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Aula 03
Dívida pública e política monetária
Rentismo institucional
Valor de uso:
Utilidade real da coisa para quem a consome.
(O que realmente importa)
Valor-trabalho:
Dispêndio de trabalho social para produzir a coisa.
(O real custo das coisas)
Essa mesma instituição pode definir qualquer coisa como meio de pagamento
para os valores devidos à ela. Essas “coisas” poderiam ser moedas de ouro,
cédulas de papel, anotações contábeis, ou bits em um computador…
Recapitulando as aulas anteriores
Dinheiro ≠ Moeda
Dinheiro ≠ Moeda
“Mágica”
Recapitulando as aulas anteriores
Para que a mão de obra seja mercadoria, deve existir um mercado de trabalho
em que uma massa de trabalhadores são obrigados a vender a sua capacidade
de gerar valor. O capital compra trabalho como se fosse eletricidade ou carvão.
Mantêr o mercado de trabalho existindo é uma das funções do Estado.
Recapitulando as aulas anteriores
Caixa preta
do Mercado
Recapitulando as aulas anteriores
PIB
Recapitulando as aulas anteriores
Caixa preta
do Mercado
Recapitulando as aulas anteriores
Na ausência de relações de classe, podemos dizer que o Estado cria moeda toda a vez
que realiza um déficit. A moeda criada dessa maneira é um passivo financeiro do
Estado e um ativo financeiro da população. Por causa das dinâmicas dos impostos,
mercadorias e dívidas, essa moeda cumpre o papel de dinheiro na sociedade.
Déficit
Moeda Moeda
A moeda também existe digitalmente, criada por Bancos Centrais como reservas.
Essa é a moeda que o sistema bancário utiliza.
A mesma moeda criada com o déficit federal sai de circulação quando retorna ao Estado,
na forma de pagamentos por serviços e produtos públicos, ou pagamentos de valores
devidos ao Estado (impostos e dívidas bancárias). Como a moeda e dívidas são ativos
e passivos medidos na mesma unidade, ambos podem anular o outro.
Moeda Moeda
Supondo que o Estado atua pelo bem comum, a moeda é criada em troca de valor
produzido pela sociedade, recompensando os trabalhadores. Parte do valor é utilizado
para a manutenção e aprimoramento das forças produtivas, e outra parte é distribuído
entre a sociedade para satisfazer nossas necessidades e desejos.
Redistribuição de valor
Valor
Valor Valor
Valor
Valor Moeda
Moeda Moeda
Ativos Passivos Ativos Passivos Ativos Passivos
Na aula 02 vimos como a política fiscal entrega recursos reais ao capital e à burguesia.
Nessa aula 03, veremos como a política monetária do Banco Central sacrifica recursos
reais para preservar o poder da moeda, em nome do capital financeiro e parasitas sociais.
Política Monetária
Privatização Compra de títulos
Política Fiscal
Classe
a a dominante
a a
Consumo
Empresas
Arrow Estatais
Arrow Trabalhadores Títulos
Arrow Públicos
Arrow
Imposto
Gasto públicos Gasto públicos
Estado
Uma analogia sobre: Política Monetária
A cura milagrosa contra a febre
A cura milagrosa contra a febre
Isso é verdade?
?
A cura milagrosa contra a febre
Sem fazer outros exames, o médico imediatamente receita uma série de remédios
que servem para baixar a febre… e manda os pacientes de volta para casa:
“Tomem estes comprimidos para reduzir a febre. Sua eficácia é comprovada.”
!
A cura milagrosa contra a febre
?
A cura milagrosa contra a febre
FIM
FIM
A cura milagrosa contra a febre
A febre era apenas um sintoma. O médico deveria ter analisado as causas e dado
um diagnóstico baseado no tipo de problema de cada paciente: seja uma gripe, uma
intoxicação alimentar, um câncer, ou qualquer outra coisa.
A cura milagrosa contra a febre
Se existir um lobby das empresas que vendem remédios para febre, e se o hospital
estiverem intencionalmente deixando de internar pacientes para cortar seus custos, o
tal “erro” começa a parecer algo intencional, já que existem ganhos financeiros.
A cura milagrosa contra a febre
Superlucros Embargos
A cura milagrosa contra a febre
Quando o Banco Central usa a subida dos juros como remédio contra a inflação, o
objetivo é preservar o poder de compra dos mais ricos, usando a política monetária
para literalmente dar dinheiro aos mais ricos através dos títulos da dívida pública.
Excesso de moeda
Causas
Suco de
Salários subindo
ideologia
“Esquerdismo”
A cura milagrosa contra a febre
* Ben Bernanke, um dos responsáveis pela crise de 2008, recebeu um prêmio “Nobel” em 2022 por causa de um artigo seu sobre
“como evitar crises financeiras”. (Dar um prêmio ao causador da crise é tão cínico quanto o Nobel da paz recebido por Obama)
A cura milagrosa contra a febre
Parte dessa pergunta será respondida na aula 04, sobre bancos, e o restante será
concluído na aula 05, sobre crises. Por hora, vale mencionar que, no atual estágio do
capitalismo pós-Fordista*, a crise é extremamente lucrativa para o capital.
E para garantir isso, a ideologia fascista sempre volta, de uma forma ou de outra,
com uma nova roupagem, um novo líder, um novo inimigo, e uma nova desculpa…
mas sempre com o mesmo objetivo: reproduzir capital na sociedade hospedeira
A cura milagrosa contra a febre
Existem duas formas de fazer um bebê com fome parar de chorar. Uma delas é dar
comida ao bebê. A outra opção é dar um tiro no bebê. A política do Banco Central
Brasileiro para combater a inflação é o equivalente do revólver.
(A) (B)
A cura milagrosa contra a febre
Reprodução do capital?
Genes e Memes
Como o capital se reproduz estuprando a sociedade
foto: Taman Negara NP foto: Erich G. Vallery foto: Ian Suzuki foto: Holger Krisp
Genes e Memes
Dormir Fugir
Retórica Ideologia
Retórica Ideologia
Retórica Ideologia
Não é isso?
