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AULA 02

Institutos do
Direito Cambiário
Prof. Caio Ribeiro da Costa
O QUE SÃO OS INSTITUTOS

Os institutos do Direito Cambiário são situações de extrema relevância


para o cumprimento dos princípios e fins dos Títulos de Crédito, como a
negociabilidade e a circulação de riqueza. Tais institutos terão aplicabilidade
de acordo com as características do título.

São os instituto a emissão, apresentação, aceite, endosso, aval,


pagamento e o protesto.
Emissão
Também conhecido como Saque, este instituto nada mais é do que o
ato de emitir a cambial.
Nesta relação, o sacador (o devedor) é o emitente do título. Caso o
título seja uma ordem de pagamento, existirão três figuras: o sacador,
o sacado e o tomador; caso seja uma promessa de pagamento,
existirão somente duas figuras na relação: o sacador e beneficiário.
Emissão
Na relação, o sacador é quem emite a ordem, o sacado é aquele a
quem a ordem é destinada e o tomador é quem será beneficiado pela
ordem.
Insta salientar que a LUG admite que o título seja sacado: a) ao
próprio sacador; b) sobre o próprio sacador ou c) por ordem e conta
de terceiro.
Emissão
A) Ao próprio sacador: o título é emitido pelo sacador e ele mesmo é
o tomador. Ou seja, ele emite um título em seu próprio benefício.
B) Sobre o próprio sacador: O sacador e o sacado são o mesmo sujeito.
Ou seja, o título é emitido contra o próprio sacador.

C) Por ordem e conta de terceiro: É a relação usual. O sacador é um


sujeito, o sacado é outro e o tomador, outro.
Emissão
Um exemplo clássico e de fácil compreensão seria a situação de um
cheque.
Mélvio (sacador) emite cheque para Tício (tomador) para ser
descontado no banco Itaú (sacado).

Nessa relação, temos a situação do título emitido a ordem e conta de


terceiro.
Apresentação
A apresentação é o ato de, uma vez emitida a ordem, apresentar o
título para o devedor principal, de acordo com o lugar e datas
indicadas no título. É o que dispõe o art. 38 da LUG:
Art. 38. O portador de uma letra pagável em dia fixo ou a certo
termo de data ou de vista deve apresentá-la a pagamento no dia em
que ela é pagável ou num dos 2 (dois) dias úteis seguintes.
Apresentação
É necessário destacar que o art. 20 Lei 2.044 (Lei Saraiva), ao se referir à letra de
câmbio, diz que a mesma deve ser apresentada no dia do vencimento. Vejamos:
Art. 20. A letra deve ser apresentada ao sacado ou ao aceitante para o pagamento,
no lugar designado e no dia do vencimento ou, sendo este dia feriado por lei, no
primeiro dia útil imediato, sob pena de perder o portador o direito de regresso
contra o sacador, endossadores e avalistas
Segundo ensina Fabio Ulhôa Coelho, quando se tratar de pagamento em território
nacional, deve-se permanecer a aplicação da Lei Saraiva em detrimento da LUG, em
razão da especialidade da lei.
Aceite
O aceite é o instituto pelo qual o sacado aceita a ordem de
pagamento. Em caso de aceite, o sacado torna-se o devedor principal
responsável pela satisfação do crédito expresso na cártula, de acordo
com seu vencimento.
O aceite deverá ser expresso no título, conforme preconiza o
princípio da cartularidade, juntamente com a assinatura do sacado ou
de procurador com poderes especiais para tanto.
Aceite
A princípio, o aceite é o ato pelo qual o sacado toma para si a obrigação da
relação cambial. Entretanto, o aceite não é obrigatório.
O aceite pode ser obrigatório ou facultativo, a depender do título de
crédito. Quando facultativo, uma vez realizado o aceite, o mesmo é
irretratável.

