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PROCESSO PENAL II

AULA 2
TEORIA GERAL DA PROVA II – Provas em espécie.
1. Meios de prova: interrogatório; direito ao silêncio; a
chamada de corréu.
2. Prova pericial: conceito; exame de corpo de delito
(direto e indireto); laudo complementar; peritos oficiais e
peritos particulares; exames grafotécnicos.
3. Declarações do ofendido; valor probatório; acareação;
prova documental.
4. Prova testemunhal: classificação; dever de depor;
isenção e proibição; número legal nos diversos
procedimentos; reconhecimento de pessoa e de coisa;
reconhecimento judicial e extrajudicial.
1. Prova pericial: conceito; exame de corpo de delito
(direto e indireto); laudo complementar; peritos oficiais
e peritos particulares; exames grafotécnicos.

A partir do art. 158, CPP...

Conceito
Entende-se por perícia o exame procedido por
pessoa que tenha determinados conhecimentos
técnicos, científicos ou práticos acerca dos fatos,
circunstâncias objetivas ou condições pessoais
inerentes ao fato punível a fim de comprová-los.
(Tourinho Filho)
- é o exame feito por pessoas com conhecimentos
técnicos (juízes não possuem tais conhecimentos);

- em regra, a autoridade policial pode determinar


qualquer exame pericial no curso do inquérito (art. 6º,
VIII, CPP);

- a perícia tem valor relativo e não absoluto,


corroborando o sistema de valoração da prova chamado
Sistema da Persuasão Racional (ou do livre
convencimento motivado).
Logo...

- o juiz não está obrigado a aceitar como verdadeira


nenhuma perícia, podendo aceitá-la ou rejeitá-la, no
todo ou em parte;

Jurisprudência do STF

“O juiz de direito não está adstrito às conclusões do


laudo pericial, especialmente em se referindo a juízo de
constatação de fatos”.
(HC 85.955-1)
QUESTÃO: Qual a perícia que não pode ser determinada
pela autoridade policial?
RESPOSTA

O exame de insanidade mental do acusado, nos


termos do art. 149, § 1º, CPP.

Art. 149...  
        § 1o  O exame poderá ser ordenado ainda na fase do
inquérito, mediante representação da autoridade policial ao
juiz competente. (somente a autoridade judicial pode
determiná-lo)
QUESTÃO: Qual o recurso cabível da decisão que
indefere a realização de uma perícia?
RESPOSTA

Não há um recurso específico, mas é possível a


interposição de mandado de segurança ou,
eventualmente, ser novamente questionada a produção
de prova em grau de recurso, como preliminar de
apelação ou recurso em sentido estrito, conforme o
caso.
Perito

- é um apreciador técnico, auxiliar do juiz, com a função


estatal de fornecer dados instrutórios de natureza material
destinados à descoberta da verdade.

Pode ser de duas espécies:

a) Perito oficial – são funcionários públicos de carreira,


cuja função consiste em realizar perícias determinadas pela
autoridade policial ou pelo juiz da causa.
b) Perito não oficial – é a pessoa nomeada pelo juiz ou pela
autoridade policial para realizar determinado exame pericial.

Observações...

- ambos deverão ser portadores de diploma de curso superior;


- número de peritos não oficiais: 2;
- o perito não oficial deve prestar compromisso;
- para fins penais, os dois tipos são considerados funcionários
públicos.
- art. 159, § 7º - perícia complexa: pode ter mais de um perito
oficial.
       Art. 159.  O exame de corpo de delito e outras perícias serão
realizados por perito oficial, portador de diploma de curso
superior. (apenas 1 perito oficial)
       
§ 1o  Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2
(duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem
habilitação técnica relacionada com a natureza do exame. (para fins
penais também são considerados funcionários públicos).
       
§ 2o  Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem
e fielmente desempenhar o encargo. (CUIDADO! a ausência do
compromisso é mera irregularidade)
Assistente técnico

- é uma pessoa dotada de conhecimentos técnicos,


auxiliar das partes, que tem por finalidade trazer ao
processo informações especializadas relacionadas à
perícia;

- antes da reforma do CPP (Lei nº 11.690/2008) somente


existia no processo civil.

Ex: Caso Isabella Nardoni, a família contratou um


assistente técnico para auxiliar nas provas.

      
Diferenças...

