÍPIO DA ECONOMICIDADE ..................................................................................14
PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA ...................................................................................15
PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE FISCAL ..................................................................20
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA ................................................................................... 21
FONTES FORMAIS DO DIREITO FINANCNEIRO ......................................................... 25
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ...............................................................................25
LEIS COMPLEMENTARES (LRF E LEI 4.320/64) .............................................................25
LEIS ORDINÁRIAS ..........................................................................................................30
LEIS DELEGADAS ...........................................................................................................31
MEDIDAS PROVISÓRIAS ...............................................................................................32
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COMO ESTUDAR ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO,


PRINCÍPIOS GERAIS E FONTES DO DIREITO FINANCEIRO

Vamos iniciar os estudos do Direito Financeiro com alguns temas que, embora
não sejam os mais cobrados em provas, servem de alicerce para construir um
conhecimento sólido e capaz de suportar o “peso” dos temas complexos que veremos
nos demais capítulos.

De tudo que veremos nesta aula inicial, peço sua especial atenção para as fontes
formais do Direito Financeiro, tal tema influencia diversos outros ao longo deste curso,
de modo que a correta compreensão desses institutos facilitará muito a aprendizagem
de tudo que vem ao longo do curso.

Portanto, atenção redobrada e vamos iniciar a caminhada para gabaritarmos


Direito Financeiro.

A ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

Por Atividade Financeira do Estado – AFE se compreende o conjunto de ações


desempenhadas pelo Estado, com o fim de criar, adquirir, gerir e despender recursos
para suprir as necessidades humanas coletivas, de natureza pública.

Quando falamos em “recursos”, associamos o termo diretamente a dinheiro.


Logo, a AFE não se relaciona à captação de outros objetos que não sejam o recurso
financeiro propriamente dito, a exemplo de bens e serviços.

Portanto, o Estado, na concepção atual, arrecada receitas e as aplica para a


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consecução dos serviços públicos e atendimento das necessidades sociais, além de


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intervir no domínio econômico. Assim, tem como objetivo o atendimento do interesse


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público.

Vejamos então todas as características da AFE:

CARACTERÍSTICAS DA ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO


A Atividade Financeira do Estado é mero instrumento pelo
qual o Estado arrecada e aplica recursos em busca do
INSTRUMENTALIDADE atendimento ao interesse público. Tem por natureza a
gestão direta do recurso, mas isso, por si só, sem um
objetivo claramente definido, não tem qualquer utilidade.

A AFE tem duas funções essenciais:

FISCAL: quando se trata apenas da arrecadação de


receita e realização de despesa; e

EXTRAFISCAL: quando o objetivo é a intervenção no


FUNÇÃO domínio econômico, produzindo um resultado além
(extra) da simples arrecadação de receita e realização
de despesa, como por exemplo o fomento à
economia, distribuição de renda, regulação do
mercado e etc.

A Atividade Financeira do Estado somente se realiza


com a presença de uma pessoa jurídica de direito
público. Assim, o Estado sempre figurará em pelo
menos um dos polos, podendo ela ocorrer apenas

EXERCIDA entre órgãos públicos ou entre estes e particulares.

PRINCIPALMENTE POR Contudo, o caráter de realização do bem estar social


PESSOAS JURÍDICAS DE que o Estado brasileiro possui, faz com que estejam no
DIREITO PÚBLICO âmbito da atividade financeira as ações públicas e
privadas pertinentes à disciplina jurídica da tributação
e do orçamento público, bem como a forma de manejo
do dinheiro pelos órgãos integrantes da
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Administração pública direta e indireta.


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A Atividade Financeira do Estado está diretamente


CONTEÚDO MONETÁRIO associada à captação e utilização de dinheiro. Nada
além disso engloba o seu escopo.

Além dessas características acima apontadas, é necessário observar que a


Atividade Financeira do Estado é composta por quatro elementos básicos:

ELEMENTOS DA ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

Obtenção de recursos financeiros para financiar os


gastos estatais. É realizado por meio das receitas
originárias (que provêm da exploração próprio
RECEITA patrimônio do Estado, como os dividendos das
empresas estatais) ou das receitas derivadas (obtidas
pelo Estado mediante sua autoridade coercitiva, como
a cobrança de tributos).

É meio de financiamento para o Estado. Contudo, os


recursos obtidos deverão ser devolvidos, acrescidos de
CRÉDITO PÚBLICO juros e encargos correspondentes. Assim, a captação
desses recursos gera uma obrigação, que é
denominada endividamento público.

Consiste na aplicação de quantia em dinheiro, feita


por autoridade ou agente público competente,
DESPESAS PÚBLICAS
mediante autorização legislativa, para execução de fim
a cargo do governo (Aliomar Baleeiro).

É o ato pelo qual o Poder Executivo prevê e o Poder


Legislativo autoriza, por certo período de tempo, a
execução das despesas destinadas ao funcionamento
ORÇAMENTO PÚBLICO
dos serviços públicos e outros fins adotados pela
política econômica ou geral do País, assim como a
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arrecadação das receitas já criadas em lei.


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Em resumo, se pode afirmar que o Direito Financeiro tem por objetivo disciplinar
a Atividade Financeira do Estado e, assim, estabelecer regras relativas aos quatro
elementos dessa atividade: (I) o orçamento público, (II) a receita pública, (III) o crédito
público e (IV) a despesa pública. Disso decorre que a compreensão integral de tal ramo
do direito apenas é possível pela análise minuciosa de cada um desses elementos.

