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Institutos do
Direito Cambiário
Prof. Caio Ribeiro da Costa
O QUE SÃO OS INSTITUTOS
Cabe relembrar que os títulos "não à ordem" não podem ser transmitidos por
meio de endosso, somente por meio de cessão civil de crédito.
Endosso
Os títulos nominados possuem implícita a cláusula "à ordem". Ou
seja, os mesmos podem ser transferidos por meio de endosso, sem a
necessidade de constar nos mesmos a cláusula.
Contudo, a cláusula de "não à ordem" deve estar expressamente
descrita no título, em respeito ao princípio da cartularidade dos
títulos.
Endosso
Considera-se que o endosso gera dois efeitos: a transferência da
titularidade do crédito e responsabilização do endossante (antigo
tomador), passando este a ser codevedor do título. Ou seja, se o
devedor não honrar o pagamento, este poderá ser acionado pelo
endossatário (novo tomador).
A doutrina explica que o endosso não transfere somente o crédito, mas
também a garantia e segurança no seu pagamento. Contudo, o endosso
ainda pode ter a "cláusula sem garantia", que, expressamente exonera o
endossante de responsabilidade pelo crédito endossado.
Endosso
De acordo com a LUG, o endosso deve ser feito no verso do título,
sendo representado pela assinatura do endossante. Contudo, caso o
mesmo seja feito no anverso (frente) do título, deverá conter, além da
assinatura, a expressão que referencie o endosso.
A legislação ainda veda qualquer tipo de endosso parcial ou limitações
do valor endossado, bem como endosso subordinado a condições. Caso
o endossante subordine o endosso por meio de alguma condição, esta
será considerada não escrita na cártula e, assim, não terá validade e não
impedirá a validade do endosso.
Endosso
O endosso ainda possui a classificação de "em branco" ou "em preto".
Endosso em branco é aquele que não identifica o beneficiário
(endossatário). Na prática, quando o endosso é realizado em branco, o
título se torna título ao portador, permitindo, assim, que a mera tradição
possibilite a circulação do título.
Nesse raciocínio, o endossatário poderá transferir o título por mera tradição
ou por endosso em branco. Além disso, poderá transformar o endosso
originário (em branco) em endosso em preto, completando-o com a sua
identificação.
Endosso
Ainda nesta situação, caso o título seja transferido por meio de endosso, o
endossatário (agora endossante), passa a integrar a cadeia de codevedores do
crédito, responsabilizando-se pela satisfação da obrigação literal do título.
Nesta esteira, caso o endossatário transfira o título somente pela tradição do
mesmo, não se torna integrante da cadeia de corresponsabilidade. Assim,
em caso de inadimplemento do crédito por parte do devedor principal, o
novo endossatário deverá acionar o corresponsável pelo adimplemento,
neste caso, o primeiro endossante, sendo o segundo endossante exonerado
da obrigação.
Endosso
O endosso em preto, é, como já percebido, aquele que identifica o
endossatário. O resultado lógico é que o endossatário somente poderá
transmitir o título por meio de novo endosso, podendo ser em branco
ou em preto.
Assim, este não ficará exonerado do adimplemento, sendo,
automaticamente, por este ato, corresponsável pelo crédito.
Endosso
O endosso estudado até aqui, que possui as características de transferência
de titularidade e de responsabilização do endossante como codevedor é
chamado de endosso próprio.
Existe ainda a figura do endosso impróprio, que não produz os efeitos do
endosso próprio e que pode ser feito em duas modalidades distintas:
endosso-caução e endosso-mandato.
O único efeito do endosso impróprio é a legitimação da posse de alguém
sobre o título, para que este exerça os direitos presentes na cártula.
Endosso
Segundo André Santa Cruz (2018), o endosso impróprio
tem a utilidade destacada em situações em que não se busca
a transferência do crédito, mas a quem vai receber o crédito
precisa ser legitimado para poder exercer o direito ao
crédito do tomador.
Endosso
O endosso-mandato, espécie de endosso impróprio, também é chamado de
endosso-procuração. Este serve para conferir poderes ao endossatário para
agir como representante do endossante, e, assim, exercer os direitos previstos
no título.
