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CRIMINALÍSTICA

2a EDIÇÃO/2022

1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 3
1.1. CONCEITOS 4

2. LOCAL DE CRIME 4
2.1. PRESERVAÇÃO 5
2.2. PRINCÍPIOS/POSTULADOS BÁSICOS 6
2.3. VESTÍGIOS E INDÍCIOS EM LOCAIS DE CRIME 7
2.3.1. IMPRESSÕES DIGITAIS 8
2.3.2. MANCHAS DE ESPERMA 9
2.3.3. MANCHAS DE SANGUE 9
2.3.3.1. IDENTIFICAÇÃO DAS MANCHAS DE SANGUE 11

3. CADEIA DE CUSTÓDIA 12
3.1. NOÇÕES GERAIS E CONCEITO 12
3.2. CADEIA DE CUSTÓDIA NA PRÁTICA 13
3.2.1. ETAPAS DA CADEIA DE CUSTÓDIA 14
3.3. QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA E SUAS CONSEQUÊNCIAS 16

4. CORPO DE DELITO 17
4.1. CONCEITO 17
4.2. EXAME DE CORPO DE DELITO DIRETO E INDIRETO 17
4.3. EXAME DE CORPO DE DELITO NO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL 18

5. PROVAS 19
5.1. CONCEITO E NOÇÕES GERAIS 19
5.2. MEIOS DE PROVA X FONTE DE PROVA X MEIO DE OBTENÇÃO DE PROVA 21
5.3. PROVA CONFESSIONAL 21
5.3.1. CONFISSÃO SIMPLES X CONFISSÃO QUALIFICADA 21
5.3.2. CARACTERÍSTICAS 22
5.4 PROVA TESTEMUNHAL 24
5.4.1 CARACTERÍSTICAS 24
5.4.2. DEVERES DAS TESTEMUNHAS 25
5.5. PROVA PERICIAL 27
5.5.1. PARTES DA PERÍCIA 27
5.5.2. NATUREZA JURÍDICA DAS PERÍCIAS 27
5.5.3. OBJETO DAS PERÍCIAS 27
5.5.4. LOCAL DA PERÍCIA 28
5.5.5. MOMENTO DA PERÍCIA 28
5.5.6. PERITOS 28
5.5.7. RESPONSABILIDADE CÍVEL E CRIMINAL DOS PERITOS 29
5.5.8. ASSISTENTE TÉCNICO 30

6. BALÍSTICA FORENSE 31
6.1. ARMAS DE FOGO 32
6.2. DIFERENÇAS ENTRE ARMAS DE FOGO 32
1
6.3. CLASSIFICAÇÃO DAS ARMAS DE FOGO 35
6.4. PARTES DA ARMA DE FOGO 36
6.5. MUNIÇÕES 37
6.6. MOVIMENTOS E FORÇAS QUE ATUAM NO PROJÉTIL DE ARMA DE FOGO 39

2
1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

No século XIX, cabia à Medicina Legal, além dos exames de lesão corporal e necroscópicos, toda

pesquisa, busca e demonstração de outros elementos relacionados ao crime, como o exame de instrumentos

do crime e demais evidências extrínsecas ao corpo humano. Com o desenvolvimento de diversas ciências, surge

a Criminalística como uma ciência independente.1

A Criminalística analisa a infração penal sem se preocupar com o delinquente ou suas motivações,

analisa e interpreta os vestígios relacionados, prova o nexo causal para tipificar o crime, fornece elementos de

prova à polícia para instrução do inquérito policial e ao Ministério Público para indicar a ação penal, enquadrar

o crime ou solicitar o arquivamento.2

Assim, enquanto a Medicina Legal estuda os vestígios intrínsecos do crime, cabe à Criminalística o

reconhecimento e interpretação dos indícios materiais extrínsecos do crime ou identificar o criminoso.

Pode-se considerar a Criminalística como ciência autônoma uma vez que possui leis, métodos e

princípios próprios, em que pese se utilize dos conhecimentos de outras ciências.3

🚨 JÁ CAIU
Nesse sentido, para prova para o cargo de Assistente Técnico Forense - ITEP-RN (Ano: 2021, INSTITUTO AOCP)

foi considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “d”:

Um dos nomes mais conhecidos dos estudiosos da Criminalística é o de Hans Gross, isso porque ele

a. afirmou que “todo contato deixa uma marca”, fundando um dos princípios da criminalística.

b. demonstrou que “o tempo que passa é a verdade que foge”, urgindo para uma investigação rápida e

breve.

c. fundou a “Escola de Polícia Científica” em Roma, edificando as bases da criminalística moderna.

d. cunhou o termo “Criminalística” em um livro que reúne conhecimentos de várias ciências e

disciplinas.

e. teve Edmond Locard por discípulo e fundamentou os conhecimentos científicos aplicados à

investigação criminal.

Sobre a questão acima exposta, vale ressaltar que “A palavra criminalística foi usada pela primeira vez

em 1893, na Alemanha, na cidade de Gratz, por Hans Gross, juiz de instrução criminal e professor de Direito

Penal, no seu livro Manual do Juiz de instrução4”. Por esse motivo, Hans Gross é considerado o pai da

criminalística.

1
TRUNCKLE, Yuri F.; OKAMOTO, Cristina A. Medicina Legal e Perícias Médicas. (Coleção Método Essencial). São Paulo: Grupo GEN, 2022.
2
TRUNCKLE, Yuri F.; OKAMOTO, Cristina A. Medicina Legal e Perícias Médicas. (Coleção Método Essencial). São Paulo: Grupo GEN, 2022.
3
BITTAR, Neusa. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 7. ed. Salvador: Juspodivm. 2018, p. 77.
4
BITTAR, Neusa. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 7. ed. Salvador: Juspodivm. 2018, p. 77.
3
1.1. CONCEITOS

Para que tenhamos uma adequada compreensão da matéria é necessário distinguirmos alguns

conceitos iniciais, tais como “prova”, “indícios”, “presunções” e “vestígios”.

Diz respeito aos atos e meios utilizados pelas partes para demonstrar a verdade,

visando a formação da convicção do juiz acerca da existência ou não de um fato. A


PROVA
prova pode ser direta, quando recai diretamente sobre o fato, ou indireta, quando

afirma outro fato que, por indução, permite chegar a uma hipótese do fato desejado.

Trata-se da convicção acerca da existência real de um fato ou circunstâncias

PRESUNÇÃO desconhecidas que, em razão de sua natureza, permitem relação com um fato

conhecido.

É a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por

INDÍCIO indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias. Tal conceito é

extraído do art. 239 do CPP.

VESTÍGIO É qualquer marca, objeto ou sinal que possa ter relação com o fato investigado.

📌 OBSERVAÇÃO
O vestígio que é analisado, interpretado e relacionado ao caso concreto, constatando-se a relação

inquestionável com fato e com as pessoas envolvidas, passa a ser um indício.5

2. LOCAL DE CRIME

Local de crime é todo espaço, físico ou virtual, onde ocorreu um evento com produção de vestígios,

que necessita da polícia para seu esclarecimento. É o ponto de partida da investigação criminal. Divide-se em:6

LOCAL IMEDIATO onde o evento efetivamente se consumou;

LOCAL MEDIATO representa as adjacências do local imediato;

5
BITTAR, Neusa. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 7. ed. Salvador: Juspodivm. 2018, p. 79.
6
TRUNCKLE, Yuri F.; OKAMOTO, Cristina A. Medicina Legal e Perícias Médicas. (Coleção Método Essencial). São Paulo: Grupo GEN, 2022.
4
é todo e qualquer lugar sem ligação geográfica direta com o local do crime e que
LOCAL
possa conter algum vestígio ou informação que possa auxiliar no contexto do exame
RELACIONADO
pericial.

O exame do local do crime pelos peritos é de grande relevância para o esclarecimento dos fatos.

Quando da análise pelos peritos do local do crime são identificados vestígios, indícios e demais elementos que

levam ao entendimento do que, de fato, teria ocorrido naquela situação.

📌 OBSERVAÇÃO
Em complemento ao estudo de local de crime, faz-se necessário estudar o tema “cadeia de custódia”

(será analisada a fundo no tópico 3.0).

🚨 JÁ CAIU
Nesse sentido, para prova para o cargo de Delegado de Polícia - PC-SE (Ano: 2020, CESPE/CEBRASPE) foi

considerada errada a assertiva que dizia:

Apenas os locais de crime considerados mediatos e imediatos são suscetíveis de exame pericial, sendo

dispensável o exame quando se tratar de local sem ligação geográfica com o evento delituoso.