A recusa do aceite, no entanto, gera o vencimento antecipado do título,


podendo o tomador (credor) exigir do sacador o pagamento do crédito
descrito.
Aceite
É importante frisar, ainda, que a recusa pode ser tácita, ou seja, pela
simples devolução do título ao tomador, ou expressa, onde o sacado
descreve no título a recusa. Ressalta-se que a recusa não precisa ser
justificada.
Também, o título pode ser, ainda, aceito parcialmente, acarretando, assim,
a recusa parcial de pagamento. Neste caso, ocorre o mesmo efeito de
vencimento antecipado. Além disso, como já aprendido, no aceite parcial,
o sacado se torna obrigado somente a parte da obrigação, neste caso,
podendo ser acionado em vias judiciais e extrajudiciais.
Aceite
Para se blindar do vencimento antecipado da ordem de pagamento, o sacador pode inserir
no título a "cláusula não aceitável". Esta cláusula é responsável por impor ao tomador que o
mesmo somente poderá buscar a satisfação do crédito em sua data de vencimento.
Caso o tomador busque a satisfação com a presença desta cláusula, o sacado não poderá
aceitar o título, assim, não gerando o vencimento antecipado.
Existe uma breve anotação a ser feita. O sacador pode, ao invés de impor que o título
somente poderá ser aceitado em seu vencimento, determinar uma data antes do
vencimento em que a apresentação e aceite poderão ser feitos. Neste caso, o título poderá
ser apresentado antes de seu vencimento, e, em caso de recusa ou aceite parcial, gerará, da
mesma forma, o vencimento antecipado em desfavor do sacador.
Relação Cambiária Padrão

Fonte: SANTA CRUZ, 2018.


Endosso
O endosso é um dos atos cambiários mais importantes, visto que o mesmo serve
de instrumentalização da circularidade dos títulos de crédito.
Por meio do endosso, o credor (tomador) transmite os seus direitos a um
terceiro. Neste caso, o credor é denominado endossante e o terceiro
endossatário.