Uma situação comum em que isso acontece é quando realizado endosso-
mandato para uma instituição financeira, para que a mesma possa exercer o
direito da cártula, executá-lo, protestá-lo, entre outros atos.
Para que o endosso-mandato seja realizado, deve ser colocado juntamente ao
endosso a expressão "para cobrança", ou "valor a cobrar" ou "por procuração".
Endosso
O endosso-caução, também chamado de endosso-pignoratício ou endosso-garantia, é
caracterizado quando o endossante transmite o título ao endossatário como forma de
garantia de uma dívida pretérita perante o mesmo.
Em suma: eles dividem a dívida, razão pala qual se um deles pagá-la integralmente ao
credor terá direito de regresso contra o devedor principal relativo ao total da dívida,
mas terá direito de regresso contra o outro avalista apenas em relação à sua parte – se
forem apenas dois avalistas, por exemplo, terá direito de regresso em relação a apenas
metade da dívida.
Aval
Os avais sucessivos, por sua vez, também chamados de aval de aval,
ocorrem quando alguém avaliza um outro avalista. Nesse caso, todos
os eventuais avalistas dos avalistas terão a mesma responsabilidade
do avalizado, ou seja, aquele que pagar a dívida terá direito de
regresso em relação ao total da dívida, e não apenas em relação a
uma parte dela.
Aval
O aval também tem um instituto similar no direito civil, que é a fiança.
Mas, assim como ocorre com o endosso e a cessão civil de crédito, aval e
fiança possuem diferenças relevantes, decorrentes, sobretudo, do
regime jurídico ao qual se submetem: enquanto o aval é garantia
cambial, submetida aos princípios do regime jurídico cambial, a fiança
é garantia civil, regida pelas regras desse regime jurídico.
Ademais, o aval é uma declaração unilateral de vontade feita em títulos
de crédito, enquanto a fiança é um negocio jurídico bilateral feito em
qualquer obrigação.
Aval
São duas as diferenças básicas entre aval e fiança.
A primeira delas é decorrente da submissão do aval ao princípio da
autonomia, inerente aos títulos de crédito. Com efeito, o aval, por ser
um instituto do regime jurídico cambial, constitui uma obrigação
autônoma em relação à dívida assumida pelo avalizado. Assim, se a
obrigação do avalizado, eventualmente, for atingida por algum vício,
este não se transmite para a obrigação do avalista.
Na fiança o mesmo não ocorre: ela, como obrigação acessória, leva a
mesma sorte da obrigação principal a que está relacionada.
Aval
Nesse sentido, o art. 32 da LUG prevê que “a sua obrigação (do
avalista) mantém-se mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser
nula por qualquer razão que não seja um vício de forma”. No mesmo
sentido o art. 899, §2º do Código Civil estabelece que “subsiste a
responsabilidade do avalista, ainda que nula a obrigação daquele a quem
se equipara, a menos que a nulidade decorra de vicio de forma.”.
Aval
A autonomia e a abstração do aval são tamanhas que se admite até o
aval contra a vontade do avalizado, bem como o chamado aval
antecipado, o qual é prestado antes mesmo do surgimento da obrigação
do avalizado e sequer se condiciona à sua futura constituição válida.
Aval
Outra distinção relevante entre o aval e a fiança diz respeito ao benefício
de ordem, presente na fiança e ausente no aval. De fato, o aval não
admite o chamado benefício de ordem, razão pela qual o avalista pode
ser acionado juntamente com o avalizado. Na fiança, todavia, o benefício
de ordem assegura ao fiador a prerrogativa de somente ser acionado após
o afiançado. A responsabilidade do fiador é, portanto, subsidiária.
Além dessas duas diferenças relevantes acima apontadas, há outras
pequenas distinções entre aval e fiança: o aval, por exemplo, deve ser
prestado no próprio título, em obediência ao princípio da literalidade; já
a fiança pode ser prestada em instrumento separado.
Aval
O Código Civil, em seu art. 1.647, inciso III, tratou da mesma forma o
aval e a fiança, no que tange à necessidade de outorga conjugal para que
tais garantias sejam prestadas, salvo se o regime de bens for o da
separação absoluta (seja escolhida ou compulsória). Essa regra mereceu
duras críticas da doutrina comercialista, merecidamente, já que a
dinâmica das relações empresariais não se compatibiliza com esse
excesso de formalismo.
