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5. ANTIJURIDICIDADE
5.1. CONCEITO
5.2. ESTADO DE NECESSIDADE
5.3. LEGÍTIMA DEFESA
5.4. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL
5.5. EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO
5.6. DESCRIMINANTES PUTATIVAS
5.7. TIPICIDADE CONGLOBANTE
6. CULPABILIDADE
6.1. IMPUTABILIDADE
6.2. POTENCIAL CONSCIÊNCIA DE ILICITUDE
6.3. EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA
19.11. APROPRIAÇÃO DE COISA HAVIDA POR ERRO, CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR
19.12. APROPRIAÇÃO DE TESOURO
19.13. APROPRIAÇÃO DE COISA ACHADA
19.14. ESTELIONATO
19.15. ABUSO DE INCAPAZ
19.16. FRAUDE NO COMÉRCIO
19.17. OUTRAS FRAUDES
19.18. FRAUDE À EXECUÇÃO
19.19. RECEPTAÇÃO
19.20. RECEPTAÇÃO DE ANIMAIS
19.21. IMUNIDADES
26.2.6 DESCAMINHO
26.2.7 CONTRABANDO
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PARTE GERAL
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
Abaixo listamos os princípios de direito penal que são mais importantes para a prova da OAB/FGV:
PRINCÍPIO DA
PRINCÍPIO DE SUBSIDIARIEDADE FRAGMENTARIEDADE
• Princípio da Legalidade
Art. 1º do CP - Não há crime sem lei anterior que o defna. Não há pena sem prévia
cominação legal.
Art. 5º; XXXIX, da CF/88 – não há crime sem lei anterior que o defna, nem pena sem
prévia cominação legal;
O princípio da legalidade, ou reserva legal, encontra assento no art. 5º, XXXIX, da CF/88, e no
art. 1º do CP, prescrevendo que, para alguém ser condenado, o crime cometido deve ter previsão
e cominação de pena fxadas expressamente em lei escrita, anterior à prática da infração.
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Em razão do princípio da anterioridade, veda-se ainda que a lei penal retroaja para prejudicar
o réu, permitindo-se apenas a retroatividade para benefciá-lo (princípio da irretroatividade da
lei penal). Importante destacar ainda que o princípio da irretroatividade não se aplica na esfera
processual penal, onde vigora o princípio da imediatidade da lei processual.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
• Crime não pode ser fxado por medida provisória, exigindo-se lei em sentido estrito,
conforme art. 62, §1°, I, “b”, da CF/88 TEMA COBRADO NO XIV EXAME DA OAB/FGV.
• Veda-se a utilização dos costumes como fonte de criminalização (deve haver lei
escrita prevendo o crime e a cominação da pena).
• A tipifcação e a pena do crime devem incidir sobre uma conduta determinada, sendo
vedada a defnição de tipos abertos, indeterminados.
• A analogia pode ser utilizada apenas para favorecer o réu, e não para prejudicá-lo.
Normas penais em branco: Existem algumas normas que, apesar de possuírem a cominação
de pena, têm o preceito primário indeterminado, dependendo de complementação de outra
norma, ou ato administrativo. Essas normas são chamadas de “normas penais em branco” e sua
efcácia depende da complementação do outro ato normativo, sob pena de ofender o princípio da
legalidade. As normas penais em brancos são classifcadas em homogêneas, quando a norma
complementar tem a mesma hierárquica da norma complementada, e heterogêneas, quando as
normas possuem hierarquia distinta (complemento ocorre por portaria, resolução, decreto, etc).
A título de exemplo, a maioria dos crimes previstos na Lei de Drogas depende de complementação
em relação ao conceito de droga, devendo-se utilizar o regramento dado pelas portarias da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Sendo assim, pode-se afrmar que, como regra geral, os
crimes da Lei de Drogas são normas penais em branco heterogêneas, já que a complementação
ocorre por normas de hierarquia distinta TEMA COBRADO NO XI EXAME DA OAB/FGV.
Desse modo, com a morte do sujeito ativo do crime, extingue-se a punibilidade, permitindo-se
apenas eventual responsabilização dos herdeiros na esfera civil, relativamente à reparação dos
danos sofridos pela vítima.
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• Princípio da Insignifcância ou Bagatela
Pelo princípio da insignifcância, em que pese a conduta do agente se enquadre no tipo penal,
o fato será materialmente atípico por não afetar o bem jurídico tutelado de modo relevante para
justifcar a intervenção do Direito Penal TEMA COBRADO NO V EXAME DA OAB/FGV.
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• Princípio da Culpabilidade
Para que o sujeito ativo da infração penal seja responsabilizado, deve ter agido com dolo ou
culpa. Desse modo, se determinada pessoa tiver cometido uma infração penal, mas restar provado
que ela não tinha consciência de seus atos, não poderá ser penalizada.
Não se permite, portanto, a responsabilidade objetiva no Direito Penal, além do que a aplicação
da pena exige que o comportamento do agente seja reprovável, ou seja, não haverá aplicação da
pena se houver a presença de uma das excludentes de culpabilidade (inimputabilidade, potencial
consciência de ilicitude e exigibilidade de conduta diversa).
Art. 5º da CF/88
(...)
XLVII – não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do
art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis;
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Além disso, deve-se recordar que a lei penal não pode retroagir, salvo em casos excepcionais,
para benefciar o réu.
Ocorre, entretanto, que há algumas situações que excepcionam a regra geral, a saber:
• Abolitio criminis (art. 2º do CP): uma nova lei torna atípica uma conduta até
então considerada proibida. Nesse caso, a lei deve retroagir para benefciar o réu,
extinguindo-se sua punibilidade (art. 107, inciso III, do CP) TEMA COBRADO NO XI
EXAME DA OAB/FGV.
• Novatio legis in mellius: a lei posterior benefcia de alguma forma a situação do
agente, como no caso do crime de posse de substâncias entorpecentes para consumo
pessoal, que deixou de ter pena privativa de liberdade e de multa, passando a ter
somente penas restritivas de direito (art. 28 da Lei n. 11.343/2006). Nesse caso, a
alteração legislativa deve retroagir para benefciar o réu.
Há duas situações em que a lei mais favorável ao réu não retroagirá, ou seja, a lei anterior
produzirá efeitos ultrativos, ainda que prejudicial ao réu. São os casos da lei excepcional (criada
em situação de emergência) e da lei temporária (criada para vigorar por determinado tempo,
como a Lei nº 12.663 de 2012, conhecida como a Lei Geral da Copa). Nesses casos, ainda que
cessado o tempo de vigência da lei temporária ou excepcional, elas continuarão produzindo
efeitos, mesmo que prejudiciais ao réu (ultratividade), conforme art. 3º do CP. TEMA
COBRADO NOS EXAME XIX E XXXV DA OAB/FGV.
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Crime permanente é aquele cuja consumação se prolonga no tempo em função da vontade
do agente, como no caso do crime de sequestro. Assim, se determinada pessoa sequestra sua
vítima e a mantém em cativeiro por 6 meses e uma nova lei mais severa entra em vigor nesse
período, deverá ser aplicada a lei mais grave. TEMA COBRADO NOS EXAMES XII E XIX
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DA OAB/FGV.
É importante lembrar ainda que, diferentemente do que ocorre no direito material penal,
em que a lei retroage para benefciar o réu, na esfera processual, como regra, a lei é aplicada
imediatamente, ainda que seja desfavorável ao réu.
A norma penal retroage se for mais benéfca A norma processual penal possui aplicação
ao réu, ou seja, a norma poderá ser aplicada às imediata, independentemente se gravosa ou
infrações cometidas antes de sua vigência. não ao réu. Poderá retrogir apenas no caso de
se tratar de norma penal mista.
Como regra geral, deve-se aplicar a lei brasileira aos crimes cometidos no território nacional.
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EMBARCAÇÕES
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
E AERONAVES
ESTRANGEIRAS
PRIVADAS NO
TERRITÓRIO
NACIONAL
TERRITÓRIO
NACIONAL
EMBARCAÇÕES
EMBARCAÇÕES PÚBLICAS OU
E AERONAVES A SERVIÇO DO
BRASILEIRAS BRASIL ONDE
NO TERRITÓRIO QUER QUE
NACIONAL ESTEJAM
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Tratando-se de crime praticado em alto-mar, deve-se aplicar a legislação do país de matrícula
da embarcação (princípio do pavilhão ou da bandeira). Desse modo, se, por exemplo, um
tripulante argentino mata um tripulante alemão em uma embarcação brasileira que está em
alto-mar, aplica-se a lei brasileira.
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O Código Penal, entretanto, excepciona a regra geral, dispondo que é possível a aplicação
de norma estrangeira ao crime praticado no território nacional, quando houver previsão em
convenções, tratados e regras de direito internacional (art. 5º do CP).
Diplomata estrangeiro que comete crime no Brasil. A Convenção de Viena sobre Relações
Diplomáticas determina que o diplomata vai responder de acordo com a lei de seu país de
origem, ou seja, o diplomata não vai ser punido pela lei brasileira.