Cabe relembrar que os títulos "não à ordem" não podem ser transmitidos por
meio de endosso, somente por meio de cessão civil de crédito.
Endosso
Os títulos nominados possuem implícita a cláusula "à ordem". Ou
seja, os mesmos podem ser transferidos por meio de endosso, sem a
necessidade de constar nos mesmos a cláusula.
Contudo, a cláusula de "não à ordem" deve estar expressamente
descrita no título, em respeito ao princípio da cartularidade dos
títulos.
Endosso
Considera-se que o endosso gera dois efeitos: a transferência da
titularidade do crédito e responsabilização do endossante (antigo
tomador), passando este a ser codevedor do título. Ou seja, se o
devedor não honrar o pagamento, este poderá ser acionado pelo
endossatário (novo tomador).
A doutrina explica que o endosso não transfere somente o crédito, mas
também a garantia e segurança no seu pagamento. Contudo, o endosso
ainda pode ter a "cláusula sem garantia", que, expressamente exonera o
endossante de responsabilidade pelo crédito endossado.
Endosso
De acordo com a LUG, o endosso deve ser feito no verso do título,
sendo representado pela assinatura do endossante. Contudo, caso o
mesmo seja feito no anverso (frente) do título, deverá conter, além da
assinatura, a expressão que referencie o endosso.
A legislação ainda veda qualquer tipo de endosso parcial ou limitações
do valor endossado, bem como endosso subordinado a condições. Caso
o endossante subordine o endosso por meio de alguma condição, esta
será considerada não escrita na cártula e, assim, não terá validade e não
impedirá a validade do endosso.
Endosso
O endosso ainda possui a classificação de "em branco" ou "em preto".
Endosso em branco é aquele que não identifica o beneficiário
(endossatário). Na prática, quando o endosso é realizado em branco, o
título se torna título ao portador, permitindo, assim, que a mera tradição
possibilite a circulação do título.
Nesse raciocínio, o endossatário poderá transferir o título por mera tradição
ou por endosso em branco. Além disso, poderá transformar o endosso
originário (em branco) em endosso em preto, completando-o com a sua
identificação.
Endosso
Ainda nesta situação, caso o título seja transferido por meio de endosso, o
endossatário (agora endossante), passa a integrar a cadeia de codevedores do
crédito, responsabilizando-se pela satisfação da obrigação literal do título.
Nesta esteira, caso o endossatário transfira o título somente pela tradição do
mesmo, não se torna integrante da cadeia de corresponsabilidade. Assim,
em caso de inadimplemento do crédito por parte do devedor principal, o
novo endossatário deverá acionar o corresponsável pelo adimplemento,
neste caso, o primeiro endossante, sendo o segundo endossante exonerado
da obrigação.
Endosso
O endosso em preto, é, como já percebido, aquele que identifica o
endossatário. O resultado lógico é que o endossatário somente poderá
transmitir o título por meio de novo endosso, podendo ser em branco
ou em preto.
Assim, este não ficará exonerado do adimplemento, sendo,
automaticamente, por este ato, corresponsável pelo crédito.
Endosso
O endosso estudado até aqui, que possui as características de transferência
de titularidade e de responsabilização do endossante como codevedor é
