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O dinheiro é na sua aparência mais imediata o meio usado na troca de bens,
podendo fazê-lo na forma de moedas (pedaços de metal amoedados
e cunhados, isto é, marcados por desenhos, letras e números), notas
(cédulas de papel, igualmente desenhadas e escritas), ou, como atualmente,
sinais elétricos carregados de informação, chamados bits. Vê-se assim como
dinheiro e moeda se confundem; sendo que as moedas - quando mais físicas
são - mais obscurecem que esclarecem o que este é realmente. Isso porque o
que o dinheiro é essencialmente é um signo. E um signo representativo de
valores, que é a informação que este signo carrega. Estes valores
representados no dinheiro são os das coisas (bens e serviços) que se
desprendem dos homens nos impessoais mercados, mas também e
principalmente os valores dos compromissos, dívidas e créditos, que os
homens estabelecem entre si desde sempre, ou desde muito antes
dos mercados.
Dinheiro nas economias monetárias
significa dizer que o conjunto das relações sociais é mediado pelo dinheiro. O
dinheiro não apenas media compras de bens e serviços, mas media a
obtenção de trabalho, as decisões das famílias de gastar ou poupar, e as
importantes decisões empresariais - de produzir, investir, ou especular. As
decisões empresariais como um todo visam obter mais dinheiro do que o
dinheiro inicial. Decisões de produzir implicam utilizar a capacidade produtiva
existente, de investir implicam em aumentar essa capacidade, o que só é feito
se e quando há elevadas expectativas de ganho. Os capitalistas investem o
dinheiro que têm, ou mesmo tomam dinheiro emprestado dos bancos ou o
conseguem junto a acionistas, se as expectativas de retorno pagam com sobra
os juros dos bancos e os dividendos dos acionistas. Mas eles podem também
usar o dinheiro de que dispõem (e o que conseguem obter com bancos
e acionistas) para aplicar financeiramente eles próprios. Ou seja, não
necessariamente o dinheiro tem de ser gasto por eles. Assim sendo, ao
contrário do que pensam alguns economistas desde Jean Baptiste Say, o
dinheiro não serve apenas para facilitar as trocas, e aquele não gasto na troca
por bens de consumo das famílias não será automaticamente usado pelos
capitalistas na compra de bens de investimento. Economistas
como Marx, Keynes, Kalecki, Schumpeter, entre outros heterodoxos,
chamaram a atenção quanto a isso - que o dinheiro pode se ausentar da
produção e assim gerar crises, pois o dinheiro não gasto equivale a máquinas e
equipamentos parados e mão de obra desempregada.
Sendo o dinheiro um signo de valor que serve para exprimir os preços das
coisas, ele próprio não necessita ser uma coisa. Ou seja, não é dinheiro
apenas o que é uma mercadoria produto do trabalho e sujeita a escassez como
as outras, ainda que isso tenha acontecido em alguns momentos da história
(ver adiante). Não é regra que o dinheiro seja aquela mercadoria que no
confronto com as demais torna-se a mais aceita por razões de praticidade. Os
economistas que pensam o dinheiro como mercadoria derivam suas teorias de
um idílico estado primitivo de escambo. Para estes economistas ser mercadoria
garante ao dinheiro ter estabilidade - essencial em algo que serve de medida.
Os economistas que pensam o dinheiro como signo também dão importância
para a estabilidade de seu valor, mas esse valor é de saída estipulado pelos
governantes que o administram, e eles o fazem controlando as taxas básicas
de juros que funcionam como preço do dinheiro, ou quão mais caro ou barato é
consegui-lo. Esses economistas são filiados mais ou menos diretamente à
escola da moeda como oriunda do Estado de Knapp. [2]
O dinheiro é um
grande símbolo de poder.
