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AULA 2

ANÁLISE DO MERCADO
FINANCEIRO NACIONAL
E INTERNACIONAL

Profº César Augusto França Fernandes


INTRODUÇÃO

Olá!
Após nosso encontro no qual focamos a teoria monetária, trataremos
nesta aula da moeda e o do controle monetário, que têm mais uma vez o
governo como gestor de todo o processo. Antes de qualquer coisa, é
importante relembrar que o mundo sempre girou em torno de um negócio
chamado “comércio”, e nos tempos medievais, a grande dificuldade era
encontrar uma moeda de troca que representasse e desse o real valor ao que
se estava adquirindo. Por exemplo: você estava precisando de feijão, mas só
tinha ovelhas para dar em troca de uma saca de feijão. Qual seria a quantidade
de ovelhas necessárias que representasse o real valor de uma saca de feijão?
Foi, portanto, a moeda, uma grande invenção da humanidade, pois veio
aquecer o comércio e assim remunerar, digamos assim, corretamente aquele
que pretendia se desfazer de um bem e adquirir outro. Dito isto e dando
continuidade ao nosso estudo e abordaremos “Moeda e Controle Monetário”,
dividido em outros cinco temas. Vejamos:

• Tema 1 – Conceitos e função da moeda;


• Tema 2 – Os agregados monetários no Brasil;
• Tema 3 – Mercado aberto ou open market;
• Tema 4 – Redesconto, compulsório e a Lei 14.185/2021;
• Tema 5 – Quantitative Easing (QE) ou Flexibilização Quantitativa.

Sucesso!

Moeda e controle monetário

Os cinco temas que trataremos na continuidade trazem no seu contexto


uma relevância importante em relação ao governo e à economia, somando aos
demais temas abordados anteriormente. Tenho certeza que com uma maior
compreensão dos aspectos da teoria monetária poderemos evoluir dentro de
um melhor entendimento sobre a importância das ações governamentais na
economia, visando construir uma sociedade mais justa e igualitária. Não pode
ocorrer bem-estar social quando uma parte da população morre de fome e a
outra morre de medo. Uma sociedade organizada e devidamente informada
são o ponto inicial para a construção de um país justo e isso passa

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necessariamente pelas carteiras das escolas, quer seja no ensino básico, quer
seja no ensino superior, no qual adquirimos o embasamento necessário para a
formação de opinião própria e independente.

Figura 1 – Controle monetário

Crédito: Stokkete/Shutterstock.

TEMA 1 – CONCEITO E FUNÇÃO DA MOEDA

O dinheiro tal qual conhecemos hoje teve sua origem no século VII a.C.,
na Lídia, atual Turquia, e era cunhado em ouro ou prata. Com o passar dos
tempos, ocorreu a substituição do ouro e da prata por metais menos nobres, e
a necessidade de guardar as moedas em segurança deu origem aos bancos.
Em um primeiro momento, os negociantes de ouro e prata, por disporem de
cofres para guardarem o produto do seu negócio, passaram a armazenar
também as riquezas de outras pessoas, em troca de um recibo que declarava o
montante sob sua responsabilidade. Esses recibos, no decorrer do tempo,
passaram a servir como meio de pagamento nas mais diversas transações,
pois proporcionavam maior segurança no transporte do que as moedas. O
processo seguinte e natural foi o surgimento das cédulas de “papel-moeda”. Os
primeiros bancos, reconhecidos oficialmente, tiveram sua origem em 1656 na

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Suécia, 1694 na Inglaterra e 1700 na França. Com a chegada da família
imperial portuguesa ao Brasil em maio de 1808, D. João VI, em 12 de outubro
do mesmo ano, determinava a criação do Banco do Brasil. No ano de 1817, o
Banco do Brasil realizou a primeira oferta pública de ações do mercado de
capitais brasileiro. Podemos classificar a vida econômica moderna em três
variáveis importantes: o capital, a especialização e a moeda. Sem a moeda,
estaríamos vivendo em uma economia de escambo, quando uma mercadoria
seria trocada por outra e teria que obrigatoriamente ocorrer uma coincidência
de necessidades. Vamos imaginar a seguinte situação: alguém dono de uma
olaria onde fabrica tijolos, porém faminto, teria que encontrar um agricultor que
tivesse alimentos e interesse em fazer a permuta por tijolos.
Podemos considerar a moeda uma das maiores invenções da
humanidade dada à facilidade que proporcionou nas transações monetárias.
Segundo Vasconcelos (2011, p. 299), moeda pode ser definida como um ativo
financeiro de aceitação geral, utilizado na troca de bens e serviços, que tem
poder liberatório (capacidade de pagamento) instantâneo.
A moeda tem na economia quatro funções básicas:

a) meio de troca;
b) reserva de valor;
c) unidade de conta e
d) padrão para pagamentos diferidos no tempo.

O Manual de Economia Equipe de Professores da USP (2013) assim


define cada função da moeda: como meio de troca ela facilita enormemente
os negócios. Para que seja aceita deve manter o seu poder de compra ao
longo do tempo e, também, ser facilmente reconhecida, divisível e
transportável. Como reserva de valor ela pode ser guardada para uso
posterior, já que representa liquidez imediata para quem a possui. Como
unidade de conta reduz sensivelmente o esforço de se conhecer todos os
preços relativos entre si, pois basta conhecê-los em relação à moeda, ou seja,
todos os bens e serviços são expressos em um mesmo denominador. Como
padrão para pagamentos diferidos no tempo, quer dizer, para pagamento
em diferentes períodos de tempo.
O preço de um bem é a expressão monetária do valor de troca desse
bem.

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Exemplo: se um quilo de açúcar vale monetariamente R$ 200,00 e uma
laranja R$ 50,00, um quilo de açúcar pode ser trocado por quatro laranjas.
Cada país adotou sua unidade monetária, por exemplo: o real, a libra, o dólar,
o euro, o peso etc.
Em julho de 1944, após a Segunda Guerra Mundial, a Conferência de
Bretton Woods definiu muitas das diretrizes a serem seguidas pela Economia
Mundial, sendo uma delas o padrão ouro-dólar. A lógica era que os países
fixariam suas moedas como equivalentes a uma quantia de dólar e este teria
lastro em ouro. Assim o governo americano garantiria a convertibilidade em
dólar-ouro, na proporção de 35 dólares para uma onça (31,1 g) de ouro e os
demais países asseguravam a convertibilidade de sua moeda para o dólar na
taxa de câmbio praticada, garantindo certa estabilidade à economia mundial
em tempos de inflação. Essa lógica prevaleceu até o governo de Richard Nixon
em 1971, quando este resolveu acabar com a paridade ouro-dólar e cada país
passou a garantir a liquidez de sua moeda. Na atualidade temos a moeda
fiduciária (de fidúcia, confiança) sem lastro, e sua aceitação é garantida por lei.
Essa mudança de padrão ouro para fiduciária deu à autoridade monetária mais
mobilidade em alterar a quantidade de moeda em circulação, tendo por base os
objetivos traçados de Política Monetária.

Saiba mais
Acesse o link a seguir e veja o vídeo que trata do surgimento da moeda
e suas curiosidades.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7Ohgvy2GFrw>.
Acesso em: 17 nov. 2021.

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Figura 2 – História da moeda

Crédito: Alex Bogatyrev/ Shutterstock.