chamado de endosso próprio.
Existe ainda a figura do endosso impróprio, que não produz os efeitos do
endosso próprio e que pode ser feito em duas modalidades distintas:
endosso-caução e endosso-mandato.
O único efeito do endosso impróprio é a legitimação da posse de alguém
sobre o título, para que este exerça os direitos presentes na cártula.
Endosso
Segundo André Santa Cruz (2018), o endosso impróprio
tem a utilidade destacada em situações em que não se busca
a transferência do crédito, mas a quem vai receber o crédito
precisa ser legitimado para poder exercer o direito ao
crédito do tomador.
Endosso
O endosso-mandato, espécie de endosso impróprio, também é chamado de
endosso-procuração. Este serve para conferir poderes ao endossatário para
agir como representante do endossante, e, assim, exercer os direitos previstos
no título.
Uma situação comum em que isso acontece é quando realizado endosso-
mandato para uma instituição financeira, para que a mesma possa exercer o
direito da cártula, executá-lo, protestá-lo, entre outros atos.
Para que o endosso-mandato seja realizado, deve ser colocado juntamente ao
endosso a expressão "para cobrança", ou "valor a cobrar" ou "por procuração".
Endosso
O endosso-caução, também chamado de endosso-pignoratício ou endosso-garantia, é
caracterizado quando o endossante transmite o título ao endossatário como forma de
garantia de uma dívida pretérita perante o mesmo.

Neste tipo de endosso, o endossatário não se torna o titular do crédito. Somente


manterá o título sobre sua posse até o momento do adimplemento do endossante de
sua dívida pretérita. Caso a divida seja adimplida, o título retorna ao endossante;
contudo, caso não seja adimplida, o endossatário poderá executar a dívida, tornando-
se titular do crédito.
Para se verificar este tipo de endosso, deve ser feito aliado a expressão "valor em
garantia", "valor em penhor" ou outra que implique no reconhecimento de uma
caução.
Endosso
Importante:

NÃO HÁ LIMITE DE ENDOSSOS!


Endosso

Fonte: SANTA CRUZ, 2018.


Atividades
1 - O que dispõem a Lei Unificada de Genebra e a Lei Saraiva sobre as formas de
saque dos títulos de crédito?
2 - Descreva uma relação simples de titulo emitido ao próprio sacador, somente
identificando o sacador, o tomador e o sacado.
3 - Conforme a doutrina e a legislação, caso um titulo seja apresentado em
território nacional, a mesma deverá ser paga na data de vencimento ou data
anterior ao vencimento? Indique legislação e/ou doutrina em sua resposta.
Atividades
4 - Tício emite letra de câmbio para Tiago para o mesmo sacar em face de
Tamires o valor de R$ 500,00. Tamires, no ato de apresentação por parte de
Tiago, realiza o aceite a letra de câmbio. Contudo, posteriormente, por questões
pessoais, se arrepende de ter dado o aceite no título de crédito. O que Tamires
pode fazer? Indique legislação em sua resposta.
5 - O endosso é o principal instituto responsável por dar circulabilidade dos
títulos de crédito. É possível realizar endosso de parte de um direito de crédito?
Indique legislação em sua resposta.
Atividades
6 - Qual a diferença de um título ao portador e um título nominal?
7 - Qual o pricípio considerado mais importante no Direito Cambiário?
Explique sua resposta.