Para se determinar qual lei será aplicada, é imprescindível ainda verifcar qual o lugar do crime.
Assim, nos casos de crimes à distância ou de espaço máximo, considerados aqueles em que a
conduta e o resultado ocorrem em países diversos, o código penal determina que deve ser aplicada
a legislação brasileira.
2.2.2. EXTRATERRITORIALIDADE
Em que pese a legislação penal seja aplicada, como regra geral, apenas no território nacional,
o próprio código penal prevê situações em que a lei penal brasileira deve ser aplicada a crimes
cometidos no estrangeiro, fenômeno conhecido como extraterritorialidade.
• Extraterritorialidade condicionada (art. 7, II, do CP): o agente será punido pela legislação
brasileira nos crimes:
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena
TEMA COBRADO NO XXXII EXAME DA OAB/FGV;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar
extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
Destaca-se ainda que o § 3º do art. 7º permite a aplicação da lei penal brasileira ao crime
cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições do § 2º do
art. 7º CP, acima destacadas, e desde que: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve
requisição do Ministro da Justiça. Por se tratar de situação em que se exige mais requisitos
para a aplicação da lei brasileira, a hipótese do § 3º do art. 7º do CP é conhecida também como
extraterritorialidade hipercondicionada.
Digno de nota também que o instituto do ne bis in idem veda que uma pessoa seja punida
mais de uma vez pelo mesmo fato. Sendo assim, para evitar o bis in idem, o art. 8º do CP dispõe
que a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando
diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
A sentença penal estrangeira para produzir efeitos no Brasil deve ser homologada pelo STJ
(art. 105, I, i, da CF/88).
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2.2.3. LUGAR DO CRIME
Para se determinar qual lei será aplicada, é imprescindível ainda verifcar qual o lugar do crime.
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Assim, nos casos de crimes à distância ou de espaço máximo, considerados aqueles em que a
conduta e o resultado ocorrem em países diversos, o código penal determina que deve ser aplicada
a legislação brasileira.
Ocorre confito aparente de normas quando é possível a aplicação de duas ou mais normas a
um mesmo fato. Nesses casos, o confito é meramente aparente, já que ele pode ser resolvido por
meio da aplicação dos seguintes princípios:
Mãe que, sob a infuência do estado puerperal, mata seu próprio flho. A mãe deve responder
por infanticídio, uma vez que este crime é mais específco que o homicídio.
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Inicialmente, é importante destacar que se considera infração penal o gênero, do qual crime e
contravenção penal são espécies.
Não há uma diferença ontológica entre crime e contravenção penal, sendo ambas abarcadas
pela teoria geral do crime.
O que se deve recordar, entretanto, é que há consequências diferentes no âmbito penal e processual
penal para quem comete cada uma dessas espécies de infração penal, conforme abaixo sistematizado.
Pode ser punido com reclusão ou detenção Punida apenas com prisão simples
Ação penal pública ou privada, dependendo do crime Apenas ação penal pública incondicionada
Assim, com base na teoria fnalista tripartida, que consideramos a teoria mais adequada para
o conceito de crime, existem três elementos principias para a caracterização do delito: fato típico,
ilicitude e culpabilidade, conforme estudaremos nos próximos capítulos.
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O fato típico é composto por conduta, dolo ou culpa, resultado, relação de causalidade (nexo causal)
e tipicidade.
FATO TÍPICO
DOLO E CULPA
4.1. CONDUTA
Entende-se por conduta todo ato humano voluntário, omissivo ou comissivo, que produziu
resultado penalmente relevante. Assim, se a conduta não tiver sido praticada em decorrência da
vontade do agente, não haverá crime, como nas hipóteses de caso fortuito e força maior, atos
refexos, sonambulismo e coação física irresistível.
A coação física irresistível exclui o fato típico, enquanto que a coação moral irresistível exclui a
culpabilidade TEMA COBRADO NO XVII EXAME DA OAB/FGV.
código penal em que a omissão é mencionada tratando-se de previsão genérica do art. 13,
de forma expressa, deixando o agente de § 2º, do CP, em que o agente, apesar de ter
observar o comando legal. São crimes um dever jurídico de agir, deixa de fazê-lo,
considerados de mera conduta, porque são provocando resultado penalmente relevante.
consumados independentemente do resultado
naturalístico e não admitem tentativa. O dever de agir incumbe a quem:
• CRIME DOLOSO
Considera-se crime doloso aquele que foi praticado com a intenção livre e consciente do
agente, ou seja, o sujeito age com intenção de praticar fato penalmente tipifcado.
Sujeito pretende acabar com a vida de seu inimigo e, para tanto, disfere 5 golpes de faca contra
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a vítima, que acaba morrendo.
• Dolo Indireto: o agente deliberadamente assume o risco de praticar um crime,
sendo dividido em alternativo, onde existem dois resultados possíveis e o agente é
indiferente em relação a qual resultado será, e eventual, no qual o agente assume o
risco de produzir um resultado diverso do que estava previsto originariamente.
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• Age com dolo alternativo o sujeito que lança uma granada contra a vítima, para lesioná-la
ou matá-la.
• Atua com dolo eventual o sujeito que dispara contra a multidão para afastá-la, mas sabendo
que sua conduta pode ferir ou matar alguém.
• Dolo Genérico: o agente pretende praticar o crime sem nenhuma fnalidade específca.
• Dolo Específco: o agente age com uma intenção adicional que integra o próprio
conceito do fato típico, como no caso do crime de extorsão (art. 158 do CP), que, para
ser confgurado, exige o constrangimento, mediante violência ou grave ameaça, e a
intenção específca de obter vantagem econômica.
• CRIME CULPOSO
(...)
O crime culposo deriva de conduta voluntária que gera um delito não querido pelo agente, mas
que era previsto (culpa consciente) ou ao menos previsível (culpa inconsciente), e poderia ter sido
evitado se o agente tivesse agido com cautela.
• Conduta voluntária;
• Inobservância do dever de cuidado: imprudência, negligência e imperícia;
• Resultado involuntário: o agente não tem intenção de praticar o crime, já que, se
tivesse, o crime seria doloso.
• Nexo causal;
• Tipicidade: ninguém pode ser punido por crime culposo se não houver previsão legal.
• Previsibilidade objetiva: é a possibilidade de qualquer pessoa prever o resultado
(exemplo: qualquer pessoa sabe que dirigir veículo em alta velocidade é um risco
acentuado que pode gerar um acidente).
Digno de nota ainda que o Crime culposo é divido nas seguintes espécies:
• Culpa consciente: o agente prevê o resultado, mas espera que ele não ocorra, porque
acredita que pode evitá-lo com a sua habilidade TEMA COBRADO NO XII EXAME DA
OAB/FGV.
Atirador de facas que, apesar de acreditar que acertará a maçã colocada na cabeça da sua
assistente, acaba errando e acertando sua assistente.
• Culpa inconsciente: o agente não prevê o resultado, mas este era previsível.
Sujeito que dispara arma de fogo para o alto, a fm de comemorar o gol do seu time, e acaba
atingindo uma pessoa que passava próximo ao local.
• Culpa própria: é aquela em que o agente não quer causar o resultado, nem assume
o risco, mas o causa por imprudência, negligência ou imperícia. Pode ser consciente
ou inconsciente.
• Culpa imprópria: o agente, por um erro culposo (evitável), supõe equivocadamente
estar agindo numa situação excludente de ilicitude e, em razão dessa falsa percepção,
comete o crime de forma dolosa, mas, por política criminal, responderá como se
tivesse praticado o crime culposamente.
Salienta-se ainda que, apesar de parecidos, culpa consciente não se confunde com dolo eventual.
O agente prevê o resultado, mas acredita O agente não deseja diretamente o resultado,
que pode evitá-lo. mas assume o risco de produzi-lo e, se este
vier a acontecer, não se importa (“tanto faz”).
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• CRIME PRETERDOLOSO
O crime preterdoloso (além do dolo), também chamado de crime híbrido, é considerado aquele
que foi praticado com dolo, mas posteriormente houve uma conduta culposa do agente que
agravou o resultado (resultado agravador culposo).
Sujeito que tinha intenção de praticar um roubo, mas, por manuseio indevido da arma, acaba
matando a vítima.
Importante destacar que não se admite tentativa nos crimes preterdolosos, já que o resultado
lesivo gravoso fora cometido de forma culposa.
4.3. RESULTADO
O resultado jurídico signifca a própria ofensa à norma penal, ou seja, toda infração penal
acarreta um resultado jurídico.
O crime de ameaça (art. 147 do CP) exige apenas a conduta de quem ameaça, não prevendo qualquer
resultado, ou seja, o crime será consumado mesmo que a vítima não tenha se sentido ameaçada.
• Crime de mera conduta: no crime de mera conduta, além de não se exigir o resultado
naturalístico, a possibilidade de sua ocorrência é de difícil visualização, como no caso
do crime de porte ilegal de arma, em que a mera conduta de portar a arma já gera um
perigo em abstrato, sendo difícil visualizar a existência de um resultado naturalístico.