Se reproduz mais
Fraco Muito sexo
Genes e Memes
Não é isso?
Não é isso?
Alta reprodução
Come muito
Vive muitos anos
Genes e Memes
E os memes?
Se reproduz mais
Violento Lucra muito
Genes e Memes
E os memes?
Destruição ambiental
Fome
Destruição social
Genes e Memes
E os memes?
Liberalismo
Propaganda
Ideologia
Genes e Memes
Afetar a sociedade?
Finanças
Lobby
Estado
Genes e Memes
Insumos
Depreciação
Mercadoria
Renta
Trabalho
Genes e Memes
Insumos
Depreciação
Renta
Mercadoria ?
Trabalho
Genes e Memes
Insumos Insumos
Depreciação Depreciação
Renta Lucro
Genes e Memes
Podemos também considerar renta o capital que externaliza seus custos produtivos,
extraindo valor da sociedade que sofre as consequências. Um exemplo é a quebra da
barragem em Brumadinho, causada pela Vale do Rio Doce, que lucrou ao economizar
com manutenção. Quem “pagou” foi a população que perdeu casas e vidas. A mesma
lógica serve para combustíveis fósseis, agrotóxicos, mineradoras, etc. (Aula 05)
Renta
Genes e Memes
Insumos
Depreciação
Mercadoria
Renta
Trabalho
Genes e Memes
O capital controla o Estado, que por sua vez legitima juridicamente a propriedade
privada dos meios de produção. No trabalho assalariado, o “capital” compra a
mercadoria-trabalho pelo custo em horas, como se ela fosse energia elétrica, e se
apropria de todo o valor que o trabalhador produz nessas horas. A diferença entre o
valor produzido pelo trabalho e aquilo que é pago recebe o nome de mais-valia.
Mais-valia
Valor produzido
Custo das horas pelo trabalho
trabalhadas
Trabalhadores Capitalistas
Genes e Memes
Lucros Juros
Dividendos Impostos
Mais-valia
Copyright Aluguéis
Genes e Memes
Por isso os Estados burgueses sobem os juros enquanto atacam direitos trabalhistas,
aposentadorias, salários, sindicatos, saúde e educação pública, habitação popular,
reforma agrária etc. O capitalista tem controle apenas sobre duas variáveis, a renta e o
trabalho. Como os parasitas sobrevivem de renta, o capital sacrifica o trabalho. Para
isso é necessário um Estado Burguês que existe para reproduzir capital.
Lucros Juros
Dividendos Impostos
Mais-valia
Copyright Aluguéis
Genes e Memes
Títulos
Títulos Títulos
Reservas Reservas Depósitos Depósitos
Títulos Títulos
Títulos Títulos
Depósitos inalterados
Títulos Títulos
Reservas Reservas
Depósitos Depósitos
Reservas Reservas
Títulos
Ativos Passivos Ativos Passivos Ativos Passivos
Títulos Títulos
Depósitos Depósitos
Reservas Reservas
Depósitos Depósitos
Títulos Títulos A prazo A prazo
Títulos Títulos
A prazo A prazo
Reservas Cédulas
Reservas e Títulos Públicos nos Bancos
7. Pagar pelas transferências de seus clientes. Por exemplo, quando Maria precisa
pagar R$1000 para Flávio, que tem conta em outro banco. O banco-M remove R$1000
dos depósitos de Maria(1) e transfere R$1000 de suas reservas para o banco-F(2). Em
troca das reservas, o banco-F aumenta os depósitos de Flávio(3).
2 1
3
Recapitulando
1. Títulos públicos são moeda futura
2. Gasto público sempre cria moeda
3. Reservas são dinheiro dos bancos
4. …e servem para cumprir normas.
5. Depósitos à prazo são moeda futura
6. Títulos públicos são ativos financeiros
7. Isso é fundamental no capitalismo
Mais detalhes na aula 04
O que é a dívida pública
Selic
Tesouro Direto
Onde eu
lucro mais? Tesouro Direto SELIC
Política Monetária
Além de títulos pré-fixados, o Tesouro usa títulos atrelados à Selic e ao IPCA (inflação). O
Tesouro-Selic depende diretamente da Selic (dã!). Já o Tesouro-IPCA é indiretamente
dependente, visto que a Selic é historicamente mantida acima do IPCA.
IPCA
Política Monetária
A taxa Selic determina o juro que o BC “gostaria” que os bancos utilizassem quando
emprestam reservas uns para os outros pelo prazo de 01 dia. Esse não é o juro que
os bancos cobram dos consumidores nem que o BNDES usa para financiar projetos!
Política Monetária
Os juros que os bancos comerciais cobram uns dos outros, nos empréstimos de
curto prazo, são consequência das ações do próprio banco central, não do mercado.
O BC pode definir o juro que quiser, independentemente das vontades do mercado.
Política Monetária
Em
Reservas Excedente pré
stim
Necessárias o0 Reservas
1d Necessárias
ia
Insuficiente
Reservas
Reservas
Os bancos não pegam essas reservas emprestado porque “querem”, mas porque
são obrigados pelas normas do Banco Central (aula 04). Sendo assim, um banco
com falta de reservas no final do dia deve pegar um empréstimo para cobrir.
Insuficiente
Reservas
Reservas Insuficiente
Reservas
Reservas
Assim como existem bancos que estenderam muito crédito e ficaram com falta de
reservas, existem bancos que estenderam pouco crédito e ficaram com sobra. Os
bancos com excesso podem emprestar suas reservas para os bancos com falta.
Excedente Excedente
Insuficiente
Insuficiente
Reservas Reservas
Reservas
Reservas
Embora os bancos com falta sejam obrigados a pegar emprestado, os bancos com
sobras não são obrigados a emprestar. Sendo assim, o Banco Central atua no
mercado de reservas para garantir que não haverá falta nem excesso de reservas.
Empresta?
