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MEDICINA LEGAL II

Peritos e Perícias
Perícias e Peritos
 
Perícia: é o conjunto de procedimentos que têm a
finalidade de esclarecer um fato de interesse da justiça. É
um exame técnico altamente especializado sobre um
objeto, corpo, instrumento, em busca da verdade e da
produção de provas destinadas a levar ao juiz dado sobre
um determinado fato técnico (ajuda na convicção do
magistrado).

Finalidade da perícia: provar os fatos de interesse da


Justiça, fornecendo esclarecimentos ao juízo, relativos a
questões estranhas ao meio jurídico em diferentes áreas.
Quando os fatos dizem respeito à vida ou à saúde, tem-se
a perícia médico-legal.
Nos termos do art. 184 do CPP, a autoridade policial ou o
juiz poderão negar a perícia requerida pelas partes, quando
não for necessária ao esclarecimento da verdade, salvo na
hipótese do exame de corpo de delito, justamente por
força de sua indispensabilidade quando a infração deixar
vestígios (art. 158 CPP).

A perícia pode ser realizada nos indivíduos vivos


(diagnóstico de lesões, determinação de idade, sexo etc),
nos cadáveres (diagnóstico da causa da morte, tempo da
morte, identificação do morte etc), nos esqueletos pelos
mesmos motivos, nos objetos (exames de armas, projéteis,
procura por sangue, impressões digitais etc).
OBS: A confissão do acusado não supre a perícia. E, a falsa
perícia é crime tipificado no art. 342 do CPB.

Vestígio: é todo material, suspeito ou não, encontrado no


local do delito.

Indício: é o vestígio analisado que tenha relação com o


fato delituoso, com a vítima ou com o suspeito (art. 239
CPP).

Prova: é o elemento demonstrativo da autenticidade ou da


veracidade de um fato com a finalidade de formar a
convicção do juiz.
Art. 158 CPP: Quando a infração deixar vestígios é
indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo ser suprido pela confissão do
acusado.
§ único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de
corpo de delito quando se tratar de crime que envolva:

I – violência doméstica e familiar contra mulher;

II – violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa


com deficiência.

Então, se houver vestígios coletados por meios lícitos, é


obrigatória a perícia.
No CPC
Art. 464. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou
avaliação.

§ 1º O juiz indeferirá a perícia quando:


I – a prova do fato não depender de conhecimento especial
de técnico;
II – for desnecessária em vista de outras provas produzidas;
III – a verificação for impraticável;

§ 2º De ofício ou a requerimento das partes, o juiz poderá,


em substituição à perícia, determinar a produção de prova
técnica simplificada, quando o ponto controvertido for de
menor complexidade.
§ 3º A prova técnica simplificada consistirá apenas na
inquirição de especialista, pelo juiz, sobre ponto
controvertido da causa que demande especial
conhecimento científico ou técnico.

§ 4º Durante a arguição, o especialista, que deverá ter


formação acadêmica na área objeto de seu depoimento,
poderá valer-se de qualquer recurso tecnológico de
transmissão de sons e imagens com o fim de esclarecer os
pontos controvertidos da causa.
Ex: Num contrato de seguro, quando se pretende
demonstrar que o segurado já padecia da doença que o
levou a óbito e ocultou quando da assinatura do referido
contrato, uma vez juntados aos autos os relatórios e
prontuários médicos.
Corpo de delito: é a base residual do crime, ou seja, é o
conjunto de elementos sensíveis relacionados ao fato
delituoso. O corpo da vítima é apenas um dos elementos
do corpo de delito.

Pode ser:

Direto: quando o perito examina diretamente os vestígios


produzidos ou que tenham concorrido para a infração.

Indireto: Quando, já não existindo vestígios, o exame é


feito com base em prova testemunhal.
Num local de crime o perito examina todos os
objetos e elementos deixados, o que pode ser feito
para captar pelos, cabelos, impressões digitais,
sangue, esperma e outras secreções, exames em
animais irracionais presentes na cena, dependendo
do caso. São exemplos de perícias: a grafotécnica,
balística, contábil, eficiência de arma, de local de
acidente de trânsito, exumação, necropsia, de local
de crime contra o patrimônio, reconstituição de
crime, vistoria em local, odontolegal, constatação
toxicológica e outras.
Indício: é o vestígio analisado que tenha relação com o fato
delituoso, com a vítima ou com o suspeito (art. 239 CPP).

Perito oficial: é aquele concursado perante a Administração


Pública e que tem a missão de confeccionar os laudos
periciais. Prestam um único compromisso com a verdade no
momento da investidura no cargo, não necessitando repeti-
lo a cada exame que realizam.

