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DIREITO EMPRESARIAL III

TÍTULOS DE CRÉDITO

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AULA 2 – PRINCÍPIOS GERAIS DOS TÍTULOS DE
CRÉDITO

- Do regime jurídico disciplinador dos títulos de


crédito, podem ser extraídos três princípios:

CARTULARIDADE

LITERALIDADE

AUTONOMIA

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PRINCÍPIOS GERAIS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

QUESTÃO: Qual é o elemento que distingue mais


acentuadamente os títulos crédito dos demais
documentos representativos de obrigações?

R:

...facilidade de circulação do crédito documentado.


...esse atributo deriva do regime jurídico a que se
submetem.

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1. CARTULARIDADE - para o exercício dos direitos representados por um título de
crédito é necessária a apresentação do documento. (cártula)

-pressupõe a sua posse;

-somente quem exibe a cártula pode pretender a satisfação de uma pretensão


relativamente a um título de crédito;

...facilidade de circulação do crédito documentado.


...esse atributo deriva do regime jurídico a que se submetem.

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- quem não se encontra com o título em sua posse, NÃO SE
PRESUME CREDOR;

- Exemplo : exigência de exibição do original do título de crédito


na instrução da petição inicial de uma ação de execução.

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- não basta a apresentação de cópia autêntica do título porque o crédito pode
ter sido transferido a outra pessoa;

- pelo princípio da cartularidade, o credor do título de crédito deve provar que


se encontra na posse do documento para exercer o direito nele mencionado.

...facilidade de circulação do crédito documentado.


...esse atributo deriva do regime jurídico a que se submetem.

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EXCEÇÃO: protesto de duplicata – pode ser feito sem a apresentação do documento.

Lei 5.474/68 – Lei das Duplicatas, art. 13, § 1º.

Art. 13. A duplicata é protestável por falta de aceite, de devolução ou pagamento .


§ 1º Por falta de aceite, de devolução ou de pagamento, o protesto será tirado, conforme o caso, mediante
apresentação da duplicata, da triplicata, ou, ainda, por simples indicações do portador,
portador, na falta de devolução
do título.
título.

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2. LITERALIDADE - vale o que estiver escrito no título.

“Título de crédito é o documento necessário para o exercício do


direito literal e autônomo nele mencionado”.

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- somente produzem efeitos jurídico-cambiais os atos
lançados no próprio título de crédito.

- atos documentados em instrumentos apartados, ainda que


válidos e eficazes entre os sujeitos diretamente envolvidos,
não produzirão efeitos perante o portador do título.

EXCEÇÃO: folha de alongue – anexada aos títulos para


complementação do espaço para endossos.

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EXEMPLOS:

a)O devedor de uma nota promissória obriga-se a respeitar


as condições inseridas no documento, como prazo de
vencimento, valor, etc...

b) Quitação dada em recibo separado - quem paga


parcialmente um título de crédito deve pedir a quitação na
própria cártula, pois não poderá se exonerar de pagar o valor
total, se ela vier a ser transferida a terceiro de boa-fé.

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c) Instituto do aval – no título não consta a
assinatura da pessoa de quem se pretendia o aval,
neste caso a garantia simplesmente não existe.

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EXCEÇÃO
O princípio da literalidade, a exemplo da
cartularidade, não se aplica inteiramente à
duplicata, cuja quitação pode ser dada, pelo
legítimo portador do título, em documento em
separado (LD, art. 9º, § 1º).

Art . 9º É lícito ao comprador resgatar a duplicata antes de aceitá-la ou


antes da data do vencimento.
§ 1º A prova do pagamento é o recibo, passado pelo legítimo portador
ou por seu representante com poderes especiais, no verso do próprio
título ou em documento, em separado, com referência expressa à
duplicata.

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3. AUTONOMIA

“Título de crédito é o documento necessário para o


exercício do direito literal e autônomo nele
mencionado”.

- segundo esse princípio, quando um único título


documenta mais de uma obrigação, a eventual
invalidade de qualquer delas não prejudica as
demais.

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-segundo a doutrina é o mais importante dos
princípios do direito cambial.

-as implicações do princípio da autonomia


representam a garantia efetiva de circulabilidade do
título de crédito.