Observe, ainda, que embora carregue o termo “financeiro” em seu nome, o


Sistema Financeiro Nacional não faz parte da Atividade Financeiro do Estado e,
portanto, não é objeto de estudos do Direito Financeiro.

Embora esses conceitos iniciais tenham por objetivo principal apenas introduzir
os temas fundamentais do Direito Financeiro, observe que eles também são cobrados
em prova:

COMO O ASSUNTO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS?

Na prova MÉTODO - Procurador Jurídico (Pref Diamantino)/2018, foi considerado


errado:
O Direito financeiro tem como objetivo regulamentar a atividade financeira do estado,
no que diz respeito a disciplina do Sistema Financeiro Nacional Orçamento Público,
Receita Pública, Despesa Pública, Crédito Público, Responsabilidade fiscal e Controle da
Execução orçamentária.

Comentário: Como sabemos, o Direito Financeiro é o ramo do Direito Público que


disciplina a Atividade Financeira do Estado. Assim, abrange a receita pública (obtenção
de recursos), o crédito público (criação de recursos), o orçamento público (gestão de
recursos) e a despesa pública (dispêndio de recursos). O Sistema Financeiro Nacional é
regulado pelo Direito Econômico, daí o erro da questão.

Como você já pode ter percebido, muito do conteúdo de Direito Financeiro se


confunde com Administrativo e Constitucional, é assim mesmo. Notar isso nos ajuda a
entender melhor como o Direito Financeiro acaba por “atravessar” toda a Administração
Pública e o Direito Público.
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NOÇÕES GERAIS DO DIREITO FINANCEIRO


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O conceito mais aceito (inclusive pelas bancas examinadoras) de Direito


Financeiro nos é dado pelo doutrinador Ricardo Lobo Torres, vale a leitura atenta: “o
conjunto de normas e princípios que regulam a atividade financeira, incumbindo-lhe
disciplinar a constituição e a gestão da fazenda pública, estabelecendo as regras e os
procedimentos para a obtenção da receita pública e a realização dos gastos necessários
à consecução dos objetivos do Estado.”

Também é importante conhecer a conceituação de Harrison Leite: “o Direito


Financeiro consiste no ramo do direito público que estuda as finanças do Estado em
sua estreita relação com a sua atividade financeira”.

No mais, o Direito Financeiro tem estreita relação, mas não se confunde, com a
ciência das finanças. Esta consiste na atividade pré-normativa, que alcança os âmbitos
econômico, social, político e/ou estatístico, servindo-lhe de norte no sentido de
estabelecer as regras que regerão a Atividade Financeira do Estado. Ou seja, o
desenvolvimento das normas do Direito Financeiro está fundamentado também na
ciência das finanças, que oferece o caráter informativo, teórico e especulativo daquela.

Desse modo, enquanto a ciência das finanças se ocupa com o estudo da


atividade financeira do Estado em seu sentido teórico e especulativo, o direito
financeiro estuda seu aspecto jurídico.

COMO O ASSUNTO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS?

Na prova MÉTODO - Advogado (CM Nortelândia)/2019, foi considerado errado:


Direito Financeiro e Ciências das Finanças se confundem enquanto ciências do direito.

Comentário: a assertiva está errada, enquanto a ciência das finanças se preocupa com
o estudo da atividade financeira do Estado em seu sentido teórico e especulativo, o
direito financeiro estuda seu aspecto jurídico. Por exemplo, no momento da
elaboração do orçamento público, a ciência das finanças oferece auxílio ao ente político,
fornecendo-lhe dados e os meios para que o legislador escolha a decisão política
acertada.
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Embora possa parecer corriqueiro a um primeiro olhar, também é relevante


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deixar bem clara a distinção entre Direito Financeiro e Direito Tributário. Enquanto
aquele ramo estuda os quatro elementos acima apontados, o Direito Tributário
preocupa-se apenas com uma parte desta receita, qual seja, a receita tributária, o que
demonstra a maior amplitude do direito financeiro.

COMO O ASSUNTO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS?

Na prova CEBRASPE (CESPE) - Analista de Controle Externo (TCE-RJ)/Controle


Externo/Direito/2021, foi considerado errado:
O direito financeiro compreende a despesa, a dívida e o orçamento públicos, mas não a
receita pública, que é objeto do direito tributário.

Comentário: Não se confunda! Os tributos realmente são receitas públicas e são


estudados por um ramo específico do Direito, o Direito Tributário. No entanto, a
regulamentação geral das receitas é dada pelo Direito Financeiro, sendo um de seus
objetos de estudo. Inclusive, teremos uma aula intera só para tratar das receitas
públicas.

Além disso, o próprio art. 24, I da Constituição Federal, ao afirmar que "compete
à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito
tributário, financeiro (...)" separou os ramos. Daí que, didaticamente, é importante o
estudo distinto desses ramos.

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal


legislar concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e
urbanístico;
II - orçamento;
(...)

Mesmo com essa previsão no art. 24 da CF/88, vale ressaltar que a distinção
doutrinária entre o Direito Financeiro e o Direito Tributário não tem suporte
constitucional.
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A Constituição criou um sistema em que esses dois ramos se comunicam com


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total fluidez, tendo em vista que diversas normas constitucionais determinam o destino
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da receita dos tributos, vinculando-os a um fim suportado constitucionalmente.

COMO O ASSUNTO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS?