Aval
Enquanto a LUG e outras leis que disciplinam títulos de crédito
específicos permitem o aval parcial, o Código Civil veda o aval parcial
expressamente.
Com efeito, de acordo com o art. 30 da LUG, “o pagamento de uma letra
pode ser no todo ou em parte garantido por aval.”. O art. 29 da Lei 7.357/85
(Lei do Cheque), por sua vez, estabelece que “o pagamento do cheque pode
ser garantido, no todo ou em parte, por aval prestado por terceiro, exceto o
sacado, ou mesmo por signatário do título”.
Aval
Já o Código Civil, em seu art. 897, parágrafo único é bem claro, afirmando
peremptoriamente que “é vedado o aval parcial”. Mas essa regra, vale
lembrar, aplica-se apenas aos títulos de crédito atípicos/inominados, de
modo que nos títulos de crédito típicos (letra de câmbio, nota
promissória, cheque, duplicata etc.) é possível o aval parcial.
Nesse sentido, confira-se o Enunciado 39 das Jornadas de Direito
Comercial: “não se aplica a vedação do art. 897, parágrafo único, do Código
Civil, aos títulos de crédito regulados por lei especial, nos termos do seu art. 903,
sendo, portanto, admitido o aval parcial nos títulos de crédito regulados em lei
especial”.
Aval
O avalista pode garantir o cumprimento da obrigação cambial a qualquer
tempo, mesmo após vencida a dívida.
Existe divergência na doutrina sobre a produção de efeitos desse aval realizado
após o vencimento, mas para a legislação brasileira é irrelevante, para os
efeitos decorrentes do aval, o momento em que ele foi realizado
.
Com efeito, o Código Civil dispõe, em seu art. 900, que “o aval posterior ao
vencimento produz os mesmos efeitos do anteriormente dado”. No mesmo sentido, o
art. 12, parágrafo único da Lei 5.474/68 (Lei das Duplicatas) estabelece que “o
aval dado posteriormente ao vencimento do título produzirá os mesmos efeitos que o
prestado anteriormente aquela ocorrência.”.
Aval
O protesto pode ser definido como o ato formal pelo qual se atesta
um fato relevante para a relação cambial. O fato relevante pode ser
a falta de aceite do título, a falta de devolução do título ou a falta
de pagamento do título.
Protesto
O protesto é regido pela Lei 9.492/97. A lei define o protesto como
"ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o
descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos
de dívida”.
O art. 21 da lei dispõe que o protesto será classificado por falta de
pagamento, aceite ou devolução.
Protesto
Se o protesto for por falta de aceite, somente poderá ser efetuado
antes do vencimento da obrigação e após o decurso do prazo legal
para o aceite ou a devolução.
Após o vencimento, o protesto sempre será efetuado por falta de
pagamento, vedada a recusa da lavratura e registro do protesto por
motivo não previsto na lei cambial.
Protesto
Ainda, cumpre mencionar que o art. 202, inc. III do Código Civil
ensina que o protesto cambial interrompe a prescrição, desde que
feito dentro do prazo e forma da lei, superando entendimento
anterior, que descrevia entendimento contrário.
Protesto
O protesto será cancelado somente após requerimento do
interessado, quando houver o pagamento do título. O título pode
ser pago no próprio cartório ou, em caso de pagamento de outra
forma, deverá ser apresentado no registro documento assinado
pelo credor atestando o pagamento.
Cumpre ressaltar que o ônus de requerer o cancelamento do
protesto é do devedor.
Protesto
Deve-se ter cuidado ao realizar um protesto. O endossatário que
realizar protesto de forma indevida deverá responder pelos danos
causados pelo protesto errado, de acordo com a Súmula 475 do
STJ.
Caso o endossatário tenha recebido o endosso por meio de
endosso-mandato (a exemplo das instituições financeiras) só
responde por danos causados se extrapolar os poderes de
mandatário, de acordo com a Súmula 476 do STJ.
Protesto