2.1. PRESERVAÇÃO

O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da prova

pericial fica responsável por sua preservação, não se limitando, portanto, ao perito, podendo ser agentes

policiais, delegados de polícia ou outros agentes públicos que tenham reconhecido que no local há um

elemento de interesse.

Nesse sentido, quanto à preservação, o local pode ser classificado em:7

é aquele no qual os indícios foram preservados desde a ocorrência dos fatos até o
LOCAL PRESERVADO
completo registro.

é aquele no qual ocorreu alteração de algum indício, seja por que pessoas tiveram

LOCAL CONTAMINADO acesso ao local e modificaram a disposição dos vestígios/indícios ou porque houve

adição, subtração ou substituição dos elementos incriminadores.

7
BITTAR, Neusa. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 7. ed. Salvador: Juspodivm. 2018, p. 89-90.
5
2.2. PRINCÍPIOS/POSTULADOS BÁSICOS

A doutrina aponta princípios básicos que devem ser seguidos pela perícia do local de crime, tais

princípios garantem uma correta e idônea coleta dos elementos, à luz de um método científico. São eles:

havendo contato entre dois objetos, ambos deixam e recebem vestígios, da

OBSERVAÇÃO / mesma forma que, se uma pessoa comparece a determinado local, ela ali

INTERCOMUNICABILIDADE deixa alguma coisa ao mesmo tempo em que leva algo consigo (PRINCÍPIO

DE LOCARD: “CADA CONTATO DEIXA UM RASTRO”).

sempre deve ser seguido o método científico, visando maior credibilidade à


ANÁLISE / ESPECIFICIDADE
conclusão.

INTERPRETAÇÃO / dois objetos podem ser indistinguíveis, mas nunca idênticos;

INDIVIDUALIDADE

toda e qualquer técnica de análise antes de ser aceita como meio de prova,

UNIVERSALIDADE deve ser testada e aprovada pela comunidade científica envolvida no

assunto (validação);

recomenda-se que a conclusão obtida pela sensibilidade de uma reação seja

levada em conta somente após uma quantidade acima do normal do


SENSIBILIDADE
elemento que se pesquisa, uma vez que quantidades ínfimas podem ser

encontradas rotineiramente;

DESCRIÇÃO DOS ELEMENTOS o resultado de um exame pericial é constante com relação ao tempo e deve

SENSÍVEIS ser exposto em linguagem ética e juridicamente perfeita;

toda evidência deve ser documentada, desde seu nascimento no local do

DOCUMENTAÇÃO crime até a sua análise e descrição final, de forma a se estabelecer um

histórico completo e fiel de sua origem.

Yuri Trunckle8 indica, ainda, uma série de postulados da criminalística, sendo os seguintes:

1. conteúdo de um laudo pericial é invariante com relação ao perito que o produziu, visto que o

resultado da perícia é baseado em método científico;

2. as conclusões de uma perícia são independentes dos meios utilizados para alcançá-las;

3. a perícia criminalística é independente do tempo: principalmente sabendo-se que a verdade é

imutável em relação ao tempo decorrido.

8
TRUNCKLE, Yuri F.; OKAMOTO, Cristina A. Medicina Legal e Perícias Médicas. (Coleção Método Essencial). São Paulo: Grupo GEN, 2022.
6
📌 OBSERVAÇÃO
Heptâmetro de Quintiliano: são as indagações que devem ser feitas pelos peritos quando da

realização da análise do local de crime: o que, como, quem, onde, quando, por que, quem.

🚨 JÁ CAIU
Nesse sentido, para prova para o cargo de Policial Legislativo - Senado Federal (Ano: 2022, FGV) foi

considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “a”:

a. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como, na

medida do possível, todas as lesões externas e os vestígios deixados no local do crime.

b. A realização do exame de corpo de delito terá prioridade quando se tratar de crime que envolva

violência doméstica e familiar contra mulher, violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa

com deficiência e, ainda, violência decorrente de crime praticado por motivação racial.

c. O exame do local onde houver sido praticada a infração poderá ser feito a partir de relatos de

terceiros, não sendo necessária a manutenção do estado das coisas até a chegada dos peritos.

d. O exame de corpo de delito será obrigatoriamente realizado a partir dos vestígios, não podendo a

prova testemunhal suprir a falta do exame.

e. O juiz ou a autoridade policial negará qualquer perícia requerida pelas partes quando não for

necessária ao esclarecimento da verdade.

2.3. VESTÍGIOS E INDÍCIOS EM LOCAIS DE CRIME

Existem uma série de indícios e vestígios que são comumente localizados nos locais de crime, sendo

que a análise de tais elementos é de suma importância para o esclarecimento da perícia.

Vamos analisar os principais vestígios/indícios encontrados em locais de crime.

🚨 JÁ CAIU
Nesse sentido, para prova para o cargo de Auxiliar Criminalístico - Polícia Científica-SC (Ano: 2022, FEPESE) foi

considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “d”:

De acordo com o Professor Renato Brasileiro de Lima (Manual de Processo Penal, Salvador: Ed. JusPodivm, p.

873), “corpo de delito é o conjunto de vestígios materiais ou sensíveis deixados pela infração penal. A palavra

corpo significa o conjunto de vestígios sensíveis que o delito deixa para trás, estando seu conceito ligado à

própria materialidade do crime”.

Diante disso, assinale a alternativa correta acerca dos vestígios deixados pela infração e a necessidade do

exame de corpo de delito, de acordo com o Código de Processo Penal.

7
a. Será indispensável o exame de corpo de delito, somente direto, não podendo supri-lo a confissão do

acusado.

b. Será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a declaração

do ofendido.

c. Será indispensável o exame de corpo de delito indireto, podendo ser dispensado o direto e supri-lo a

confissão do acusado.

d. Será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão

do acusado.

e. Será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, podendo supri-lo a confissão do

acusado.

2.3.1. IMPRESSÕES DIGITAIS

As impressões digitais representam um vestígio/indício de grande confiabilidade e relevância para a

solução dos fatos, uma vez que o processo de identificação datiloscópica possui uma grande certeza científica

para identificação pessoal.

⚠️ CUIDADO
Existem situações nas quais mesmo com o uso de luvas ou tecidos protegendo as mãos é possível

identificar as impressões digitais, o que ocorre quando a espessura do objeto é fina.

Essas impressões digitais podem ser:9

● Coloridas: quando a impressão está suja de tintas, graxas, sangue ou outra substância

colorida que permita a fácil percepção da impressão digital, sem o uso de instrumentos ou

substâncias10.

9
BITTAR, Neusa. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 7. ed. Salvador: Juspodivm. 2018, p. 90.
10
Imagem disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Impress%C3%A3o_digital
8
● Moldadas: são aquelas impressões deixadas em uma superfície depressível, como manteiga,

gordura, massas de modelar, massas corridas de pintura etc11.

● Latentes: são as mais comuns, deixadas por conta de um descuido quando a mão não está

coberta por luvas ou panos. Deixam marca em razão da água ou gorduras existentes na

própria pele ou suor.

2.3.2. MANCHAS DE ESPERMA

O esperma é formado por secreção das glândulas do aparelho genital masculino em conjunto com às

células reprodutoras de espermatozoides produzidas pelos testículos.

📌 OBSERVAÇÃO
Nem todo esperma terá espermatozoide, porém, a presença de espermatozoide no material coletado

confere a certeza de que se trata de esperma.

Caso não sejam encontrados espermatozoides no material encontrado, pode ser feito exame para

medição da fosfatase ácida, substância que é encontrada em abundância no esperma e que significa um sinal

de probabilidade.

Para identificar o material como sendo esperma, também é possível realizar exame para dosagem da

glicoproteína P30, específica do esperma.12

2.3.3. MANCHAS DE SANGUE

Através de uma análise morfológica e da trajetória das manchas de sangue encontradas é possível

traçar a dinâmica dos fatos. As machas de sangue podem ser de projeção ou escorrimento.

As machas projeção ocorrem somente em razão da força da gravidade e podem ser dos seguintes

tipos:

11
Imagem disponível em: https://www.fenappi.com.br/blog/novidades/impressao-digital-em-massinha-de-modelar-leva-a-prisao-de-suspeito-de-furto-nos-eua/
12
BITTAR, Neusa. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 7. ed. Salvador: Juspodivm. 2018, p. 91.
9
1. Gotas: o formato das gotas pode indicar a altura da qual o sangue caiu.

a. forma circular: de 5 a 10cm (pequena altura);

b. forma estrelada com bordos irregulares: aproximadamente 40cm13;

c. forma estrelada, bordos denteados e gotas menores ao redor (chamadas de gotas satélites) ao

redor de gotas maiores: altura superior a 125cm14.

d. pequenas gotículas: superior a 2m.