Na prova MÉTODO - Advogado (CM Nortelândia)/2019, foi considerado correto:


A distinção doutrinária entre o direito financeiro e o direito tributário não possui
qualquer suporte constitucional.

DISTINÇÃO ENTRE OS RAMOS DE ESTUDO


Ramo do direito público que estuda as finanças do

DIREITO FINANCEIRO Estado em sua estreita relação com a sua atividade


financeira. Focando, essencialmente, em: (I)
o orçamento público, (II) a receita pública, (III) o crédito
público e (IV) a despesa pública.

Estuda os fenômenos financeiros sob os prismas

CIÊNCIA DAS FINANÇAS econômico, social, político ou estatístico. Serve de


fonte material para o Direito Financeiro.

Ramo do direito público que rege as relações entre o

DIREITO TRIBUTÁRIO Estado (fisco) e o contribuinte. Preocupa-se apenas


com uma parte da receita pública, qual seja, a receita
tributária (receita derivada).

O ASSUNTO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS?

Na prova VUNESP - Advogado (CM Piracicaba)/2019, foi considerado correto:


O Direito Financeiro consiste num sub-ramo do Direito Público que estuda a atividade
financeira do Estado sob o ponto de vista jurídico, disciplinando normativamente toda
a atividade financeira do Estado, compreendendo todos os aspectos em que se
desdobra.

PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO FINANCEIRO


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Não há no texto constitucional uma descrição completa dos princípios do Direito


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Financeiro. Portanto, a os princípios desta disciplina são elaborados pela doutrina, tendo
algumas divergências entre uma obra e outra.

Para facilitar o seu estudo, separei aqui os princípios mais relevantes para o
Direito Financeiro como um todo, aqueles que são pertinentes à matéria orçamentária
trataremos apenas na aula do referido assunto.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

O princípio da legalidade é decorrência direta do Estado Democrático de Direito,


pois evidencia o dever de o Estado apenas exigir ações dos particulares diante da
aprovação, via processo democrático e representativo, de leis em sentido amplo.

Especificamente para o Direito Financeiro, o princípio da legalidade pode ser


visto tanto do ângulo da realização de despesas públicas quanto na aprovação do
orçamento (lembrando que todo o orçamento se dá mediante leis, como veremos na
aula especifica).

É essencial observar que o gasto de dinheiro público somente é possível diante


de prévia autorização legislativa. Referida autorização pode se dar seja pela própria lei
orçamentária, seja pela abertura de créditos adicionais – que nada mais são que
autorizações de despesas –, seja, por fim, pela realização de operações de crédito, que
resultam em endividamento.

O art. 167 da Constituição Federal apresenta as balizas gerais do princípio da


legalidade para o Direito Financeiro, leia atentamente:

Art. 167. São vedados:


I - o início de programas ou projetos não incluídos na lei
orçamentária anual;
II - a realização de despesas ou a assunção de obrigações
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diretas que excedam os créditos orçamentários ou


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adicionais;
III - a realização de operações de créditos que excedam o
montante das despesas de capital, ressalvadas as
autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais
com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo
por maioria absoluta;
(...)
V - a abertura de crédito suplementar ou especial sem
prévia autorização legislativa e sem indicação dos recursos
correspondentes;
VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência de
recursos de uma categoria de programação para outra ou
de um órgão para outro, sem prévia autorização legislativa;
VII - a concessão ou utilização de créditos ilimitados;
VIII - a utilização, sem autorização legislativa específica, de
recursos dos orçamentos fiscal e da seguridade social para
suprir necessidade ou cobrir déficit de empresas, fundações
e fundos, inclusive dos mencionados no art. 165, § 5º;

É bom deixar claro que há uma exceção ao princípio da legalidade. É o caso da


realização de despesa sem a respectiva autorização proveniente do Poder Legislativo:
essas hipóteses limitam-se à abertura de créditos adicionais extraordinários, via
medida provisória ou decreto, mas somente nos casos de guerra, comoção interna ou
calamidade pública, nos termos do artigo 167, § 3º, da Constituição.

Art. 167 (...)


§ 3º A abertura de crédito extraordinário somente será
admitida para atender a despesas imprevisíveis e urgentes,
como as decorrentes de guerra, comoção interna ou
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calamidade pública, observado o disposto no art. 62.


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Feita a ressalva desta exceção, deve ficar claro que as demais normas de Direito
Financeiro, como o orçamento público, as normas relativas às metas e diretrizes da
Administração, bem como à distribuição de receitas e despesas, serão objeto de
aprovação pelo Poder Legislativo.

Além do já mencionado art. 163, a exigência de lei para a aprovação do


orçamento decorre de mais dois dispositivos constitucionais, art. 48, II, e art. 165:

Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do


Presidente da República, não exigida esta para o
especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as
matérias de competência da União, especialmente sobre:
(...)
II - plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento
anual, operações de crédito, dívida pública e emissões de
curso forçado;

Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo


estabelecerão:
I - o plano plurianual;
II - as diretrizes orçamentárias;
III - os orçamentos anuais.

PRINCÍPIO DA ECONOMICIDADE

O princípio da economicidade está previsto no caput do artigo 70 da CF/88 e


informa os critérios de fiscalização das contas da União e órgãos da administração direta
e indireta.

Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária,


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operacional e patrimonial da União e das entidades da


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administração direta e indireta, quanto à legalidade,


legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e
renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso
Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de
controle interno de cada Poder.