Excedente Excedente
Não
Reservas
Empréstimo
Insuficiente
Reservas Reservas
Reservas
Reservas
Excedente Excedente
Empréstimo Reservas
Empréstimo
Reservas Reservas
Reservas
Reservas
Se o Banco Central não subir a Selic (rever a meta), ele deve emprestar reservas aos
bancos ou comprar títulos públicos em posse dos bancos. Isso aumenta a
quantidade de reservas no sistema e impede que os juros fiquem acima da meta.
Reservas
Títulos
Públicos
Política Monetária
Se os bancos não encontram boas oportunidades de crédito que rendem mais que a
Selic, a demanda por reservas fica menor, pressionando o juro para baixo.
Ou seja, existem mais bancos com sobras de reservas do que bancos com falta.
Política Monetária
Se o Banco Central não baixar a Selic (rever a meta), ele terá que pagar para os
bancos congelarem reservas, ou vender títulos públicos aos bancos. Isso remove
reservas do sistema e impede que os juros fiquem abaixo do valor desejado.
Reservas
Títulos
Públicos
Política Monetária
Resumindo, quando os bancos estão cobrando juros uns dos outros maiores que a
Selic, o Banco Central “joga” mais reservas no sistema. Se os bancos estiverem
emprestando abaixo da Selic, o Banco Central tira reservas do sistema.
Política Monetária
Ou seja, a política monetária, via taxa Selic, impede flutuações bruscas dos juros,
tanto para cima quanto para baixo. Ao controlar os juros interbancários, o Banco
Central garante previsibilidade para o custo do crédito no curto prazo.
Política Monetária
A taxa Selic indica ao sistema financeiro privado qual será o custo esperado de
captação de fundos ao longo do tempo. Em outras palavras, qual o custo presente e
futuro dos reais (R$) que o Banco Central cria.
Política Monetária
Dinheiro parado não se multiplica. Se um banco não quiser os títulos públicos e não
quiser emprestar para outros bancos, ele pode usar o dinheiro para especular no
mercado financeiro nacional, ou tirar o dinheiro do país e investir no exterior.
O ideal em um país capitalista, seria a taxa básica de juros (Selic no Brasil), ser
baixa o suficiente para permitir investimentos produtivos, mas não tão baixa a ponto
de incentivar fuga de capitais e especulação.
Política Monetária
Títulos
Públicos
Títulos
Públicos
O que é o “risco” dos títulos públicos
Traduzindo “economês” para português
Riscos do Tesouro Direto
Qual o risco do Tesouro Direto?
Quando a mídia fala do “risco da dívida pública”, dá a impressão que Brasil vai ficar
sem reais (R$) para pagar. Porém, como o Brasil emite sua própria moeda, a única
forma do país dar um calote seria por opção política (em geral, uma revolução).
Mesmo assim, no capitalismo, existem “riscos” ao comprar títulos da dívida pública.
Riscos do Tesouro Direto
Quais os reais riscos?
Se uma instituição financeira tiver reservas em excesso, esse dinheiro parado não
se reproduz. Para que o capital financeiro se multiplique, ele precisa se transformar
em ativos financeiros por um prazo determinado, por exemplo: ações, derivativos,
fundos, títulos de dívidas privadas, ou os títulos da dívida pública tratados aqui.
Riscos do Tesouro Direto
Quais os reais riscos?
Comprar
Comprar títulos
títulos públicos…
públicos Atrelados ao IPCA (inflação)
Se o banco gastou 100 mil no primeiro título e se arrependeu da compra, caso queira
vender pelo preço de mercado, irá receber algo em torno de 98.2 mil, pois o título
antigo de 100 mil rende o mesmo que um título novo de 98.2 mil. (prejuízo de 1.8%)
O Tesouro Selic possui uma variável (Selic) e uma constante (valor após o +). Os
riscos desses títulos são:
- Inflação acima do previsto; (perda de rendimento real)
- Banco Central reduzir a Selic; (perda de rendimento nominal)
- O Tesouro Nacional oferecer um título melhor. (perda de oportunidade)
Exemplo
O Tesouro IPCA tem uma variável (IPCA) e uma constante (valor após o +). Os
riscos desses títulos são:
- A Selic ficar maior que o IPCA + X%; (perda de oportunidade)
- O IPCA ficar baixo enquanto o IGP-m sobe demais; (perda de rendimento real)
- O Tesouro Nacional oferecer um título melhor. (perda de oportunidade)
Exemplo
Sim. O valor de um título público de um tipo pode ser impactado por outros:
- Se a Selic começar a baixar, os títulos prefixados passam a se valorizar, pois
eles foram emitidos com um juro antigo mais alto.
- Se a Selic começar a subir, os títulos prefixados passam a se desvalorizar,
pois eles foram emitidos com um juro antigo mais baixo.
Riscos do Tesouro Direto
Quais os riscos dos empréstimos interbancários?
Como esses empréstimos são diários, o banco recebe no dia seguinte. O risco é a
perda de oportunidade. Por exemplo: um banco deixa 100 bilhões reservados para
empréstimos interbancários que rendem a taxa Selic atual de 13,75%, ao invés de
comprar títulos prefixados que rendem 11,9%.
Se a Selic começar a cair durante vários meses consecutivos, junto com os juros
prefixados, até que a Selic fique 10,9% e os prefixados fiquem 11%, o banco perdeu
a oportunidade de ter comprado os títulos prefixados que rendiam 11,9%.
Selic 10,9%
Título público (antigo) Título público (novo)
prefixado 11,9% prefixado 11%
Riscos do Tesouro Direto
Quais os riscos dos empréstimos interbancários?
Existe ainda um outro risco. Imagine que a Selic está em 0,25%. O banco acha que
a Selic vai continuar baixa e decide comprar vários títulos públicos prefixados que
rendem juros anuais de 1%. O banco está confiante e busca mais fundos com seus
clientes e outros bancos, pagando 0,25% pelos fundos (mais detalhes na aula 04)
Empréstimo
interbancário
Título público Selic 0,25%
prefixado 1%
Riscos do Tesouro Direto
Quais os riscos dos empréstimos interbancários?
Empréstimo
interbancário
Título público Selic 2,75%
prefixado 1%
Riscos do Tesouro Direto
Por que o banco não vendeu os títulos quando a Selic começou a subir?