2. Salpicos: nessa situação há uma atuação de outro força e, posteriormente, o sangue cai por ação da

gravidade. Geralmente, são causados por movimentação da arma, originando salpicos com forma

alongada no final.

Por sua vez, as machas por escorrimento se apresentam como filetes ou poças por causa da maior

intensidade do sangramento, proveniente de ferimentos externos ou internos, estando a vítima parada.15

Neusa Bittar16 salienta que ainda existem os seguintes tipos de macha de sangue: manchas por contato

(quando as mãos, pés ou calçados sujos de sangue deixam impressões onde tocam, quando o sangue ainda

está líquido); manchas por impregnação (aquelas resultantes de sangramentos em grande volume que

embebe as vestes, panos, toalhas ou outros tecidos); e manchas por limpeza (são as manchas de sangue

presentes em tecidos usados para limpeza do local, da arma do crime ou de vestígios relacionados).

13
Imagem disponível em: https://universoracionalista.org/padroes-de-manchas-de-sangue-os-principios-basicos-da-hematologia-reconstrutora/
14
Imagem disponível em: https://www.pinterest.pt/pin/634726141205814879/
15
BITTAR, Neusa. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 7. ed. Salvador: Juspodivm. 2018, p. 92.
16
BITTAR, Neusa. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 7. ed. Salvador: Juspodivm. 2018, p. 92.
10
2.3.3.1. IDENTIFICAÇÃO DAS MANCHAS DE SANGUE

Muitos são os métodos existentes para identificar se o material coletado pela perícia é sangue. A

doutrina costuma classificá-los em quatro grupos:

1. PROVAS DE ORIENTAÇÃO

As provas de orientação não dão uma certeza de que se trata de sangue, mas uma probabilidade.

Nesse sentido, devem ser interpretadas de forma que, quando forem negativas, excluem a possibilidade do

material analisado ser sangue. Porém, quando positivas, o material analisado pode ser sangue ou não,

devendo-se realizar provas complementares.17

Aqui, o material que aparenta ser sangue é submetido a um teste com substâncias químicas que

mudam de cor ou se tornam luminescente. As principais substâncias utilizadas são a fenolftaleína

(Kastle-Meyer), que fica incolor na ausência de sangue e rósea na presença, a bendizina (Adler-Ascarelli), que

fica azul na presença de sangue, e o luminol, que na presença de ferro (presente em abundância no sangue)

produz uma reação quimilumunescente de cor azulada (conforme fotos abaixo)18.

📌 OBSERVAÇÃO
Embora o luminol seja de grande relevância nas perícias e consiga identificar sangue mesmo anos após

a ocorrência do crime, possui alguns inconvenientes. O primeiro, é que compromete o material que entrou em

contato com o luminol, tornando-se imprestável para os testes de certeza ou com intensidade dos resultados

muito reduzidas. O outro inconveniente é que por reagir ao ferro, em regra, não pode ser testado em

superfícies ou objetos metálicos.

17
BITTAR, Neusa. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 7. ed. Salvador: Juspodivm. 2018, p. 93.
18
Imagens disponíveis em: https://mundoeducacao.uol.com.br/curiosidades/luminol-contra-crime.ht
11
⚠️ ATENÇÃO
O luminol não afeta a cadeia de DNA das células, o que permite que sejam realizados exames

específicos para tipagem do DNA e posterior reconhecimento de criminosos ou vítimas.

2. PROVAS DE CERTEZA

As provas de certeza permitem concluir que o material examinado é sangue.

As principais provas de certeza são o Teste de Teichmann, que é utilizado em materiais concentrados

ou em crostas, detectando cristais de hemina, e o Teste de Takayama, utilizado quando o material é uma

mancha em tecido ou um raspado de crosta e detecta cristais de hemocromogênio.19

3. CADEIA DE CUSTÓDIA

3.1. NOÇÕES GERAIS E CONCEITO

Com o advento da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), foram inseridos ao CPP os artigos 158-A a

158-F, que trazem em seu bojo uma série de regramentos a respeito da cadeia de custódia. Porém, antes

mesmo da regulamentação do tema pelo CPP, surgiu, no ano de 2014, a Portaria n° 82, no âmbito da Secretaria

Nacional de Segurança Pública (SENASP), que já trazia previsões a serem observadas pelos órgãos de segurança

pública quanto à cadeia de custódia.20

A “cadeia de custódia” nada mais é do que uma sequência de proteção ou guarda dos elementos

materiais encontrados durante as investigações, consubstanciada no conjunto de todos os procedimentos

utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de

crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte.21

Todo esse conjunto procedimental de proteção do vestígio se aplica tanto ao inquérito policial, quanto

ao processo propriamente dito.

🚨 JÁ CAIU
Nesse sentido, para prova para o cargo de Delegado de Polícia - PC-AM (Ano: 2022, FGV) foi considerado o

gabarito da questão a assertiva prevista na letra “c”:

O pacote anticrime (Lei nº 13964/19) alterou a legislação penal e processual penal.

Sobre as medidas adotadas atualmente na preservação das provas, assinale a afirmativa correta.

19
BITTAR, Neusa. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 7. ed. Salvador: Juspodivm. 2018, p. 94.
20
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 65.
21
MUNIZ, Michael Davydh Silva. Cadeia de Custódia, Lei 13.964/19. Disponível em:
https://michaeldavydh.jusbrasil.com.br/artigos/796106681/cadeia-de-custodia-lei-13964-19. Acesso em 05/05/2022.
12
a. O isolamento da área é a primeira medida a ser adotada.

b. O reconhecimento é a parte em que a vítima é identificada ainda na cena de crime.

c. O reconhecimento corresponde à distinção dos elementos como de potencial interesse para a

investigação.

d. A fixação é a fase em que os elementos de potencial interesse para a investigação são levados aos

laboratórios, onde serão fixados e estudados.

e. O rastreamento dos elementos de interesse se inicia após iniciado seu transporte para a unidade

onde serão analisados (laboratórios).

3.2. CADEIA DE CUSTÓDIA NA PRÁTICA

Como já dito, a regulamentação da temática no CPP está prevista nos arts. 158-A a 158-F. É com base

nessas disposições legais que abordaremos os principais aspectos da cadeia de custódia.

O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com procedimentos

policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio (Art. 158-A, §1º). Nessa mesma linha de

raciocínio, o agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da

prova pericial fica responsável por sua preservação, não se limitando, portanto, ao perito, podendo ser agentes

policiais, delegados de polícia ou outros agentes públicos que tenham reconhecido que no local há um

elemento de interesse.22

Outro conceito muito importante é o de “vestígio”, que seria todo objeto ou material bruto, visível ou

latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal.

⚠️ ATENÇÃO
Nem todo vestígio estará, necessariamente, na cena principal do crime. Isto é, há a possibilidade desse

vestígio se encontrar em outras áreas diversas do local onde o crime se consumou, como, por exemplo, na casa

do indivíduo que cometeu o crime.

Nesse contexto, fase necessário distinguia as espécies de áreas vinculadas a uma infração penal, são
23
elas :

I. Área imediata: aquela abrangida pelo corpo de delito e seu entorno. É o local em que está a

maioria dos vestígios materiais;

II. Área mediata: é adjacente ao local imediato. Está localizada numa região próxima e

geograficamente ligada àquele, passível de conter vestígios relacionados com a perícia que

está sendo executada;

22
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 67.
23
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 71.
13
III. Área relacionada: representada por todo e qualquer lugar sem que tenha ligação geográfica

de forma direta com 0 local do crime e que possa vir a conter algum tipo de vestígio ou

informação que estejam relacionados à cena principal ou que venha a auxiliar no contexto da

perícia.

🚩 NÃO CONFUNDA: VESTÍGIO ≠ INDÍCIO


“Vestígio” é diferente de “indício”, pois este, nos termos do art. 239 do CPP, é a circunstância conhecida

e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras

circunstâncias.