Trata-se de exigência relativa à eficiência, do ponto de vista econômico, do gasto


público: com o mínimo de recursos possíveis, deve-se atingir o máximo de satisfação das
necessidades públicas.

PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA

O princípio da transparência determina que todo o ciclo de arrecadação das


receitas e realização de despesa deve estar submetido ao controle dos órgãos
constitucionalmente competentes e também dos próprios cidadãos.

Com efeito, a CF/88 estabelece algumas regras de transparência:

Art. 31 (...)
§ 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta
dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte,
para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a
legitimidade, nos termos da lei.

Art. 162. A União, os Estados, o Distrito Federal e os


Municípios divulgarão, até o último dia do mês
subsequente ao da arrecadação, os montantes de cada um
dos tributos arrecadados, os recursos recebidos, os valores
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de origem tributária entregues e a entregar e a expressão


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numérica dos critérios de rateio.


Parágrafo único. Os dados divulgados pela União serão
discriminados por Estado e por Município; os dos Estados,
por Município.

Art. 165. (...)


§ 3º O Poder Executivo publicará, até trinta dias após o
encerramento de cada bimestre, relatório resumido da
execução orçamentária.

O princípio da transparência é um dos pilares que sustenta a Lei de


Responsabilidade Fiscal – LRF.

Com efeito, a LRF, em seus artigos 48, 48-A e 49, estabelece instrumentos pelos
quais os cidadãos poderão exercer o controle das contas públicas, e tal é possibilitado
pelas vias da transparência.

Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão


fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em
meios eletrônicos de acesso público: os planos,
orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as
prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o
Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o
Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas
desses documentos.
§ 1º A transparência será assegurada também mediante:
I – incentivo à participação popular e realização de
audiências públicas, durante os processos de elaboração e
discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e
orçamentos;
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II - liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento


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da sociedade, em tempo real, de informações


pormenorizadas sobre a execução orçamentária e
financeira, em meios eletrônicos de acesso público; e
III – adoção de sistema integrado de administração
financeira e controle, que atenda a padrão mínimo de
qualidade estabelecido pelo Poder Executivo da União e ao
disposto no art. 48-A.
§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
disponibilizarão suas informações e dados contábeis,
orçamentários e fiscais conforme periodicidade, formato e
sistema estabelecidos pelo órgão central de contabilidade
da União, os quais deverão ser divulgados em meio
eletrônico de amplo acesso público.
§ 3º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
encaminharão ao Ministério da Fazenda, nos termos e na
periodicidade a serem definidos em instrução específica
deste órgão, as informações necessárias para a constituição
do registro eletrônico centralizado e atualizado das dívidas
públicas interna e externa, de que trata o § 4º do art. 32.
§ 4º A inobservância do disposto nos §§ 2º e 3º ensejará as
penalidades previstas no § 2o do art. 51.
§ 5º Nos casos de envio conforme disposto no § 2º, para
todos os efeitos, a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios cumprem o dever de ampla divulgação a que se
refere o caput.
§ 6º Todos os Poderes e órgãos referidos no art. 20,
incluídos autarquias, fundações públicas, empresas estatais
dependentes e fundos, do ente da Federação devem utilizar
sistemas únicos de execução orçamentária e financeira,
mantidos e gerenciados pelo Poder Executivo, resguardada
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a autonomia.
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Art. 48-A. Para os fins a que se refere o inciso II do parágrafo


único do art. 48, os entes da Federação disponibilizarão a
qualquer pessoa física ou jurídica o acesso a informações
referentes a:
I – quanto à despesa: todos os atos praticados pelas
unidades gestoras no decorrer da execução da despesa, no
momento de sua realização, com a disponibilização mínima
dos dados referentes ao número do correspondente
processo, ao bem fornecido ou ao serviço prestado, à
pessoa física ou jurídica beneficiária do pagamento e,
quando for o caso, ao procedimento licitatório realizado;
II – quanto à receita: o lançamento e o recebimento de toda
a receita das unidades gestoras, inclusive referente a
recursos extraordinários.

Como ensina a professora Tathiane Piscitelli, o artigo 48 da LRF assegura a


transparência de dois modos diversos. Em primeiro lugar, nos termos da previsão
do caput, (i) pela disponibilização, ao público, em meios eletrônicos, das versões
completa e simplificada das leis orçamentárias, (ii) bem como das prestações de
contas e relatórios de execução orçamentária e gestão fiscal.

Trata-se de dar acesso aos cidadãos aos documentos que embasam a realização
de despesas públicas e, assim, possibilidade de controle dos gastos.

Resumindo, por força do princípio da transparência, a todo e qualquer ato que


importe em gastos ou recebimento de receitas deverá ser dado publicidade.

O art. 49, por sua vez, determina a disponibilização das contas do Chefe do Poder
Executivo por todo o exercício financeiro. Essas contas ficarão à disposição dos cidadãos
e instituições da sociedade, para consulta, no Poder Legislativo respectivo e no órgão
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técnico responsável pela sua elaboração.


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Art. 49. As contas apresentadas pelo Chefe do Poder


Executivo ficarão disponíveis, durante todo o exercício, no
respectivo Poder Legislativo e no órgão técnico responsável
pela sua elaboração, para consulta e apreciação pelos
cidadãos e instituições da sociedade.
Parágrafo único. A prestação de contas da União conterá
demonstrativos do Tesouro Nacional e das agências
financeiras oficiais de fomento, incluído o Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social, especificando os
empréstimos e financiamentos concedidos com recursos
oriundos dos orçamentos fiscal e da seguridade social e, no
caso das agências financeiras, avaliação circunstanciada do
impacto fiscal de suas atividades no exercício.

