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Profº Drª: Felipe Basso

Moeda
Importância da Moeda

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Importância da Moeda

 Para responder às perguntas sobre a natureza da moeda e sua finalidade, a


primeira coisa que temos de lembrar é que, do ponto de vista material, nossa
sociedade é inteiramente organizada pelas trocas e que as trocas são
intermediadas pela moeda.

 Uma economia simples, em que os agentes trocam entre si, diretamente, os bens
que produzem, é uma economia de escambo ou de troca pura. Não existem aí a
venda e a compra, que são relações de troca que necessariamente envolvem, em
uma das pontas, a moeda.

 A depender apenas do escambo, a existência de uma economia inteiramente


estruturada pelas trocas seria impossível. O que viabiliza tal tipo de organização
econômica é a existência de uma unidade de troca comum e de aceitação geral
denominada moeda. Tal elemento elimina a necessidade da coincidência de
desejos, permitindo a dissociação das trocas em duas operações: a venda e a
compra de mercadorias.
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Funções da Moeda

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Funções da Moeda

 Uma das principais funções da moeda é justamente a de ser meio de troca, ou,
em outras palavras, a de ser exatamente aquele elemento que viabiliza a
ocorrência de milhares de trocas a cada momento, porque intermedia o
movimento das mercadorias, permitindo que elas troquem de mãos.

 Em uma economia monetária, uma mercadoria A tem seu valor expresso não de
inúmeras formas, mas de uma única forma e, melhor ainda, a mercadoria que
está servindo para a expressão do valor de A é a mesma que está servindo para
expressar os valores de todas as demais. É nesse sentido que se diz que a moeda
é unidade de conta. Se um bem qualquer não for unidade de conta, ele poderá
ocasionalmente funcionar como meio de troca, mas não será moeda.

 Considerado todo o universo das mercadorias, as relações que os preços dos


diversos bens estabelecem entre si constituem aquilo que denominamos estrutura
de preços relativos.

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Funções da Moeda

 Se o preço de um bem ou de um grupo homogêneo de bens sobe (ou desce) em


relação aos preços dos outros bens, isso significa que a estrutura de preços
relativos da economia sofreu alteração. Entretanto, se os preços de todos os bens
sobem (ou descem) na mesma proporção, as relações existentes entre eles não se
modificam, ou seja, a estrutura de preços relativos permanece a mesma, e é a
unidade de conta que está sofrendo alteração em seu valor.

 A moeda permite-nos alocar nossas transações no tempo, de acordo com nossas


conveniências, e é nesse sentido que ela funciona como reserva de valor.

 É fácil, porém, perceber que não é só a moeda que pode desempenhar tal papel.
Qualquer bem que não se deteriore com o tempo pode ser mantido como reserva
de valor. Assim, uma casa, um terreno ou qualquer tipo de imóvel também pode
cumprir esse papel. No entanto, esses bens não são moeda porque não podem
desempenhar suas duas outras funções (meio de troca e unidade de conta).

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Funções da Moeda

 Outra forma de dizer a mesma coisa é dizer que esses bens não são líquidos, ao
passo que a moeda é o bem de maior liquidez existente na economia. Isso
significa que, apesar de funcionarem como reserva de valor, sua transformação
efetiva em dinheiro, ou seja, em poder de compra imediatamente disponível,
leva certo tempo (a venda de um imóvel pode levar meses) e, além disso, pode
impor perda de capital a seus detentores. Por exemplo, se o proprietário de um
imóvel, por alguma razão, tem pressa de transformá-lo em dinheiro, pode ter de
se sujeitar a vendê-lo por um preço abaixo do que conseguiria se tivesse tempo
para esperar um comprador que pagasse por ele um valor mais elevado, ou,
ainda, pode acontecer de esse proprietário ter de vender o imóvel em um
momento em que o mercado imobiliário esteja desaquecido e os preços, baixos.
Esse tipo de argumento, porém, implica considerar que, com o dinheiro, a perda
de capital nunca acontece, o que não é bem verdade.

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Funções da Moeda

 Evidentemente, o papel da moeda como reserva de valor pode ficar inteiramente


comprometido na presença de processos inflacionários crônicos, que
sistematicamente reduzem o valor da moeda. Nessas situações, utilizar a moeda
como reserva de valor implica necessariamente perda de valor, e qualquer um
percebe logo que não é vantajoso utilizá-la para esse fim. Nesses casos, o que
acaba ocorrendo é que os indivíduos procuram outros instrumentos para manter
o valor de sua riqueza e encontram disponíveis, além dos bens imóveis, já
citados, uma série de outros ativos denominados ativos financeiros, que podem
protegê-los da perda de valor imposta pela posse de moeda.

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Moeda Mercadoria, Papel-Moeda e Moeda Eletrônica

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Moeda Mercadoria, Papel-Moeda e Moeda Eletrônica

 As três funções da moeda aqui analisadas são condições necessárias para que
determinado bem ou ativo seja considerado moeda. Se uma delas falha, como a
de reserva de valor, sua manutenção como moeda começa logo a ser
questionada. Quando o processo de deterioração da moeda se intensifica, outras
funções também podem ser colocadas em xeque. Vivemos em nosso país, em
vários momentos de nossa história econômica recente, situações como essa. O
último desses momentos (e, nesse caso, ao menos em parte, intencionalmente
provocado pelas autoridades) foi o período de março a junho de 1994, em que a
moeda oficial do país, o cruzeiro real, funcionava apenas como meio de troca,
uma vez que perdera há tempos sua capacidade de funcionar como reserva de
valor, em função da elevada e persistente taxa de inflação, e seu papel como
unidade de conta era então desempenhado pela Unidade Real de Valor (URV).