O código penal adotou, como regra geral, a teoria da equivalência dos antecedentes causais
(ou conditio sine qua non), segundo a qual se considera causa tudo aquilo que teria contribuído
com a realização do resultado.
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Entretanto, para se evitar o regressus ad infnitum, a teoria da conditio sine qua non é analisada
em conjunto com dolo e a culpa (causalidade psíquica), ou seja, aquele cuja conduta contribui para
a produção do resultado somente será penalizado se tiver agido com dolo ou culpa.
Além do dolo e da culpa (causalidade psíquica), a caracterização do nexo causal deve passar
ainda por mais um fltro, representado pela teoria da imputação objetiva, muito importante para a
prova da OAB/FGV.
“A” empurra “B” para evitar que este seja atingido por um tiro, mas “B”, em razão do empurrão,
acaba quebrando a perna. Neste caso, como a conduta de “A” foi destinada a preservar a vida
de “B”, não há a existência de um risco proibido, de modo que, pela teoria da imputação objetiva,
“A” não poderá ser responsabilizado pelo crime de lesão corporal.
• CONCAUSAS
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• Concausas Dependentes: encontram-se no desdobramento normal e previsível da
conduta, são, portanto, esperadas.
absolutamente independentes.
Não possuem qualquer vínculo com a conduta São aquelas que, apesar de independentes,
do agente, ou seja, produziriam o resultado dependem da atuação do agente para existirem.
mesmo que o agente não tivesse realizado sua
conduta. O agente responderá somente pelos Também possuem três modalidades:
atos praticados, e não pelo resultado. Podem ser:
• Preexistentes: a causa existe antes da
• Preexistentes: Exemplo – “A” dispara prática da conduta, mas é dela dependente.
contra “B”, que é atingindo no tórax. “B”, Exemplo: “A” dispara contra “B”, com intenção
entretanto, morre logo em seguida, porque de matá-lo, mas este vem a falecer em
havia ingerido veneno. Posteriormente é razão do agravamento das lesões por ser
comprovado pela autópsia que o tiro não hemofílico. “A” conhecia a doença de “B”.
contribuiu para a morte de “B”. Neste caso,
“A” responderá por tentativa de homicídio • Concomitantes: ocorre ao mesmo tempo
TEMA COBRADO NO XII EXAMES DA OAB/FGV. da conduta do agente. Exemplo: “A”, com
intenção de matar, efetua diversos disparos
• Concomitantes: Exemplo – “A” dispara contra “B” que, no mesmo momento,
contra “B”, que, no momento do tiro, teve um tem ataque cardíaco e acaba falecendo.
infarto fulminante. Prova-se pela autópsia
que o tiro não contribuiu para a morte “B “. Nas duas hipóteses acima citadas
(preexistente e concomitante), como a conduta
• Supervenientes: Exemplo - “A” coloca do agente foi decisiva para o resultado, “A”
veneno na comida de “B” que, sem perceber, responderá, pela teoria da conditio sine
volta ao seu trabalho. No caminho, “B” qua non, pelo crime de homicídio doloso.
é atropelado e acaba falecendo. Prova-
se pela autópsia que o envenenamento Se o agente, entretanto, desconhecer a concausa
não contribuiu para a morte “B “. preexistente e não agir com a intenção de matar,
não será responsabilizado pela morte, já que o
Nos exemplos acima, eliminando-se a direito penal não admite responsabilidade objetiva.
conduta de “A”, o resultado morte teria
ocorrido da mesma forma, ou seja, pela • Superveniente: aquela que ocorre
teoria da conditio sine qua non, “A” não deu posteriormente à conduta do agente.
causa ao resultado morte. Desse modo, “A”
responderá apenas pelos atos anteriores ao Deve ser subdivida em duas espécies:
resultado, ou seja, por tentativa de homicídio.
Quando não produziu por si só o resultado:
Exemplo: “A” dispara contra “B” que acaba falecendo
na mesa de cirurgia em virtude de imperícia do
cirurgião. Neste caso, “A” também responderá por
homicídio, já que sua conduta foi decisiva para
a morte de “B” (teoria da conditio sine qua non).
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Conforme demonstrado no quadro acima, conclui-se que uma exceção importante referente à
teoria da conditio sine qua non é justamente o contido no §1° do art. 13 do CP, que dispõe:
Art. 13 do CP
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
(..)
Com efeito, com base no exemplo dado anteriormente, em que “A” atira em “B” e este morre
em razão do acidente sofrido com a ambulância que o levava para o hospital, se fôssemos aplicar
a teoria da conditio sine qua non, “A” deveria responder por homicídio, uma vez que sua conduta foi
determinante para a morte de “B”. No entanto, por expressa determinação do Código Penal, como
a concausa superveniente, por si só, acarretou a morte de “B”, “A” responderá apenas por tentativa
de homicídio TEMA COBRADO NOS EXAMES IX, X E XXIX DA OAB/FGV.
CONCAUSAS INDEPENDENTES
ABSOLUTAMENTE RELATIVAMENTE
INDEPENDENTES INDEPENDENTES
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4.5. TIPICIDADE
O tipo penal é composto pelo núcleo do tipo, isto é, o verbo que caracteriza o crime (por
exemplo o verbo “matar”, no crime de homicídio), bem como por elementares e circunstâncias.
A palavra “alguém” no crime de homicídio (art. 121 do CP) é elementar do crime, uma vez que,
se retirada, não haverá o crime (atipicidade absoluta). Por outro lado, no crime de desacato
(art. 331 do CP), a eliminação da elementar “funcionário público” desclassifca a conduta para o
crime de injúria (art. 140 do CP), tratando-se de atipicidade relativa.
No entanto, existem situações que, apesar de serem típicas, podem descaracterizar a existência
de dolo e culpa, já que o agente teve uma percepção equivocada da realidade.
Essas situações se referem ao instituto denominado de erro de tipo, conforme art. 20, caput, do CP:
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Art. 20 do CP - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo,
mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
Caçador, vendo grande movimentação em uma moita, atira, pensando se tratar de um animal,
mas acaba matando seu amigo, que estava indevidamente no local. Nesse caso, se o erro, pelas
circunstâncias do caso concreto, for considerado inevitável (escusável), a conduta será considerada
atípica (exclui o dolo e a culpa). Entretanto, se o erro for considerado evitável (inescusável), haverá
apenas a exclusão do dolo, devendo o caçador responder por homicídio culposo.
• Erro de tipo acidental: representa a falsa percepção da realidade sobre elemento secundário
do tipo. É dividido nas seguintes subespécies:
• Erro sobre o objeto (error in re): existe uma falsa percepção sobre o objeto
do crime, já que o agente pretende atingir determinada coisa, mas atinge coisa
diversa, como na hipótese do sujeito que pretende furtar um relógio de ouro e
acaba furtando uma réplica. No caso de erro sobre o objeto, o sujeito responde
pela coisa efetivamente subtraída.
• Erro sobre a pessoa (error in persona – art. 20, § 3º, do CP): existe uma falsa
percepção sobre a vítima do crime, como na hipótese do criminoso que pretende
matar seu próprio pai, mas acaba se confundindo e matando um terceiro, com
características físicas próximas de seu genitor. Nesse caso, o agente responde
pelo crime como se tivesse matado a pessoa desejada, no caso, o próprio pai,
incidindo a agravante da prática do crime contra ascendente, conforme art. 61,
II, “e”, do CP TEMA COBRADO NOS EXAMES III E XX DA OAB/FGV.
• Erro na Execução (aberratio ictus – art. 73 do CP): o agente, por acidente ou
erro no uso dos meios de execução, ao invés de atingir a pessoa que pretendia
ofender, atinge pessoa diversa, hipótese em que será aplicado o mesmo
raciocínio do erro sobre a pessoa, devendo o agente responder como se tivesse
praticado o crime contra a pessoa desejada TEMA COBRADO NOS EXAMES
VI, XIX E XXIII DA OAB/FGV. Se em razão do erro na execução o agente atingir
a pessoa desejada e pessoa diversa (resultado duplo), deverá ser aplicada a
regra do concurso formal próprio (art. 70 do CP), ou seja, será aplicada a pena
do crime mais grave, aumentada de 1/6 até 1/2.
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José pretende matar seu próprio pai, mas, ao apontar a arma para o seu genitor, acaba acertando
outra pessoa, que vem a falecer. A intenção de José era matar seu pai, mas acabou matando
terceiro porque errou na execução do crime (não sabia manusear a arma, por exemplo). Nesse
caso, José responderá como se tivesse matado seu pai (homicídio doloso com a agravante de
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
prática do crime contra ascendente). Por outro lado, se José tivesse matado seu pai e terceira
pessoa por erro na execução, seria aplicada a regra do concurso formal.
No erro quanto à pessoa o agente confunde a vítima que queria atingir, enquanto que no aberratio
ictus, o agente não confunde a vítima, atingindo outra pessoa porque erra na execução do crime.
b) O agente ofende os dois bens jurídicos: o agente responde pelo concurso formal
de crime. Assim, no exemplo dado, se o agente atingir o pedestre e a pedra também
quebrar a vidraça, responderá pelo crime de dano em concurso formal com o crime
de lesão corporal culposa.