3.2.1. ETAPAS DA CADEIA DE CUSTÓDIA

Após a constatação da presença de um vestígio, este deverá ser submetido a etapas que garantam

sua proteção e idoneidade durante toda a investigação e processo judicial. As etapas têm como finalidade

garantir a proteção de tudo aquilo que tem interesse pericial e será utilizado para formação de provas a serem

utilizadas no âmbito do processo penal, pois não há dúvidas que quanto maior for o formalismo e o rigor

técnico e metodológico mais “peso” terá aquela prova ao processo, seja para inocentar ou condenar alguém.24

Conforme art. 158-B do CPP, são elas as seguintes:

a. Reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a

produção da prova pericial;

b. Isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o

ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime;

c. Fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no corpo

de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens

ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo perito

responsável pelo atendimento;

d. Coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando suas

características e natureza;

e. Acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de

forma individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, para

posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o

acondicionamento;

24
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 69.
14
f. Transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições

adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a

manutenção de suas características originais, bem como o controle de sua posse;

g. Recebimento: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser documentado

com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e unidade de polícia

judiciária relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio, código de

rastreamento, natureza do exame, tipo do vestígio, protocolo, assinatura e identificação de

quem o recebeu;

h. Processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a metodologia

adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado

desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito;

i. Armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do material a

ser processado, guardado para realização de contraperícia, descartado ou transportado, com

vinculação ao número do laudo correspondente; e

j. Descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação vigente e,

quando pertinente, mediante autorização judicial.

Alguns autores, a par da classificação trazida pelo CPP, classificam as fases da cadeia de custódia em

externa, que é aquela que ocorre ainda no local do crime ou nas áreas a ele ligadas, e interna, que se relaciona

o tratamento do vestígio e sua perícia, bem como ao armazenamento ou descarte do material.25

🚨 JÁ CAIU
Nesse sentido, para prova para o cargo de Delegado de Polícia - PCGO (Ano: 2022, INSTITUTO AOCP) foi

considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “c”:

Em relação à cadeia de custódia e às perícias criminais, assinale a alternativa INCORRETA.

a. De acordo com a lei processual penal, a preservação do elemento de potencial probatório é de

responsabilidade do mesmo agente público que primeiramente o reconheceu.

b. O perito oficial é a pessoa que detém a preferência para realizar a coleta dos vestígios localizados,

sendo também sua função legal dar o encaminhamento necessário do conteúdo para a central de

custódia, mesmo quando for necessária a realização de exames complementares.

c. Chama-se “isolamento” o procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de

25
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 73.
15
forma individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, para

posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o

acondicionamento.

d. Segundo a lei processual penal vigente no país, a cadeia de custódia pode se iniciar através de duas

situações: com a preservação do local de crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais

seja detectada a existência de vestígio.

e. Chama-se “processamento” o exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a

metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o

resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito.

🚨 JÁ CAIU
Nesse sentido, para prova para o cargo de Policial Legislativo - Senado Federal (Ano: 2022, FGV) foi

considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “c”:

Considerando o regramento legal brasileiro previsto no Código de Processo Penal atinente à cadeia de

custódia, assinale a afirmativa incorreta.

a. O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com procedimentos

policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio.

b. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas: reconhecimento,

isolamento, fixação, coleta, acondicionamento, transporte, recebimento, processamento,

armazenamento e descarte.

c. A coleta dos vestígios deverá ser realizada obrigatoriamente por perito oficial, que dará o

encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a realização

de exames complementares.

d. A etapa de “fixação” da cadeia de custódia está definida em lei como a descrição detalhada do

vestígio conforme se encontra no local de crime ou no corpo de delito e a sua posição na área de

exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua

descrição no laudo pericial produzido pelo perito responsável pelo atendimento.

e. A definição de “vestígio”, segundo a legislação processual brasileira, é todo objeto ou material bruto,

visível ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal.

3.3. QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Uma vez que a cadeia de custódia funciona, para o processo penal, como meio de obtenção de prova,

a sua quebra constituiria uma violação às normas de direito processual, o que geraria, em última análise, uma

prova ilegítima.26 Como prova ilegítima, por conta de uma omissão e formalidade que constitui elemento

essencial do ato, deverá ser declarada sua nulidade, nos termos do art. 564, IV, do CPP.

26
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 83.
16
Entretanto, através de uma análise conjunta do art. 572 do CPP, chegamos à conclusão tal nulidade é

de natureza relativa. Logo, para que seja declarada a nulidade é necessário que seja demonstrado o prejuízo

para a parte e tal vício deve ser alegado em momento oportuno.

⚠️ ATENÇÃO
Situação diferente é a da ausência de realização de exame de corpo de delito nos crimes que tenham

deixado vestígios. Nesse caso, trata-se de nulidade absoluta, não sendo possível saná-la.

4. CORPO DE DELITO

4.1. CONCEITO

É o conjunto de elementos sensíveis, denunciadores do fato criminoso. É composto pelos elementos

percebidos pelos sentidos ou pela intuição humana.27

Na clássica conceituação de Genival França “é a base residual do crime, sem o que ele não existe”.

Não se deve confundir, portanto, corpo de delito com o corpo da vítima, pois este é apenas uma parte

do corpo de delito que, por sua vez, é muito mais amplo, abrangendo todos os elementos que se relacionam ao

fato criminoso.

4.2. EXAME DE CORPO DE DELITO DIRETO E INDIRETO

Como sabido, nem todos os crimes deixam vestígios, mas somente os crimes não transeuntes. A

partir dessa ideia, a doutrina costuma classificar o exame de corpo de delito em Direto ou Indireto28.

é aquele no qual o perito examina diretamente os vestígios produzidos ou que


DIRETO
tenham concorrido para a infração

ocorre quando não mais existindo vestígios, o exame é realizado com base em
INDIRETO
prova testemunhal, nos termos do art. 167 do CPP.

Se os vestígios do crime deixaram de existir ou se nunca existiram, como é o caso dos crimes

transeuntes, será admitida a prova testemunhal. Porém, se o crime deixou vestígios (crime não transeunte) e

eles ainda existem, a prova testemunhal é obrigatória, não podendo ser suprida nem mesmo pela confissão do

acusado. Vejamos o que estabelece o art. 158, caput, do CPP:

27
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 61.
28
BITTAR, Neusa. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 7. ed. Salvador: Juspodivm. 2018, p. 26.
17
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou

indireto, NÃO podendo supri-lo a confissão do acusado.

Muitos autores criticam a denominação de “exame de corpo de delito indireto”, uma vez que não seria

propriamente um corpo de delito, já que não existe mais o conjunto de vestígios.

4.3. EXAME DE CORPO DE DELITO NO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

O Código de Processo Penal traz uma série de dispositivos que tratam do exame de corpo de delito,

vamos abordar os principais e com maior cobrança nas provas de concursos públicos.

Inicialmente, como já havíamos falado, os crimes podem deixar vestígios (crimes não transeuntes),

como no homicídio, ou não (crimes transeuntes), como é o caso do crime de ameaça praticado pelo meio verbal

ou por gestos.29

No caso dos crimes que deixam vestígios, o art. 158 do CPP estabelece que o exame de corpo de

delito é indispensável. Logo, não se trata de uma mera faculdade, mas da obrigatoriedade da realização do

exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, não podendo o mesmo ser suprido nem mesmo

pela confissão do acusado.

Recentemente, com o advento da lei 13.721/2018, inclui-se parágrafo único ao art. 158, conferindo-se

prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva violência

doméstica e familiar contra a mulher ou violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com

deficiência.

Ademais, o art. 159 do CPP estabelece que o exame de corpo de delito e outras perícias serão

realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. Somente na falta de perito oficial é que

o exame poderá ser realizado por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior,

preferencialmente que tenha relação com a natureza do exame.

Por fim, mas não menos importante, é importante lembrar que a ausência ou omissão do exame de

corpo de delito, quando a infração tenha deixado vestígios, leva à nulidade do processo, nos termos do art.

564, III, b, do CPP.

🚨 JÁ CAIU
Nesse sentido, para prova para o cargo de Auxiliar Criminalístico - Polícia Científica-SC (Ano: 2022, FEPESE) foi

considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “d”:

Como o juiz não é dotado de conhecimentos técnicos em diversas áreas de atuação, e, se vê obrigado a julgar

29
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 62
18
causas das mais variadas espécies, surge a necessidade de recorrer a especialistas, os quais, dotados de

conhecimentos específicos acerca do assunto, podem auxiliar o juiz no esclarecimento do fato delituoso.

Acerca da realização do exame de corpo de delito e demais perícias, assinale a alternativa correta, de acordo

com o Código de Processo Penal.

a. Será realizado por 2 peritos oficiais, portadores de diploma de curso superior; na falta de peritos

oficiais, o exame será realizado por 2 pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior

preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a

natureza do exame.

b. Será realizado por perito oficial, portador de diploma de curso superior; na falta de perito oficial, o

exame será realizado por uma pessoa idônea, portadora de diploma de curso superior

preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a

natureza do exame.

c. Será realizado por perito oficial, portador de diploma de curso superior, na falta de perito oficial, o

exame será realizado por 3 pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior

preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a

natureza do exame.

d. Será realizado por perito oficial, portador de diploma de curso superior; na falta de perito oficial, o

exame será realizado por 2 pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior

preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a

natureza do exame.

e. Será realizado por 2 peritos oficiais, portador de diploma de curso superior; na falta de perito oficial,

o exame será realizado por 3 pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior

preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a

natureza do exame.