Valor antigo
declarado
Empréstimo
interbancário
Título público FED 5,25%
prefixado 1%
Riscos do Tesouro Direto
Resumindo…
Os riscos dos títulos públicos são a perda do rendimento real pela inflação, ou a
desvalorização do preço de mercado do título público quando títulos melhores
surgem ou quando a taxa básica de juros se altera.
Como visto, os juros dos títulos públicos não são definidos por forças da natureza
nem por variáveis externas. A Selic é definida pelo Banco Central, e os juros dos
títulos públicos estão diretamente e indiretamente relacionados com a Selic.
Se o capital rentista de um país controla o Banco Central, não existe risco para as
burguesias nacionais. Elas têm poder para definir os juros e ainda por cima podem
saber qual será o juro futuro. É um jogo de cartas marcadas.
Historicamente o Brasil tem altos juros reais. Ficou negativo apenas na pandemia em 2020.
Quando se fala em taxa de juros, o importante não é o valor absoluto, mas sim o valor
relativo à inflação, que chamamos de juro real. A lógica é mais ou menos a seguinte:
Se você depositar R$100 em um título público que rende 10% ao ano, mas a inflação ao
final do ano for 5%, o seu ganho real foi de 4,76%
Valor aplicado Juros anuais Valor sacado Inflação anual Valor real Juro Real
Juro Real = (1 + Juro) / (1 + Inflação) Valor real = Valor aplicado x Juro Real
Juro e Juro Real
Se você depositar R$100 em um título público que rende 80% ao ano, mas a inflação ao
final do ano for 90%, o seu ganho real foi de -5,26%. Ou seja, você teria perdido R$5,26.
Nesses casos, dizemos que o juro é negativo.
Valor aplicado Juros anuais Valor sacado Inflação anual Valor real Juro Real
Juro Real = (1 + Juro) / (1 + Inflação) Valor real = Valor aplicado x Juro Real
Juro e Juro Real
Juro negativo?
O certo seria dizer que elas estão perdendo dinheiro “mais devagar”, visto que se você
tivesse deixado os R$100 reais parados na conta isso seria o mesmo que uma aplicação
que rende 0% de juros. Após um ano, você teria uma perda real de 47,37%. Logo, é melhor
perder 5,26% do que 47,37%.
Valor aplicado Juros anuais Valor sacado Inflação anual Valor real Juro Real
Depende…
Isso será discutido em mais detalhes nas aulas 04 e 05. Juros baixos podem tanto ajudar a
economia de um país a crescer como podem criar bolhas especulativas que resultam em
crises financeiras. Juros altos podem tanto ajudar um país a estabilizar o câmbio no
curto-prazo como podem servir para alimentar uma aristocracia rentista como a que
temos no Brasil hoje em dia. Subidas de juros podem inclusive causar crises econômicas!
Para que serve a Política Monetária
Terrorismo disfarçado de tecnocracia
Para que serve a Política Monetária
1. Controlar a inflação?
A economia convencional diz que a criação direta de moeda gera inflação porque
aquece demais a economia. Logo, o Estado deve vender títulos públicos para
manter o volume de moeda constante. Porém, os grupos financeiros que compram
esses títulos não são as massas trabalhadoras e consumidoras, mas sim pequenos
grupos privilegiados que buscam apenas reproduzir seu capital excedente.
Para que serve a Política Monetária
1. Controlar a inflação?
1. Controlar a inflação?
Ainda supondo que a lógica do “excesso de moeda” seja verdade, para que os
títulos públicos sirvam como solução efetiva, os juros deveriam ser menores que a
inflação. Caso contrário, os títulos públicos terão o efeito contrário, criando mais
moeda do que tiram, e concentrando riqueza no topo da pirâmide social. (Como é o
caso do brasil, que tem os maiores juros reais do mundo)
!
Para que serve a Política Monetária
1. Controlar a inflação?
Mais ignorante é a ideia de que os títulos públicos servem para o Estado pagar as
contas e que, se os juros forem baixos, o setor privado vai parar de financiar o
Estado. Como visto na aula 02, o que financia o Estado é a criação de sua própria
moeda, e o que sustenta o Estado é o trabalho do povo e os meio de produção.
1. Controlar a inflação?
Outra ideia absurda é que aumentar os gastos públicos faz os juros subirem porque
o mercado se preocupa com a “estabilidade fiscal”. Como visto na pandemia (2020),
o gasto público aumentou, mas os juros caíram para 2%. Como o Estado é o único
com infinitos reais para garantir renda durante crises econômicas, os capitalistas
compram títulos públicos quando não veem oportunidades de ganhos na economia.
Pandemia
Ou respondem à inflação?
19
17
Inflação
15
13
11
Inflação
09
07
05
03
01
O aumento dos juros protege o capital das classes dominantes durante as crises,
impedindo que seu patrimônio nominal, medido em Reais (R$), seja desvalorizado.
O bolso infinito do Estado é o que garante Fonte:
a reprodução do capital durante as crises.
Elaboração própria,dados do Banco Central do Brasil
% ao ano Pandemia
Quando os juros altos são usados para “combater” a inflação, a tal da “cura milagrosa”
acontece porque a economia entra em recessão, empregos são perdidos, salários caem,
famílias perdem a renda e o consumo fica tão baixo que os preços começam a cair.
Para que serve a Política Monetária
1. Controlar a inflação?
1. Proteger o capital
Quando o Brasil passa por períodos inflacionários, seja qual for a causa, é comum o
Banco Central subir a taxa de juros. A desculpa veiculada pela mídia é a de que o
aumento de juros vai combater a inflação. Porém, a verdade é que o Banco Central
está apenas protegendo as fortunas dos mais ricos, reproduzindo seu capital de
forma puramente fictícia para evitar perdas com inflação.
???
???
Para que serve a Política Monetária
2. Corrupção / Rentismo
Títulos públicos são aplicações financeiras com rendimento garantido pelo Estado,
capaz de criar moeda para pagar. Se os títulos são oferecidos com taxas de retorno
acima da lucratividade de um negócio produtivo, o capital irá preferir se reproduzir
nos títulos públicos ao invés de se arriscar na produção e prestação de serviços.