Perito Assistente técnico

- auxiliar do juízo. - auxiliar das partes (é


parcial).
- está sujeito às causas de - não está sujeito.
impedimento e suspeição.
- é considerado func pub para - não é considerado.
fins penais.
- se fizer afirmação falsa: - não responde. (*)
crime de falsa perícia (art. 342)
Art. 159...       

§ 3o  Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de


acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de
quesitos e indicação de assistente técnico. 

        § 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão


pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo
pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão. 
Observação       

Diante do teor dos §§ 4º, 5º e 6º do art. 159, CPP, a


intervenção do assistente somente será possível durante
o curso do processo judicial e após a sua admissão pelo
juiz.
O que é permitido às partes no curso do processo
judicial? (relativo à perícia)

Art. 159, § 5º:

– requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou


para responderem a quesitos, desde que o mandado de
intimação e os quesitos a serem esclarecidos sejam
encaminhados com  antecedência  mínima de 10 (dez) dias;

– indicar assistentes técnicos que poderão apresentar


pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em
audiência. 
Exame de corpo de delito  (a partir do art. 161)     

Corpo de delito é a prova da existência do crime. É o


conjunto de vestígios materiais ou sensíveis deixados
pela infração penal (materialidade do delito).

Exame de corpo de delito é a verificação da prova da


existência do crime, feita por peritos, diretamente, ou por
intermédio de outras evidências.
Espécies de exame de corpo de delito      

a) Direto: é aquele realizado nos delitos que deixam


vestígios (transeuntes);

b) Indireto: é aquele realizado nos delitos que não


deixam vestígios (intranseuntes), ou nos delitos que
deixam vestígios, mas no momento da perícia não mais
subsistem.

Art. 158.  Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o


exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a
confissão do acusado.
Exame de corpo de delito e o início do processo

Em regra, não é necessário para o início do processo,


porém, essa regra comporta duas exceções:

a) Laudo de constatação previsto no art. 50, § 1º da


Lei nº 11.343/2006;

§ 1o  Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e


estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o
laudo de constatação da natureza e quantidade da droga,
firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea.
b) Exame nos crimes contra a propriedade imaterial,
previsto no art. 525, CPP;

Art. 525.  No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa


ou a denúncia não será recebida se não for instruída com o
exame pericial dos objetos que constituam o corpo de delito.

Natureza jurídica: condição de procedibilidade para o


exercício da ação penal.
Observação

As leis penais especiais, normalmente, trazem os


procedimentos específicos para a realização dos exames
e perícias.

Exemplos:

ECA – art. 182, § 2º;


Lei de Drogas;
Lei dos Juizados Especiais – art. 77, §2º;
Lei Maria da Penha – art. 12, § 3º; etc...
Consequência da ausência do exame de corpo de delito

A ausência do exame de corpo de delito direto e


indireto é tão grave que anulará todo o processo.

O fundamento está no art. 564, III, “b”, CPP, que trata


das NULIDADES no processo penal:

Art. 564 A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:


III. por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam
vestígios, ressalvado o disposto no Art. 167;
Laudo complementar (ou exame complementar) – art. 168

Há 3 (três) hipóteses em que será possível a


confecção do laudo complementar:

a) em caso de lesões corporais, se o primeiro exame


pericial tiver sido incompleto (art. 168, caput);
b) em caso de inobservância de formalidades,
omissões, obscuridades ou contradições;
c) se julgar conveniente, a autoridade policial ou
judicial poderá ordenar que se proceda a novo exame
por outros peritos.
Observação

  A falta de exame complementar poderá ser suprida


pela prova testemunhal (§3º).

O futuro CPP tratará a matéria da mesma forma,


somente acrescentando a palavra “documental” ao final
do parágrafo.
Exames grafotécnicos (art. 174)

- é o exame que busca certificar, admitindo como


certo, por comparação, que a letra inserida em
determinado escrito pertence à pessoa investigada;

- este tipo de prova pode servir para incriminar


alguém ou até mesmo afastar a participação de pessoa
cuja letra não for reconhecida.

 
Análise do inciso IV do art. 174

... a autoridade mandará que a pessoa escreva o que


Ihe for ditado.

Ninguém é obrigado a produzir prova contra si


mesmo.
QUESTÃO: Qual a solução jurídica para o caso?