• Erro no nexo causal (aberratio causae): o agente acredita ter cometido um crime de um
modo, quando na verdade foi outro o meio por ele empregado que causou o delito. O exemplo
clássico de aberratio causae é o agente que pretende matar a vítima afogada, lançando-a
de uma ponte, mas a vítima acaba falecendo durante a queda, ao bater a cabeça em uma
pedra. Como o resultado prático é o mesmo (homicídio consumado), a aberratio causae não
possui muita relevância prática, devendo o agente responder pelo seu dolo genérico
TEMA COBRADO NO XXVII EXAME DA OAB/FGV.
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ERRO DE TIPO não se confunde com ERRO DE PROIBIÇÃO.
No erro de tipo o agente não sabe o que faz, ignorando elementar do crime ou dado complementar
do tipo penal, como no caso do sujeito que sai de uma festa e leva um paletó de outra pessoa,
achando que era seu. Nesse caso, o agente errou sobre o elemento “coisa alheia” do crime de
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
furto (art. 155 do CP), incidindo em erro de tipo. Já no erro de proibição (que será estudado
posteriormente) o agente comete o ato de forma consciente (sabe o que faz), mas acredita que
o fato não é crime, como no caso do sujeito que encontra um paletó de outra pessoa na rua e
leva para casa, mas acha que sua conduta não é crime, já que “achado não é roubado”.
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5. ANTIJURIDICIDADE
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
5.1. CONCEITO
Para a ocorrência de um crime não basta que a conduta represente um fato típico. Ela deve ser
ainda antijurídica (ilícita).
Há situações, portanto, que, apesar de serem típicas, não caracterizam crime, porque são
admitidas pelo ordenamento jurídico brasileiro, ou seja, são lícitas.
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser
reduzida de um a dois terços.
O estado de necessidade se refere a uma situação de perigo atual de determinado bem, cuja
preservação depende do sacrifício inevitável de outro bem de igual valor ou de valor inferior. Desse
modo, no caso de haver mais de um bem jurídico em perigo (colisão de bens protegidos), permite-se o
sacrifício de um deles para a salvaguarda do outro TEMA COBRADO NO XVI EXAME DA OAB/FGV.
31
• Perigo atual: necessário que haja uma probabilidade de dano atual e inevitável que
coloque em risco dois ou mais bens jurídicos, exigindo-se o sacrifício de um bem para
que o outro seja salvo.
• A situação de perigo não pode ter sido causada voluntariamente pelo agente.
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• A ação deve ocorrer para salvar direito próprio ou alheio: permite-se, portanto, o
estado de necessidade próprio ou de terceiro.
• Inexistência do dever legal de enfrentar o perigo: não poderá alegar estado de
necessidade aquele que tenha o dever legal de enfrentar o perigo (bombeiro, policial, etc.).
• Inevitabilidade do comportamento lesivo: o sacrifício deve ser necessário. Se for
possível a fuga da situação de perigo, não há que se falar em estado de necessidade.
A defesa contra ataques de animal não confgura, em tese, legítima defesa e sim de estado de
necessidade. Entretanto, se um ser humano se vale de animal para atacar outra pessoa, considera-
se que o animal é mero instrumento da conduta humana, permitindo-se a legítima defesa.
O estado de necessidade, embora exclua a ilicitude penal, poderá gerar o dever de indenizar
na esfera civil quando se tratar de estado de necessidade agressivo. Neste caso, a vítima deve
ingressar com ação em desfavor do causador do dano, e este tem direito de regresso contra
aquele que gerou o perigo.
• No estado de necessidade defensivo não há o dever de indenizar.
Importante destacar que o código penal adotou a teoria unitária em relação ao estado de
necessidade, de modo que será legítimo o estado de necessidade apenas quando o bem protegido
tiver valor igual ou superior ao bem jurídico sacrifcado. Se o bem sacrifcado tiver valor superior
ao bem protegido, não haverá excludente de ilicitude, mas a pena poderá ser reduzida de um a dois
terços, conforme §2º do art. 24 do CP.
32
5.3. LEGÍTIMA DEFESA
A Lei 13.964 /19 acrescentou o parágrafo único ao art. 16, mas, na prática, a redação do parágrafo
único apenas deixou expressa uma hipótese que já era considerada legítima defesa, como no caso
do policial que atira no bandido que coloca em risco a vida de um refém. .
• Agressão injusta: a agressão deve ser ilícita e proveniente de um ser humano. Desse
modo, contra ataques de animal não se trata, em tese, de legitima defesa e sim de
estado de necessidade. Entretanto, se um ser humano se vale de animal para atacar
outra pessoa, considera-se que o animal é mero instrumento da conduta humana,
permitindo-se a legítima defesa. TEMA COBRADO NO XXX EXAME DA OAB/FGV.
• Atualidade ou iminência da agressão: atual é a agressão que está ocorrendo e
iminente é a que está prestes a ocorrer. Não se admite, portanto, legítima defesa
contra ataque pretérito ou futuro TEMA COBRADO NO IX EXAME DA OAB/FGV.
“X” desfere um soco no estômago contra “Y”, que vai ao chão. Depois de alguns segundos, “Y“
se levanta e vai atrás de “X”, que já estava saindo do local. “Y” consegue alcançar “X” e o agride.
Nesse caso, “Y” não agiu em legítima defesa, uma vez que sua conduta não foi atual.
• Direito próprio ou alheio: qualquer direito, próprio ou de terceiro, admite legítima defesa.
• Uso dos meios necessários: considera-se necessário o meio menos lesivo à
disposição do agente, mas capaz de afastar a injusta agressão (Exemplo: se o agente
possui uma faca e uma arma, mas a faca já é sufciente para afastar a injusta agressão,
o uso da arma confgurará excesso).
• Uso moderado: o meio será considerado moderado quando houver proporcionalidade
entre a conduta do agente e o bem que pretende proteger. Terminada a agressão,
qualquer ato em face do agressor será considerado excesso
• Legítima defesa ativa: quando a reação ao agressor confgura fato típico (exemplo:
matar o agressor em legítima defesa);
• Legítima defesa passiva: quando a reação ao agressor não confgura fato típico
(exemplo: agente apenas se defende dos golpes, se esquivando);
33
• Legítima defesa real: é aquela em que o agente se defende de uma agressão que
realmente existe.
• Legítima defesa putativa: o agente se defende de uma agressão acreditando que
está em legítima defesa, mas sua percepção é falsa. Se o erro for escusável, haverá
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exclusão do dolo/culpa. Por outro lado, se o erro for inescusável, o agente será
condenado por crime culposo, se houver previsão TEMA COBRADO NO V EXAME
DA OAB/FGV;
• Legítima defesa sucessiva: ocorre quando o próprio agressor se defende do excesso
praticado em legítima defesa. Isso porque, a partir do momento em que foi afastada a
agressão inicial, não se permite qualquer ação por parte do ofendido, sob pena de se
caracterizar excesso. Havendo excesso, permite-se a legítima defesa.
• Legítima defesa subjetiva: o agente comete um excesso na sua reação, por meio de
um erro escusável (“excesso acidental”). A título de exemplo, imaginemos a hipótese
em que o agente, moderadamente, para se defender, dispara para o chão, porém, a
bala ricocheteia e acerta o ofensor.
• Legítima defesa preordenada: a FGV entende que os ofendículos, caracterizam
legítima defesa preordenada.
Não se permite a denominada legítima defesa real recíproca, já que aquele que agride
injustamente não pode estar ao mesmo tempo legitimamente se defendendo. Entretanto,
tratando-se de legítima defesa putativa, é possível que ela seja recíproca, como na hipótese
em que dois inimigos se aproximam para pedir desculpas, mas cada um deles acredita que a
aproximação do outro é uma agressão iminente, motivo pelo qual ambos iniciam uma agressão
simultânea. Nesta situação, haverá legítima defesa putativa recíproca.
Salienta-se ainda que é perfeitamente possível a legítima defesa real contra a legítima
defesa putativa, como na hipótese em que “A” se aproxima de “B” para pedir desculpa e, este,
acreditando que seria atacado, agride “A“ (legítima defesa putativa). A partir da agressão de “B”,
“A” poderá atuar em legítima defesa real.
34
LEGÍTIMA DEFESA ESTADO DE NECESSIDADE
Não se permite legítima defesa real recíproca Permite-se estado de necessidade recíproco
Por unanimidade, em março de 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) frmou entendimento de
que a tese da legítima defesa da honra é inconstitucional, por violar os princípios constitucionais
da dignidade da pessoa humana, da proteção à vida e da igualdade de gênero, conforme decidido
na (ADPF) 779.
Como regra geral atinge principalmente os agentes públicos, mas nada impede que alcance
também particulares.