Para que serve a Política Monetária
2. Corrupção / Rentismo
Os títulos públicos com altos juros, remunerados pelo Estado, entregam uma fatia do
orçamento (poder de gerir recursos) para um grupo privado. A política monetária, via
taxa de juros, é um “programa de renda básica para a classe dominante”, que
usa o dinheiro público para obter a riqueza produzida pela sociedade.
Compra de títulos
Classe dominante a a a a
Salário Renta (Aulas 04, 05 e 06)
População
Estado Títulos
Arrow Públicos
Arrow
(Você está aqui) Imposto
Para que serve a Política Monetária
2. Corrupção / Rentismo
Se considerarmos que o imposto não é aquilo que pagamos em moeda, mas sim
aquilo que entregamos na forma de valor produzido, os altos juros pagos pelos
títulos públicos são um imposto privado que permite aos rentistas se apropriar
anualmente de centenas de bilhões de reais (em valor) criados pela sociedade.
Compra de títulos
Classe dominante a a a a
Salário Renta (Aulas 04, 05 e 06)
População
Estado Títulos
Arrow Públicos
Arrow
(Você está aqui) Imposto
Para que serve a Política Monetária
2. Corrupção / Rentismo
Pessoas que não trabalham e que nada produzem, aplicam seu capital na dívida
pública, se tornando um governo paralelo, que recebe impostos paralelos, e
gerencia uma economia paralela. São parasitas que utilizam a força do Estado para
cobrar tributos da sociedade, e utilizam a polícia e o exército para proteger suas
propriedades privadas… assim como aristocracias feudais
Moeda / Dinheiro
2. Corrupção / Rentismo
Graças aos títulos públicos, o dinheiro cria mais dinheiro, que cria mais dinheiro…
Como prometem os sacerdotes da religião capitalista…
2. Corrupção / Rentismo
Porém, o dinheiro não trabalha… São as pessoas de carne e osso que estão
trabalhando para reproduzir o capital e sustentar parasitas da sociedade…
2. Corrupção / Rentismo
“Faça o dinheiro trabalhar para você” “Faça os outros trabalharem para você”
3. Controle de demanda?
Títulos públicos também servem para reduzir a demanda por recursos em períodos
excepcionais, como foi o caso dos Estados Unidos durante a 2ª guerra, em que o
governo ofereceu war-bonds para a população consumir menos, já que o país
precisava utilizar sua capacidade produtiva para a guerra. O objetivo foi transferir a
demanda do presente para o futuro, quando a produção voltasse ao normal.
Consumam menos!
Quem poupar agora
Preciso da nossa indústria
recebe mais depois.
para lutar na guerra!
Para que serve a Política Monetária
3. Controle de demanda?
3. Controle de demanda?
Outro exemplo seria no caso de uma rápida industrialização, que iria demandar
recursos e pessoas para a construção de infraestrutura, pesquisa, renovação da
matriz energética, etc. Nessa situação, o Estado cria títulos públicos para mover a
demanda do presente para o futuro, quando houver mais recursos disponíveis.
3. Controle de demanda?
… …
Para que serve a Política Monetária
3. Controle de demanda?
Compra de títulos
Classe dominante a a a a
Salário Renta (Aulas 04, 05 e 06)
População
Estado Títulos
Arrow Públicos
Arrow
(Você está aqui) Imposto
Para que serve a Política Monetária
Outro dado interessante publicado pelo Banco Central é a percentagem da renda das
famílias que está comprometida com a amortização de dívidas. O valor aumentou após a
crise global de 2008 e voltou a subir após a crise sanitária do Covid.
Para que serve a Política Monetária
No caso brasileiro, com títulos públicos com os juros reais mais altos do mundo,
a política monetária cumpre majoritariamente a função de concentrar riqueza. O
povo é forçado a poupar recursos porque não tem renda, e o Estado é forçado a
poupar recursos por causa de políticas de cortes de gastos. Logo, quem absorve os
recursos poupados é o capital e a burguesia que têm os títulos da dívida pública.
Caixa preta
do Mercado
Para que serve a Política Monetária
4. Controle do câmbio
O valor das moedas dos países é baseado na demanda por estas moedas, seja
demanda por produtos e investimentos, assim como especulação e juros reais altos.
Como o Brasil é uma economia periférica com fluxo de capitais livre, nossa moeda é
refém das vontades de curto prazo do mercado internacional, flutuando toda vez que
o capital entra e saí do país tentando se reproduzir.
Para que serve a Política Monetária
4. Controle do câmbio
4. Controle do câmbio
Reais
Moedas
estrangeiras
Para que serve a Política Monetária
4. Controle do câmbio
Desvalorizar a moeda também é uma medida anticíclica, como feito nos EUA após a
crise de 1929. O governo Roosevelt desvalorizou o dólar para aumentar as
exportações americanas, além de inflacionar preços e salários no país, reduzindo
o valor relativo das dívidas herdadas da crise. Se preços e salários sobem com a
inflação, mas as dívidas sobem com os juros, o valor relativo das dívidas fica menor.
4. Controle do câmbio
Moedas
Reais
estrangeiras
Reais
Para que serve a Política Monetária
4. Manipulação do câmbio
Se o Banco Central pagar preços altos pelo real (R$), inclusive pegando dólares
emprestado no processo, o real se valoriza artificialmente. As classes dominantes
fazem isso para tirar dinheiro do país. Exemplos são as paridades 1 para 1 com o
dólar, ocorridas na Argentina de Menem, e no Brasil de FHC. A burguesia fica com
os dólares e a população fica com as dívidas do FMI. (Aula 02)
4. Manipulação do câmbio
Outra ferramenta do Banco Central é vender títulos públicos com juros altos para
atrair moeda estrangeira e valorizar o real artificialmente, como no “Plano Real” do
Brasil. Isso cria uma classe de parasitas nacionais e estrangeiros que vivem de
receber nossos juros. (Quando o capital pega dinheiro emprestado em países com
juros baixos e compra títulos públicos do Brasil, isso é chamado de Carry Trade)
Reais
Para que serve a Política Monetária
4. Controle do câmbio
4. Controle do câmbio
4. Controle do câmbio
O problema da dívida pública não se resolve com “auditoria”. Aliás, tal auditoria iria
resultar em fuga de capitais e faria o Banco Central ter que oferecer juros ainda
mais altos para satisfazer o capital! O problema da dívida interna do Brasil é fruto
da abertura financeira e do próprio funcionamento do capitalismo, que obrigam o
Estado a criar mecanismos para a reprodução do capital.