Ainda quanto ao princípio da transparência, é bom lembrar que a Lei de Acesso


á informação (Lei 12.527/11) permite que o cidadão requisite aos poderes públicos
informações de seu interesse particular a respeito da política de gastos públicos, sem
apresentar justificativa.

Esta Lei abrange os órgãos públicos dos três poderes nas esferas federal, estadual
e municipal, incluindo Tribunal de Contas e Ministério Público. No que couber, também
serão abrangidas as entidades privadas sem fins lucrativos que recebam recursos
públicos.

Destaco que, em julgado imprescindível para as provas de advocacia pública, o


STF definiu que é legítima a publicação dos nomes dos seus servidores e do valor dos
salários. Assim, é legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela
Administração Pública, dos nomes de seus servidores e do valor dos correspondentes
vencimentos e vantagens pecuniárias (STF. Plenário. ARE 652777/SP, Rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 23/4/2015 - repercussão geral).
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PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE FISCAL

A responsabilidade na gestão fiscal (uso do dinheiro público) é um princípio que


permeia toda a Lei de Responsabilidade Fiscal. Sua melhor definição está no art. 1º, § 1º
da LRF:

Art. 1º (...)
§ 1º A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação
planejada e transparente, em que se previnem riscos e
corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas
públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados
entre receitas e despesas e a obediência a limites e
condições no que tange a renúncia de receita, geração de
despesas com pessoal, da seguridade social e outras,
dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito,
inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia
e inscrição em Restos a Pagar.

Pela diversidade dos institutos citados no dispositivo legal já fica claro como a
responsabilidade fiscal é princípio transversal que atinge os mais diversos temas do
Direito Financeiro.

Interessante notar que a emenda Constitucional 109/21 (da qual ainda


trataremos muito nas próximas aulas) foi elaborada para que houvesse maior
responsabilidade fiscal por parte dos gestores públicos, veja a redação do art. 164-A:

Art. 164-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os


Municípios devem conduzir suas políticas fiscais de forma a
manter a dívida pública em níveis sustentáveis, na forma
da lei complementar referida no inciso VIII do caput do art.
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163 desta Constituição.


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Parágrafo único. A elaboração e a execução de planos e


orçamentos devem refletir a compatibilidade dos
indicadores fiscais com a sustentabilidade da dívida.

Há diversos outros princípios importantes para o Direito Financeiro, contudo,


estes aqui apresentados são os que informam os diversos ramos da disciplina. Os demais
(especialmente aqueles inerentes ao sistema orçamentário) serão abordados em suas
respectivas aulas.

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

Competência legislativa é a aptidão dada pela Constituição para que os entes


políticos possam editar normas primárias de acordo com o procedimento legislativo
previsto.

O Direito Financeiro está dentro da competência concorrente da União, dos


Estados e do Distrito Federal, conforme o já citado art. 24, I, da CF.

É valido relembrar os arts. 24 e 30 da CF/88:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal


legislar concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e
urbanístico;
II - orçamento;
(...)
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência
da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas
gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.
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§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados


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exercerão a competência legislativa plena, para atender a


suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais
suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que
couber;
(...)

Nota-se do § 1ª do art. 24 que a competência da União limitar-se a estabelecer


normas gerais. Contudo, conforme alerta Harrison Leite: “em diversos momentos,
alega-se que a União, no intuito de legislar as normas gerais, acaba por adentrar em
campo específico dos demais entes da federação, o que não teria permissão, por força
do artigo citado. Tal se deu, por exemplo, em relação à LRF (LC 101/00), quando diversas
vozes ecoaram afirmando que alguns pontos da lei foram por demais específicos,
argumento este que não logrou êxito na esfera judicial”.

O § 2º, por sua vez, determina que a competência da União para legislar sobre
normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. Ou seja, respeitadas
as normas gerais da União, os Estados e o Distrito Federal podem estabelecer normas
específicas sobre o direito financeiro.

Quando não houver normas gerais da União, o § 3º afirma que os Estados e o


Distrito Federal exercerão a competência legislativa plena. No entanto, uma vez
exercida essa competência, a superveniência de lei federal tratando das normas gerais
suspenderá a eficácia da lei estadual ou distrital no que lhe for contrária (art. 24, § 4° da
CF).
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Note que o § 4º fala em suspensão e não de revogação, portanto, se houver


alteração da lei federal que elimine o conflito, o dispositivo da lei estadual ou distrital
voltará a ter eficácia. Esse tema é clássico em provas de concursos.

COMO O ASSUNTO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS?

Na prova CEBRASPE (CESPE) – Procurador PGDF/2013, foi considerado errado:


O DF tem competência exclusiva para dispor sobre normas gerais de direito financeiro
apenas por lei complementar distrital.

Comentário: A competência para dispor sobre normas gerais de direito financeiro é da


União. Trata-se de competência concorrente, ou seja, os outros entes também podem
legislar sobre o assunto de forma suplementar, mas quem faz as normas gerais é
somente à União (CF/88, art. 24, I e §§ 1º a 4º).

Na prova CEBRASPE (CESPE) – Procurador do Estado PGE/BA/2014, foi considerado


errado:
Os estados podem legislar sobre direito financeiro e, sempre que o fizerem, estarão
revogando qualquer norma preexistente, ainda que editada pela União.