5. PROVAS

5.1. CONCEITO E NOÇÕES GERAIS

“Prova” é uma palavra plurívoca, podendo designar mais de um significado. Para Renato Brasileiro

existem as seguintes acepções:30

PROVA COMO ATIVIDADE consiste no conjunto de atividades de verificação e demonstração, mediante as

PROBATÓRIA quais se procura chegar à verdade dos fatos relevantes para o julgamento.

30
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8.ed. Juspodivm. 2021.

19
Nesse sentido, identifica-se o conceito de prova com a produção dos meios e

atos praticados no processo visando ao convencimento do juiz sobre a

veracidade (ou não) de uma alegação sobre um fato que interesse à solução da

causa

PROVA COMO caracteriza-se pela formação da convicção do órgão julgador no curso do

RESULTADO processo quanto à existência (ou não) de determinada situação fática.

são os instrumentos idôneos à formação da convicção do órgão julgador acerca


PROVA COMO MEIO
da existência (ou não) de determinada situação fática.

No que diz respeito aos destinatários, são todos aqueles que devem formar sua convicção, havendo

a seguinte distinção doutrinária:

a. Destinatário direto ou imediato: juiz.

b. Destinatário indireto ou mediato: partes.

Por sua vez, quanto à natureza jurídica, Paulo Rangel explica que a prova é enquadrada como

direito subjetivo, diretamente ligado ao exercício da ação e ao desenvolvimento da atividade da defesa.31

🚨 JÁ CAIU
Nesse sentido, para prova para o cargo de Delegado de Polícia - PCGO (Ano: 2022, INSTITUTO AOCP) foi

considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “b”:

Marcelo, agente da polícia civil de Goianésia-GO, está manuseando autos de inquérito policial que investigam

sonegação fiscal de um empresário local, quando se depara com a juntada da fotocópia de documento

particular, qual seja, um contrato de compra e venda de um terreno, acostado nos autos como prova da

celebração de um negócio lícito pelo empresário. Sobre esse tema, assinale a alternativa correta.

a. A fotocópia anexada nos autos é suficiente para provar aquilo que o empresário pretendeu, isto é, a

licitude do negócio pactuado e sua total inocência no procedimento depurador.

b. Para se certificar da veracidade do documento, Marcelo deverá intimar o empresário para que

apresente o documento original para proceder a sua conferência e certificá-la nos autos.

c. A fotocópia tem presunção juris et de juris de veracidade.

d. Para se certificar da veracidade do documento, o único caminho a ser perseguido por Marcelo é o de

periciar a assinatura do empresário, intimando-o a proceder à perícia grafotécnica.

e. O documento acostado nos autos não tem qualquer valor investigativo e, portanto, deve ser extraído

31
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8.ed. Juspodivm. 2021.
20
dos autos de ofício.

5.2. MEIOS DE PROVA X FONTE DE PROVA X MEIO DE OBTENÇÃO DE PROVA

Embora muitas vezes utilizados como sinônimas, as expressões designam diferentes conceitos.32

Vejamos:

utilizada para designar as pessoas ou coisas das quais se consegue a prova, daí

resultando a classificação em fontes pessoais (ofendido, peritos, acusado,

FONTE DE PROVA testemunhas) e fontes reais (documentos, em sentido amplo). Cometido o fato

delituoso, tudo aquilo que possa servir para esclarecer alguém acerca da

existência desse fato pode ser conceituada como fonte de prova;

são os instrumentos através dos quais as fontes de prova são introduzidas no

processo. Dizem respeito, portanto, a uma atividade endoprocessual que se


MEIOS DE PROVA
desenvolve perante o juiz, com o conhecimento e a participação das partes,

cujo objetivo precípuo é a fixação de dados probatórios no processo;

referem-se a certos procedimentos (em regra, extraprocessuais) regulados por

MEIOS DE OBTENÇÃO DE lei, com o objetivo de conseguir provas materiais, e que podem ser realizados

PROVA por outros funcionários que não o juiz (v.g., policiais). Exemplo: interceptação

telefônica, infiltração de agentes.

5.3. PROVA CONFESSIONAL

Trata-se da aceitação por parte do acusado da imputação da infração penal, perante a autoridade

judiciária ou policial. Em síntese, confissão é a admissão feita por aquele a quem é atribuída a prática da

infração penal da veracidade da imputação.33

5.3.1. CONFISSÃO SIMPLES X CONFISSÃO QUALIFICADA

Ocorre quando o acusado confessa a prática do fato delituoso, porém não


CONFISSÃO SIMPLES
invoca qualquer excludente da ilicitude ou da culpabilidade em seu benefício.

Ocorre quando o acusado confessa a prática do fato delituoso, mas alega que o
CONFISSÃO QUALIFICADA
praticou acobertado por uma excludente da ilicitude ou da culpabilidade.

32
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8.ed. Juspodivm. 2021.
33
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8.ed. Juspodivm. 2021.
21
⚠️ ATENÇÃO
Na visão do STJ, quando efetivamente utilizada como elemento de convicção, a confissão qualificada

também pode ensejar a aplicação da atenuante prevista na alínea d do inciso III do artigo 65 do CP.

“A confissão, mesmo que qualificada, dá ensejo à incidência da atenuante prevista no art. 65, III, d, do CP,

quando utilizada para corroborar o acervo probatório e fundamentar a condenação.” (STJ, 5ª Turma, AgRg no

REsp 1.198.354/ES, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 16/10/2014.)

2. O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento firmado no Enunciado Sumular n. 545, de que a confissão

espontânea do réu sempre atenua a pena, na segunda fase da dosimetria, ainda que tenha sido parcial,

qualificada ou retratada em juízo, desde que utilizada para fundamentar a condenação (AgRg no REsp

1.643.268/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, Julgado em 7/3/2017, DJe

17/3/2017).

O STF possui entendimento divergente:

5. A confissão qualificada, segundo consolidada jurisprudência desta Suprema Corte, não enseja a incidência

da atenuante prevista no art. 65 ,III, “d” do CP. Precedentes. (STF, HC 206827 AgR, Relator(a): EDSON

FACHIN, Segunda Turma, julgado em 28/03/2022, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-072 DIVULG 12-04-2022

PUBLIC 18-04-2022)

5.3.2. CARACTERÍSTICAS

1. Ato personalíssimo: somente o acusado pode confessar a prática do fato delituoso, sendo inviável que

outorgue poderes a seu advogado para fazê-lo;

2. Ato livre e espontâneo: não pode haver qualquer forma de constrangimento físico e/ou moral para

que o acusado confesse a prática do fato delituoso.

3. Ato retratável: é perfeitamente possível que o acusado, após confessar o fato delituoso, resolva se

retratar;

4. Ato divisível: o acusado pode confessar a prática de um fato delituoso e negar o cometimento de

outro, como também pode confessar todos os fatos delituosos que lhe são atribuídos, razão pela qual

se diz que a confissão é um ato divisível.

5. Circunstância atenuante: De acordo com o art. 65, inciso III, alínea “d”, do Código Penal, a confissão

espontânea, perante a autoridade, da autoria do crime, funciona como circunstância atenuante.

22
⚠️ ATENÇÃO
Para que o acusado faça jus à circunstância atenuante do art. 65, inciso III, alínea “d”, do CP, deve

assumir a prática do delito que lhe é imputado na peça acusatória. Nesse espírito foi editada a Súmula nº 630

do STJ:

Súmula 630-STJ: “A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de

entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse

ou a propriedade para uso próprio”.

Outra decisão importante a respeito da aplicação da circunstância atenuante na confissão diz respeito

à multirreincidência e a compensação integral com a confissão, vejamos:34

“A multirreincidência revela maior necessidade de repressão e rigor penal, a prevalecer sobre a atenuante

da confissão, sendo vedada a compensação integral. Assim, em caso de multirreincidência, prevalecerá a

agravante e haverá apenas a compensação parcial/proporcional (mas não integral).” (STJ. 5ª Turma. HC 620640,

Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 02/02/2021) (grifo nosso)

Em recente julgado, o STJ reiterou a vedação da compensação integral, permitindo a compensação

proporcional. In verbis:

É possível, na segunda fase da dosimetria da pena, a compensação integral da atenuante da confissão

espontânea com a agravante da reincidência, seja ela específica ou não. Todavia, nos casos de

multirreincidência, deve ser reconhecida a preponderância da agravante prevista no art. 61, I, do

Código Penal, sendo admissível a sua compensação proporcional com a atenuante da confissão

espontânea, em estrito atendimento aos princípios da individualização da pena e da proporcionalidade. (REsp

1.931.145-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 22/06/2022, DJe

24/06/2022. (Tema 585))

⚠️ ATENÇÃO
Sempre que o juiz se utilizar da confissão para formação do seu convencimento, o réu terá direito à

aplicação da atenuante. Isso é o que dispõe a súmula 545 do STJ:

Súmula 545-STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará

jus à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal.