Se o indiciado, conforme orientação de sua defesa,


preferir não fornecer o material para o exame a ser
realizado, tal conduta não poderá ser caracterizada como
crime de desobediência;

Caso contrário, estar-se-ia subvertendo a ordem


jurídica, obrigando o indivíduo a produzir prova contra
seu próprio interesse.
SOLUÇÃO:

- a autoridade poderá fazer a requisição de


documentos em arquivos ou estabelecimentos públicos
onde se encontrem os escritos da pessoa a qual é
atribuída a letra;

- além disso, também poderá valer-se de documentos


cuja procedência já tenha sido judicialmente testada
como sendo do punho da pessoa investigada.
QUESTÃO: Neste último caso, como é denominada esta
espécie de prova no processo penal?
RESPOSTA

Prova emprestada.

Ex: Um contrato preenchido de próprio punho pelo


investigado, juntado em uma ação cível qualquer, para a
prova de um direito e, nessa demanda, reconhecido
como seu.
2. Meios de prova: interrogatório; direito ao silêncio; a
chamada de corréu. Confissão.

A partir do art. 185, CPP...

Conceito de Interrogatório
É o ato processual que confere oportunidade ao
acusado de se dirigir diretamente ao juiz, apresentando a
sua versão defensiva aos fatos que lhe foram imputados
pela acusação, podendo inclusive indicar meios de
prova, bem como confessar, se entender cabível, ou
mesmo permanecer em silêncio, fornecendo apenas
dados de qualificação.
(Guilherme de Souza Nucci)
Resumindo...
É o ato pelo qual o juiz ouve o acusado sobre a
imputação que lhe é feita.

Natureza jurídica

De acordo com o CPP: meio de prova, devido à sua


localização;
De acordo com a doutrina: mista (meio de prova e de
defesa).

direito ao silêncio.
Futuro Código de Processo Penal

- o art. 63 assim prescreve “O interrogatório constitui


meio de defesa do investigado ou acusado e será
realizado na presença de seu defensor”.
Princípio da ampla defesa

a) Defesa técnica
- é aquela exercida por advogado regularmente
inscrito nos quadros da OAB;

- é irrenunciável e indisponível;

Ex: Américo constituiu advogado para lhe defender em


um processo, porém, o defensor NÃO apresentou
alegações finais. Qual a solução jurídica?
RESPOSTA

Ao acusado pertence o direito de constituir seu


advogado. Somente diante de sua inércia será possível a
nomeação de defensor dativo.

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade


judiciária, no curso do processo penal, será qualificado e
interrogado na presença de seu defensor, constituído ou
nomeado.
Súmula 523, STF

No processo penal, a falta da defesa constitui


nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se
houver prova de prejuízo para o réu.
b) Autodefesa

Direito de audiência: é o direito que o acusado tem de


ser ouvido pelo juiz de modo a tentar formar sua convicção.

Direito de presença (direta ou remota): é o direito que o


acusado tem de acompanhar os atos da instrução
processual, auxiliando seu defensor na formulação de
perguntas
Interrogatório por videoconferência e a ampla defesa
(Lei nº 11.900/09) – art. 185, §§ 2º a 7º.

Características

a) Caráter excepcional (§ 2º)


- deve haver decisão fundamentada indicando a
necessidade de realização do ato por videoconferência;
- as partes devem ser intimadas com 10 dias de
antecedência;
- o juiz pode agir de ofício ou mdt req. das partes.
b) Hipóteses (§ 2º, I, II, III, IV)

- prevenir risco à segurança pública;


- viabilizar a participação do acusado no ato
processual. Ex: enfermidade;
- impedir a influência do réu no ânimo da testemunha
ou da vítima;
- responder à gravíssima questão de ordem pública.
Ex: onda de ataques do PCC.
c) Presença de advogado e defensor no presídio e na sala
de audiência (§ 5º).

São 2 pessoas: defensor e advogado, um na sala de


audiência e outro no presídio.

d) Videoconferência para os demais atos processuais (§ 8º).

Ex: inquirição de testemunha.


Momento do interrogatório (Lei nº 11.719/2008)

A reforma processual penal estabeleceu um novo momento para


a realização do interrogatório.

Art. 400.  Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo


máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do
ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela
defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem
como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de
pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado. 