4. Controle do câmbio
Não se pode acabar com a dívida pública no capitalismo, visto que isso faria nossa
moeda se desvalorizar com a fuga de capitais. Esse problema não se resolve com
“auditoria” ou “boa vontade do Banco Central”, mas sim transformando o sistema
econômico em que a sociedade está inserida antes que esse sistema nos mate.
Socialismo
Capitalismo
Barbárie
Para que serve a Política Monetária
O BC não controla a quantidade de Reais, mas sim o custo dos Reais, vendendo e
comprando títulos públicos, ou emprestando e “tomando” reservas, nas quantidades
necessárias para que o juro interbancário seja igual à Selic.
Reservas
Títulos Públicos
Para que serve a Política Monetária
A taxa Selic determina o juro que o BC “gostaria” que os bancos utilizassem quando
emprestam reservas uns para os outros pelo prazo de 01 dia. Esse não é o juro que
os bancos cobram dos consumidores nem que o BNDES usa para financiar projetos!
Para que serve a Política Monetária
Utilizando o seu poder de criador de moeda, o Banco Central pode comprar e vender
títulos públicos, ou emprestar e pegar reservas emprestado dos bancos oferecendo
retornos que façam os juros interbancários se aproximarem da meta SELIC.
Excedente Excedente
Empréstimo Reservas
Empréstimo
Reservas Reservas
Reservas
Reservas
Ou seja, a política monetária, via taxa Selic, impede flutuações bruscas dos juros,
tanto para cima quanto para baixo. Ao controlar os juros interbancários, o Banco
Central define indiretamente todas as outras taxas de juros da economia.
Para que serve a Política Monetária
Embora o Banco Central tenha o poder de definir a taxa de juros, isso não significa
que o juro escolhido seja o ideal para a economia. Esse é um debate relevante.
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Para que serve a Política Monetária
Se o Banco Central sobe a taxa de juros para combater a inflação de demanda, mas
a economia precisa investir para ampliar sua produtividade e atender essa demanda,
o resultado será ainda mais inflação. O juro alto inviabiliza o investimento produtivo.
Para que serve a Política Monetária
Se o Banco Central sobe a taxa de juros para combater uma inflação causada pela
desvalorização do câmbio, isso apenas empurra o problema para frente. Os reais
congelados no presente vão se multiplicar e tentar sair de novo no futuro.
Para que serve a Política Monetária
Se o Banco Central sobe a taxa de juros para combater a especulação depois que a
bolha já cresceu demais, a elevação dos juros pode causar uma crise financeira
como a de 2008 e 2023. (melhor exploradas nas aulas 04 e 05)
Para que serve a Política Monetária
Se o Banco Central abaixar os juros tentando estimular uma economia que já está
no limite do endividamento, os bancos vão usar seu excedente de reservas para
especular no mercado financeiro, visto que não há demanda por crédito produtivo.
Para que serve a Política Monetária
Se o Banco Central abaixar os juros tentando estimular uma economia onde não
existe expectativa de lucratividade nem na indústria nem na especulação, a
tendência do capital é tirar o dinheiro do país e desestabilizar a taxa de câmbio.
Para que serve a Política Monetária
Visto que a taxa de juros pode manipular o câmbio, criar bolhas especulativas,
transferir riqueza para o topo da sociedade, e causar crises financeiras, devemos
sempre nos perguntar “a quem o Banco Central serve?”.
Para que serve a Política Monetária
Controle da inflação
Controle do câmbio
foto: Taman Negara NP foto: Erich G. Vallery foto: Ian Suzuki foto: Holger Krisp
Desmentindo Campos Neto
O juro é 100% definido pelo Banco Central, não tendo qualquer relação com o tamanho da
dívida pública. Se a hipótese esdrúxula de Campos Neto fosse verdadeira, os Estados
Unidos, que têm a maior dívida pública do mundo, teriam também o maior juro do mundo.
Campos Neto é um ser vivo cujo cérebro foi dominado pelo capital. Campos Neto
mantém os juros altos porque seu propósito de vida é ajudar o capital a se reproduzir.
Desmentindo Campos Neto
“O governo está competindo com você pelo dinheiro que tem disponível
Campos Neto: para aplicar em projetos. O culpado pelos juros altos é que tem alguém
competindo pelos mesmos recursos e pagando mais”
Como explicado na aula 02, o Estado pode criar sua própria moeda, significando que não
existe disputa por dinheiro entre o setor público e o privado. A verdade é o contrário!
Quanto mais o Estado gasta, mais moeda entra na economia e se transforma em fundos
que podem ser investidos! A real disputa não é por dinheiro, mas sim por recursos
produtivos reais, que o capital deseja consumir para continuar sua reprodução.
Qual o “custo” da política monetária
Desviando verbas dentro da lei
Custo da Política Monetária
Ao longo dos anos, o custo da política monetária no Brasil supera várias vezes os gastos
com áreas como saúde e educação, operando como se fosse um orçamento paralelo.
Selic 2%
Custo da Política Monetária
https://www.portaltransparencia.gov.br/despesas/programa-e-aca
o?paginacaoSimples=true&tamanhoPagina=&offset=&direcaoOrd
enacao=asc&de=01%2F01%2F2021&ate=31%2F12%2F2021&c
olunasSelecionadas=linkDetalhamento%2CmesAno%2Cprogram
a%2Cacao%2CvalorDespesaEmpenhada%2CvalorDespesaLiqui
dada%2CvalorDespesaPaga%2CvalorRestoPago
Custo da Política Monetária
Imagine que você pega R$100 de um amigo e entrega para ele um papel em que você
se compromete a pagar R$101 no mês seguinte. Passados 30 dias, você paga o R$1
de juros e diz para seu amigo que não tem o resto. Sendo assim, você cria outro papel
prometendo pagar R$101 no mês seguinte em troca do papel antigo. Ao fazer isso,
você está rolando a dívida. O seu gasto foi de apenas R$1, não de R$101.