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EXEMPLO

Imagine-se um negócio qualquer, de que tenha originado


um crédito, documentado numa nota promissória:
Antonio vende a Benedito o seu automóvel usado,
consentindo receber metade do preço no prazo de 60
dias. Nesse caso, a nota representa a obrigação do
comprador, na compra e venda do automóvel.
O ato de compra será chamado de “relação fundamental”
ou “negócio originário”, porque o título foi emitido com o
propósito inicial de o documentar.

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...imagine-se, então, que Antonio é devedor de Carlos,
em importância próxima ao valor da nota promissória. Se
Carlos concordar, o débito de Antonio poderá ser
satisfeito com a transferência do crédito que titulariza
em razão da nota (esse ato de transferência é o
endosso).
Nessa hipótese, o título que representava,
originariamente, apenas a obrigação de Benedito pagar a
Antonio o saldo devedor do valor do automóvel, passou
a representar duas outras relações jurídicas: a de
Antonio satisfazendo sua dívida junto a Carlos; e a de
Benedito devedor do título agora em mãos de Carlos.

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São três relações jurídicas documentadas numa
única nota promissória. Como as obrigações
correspondentes são autônomas umas das outras,
eventuais vícios que venham a comprometer qualquer
delas não contagiam as demais.
Os problemas relacionados com a compra e
venda do automóvel usado podem influir na relação
jurídica entre os participantes da relação originária do
título (isto é, Antonio e Benedito), mas não interferem
minimamente com os direitos dos terceiros de boa-fé
para quem o mesmo título foi transferido.

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- Alguns autores costumam dividir o princípio da
autonomia em 2 (dois) subprincípios:

a) Abstração:
-não está presente em todos os títulos de crédito.
-alguns títulos, a exemplo da letra de câmbio ou da
nota promissória, podem ser emitidos sem haver
necessariamente uma causa que lhes dê origem.

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- Outros, como a duplicata, somente são gerados a
partir de uma operação de compra e venda
mercantil.

- por isso, as duplicatas são denominadas de títulos


causais – a sua emissão depende da ocorrência de
um fato anterior.

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- Quando o título de crédito é posto em circulação, diz-se
que se opera a abstração, isto é, a desvinculação do ato ou
negócio jurídico que deu ensejo à sua criação.

Obs: A característica da abstração somente se opera após o


título ser posto em circulação.

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b) Inoponibilidade das Exceções Pessoais:

- por este princípio, aquele que for demandado por um


terceiro de boa-fé, pela obrigação resultante de um título,
não pode alegar uma situação pessoal com outrem, a fim
de furtar-se ao seu cumprimento.

- o executado em virtude de um título de crédito não


pode alegar, em seus embargos, matéria de defesa
estranha à sua relação direta com o exequente, salvo
provando a má-fé dele.

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Lei Uniforme de Genebra (Dec nº 57.663/66)

Art. 17. As pessoas acionadas em virtude de uma letra


não podem opor ao portador exceções fundadas sobre
as relações pessoais delas com o sacador ou com os
portadores anteriores, a menos que o portador ao
adquirir a letra tenha procedido conscientemente em
detrimento do devedor

OBS: O simples conhecimento, pelo terceiro, da


existência de fato oponível ao credor anterior do título já
é suficiente para caracterizar a má-fé.

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EXEMPLO
Carlos adquire um computador de Manuel, pagando-o
por meio de um cheque no valor de R$ 2.000,00. Ao
chegar à sua residência, descobre que o equipamento
não possui a capacidade de memória que aparentava,
maculado estava por um vício redibitório. Por outro lado,
Manuel já havia endossado o cheque em favor de
Regina.

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Conclusão
Carlos não poderá opor-se ao pagamento do cheque,
alegando defeito da coisa comprada de Manuel, pois
Regina não tem nada a ver com aquela transação.
Competirá a Carlos pleitear em juízo perdas e danos
contra Manuel, e nunca uma exceção pessoal contra
Regina.

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ASPECTOS LEGAIS: CÓDIGO CIVIL, LEI UNIFORME
DE GENEBRA

1. CÓDIGO CIVIL

- provocou grandes alterações na parte relativa aos


comerciantes e às sociedades comerciais;

- com relação aos títulos de crédito praticamente


não houve alterações, apesar de o Título VIII tratar a
respeito do tema;

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1. CÓDIGO CIVIL

- a partir do art. 887; (são normas de caráter geral);


- aplicação subsidiária do Código Civil (art. 903);
- controvérsia entre o art. 897, § único, CC e a Lei nº
7.357/85. (Lei do Cheque)

Ver Enunciado 39 do CJF (I Jornada de


Direito Comercial).