8 - Quais são os efeitos do endosso próprio? E do endosso impróprio?


Aval
Outro instituto importante do regime jurídico cambial é o aval, ato
cambiário pelo qual um terceiro (o avalista) se responsabiliza pelo
pagamento da obrigação constante do título.

Conceito: Ato cambiário pelo qual uma pessoa (avalista) se compromete a


pagar título de crédito, nas mesmas condições que um devedor desse título
(avalizado).
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. 8. Ed. São Paulo: Saraiva, 2004 v.1, p. 410.
Aval
O aval é ato cambiário que esta regulado pelo art. 30 da Lei Uniforme: “o
pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte garantido por aval. Esta
garantia é dada por um terceiro ou mesmo por um signatário da letra.”.
No mesmo sentido é o art. 897 do Código Civil: “o pagamento de título de
crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada, pode ser garantido por
aval.”.
O avalista, ao garantir o cumprimento da obrigação do avalizado, responde de
forma equiparada a este.
Aval
O aval deve ser dado no próprio título de crédito (princípio da literalidade), e o local
apropriado para a realização dessa garantia, em princípio, é o anverso do título, caso em
que basta a simples assinatura do avalista.
Nada impede, todavia, que o aval seja feito no verso da cártula, nesse caso sendo
imprescindível que, além da assinatura, seja feita expressa menção de que se trata de
aval.
O art. 31 da LUG assim dispõe: “o aval é escrito na própria letra ou numa folha anexa.
Exprime-se pelas palavras ‘bom para aval’ ou por qualquer fórmula equivalente; e assinado pelo
dador do aval. O aval considera-se como resultante da simples assinatura do dador aposta na
face anterior (anverso) da letra, salvo se se trata das assinaturas do sacado ou sacador.”.
Aval
O art. 898 do Código Civil, por sua vez, prevê que “o aval deve ser dado no verso
ou anverso do próprio título”, e o § 1º estabelece que, “para a validade do aval,
dado no anverso do título, é suficiente a simples assinatura do avalista”.
A despeito dessa regra geral de que a simples assinatura no anverso do título é
aval, e a simples assinatura no verso do título é endosso, o STJ tem
precedentes antigos reconhecendo que uma assinatura no verso do título,
mesmo sem especificação de que se trata de aval, pode caracterizar esse tipo
de garantia, desde que não existam elementos concretos que permitam
concluir em sentido diverso.
Aval
O aval também pode ser feito em branco, hipótese que não identifica o avalizado, ou em preto,
caso em que o avalizado é expressamente indicado.
Quando o aval é em branco, presume-se que foi dado em favor de alguém: no caso da letra de
câmbio, presume-se em favor do sacador; nos demais títulos em favor do emitente ou
subscritor.
Com efeito, de acordo com o art. 31 da LUG, “o aval deve indicar a pessoa por quem se dá. Na falta
de indicação enteder-se-á ser pelo sacador”. A parte final do art. 77, por sua vez, prevê o seguinte: “no
caso previsto na última alínea do art. 31, se o aval não indicar a pessoa por quem é dado entender-se-á ser
pelo subscritor da nota promissória.”.
Já o Código Civil estabelece, em seu art. 899, que “o avalista equipara-se aquele cujo nome indicar;
na falta de indicação; ao emitente ou devedor final (devedor direto ou devedor principal)."
Aval
Há que se diferenciar ainda os avais simultâneos dos avais sucessivos.
Os avais simultâneos, também denominados coavais, ocorrem quando duas ou mais
pessoas avalizam um título conjuntamente, garantindo a mesma obrigação cambial.
Assim, nos avais simultâneos, os avalistas são considerados uma só pessoa, razão pela
qual assumem responsabilidade solidária regida pelas regras do direito civil.