Perito não oficial: é aquele escolhido pela autoridade por


entender de algum assunto relacionado à área de exame, o
qual presta compromisso com a verdade a cada perícia
realizada (art. 159 § 2º CPPB). São os chamados peritos “ad
hoc”, nomeados ou graciosos.
OBS: Na área cível não existem peritos oficiais,
havendo apenas um perito nomeado ou louvado
pelo juiz. Se a perícia for de natureza médico-legal, o
perito será escolhido, de preferência, entre os
técnicos dos estabelecimentos oficiais
especializados (art. 434 CPC).

Até 2007, o número de peritos oficiais necessários


para assinarem o laudo era de dois, sendo que, em
2008 a lei 11690/08 alterou a legislação pertinente
exigindo agora apenas um.
Se forem peritos não oficiais, permanece o número de
dois, assim a súmula 361 do STF “No processo penal, é
nulo o exame realizado por um só perito...” só é aplicável
quando os peritos forem não oficiais.

O exame de corpo de delito pode ser feito em qualquer dia


e horário, contudo, segundo o art. 162 CPP, as autopsias
deverão observar um intervalo de seis horas de morte, isso
porque, neste prazo, os sinais abióticos de certeza, isto é,
de ausência de vida, já estão evidentes. O médico-perito
pode antecipar e realizar a necropsia antes das seis horas
legais quando se tratar de morte aparente pela evidência
dos sinais, porém somente o médico-perito tem
legitimidade para tal. Ex: morte por decapitação completa.
A requisição da perícia se dá:

- Na fase de inquérito, pela autoridade policial civil,


militar (para instruir o inquérito policial militar) ou
federal (competente para presidir o IP respectivo).

- Na fase processual, somente a autoridade judiciária.


Atualmente discute-se se o Ministério Público pode
determinar diretamente a perícia ao IML.

Há somente uma perícia que a autoridade policial não pode


requerer diretamente, mesmo quando na fase de inquérito:
é a perícia de sanidade mental, a qual somente a
autoridade judiciária pode fazê-lo.
Espécies de perícias:

Perícia contraditória: ocorre quando dois ou mais peritos


chegam a diferentes conclusões sobre o mesmo fato,
havendo então necessidade da opinião de um terceiro
perito o qual elaborará um outro laudo para dirimir os
pontos obscuros, é o chamado “peritum peritorium”.

Perícia de retratação (percipiente): toda ela o é, pois é


aquela em que om perito retrata o que está sendo
observado, narrando minuciosamente o que está
observando, sem emitir opinião. Ex: a maioria das
necropsias.
Perícia interpretativa (deduciende): é aquela feita por
análises científicas e processos laboratoriais, ou outros
meios, e, no final o perito emite a sua opinião a respeito.
Ex: análise em manchas de sangue em que o perito conclui
se é sangue humano ou não.

Perícia opinativa ou parecer: é aquela emitida por pessoa


de notável saber jurídico.

Perícia retrospectiva: ocorrem quando o perito analisa no


presente um fato que já aconteceu (maioria das perícias).
Ex: análise de marcas de mordidas (a partir dela é possível
saber sobre as características da boca e dos dentes de
quem mordeu, o grau de violência, a data provável da
mordida, se é humana ou animal irracional).
Perícia prospectiva: ocorre quando a análise de uma
situação presente repercute no futuro. Ex: cessação da
periculosidade.

Perícia de lesão corporal (art. 129 CP): há necessidade de


laudo médico pericial para se constatar a natureza da
lesão, se leve (caput), grave (art. 129 § 1º) ou lesão
gravíssima (art. 129, § 2º ).

O exame complementar deve ser realizado em 30 dias a


contar da ocorrência da lesão e não do dia de efetivação
da perícia. (art. 168, § 2º CPP).
Nosso CPP cita alguns tipos de perícias:

- Autópsia (necrópsia ou necropsia) art. 162 CPP


- Exumação art. 163 CPP
- Identificação de pessoa art. 166 CPP
- Exame complementar de lesões corporais art. 168
- Exame de local dos fatos art. 169 CPP
- Exames laboratoriais art. 170 CPP
- Exames em local de furto qualificado art. 171 CPP
- Avaliações nos crimes contra o patrimônio art. 172 CPP
- Locais de incêndio art. 173 CPP
- Documentoscopia art. 174 CPP
- Natureza e efeiciência de objetos art. 175 CPP
- Reprodução simulada dos fatos (reconstituição) art. 7º
CPP
DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS

São quatro tipos:


Notificações: São feitas por médicos às autoridades
competentes por alguma necessidade social ou sanitária,
visto que existem algumas doenças de notificação
compulsória, principalmente as infecto-contagiosas.

