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UNESPAR - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ

CAMPUS DE CAMPO MOURÃO


CIÊNCIAS ECONÔMICAS
INSTITUIÇÕES DE DIREITO E DIREITO TRIBUTÁRIO

CARLOS EDUARDO SENETRA


DANIELLE CHITKO DE SOUZA
MARIA GABRIELA GARCIA
PATRICK CELESTRINO DOS SANTOS
RONALDO FERREIRA PROCÓPIO
SAMUEL MOELLMANN DE SOUSA

TÍTULOS DE CRÉDITO

SETEMBRO - 2022

CAMPO MOURÃO
1 - TÍTULOS DE CRÉDITO

1.1 - O que é?

Título de crédito é um tipo de documento que representa a responsabilidade da


dívida nele escrito, ou seja, é um representante do dinheiro físico que também pode
ser usado como uma forma de pagamento. De acordo com a lei 13.105/2015, artigo
784 inciso I do código de processo civil, os títulos de crédito são representados pela
letra de câmbio, nota promissória, duplicata, debênture e o cheque.

1.2 - Origem Etimológica

A Palavra “Título” tem origem latim “títulus” que possui o significado de inscrição ou
texto que dá identidade ou adjetivação à coisa, fato ou pessoa. Já a palavra
“creditum” também tem origem do latim e significa confiança.

1.3 - Como surgiu

Os títulos de crédito surgiram da necessidade de facilitar operações envolvendo


créditos e promessas de pagamentos futuros, onde transformavam papéis sem valor
em promessa de crédito. No direito, não era possível cobrar a dívida através dos
bens do devedor, principalmente por conta da Lei das XII Tábuas, onde a cobrança
consistia em matar o devedor ou vender como escravo. Porém, mais tarde, a
garantia pessoal e corporal foi substituída pelo seu patrimônio, em razão da Lex
Papiria. Assim, foram possíveis as transferências de crédito desde que fossem feitas
atendendo as formalidades estabelecidas. Portanto, foi na idade média que
começaram a aparecer documentos e papéis que reuniam direitos e as obrigações
do beneficiário e do devedor, ou seja, os títulos de crédito. Com o passar do tempo
novas alterações foram feitas, como foi o caso de endosso e recentemente, com o
avanço da tecnologia, com os títulos virtuais.

1.4 - Teorias
Há três teorias que cercam os títulos de crédito. A primeira e mais importante é a
Teoria de Vivante, criada por Cesare Vivante, que explica quais são as duas
vontades do devedor. Segundo Cesare, “uma é originária de pessoalidade com o
credor principal e a outra que se concretiza pela liberdade de circulação do crédito.
Assim, em relação ao credor principal existe uma relação contratual e em relação a
terceiros possuidores um fundamento na obrigação de firma, pois é através deste
ato que expressa a sua vontade de se obrigar.” A segunda teoria é a da criação, que
diz que o direito deriva da criação do título através da assinatura. E a terceira teoria
é a da emissão, que diz que o direito deriva através da emissão voluntária do título.
É importante ressaltar que a legislação brasileira não adotou nenhuma das teorias,
ela apenas adota pontos importantes entre ambas. Entretanto é possível ver a teoria
da criação presente no artigo 1.506 e a teoria da emissão no artigo 1.509, as duas
do código civil.

1.5 - Princípios

Os títulos possuem os princípios da cartularidade, literalidade, autonomia e os sub


princípios de abstração e inoponibilidade.

- Princípio da cartularidade: todos os títulos devem estar escritos em um documento,


isto é, devem ser representados por um papel para que seja válido como título e
para que possa ser cobrado. A quitação deverá ser realizada no próprio papel. Em
virtude dos avanços tecnológicos, esse princípio foi relativizado, podendo existir
títulos virtuais, visto que ainda são exercidas na sociedade diversas atividades
comerciais que resultam em obrigações monetárias.

- Princípio da literalidade: é o que está escrito no título e que não pode ser feito
interpretação que vão além do que nele contém.

- Princípio da autonomia: as obrigações dos títulos são autônomas e não se ligam,


isto é, o endosso, por exemplo, não há dependência com o aval e assim adiante.
Esse princípio se divide em dois sub princípios. São eles:

- Abstração: a verificação do negócio jurídico que originou o título se torna


desnecessária
OBSERVAÇÃO: autonomia e abstração não devem ser confundidas. A primeira
torna as obrigações assumidas no título independentes e a segunda decorre pelo
fato dos direitos representados no título não terem vínculo com a causa do
nascimento desse.

- Inoponibilidade: é o sub princípio que visa garantir que terceiros não sejam
prejudicados caso ajam de boa-fé. Assim, o devedor do título deve exercer sua
função com o novo beneficiário da mesma forma que havia com o seu antigo credor,
só poderá se opor caso o novo credor agiu em detrimento de sua pessoa. A
inoponibilidade das exceções do título está relacionada aos seus requisitos
essenciais, já que a falta dos mesmos o invalida.