Comentário: A CF/88 não prevê qualquer forma de prevalência da legislação estadual


sobre a federal em matéria financeira.
Veja, nenhum ente federativo tem o poder de revogar normas dos demais, isso criaria
um indisfarçável desequilíbrio federativo. O que a CF/88 prevê é, tão somente, a
suspensão da norma estadual pela norma geral federal, conforme os já citados §§ 3º e
4º.

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA MUNICIPAL EM


DIREITO FINANCEIRO

Questão que ainda causa bastante polêmica na doutrina é a (in)competência dos


municípios para legislar concorrentemente sobre matéria de Direito Financeiro.

• 1ª corrente: aponta para a impossibilidade de os municípios legislarem


concorrentemente em matéria financeira, apresenta três fundamentos:
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a) - pela interpretação literal do art. 24, I, os municípios não possuem


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competência concorrente para legislar sobre direito financeiro;


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b) - em direito financeiro, bem como nos demais ramos versados no art.


24 da CF, a competência municipal não é autônoma. Somente pode ser
exercida se houver sido editada uma prévia lei federal ou estadual, que
então será suplementada.

c) - a expressão ''no que couber", contida no inciso II do art. 30 da CF, leva


à conclusão de que há casos em que cabe o exercício de competência
suplementar pelos Municípios e outros em que não cabe o exercício de
Competência suplementar. E o primeiro requisito para o exercício dessa
competência é a incidência de interesse local, conforme o art. 30, I da CF.

Dessa forma, embora os municípios possam legislar em Direito Financeiro, seria


incorreto afirma que eles detêm competência concorrente, havendo tão somente
competência suplementar em caso de interesse local.

• 2ª corrente: afirma que a competência concorrente dos municípios nessa


seara, sob o auspício de que o art. 30, II, da CF os autoriza a legislarem de modo
suplementar à legislação federal e estadual, no que couber. Além disso, afirma
que o Executivo e o Legislativo Municipal elaboraram e aprovam suas leis
orçamentárias, portanto, legislam em matéria de Direito Financeiro.

Embora a primeira corrente seja atualmente majoritária, a banca CESPE,


aparentemente, adota a segunda corrente:
COMO O ASSUNTO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS?

Na prova CEBRASPE (CESPE) – Procurador Federal/2010, foi considerado errado:


Os municípios não podem legislar sobre normas de direito financeiro concorrentemente
com a União.

Na prova CEBRASPE (CESPE) – Procurador do Estado PGE/BA/2014, foi considerado


correto:
De acordo com a CF, os municípios podem legislar sobre direito financeiro, de forma
concorrente com os demais entes da Federação.
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FONTES FORMAIS DO DIREITO FINANCEIRO

CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

O Direito Financeiro é objeto de diversos dispositivos constitucionais, destacam-


se os seguintes blocos: a) o subsistema de repartição de receitas tributárias (arts. 157 a
162); b) o subsistema de empréstimos públicos (art. 163); c) o subsistema monetário
(art. 164); d) o subsistema dos orçamentos (art. 165 a 169) e e) o subsistema de
fiscalização contábil, financeira e orçamentária (arts. 70 a 75).
Assim, podemos dizer que praticamente todos os institutos do Direito Financeiro
têm fundamento na Constituição, especialmente as leis orçamentárias, cujas regras
básicas estão todas estabelecida na CF/88 e são objeto de constantes alterações por
emendas – a exemplo da Emenda Constitucional 109/21.

LEIS COMPLEMENTARES (LRF E LEI 4.320/64)

Inicialmente, convém lembrar o disposto no RE 377457/PR, no qual ficou


estabelecido que não existe hierarquia entre leis complementares e ordinárias, mas
apenas uma diferença de distribuição material entre ambas as espécies legais.

A CF/88 determina em quais hipóteses a matéria deve ser tratada através de lei
complementar. Lembre-se que, quando a CF é silente, o tema deve ser tratado por lei
ordinária. A lei complementar só é necessária quando expressamente determinado no
texto constitucional.

As leis complementares têm elevada importância no Direito Financeiro e estão


delimitadas nos arts. 161, 163 e 165, § 9°, ambos da CF/88, é essencial realizar a leitura
atenta destes dispositivos constitucionais:
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Art. 161. Cabe à lei complementar:


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I - definir valor adicionado para fins do disposto no art. 158,


parágrafo único, I;
II - estabelecer normas sobre a entrega dos recursos de que
trata o art. 159, especialmente sobre os critérios de rateio
dos fundos previstos em seu inciso I, objetivando promover
o equilíbrio sócio-econômico entre Estados e entre
Municípios;
III - dispor sobre o acompanhamento, pelos beneficiários,
do cálculo das quotas e da liberação das participações
previstas nos arts. 157, 158 e 159.

Art. 163. Lei complementar disporá sobre:


I - finanças públicas;
II - dívida pública externa e interna, incluída a das
autarquias, fundações e demais entidades controladas pelo
Poder Público;
III - concessão de garantias pelas entidades públicas;
IV - emissão e resgate de títulos da dívida pública;
V - fiscalização financeira da administração pública direta e
indireta;
VI - operações de câmbio realizadas por órgãos e entidades
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
VII - compatibilização das funções das instituições oficiais
de crédito da União, resguardadas as características e
condições operacionais plenas das voltadas ao
desenvolvimento regional.
VIII - sustentabilidade da dívida, especificando:
a) indicadores de sua apuração;
b) níveis de compatibilidade dos resultados fiscais com a
trajetória da dívida;
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c) trajetória de convergência do montante da dívida com os


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limites definidos em legislação;


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d) medidas de ajuste, suspensões e vedações;


e) planejamento de alienação de ativos com vistas à
redução do montante da dívida. Parágrafo único. A lei
complementar de que trata o inciso VIII do caput deste
artigo pode autorizar a aplicação das vedações previstas no
art. 167-A desta Constituição.