A título de exemplo, um policial que realiza a prisão em fagrante de um criminoso não poderá ser
responsabilizado por restringir a liberdade do acusado, já que está apenas cumprindo o seu dever legal.
Para a caracterização do estrito cumprimento do dever legal, o agente, além de cumprir o seu
dever legal, deverá agir com proporcionalidade/razoabilidade.
Quem exerce regularmente um direito não pode ser punido pela prática de infração penal, isto
é, se o próprio direito autoriza uma determinada conduta, não pode ser essa mesma conduta
considerada ilícita na esfera penal.
35
• As lesões ocorridas dentro da prática regular desportiva não são consideradas ilícitas,
ainda que, abstratamente, possam caracterizar infração penal. Um boxeador, por exemplo,
não pode ser punido pelo crime de lesão corporal porque quebrou o nariz do seu adversário,
durante a luta de boxe.
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No entanto, para que a conduta do agente no exercício regular do seu direito não seja considerada
ilícita, ela deve ser utilizada com moderação e nos termos autorizados pela legislação. Eventuais
condutas abusivas, excessivas ou irregularidades serão consideradas ilícitas do ponto de vista penal.
Assim, o boxeador que desfere um pontapé ou morde a orelha do seu adversário durante uma
luta de boxe, ou o pai que agride o rosto do seu flho sob o pretexto de educá-lo, agem de forma
irregular abusiva, podendo ser responsabilizados penalmente, nos exemplos dados, por lesão
corporal dolosa.
Art. 20 do CP (...)
Há situações em que o agente, por erro, supõe equivocadamente estar agindo numa situação
de excludente de ilicitude e, em razão dessa falsa percepção, acaba cometendo o crime.
Nesses casos, se o erro for plenamente justifcável pelas circunstâncias, o agente será isento
de pena. Entretanto, se o erro for evitável, o agente responderá como se tivesse praticado o crime
culposamente (culpa imprópria).
A teoria da tipicidade conglobante, capitaneada pelo penalista Eugênio Raúl Zaffaroni, defende
que a tipicidade não pode representar meramente a correspondência formal entre a conduta
praticada e a infração penal em abstrato (tipicidade legal), devendo analisar ainda se aquela
conduta ofende o ordenamento jurídico em seu conjunto.
36
Em outras palavras, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular do direito
não deveriam ser considerados excludentes de antijuridicidade e sim de tipicidade, uma vez que,
analisada a conduta de forma “conglobante”, ela seria permitida pelo ordenamento jurídico, de
modo que não poderia sequer ser considerada fato típico.
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37
6
6. CULPABILIDADE
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• Imputabilidade
• Potencial consciência da ilicitude
• Exigibilidade de conduta diversa
CULPABILIDADE
POTENCIAL
EXIGIBILIDADE DE
IMPUTABILIDADE CONSCIÊNCIA DA
CONDUTA DIVERSA
ILICITUDE
6.1. IMPUTABILIDADE
Redução de pena
Se o agente for considerado inimputável pelo critério biopsicológico, ele será sujeito à medida
de segurança, imposta na chamada sentença absolutória imprópria. TEMA COBRADO NO XXX
EXAME DA OAB/FGV.
Por outro lado, tratando-se de percepção da realidade diminuída (“não era inteiramente
capaz de entender o caráter ilícito do fato”), ou semi-imputabilidade, embora o agente não seja
considerado inimputável, o parágrafo único do art. 26 do CP permite a redução da pena de um a
dois terços.
INIMPUTÁVEL SEMI-IMPUTÁVEL
Salienta-se, entretanto, que Código Penal, como exceção à regra geral, adotou o critério
biológico em um único caso: quando se tratar de pessoa menor de 18 anos de idade, hipótese em
que a inimputabilidade será presumida de forma absoluta, independentemente do entendimento
do agente sobre a ilicitude do fato.
Conforme previsto no art. 28, II, do CP, a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou
substância de efeitos análogos não exclui a culpabilidade nem reduz a pena. Trata-se da aplicação
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da teoria da actio libera in causa (ação livre da causa), segundo a qual, se o agente tinha liberdade
de escolha para se embriagar, deverá responder normalmente pelos seus atos, caso cometa algum
crime embriagado. TEMA COBRADO NO XXXIII EXAME DA OAB/FGV.
Já no caso embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, em que o agente,
ao tempo da ação ou da omissão, era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou
de determinar-se de acordo com esse entendimento, haverá exclusão da culpabilidade, sendo o
único caso em o agente será isento de pena TEMA COBRADO NO XVI EXAME DA OAB/FGV.
Se, apesar da embriaguez proveniente de caso fortuito ou força maior, o agente tiver o mínimo
de entendimento sobre o caráter ilícito do fato, não haverá isenção de pena, mas esta poderá ser
reduzida de um a dois terços (§ 2º do art. 28 do CP).
RESUMINDO:
• EMBRIAGUEZ CULPOSA: responde normalmente pelo crime (art. 28, II, do CP).
• EMBRIAGUEZ PREORDENADA: responde pelo crime incidência da circunstância agravante
genérica prevista no art. 61, II, “l”, do CP.
• EMBRIAGUEZ EM CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR: a) se o agente era inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato: haverá isenção da pena (§ 1º do art. 28 do CP);
b) se o agente tiver o mínimo de entendimento sobre o caráter ilícito do fato: a pena poderá
ser reduzida de um a dois terços (§ 2º do art. 28 do CP).
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• EMOÇÃO E PAIXÃO
A emoção ou paixão, conforme previsto no art. 28, I, do CP, não são capazes de excluir a
culpabilidade, mas podem possuir efeitos diferentes sobre a pena.
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Embora o conhecimento da lei seja obrigatório para todas as pessoas, existem situações em
que o agente atua conscientemente, mas acreditando que não há qualquer ilicitude na sua conduta,
o que se denomina de erro de proibição.
Conforme estudado anteriormente ERRO DE TIPO não se confunde com ERRO DE PROBIÇÃO. No
Erro de tipo o agente não sabe o que faz, ignorando elementar do crime ou dado complementar
do tipo penal. Já no erro de proibição o agente comete o ato de forma consciente (sabe o que
faz), mas acredita que o fato não é crime.
• Erro de proibição evitável: haverá redução da pena de 1/3 a 1/6, conforme art. 21 do CP.
Erro de proibição direto: o agente se equivoca quanto ao conteúdo de uma norma proibitiva,
seja por desconhecer ou ignorar a existência do crime (ex.: holandês, que consume maconha na
Holanda, e acredita ser possível utilizar a droga no Brasil, equivocando-se quanto à ilicitude de
suua conduta).
41
Erro de proibição indireto (descriminante putativa por erro de proibição): o agente sabe que
a sua conduta caracteriza crime, mas aredita que está presente uma causa excludente da ilicitude,
Se no caso concreto não se puder exigir do agente conduta diferente daquela que ele tomou,
signifca que ele não poderá ser censurado pelo que fez, excluindo-se sua culpabilidade.
• A coação moral irresistível não se confunde com a coação física irresistível, já que,
enquanto aquela exclui a culpabilidade, esta exclui o fato típico.
• Tratando-se de coação resistível, não haverá exclusão da culpabilidade, podendo o coagido
ter sua pena atenuada (art. 65 do CP).
Delegado de Polícia discute com uma pessoa dentro da delegacia e manda o investigador
algemar o cidadão e colocá-lo na cela, mas o Promotor de Justiça entende que houve crime
de abuso de autoridade (desrespeito à Súmula Vinculante n. 11 do STF). Nesse caso, apenas o
Delegado poderá ser penalizado pelo crime, já que o Investigador cumpriu uma ordem ilegal,
mas cuja ilegalidade não era manifesta.
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7
• QUANTO AO RESULTADO
• Crime de dano: que é aquele em que há efetiva “destruição” do bem protegido, como
no caso dos crime de homicídio e lesão corporal.
• Crime de perigo: sua caracterização exige apenas a probabilidade de dano. É
subdividido em: a) crime de perigo concreto (a situação de perigo deve ser demonstrada
no caso concreto) e b) crime de perigo abstrato (o perigo é presumido pela lei, como
no caso dos crimes de tráfco ilícito de drogas e de porte ilegal de arma de fogo).
• Crime comum: é aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa, não se exigindo
qualidade especial do sujeito ativo, como no caso dos crimes de furto e homicídio.
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• Crime próprio: exige-se qualidade especial do sujeito ativo, como no caso dos
crimes de infanticídio (sujeito ativo deve ser a mãe) e de peculato (sujeito ativo deve
ser servidor público)
• Crime de mão própria: é aquele que somente pode ser praticado pessoalmente pelo
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agente designado no tipo, não se admitindo coautoria, como no caso dos crimes de
falso testemunho e bigamia.
• Crime vago: é aquele em que o sujeito passivo é destituído de personalidade jurídica,
ou seja, a vítima é indeterminada, como no casos dos crimes de ato obsceno e tráfco
ilícito de drogas.
• Crime transeunte: é aquele que não deixa vestígios, como no caso do crime de ato obsceno.