Em suma: eles dividem a dívida, razão pala qual se um deles pagá-la integralmente ao
credor terá direito de regresso contra o devedor principal relativo ao total da dívida,
mas terá direito de regresso contra o outro avalista apenas em relação à sua parte – se
forem apenas dois avalistas, por exemplo, terá direito de regresso em relação a apenas
metade da dívida.
Aval
Os avais sucessivos, por sua vez, também chamados de aval de aval,
ocorrem quando alguém avaliza um outro avalista. Nesse caso, todos
os eventuais avalistas dos avalistas terão a mesma responsabilidade
do avalizado, ou seja, aquele que pagar a dívida terá direito de
regresso em relação ao total da dívida, e não apenas em relação a
uma parte dela.
Aval
O aval também tem um instituto similar no direito civil, que é a fiança.
Mas, assim como ocorre com o endosso e a cessão civil de crédito, aval e
fiança possuem diferenças relevantes, decorrentes, sobretudo, do
regime jurídico ao qual se submetem: enquanto o aval é garantia
cambial, submetida aos princípios do regime jurídico cambial, a fiança
é garantia civil, regida pelas regras desse regime jurídico.
Ademais, o aval é uma declaração unilateral de vontade feita em títulos
de crédito, enquanto a fiança é um negocio jurídico bilateral feito em
qualquer obrigação.
Aval
São duas as diferenças básicas entre aval e fiança.
A primeira delas é decorrente da submissão do aval ao princípio da
autonomia, inerente aos títulos de crédito. Com efeito, o aval, por ser
um instituto do regime jurídico cambial, constitui uma obrigação
autônoma em relação à dívida assumida pelo avalizado. Assim, se a
obrigação do avalizado, eventualmente, for atingida por algum vício,
este não se transmite para a obrigação do avalista.
Na fiança o mesmo não ocorre: ela, como obrigação acessória, leva a
mesma sorte da obrigação principal a que está relacionada.
Aval
Nesse sentido, o art. 32 da LUG prevê que “a sua obrigação (do
avalista) mantém-se mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser
nula por qualquer razão que não seja um vício de forma”. No mesmo
sentido o art. 899, §2º do Código Civil estabelece que “subsiste a
responsabilidade do avalista, ainda que nula a obrigação daquele a quem
se equipara, a menos que a nulidade decorra de vicio de forma.”.
Aval
A autonomia e a abstração do aval são tamanhas que se admite até o
aval contra a vontade do avalizado, bem como o chamado aval
antecipado, o qual é prestado antes mesmo do surgimento da obrigação
do avalizado e sequer se condiciona à sua futura constituição válida.
Aval
Outra distinção relevante entre o aval e a fiança diz respeito ao benefício
de ordem, presente na fiança e ausente no aval. De fato, o aval não
admite o chamado benefício de ordem, razão pela qual o avalista pode
ser acionado juntamente com o avalizado. Na fiança, todavia, o benefício
de ordem assegura ao fiador a prerrogativa de somente ser acionado após
o afiançado. A responsabilidade do fiador é, portanto, subsidiária.
Além dessas duas diferenças relevantes acima apontadas, há outras
pequenas distinções entre aval e fiança: o aval, por exemplo, deve ser
prestado no próprio título, em obediência ao princípio da literalidade; já
a fiança pode ser prestada em instrumento separado.
Aval
O Código Civil, em seu art. 1.647, inciso III, tratou da mesma forma o
aval e a fiança, no que tange à necessidade de outorga conjugal para que
tais garantias sejam prestadas, salvo se o regime de bens for o da
separação absoluta (seja escolhida ou compulsória). Essa regra mereceu
duras críticas da doutrina comercialista, merecidamente, já que a
dinâmica das relações empresariais não se compatibiliza com esse
excesso de formalismo.
Aval
Enquanto a LUG e outras leis que disciplinam títulos de crédito
específicos permitem o aval parcial, o Código Civil veda o aval parcial
expressamente.
Com efeito, de acordo com o art. 30 da LUG, “o pagamento de uma letra
pode ser no todo ou em parte garantido por aval.”. O art. 29 da Lei 7.357/85
(Lei do Cheque), por sua vez, estabelece que “o pagamento do cheque pode
ser garantido, no todo ou em parte, por aval prestado por terceiro, exceto o
sacado, ou mesmo por signatário do título”.
Aval
Já o Código Civil, em seu art. 897, parágrafo único é bem claro, afirmando
peremptoriamente que “é vedado o aval parcial”. Mas essa regra, vale
lembrar, aplica-se apenas aos títulos de crédito atípicos/inominados, de
modo que nos títulos de crédito típicos (letra de câmbio, nota
promissória, cheque, duplicata etc.) é possível o aval parcial.
Nesse sentido, confira-se o Enunciado 39 das Jornadas de Direito
Comercial: “não se aplica a vedação do art. 897, parágrafo único, do Código
Civil, aos títulos de crédito regulados por lei especial, nos termos do seu art. 903,
sendo, portanto, admitido o aval parcial nos títulos de crédito regulados em lei
especial”.
Aval
O avalista pode garantir o cumprimento da obrigação cambial a qualquer
tempo, mesmo após vencida a dívida.
Existe divergência na doutrina sobre a produção de efeitos desse aval realizado
após o vencimento, mas para a legislação brasileira é irrelevante, para os
efeitos decorrentes do aval, o momento em que ele foi realizado
.
Com efeito, o Código Civil dispõe, em seu art. 900, que “o aval posterior ao
vencimento produz os mesmos efeitos do anteriormente dado”. No mesmo sentido, o
art. 12, parágrafo único da Lei 5.474/68 (Lei das Duplicatas) estabelece que “o
aval dado posteriormente ao vencimento do título produzirá os mesmos efeitos que o
prestado anteriormente aquela ocorrência.”.
Aval