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Art. 897. O pagamento de título de crédito, que contenha
obrigação de pagar soma determinada, pode ser
garantido por aval.

Parágrafo único. É vedado o aval parcial.


(na lei especial diz que pode).

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ENUNCIADO 39:

Não se aplica a vedação do art. 897, parágrafo


único, do Código Civil, aos títulos de crédito
regulados por lei especial, nos termos do seu art.
903, sendo, portanto, admitido o aval parcial nos
títulos de crédito regulados em lei especial.

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I Jornada de Direito Comercial

- realizada no período de 22 a 24 de outubro


de 2012, em Brasília;

- evento promovido pelo Centro de Estudos


Judiciários do CJF;

- foram aprovados 57 enunciados;

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ASPECTOS LEGAIS: CÓDIGO CIVIL, LEI UNIFORME
DE GENEBRA

I Jornada de Direito Comercial

- as conclusões possuem caráter doutrinário;

- Coordenador do trabalho relativo aos Títulos


de Crédito: Prof Fábio Ulhoa Coelho.

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2. LEI UNIFORME DE GENEBRA - LUG

- introduzida no ordenamento jurídico brasileiro com


o Decreto nº 57.663/66;

- disciplina as matérias relativas a Letra de Câmbio e


Nota Promissória, subsidiado pelo Decreto nº
2.044/1908.

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EXERCÍCIOS

1. O jurista italiano Cesare Vivante definiu o título de


crédito como o documento necessário ao exercício do
direito literal e autônomo nele mencionado. Esta
definição tornou-se clássica por indicar duas das várias
características aplicáveis aos títulos de crédito. Acerca
destas características, julgue os itens a seguir com V ou
F.

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a) ( ) A literalidade está relacionada ao fato de que o
credor de título de crédito somente pode exercer os seus
direitos mediante a apresentação do título ao devedor.

b) ( ) A inoponibilidade de exceções pessoais em


embargos propostos contra ação cambial é decorrência
do princípio da autonomia das relações jurídicas.

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c) ( ) A afirmação de que os títulos de crédito valem pelas
informações nele mencionadas está vinculada ao princípio da
cartularidade.

d) ( ) A abstração é a principal característica da duplicata


mercantil.

e) ( ) Em decorrência da autonomia das relações jurídicas, o


avalista de um título de crédito não pode alegar defeito de forma.

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RESPOSTAS

a) F – princípio da cartularidade
b) V – decorrência do princípio da autonomia
c) F – princípio da literalidade
d) F – a duplicata mercantil é um título causal
e) F – o avalista pode alegar defeito de forma

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2. A utilização dos avanços dos meios de escrituração
eletrônica comprometem diretamente a aplicação do
Princípio Cambiário da:

a) Autonomia
b) Independência
c) Cartularidade
d) Força vinculante

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RESPOSTA
Alternativa “c”
Princípio da cartularidade - para o exercício dos
direitos representados por um título de crédito é
necessária a apresentação do documento. (cártula)

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EXERCÍCIOS DO CADERNO

CASO CONCRETO:
Antônio emitiu uma nota promissória em favor de Bernardo,
que circulou através de diversos endossos até chegar ao
atual portador, que decidiu executar um dos endossantes,
face à inadimplência do devedor original.  Uma vez
executado, o endossante apresentou exceção de pré-
executividade, para demonstrar sua total incapacidade
processual, já que que ele teve o título transferido de um
incapaz, o que prejudicaria a cadeia de endossos.
1. A defesa deve ser acolhida pelo Juiz da causa?
2. Determine o princípio cambiário aplicável ao caso em
tela.   

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QUESTÃO OBJETIVA:
Assinale a assertiva correta sobre títulos de crédito.
A) Pelo princípio da abstração, os direitos decorrentes do
título são independentes do negócio que deu lugar ao seu
nascimento, a partir do momento em que ele é posto em
circulação;
B) Pelo princípio da abstração, os direitos decorrentes do
título de crédito não se vinculam ao negócio que deu lugar
ao seu nascimento, independentemente de sua circulação;
C) Pelo princípio da autonomia, o cumprimento da
obrigação assumida por alguém no título não está
vinculado a outra obrigação, a menos que o título tenha
circulado.
D) Pelo princípio da autonomia, vale nos títulos somente o
que neles está escrito.

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