TEMA 2 – OS AGREGADOS MONETÁRIOS NO BRASIL

Ao darmos início a este tema é importante ressaltar que dada a


quantidade de ativos existentes no mercado tipo bônus do Banco Central,
caderneta de poupança, certificados de depósitos bancários (CDB), certificados
de depósitos interbancários (CDI), letras de câmbio etc., não são considerados
moeda no sentido restrito da palavra, porém, apresentam algumas
características de moeda no seu sentido amplo, pois podemos transformá-los
em moeda. Segundo o Manual de Economia da USP (1998, p. 344), “Ao
classificar-se o total de moeda de um País utiliza-se o conceito de Agregado
Monetário ou Meios de Pagamento que pode ou não incluir as quase moedas”.
No caso, os ativos aqui citados.
Portanto, entendemos por Agregados Monetários a classificação feita
pelo Banco Central do Brasil, tendo por fundamentação a sua liquidez. O
agregado de maior liquidez é o papel-moeda, ou seja, o dinheiro em circulação
na economia, em que pese os outros agregados exercerem alguma função de
moeda, na maioria das situações, porém, em menor volume. Quando fazemos
referência à “Base Monetária”, estamos tratando da emissão primária da
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moeda e é mais abrangente que a moeda manuseada no conceito de meios de
pagamento, pois além de considerar o dinheiro em poder do público, também
considera as reservas existentes nos bancos comerciais. Os quatro grandes
tipos de Agregados Monetários, obedecendo a classificação estabelecida pelo
Banco Central do Brasil, são:

• M 1;
• M 2;
• M 3;
• M 4.

Essa sequência obedece ao grau de liquidez de cada uma, sendo a M1 a


de maior liquidez, são os meios de pagamento de liquidez imediata, também
chamados de moeda corrente, o dinheiro em poder das pessoas e empresas e
que não rendem juros. A M4 é a de menor liquidez. Dentro desta lógica, temos:
M1 = o dinheiro na mão do público em geral;
M2, M3, M4 = são os quase moeda, que se aplicados rendem juros.
Vamos entender o que representa cada uma.
- M1 = Papel-moeda em poder do público + Depósitos à vista nos Bancos
Também conhecida como base monetária, representa a soma de todo o
papel-moeda em poder do público e mais os depósitos à vista nos bancos
comerciais.
- M2 = M1 + Fundos do Mercado Monetário + Títulos Públicos + Privados
Podemos afirmar que é o conceito mais amplo de meios de pagamentos,
incluindo, além do M1, os Fundos do Mercado Monetário, os títulos do governo
no poder do público e exclui os que se encontram em poder de fundos de
investimentos e bancos, adicionado dos depósitos a prazo no sistema bancário,
como CDI, CDB.
- M3 = M2 + Depósitos de Poupança
Ao M3 somamos o M2, os depósitos em poupança.
- M4 = M2 + M3 + Títulos Privados
Incorporam-se aqui ao M4 os títulos públicos em poder dos bancos e
fundos de investimentos e alguns títulos privados como letras de câmbio,
hipotecárias, CDB e CDI.
Importante lembrar que, quando nos referimos a “Agregado Monetário”,
estamos tratando de ativos financeiros que classificamos de acordo com sua

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liquidez, e não de “Agregados Macroeconômicos”. Os Agregados Monetários
servem para medir a base monetária e os ativos de alta liquidez de uma
economia.

Saiba mais
São os Agregados Macroeconômicos: renda e produto, níveis de
preço, emprego e desemprego, estoque de moeda, taxa de juros, balança de
pagamentos e taxa de câmbio. As ações de Política Econômica buscarão a
melhor gestão desses agregados.

É importante destacar que os Agregados Monetários são muito utilizados


no Mercado de Capital e ratificamos que representam os ativos financeiros de
alta liquidez no mercado, podendo ser rapidamente convertidos em dinheiro.

TEMA 3 – MERCADO ABERTO OU OPEN MARKET

Quando falamos de Mercado Aberto estamos nos referindo à


negociação de títulos públicos, um dos instrumentos da Política Monetária. Os
títulos emitidos pela Secretaria do Tesouro Nacional são comercializados pelo
Banco Central do Brasil, e para tanto se vale de leilões formais e informais. É
por meio das negociações de compra ou venda desses títulos que as
autoridades monetárias administram a necessidade de reter ou expandir o
dinheiro em circulação. Vamos entender essa lógica.
Exemplo:
1) Vamos imaginar que o Banco Central precisa reduzir a taxa de
juros e aumentar a circulação de moeda.
Para alcançar esse objetivo, o Banco Central compra Títulos Públicos e
assim injeta dinheiro no mercado. Mais dinheiro na economia, dinheiro mais
barato, ou seja, juros menores, já que os juros representam o custo que
pagamos ao contrair um empréstimo.
2) Agora a necessidade do Banco Central de aumentar a taxa de
juros.
O Banco Central adota o procedimento contrário, ou seja, vende títulos
públicos, e ao ser remunerado pela venda, retira dinheiro que deveria ficar na
economia, circulando. A falta do dinheiro e a sua contínua procura faz os juros
subirem. Vamos entender como isso ocorre: o mercado financeiro tem a