(audiência una de instrução e julgamento – o interrogatório do


acusado é o último ato).
Exceções

1. Lei de Drogas – o interrogatório é o primeiro ato


(art. 57);

2. Código de Processo Penal Militar – o


interrogatório é o primeiro ato;

3. Processos de competência originária dos


tribunais – também é o primeiro ato.
Interrogatório de réu preso

- deve ser realizado, como regra, no estabelecimento


penal em que se encontra o acusado, e não mais no
fórum;

- busca-se evitar o risco de fuga no deslocamento


do preso sob escolta;

Porém...
- com o advento da Lei nº 11.719/2008, o
interrogatório foi transferido para o final da fase de
instrução;

- em uma só audiência colhem-se todas as provas


(testemunhas, ofendido, peritos, etc.) e interroga-se o
réu;

- logo, torna-se inviável que o juiz se dirija ao


presídio para interrogar o acusado.
§ 1o  O interrogatório do réu preso será  realizado, em
sala própria, no estabelecimento em que estiver recolhido,
desde que estejam garantidas a segurança do juiz, do membro
do Ministério Público e dos auxiliares bem como a presença do
defensor e a publicidade do ato.
(Redação dada pela Lei nº 11.900, de 2009) – LEI DA
VIDEOCONFERÊNCIA.

Obs: Sala própria não é cela.


Citação de réu preso para o interrogatório judicial

- a nova redação do art. 360, CPP passou a exigir a


citação pessoal do réu preso para o interrogatório;

- a simples requisição do réu gera nulidade absoluta;

- objetivo: dar mais ênfase ao princípio


constitucional da ampla defesa.
  Art. 360. Se o réu estiver preso, será pessoalmente citado. 

Súmula 351, STF:


É nula a citação por edital de réu preso na mesma
unidade da Federação em que o juiz exerce a sua
jurisdição.

Obs: Para a doutrina essa súmula deveria valer para qualquer


acusado que estivesse preso, pouco importando a unidade
Federativa.
 Direito ao silêncio (art. 186, CPP)

- consagrado pela CF no art. 5º, LXIII, é o direito de


todo acusado de permanecer calado, em qualquer
procedimento (judicial ou extrajudicial;

- a antiga redação do art. 186 dizia que o silêncio


poderia ser interpretado em prejuízo da própria defesa.
 Atual art. 186, CPP...

Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro


teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de
iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer
calado e de não responder perguntas que lhe forem
formuladas.
        Parágrafo único. O silêncio, que não importará em
confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da
defesa.
 Interrogatório de correu

Será feito em separado, conforme determina o art.


191, CPP;

É a forma correta para se evitar que haja influência


de um corréu sobre o outro, levando-os, muitas vezes, a
confissões ou acusações falsas.

       Art. 191. Havendo mais de um acusado, serão


interrogados separadamente.
CURIOSIDADE: Interrogatório sub-reptício

O termo foi utilizado pelo Ministro Sepúlveda


Pertence, relator do HC 80.949/RJ, como sinônimo de
interrogatório informal:

"(...) 3. Ilicitude decorrente - quando não da evidência de estar


o suspeito, na ocasião, ilegalmente preso ou da falta de prova
idônea do seu assentimento à gravação ambiental - de
constituir, dita 'conversa informal', modalidade de
'interrogatório' sub-reptício, o qual - além de realizar-se sem
as formalidades legais do interrogatório no inquérito policial
(art. 6º, V), se faz sem que o indiciado seja advertido do seu
direito ao silêncio."
 Confissão – a partir art. 197, CPP.

É admitir contra si, por quem seja suspeito ou


acusado de um crime, tendo pleno discernimento,
voluntária, expressa e pessoalmente, diante da
autoridade competente, em ato solene e público,
reduzido a termo, a prática de algum fato criminoso.

Obs: Não existe confissão ficta ou presumida no


processo penal.
 Natureza jurídica

Trata-se de um meio de prova, isto é, um dos


instrumentos disponíveis para que o juiz atinja a
verdade dos fatos.
 Valor relativo da confissão

Art. 197.  O valor da confissão se aferirá pelos critérios


adotados para os outros elementos de prova, e para a sua
apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais
provas do processo, verificando se entre ela e estas existe
compatibilidade ou concordância.
 A confissão e o silêncio do acusado

Art. 198.  O silêncio do acusado não importará confissão,


mas poderá constituir elemento para a formação do
convencimento do juiz.