34
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A multirreincidência prevalece sobre a atenuante da confissão, sendo vedada a compensação integral.. Buscador
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/78211247db84d96acf4e00092a7fba80>.
Acesso em: 24/06/2022
23
Entretanto, em 14/06/2022, a 5ª Turma do STJ decidiu que mesmo que o juiz não mencione

expressamente a confissão na sentença o réu terá direito à atenuante.35

“O réu fará jus à atenuante do art. 65, III, 'd', do CP quando houver admitido a autoria do crime perante a

autoridade, independentemente de a confissão ser utilizada pelo juiz como um dos fundamentos da sentença

condenatória, e mesmo que seja ela parcial, qualificada, extrajudicial ou retratada.” (STJ. 5ª Turma. REsp

1.972.098-SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 14/06/2022) - (Info 741).

🚨 JÁ CAIU
Nesse sentido, para prova para o cargo de Auxiliar Criminalístico - Polícia Científica-SC (Ano: 2022, FEPESE) foi

considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “b”:

Com base no Código de Processo Penal, o valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os

outros elementos de prova, e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do

processo, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância.

Sobre as características da confissão, é correto afirmar:

a. a confissão será indivisível e absoluta.

b. a confissão será divisível e retratável.

c. a confissão será divisível e irretratável.

d. a confissão será indivisível e retratável.

e. a confissão será indivisível e irretratável.

5.4 PROVA TESTEMUNHAL

Testemunha é a pessoa desinteressada e capaz de depor que, perante a autoridade judiciária, declara

o que sabe acerca de fatos percebidos por seus sentidos que interessam à decisão da causa. A prova

testemunhal tem como objetivo, portanto, trazer ao processo dados de conhecimento que derivam da

percepção sensorial daquele que é chamado a depor no processo.36

5.4.1 CARACTERÍSTICAS37

1. Judicialidade: testemunha é aquela pessoa ouvida em juízo sobre os fatos delituosos em discussão no

processo.

35
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Se a confissão for utilizada pelo juiz para condenar, deve ser utilizada como atenuante. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4a213d37242bdcad8e7300e202e7caa4>. Acesso em:
24/06/2022
36
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8.ed. Juspodivm. 2021.
37
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8.ed. Juspodivm. 2021.
24
2. Oralidade: o depoimento deve ser prestado oralmente, não sendo permitido à testemunha trazê-lo por

escrito. Isso, no entanto, não significa dizer que a testemunha não possa fazer breve consulta a

apontamentos.

3. Objetividade: como a testemunha depõe sobre fatos, deve se abster de emitir qualquer juízo de valor,

salvo quando sua opinião for inerente à própria narrativa do fato delituoso.

4. Retrospectividade: a testemunha é chamada a depor no processo sobre fatos passados, jamais sobre

fatos futuros.

5. Individualidade: as testemunhas são inquiridas separadamente, devendo o magistrado evitar que

aquelas que ainda não foram ouvidas possam ter contato com o depoimento prestado pelas outras.

5.4.2. DEVERES DAS TESTEMUNHAS38

a. Dever de depor: Consoante dispõe o art. 202 do CPP, toda pessoa poderá ser testemunha. A pessoa

tem, portanto, o dever de depor, contribuindo para o acertamento do fato delituoso. Não obstante, a

própria lei processual penal aponta certas pessoas que podem se recusar a depor (CPP, art. 206), e

outras que estão até mesmo proibidas de depor (CPP, art. 207).

“Art. 202. Toda pessoa poderá ser testemunha. (...)

Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto, recusar-se a

fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai,

a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a

prova do fato e de suas circunstâncias.

Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam

guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho.”

b. Dever de comparecimento: Se a testemunha foi regularmente intimada, tem o dever de comparecer

em juízo para prestar seu depoimento no local, dia e hora designados. Se, regularmente intimada, a

testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial

a sua apresentação ou determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da

força pública.

📌 OBSERVAÇÕES
■ As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por velhice, de comparecer para depor, serão

inquiridas onde estiverem (art. 220, CPP).

38
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8.ed. Juspodivm. 2021.
25
■ O art. 221 do CPP traz um rol de autoridades que serão inquiridas em local, dia e hora previamente

ajustados entre eles e o juiz.

“Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores e deputados federais, os ministros de

Estado, os governadores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os prefeitos do Distrito Federal e

dos Municípios, os deputados às Assembléias Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os

ministros e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como os do Tribunal

Marítimo serão inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz.”

c. Dever de prestar o compromisso de dizer a verdade: em regra, a testemunha assume o

compromisso de dizer a verdade, nos termos do art. 203 do CPP. Significa dizer, portanto, que a

testemunha deve dizer o que sabe, não pode se calar sobre o que sabe, nem pode negar a verdade ou

declarar fato inverídico.

📌 OBSERVAÇÕES
■ Apesar do disposto no art. 203 do CPP, nem todas as pessoas prestam compromisso de dizer a

verdade. É o que acontece com aquelas enumeradas no art. 206 do CPP.

■ Depoentes são as testemunhas que prestam compromisso legal, enquanto que declarantes ou

informantes são as pessoas que não prestam o compromisso legal de dizer a verdade.

d. Dever de comunicar mudança de residência: As testemunhas também têm o dever de comunicar ao

juiz, dentro de 1 ano, contado do seu depoimento, qualquer mudança de residência (CPP, art. 224).

🚨 JÁ CAIU
Nesse sentido, para prova para o cargo de Auxiliar Criminalístico - Polícia Científica-SC (Ano: 2022, FEPESE) foi

considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “a”:

Em linhas gerais, tem-se que testemunha é a pessoa capaz de depor que, perante o juiz, declara o que sabe

acerca de fatos percebidos por ela e que interessam à decisão da causa.

Neste sentido, de acordo com o Código de Processo Penal, como regra, a testemunha não poderá eximir-se

da obrigação de depor, ressalvados os seguintes casos em que poderão recusar-se a fazê-lo, o ascendente ou

descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho

adotivo:

a. do acusado.

b. do ofendido.

c. e o devedor do ofendido.

26
d. e o amigo íntimo do acusado.

e. e o inimigo capital do acusado.

5.5. PROVA PERICIAL

Segundo Bittar39, perícia é o conjunto de procedimentos técnicos, com base científica, realizado por

pessoa qualificada para tal, chamada de perito. A finalidade da perícia é provar os fatos de interesse da

Justiça, fornecendo esclarecimentos ao juízo, relativos a questão que não de conhecimento do magistrado, pois

envolvem diferentes áreas do conhecimento humano.

Por possuir base científica, comumente são utilizadas com prevalência em relação a outros elementos

de convicção. No entanto, é necessário destacar que, de acordo com o art. 182 do Código de Processo Penal

(CPP), o juiz não está adstrito ao laudo emitido pelo perito.40

Já regulação legal das perícias em geral, bem como da atividade dos peritos, está prevista nos arts.

149, 158 a 184, e 275 a 281 do Código de Processo Pena.

5.5.1. PARTES DA PERÍCIA

A perícia possui uma parte objetiva, relacionada às alterações visíveis encontradas nas lesões e, nos

laudos, serão destacadas na "descrição", e outra subjetiva, que diz respeito valoração da parte objetiva.

5.5.2. NATUREZA JURÍDICA DAS PERÍCIAS

Prevalece que a natureza jurídica da perícia é de meio de prova, pois é por meio dela que se insere

ao processo as fontes de prova, ou seja, funciona como instrumento para a inserção das fontes de prova ao

processo penal.

5.5.3. OBJETO DAS PERÍCIAS

Quanto ao objeto das perícias, podem ser realizadas nos:

a. Cadáveres: tanto para determinar a causa mortis quanto para conhecimento do tempo e

identidade do morto;

b. Objetos: aqui, a perícia busca identificar vestígios do crime, como resquícios de sangue,

impressões digitais, cabelos etc;

c. Pessoas Vivas: nesse caso, a perícia tem um espectro de abrangência bem mais amplo,

servindo desde a quantificação de lesões, diagnóstico de gravidez, comprovação de conjunção

39
BITTAR, Neusa. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 7. ed. Salvador: Juspodivm. 2018, p. 25.
40
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 43.
27
carnal, comprovação de contaminação por doença venérea, até a determinação de idade e

sexo.

d. Animais: seja nos animais que foram objetos materiais (coisas ou pessoas sobre as quais

recaem as condutas criminosas) do delito ou para recuperação de algum vestígio relacionado

ao fato.

