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Money: ontology and deception

John Searle

André Nascimento Pontes


Departamento de Filosofia
Universidade Federal do Amazonas
philospontes@gmail.com
0.
Introdução
Money: ontology and deception
Ontology: dez funções/caraterísticas [propriedades].

ex.: Dinheiro é uma função de status.

Deception: erros; ilusões; falsidades sistemáticas.

ex.: É uma ilusão pensar no dinheiro como algo que


deve estar lastreado.

* Teoria do dinheiro crédito.


“The Confederate States of America will pay the bearer $100 on demand”
“Two years after the ratification of treaty of peace […] between the Confederate States of America and The
United States of American”
“This note is legal tender for all debts, public and private”
Algumas considerações

Afinal, o que é o dinheiro?


O que torna um pedaço de papel dinheiro?

Nos exemplos anteriores temos diferentes atos de fala:

• A nota de $100 dos Estados Confederados expressa uma promessa condicional.

• A nota de US$20 contém uma declaração.


1.
3 Funções do Dinheiro
(visão ortodoxa)
As funções do dinheiro

• Os livros-texto de economia atribuem três funções ao dinheiro que podem ser


entendidas conjuntamente como uma definição [implícita].
▪ Meio de troca
Eu comprei esta camisa por R$20.
▪ Reserva de valor
Eu tenho R$1000 em minha conta bancária.
▪ Unidade de conta [precificação]
Meu carro custa R$30000

• Searle defende que essas três funções não são suficientes para definir dinheiro.
Algumas considerações
Sobre meio de troca
▪ Quando compramos uma camisa por R$20, o dinheiro não é um meio de
troca, mas um objeto de troca. Não há um meio envolvido.

▪ Quando compro algo, não preciso necessariamente trocar objetos físicos. É o


caso de compras com cartão de débito.

▪ Em uma transação financeira poderes deônticos (direitos e deveres) são


transferidos.

▪ A função de meio de troca exclui pagamentos onde não há troca, e. g.,


pagamentos de impostos, mesadas, chantagem, doações, etc. [penso que há]
2.
3 concepções de dinheiro
Dinheiro commodity

▪ Dinheiro é uma commodity específica usada como padrão para trocas


comerciais:
ouro; prata; sal; conchas do mar; etc.

▪ O dinheiro commodity é em geral a concepção assumida nas descrições de


permutas: você troca um objeto (uma commodity) por um bem ou serviço.
Dinheiro contrato
▪ Dinheiro é um contrato que promete pagar ao portador tal e tal valor sob
demanda.

Mas como você pagar um dado valor?


Usando dinheiro?
Então o dinheiro contrato é uma promessa de pagar dinheiro?
Mas dinheiro não é o próprio contrato?

▪ Uma decepção: a ideia de que papel moeda é um contrato que garante ao


portador o resgate de certo valor. (prometem te pagar o que você já tem)
Dinheiro fiat (crédito)

▪ Dinheiro é qualquer coisa que uma autoridade reconhecida dotada de poderes


deônticos específicos declara ser dinheiro.

▪ É necessária a atribuição de função de status para que a performance das 3


funções do dinheiro.

▪ Searle prefere a noção de money baseless.


Debt: the first 5000 years
David Graeber
3.
10 Funções do Dinheiro
(Searle)
Dinheiro...
1. Comporta poderes deônticos (direitos e obrigações);

2. Permite pagamentos mesmo quando estes não envolvem a compra de algo;

3. É uma reserva de valor;

4. É medida de valor (unidade de conta). Ele permite precificar bens e serviços;

5. É uma entidade social. Só pode ser usado entre pessoas e instituições. Requer
intencionalidade coletiva;
Dinheiro...
6. É essencialmente digital: permite dar uma resposta numérica à pergunta
“quanto custa tal coisa?”;

7. Quando usado como dinheiro, não possui valor intrínseco. É sempre um meio
para um fim;

8. Tem de ser trocável e transferível (em substituição a função meio de troca);

9. Tem que ser não perecível;

10. É algo que somente animais cognitivamente semelhantes aos humanos


podem possuí-los. (seria melhor “usá-los”?)
4.
Ontologia Social
Distinção Objetivo/Subjetivo