Ainda, em caso de prescrição, o STJ entendeu em julgamento que,


em caso a prescrição da ação cambiária, o aval perde sua eficácia,
não respondendo o avalista pela obrigação assumida pelo devedor
principal.
Pagamento
O pagamento é a execução voluntária da obrigação, extinguindo as
obrigações. O portador da cártula é o credor, que por sua vez pode
exercer o direito descrito no título contra qualquer pessoa que
figure na sequência de devedores (que se inicia com o aceitante,
posteriormente ao sacador e, a partir de então, segue a cadeia de
endossos e avais).
Pagamento
A doutrina reconhece três tipos de pagamento: o extintivo, o recuperatório e o
pagamento por interveção.

O pagamento extintivo é o realizado pelo aceitante, que extingue a obrigação dos


demais signatários.
O pagamento recuperatório é o pagamento feito por um dos coobrigados. Neste caso,
o pagamento libera somente os coobrigados posteriores ao pagante.

O pagamento por intervenção é aquele que, no momento de um protesto de um título


cambiário, seja por recusa de aceite ou falta de pagamento, um terceiro interessado ou
algum coobrigado aceita ou paga o título. Neste caso, o mesmo tem direito de regresso
em face dos coobrigados anteriores.
Protesto

O protesto pode ser definido como o ato formal pelo qual se atesta
um fato relevante para a relação cambial. O fato relevante pode ser
a falta de aceite do título, a falta de devolução do título ou a falta
de pagamento do título.
Protesto
O protesto é regido pela Lei 9.492/97. A lei define o protesto como
"ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o
descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos
de dívida”.
O art. 21 da lei dispõe que o protesto será classificado por falta de
pagamento, aceite ou devolução.
Protesto
Se o protesto for por falta de aceite, somente poderá ser efetuado
antes do vencimento da obrigação e após o decurso do prazo legal
para o aceite ou a devolução.
Após o vencimento, o protesto sempre será efetuado por falta de
pagamento, vedada a recusa da lavratura e registro do protesto por
motivo não previsto na lei cambial.
Protesto

O protesto somente se mostra indispensável caso o credor deseje


executar os codevedores, como, por exemplo, os endossantes.
Assim, caso a execução seja dirigida em face do devedor principal
da obrigação, o protesto é desnecessário.
Protesto

Ainda, cumpre mencionar que o art. 202, inc. III do Código Civil
ensina que o protesto cambial interrompe a prescrição, desde que
feito dentro do prazo e forma da lei, superando entendimento
anterior, que descrevia entendimento contrário.
Protesto
O protesto será cancelado somente após requerimento do
interessado, quando houver o pagamento do título. O título pode
ser pago no próprio cartório ou, em caso de pagamento de outra
forma, deverá ser apresentado no registro documento assinado
pelo credor atestando o pagamento.
Cumpre ressaltar que o ônus de requerer o cancelamento do
protesto é do devedor.
Protesto
Deve-se ter cuidado ao realizar um protesto. O endossatário que
realizar protesto de forma indevida deverá responder pelos danos
causados pelo protesto errado, de acordo com a Súmula 475 do
STJ.
Caso o endossatário tenha recebido o endosso por meio de
endosso-mandato (a exemplo das instituições financeiras) só
responde por danos causados se extrapolar os poderes de
mandatário, de acordo com a Súmula 476 do STJ.
Protesto

Fonte: SANTA CRUZ, 2018.