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mesma quantidade de pessoas para atender em sua necessidade de recursos,
porém, menos recursos para emprestar, ou seja, antes tinha R$ 1.000,00, mas
agora só tem R$ 500,00, porém, o mercado quer emprestar e ter o retorno
como se tivesse ainda os R$ 1.000,00. Para essa vontade se concretizar só
resta uma alternativa, aumentar a taxa de juros, e é o que o Mercado
Financeiro faz.
O Título Público também tem a finalidade de captar recursos com o
objetivo de financiar a dívida pública e atividades do Governo Federal, como
saúde, infraestrutura, transportes etc.
Como já falamos anteriormente, os leilões dos Títulos Públicos são de
alçada do Banco Central, que credencia Instituições Financeiras, que o
mercado denomina de “Dealers” ou Líderes de Mercado, para que
desempenhem a função de leiloar os títulos. Esses leilões são denominados de
“Leilão Informal”, já que nem todas as Instituições são “Dealers”. Já nos
“Leilões Formais”, todas as Instituições Financeiras credenciadas podem
participar, porém, sempre sob o comando do Banco Central. Outra forma
disponibilizada pelo governo para aproximar as pessoas físicas ou jurídicas ou
não financeiras da compra de títulos públicos foi o Tesouro Direto. De sua casa
ou escritório, você pode, hoje, tornar-se um investidor e apostar na
rentabilidade dos títulos do Governo Federal.
Devemos entender que toda política expansionista visa à redução da
taxa básica de juros e, assim, reduzir os juros praticados pelo Mercado
Financeiro com expansão do crédito e a volta dos investimentos na produção e
geração de emprego. Ora, se a taxa de juros é o atrativo para se adquirir o
Título Público, ao reduzir essa taxa o Copom não tira esse atrativo? Com
certeza e esse é o objetivo, que as pessoas procurem resgatar o capital
investido, injetando mais dinheiro na economia. Caso o processo não ocorra
dentro dos prazos estabelecidos pelas autoridades monetárias, dispõem essas
autoridades de outro instrumento que poderá ser-lhes de grande utilidade para
alcançar o objetivo traçado. É o depósito compulsório, que veremos na
continuação.
Ao final deste tema, devemos ter entendido que o Banco Central
promove leilão de Títulos Públicos ou Open Market por três motivos. São eles:

1) Necessidade do Bacen incentivar ou restringir a economia;


2) Controlar a taxa Selic;
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3) O Governo Federal precisa de dinheiro emprestado para cobrir
necessidades de caixa ou financiar um projeto.

São as operações de Open Market um instrumento de Política


Monetária.
Os Títulos Públicos são ativos de renda fixa e uma ótima opção de
investimento.

Saiba mais
Acesse e saiba mais sobre o Mercado Aberto.
Disponível em: <https://empreenderdinheiro.com.br/blog/mercado-
aberto/>. Acesso em: 17 nov. 2021.

TEMA 4 – REDESCONTO, COMPULSÓRIO E A LEI 14.185/2021

Observamos neste título os dois mais conhecidos instrumentos de


Política Monetária, o Redesconto, o Compulsório e o mais novo membro da
família, criado pela Lei 14.185 de 2021, os Depósitos Voluntários Remunerados
no Banco Central. Vamos iniciar pelo Redesconto, uma das ferramentas mais
usadas na economia moderna.