1.6 - Características:

- Força executiva: é a característica que atribui a qualidade de título de crédito


segundo a lei.

- Formalismo: é a característica que deve cumprir todos os requisitos formais e


obrigatórios estabelecidos em lei, sem os quais, será descaracterizado.

- Circulabilidade ou circulação: essa é a característica que facilita sua circulação,


nas relações empresariais. Além disso, não há obrigatoriedade na circulação de
títulos.

1.7 - Classificações:

• Quanto à estrutura:

A estrutura de um título de crédito pode ser de duas maneiras, por ordem de


pagamento ou por promessa de pagamento.

- Ordem de pagamento: neste tipo estão envolvidas três entidades: sacador,


situação do sacado e o beneficiário. Assim, o sacador é quem emite o título (ordena
o pagamento), a situação do sacado é quem recebe a ordem de pagamento (o
responsável por entregar o dinheiro ao beneficiário, ou seja, o banco) e o
beneficiário que é quem vai receber. O cheque e a duplicata possuem tal estrutura.

- Promessa de pagamento: neste tipo são envolvidas apenas duas entidades,


sacador ou promitente e o beneficiário. O sacador é quem promete pagar e o
beneficiário é quem vai receber. Pode-se associar com o pagamento a prazo já que
a promessa de pagamento também é uma promessa de pagamento futura. A nota
promissória, letra de câmbio e a debênture possuem tal estrutura.

• Endosso:

É a transferência da propriedade do título de crédito. Isto é, quando o beneficiário


paga uma dívida com o título. Quem recebe é o endossatário e quem transfere é o
endossante.

• Aval:

É garantia que o título vai ser pago. É feito por uma terceira pessoa, o avalista, o
qual fica com a responsabilidade de pagar a dívida.

• Aceite:

É a autorização que possibilita que o título de crédito seja válido, normalmente é


realizado por meio da assinatura do aceitante. É o caso da duplicata, o restante dos
títulos não possuem aceite obrigatório.

• Outras classificações:

a) Quanto à emissão:

- Causal: são aqueles cuja emissão está vinculada a uma operação ou negociação
específica prevista em lei. (A duplicata é um exemplo)

- Não causal: são aqueles que a emissão independe de causa específica ou prevista
em lei. Por exemplo, tanto o cheque quanto a duplicata podem ser emitidos em
qualquer situação a fim de garantir um crédito.

b) Quanto ao modelo:
- Livre: significa que não há qualquer exigência governamental quanto a quem pode
confeccionar o título. O emitente pode elaborar o título da forma que lhe for mais
conveniente, desde que faça presentes todos os requisitos do título que está sendo
confeccionado (ex: nota promissória e letra de câmbio).

- Vinculado: o título só poderá ser emitido com respeito aos padrões estabelecidos
em lei. Por exemplo, a folha do cheque deve ser emitida pelo banco, respeitando
uma série de exigências..

c) Quanto à circulação:

- Título ao portador: é aquele que confere ao possuidor do documento o direito de


crédito, mesmo que não conste o seu nome como beneficiário.

- Título normativo: é aquele em que se insere o nome do beneficiário no documento.


Aqui, poderá o título ser:

— a ordem, endossável, circulável quando o emitente silenciar quanto à


circulabilidade do título. Nessa hipótese, o título poderá ser transferido a terceiros,
sendo necessário, em alguns casos, constar o endosso no livro de registro em que
consta o título.

— não a ordem, não endossável, não circulável quando o emitente fizer


constar uma destas expressões, o que impede o beneficiário de transferir o título em
favor de terceiros.

1.8 - Tipos de título de crédito

De acordo com a lei, são eles a duplicata, a nota promissória, a letra de câmbio, o
cheque e a debênture Como são basicamente documentos que comprovam que
uma pessoa é credora e a outra devedora, existem alguns tipos diferentes:

- Cheque:

É um tipo título de ordem de débito usado para realizar um pagamento.

→ É regido pela lei 7.357/ 1985;


→ É por ordem de pagamento;

→ Endosso;

→ Aval;

→ À vista;

→ Apresentação em 30 dias na mesma cidade e 60 em outra (a partir da


emissão);

→ Prescrição em 6 meses após o prazo de apresentação;

→ Estelionato;

- Nota promissória:

Esse tipo de título funciona como uma garantia de pagamento. Dessa maneira,
juntamente com um contrato, a nota promissória é assinada pelo comprador que
deve pagar determinado valor, em uma data estabelecida. Enfim, o recibo que
comprova o pagamento só é entregue ao comprador após o pagamento ser efetuado.