A parte final do dispositivo, que prevê a


possibilidade de ser levado em conta o silêncio do
acusado para a formação do convencimento do
magistrado não foi recepcionada pela CF.
 Classificação

a) Simples – o acusado confessa a prática do delito


sem opor qualquer fato modificativo.

b) Qualificada – o acusado confessa a prática do


delito, porém, opõe fato modificativo, impeditivo ou
extintivo do direito de punir.
 Características

a) Retratabilidade – pode o acusado voltar atrás,


retirar o que disse, já que a acusação não adquire
direitos na confissão do denunciado.

b) Divisibilidade – o juiz pode considerá-la apenas


parcialmente.

        Art. 200.  A confissão será divisível e retratável, sem


prejuízo do livre convencimento do juiz, fundado no exame
das provas em conjunto.
 3. Declarações do Ofendido. Valor probatório.
Acareação. Prova documental. (art. 201, §§ 1º a 6º, CPP)

Conceito de ofendido

É o sujeito passivo do crime – a vítima, ou seja, a


pessoa que teve diretamente o seu interesse ou bem
jurídico violado para a prática da infração penal.
 

Art. 201.  Sempre que possível, o ofendido será qualificado e


perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou
presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-
se por termo as suas declarações. 
 Jurisprudência do STF

Ainda que o art. 201, CPP tenha previsto que o


ofendido será ouvido sempre que possível, a oitiva da
vítima não é prova imprescindível para a condenação. O
processo penal brasileiro se pauta pelo princípio do
livre convencimento motivado, podendo o magistrado
fazer livre apreciação da prova, desde que apresente de
forma clara as suas razões de decidir.
(HC 44.229/RJ)
 Condução coercitiva (§ 1º)

§ 1o  Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem


motivo justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença
da autoridade. 

QUESTÃO: Se o ofendido não comparecer à presença


do juiz, poderá ser processado por crime de
desobediência?
 Divergência doutrinária

Nucci defende que a vítima não pode ser processada


por crime de desobediência. Esta hipótese só é
aceitável quando a lei expressamente admite.

Scarance Fernandes, Tourinho Filho e Mirabete


defendem que a vítima pode ser processada por crime
de desobediência caso não compareça à audiência para
a qual foi intimada.
 Valor probatório da palavra da vítima

- o depoimento da vítima é meio de prova, tanto


quanto o interrogatório do réu, quando este resolve
falar ao juiz;

- entretanto, não se pode dar o mesmo valor à


palavra da vítima, que se costuma conferir ao
depoimento de uma testemunha, esta, presumidamente,
imparcial.
 Exemplo

Nos crimes sexuais, que geralmente não deixam


vestígios e não há testemunhas, a palavra da vítima é
elemento de convicção de alta importância.
 Acareação – art. 229, CPP

É o ato processual, presidido pelo juiz, que coloca


frente a frente os depoentes, confrontando e
comparando declarações contraditórias ou divergentes.

Obs: A acareação prevista no art. 229 pode ser realizada


também na fase policial (art. 6º, VI, CPP).
 Natureza jurídica

Trata-se de um meio de prova, por meio do qual o


magistrado consegue eliminar do processo declarações
e depoimentos divergentes.
 Admissibilidade da acareação

Pode dar-se, conforme prescreve o art. 229, CPP,


entre todos os sujeitos envolvidos no processo.

Art. 229.  A acareação será admitida entre acusados, entre


acusado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou
testemunha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas,
sempre que divergirem, em suas declarações, sobre fatos ou
circunstâncias relevantes.
 

QUESTÃO: É possível a acareação ser realizada à


distância?
SIM.
É possível promover a acareação entre pessoas que
não estão face a face, fazendo com que os pontos
divergentes sejam esclarecidos diretamente pela
pessoa presente, através das reperguntas feitas pelo
juiz (art. 230, CPP).

Porém...
Realizado o ato por precatória, a prova é esvaziada
em grande parte, restando pouca chance de ter
sucesso. (Nucci)
Atualmente, a edição da Lei nº 11.900/2009 viabilizou
a realização de acareação por meio de
videoconferência, tornando desnecessária a utilização
da precatória.

§ 8o  Aplica-se o disposto nos §§ 2o, 3o, 4o e 5o deste artigo, no


que couber, à realização de outros atos processuais que
dependam da participação de pessoa que esteja presa, como
acareação, reconhecimento de pessoas e coisas, e inquirição
de testemunha ou tomada de declarações do ofendido.
Prova documental – a partir art. 231, CPP

É toda base materialmente disposta a concentrar e


expressar um pensamento ou qualquer manifestação de
vontade do ser humano, que sirva para demonstrar e
provar um fato ou acontecimento juridicamente
relevante.