Questões
FGV - 2021 - OAB - EOU XXXIII - Primeira Fase
Antenor subscreveu nota promissória no valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais) pagável em 16 de
setembro de 2021. A obrigação do subscritor foi avalizada por Belizário, que tem como avalista Miguel, e
esse tem, como avalista, Antônio.
Após o vencimento, caso o avalista Miguel venha a pagar o valor da nota promissória ao credor, assinale a
opção que indica a(s) pessoa(s) que poderá(ão) ser demandada(s) em ação de regresso.
A) Antenor e Belizário, podendo Miguel cobrar de ambos o valor integral do título
B) Beliizário e Antônio, podendo Miguel Cobrar de ambos apenas a quota-parte do valor do título
C) Antenor e Antônio, podendo Miguel cobrar do primeiro o valor integral e, do segundo, apenas a
quota-parte do valor do título
D) Antenor, podendo Miguel cobrar dele o valor integral, eis que os demais avalistas ficaram
desonerados com o pagamento.
Questões
FGV - 2021 - OAB - EOU XXXIII - Primeira Fase
Antenor subscreveu nota promissória no valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais) pagável em 16 de
setembro de 2021. A obrigação do subscritor foi avalizada por Belizário, que tem como avalista Miguel, e
esse tem, como avalista, Antônio.
Após o vencimento, caso o avalista Miguel venha a pagar o valor da nota promissória ao credor, assinale a
opção que indica a(s) pessoa(s) que poderá(ão) ser demandada(s) em ação de regresso.
A) Antenor e Belizário, podendo Miguel cobrar de ambos o valor integral do título
Percebe-se que houve o chamado Aval Sucessório (Aval de Aval), gerando direito de regresso integral em
face dos avalizados.
Questões
FGV - 2018 - OAB - EOU XXV- Primeira Fase
Para realizar o pagamento de uma dívida contraída pelo sócio M. Paraguaçu em favor da sociedade
Iguape, Cananeia & Cia Ltda., o primeiro emitiu uma nota promissória à vista, com cláusula à ordem no
valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).
De acordo com essas informações e a respeito da cláusula à ordem, é correto afirmar que
A) a nota promissória, na omissão dessa cláusula, somente poderia ser transferida pela forma e com os
efeitos de cessão de crédito.
B) a cláusula implica a possibilidade de transferência do título por endosso, sendo o endossante
responsável pelo pagamento, salvo cláusula sem garantia.
C) a cláusula implica a possibilidade de transferência do título por endosso, porque a modalidade de
vencimento da nota promissória é à vista.
D) tal cláusula implica a possibilidade de transferência do título por cessão de crédito, não respondendo
o cedente pela solvência do emitente, salvo cláusula de garantia.
Questões
FGV - 2018 - OAB - EOU XXV- Primeira Fase
Para realizar o pagamento de uma dívida contraída pelo sócio M. Paraguaçu em favor da sociedade
Iguape, Cananeia & Cia Ltda., o primeiro emitiu uma nota promissória à vista, com cláusula à ordem no
valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).
De acordo com essas informações e a respeito da cláusula à ordem, é correto afirmar que
B) a cláusula implica a possibilidade de transferência do título por endosso, sendo o endossante
responsável pelo pagamento, salvo cláusula sem garantia.
A cláusula "à ordem", ainda que não escrita, permite que o título de crédito seja transmitido via endosso.
A cláusula "sem garantia" desonera o endossante de adimplir com a obrigação.
Questões
FGV - 2015- OAB - EOU XVI - Primeira Fase
Uma letra de câmbio no valor de R$ 13.000,00 (treze mil reais) foi endossada por Pilar com cláusula de mandato
para o Banco Poxim S/A. Não tendo havido pagamento no vencimento, a cambial foi apresentada a protesto pelo
endossatário mandatário, tendo sido lavrado e registrado o protesto pelo tabelião. Dez dias após o protesto, Rui
Palmeira, aceitante da letra de câmbio, compareceu ao tabelionato e apresentou declaração de anuência firmada
apenas pelo endossante da letra de câmbio, com identificação do título e firma reconhecida. Não houve
apresentação do título no original em sua cópia.
À luz das disposições da Lei nº 9.492/97 sobre o cancelamento do protesto, é correto afirmar que o tabelião
A) Não poderá realizar o cancelamento do protesto, por faltar no documento apresentado a anuência do
endossatário-mandatário.
B) Não poderá realizar o cancelamento do protesto, porque esse ato é privativo do juiz, diferentemente da sustação
do protesto.
C) Poderá realizar o cancelamento do protesto, porque é suficiente a declaração de anuência firmada pelo
endossante-mandante.
D) Poderá realizar o cancelamento do protesto, porque o pedido foi feito no prazo legal (3o dias) e pelo aceitante,
obrigado principal.
Questões
FGV - 2015- OAB - EOU XVI - Primeira Fase
Uma letra de câmbio no valor de R$ 13.000,00 (treze mil reais) foi endossada por Pilar com cláusula de mandato
para o Banco Poxim S/A. Não tendo havido pagamento no vencimento, a cambial foi apresentada a protesto pelo
endossatário mandatário, tendo sido lavrado e registrado o protesto pelo tabelião. Dez dias após o protesto, Rui
Palmeira, aceitante da letra de câmbio, compareceu ao tabelionato e apresentou declaração de anuência firmada
apenas pelo endossante da letra de câmbio, com identificação do título e firma reconhecida. Não houve
apresentação do título no original em sua cópia.
À luz das disposições da Lei nº 9.492/97 sobre o cancelamento do protesto, é correto afirmar que o tabelião
C) Poderá realizar o cancelamento do protesto, porque é suficiente a declaração de anuência firmada pelo
endossante-mandante.
Como estudado, o endosso-mandato permite ao endossatário realizar os atos necessário à obtenção do direito
previsto no título, sem ser, no entanto, possuidor do direito. Assim, a apresentação do endossante-mandante é
suficiente para atestar o pagamento.

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