→ É regido pelo decreto de lei 2.044 de 1908;

→ Promessa de pagamento;

→ Endosso;

→ Aval;

→ Prescrição em 3 anos após o vencimento;

→ Protesto e SPC/Serasa;

- Duplicata:

É um tipo de título onde o comprador se responsabiliza com o pagamento de


determinada quantia em uma data estipulada.
→ Regida pela lei 5.474 de 1968;

→ Ordem de pagamento;

→ Endosso;

→ Aval;

→ Aceite obrigatório;

→ Vinculado a compra e venda ou serviços;

→ Boleto com referência a nota fiscal, ambos com aceite;

→ Prescrição em 3 anos após o vencimento contra o devedor e 1 ano contra o


avalista e endossante após protesto.

- Debênture:

É um título que representa um empréstimo que uma Sociedade Anônima possui com
um investidor, podendo ser de médio ou de longo prazo. Como investidor desses
títulos, o credor passa a ter um direito de crédito na companhia emissora das
debêntures. Assim, é como se os investidores estivesse “emprestando” dinheiro em
troca de rendimento futuro.

→ Regida pela lei 6.040 de 1976;

→ Promessa de pagamento a prazo;

→ Forma de empréstimo no mercado de capitais;

→ Participação proporcional nos lucros e recebimentos de juros;

→ Pode ser convertida em ações;

→ Prescrição em 5 anos apos o vencimento.

- Letra de câmbio:
As pessoas podem confundir a palavra câmbio com moedas ou convenção
internacional, porém a letra de câmbio é um título emitido por uma instituição
financeira. É um tipo de investimento de renda fixa com rendimentos mais atrativos
do que a poupança. Sem contar que é muito parecida com o certificado de depósito
bancário onde o título é emitido por um banco.

→ É regido pelo decreto de lei 2.044 de 1908.


2 - REFERÊNCIAS

BARCELOS, José Claudio Leão. Títulos de crédito e seus princípios. DireitoNet,


2007. Disponível em: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3916/Titulos-de-
credito-e-seus-
principios#:~:text=Aborda%20os%20princ%C3%ADpios%20dos%20t%C3%ADtulos
%20de%20cr%C3%A9dito%20e%20sua%20aplicabilidade.&text=Origem%20Etimol
%C3%B3gica%20%2D%20CREDITUM%20%2D%20CREDERE%20(,seria%20um%
20t%C3%ADtulo%20de%20cr%C3%A9dito. Acesso em: 25 de set. de 2022.

Brasil, lei Nº 13.105, de 16 de março de 2015. Publicação: Diário Oficial da União de


17 de março de 2015, Brasília - Distrito Federal.

Brasil, lei Nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Publicação: Diário Oficial da União


de 17 de dezembro de 1976, Brasília - Distrito Federal.

Brasil, decreto Nº 2.044, de 31 de dezembro de 1908. Publicação: Coleção de leis


do Brasil de 1908.

Brasil, lei Nº 7.357, de 02 de setembro de 1985. Publicação: Diário Oficial da União


de 03 de setembro de 1986, Brasília - Distrito Federal.

Brasil, lei Nº 5.474, de 18 de julho de 1968. Publicação: Diário Oficial da União de 19


de julho de 1968 e retificado em 25 de julho de 1968, Brasília - Distrito Federal.

Escola Brasileira de Direito. Conheça 4 classificações dos títulos de crédito.


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https://ebradi.jusbrasil.com.br/artigos/611937829/conheca-4-classificacoes-dos-
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JEHNIFFER, Jaíne. Titulo de crédito, o que é? Definição, principais tipos e


características. Investidor Sardinha, 2020. Disponível em:
https://investidorsardinha.r7.com/aprender/titulo-de-credito/. Acesso em: 04 de set.
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Letra de Câmbio (LC): o que é e como funciona esse título de renda fixa. InfoMoney.
Disponível em: https://www.infomoney.com.br/guias/letra-de-cambio-lc/. Acesso em:
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Letra de câmbio. DireitoNet, 2017. Disponível em:


https://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/1815/Letra-de-cambio. Acesso em: 24
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MIZOGUCHI, Amanda Naomi. Teoria geral dos títulos de crédito: Origem histórica,
definição e características essenciais. Jusbrasil, 2015. Disponível em:
https://amandamizoguchi.jusbrasil.com.br/artigos/181183621/teoria-geral-dos-titulos-
de-credito-origem-historica-definicao-e-
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NOGUEIRA, Thais. Princípios dos títulos de crédito. Jusbrasil, 2017. Disponível em:
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SIQUEIRA, Alessandro Marques de. MATOS, Joana Sarmento de. A inoponibilidade


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http://www.uberaba.mg.gov.br/portal/acervo/procon/legislacao/federal/TITULO_DE_
CREDITO.pdf?fbclid=IwAR2agTW1v2ea5c9ewZMl8_mlt6IHLS5ZdulhaFhayVwVhT4
Ky2i8uT1Fwf#:~:text=A%20abstra%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20o%20princ
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