5.5.4. LOCAL DA PERÍCIA

Via de regra, a perícia é realizada em instituições oficiais, salvo a não ser que não existam elementos

materiais que não possam ser removidos ou haja necessidade de o perito médico ter uma ideia mais concreta

da cena do crime.41

5.5.5. MOMENTO DA PERÍCIA

Especificamente quanto ao âmbito criminal, perícia pode ser solicitada em qualquer fase da

persecução penal, tanto na fase pré-processual como na fase processual. Portanto, desde o momento da

investigação policial é possível a realização de perícias, o mesmo pode ocorrer no curso do processo judicial.

Mesmo após a sentença judicial é possível que seja realizada perícia, como, por exemplo, na

avaliação da imputabilidade nas doenças mentais supervenientes.42

5.5.6. PERITOS

Perito é todo indivíduo que, detendo conhecimentos técnico-científicos e habilitação específica, realize

uma perícia. A atividade do perito se limita a verificar o fato e indicar a causa que o motivou. Age de maneira

livre. Pode ser oficial ou ad hoc (escolhidos para a realização de uma perícia quando não haja possibilidade de

que o perito oficial a faça).43

O perito oficial deve ser portador de diploma de curso superior (art. 159, CPP) e os peritos ad hoc,

são aqueles que atual caso não haja perito oficial. O CPP estabelece que no caso de ausência de perito oficial, o

exame será realizado por duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente

na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.

Diferentemente dos peritos oficiais, os peritos ad hoc devem prestar compromisso de bem e fielmente

desempenhar o encargo.

Quanto às atribuições dos peritos, estabelece o art. 160 do CPP que os peritos devem descrever com

minúcias aquilo que examinar e responder aos quesitos formulados, elaborando, ao final, laudo pericial. Caso, o

41
BITTAR, Neusa. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 7. ed. Salvador: Juspodivm. 2018, p. 31.
42
BITTAR, Neusa. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 7. ed. Salvador: Juspodivm. 2018, p. 32-33.
43
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 50.
28
laudo pericial não tenha seguido as formalidades necessárias ou for obscuro, omisso ou contraditório, o juiz

poderá determinar que seja suprida a formalidade ou complementado o laudo.

O mesmo dispositivo supracitado estabelece um prazo máximo de 10 dias para que o laudo pericial

seja elaborado. Porém, em situações excepcionais e a requerimento do perito, tal prazo poderá ser prorrogado

pelo juiz.

Outro ponto de destaque é o fato de que os peritos estão sujeitos aos impedimentos e suspeições

do Código de Processo Penal, assim como se aplica aos juízes. Assim, a título de exemplo, um médico perito não

poderá funcionar como perito em um processo judicial no qual uma das partes é seu paciente particular, pois

isso feriria sua imparcialidade.44

🚨 JÁ CAIU
Nesse sentido, para prova para o cargo de Perito Criminal - ITEP-RN (Ano: 2021, INSTITUTO AOCP) foi

considerado o gabarito da questão a assertiva prevista na letra “b”:

Assinale a alternativa INCORRETA.

a. Em termos legais, vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou

recolhido, que se relaciona à infração penal.

b. O prazo máximo para a elaboração do laudo pericial é de 10 dias, não podendo esse prazo ser

prorrogado.

c. Cadeia de Custódia pode ser definida pelo conjunto de todos os procedimentos utilizados para

manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes,

para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte.

d. Será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, quando a infração deixar vestígios,

não podendo supri-lo a confissão do acusado.

e. O laudo pericial é o documento no qual os peritos descrevem minuciosamente o que examinaram e

respondem aos quesitos formulados.

5.5.7. RESPONSABILIDADE CÍVEL E CRIMINAL DOS PERITOS

Os peritos estão sujeitos à responsabilização cível por eventuais atos ilícitos praticado, no exercício do

ofício. Vejamos o que dispõe o art. 186 do Código Civil:

“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a

outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

44
BITTAR, Neusa. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 7. ed. Salvador: Juspodivm. 2018, p. 30.
29
Da mesma maneira, o Código de Processo Civil em vigor traz previsões acerca da responsabilidade

civil desses profissionais:

“Art. 158. O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas responderá pelos prejuízos que

causar à parte e ficará inabilitado para atuar em outras perícias no prazo de 2 a 5 anos, independentemente

das demais sanções previstas em lei, devendo o juiz comunicar o fato ao respectivo órgão de classe para

adoção das medidas que entender cabíveis.”

Assim como no âmbito cível, os peritos também estão sujeitos à responsabilização criminal. Os

principais crimes que se relacionam à atividade do perito são: Violação do Segredo Profissional (Art. 154, CP);

Violação de Sigilo Funcional (Art. 325, CP); Falsa Perícia (Art. 342, CP); Exploração de Prestígio (Art. 357, CP)

5.5.8. ASSISTENTE TÉCNICO

O assistente técnico funciona no processo como um auxiliar das partes e possui conhecimentos

técnicos, científicos ou mesmo artísticos, tendo como finalidade alimentar o processo com informações que,

além de serem especializadas, guardem pertinência com o objeto da perícia. Para Genival França, é o

profissional contratado e indicado por uma das partes, especializado em determinada área, para que lhe ajude

na produção de uma prova pericial.45

Diferentemente do que ocorre com os peritos, os assistentes técnicos não podem ser considerados

funcionários públicos, bem como estão sujeitos às causas de impedimento e suspeição, justamente porque são

contratados pelas partes, o que, por si só, macula sua imparcialidade no processo.

A presença dos assistentes técnicos no processo civil tem previsão no art. 465 do CPC. Por sua vez, no

âmbito criminal os assistentes técnicos só foram incluídos no Código de Processo Penal pela Lei nº 11.690/2008,

que incluiu o §4º e §5º no art. 159 do CPP, vejamos:

“Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma

de curso superior. (...)

§ 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames e

elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.

§ 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia:

I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde que o

mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com

antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar;

45
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 57.

30
II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser

inquiridos em audiência.”

O dispositivo acima não é o único a tratar dos assistentes técnicos, uma vez que o noveno art. 3º-B,

XVI, do CPP, que foi incluído ao código pelo Pacote Anticrime, assim dispõe, vejamos:

“Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela

salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder

Judiciário, competindo-lhe especialmente: (...)

XVI - deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção da perícia;”

Porém, devemos ter muita atenção, pois o art. 3º-B foi um dos dispositivos suspensos, por tempo

indeterminado e em caráter liminar, pelo Supremo Tribunal Federal, através da ADI nº 6298. Assim, enquanto

perdurar a liminar concedida, o dispositivo não é aplicável.

Portanto, atualmente, o assistente técnico somente é admitido na fase judicial. Essa conclusão parte

da leitura literal do art. 159, ao afirmar que a indicação de assistente técnico ocorrera no curso do processo

judicial.

6. BALÍSTICA FORENSE

Nas palavras de Wilson Palermo46 “A balística forense é um campo da criminalística que estuda os

tópicos relacionados às armas de fogo, munições e os efeitos dos tiros desencadeados por elas. Tem como uma

das finalidades estabelecer a relação entre estas situações e as infrações penais que delas podem ser

originadas.

🚨 JÁ CAIU
Nesse sentido, para prova para o cargo de Delegado de Polícia - PC-SE (Ano: 2020, CESPE/CEBRASPE) foi

considerada correta a assertiva que dizia:

A forma de execução de um homicídio pode ser definida a partir da observação da posição do cadáver no

local do crime, dos vestígios biológicos e de eventuais elementos balísticos arrecadados.

46
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 175.
31
6.1. ARMAS DE FOGO

Armas de fogo são dispositivos construídos pelo homem com a finalidade de disparar projéteis em

direção a uma pessoa ou objeto, usando para tal a força expansiva dos gases resultantes da queima controlada

de determinado propelente (geralmente pólvora).

📌 OBSERVAÇÃO
Os projéteis expelidos pelas armas de fogo são classificados como instrumentos perfuro-contundentes.

Logo, a lesão provocada pro projétil de arma de fogo é perfuro-contusa.

6.2. DIFERENÇAS ENTRE ARMAS DE FOGO47

a. Revólver: possui tambor giratório, com número variado de câmaras (compartimento

destinado a armazenar a munição para o tiro), geralmente cinco ou seis48.

b. Pistola: diferentemente do revólver, não tem tambor. Usa o chamado "carregador, em que

são armazenadas as munições para o tiro. Podem ser automáticas ou semiautomáticas49.