Os Estados nacionais têm nas moedas nacionais a sua mais
importante instituição. Garantir que a moeda que produzem seja a que
efetivamente os cidadãos usam como dinheiro é fundamental para sua
credibilidade política. Usar a moeda como dinheiro implica usá-la como meio de
troca (compra e venda de bens e serviços), como reserva de valor (poupança e
aplicações financeiras) e, fundamentalmente, como unidade de conta
(expressão dos preços, definidora de valores nos contratos, signo generalizado
de registro de débitos e créditos). Moedas fracas podem perder uma ou mais
destas funções para uma moeda estrangeira. Só um governo enfraquecido
permite o enfraquecimento de sua moeda e corre sério risco de deixar de ser
governo, e ainda pode colocar em risco a nação que governa. Isso aconteceu,
por exemplo, no período de entre guerras na Alemanha quando a derrota
na Primeira Guerra Mundial e o peso das reparações de guerra, fora o pano de
fundo sociocultural, ameaçava a sustentação política da nação como um todo e
levou a moeda nacional a uma desvalorização brutal junto à hiperinflação.
Contudo, estão equivocados os economistas que julgam que para manter o
valor estável da moeda nacional, e os preços sobre controle, devem ser
impostas aos governo rígidas regras que os impeçam de emitir dinheiro
demais. Os governos emitem dinheiro, na forma de suas moedas (de papel ou
eletrônicas), toda vez que fazem um gasto e creditam algum valor nas contas
comerciais de algum cidadão ou empresa. Contra esse crédito é realizado um
débito na conta do governo no seu Banco Central. O financiamento dos gastos
do governo nunca é um problema - em território nacional -, como acreditam os
que desconhecem que o dinheiro é uma criatura do Estado. Isso não significa
que não seja absolutamente relevante que a sociedade controle como, quando
e onde gastam seus governos, o que podem e devem fazer por meio das
discussões orçamentárias (onde se define, por exemplo, se mais ou menos
recursos devem ir para educação ou propaganda). Contudo, o controle
quantitativo do total dos gastos dos governos, com vistas a garantir finanças
públicas ditas "equilibradas", parte em geral da má compreensão de que os
governos gastam a partir do que arrecadam de seus cidadãos e empresas na
forma de impostos.[3]
história, tornaram a sua moeda hegemônica justamente por definirem que seus
impostos deveriam ser obrigatoriamente pagos nelas. Ou seja, a parte da
[5]
Na Pedra da Roseta há
indicações do dinheiro como mero registro pois que o faraó "anulou os débitos
que numerosos egípcios e o restante do reino tinham com relação à coroa".
Longe desses modelos idealizados encontramos indícios do dinheiro
mercadoria mais ligado ao comércio e iniciativas privadas e do dinheiro signo
mais ligado ao poder central (dos "pagé" das tribos, passando pelos
administradores dos templos egípcios, aos Bancos Centrais na atualidade)
coexistindo ao longo da história. Se se tem a impressão de que o dinheiro foi
desde sempre mercadoria (antes dos metais, o gado ou o sal, por exemplo) é
porque os metais brilharam excessivamente no passado da humanidade. Ou
seja, o dinheiro amoedado em metais como cobre, prata ou ouro, é mais fácil
de encontrar que os registros de operações de débito e crédito em frágeis
pergaminhos. Contudo, descobertas como a Pedra da Roseta conseguiram
mostrar como o dinheiro aparece, e desaparece, num simples num édito
faraônico que ordena a anulação de certas dívidas. Isso não significa que a
pesquisa sobre o dinheiro como notação tenha por base apenas esses
comprovantes materiais; pelo contrário, os principais elementos para essa
pesquisa são as palavras, os hábitos e costumes que duraram milênios (como
a escravização por dívida ou seus impedimentos, bem como os impedimentos
ou estímulos à prostituição), os documentos que provam as revoltas quando
das crises de dívidas que super expropriavam as famílias e as festas quando
ocorria o contrário, os grandes perdões onde se "quebravam as tábuas" onde
eram registradas.
Dinheiro nas Comunidades antigas (5000 a.C. a VIII a.C.)
As primeiras formas de dinheiro nasceram dentro das comunidades mais que
em suas franjas (onde uma comunidade se relaciona com outra) e por isso
eram mais ligadas aos registros de dívida que a algo comercializado. As provas
mais cabais remetem à civilização Suméria em torno de 3500 a.C. A prata
física era utilizada, mas como unidade a qual se conferia um equivalente em
produto (um "siclo de prata equivalia a um bushel de cevada", seu valor não
[7]
dinheiro é elo entre o presente e o futuro, e isso não apenas porque simboliza
apostas privadas sobre valorização futura deste ou daquele ativo ou itens de
riqueza, mas porque compromete os homens a produzi-los.