▪ Searle faz uso da distinção objetivo/subjetivo em dois sentidos:

“Obama era presidente em 2015” (Epistemicamente objetivo)


“Obama foi um melhor presidente que Bush” (Epistemicamente subjetivo)

Montanhas; átomos; a distância entre a terra e a lua (Ontologicamente objetivo)


Crenças; dores; desejos... (Ontologicamente subjetivo)
Ontologia do Dinheiro
▪ As abordagens tradicionais do dinheiro são inadequadas porque não estão bem
fundadas em uma ontologia social satisfatória.

▪ Uma pergunta relevante:


Como podemos ter conhecimento objetivo sobre entidades subjetivas?

O exemplo do dinheiro:
▪ Dinheiro é uma instituição social. Seu modo de existência é relativo a
intencionalidades (ontologicamente subjetivo).

▪ Dinheiro admite caracterizações epistemicamente objetivas.


Dinheiro é uma função de status

▪ Toda função é relativa a (dependem de) observadores.


ex.: usar uma pedra como um peso de papel.

▪ Funções de status são relativas a (dependem de) uma intencionalidade coletiva.


Elas só podem ser performadas por aceitação coletiva.
ex.: usar um determinado pedaço de papel como uma nota de $100.

▪ Valor não é algo intrínseco, mas relativo a intencionalidades uma vez que eles
são atribuídos por agentes conscientes. [escola marginalista]
Função de status

▪ Toda função de status é criada por meio de Declarações [Discordo]


Note! Exceto a linguagem [a própria função de ato de fala] sob pena cair em um
regresso ao infinito.

▪ Declarações que criam funções de status podem implícitas.


ex.: duas pessoas podem estabelecer um relacionamento mesmo sem uma
declaração explícita.
Como a função de status opera

▪ Dinheiro commodity: a função de status estabelece por reconhecimento


coletivo uma commodity como sendo dinheiro.

▪ Dinheiro contrato: a semântica de um ato da fala [em geral um ato comissivo]


garante ao portador do contrato os poderes deônticos tipicamente associados a
quem possui dinheiro.

▪ Dinheiro fiat (crédito): o mais puro caso do dinheiro onde dinheiro é não
lastreado e pode ocorrer enquanto função de status pura.
Poderes deônticos
▪ O dinheiro é nada além de uma função de status que estabelece um conjunto de
poderes deônticos.
ex.: o poder de comprar algo.

▪ Os poderes deônticos do dinheiro não são absolutos, mas relativos a


observadores... e relativo a preços.
ex.: se todos os preços dobrarem subitamente, ceteris paribus, a mesma
quantidade de dinheiro terá seu poder de compra reduzido à metade.

▪ A quantidade de poder do dinheiro não é fixada em valores numéricos.


4.
Algumas decepções
1. Dinheiro sem lastro disfarçado de dinheiro contrato

▪ No contrato há um acordo para pagar ao portador a importância de $100.

▪ Mas não há tal coisas para além do próprio contrato que honrará a promessa.
2. Mais contratos são emitidos do que possam ser
simultaneamente honrados

▪ É razoável assumir que a capacidade de um contrato que você possui não


dependa do comportamento dos portadores dos demais contratos.

▪ Na prática, não é isso que ocorre. Vide corrida bancária.


3. Quando o banco empresta dinheiro, ele empresta
algo que ele não têm
3. Quando o banco empresta dinheiro, ele empresta
algo que ele não têm
4. A quantidade de poder de um dinheiro não é fixada
em valores numéricos

▪ A quantidade de poder de um dinheiro é relativo aos preços e taxas praticados


pelas pessoas que usam o dinheiro.
5. Dinheiro não necessita de lastro

▪ Mesmo quando o dinheiro parece ter lastro (dinheiro commodity e dinheiro


contrato), nem é o lastro ele próprio o dinheiro nem é ele o que torna algo
dinheiro.

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