47
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 176-179.
48
Imagem disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Rev%C3%B3lver
49
Imagem disponível em: https://www.1911brasil.com.br/armas-de-fogo/pistolas/pistola-taurus-9mm-9217-5-info
32
c. Submetralhadora: arma portátil de cano longo e raiado internamente, automáticas, que

disparam projeteis também utilizados por pistolas50.

d. Espingardas: possuem cano longo, alma lisa, de repetição (a cada tiro o atirador deve

recarregar novamente, de forma manual), automáticas ou semiautomáticas51.

e. Carabinas: carabina é uma arma longa, raiada, incapaz de tiro automático, geralmente

disparando calibres de armas curtas. Como exemplos, temos a TAURUS CTT-40 (calibre .40

SW) e a ROSSI PUMA (calibres .38 SPL, .357 Magnum ou .44-40).5253

50
Imagem disponível em: https://taurusarmas.com.br/pt/produtos/armas-longas/smt-40-cal-40-sw
51
Imagem disponível em: https://www.ecocacaepesca.com.br/produto/espingarda-semi-automatica-franchi-affinity-wood-cal-20
52
Informação disponível em: https://infoarmas.com.br/carabinas-fuzis-e-rifles-entenda-a-diferenca/
53
Imagem disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Puma_%28carabina%29
33
⚠️ ATENÇÃO
Alguns autores definem carabina como sendo arma de fogo portátil semelhante a um fuzil, de

dimensões reduzidas, de cano longo – embora relativamente menor que o do fuzil – com alma raiada.

📌 OBSERVAÇÃO
Os conceitos de fuzil e carabinas são bastante imprecisos, variando a depender do autor, mas são mais

utilizados os conceitos utilizados nesse material.

f. Fuzil: fuzil “de assalto” é uma arma longa, raiada, capaz de tiro automático e que dispara

calibres de alta energia (do 5,56 x 45 mm para cima). Enquadram-se nesta categoria o HK 416,

o FN SCAR, o AK-47, dentre muitos outros.54

🚨 JÁ CAIU
Nesse sentido, para prova para o cargo de Perito Legista - PC-RJ (Ano: 2021, FGV) foi considerado o gabarito

da questão a assertiva prevista na letra “e”:

Na balística terminal dos projéteis de arma de fogo de alta energia:

a. a cavidade temporária independe do segmento atingido;

b. as cavidades permanentes independem do calibre do projétil;

c. o maior diâmetro das lesões de saída tem direção aleatória;

d. a cavidade temporária resulta das ondas de choque por eles produzidas por serem supersônicos;

e. as lesões viscerais mais extensas resultam da formação de cavidades temporárias ao longo do

trajeto.

54
Informação disponível em: https://infoarmas.com.br/carabinas-fuzis-e-rifles-entenda-a-diferenca/
34
6.3. CLASSIFICAÇÃO DAS ARMAS DE FOGO

a. Quanto à alma do cano: o cano de uma arma de fogo pode apresentar, internamente, cristas e sulcos,

em disposição helicoidal, que imprimem movimento rotatório ao projétil, o que aumenta a precisão do

disparo, além de deixar ressaltos no projétil capazes de identificar a arma que efetuou aquele disparo.

Essas cristas e sulcos são chamados de raiamento e as armas que o possuem são classificadas como

sendo de “alma raiada”. Quando a arma de fogo for dotada de cano que não possui esse raiamento,

afirma-se que a arma possui cano de "alma lisa".5556

📌 OBSERVAÇÃO
Há uma diferença entre calibre real (é a medida do diâmetro da parte interna do cano da arma,

medido entre os cheios); calibre do projétil (é a medida do diâmetro da parte interna do cano da arma,

medido entre fundos das raias); e calibre nominal (trata-se da dimensão utilizada pelo fabricante, nem sempre

tendo relação com o calibre real ou do projétil.

55
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 179.
56
Imagem disponível em: https://www.defesa.org/canos-raiados-e-canos-de-alma-lisa/

35
b. Quanto à portabilidade: são divididas em armas de porte: possuem tamanho e peso reduzidos,

permitindo o porte em coldre e conseguem ser disparadas com somente uma das mãos do atirador (ex:

pistolas e revolveres); portáteis: aquelas que podem ser transportadas por um único homem, mas não

conduzida em um coldre, exigindo, em regra, ambas as mãos para a eficiência do disparo (Ex: carabinas

e fuzis); e não portáteis: aquelas que, em razão de seu tamanho e peso, não podem ser transportadas

por um único homem.

c. Quanto ao sistema de carregamento: são classificadas em antecarga: aquela que o carregamento é

feito pela boca do cano; retrocarga manual: aquela que o carregamento é feito pela parte posterior do

cano, com emprego de força muscular; retrocarga automática: o carregamento é realizado pela parte

posterior do cano, de forma automática, aproveitando a energia do disparo, dispensando a força

muscular humana.

d. Quanto ao funcionamento: pode ser de repetição: o atirador, após a realização de cada disparo,

decorrente da sua ação sobre o gatilho, necessita empregar sua força física sobre um componente do

mecanismo desta para concretizar as operações prévias e necessárias ao disparo seguinte, tornando-a

pronta para realizá-lo; semi-automática: arma que realiza, automaticamente, todas as operações de

funcionamento com exceção do disparo, o qual, para ocorrer, requer, a cada disparo, um novo

acionamento do gatilho; automática: arma em que o carregamento, o disparo e todas as operações de

funcionamento ocorrem continuamente enquanto o gatilho estiver sendo acionado (é aquela que dá

rajadas).

6.4. PARTES DA ARMA DE FOGO

Levando em consideração que são muitas as partes que compõem uma arma de fogo e que há certa

variação a depender do tipo de arma (revólver, pistola, fuzil etc), colocaremos imagens abaixo com a descrição

de cada parte.

1. Revolver57

57
Imagem disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/412/edicao-1/armas
36
2. Pistola58

3. Fuzil / Carabina

6.5. MUNIÇÕES

As munições ou cartuchos são artefatos constituídos de um série de componentes, sem os quais não

funcionam. Os componentes são os seguintes:

1. Estojo: geralmente de latão ou outra combinação de metais ou mesmo de papel ou plástico.59

58
Imagem disponível em: https://www.unodc.org/e4j/pt/firearms/module-2/key-issues/firearms-parts-and-components.html
59
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 185.
37
2. Espoleta: composto químico no qual geralmente estão presentes: estifnato de chumbo, tetrazeno,

nitrato de bário, tissulfato de antimônio e chumbo.60

3. Pólvora: material propelente que irá sofrer ignição a partir da combustão da espoleta, gerando grande

quantidade de gases que irão impulsionar o projétil.61

4. Projétil: de forma ampla, projétil é qualquer corpo sólido passível de ser arremessado. No caso das

munições, é a aparte do cartucho que será lançada através do cano62.

60
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 185.
61
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 185.
62
Imagens disponíveis em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Proj%C3%A9til
38
6.6. MOVIMENTOS E FORÇAS QUE ATUAM NO PROJÉTIL DE ARMA DE FOGO

O projétil de arma de fogo tem vários tipos de movimento e de forças que atuam sobre ele durante o

deslocamento até o alvo. Vejamos os principais:63

1. Movimentos:

I. Rotação: é o movimento de rotação do projétil em torno no próprio eixo, provocado pelo

raiamento do cano da arma.

II. Translação: a translação pode ser vertical e horizontal.

III. Nutação: pequenos círculos que a ponta faz.

IV. Precessão: sucessão de círculos menores que formam a nutação.

📌 OBSERVAÇÃO
Wilson palermo64 salienta que quanto maior o movimento de rotação, maior a estabilidade e menores

serão a nutação e a precessão (pois se reduz a rotação, a nutação e a precessão aumentam e o projétil perde

estabilidade). A estabilidade de um projétil é atingida quando o centro de massa e o centro de pressão estão

alinhados na mesma trajetória daquele.

🔔 IMPORTANTE
Há uma diferença entre trajeto e trajetória do projétil de arma de fogo. Trajeto é o percurso do

projétil no interior de um corpo, animado ou inanimado. Por sua vez, trajetória é percurso externo deste

projétil, ou seja, da sua saída da arma até o impacto.

2. Forças:

a. Força de Arrasto: dificulta a progressão do projétil ao longo de sua trajetória (fora do alvo) ou

trajeto (dentro do alvo), alterando a estabilidade.

b. Força Gravitacional: que também atua alterando a trajetória.

63
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 194-195.
64
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Medicina Legal: Sinopses para concursos. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. p. 195.
39

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