4.1 O redesconto

O Banco Central, preocupado com a Liquidez do Mercado Financeiro,


disponibiliza às Instituições empréstimos, que os Bancos só recorrem quando
apresentam insuficiência de fluxo de caixa, portanto, quando o volume de
saques é maior do que a quantidade dos recursos depositados, o que pode
ocorrer motivado por uma corrida de pessoas a determinada Instituição para
sacar, ou quando do fechamento da Compensação de Cheques e Outros
Papéis. Para corrigir essa falta de dinheiro no caixa, dispõe o Banco de duas
opções: o redesconto de títulos ou empréstimo direto. Na função de banco dos
bancos, tem o Banco Central a obrigação de zelar pela liquidez do mercado
atuando de forma que a credibilidade do sistema não seja afetada, evitando
assim o chamado risco sistêmico. Se o Banco Central adota uma política liberal
de empréstimo a taxas reduzidas, podem os Bancos Comerciais adotarem a
mesma atitude com seus clientes, por outro lado, caso o Banco Central limite
quantitativamente os redescontos ou venha a elevar a taxa de juros, os Bancos

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Comerciais serão obrigados a adotarem a mesma linha, fazendo assim com
que o crédito bancário tenha um custo alto e seja de difícil acesso.
Quando o foco do Banco Central é reduzir o dinheiro em circulação, as
taxas de juros praticadas nesses empréstimos são bastante altas, fazendo com
que os bancos se sintam desestimulados a contratar o empréstimo. Para
manter seu caixa enquadrado e com liquidez, eles, os Bancos, reduzem
também seus empréstimos e aumentam a taxa de juros para os empréstimos
concedidos, o que provoca uma desaceleração da economia.
As operações de Redesconto podem ser:

1) Intradia: tem a finalidade de atender a necessidade de liquidez da


Instituição no decorrer do dia. É denominado de Redesconto a juros
zero.
2) De um dia útil: visa atender os casos de falta de liquidez decorrentes de
um eventual descasamento de curtíssimo prazo do fluxo de caixa do
Banco.
3) Até quinze dias útil: empréstimo para satisfazer a necessidade de
liquidez, cuja origem foi um descasamento de curto prazo e não
caracterizado como desequilíbrio estrutural, podendo ser recontratado
por um prazo máximo de quarenta e cinco (45) dias.
4) Até noventa dias corridos: esse tipo de empréstimo se destina a
viabilizar o ajuste patrimonial de Instituições Financeiras, que
apresentam desequilíbrio estrutural podendo ser recontratadas desde
que o prazo total não ultrapasse cento e oitenta (180) dias.

Todas as operações feitas pelo Banco Central são “compromissadas”.


Isso quer dizer que quem contrata a operação assume o compromisso de
liquidá-la, tão logo seja solicitado pelo Banco Central.

Saiba mais
Operação intradia
É aquela em que a compra e a revenda ocorrem no próprio dia, portanto,
a parte que contrata a operação no Banco Central assume o compromisso de
liquidar no mesmo dia, e o Banco Central só aceita como garantia títulos
públicos federais.

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4.2 O compulsório

O Depósito Compulsório é mais um dos mecanismos da Política


Monetária utilizado pelo Banco Central do Brasil, visando aquecer ou
desaquecer a economia. Há por parte da população brasileira, uma visível
desinformação sobre os motivos que levam o Banco Central a recolher do
sistema bancário o chamado “Depósito Compulsório”. Esse nível de
desinformação é tão consolidado, que atinge parte da mídia, que chega a
vincular que tais recursos subtraídos dos Bancos, se a estes fossem
devolvidos, poderiam ampliar o crédito e, assim, minimizar as absurdas taxas
de juros cobradas no Brasil nos empréstimos, quer seja à pessoa física como
jurídica. Tal raciocínio, porém, é em parte e apenas em parte, verdadeira.
Vamos procurar entender a razão da existência do compulsório e os
percentuais cobrados pelo Banco Central do Brasil sobre as diversas
modalidades de depósitos e investimento.
Não resta a menor dúvida que ao subtrair dinheiro da economia os
gestores desta economia encarecem o custo daquele dinheiro que fica girando
no mercado para atender as necessidades de empréstimos, além de reduzir a
capacidade do Sistema Bancário em criar moeda escritural. O Compulsório ou
Reservas Fracionadas é um poderoso instrumento de controle do fluxo
inflacionário, manutenção ou não do consumo e controle efetivo do Banco
Central sobre a moeda ou meio de pagamento. Entendemos por Depósito
Compulsório o valor mínimo dos depósitos bancários, que os bancos são
obrigados por lei a manterem depositados no Banco Central, sem dispor dele
para empréstimos. No Brasil da atualidade, os percentuais são os seguintes:

a) Depósito à vista: 21% sem remuneração.


b) Depósito a prazo: 17% até novembro de 2021, sendo remunerado pela
Selic. Depois de novembro/2021, retorna para 20%.
c) Depósito em poupança: 20% de recolhimento remunerado à taxa de
3% mais a TR.