Atestado: é a declaração de um ato médico e suas


consequências, sendo vedado ao médico atestar sem ter
praticado este ato. É o fruto do resumo de exame de um
paciente e pode ser utilizado para fins de licença,
justificação de faltas e abonos escolares. O fornecimento é
direito inquestionável do paciente, não importando em
qualquer majoração de honorários.
Relatório: É o registro escriturado minucioso de todos os
fatos de natureza específica e caráter permanente,
pertinentes a uma perícia médica, requisitada por
autoridade competente a peritos oficiais ou, onde não os
houver, a profissionais não oficiais portadores de diploma
de curso superior, compromissados moralmente.
Se o relatório é ditado diretamente ao escrivão, na
presença de testemunhas, chama-se auto. Se o relatório é
redigido posteriormente pelos peritos após suas
investigações e consultas, recebe o nome de laudo. As
partes de um relatório são: preâmbulo, histórico,
descrição, conclusão e resposta aos quesitos.
Nas ações penais os quesitos são oficiais e já vêm
formulados, podendo a autoridade requisitante redigir
quesitos extras acessórios. Nas ações cíveis, os quesitos
serão redigidos pelos assistentes técnicos indicados pelas
partes.

Parecer: É a resposta por escrito a uma consulta feita no


intuito de esclarecer algumas questões obscuras de
interesse jurídico, sendo que tal consulta pode ser feita
pelo juiz ou pela parte. A consulta deve ser remetida a um
profissional competente no assunto para definição de valor
científico sobre a matéria.
O valor do parecer dependerá do prestígio da pessoa que
foi consultada. Trata-se de um documento particular,
unilateral e não exige compromisso legal do parecerista.

ATESTADO MÉDICO (modelo)
Declaro que o Sr. (nome do paciente), inscrito no CPF sob
o nº (informar), paciente sob meus cuidados, não se
encontra em condições para o trabalho, devendo seu
afastamento ser considerado de (informar a data de início)
a (data de liberação).
________________, ____ de ____________ de
_________.
(localidade, dia, mês e ano).
(assinatura e carimbo)
(nome do médico) (CRM)
(PC MA – 2018 – Médico Legista) Com relação à perícia
médico-legal e aos exames periciais, assinale a opção correta:
a) É permitido ao perito assinar laudos mesmo sem ele ter
participado diretamente dos exames periciais.
b) O exame realizado por um único perito é considerado
válido no processo penal.
c) O exame pericial pode ser realizado por duas pessoas
idôneas, portadoras de diploma de curso superior,
escolhidas, de preferência, entre as que tiverem habilitação
técnica relacionada à natureza do exame, onde não houver
peritos oficiais.
d) O corpo de delito direto é composto por depoimento de
testemunhas, fichas hospitalares, boletins médicos e
confissão extrajudicial.
e) No corpo de delito indireto, há vestígios materiais de
infrações legais.
(GO – Perito Criminal – 2015) Processos são um conjunto de
providências que devem ser tomadas para se verificar e sanar uma
lesão de direito. No curso dos processos, os fatos devem ser
esclarecidos sem qualquer dúvidas, de modo que os juízes possam
proferir sentenças justas. Os fatos alegados em um processo
precisam ser demonstrados, e essa demonstração depende de sua
natureza. Quando tais fatos não deixam vestígios materiais e se
desvanecem no mesmo instante em que ocorrem, ou logo após, a
sua comprovação em juízo só pode ser feita pela prova
testemunhal. E o relato pode, por diversas razões, não
corresponder fielmente à realidade. Mas, se resultam vestígios
duradouros dos fatos ocorridos, com a possibilidade de serem
detectados pelos nossos sentidos, o seu exame e registro devem
ser feitos obrigatoriamente. E por pessoas tecnicamente
capacitadas para fazê-lo.
Com relação aos conceitos de perícia e de perito, bem como à
normatização estabelecida no CPP, assinale a alternativa correta:
a) Quando uma infração deixa vestígios, é necessário o exame de
corpo de delito, ou seja, a comprovação dos vestígios materiais por
ela deixados torna-se indispensável; a prova testemunhal não pode
ser considerada uma alternativa aos vestígios não periciados ou
àqueles que se perderam com o decorrer do tempo.
b) Perito é um auxiliar da justiça, devidamente compromissado,
estranho às partes, portador de conhecimento técnico altamente
especializado e sem impedimentos para atuar no processo.
c) A confissão do acusado pode suprir o exame de corpo de delito nos
crimes que deixam vestígios.
d) Chama-se de corpo de delito direto o realizado pelos peritos sobre
os vestígios de infração existentes, e de corpo de delito indireto
quando, não existindo esses vestígios materiais, a prova é suprida
pela confissão do acusado.
e) O exame de corpo de delito pode ser solicitado diretamente ao
órgão responsável pela perícia pelo advogado procurador da parte
interessada.
(GO – Médico Legista – 2015) Considerando os conceitos de
perícia e de perito, bem como a normatização estabelecida no
CPP, assinale a alternativa correta:

a) A detecção de vestígios do crime nas coisas não é exame de


corpo de delito.
b) O exame de corpo de delito só poderá ser feito por via direta.
c) A autópsia será feita pelo menos 6 horas depois do óbito,
salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte,
julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que
declararão no auto.
d) O exame de corpo de delito, em questões médico-legais, só
poderá ser feito nas dependências dos Institutos de Medicina
Legal dos hospitais públicos durante o correr do dia solar.
e) Exame de corpo de delito é a procura de vestígios do crime no
corpo humano.
(PC – BA – Perito Criminal) Jovem do sexo masculino é
encontrado morto no seu quarto, aparentemente um caso
de suicídio por enforcamento. Logo ao chegar no local de
morte, a equipe pericial encontra a vítima na cama, com o
objeto usado como elemento removido.
Nessa situação, o perito criminal deve:

a) Avaliar detalhadamente o local, buscar pistas do


envolvimento de terceiros, não realizar o exame
pericial do cadáver e registrara alteração notada no
laudo final.
b) Fazer o boletim de ocorrência com a alteração notada,
isolar e preservar o local de morte, e solicitar o envio
de equipe pericial do IML para realização de perícia
conjunta.
c) informar à autoridade policial sobre a alteração do local
de morte, emitir o laudo de impedimento e determinar a
remoção imediata do cadáver para o IML.

d) realizar o exames externo do cadáver, de tudo que é


encontrado em torno dele ou que possa ter relação com o
fato em questão, e registrar no laudo a alteração notada
no local de morte.

e) realizar o registro fotográfico do local, investigar as


circunstâncias da morte, não realizar o exame pericial do
cadáver
CADEIA DE CUSTÓDIA

A lei 13.964/19 (também conhecida como “pacote


anticrime”) alterou substancialmente a legislação penal e
processual penal. No que diz respeito à Medicina Legal,
muito já se falava sobre a cadeia de custódia,
principalmente em razão da importância dos elementos
verificados nos mais diversos locais de crimes,
notadamente a disciplina em relação aos vestígios e seu
respectivo acondicionamento.

Cadeia de custódia equivale às primeiras condutas a serem


tomadas pela autoridade policial, ou outros agentes
públicos, diante do conhecimento da prática de um crime.
Início da cadeia de custódia (art. 158-A CPP):

a) Dá-se com a preservação do local de crime

b) Dá-se com a realização de procedimentos policiais ou


periciais nos quais se detecte um vestígio. (ex.:
cumprimento de mandado de busca e apreensão)

A cadeia de custódia já existia normatizada no “Caderno de


Procedimentos Operacionais Padrão do Grupo Especial de
Local de Crime”
(CESPE/UnB – PCBA/13) A autoridade policial deve
promover as diligências para o devido esclarecimento dos
fatos lesivos a algum. Essa averiguação deve ser baseada
em procedimentos de demonstração, os quais dependem
da natureza dos fatos. Com relação a esse assunto, julgue
os itens a seguir:
25 – No foro penal, o relatório do médico perito,
denominado laudo pericial, somente poderá ser solicitado
pela autoridade competente até o momento da sentença.

26 – Caso haja contradição entre os depoimentos das


testemunhas, as confissões dos acusados e as conclusões
técnicas dos peritos, o testemunho das pessoas envolvidas,
quando estas estiverem sob juramento, deve prevalecer
sobre as conclusões técnicas dos peritos.
27 – Os técnicos especializados encarregados de realizar o
exame dos vestígios materiais relacionados ao fato jurídico
são denominados peritos; caso sejam remunerados pelo
Estado, serão denominados peritos oficiais.

(Cespe – PCMA/2018) um perito médico legista não


incluiu propositalmente em seu laudo necroscópico o
resultado da alcoolemia de um cadáver que ele examinou.
Nessa situação hipotética, independentemente da
importância de seu resultado para o andamento do
processo, o médico legista cometeu:

a) Crime de falsificação de documento público


b) Crime de falsa perícia
c) Contravenção penal contra a administração Pública
d) Contravenção penal contra a fé pública
e) Crime de falsidade ideológica por negligência

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