• Crime não transeunte: é aquele que deixa vestígios, sendo obrigatória a elaboração
de exame de corpo de delito, sob pena de nulidade da sentença.
• Crime principal: não depende de outro crime para a sua caracterização, como no
caso dos crime de homicídio e de furto.
• Crime acessório, parasitário, ou delito de fusão: é aquele que depende de outro
crime (chamado de crime antecedente ou pressuposto) para sua caracterização, como
no caso dos crimes de lavagem de dinheiro e receptação.
• OUTRAS CLASSIFICAÇÕES
1 Art. 304 do CP- Fazer uso de qualquer dos papéis falsifcados ou alterados, a que se referem os
arts. 297 a 302:
Pena - a cominada à falsifcação ou à alteração.
44
• Crime de atentado ou empreendimento: é aquele em que consumação e tentativa
são apenadas da mesma maneira, porque foi adotada a teoria voluntarista ou
subjetiva para sua punição, isto é, pune-se a intenção do agente, independentemente
do resultado (exemplo: crime de evasão de preso mediante violência - art. 352 do CP).
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
45
8
Para a consumação do crime o agente deverá percorrer quatro etapas, as quais compõem o
denominado iter criminis, ou caminho do crime. Essas etapas são:
• Cogitação: pensamento sobre a pratica do crime, que não é punível pelo direito penal.
• Preparação: são atos de preparação do crime, como, por exemplo, a compra dos
materiais que serão utilizados na prática delituosa. Como regra geral, não é punível
pelo código penal.
• Execução: inicia-se a prática do ato defnido como infração penal. Se o crime não se
consumar, o agente será punido pela tentativa.
• Consumação: trata-se da fase fnal do iter criminis, em que todos os elementos para
a realização do crime foram realizados.
Como regra geral, as duas primeiras etapas do iter criminis não são puníveis pelo direito
penal. Entretanto, a partir da execução, podemos ter diversas situações em que o agente será
punido, mesmo que o crime não se consuma:
Conforme previsto no art. 14, II, do CP, o crime é considerado tentado quando, iniciada a
execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. No caso de tentativa,
salvo disposição em contrário, o agente será punido com a pena correspondente ao crime
consumado, diminuída de um a dois terços.
46
Excepcionalmente a tentativa é punida com a mesma pena prevista para o crime consumado,
sem qualquer diminuição, o que é denominado de crime de atentado ou empreendimento, como
no caso do crime previsto no art. 352 do CP.
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É importante destacar que, na tentativa, o agente possui o mesmo dolo do crime consumado,
mas não alcança o resultado em virtude de circunstâncias alheias a sua vontade.
Agente desfere diversas facadas contra a vítima para matá-la, mas não consegue atingir o
resultado porque a polícia interrompe a sua ação. Neste caso, como o agente não conseguiu
consumar o homicídio em razão de circunstâncias alheias a sua vontade, responderá apenas
pela tentativa.
Na culpa imprópria, em que, por erro evitável, o agente supõe equivocadamente estar agindo
em situação de excludente de ilicitude, é possível a tentativa, já que o crime é praticado com
dolo, mas, por política criminal, é punido como se tivesse sido praticado na forma tentada.
• CLASSIFICAÇÃO DA TENTATIVA:
“A” possui 5 balas no revólver, dispara 2 tiros contra a vítima, mas no momento que vai
disparar o terceiro tiro, é convencido por terceiro pessoa a parar a conduta e deixar a vítima
viva. Entretanto, no mesmo exemplo, se o agressor deixa de consumar o crime em razão da
aproximação de policiais, não haverá desistência voluntária e sim tentativa.
Havendo desistência voluntária, o agente responderá apenas pelos atos praticados. Assim, se
o agente, por exemplo, objetiva roubar a vítima, mas após causar-lhe lesões corporais de natureza
leve, desiste de subtrair o bem, o sujeito responderá apenas pelo crime de lesão corporal TEMA
COBRADO NO III EXAME DA OAB/FGV.
Em outras palavras, embora tenha esgotado o processo de execução, o crime não se consuma
em razão da vontade do agente, que toma atitudes para evitá-lo.
Havendo arrependimento efcaz, o agente também responderá apenas pelos atos praticados
TEMA COBRADO NO XIX EXAME DA OAB/FGV.
O agente dispara 2 tiros contra a vítima que fca ferida, sem oferecer qualquer resistência.
O agressor, entretanto, se arrepende da conduta e encaminha a vítima ao hospital, salvando
sua vida. Nesse caso, o agente não responderá pela tentativa de homicídio e sim pelos atos
praticados, a saber: disparo de arma de fogo e lesões corporais.
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DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA ARREPENDIMENTO EFICAZ
Só pode acontecer durante uma tentativa Só pode acontecer durante uma tentativa
imperfeita ou inacabada perfeita ou crime falho.
Responderá pelos atos praticados e não por tentativa Responderá pelos atos praticados e não
por tentativa
“na tentativa, o agente quer consumar o crime, mas não pode. Na desistência voluntária e no
arrependimento efcaz, o agente pode consumar o crime, mas não quer” (fórmula de Frank).
O arrependimento posterior não pode ser confundido com o arrependimento efcaz, já que
neste o crime não foi consumado, enquanto naquele já houve a consumação do delito.
Além disso, o arrependimento posterior é causa geral de diminuição da pena (de 1/3 a 2/3) e
deve preencher os seguintes requisitos TEMA COBRADO NOS EXAMES XVIII E XXIV DA OAB/FGV.
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ARREPENDIMENTO EFICAZ ARREPENDIMENTO POSTERIOR
Art. 17 do CP - Não se pune a tentativa quando, por inefcácia absoluta do meio ou por
absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime
Considera-se crime impossível (ou quase-crime) aquele que não pode ser consumado em
razão da inefcácia absoluta do meio, por absoluta impropriedade do objeto ou em razão de obra
do agente provocador.
• Inefcácia absoluta do meio: quando o meio empregado não é efcaz para atingir
o bem jurídico tutelado. A título de exemplo, não é possível punir por tentativa de
homicídio o indivíduo que objetivava matar o seu inimigo se valendo do poder da
mente, ou de um feitiço.
• Absoluta impropriedade do objeto: o objeto não possui as características necessárias
para que o crime seja consumado. A título de exemplo, não é possível matar um
cadáver, já que o corpo (objeto) já está sem vida TEMA COBRADO NOS EXAMES
VII, XVII, XVIII E XXIII DA OAB/FGV.
• Obra do agente provocador (delito de ensaio): ocorre quando o próprio agente
estatal tenta estimular a prática de um crime, para prender o criminoso. Como a ação
é premeditada, e o bem jurídico não é colocado efetivamente em risco, impossível sua
consumação. Sobre o tema, a Súmula n. 145 do STF dispõe:
Súmula 145 do STF - Não há crime, quando a preparação do fagrante pela polícia torna
impossível a sua consumação.
50
9
Quando mais de uma pessoa tiver concorrido pela prática do mesmo crime, estaremos diante
da hipótese de concurso de pessoas, desde que preenchidos os seguintes requisitos:
• Pluralidade de agentes
• Liame Subjetivo: é necessária a existência da vontade de colaborar com a prática
do crime
• Relevância causal: a colaboração deve ser relevante para a prática do crime
• Unidade de crime
Conforme estudado no capítulo anterior, existem crimes que podem ser praticados por uma ou
mais pessoas (unissubjetivos) e crimes que necessariamente serão praticados por uma pluralidade
de pessoas (plurissubjetivos). Desse modo, nos crimes unissubjetivos poderá haver concurso de
pessoas, enquanto que nos crimes plurissubjetivos o concurso ocorrerá necessariamente.
Existem ao menos três teorias que objetivam explicar quem é autor e quem é partícipe no
concurso de pessoas.
• Teoria Unitária: não há distinção entre autor e partícipe, já que todo aquele que
concorre direta ou indiretamente para o resultado seria considerado autor do crime.
• Teoria Restritiva ou Formal Objetiva: autor é aquele que exerce elementar do tipo
penal, inclusive o verbo, enquanto que o partícipe é aquele que, sem exercer elementar
do tipo, concorre de qualquer modo para a prática do delito.
• Teoria do Domínio do Fato: autor é aquele que tem o controle da ação criminosa, para
dar-lhe início, continuação ou fm. Nessa teoria além do executor, o autor intelectual,
o mandante, e o autor mediato são autores, enquanto que o partícipe, por exclusão, é
aquele que concorre de qualquer modo para o crime sem ter este domínio.
• AUTORIA
Autor do crime, para a teoria restritiva, é aquele que pratica as elementares do tipo penal ou,
para a teoria do domínio do fato, é aquele tem o domínio sobre a ação criminosa.
• Autoria Mediata: o autor mediato não realiza diretamente a conduta típica, valendo-se de
terceira pessoa como um instrumento para a prática delitiva, como no caso do agente que
utiliza uma pessoa sem discernimento para pratica de um delito, ou ainda nas hipóteses de
coação moral irresistível e de erro de tipo ocasionado em virtude de conduta de terceiro.