Dinheiro e economia hoje
Atualmente, as novas tecnologias de transmissão dos pagamentos em meio
eletrônico tornaram os significantes físicos do dinheiro desnecessários. Fica
cada vez mais evidente que dinheiro é representante da riqueza criada ou por
criar (daí crédito e dívida) e nesse sentido ele não tem nada a ver com algo que
se entesoura, como as moedas ou mesmo muitas das cripto-moedas que se
tornaram ativos especulativos. Afinal, algo que se entesoura e contra o que
se especula (se fazem apostas) é um ativo financeiro.
Wall Street
Bubles - Keppler 1901.
A complexidade em entender o que é, e o que pode ser, o dinheiro na
atualidade deriva em grande parte da complexidade do sistema financeiro
atual. Os mercados de futuros que tornam bens materiais objetos de apostas,
elas mesmas tornadas papeis negociados, segurados, e nos quais são
baseados outros papeis, os derivativos em geral baseados em ações, créditos,
operações sem qualquer materialidade, foi o que levou a dimensão virtual do
dinheiro às alturas. O potencial crítico desse sistema é (como sempre foi no
passado) o endividamento excessivo. Mas não o dos Estados, como em
propagandeiam os interesses dominantes sempre que não sejam eles os
beneficiados pelas emissões públicas. Esta dívida, cujo passivo são os ativos
das pessoas e empresas, é bem vinda, e tem, na prática, nos anos finais do
século passado e neste, salvado a economia mundial. O endividamento que
preocupa é o dos mais frágeis cujo efeito é a perda de bens reais, sejam eles
cidadãos, sejam países (vide o caso da Grécia na crise do Euro).
À complexidade atinente ao sistema financeiro, pode-se acrescentar a
complexidade de uma economia-mundo bastante integrada, ainda que uma
integração marcada pela desigualdade, para explicar porque é tão difícil
entender hoje o dinheiro. Nesse ambiente, é curioso como alguns países têm
vivenciado a transformação de créditos de telefone em moeda. [17]
Le Capital, Costa-Gavras
The big Short, Allan McKay
Na música, podem-se destacar alguns exemplos:
Bibliografia
Barracho, Carlos. Lições de psicologia Económica. Instituto Piaget. Lisboa.
2001
DOWBOR, Ladislau (2017). A Era do Capital Improdutivo (PDF). São Paulo:
Autonomia Literária
FINLEY, Moses (1960). Slavery in Classical Antiquity: Views and
Controverses. Cambridge: W.Heffer and Sons.
GRAEBER, David (2016). Dívida - os primeiros 5000 anos. São Paulo: Três
Estrelas.
HARARI, Yuval (2011). Sapiens: Uma Breve História da Humanidade. São
Paulo: L&PM.
KEYNES, John Maynard (1930). Teatise on money. Nova York: Harcourt,
Brace and company.
KEYNES, John (1996). Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. São
Paulo: Nova Cultural. [1]
KELTON,, Stephane (2020). The Deficit Myth: Modern Monetary Theory and
the Birth of the People's Economy. New York: Public Affairs. 272 página
KNAPP, Georg Friedrich (2003). The State Theory of Money. San Diego:
Simon Publications.
POLANYI, Karl (1971). Trade and Market in the Early Empires. Gateway.
RESENDE, André Lara Juros (2017). Juros, moeda e ortodoxia - Teorias
monetárias e controvérsias. São Paulo: Companhia das Letras.
VAROUFAKIS, Yanis (2016). O Minotauro global – A verdadeira origem da
crise financeira e o futuro da economia. São Paulo: Autonomia Literária.
Ligações externas
A História do Dinheiro pelo Banco Central do Brasil
Linguistic and Commodity Exchanges por Elmer G. Wiens. Examina as
diferenças estruturais entre escambo e trocas de mercadorias monetárias e
trocas linguísticas orais e escritas.
Pecúnia Libertária, vídeo explicativo sobre a liberdade trazida pela moeda,
na Fonft