Ex: escritos, fotos, desenhos, esquemas, disquetes,


CDs, etc.
Art. 232.  Consideram-se documentos quaisquer escritos,
instrumentos ou papéis, públicos ou particulares.

QUESTÃO: Um e-mail pode ser considerado


documento?
SIM.
Baseado no critério ampliativo do conceito de
documento, o e-mail transmitido por alguém deve ser
considerado documento.

Além disso, a Lei nº 11.419/2006 (Informatização do


Processo), assim dispõe em seu art. 11:
“Os documentos produzidos eletronicamente e juntados
aos processos eletrônicos com garantia da origem e de seu
signatário, na forma estabelecida nesta lei, serão
considerados originais para todos os efeitos legais”.
Momento de apresentação do documento

Em qualquer fase do processo admite-se a juntada


de documentos, desde que providenciada a ciência das
partes envolvidas, exceto quando a lei dispuser em
sentido diverso.

Art. 231.  Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão


apresentar documentos em qualquer fase do processo.
Exceção (Procedimento do Júri)

Art. 479.  Durante o julgamento não será permitida a leitura


de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido
juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três)
dias úteis, dando-se ciência à outra parte.
Documento anônimo

- é aquele que não possui indicação de quem o


materializou;
- há divergência na doutrina sobre a admissibilidade
ou não de um documento anônimo no processo.

Ex: Uma fotografia retratando determinada situação


importante para o desfecho de um processo pode ser
juntada aos autos, mesmo que não se saiba quem a
produziu.
4. Prova Testemunhal
- classificação;
- características;
- dever de depor;
- isenção e proibição;
- número legal (nos procedimentos ordinário,
sumário, sumaríssimo e júri);
- sistema de inquirição.
Conceito de testemunha
É a pessoa que declara ter tomado conhecimento de
algo, podendo, pois, confirmar a veracidade do
ocorrido, agindo sob o compromisso de ser imparcial e
dizer a verdade.

Natureza jurídica
No processo penal, é meio de prova, tanto quanto a
confissão, os documentos, a perícia e outros
elementos.
Classificação

a) Numerárias: são as testemunhas arroladas pelas


partes de acordo com o número máximo previsto em lei,
e que são compromissadas.
b) Extranumerárias: ouvidas por iniciativa do juiz,
também compro­missadas, as quais foram arroladas além
do número permitido em lei. O juiz não é obrigado a ouvi-
las.
c) Informantes: não prestam compromisso e são
também extranu­me­rárias. Caso o informante preste o
compromisso, haverá mera irregularidade.
d) Referidas: ouvidas pelo juiz (CPP, art. 209, § 1º),
quando “referidas” por outras que já depuseram.
e) Próprias: depõem sobre o thema probandum, ou
seja, o fato objeto do litígio.
f) Impróprias: prestam depoimento sobre um ato do
processo, como a instrumentária do interrogatório, do
flagrante, etc.
g) Diretas: quando não há intermediação entre o fato e
o testemunho (testemunhas que presenciaram o fato).
h) Indiretas: são aquelas que depõem sobre
conhecimentos adquiridos por terceiros (são as
testemunhas de “ouvir dizer”).
Características

- judicialidade: é aquela produzida em juízo, na


presença do juiz e das partes;

- objetividade: a testemunha deve expor os fatos de


forma objetiva, sem emitir opiniões pessoais e juízo de
valor sobre o ocorrido (art. 213, CPP);

- oralidade: o depoimento deve ser prestado


verbalmente, não sendo permitido à testemunha trazê-lo
por escrito (art. 204 e § único);
A testemunha pode consultar breves apontamentos
Exceção

Algumas autoridades podem prestar depoimento


por escrito, nos termos do art. 221, § 1º, CPP.

§ 1o  O Presidente e o Vice-Presidente da República, os


presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do
Supremo Tribunal Federal poderão optar pela prestação de
depoimento por escrito, caso em que as perguntas,
formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, Ihes serão
transmitidas por ofício.
(ministros de Estado, Presidente STJ e Presidente CN
não!)
- individualidade: cada testemunha é ouvida
isoladamente, de forma que uma não ouça o depoimento
da outra.