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Na autoria mediata NÃO existe concurso de pessoa, uma vez que o executor não deseja praticar
o crime, de modo que apenas o autor mediato deverá ser responsabilizado criminalmente.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
• Autoria Colateral: ocorre quando o crime é praticado ao mesmo tempo por mais de
um agente, sem, entretanto, haver liame subjetivo entre eles. O exemplo clássico de
autoria colateral ocorre quando duas pessoas “A” e “B”, sem qualquer ligação entre si,
atiram contra a vítima “C”, ao mesmo tempo, matando-a. Nesta situação, cada agente
responderá pelo resultado que causar, ou seja, se foi o disparo de “A” que matou “C”,
“A” responderá por homicídio, enquanto que “B” responderá por tentativa de homicídio.
Agora, se foi a conduta de “B” que matou “C”, “B” responderá por homicídio e “A” por
tentativa. Se não for possível determinar qual dos agentes foi responsável pela morte
da vítima, estaremos diante da situação de autoria incerta, devendo ambos os agentes
responder por tentativa de homicídio, em virtude do princípio in dubio pro reo.
Nas hipóteses de autoria colateral e autoria incerta não haverá concurso de pessoas uma vez
que não há liame subjetivo entre os agentes do crime.
• COAUTORIA
A coautoria ocorre quando duas ou mais pessoas exercem elementares do tipo penal, segundo
a teoria restritiva, ou têm o controle da ação criminosa, segundo teoria do domínio do fato.
• PARTICIPAÇÃO
A participação ocorre quando alguém, de qualquer modo, concorre para o crime sem exercer
elementares do tipo (teoria restritiva) ou sem ter o domínio da ação criminosa (teoria do domínio do fato).
A participação, portanto, possui caráter acessório e será punida, como regra geral, apenas se a
execução do crime for iniciada, conforme previsto no art. 31 do CP, que dispõe:
“A” entrega veneno para que “B” mate “C”. Se “B” não fzer nada, “A” não será punido.
Além disso, não há que se falar em participação se a conduta for irrelevante para a prática do crime
(participação inócua), já que ausente o nexo causal TEMA COBRADO NO XVI EXAME DA OAB/FGV.
• Moral: ocorre por meio de induzimento (criar ideia que não existia na mente do
agente) ou instigação (alimentar ideia já existente na mente do agente).
52
• Material: ocorre por meio do auxílio/ajuda, como no caso do sujeito que empresta a
arma para o agente praticar o crime.
• Teoria da acessoriedade mínima: para essa teoria, basta que a conduta principal
seja considerada fato típico para que a participação seja penalmente relevante. Esta
teoria foi descartada porque acarreta uma contradição grave, já que o partícipe pode
instigar alguém a agir em legitima defesa e mesmo assim responder criminalmente.
• Teoria da acessoriedade média ou limitada: para que seja punível a conduta do
partícipe o fato deve ser típico e ilícito.
• Teoria da acessoriedade máxima: para que seja punível a conduta do partícipe o fato
deve ser típico, ilícito e culpável.
• Teoria da hiperacessoriedade: para que seja punível a conduta do partícipe o fato
deve ser típico, ilícito, culpável e punível.
• TEORIA MONISTA
Art. 29 do CP - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este
cominadas, na medida de sua culpabilidade.
O código penal adotou a teoria monista, unitária ou igualitária para o concurso de pessoas,
isto é, todos aqueles que concorreram para o crime (coautores e partícipes) respondem pelo
mesmo tipo penal e com a mesma pena cominada em abstrato, mas, se houver participação de
menor importância, o partícipe poderá ter sua pena diminuída de 1/6 a 1/3, conforme previsto no
§ 1º do art. 29 do CP TEMA COBRADO NO VII EXAME DA OAB/FGV.
53
“A” combina com “B” de furtar uma determinada residência. Enquanto “B” ingressa na casa, “A”
fca vigiando a rua. Dentro da casa, “B” se depara com um morador inesperado, mata-o com
uma arma que carregava escondido e, posteriormente, subtrai alguns bens. Neste caso, “A”
responde por furto e “B” por latrocínio.
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54
• No infanticídio (art. 123 do CP), a infuência do estado puerperal é elementar do tipo penal,
por esta razão, comunica-se aos demais agentes do crime. Assim, se “X” ajudar a mulher
“Y”, que está sob a infuência do estado puerperal, a matar seu flho recém-nascido, ambos
respondem por infanticídio.
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• Nos crimes funcionais típicos, como no caso do peculato, a qualidade de funcionário público,
por ser elementar do tipo, comunica-se ao particular que concorreu para a prática delituosa.
• “X” pretende matar o seu próprio pai e, para tanto, pede ajuda a seu melhor amigo “Z”.
Ambos em coautoria matam o pai de “X”. Neste caso, “X” responderá por homicídio doloso
com a agravante do crime praticado contra ascendente, enquanto “Z” responderá por
homicídio sem a agravante, já que esta é circunstância de caráter pessoal (apenas “X” é
descendente da vítima).
55
10
Art. 69 do CP- Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois
ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de
liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão
e de detenção, executa-se primeiro aquela.
§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de
liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição
de que trata o art. 44 deste Código.
O concurso material, ou concurso real, ocorre quando o agente, mediante duas ou mais
condutas, pratica dois ou mais crimes.
Como regra geral, não há restrições quanto às infrações penais no concurso material, sendo
possível a existência de concurso material envolvendo crimes dolosos e culposos, contravenções
penais e crimes, crimes consumados e tentados.
No que diz respeito à sanção, o juiz deverá aplicar a pena para cada um dos crimes cometidos
e, posteriormente, somá-las (sistema do cúmulo material de penas).
Além disso, é possível que o juiz aplique pena privativa de liberdade para um crime e pena
56
restritiva de direito para o outro crime do concurso material, desde que a pena privativa de
liberdade tenha sido suspensa pelo sursis (§ 1º do art. 69 do CP).
Art. 70 do CP - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais,
somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As
penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes
concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69
deste Código.
No concurso formal o agente, mediante uma única conduta, pratica dois ou mais crimes.
É aquele que decorre de uma única vontade ou desígnio do agente TEMA COBRADO NO XV
EXAME DA OAB/FGV.
“A” atira com o objetivo de matar “B”, mas, além de matar a vítima, acaba ferindo “C”
Havendo concurso formal perfeito, a pena do crime mais grave será aumentada de 1/6 até a
metade (sistema da exasperação da pena), como forma de se evitar penas exageradas para crimes
cometidos com propósito único.
57
Mário pretende matar três colegas do seu trabalho. Para tanto, lança uma granada na sala
onde as vítimas trabalham, conseguindo matá-las. Nesse caso, embora Mário tenha tido
apenas uma conduta, a real intenção era praticar mais de um crime, motivo pelo qual haverá
concurso formal imperfeito.
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Como há desígnios autônomos, a regra no concurso formal perfeito é que haja a somatória
das penas dos crimes, assim como no concurso material, para evitar que criminosos audazes
se benefciem indevidamente da regra do concurso formal perfeito TEMA COBRADO NO XXV
EXAME DA OAB/FGV.
Art. 71 do CP - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois
ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de
execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação
do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se
diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com
violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os
antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se
diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75
deste Código.
O crime continuado ocorre quando o agente, mediante duas ou mais condutas, pratica crimes
da mesma espécie que, em razão da semelhança de tempo, lugar e modo de execução, são
considerados atos de continuação do crime principal.
Requisitos:
• Crimes da mesma espécie: são os crimes previstos no mesmo tipo penal, ainda que
cometido de forma simples, qualifcada, privilegiada, tentada ou consumada.
• Conexão espacial: mesma localidade ou cidades próximas.
• Conexão temporal: como regra a jurisprudência admite intervalo máximo de 30 dias
entre os crimes. 58
• Semelhança no modo de execução: os crimes devem guardar semelhança no modo
de execução (mesmos comparsas, armas, horário, etc.).
• Crime continuado comum (caput do art. 71 do CP): os delitos não são cometidos
com violência ou grave ameaça contra a pessoa. Nesse caso, aplica-se a pena de um
só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer
caso, de 1/6 a 2/3.
• Crime continuado específco: o crime continuado é composto por crimes dolosos,
cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa. Aplica-se a pena de um só dos
crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentando-a até o triplo TEMA
COBRADO NO XXVI EXAME.
CRIME CONTINUADO
CRIME CONTINUADO COMUM ESPECÍFICO
• Delitos NÃO são cometidos sem violência • Delitos cometidos com violência ou
ou grave ameaça grave ameaça
• Aplica-se a pena mais grave, que poderá • Aplica-se a pena mais grave, que
ser aumentada de 1/6 a 2/3 poderá ser aumentada até o triplo
Conforme estudado acima, nas hipóteses de concurso material (art. 69 do CP) e concurso formal
imperfeito (art. 70, caput, segunda parte, do CP), as penas previstas para os crimes cometidos
aplicam-se cumulativamente (sistema do cúmulo material ou da acumulação), enquanto que nos
casos de concurso formal perfeito (art. 70, caput, primeira parte, do CP) e de crime continuado
(art. 71, do CP), aplica-se a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas,
mas aumentada até certo patamar previsto para cada caso (sistema da exasperação). TEMA
COBRADO NOS EXAMES II e XXXIII DA OAB/FGV.