Quando falamos em moeda escritural, com certeza gera uma


interrogação na cabeça de alguns. O que vem a ser essa tal moeda escritural
ou moeda registrada em papel? Nada mais do que a capacidade dos Bancos
em criar dinheiro sem nenhuma base e fazê-lo circular na economia.

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Acompanhe este exemplo simples:
Vamos admitir que em um País imaginário tivesse alguém (A) que
possua R$ 2.000,00 e seja esse montante o valor total desta economia. (A)
deposita este valor em um Banco. Por determinação do Banco Central deste
País imaginário, o Banco é obrigado por Lei a recolher 20% em forma de
compulsório. Resta ao Banco, então, R$ 1.600,00. Atendendo a sua função
principal de intermediação financeira, o Banco empresta esses R$ 1.600,00
que tem em caixa a um Cliente (B). Esse empréstimo é depositado por (B) em
sua conta corrente no mesmo banco. Ao acatar o depósito de R$ 1.600,00, o
Banco deduz os 20% de compulsório e disponibiliza na sua reserva R$
1.280,00 para negócios. Um Cliente (C) se habilita a tomar emprestado R$
1.280,00, o que é feito pelo Banco. O Cliente (C) deposita estes R$ 1.280,00
neste mesmo Banco, que procede a retenção dos 20% de compulsório e deixa
disponível para emprestar R$ 1.024,00. Um Cliente (D) está necessitando
desta quantia para investir em sua fábrica e faz o empréstimo dos R$ 1.024,00,
depositando o valor em sua conta neste mesmo Banco. Ao acatar o depósito,
nova retenção de 20% de compulsório, sobrando R$ 819,20, que poderia
continuar emprestando.
Fazendo uma somatória do primeiro depósito que foi de R$ 2.000,00
até o último valor que ficou disponível no banco para emprestar, que foi de R$
819,20, observamos que existe na economia um valor total de R$ 4.723,20 -
sendo que R$ 2.000,00 de fato e de direito, e R$ 4.723,20 escrituralmente,
além de uma retenção de compulsório de R$ 1.180,00. Poderiam me
perguntar: e se todos corressem ao Banco para sacar seus depósitos? Não
existe o dinheiro, mesmo que conste escriturado em um pedaço de papel o
depósito feito. Como todas as pessoas não vão ao Banco no mesmo instante
fazer retiradas e como o sistema é dinâmico, ou seja, sempre está
acontecendo outros depósitos, ele se autogerencia. Por isso o compulsório,
além de ter sua função de controlar a inflação, controla também a liquidez do
sistema financeiro. O que podemos considerar como absurdo são os
percentuais praticados no Brasil.

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Saiba mais
Acesse o link a seguir e saiba mais sobre Depósito Compulsório.
Disponível em: <https://mapasmentaiscomchirley.com.br/o-que-e-deposito-
compulsorio/>. Acesso em: 17 nov. 2021.

Figura 3 – Criação da moeda escritural

Cliente A BANCO Cliente B


R$ 2.000,00 R$ 1.600,00

Cliente D

- 20%=R$ 400 R$ 1.600,00


R$ 1.024,00

Cliente C

R$ 1.280,00
R$ 1.280,00

- 20%=R$ 256 - 20%=R$ 320

Fonte: Fernandes, 2021. Créditos: Shma/ Shutterstock; Master1305/ Shutterstock;


Forewer/Shutterstock; Pop Paul-Catalin/Shutterstock; Studio_G/Shutterstock.

Saldo no Banco para emprestar R$ 1.024,00 menos 20% (R$ 204) = R$


819,20.
A quantidade de moeda escritural que o Sistema Financeiro gerou a
partir de um depósito inicial de R$ 2.000,00 corresponde ao montante de
R$ 4.723,20.