Art. 165. (...)


§ 9º Cabe à lei complementar:
I - dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos,
a elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de
diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual;
II - estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial
da administração direta e indireta bem como condições
para a instituição e funcionamento de fundos.
III - dispor sobre critérios para a execução equitativa, além
de procedimentos que serão adotados quando houver
impedimentos legais e técnicos, cumprimento de restos a
pagar e limitação das programações de caráter obrigatório,
para a realização do disposto no § 11 do art. 166.

Frequentemente é cobrado em provas de concurso quais são as matérias de


Direito Financeiro que devem ser objeto de leis complementares. Então, se você foi
displicente na leitura dos artigos acima citados, recomendo que volte e leia novamente.

Quanto ao art. 163, é interessante conhecer o julgado do STF segundo o qual a


matéria pode ser regulada por lei complementar de maneira fragmentada. Não há
necessidade de que uma única lei discipline todo o teor do art. 163.

Assim, considerando que a regulamentação do art. 163 da CF por lei


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complementar pode ser feita de forma fragmentada, rejeitou a argüição de


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inconstitucionalidade formal da lei, em sua totalidade, ao argumento de que o projeto


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teria que ter disciplinado por inteiro o art. 163 da CF (STF. ADInMC 2.238-DF, rel. Min.
Ilmar Galvão, 28.9.2000).

No mais, identificar o conteúdo que deve ser regido por lei complementar é tema
de suma importância, uma vez que a ampla maioria das questões cobram apenas
conhecimento do conteúdo adstrito à lei complementar, de modo que, por exclusão, os
demais temas podem ser regidos por lei ordinária.

Dentre as leis complementares vigentes, em matéria financeira, duas destacam-


se: a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), e a Lei 4.320/64, que trata de normas gerais
em matéria de direito financeiro. Esta última, embora ordinária na sua forma, tornou-
se complementar por veicular matéria hoje adstrita à lei complementar (ADI 1726-
STF).

Assim, a Lei Federal 4.320/64 é materialmente uma lei complementar e possui


abrangência nacional, aplicando-se à União, aos estados, ao DF e aos municípios.

A LRF também possui abrangência nacional, vinculando a Administração direta e


parte da Administração indireta, veja seu art. 1°, §§ 2° e 3°:

Art. 1º (...)
§ 2º As disposições desta Lei Complementar obrigam a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
3º Nas referências:
I - à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, estão compreendidos:
a) o Poder Executivo, o Poder Legislativo, neste abrangidos
os Tribunais de Contas, o Poder Judiciário e o Ministério
Público;
b) as respectivas administrações diretas, fundos,
autarquias, fundações e empresas estatais dependentes;
II - a Estados entende-se considerado o Distrito Federal;
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III - a Tribunais de Contas estão incluídos: Tribunal de


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Contas da União, Tribunal de Contas do Estado e, quando


houver, Tribunal de Contas dos Municípios e Tribunal de
Contas do Município.

Portanto, no âmbito de cada ente federado, a LRF alcança:

(a) o Poder Legislativo, incluindo o Tribunal de Contas;

(b) o Poder Judiciário;

(c) o Ministério Público;

(d) no Poder Executivo, a Administração Direta; e

(e) as Fundações, Autarquias e Empresas Estatais Dependentes.

Muita atenção, não são todas as empresas estatais que se submetem às regras
da LRF, mas tão somente aquelas consideradas dependentes, entendidas estas como
"empresa controlada que receba do ente controlador recursos financeiros para
pagamento de despesas com pessoal ou de custeio em geral ou de capital, excluídos, no
último caso, aqueles provenientes de aumento de participação acionária" (art. 2°, inciso
III da LRF).

Vale citar o art. 2º para ressaltar as diferenças nos conceitos de empresas


dependentes e controladas:

Art. 2º Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se


como:
I - ente da Federação: a União, cada Estado, o Distrito
Federal e cada Município;
II - empresa controlada: sociedade cuja maioria do capital
social com direito a voto pertença, direta ou indiretamente,
a ente da Federação;
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III - empresa estatal dependente: empresa controlada que


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receba do ente controlador recursos financeiros para


pagamento de despesas com pessoal ou de custeio em
geral ou de capital, excluídos, no último caso, aqueles
provenientes de aumento de participação acionária.

LEIS ORDINÁRIAS

As leis ordinárias são comumente utilizadas em direito financeiro, destacando-


se: Lei do Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei
Orçamentária Anual (LOA).

Nesse ponto é muito importante se atentar para as hipóteses de lei


complementar (art. 165, § 9º, I) das hipóteses em que cabível lei ordinária (art. 165,
caput).