Custo da Política Monetária
Observando as receitas do Estado, percebe-se que a rolagem da dívida é sempre
precedida de receitas na forma de operações de crédito (criação de títulos públicos).
Comparações…
Em 2021 as despesas com juros foram o equivalente a 6,3% do PIB
* https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59099166
Custo da Política Monetária
Comparações…
Em 2021 as despesas com juros foram mais de 500 bilhões (R$)
Comparações…
Em 2021 as despesas com juros foram mais de 500 bilhões (R$)
Comparações…
Em 2021 as despesas com juros foram mais de 500 bilhões (R$)
Tanto a política fiscal como a política monetária, feitas por instituições “supostamente”
públicas, são ferramentas usadas pela classe dominante para extrair valor da sociedade.
O orçamento público e o Banco Central servem para reproduzir capital, não ajudar povo.
Política Monetária
Privatização Compra de títulos
Política Fiscal
Classe
a a dominante
a a
Consumo
Empresas
Arrow Estatais
Arrow Trabalhadores Títulos
Arrow Públicos
Arrow
Imposto
Gasto públicos Gasto públicos
Estado
Custo da Política Monetária
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“O país está quebrado e precisa pegar emprestado porque gasta demais”
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Quais as falsas alternativas
Onde a “esquerda” liberal erra no discurso
Baixar a Selic ajuda a combater nossos parasitas financeiros. Porém, apenas isso
não resolve a desindustrialização do país, visto que faltam políticas públicas de
investimento. Baixar o juro imaginando que o capital vai magicamente construir
fábricas… em um país com a população endividada… e um Estado cortando
gastos… é utopia da esquerda-liberal que vendeu a alma pro capitalismo.
Baixei a Selic.
Porque não dá lucro, ué!
Por que você não investe
nessas fábricas aí?
Falsas Alternativas
Além disso, na falta dos títulos públicos como ferramenta de reprodução de capital,
na falta de políticas públicas de investimento, e na falta de controle financeiro em
nossas fronteiras, o capital simplesmente trocaria reais por dólares, fazendo o
câmbio se desvalorizar e produzindo inflação. Basicamente, não existem soluções
capitalistas para problemas capitalistas, pois o capital é incontrolável.
Apenas
Qual obaixar a Selic
problema danão funciona?
auditoria?
A auditoria funciona para dívidas externas, quando o país deve dinheiro em uma
moeda estrangeira, como a Argentina. Nesses casos, o calote ajuda a libertar o país
de dívidas criminosas com o FMI ou Banco Mundial, além de se livrar daquilo que é
a principal causa de hiperinflação no mundo: as dívidas externas. (aula 02)
Falsas Alternativas
No caso do Brasil, a nossa dívida é interna, medida em reais (R$), significando que
ela não cumpre o mesmo papel que as dívidas externas. Se a Argentina der um
calote na dívida dela, isso significaria libertar o país da exploração estrangeira. No
Brasil, dar um calote na dívida significaria abolir a política monetária. (Um calote
da dívida interna só faz sentido caso o Brasil deixe de ser capitalista)
Falsas Alternativas
A auditoria e o calote fariam a dívida pública deixar de ser segura, de forma que o
capital iria buscar outras formas de se reproduzir, seja especulando ou comprando
títulos públicos de outros países mais “seguros”. A consequência imediata seria a
fuga de capitais e a desvalorização do real. Para convencer o capital a voltar a
comprar esses títulos públicos, seria necessário oferecer juros ainda maiores!
Falsas Alternativas
É idealismo achar que basta baixar os juros que a iniciativa privada vai investir*, ou
dar um calote na dívida para destravar o orçamento**. Problemas capitalistas não
se resolvem com soluções capitalistas. É necessário transformar as dinâmicas
econômicas do país, mudando a forma como operam os bancos, o banco central, a
política fiscal, a política monetária, nossas relações de trabalho, e a forma como o
valor é produzido e distribuído em nossa sociedade.
No pior dos casos, o capital será usado para criar bolhas especulativas ou
será convertido em dólares para fugir do país (desvalorizando o câmbio).
Existe alternativa
Em um país capitalista, ela não é boa nem ruim. Ela é necessária para o
funcionamento normal do sistema econômico, visto que sua ausência
produz as bolhas especulativas e a desestabilização do câmbio.
A dívida é segura
para não-criminosos
Devedor! Devedor!
Existe alternativa
Os títulos públicos com altos juros não são a única ferramenta para atingir os
objetivos que o Banco Central “supostamente” cumpre. Pode-se governar a
economia sem oferecer altos juros ao setor financeiro nem impor um teto de gastos
sobre a população. A desculpa de que “o país está quebrado e precisa pegar
emprestado porque gasta demais” é uma mentira que visa justificar as políticas de
genocídio cometidas pelo Banco Central e pelo próprio Estado capitalista.
Existe alternativa
Existe alternativa à política monetária?
O controle da inflação deve focar em suas causas. Usar a taxa de juros como arma
é apenas um escudo criado pela burguesia para proteger seu capital. Como visto na
aula 02, o real controle da inflação exige investimento em infraestrutura, indústrias,
profissionais, recursos naturais e tudo aquilo que realmente é necessário para criar
valor de uso que a sociedade demanda. (ao invés de criar apenas valor de troca)
Caixa
preta do !!!!!
Mercado
Existe alternativa
Existe alternativa à política monetária?
Isso tem relação com o que foi mencionado na solução 01, que envolve desenvolver
as forças produtivas do país e aumentar nossa produção de valor de uso. Não
existe necessidade de “poupar dinheiro para o futuro”, mas sim de construir as
condições materiais para sustentar a sociedade. A mesma lógica que funciona para
impedir a inflação também serve para garantir qualidade de vida aos aposentados.