Art. 210.  As testemunhas serão inquiridas cada uma de per


si, de modo que umas não saibam nem ouçam os
depoimentos das outras, devendo o juiz adverti-las das penas
cominadas ao falso testemunho. 
        Parágrafo único. Antes do início da audiência e durante a
sua realização, serão reservados espaços separados para a
garantia da incomunicabilidade das testemunhas.
Dever de depor
- a própria lei impõe à testemunha o dever de depor;
- não se trata de um direito, mas de uma obrigação,
passível de punição em caso de negativa.

Art. 206.  A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de


depor...
QUESTÃO: Por qual crime deve responder a testemunha
que se recusa a depor?
Resposta

A recusa implica calar-se diante do juiz, omitindo a


verdade que sabe sobre um fato, configurando, então, o
crime de falso testemunho (art. 342, CP).

Por que não ser punida pelo crime de desobediência?

Porque a ordem para depor emana diretamente da lei,


e não do juiz (art. 206, CPP).
Isenção (art. 206, 2ª parte) e proibição (art. 207, CPP)

Como regra geral, as pessoas têm o dever de


testemunhar.

Se, intimada, a testemunha não comparece sem


motivo justificado, o art. 218 autoriza a sua condução
coercitiva por determinação do juiz, a par de sujeitar-se a
um processo-crime por desobediência.
Art. 206.  A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de
depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente
ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que
desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do
acusado, salvo quando não for possível, por outro modo,
obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas
circunstâncias.

Obs: São pessoas vinculadas intimamente ao réu.


Proibição de depor (art. 207)

Não se trata, neste caso, de mera faculdade ou direito,


mas de imposição legal a determinadas pessoas, que,
em razão da sua qualidade, não podem prestar
depoimento nem declarações.

Art. 207.  São proibidas de depor as pessoas que, em razão de


função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo,
salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o
seu testemunho. (tem que prestar o compromisso)
Número de testemunhas

Varia com o tipo de procedimento.

a) procedimento ordinário: cada uma das partes pode


arrolar no máximo até oito testemunhas (CPP, art. 401,
com a redação determinada pela Lei nº 11.719/2008);

b) procedimento sumário: admite o máximo de cinco


testemunhas (CPP, art. 532, com a redação determinada
pela Lei nº 11.719/2008);
c) procedimento sumaríssimo (Lei nº 9.099/95, art. 34):
máximo de três testemunhas;

d) procedimento do Tribunal do Júri: o máximo de cinco


(CPP, art. 422, com redação determinada pela Lei n.
11.689/ 2008).

Obs: Não são computadas como testemunhas para


integrar o máximo fixado em lei o ofendido, o informante
e a testemunha referida (considerada testemunha do
juízo - CPP, art. 401, § 1º).
Sistema de inquirição

Antes da reforma processual penal de 2008 as


perguntas das partes eram requeridas ao juiz, que as
formulava à testemunha.

Tratava-se aqui do sistema presidencialista, em que


havia a intermediação do magistrado na inquirição da
testemunha.
- com o advento da Lei nº 11.690/2008, esse sistema
restou superado, nos termos do art. 212, CPP;

- passamos a adotar o sistema do cross examination,


em que as partes se reportam à testemunha diretamente,
o qual já era adotado no plenário do Tribunal do Júri.
Art. 212.  As perguntas serão formuladas pelas partes
diretamente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que
puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou
importarem na repetição de outra já respondida. 
(cross examination)
        Parágrafo único.  Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz
poderá complementar a inquirição.
5. Reconhecimento de pessoas e coisas (a partir art. 226)

Conceito
É o ato pelo qual uma pessoa admite e afirma como
certa a identidade de outra ou a qualidade de uma coisa.

Natureza jurídica
Trata-se de meio de prova. Através do processo de
reconhecimento, que é formal, a vítima ou a testemunha
tem condições de identificar uma pessoa ou coisa,
tornando-se um elemento importante para compor o
conjunto probatório.
Procedimento

- o art. 226 descreve o procedimento para o


reconhecimento de pessoas;

- por sua vez, o art. 227 descreve o procedimento para


o reconhecimento de objetos (coisas).
Reconhecimento fotográfico

- tem sido admitido como prova, porém, deve ser


analisado com critério e cautela;

- a identificação de uma pessoa ou coisa por


intermédio de uma fotografia pode não espelhar a
realidade, dando margem a muitos erros;

- no entanto, convém ressaltar que o reconhecimento


fotográfico, isoladamente (sem outras provas), não pode
ensejar uma sentença condenatória.
Reconhecimento de pessoas e coisas por
videoconferência.