4.3 Lei 14.185/2021 – Depósitos voluntários à vista e a prazo


remunerados

O Presidente da República sancionou a lei em 14 de julho de 2021,


aprovada pelo Congresso, que autoriza o Banco Central a acatar os depósitos
voluntários dos Bancos Comerciais, mediante remuneração. Qual era a lógica
adotada pelos bancos antes da promulgação da lei? em qualquer país do
mundo os bancos se esforçam para emprestar ao público em geral com juros

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cada vez mais baixos a sobra de caixa, já considerada as deduções de
compulsório. No Brasil, antes de aprovada a Lei, as sobras de recursos
oriundos de depósitos e aplicações de clientes eram aplicadas em “operações
compromissadas”, ou seja, as operações em que o vendedor assume o
compromisso em recomprar o título em uma data futura, com os juros
acertados. As “operações compromissadas” entre os bancos e o Banco Central
com as sobras do seu caixa se processam da seguinte forma: o banco entrega
ao Banco Central seu saldo de caixa no final do dia e recebe títulos públicos
federais, sendo a operação registrada no Mercado Aberto ou Open Market
como operação de Overnight. No dia seguinte, o Banco Central devolve o
recurso devidamente remunerado e resgata o título público. O montante hoje
de sobra nos caixas dos bancos, por dia, corresponde a mais de R$ 1,3 trilhão
de reais. A grande polêmica é que esse recurso não é dos bancos, mas sim
dos depositantes, e eles, os bancos, são remunerados pelo Banco Central
indevidamente. Polêmicas à parte, a Lei 14.185/2021 vem instituir o depósito
voluntário remunerado desses saldos de caixa no Banco Central, sem a
necessidade de uma operação envolvendo títulos públicos e, o Banco Central,
além de aperfeiçoar a liquidez bancária, passa a ter, mais do que já tem, um
enorme controle sobre a quantidade de dinheiro em circulação na economia.
Qual a rentabilidade que será paga por esses depósitos? Ainda a ser definida
pelo Banco Central, imagina-se que seguirá a mesma linha das “operações
compromissadas”.

Saiba mais
Acesse o link a seguir e saiba mais sobre a Lei 14.185/2021.
Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2021-08/bc-
regulamenta-depositos-remunerados-de-instituicoes-financeiras>. Acesso em:
17 nov. 2021.

TEMA 5 – QUANTITATIVE EASING

Quantitative Easing ou Flexibilidade Quantitativa com certeza deve ser


para vocês uma informação nova. Vamos concluir então nossa aula de hoje
com uma relevante informação.
Podemos definir essa expressão como transação de compra de ativos,
tanto públicos como privados, em grande escala, pelo Banco Central do Brasil,

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visando estimular a economia por meio da demanda agregada. Lembre-se: ao
comprar ativos, o Banco Central, injeta dinheiro na economia, ampliando assim
as reservas bancárias e dando mais liquidez ao sistema financeiro. É
importante destacar que o “Quantitative Easing” atua sobre a taxa de juros de
longo prazo, portanto, o foco é a compra de títulos de longo prazo. Tal fato
ocorre por uma situação temporal do Banco Central em atuar sobre as taxas de
curto prazo para controlar as de longo prazo, provocando assim algum estímulo
na economia. Ao comprar títulos de longo prazo, ele, o Bacen, usa um atalho e
promove as mudanças programadas para a economia.

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REFERÊNCIAS

CLETO, C. Coleção Gestão Empresarial FAE Business School. Curitiba:


Editora Gazeta do Povo, 2002.

DORNBUSCH, R.; FISCHER, S. Macroeconomia. 11. ed. São Paulo: Makron,


Mc Graw-Hill, 2013.

LANZANA, A. E. T. Economia Brasileira - fundamentos e atualidade. 4. ed.


São Paulo: Atlas, 2012.

ROSSETTI, J. P. Introdução à economia. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2016.

VASCONCELOS, M. A. S. de. Economia micro e macro. 5. ed. São Paulo:


Atlas, 2011.

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