Existe alternativa
Existe alternativa à política monetária?
Quando o banco central sobe os juros para “proteger a poupança dos aposentados”,
a verdade é que isso destrói a capacidade de investimento do país no longo prazo,
piorando as condições materiais futuras. Ao fazer isso, o Banco Central não está
resolvendo o problema, mas apenas jogando nas costas dos trabalhadores pobres e
endividados que não têm acesso aos fundos privados de previdência.
Existe alternativa
Existe alternativa à política monetária?
3. Controle do câmbio
O controle do câmbio pode ser feito com impostos maiores sobre operações
financeiras que cruzem a fronteira, de forma que os custos de enviar dinheiro para
fora não compense o retorno. Além disso, é possível criar barreiras à saída do
capital por meio de políticas industriais que incentivem o investimento no próprio
país e o consumo de produtos nacionais.
Existe alternativa
Existe alternativa à política monetária?
3. Controle do câmbio
Seria necessário fazer algo que o capital odeia, que é controlar sua entrada e saída
no país, criando regras claras para impedir fluxos especulativos e fuga de capitais.
Ou seja, domesticar o capital no curto prazo. Porém, cuidado, pois quando o capital
encontra restrições ao seu movimento, costuma atacar o cérebro do hospedeiro e
promover golpes de Estado, invasões militares, guerra híbrida, etc.
Existe alternativa
Existe alternativa à política monetária?
A estabilização dos juros pagos pelos consumidores e empresas pode ser feita
através dos próprios bancos públicos como a Caixa Econômica Federal, BNDES,
Banco do Brasil, e outros. Um sistema financeiro público tem a vantagem de que o
pagamento de juros se torna receita do Estado, reduzindo os impostos!
Existe alternativa
Existe alternativa à política monetária?
Obviamente, essas outras alternativas não são lucrativas para o setor financeiro
especulativo, nem empresas que exploram mão de obra barata. Fica claro porque o
Estado, pressionado por grupos economicamente poderosos que se beneficiam dos
juros altos, opta por usar títulos públicos e normas fiscais como principais
ferramentas econômicas. O Capital é um ser violento que domina o hospedeiro!
$ $
Recapitulando
Recapitulando
1. O Estado não pega emprestado
2. Títulos públicos não são dívidas
3. …mas servem para política monetária
4. Política monetária é gestão da moeda
5. …e controle de poder de compra
6. …e controle de demanda
7. A política monetária envolve interesses de classe
Nos próximos capítulos
Nos próximos capítulos
Até o momento vimos como as instituições públicas que controlam as políticas fiscais e
monetárias são usadas para reproduzir capital e roubar valor criado pela sociedade. Na
próxima aula, veremos como o sistema bancário privado faz o mesmo.
Imposto
Gasto públicos Gasto públicos
Estado
Moeda, imposto, dívida pública e outras coisas…
FONTES
6. Outras fontes
FONTES: 1. História da moeda, da dívida e do dinheiro
Daniel Negreiros Conceição, Fabiano Dalto; 2022; Andrew Berkeley, Josh Ryan-Collins, Richard Tye, Asker Voldsgaard,
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Functional Finance and the Federal Debt. Social Research, no. 10 Daniel Conceição; 2020;
Teoria Monetária Moderna: a chave para uma economia a serviço das
Abba P. Lerner; 1947; pessoas
Money as a Creature of the State
L. G. Belluzzo, L. C. Raimundo; S. Abouschedid; 2021;
Gestão da Riqueza Velha e Criação de Riqueza Nova: a Modern Money
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Theory (MMT) é a solução?
“What is money?” Banking Law Journal
André Lara Resende; 2017;
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Juros, Moeda e Ortodoxia: teorias monetárias e controvérsias políticas
Modern Money Theory: a primer on macroeconomics for sovereign monetary
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FONTES: 3. Funcionamento da moeda bancária (escritural)
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https://mpra.ub.uni-muenchen.de/15892/1/MPRA_paper_%2015892.pdf The Saving Glut of the Rich and the Rise in Household Debt
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The Bubble and Beyond : Fictitious Capital, Debt Deflation and Global Crisis Dominância Financeira e Privatização das Finanças Públicas no Brasil
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Relatório Mensal da Dívida Pública Federal, de Setembro 2021 (Pág. 13, Radhika Desai, Michael Hudson; 2021
tabela 2.4) Beyond the Dollar Creditocracy: A Geopolitical Economy
https://www.michael-hudson.com/wp-content/uploads/2021/07/Hudson_Valdai116.pdf
Em Setembro de 2021, os títulos públicos estavam: 31% em instituições
financeiras, 23% em fundos de investimentos, 22% em previdências, e 10% Esteban Almiron; 2022
com não-residentes. How Argentina has been trapped in neocolonial debt for 200 years: An
https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:41762
economic history
https://geopoliticaleconomy.com/2022/12/18/argentina-neocolonial-debt-history/
ANBIMA – Consolidado Histórico de Fundos de Investimento (Julho,
2022. Pág. 7) Radhika Desai; 2022
Em 2022 os fundos de investimento brasileiros tinham 70% de seu capital What is really causing inflation? Neoliberal financialization decimated
alocado em títulos públicos productive capacity
https://www.anbima.com.br/pt_br/informar/estatisticas/fundos-de-investimento/fi-consolidado-historico.htm https://geopoliticaleconomy.com/2022/11/07/inflation-neoliberal-financialization/
Você pode acompanhar os gastos do governo através do Portal da Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século XXI (Evento
Transparência: BNDES)
https://www.portaltransparencia.gov.br/orcamento
Dia 01: https://www.youtube.com/watch?v=HXsbSiOH8bE
Dia 02: https://www.youtube.com/watch?v=ygrocuaff8I
Serviço de exportação de engenharia do BNDES
https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/transparencia/bndes-aberto/exportacoes
https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/transparencia/consulta-operacoes-bndes/contratos-exportacao-
bens-servicos-engenharia
FONTES: 6. Críticas ao Novo Arcabouço Fiscal