LEI COMPLEMENTAR LEI ORDINÁRIA

§ 9º Cabe à lei complementar: Art. 165. Leis de iniciativa do Poder

I - dispor sobre o exercício financeiro, a Executivo estabelecerão:


vigência, os prazos, a elaboração e a I - o plano plurianual;
organização do plano plurianual, da lei II - as diretrizes orçamentárias;
de diretrizes orçamentárias e da lei
III - os orçamentos anuais.
orçamentária anual;

Ou seja, as leis orçamentárias propriamente ditas (LOA, LDO e PPA) são objeto
de leis ordinárias.

Já a regulamentação quanto ao exercício financeiro, à vigência, aos prazos, à


elaboração e à organização das citadas leis deve ocorrer mediante legislação
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complementar.
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LEIS DELEGADAS

Sendo essas leis aquelas delegadas pelo Poder Legislativo ao Presidente da


República. A CF/88 proíbe a delegação de matéria orçamentária.

Assim, pela redação do art. 68, § 1°, inciso III, da CF, não serão objeto de
delegação os "planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos":

Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente


da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso
Nacional.
§ 1º Não serão objeto de delegação os atos de
competência exclusiva do Congresso Nacional, os de
competência privativa da Câmara dos Deputados ou do
Senado Federal, a matéria reservada à lei complementar,
nem a legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público,
a carreira e a garantia de seus membros;
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e
eleitorais;
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e
orçamentos.

Essa vedação, leva à conclusão de que as leis delegadas não são fontes comuns
no Direito Financeiro.

Como alerta Harrison Leite: “correto dizer que não são fontes relevantes do
Direito Financeiro, pois, além de não poderem versar sobre tema alusivo a lei
complementar, campo fértil em matéria financeira, também não podem dispor sobre
PPA, LDO e LOA. Essas leis não são objeto de delegação.”
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Contudo, não é correto afirma que o Direito Financeiro impede, por completo, a
adoção de leis delegadas. Em tese, desde que não se trate de matéria pertinente à lei
complementar e às leis orçamentárias (LOA, LDO e PPA), é possível que haja lei delegada
em matéria financeira.

MEDIDAS PROVISÓRIAS

Algo semelhante ocorre quando analisamos as medidas provisórias como fontes


do Direito Financeiro. Observe o art. 62, § 1º, da CF/88:

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da


República poderá adotar medidas provisórias, com força de
lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso
Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre
matéria:
I – relativa a:
(...)
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento
e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto
no art. 167, § 3º;
(...)
II – reservada a lei complementar.

Assim, as medidas provisórias em Direito Financeiro podem resumidas na


seguinte frase: Não cabe MP em matéria orçamentária, exceto para atender a
despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna
ou calamidade pública (crédito extraordinário) – art. 167, § 3º, CF/88.
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Art. 169 (...)


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§ 3º A abertura de crédito extraordinário somente será


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admitida para atender a despesas imprevisíveis e urgentes,


como as decorrentes de guerra, comoção interna ou
calamidade pública, observado o disposto no art. 62.

O assunto será abordado em mais detalhes quando dos estudos dos créditos
adicionais ao orçamento, de todo modo, é bom conhecer o importante julgado em que
o STF definiu que os requisitos de “guerra, comoção interna ou calamidade pública”
são mais rígidos que a simples “relevância e urgência” necessárias para as medidas
provisórias.

Na visão do STF, “ao contrário do que ocorre em relação aos requisitos de


relevância e urgência (artigo 62), que se submetem a uma ampla margem de
discricionariedade por parte do Presidente da República, os requisitos de
imprevisibilidade e urgência (artigo 167, § 3º) recebem densificação normativa da
Constituição. Os conteúdos semânticos das expressões ‘guerra’, ‘comoção interna’ e
‘calamidade pública’ constituem vetores para a interpretação/aplicação do artigo 167,
§ 3º, c/c o artigo 62, § 1º, inciso I, alínea ‘d’, da Constituição. ‘Guerra’, ‘comoção interna’
e ‘calamidade pública’ são conceitos que representam realidades ou situações fáticas
de extrema gravidade e de consequências imprevisíveis para a ordem pública e a paz
social, e que dessa forma requerem, com a devida urgência, a adoção de medidas
singulares e extraordinárias” (STF – ADI 4048 MC, Relator(a): Min. GILMAR MENDES,
Tribunal Pleno, julgado em 14/05/2008).

Portanto, para que haja medida provisória em Direito Financeiro é preciso que
seja caso de abertura de crédito extraordinário, sendo que estes somente podem existir
nos “casos de guerra, comoção interna ou calamidade pública”, não bastando a mera
“relevância e urgência”.

COMO O ASSUNTO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS?

Na prova Banca Própria – Procurador PGE/GO/2013, foi considerado correto:


Os créditos extraordinários podem ser abertos para atender a despesas imprevisíveis e
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urgentes, como as decorrentes de guerra, calamidade pública, comoção interna, por se


tratar de fatos que não permitem planejamento estatal prévio e exigem, em
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contrapartida, célere resposta do estado.


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Comentário: A afirmação está perfeita. De fato, crédito extraordinário atende a despesa


IMPREVISÍVEL E URGENTE, decorrente de guerra, calamidade pública ou comoção interna,
aberto por decreto ou Medida Provisória, e comunicado ao Poder Legislativo.

Bem, por hoje é só.

Esta foi apenas nossa primeira aula de Direito Financeiro, os temas aqui tratados
são relativamente secundários na disciplina. A partir da próxima aula trataremos
especificamente do orçamento público, o assunto principal da matéria e aquele que
você deve conhecer em mínimos detalhes.

Bons estudos!

Renério de Castro Júnior

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