A Lei nº 11.900/2009 acrescentou o § 8º ao art. 185,


CPP, passando a prever tal possibilidade.

        § 8o  Aplica-se o disposto nos §§ 2o, 3o, 4o e 5o deste artigo,


no que couber, à realização de outros atos processuais que
dependam da participação de pessoa que esteja presa, como
acareação, reconhecimento de pessoas e coisas, e inquirição
de testemunha ou tomada de declarações do ofendido.
REFERÊNCIAS

- NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e


Execução Penal , 11. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense,
2014.

- CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal, 19 ed. – São


Paulo: Saraiva, 2012.

- BARROS, Francisco Dirceu. Processo Penal para


Concursos, vol. III, Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
EXERCÍCIOS

1. Sobre as regras que disciplinam a produção da prova


testemunhal no processo penal, é correto afirmar que:

a) O juiz, mesmo quando considerar necessário, não


poderá ouvir outras testemunhas, além das indicadas
pelas partes;
b) O juiz não permitirá que a testemunha manifeste suas
apreciações pessoais, mesmo quando inseparáveis da
narrativa do fato;
c) O depoimento será prestado oralmente, não sendo
permitido à testemunha trazê-lo por escrito, vedando-
se, também, qualquer consulta a apontamentos;
d) A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de
depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o
ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o
cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe,
ou filho adotivo do ofendido, mesmo quando não for
possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a
prova do fato e de suas circunstâncias.
e) Não será computada como testemunha a pessoa que
nada souber que interesse à decisão da causa.
1. RESPOSTA (MP/MG – XXXVII Concurso)

Alternativa “e”.
Fundamento: art. 209, § 2º, CPP.
2. Julgue a assertiva a seguir conforme seja verdadeira
ou falsa:

Considere que em determinada ação penal foi


realizada perícia de natureza contábil, nos moldes
determinados pela legislação pertinente, o que resultou
na elaboração do competente laudo de exame pericial.
Na fase decisória, o juiz discordou das conclusões dos
peritos e, de forma fundamentada, descartou o laudo
pericial ao exarar a sentença. Nessa situação, a
sentença é nula, pois o exame pericial vincula o juiz da
causa.
2. RESPOSTA (PC/TO – 2008 – Delegado)

Falsa.
Fundamento: art. 182, CPP. Sistema da persuasão
racional do juiz (ou do livre convencimento motivado).
3. Julgue a assertiva a seguir conforme seja verdadeira
ou falsa:

O interrogatório judicial, como meio de defesa, exige


a presença física do acusado, de forma que a sua
realização por meio de videoconferência é inadmissível
no processo penal.
3. RESPOSTA (PC/ES – Perito/2011)

Falsa.
Comentário: O próprio Código de Processo Penal
permite que não só o interrogatório seja realizado por
videoconferência, mas diversas outras ações.
Art. 185, §§ 2º e 8º.
EXERCÍCIOS DO CADERNO
1. O juiz criminal responsável pelo processamento de
determinada ação penal instaurada para a apuração de
crime contra o patrimônio, cometido em janeiro de 2010,
determinou a realização de importante perícia por apenas
um perito oficial, tendo sido a prova pericial fundamental
para justificar a condenação do réu.
Considerando essa situação hipotética, esclareça,
com a devida fundamentação legal, a viabilidade jurídica
de se alegar eventual nulidade em favor do réu, em razão
de a perícia ter sido realizada por apenas um perito.
QUESTÃO OBJETIVA
2. (Ministério Público – BA/2010) À luz do Código de Processo
Penal, deve-se afirmar que:
a)    A prova testemunhal não pode suprir a falta do exame de
corpo de delito, ainda que tenham desaparecidos os vestígios
do crime;
b)    A confissão será indivisível e retratável, sem prejuízo do
livre convencimento do Juiz de Direito, fundado no exame das
provas em conjunto;
c)    O ofendido não deve ser comunicado da sentença e
respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem;
d)    As pessoas proibidas de depor em razão da profissão,
poderão fazê-lo se, desobrigadas pela parte interessada,
quiserem dar o seu testemunho; neste caso, porém, não
deverão prestar compromisso legal;
e)    Todas as afirmativas estão incorretas.

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