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Moeda Mercadoria, Papel-Moeda e Moeda Eletrônica

 Consideradas as três funções da moeda, podemos então avaliar que tipo de bem
pode exercer esse papel. Como já comentamos, antes de nossa sociedade vir a
ser inteiramente organizada pelas trocas, ou, em outras palavras, antes que a
economia de mercado fosse dominante, as trocas existiam eventualmente e de
modo episódico. Nesses vários momentos, o papel da moeda foi desempenhado
pelos mais variados tipos de bem, como o sal, os animais, as conchas e os
metais. Na maior parte desses casos, porém, a única função que esses bens
desempenhavam era a de meio de troca. Eles não desempenhavam o papel de
unidade de conta porque, uma vez que as trocas eram eventuais, eles não
serviam como instrumentos de mensuração do valor de toda a riqueza material
produzida pela sociedade, e nem isso se fazia necessário. De outro lado, também
não desempenhavam o papel de reserva de valor, visto que a manutenção da
riqueza, bem como sua alocação, estava na dependência de outros critérios,
como poder, nobreza e hereditariedade.

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Moeda Mercadoria, Papel-Moeda e Moeda Eletrônica
 Em função de suas características materiais específicas, o ouro e a prata
transformaram-se em moeda, cunhados nas mais diferentes frações de valor, e
seu uso foi se difundindo e se intensificando pari passu ao processo histórico de
constituição da economia capitalista.

 Ao longo do processo histórico que transformou os metais preciosos,


particularmente o ouro, em moeda e que forjou o padrão por meio do qual os
preços passaram a ser expressos, cada fração de peso desses metais passou a
representar um valor, que ganhou um nome próprio, convencionalmente
atribuído, grafado no metal cunhado. Enquanto o ouro e a prata funcionaram de
fato como moeda, tivemos aquilo que se chama de moeda mercadoria. Contudo,
com o passar do tempo, o valor que cada moeda representava foi se tornando
mais importante que a quantidade propriamente dita de metal que cada uma
delas continha. Na medida em que as moedas eram socialmente aceitas pelo
valor que diziam portar, não fazia muita diferença qual era a quantidade de ouro
que elas de fato carregavam. Isso permitiu um processo de dissociação entre o
valor e a matéria-prima na qual, em princípio, ele deveria estar associado.

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Moeda Mercadoria, Papel-Moeda e Moeda Eletrônica

 É esse mesmo tipo de processo que vai dar origem ao papel-moeda. Por questão
de segurança e por várias outras razões, muitas vezes os indivíduos, em vez de
carregarem ou manterem consigo as moedas, colocavam-nas sob a guarda de
alguém de sua confiança, ou seja, depositavam-nas em determinadas casas – que
existiam para esse fim e que mais tarde viriam a constituir os bancos – e
recebiam em troca um certificado de depósito, vale dizer, um papel que atestava
a existência efetiva da moeda na casa em questão.

 Previsivelmente, na medida em que representavam valor tanto quanto as


moedas, esses papéis foram sendo indistintamente aceitos e foram circulando de
modo cada vez mais intenso, até substituir de vez as moedas de ouro e prata.
Esses metais continuavam a funcionar como lastro, ou seja, como garantia do
valor efetivo dos tais papéis, mas não precisavam mais estar presentes nas trocas
cotidianas.

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Moeda Mercadoria, Papel-Moeda e Moeda Eletrônica

 Atualmente, o papel-moeda é a forma dominante de moeda, designação essa


utilizada também para as moedas metálicas; neste último caso, o metal está aí
presente tal como o papel, ou seja, apenas como material que carrega a forma de
moeda, e não pelo seu valor intrínseco, como ocorreu no início, quando os
metais preciosos foram socialmente eleitos para desempenhar o papel de moeda.
Dados sua história e o lastro que efetivamente a sustenta como moeda, qual seja,
a fidúcia – que significa simplesmente confiança, tratando-se, nesse caso, de
confiança social avalizada pelo governo do país –, o papel-moeda é também
conhecido como moeda fiduciária. O papel-moeda recebe ainda o nome de
moeda manual ou moeda corrente, para distingui-lo da moeda escritural,
denominação que se aplica aos depósitos à vista nos bancos comerciais, que,
junto com o papel-moeda, conformam o conjunto daquilo que denominamos
meios de pagamento.

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Moeda Mercadoria, Papel-Moeda e Moeda Eletrônica

 Antes, porém, de finalizar este capítulo, cabem algumas poucas informações e


reflexões sobre algo cada vez mais presente em nosso cotidiano e que aponta
para a existência e a efetivação das trocas, mesmo na ausência da moeda física.
Como sabemos todos, existe hoje a possibilidade de comprarmos e pagarmos, o
que quer que seja, ainda que seja um cafezinho no bar da esquina, sem termos
uma moeda sequer na carteira (pagar um cafezinho com um cheque, por conta de
seu valor muito baixo, seria, de todo modo, bastante estranho). Estamos falando,
é claro, da existência dos cartões, de débito ou de crédito, que a maior parte das
pessoas carrega consigo na sociedade moderna. Associados à enorme difusão
dessas possibilidades de pagamento eletrônico, existem elementos mais
complexos (e mais controvertidos), como as moedas virtuais, ou criptomoedas,
dentre as quais o bitcoin é a mais antiga e, por isso, talvez, a mais conhecida.

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Referências
PAULANI, Leda Maria. A nova contabilidade social uma introdução à macroeconomia. 4.
São Paulo Saraiva 2013 1 recurso online ISBN 978850193840 (CAP 7)

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