59
11
A sanção penal representa a reação do Estado em face do agente que cometeu infração penal,
subdividindo-se em medida de segurança e pena.
SANÇÕES
MEDIDAS DE
PENA
SEGURANÇA
INIMPUTÁVEL SEMI-IMPUTÁVEL
60
Como regra geral, se o crime cometido pelo inimputável for apenado com reclusão, deverá ser
imposta internação, enquanto que, se a pena for de detenção, o Juiz poderá optar entre uma das
formas de Medida de Segurança (interdição ou tratamento ambulatorial).
De acordo com o § 1º do art. 97 do CP, a medida de segurança tem prazo mínimo de 1(um)
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a 3(três) anos, mas perdura por tempo indeterminado, enquanto não for averiguada, mediante
perícia médica, a cessação de periculosidade do agente.
Esse dispositivo, entretanto, é muito criticado pela doutrina e pela jurisprudência, uma vez que
a inexistência de um limite máximo para a medida de segurança ofenderia o disposto no art. 5º,
XLVII, da CF/88, que veda “penas de caráter perpétuo”.
Súmula n. 527 do STJ: O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar
o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado.
Cabe destacar ainda que, se a inimputabilidade for verifcada na fase de execução da pena,
o juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública ou da autoridade
administrativa, poderá determinar a substituição da pena por medida de segurança, conforme art.
183 da LEP TEMA COBRADO NO XI EXAME DA OAB/FGV. Se isso ocorrer, quando for verifcada
a recuperação do condenado, ele deverá voltar a cumprir a pena imposta na sentença, sendo que
o período de internação será contado como tempo de cumprimento de pena.
11.2. PENA
O Código Penal prevê 3 (três) espécies de pena, a saber: a) pena privativa de liberdade; b) pena
restritiva de direitos e c) pena de multa.
ESPÉCIES DE PENA
PRIVATIVAS DE RESTRITIVAS DE
MULTA
LIBERDADE DIREITO
61
11.2.1. PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
a) Reclusão;
b) Detenção;
Conforme previsto no art. 33 do CP, a pena de reclusão pode ser cumprida em regime fechado,
semiaberto ou aberto, a depender da pena imposta ao condenado.
Já a pena de detenção deve ser cumprida em regime semiaberto, ou aberto, sendo vedada
imposição de regime inicial fechado, que será admitido apenas em virtude de regressão.
Já a pena de prisão simples é específca para as contravenções penais, devendo ser cumprida,
sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em
regime semiaberto ou aberto (art. 6º, caput, da Lei das Contravenções Penais).
Destaca-se ainda que o condenado a pena de prisão simples fca sempre separado dos
condenados a pena de reclusão ou de detenção e o trabalho é facultativo, se a pena aplicada, não
exceder a quinze dias (§ 1º e § 2º do art. 6º).
REGIME
REGIME ABERTO SEMIABERTO REGIME FECHADO
62
Importante destacar que, se o condenado à pena de reclusão for reincidente, o regime inicial
de cumprimento de pena deve ser o regime fechado. Entretanto, a Súmula n. 269 do STJ admite
a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a
quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.
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Digno de nota também que, de acordo com a Súmula n. 718 do STF, a opinião do julgador sobre
a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais
severo do que o permitido segundo a pena aplicada. Em outras palavras, a quantidade da pena ou
a reincidência que estabelecem o regime de cumprimento da pena, sendo irrelevante a opinião do
julgador sobre a gravidade do crime.
• PROGRESSÃO DE REGIME
Como regra geral, com as alterações promovidas pela Lei n. 13.964/19 (pacote anticirme),
para ter direito à progressão de regime, o art. 112 da LEP estabelece que o condenado deve
cumprir os seguintes requisitos:
• Primário que praticou infração comum sem violência ou grave ameaça: 16% da pena.
• Primário que praticou infração comum com violência ou grave ameaça: 20% da pena.
• Reincidente que praticou infração comum sem violência ou grave ameaça: 25 % da pena.
• Reincidente que praticou infração comum com violência ou grave ameaça: 30% da pena.
• Primário que praticou crime hediondo sem resultado morte: 40% da pena.
• Primário que praticou crime hediondo com resultado morte: 50% da pena, sendo vedado
livramento condicional.
• Reincidente específco que praticou crime hediondo ou equiparado sem resultado morte:
60% da pena.
• Reincidente específco que praticou crime hediondo ou equiparado com resultado morte:
70% da pena.
63
Importante registrar que a Lei nº 13.769/2018 acrescentou o § 3º ao art. 112 da LEP, criando
um regime especial de progressão, mais brando, aplicável inclusive para os crimes hediondos,
para condenadas: a) gestantes; ou b) que sejam mães ou responsáveis por crianças ou pessoas
com defciência.
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(...)
III - ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior;
Destaca-se ainda que o art. 115 da Lei de Execuções Penais (LEP) estabelece que o juiz pode
estabelecer algumas condições especiais para a concessão de regime aberto:
I - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga;
No entanto, não será possível a imposição de medidas que confgurem pena restritiva de
direito, como, por exemplo, a prestação de serviços à comunidade, conforme inclusive disposto na
Súmula 493 do STJ: “É inadmissível a fxação de pena substitutiva (art. 44 do CP) como condição
especial ao regime aberto” TEMA COBRADO NO IX EXAME DA OAB/FGV.
64
• Súmula n. 491 do STJ: É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional.
• Súmula n. 716 do STF: Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a
aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado
da sentença condenatória.
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• Súmula 717 do STF: Não impede a progressão de regime de execução da pena, fxada em
sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão especial.
• Súmula n. 718 do STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime
não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido
segundo a pena aplicada.
• Súmula Vinculante n. 26 do STF: Para efeito de progressão de regime no cumprimento de
pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade
do art. 2º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado
preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para
tal fm, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.
• REMIÇÃO
Conforme previsto no art. 126 da LEP, o condenado que cumpre a pena em regime fechado ou
semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.
O art. 127 da LEP teve sua constitucionalidade questionada. No entanto, o STF frmou
posicionamento no sentido de que o referido artigo foi recepcionado pela ordem constitucional
vigente, não se lhe aplicando o limite temporal previsto no caput do artigo 58 da LEP, que prevê
que a restrição de direitos não poderá exceder a 30 dias (Súmula Vinculante n. 9 do STF)2.
É importante consignar ainda que o trabalho é um dever do preso (art. 39, V, da LEP), sendo
que a negativa injustifcada de prestá-lo representa falta grave (art. 50 da LEP), podendo prejudicar
o preso na aquisição de direitos durante o cumprimento da pena (progressão de regime, saída
temporária, etc).
2 Súmula Vinculante n.9: O disposto no artigo 127 da Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) foi
recebido pela ordem constitucional vigente, e não se lhe aplica o limite temporal previsto no caput do artigo 58.
65
• DETRAÇÃO
estabelecimento adequado.
• REGRESSÃO DE REGIME
Art. 118 da LEP. A execução da pena privativa de liberdade fcará sujeita à forma regressiva,
com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:
II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em
execução, torne incabível o regime (artigo 111).
§ 1° O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas
nos incisos anteriores, frustrar os fns da execução ou não pagar, podendo, a multa
cumulativamente imposta.
A regressão de regime signifca a passagem de regime menos rigoroso para um mais rigoroso
e, diferentemente do que ocorre na progressão, poderá ser “por salto”, isto é, diretamente do
regime aberto para o fechado.
“X” foi condenado defnitivamente à pena de 7 anos de reclusão em regime semiaberto. Após 2
meses do início do cumprimento da pena, foi novamente condenado defnitivamente, em razão da
prática de crime anterior, à pena de reclusão de 3 anos, em regime aberto. Neste caso, somando-
se as penas, teremos um total de quase 9 anos de reclusão, o que é incompatível com o regime
semiaberto, de modo que “X” terá a pena regredida para cumprimento em regime fechado.
• No caso de cumprimento de pena em regime aberto se, além das hipóteses referidas
nos incisos anteriores, frustrar os fns da execução ou não pagar, podendo, a multa
cumulativamente imposta.
Parte da doutrina entende que regressão do regime aberto em caso de não pagamento de multa
foi tacitamente revogada pela lei n. 9.268/96, que proíbe a conversão de multa não paga em prisão.
66
• UNIFICAÇÃO DAS PENAS
Estabelece o art. 75 do CP que o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não
pode ser superior a 40 (quarenta) anos, conforme nova redação dada pela Lei 13.964/19.
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Desse modo, quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja
superior a 40 (quarente) anos, devem elas ser unifcadas para atender ao limite máximo de 40
anos.
Entretanto, se o condenado já estiver cumprindo pena e sobrevier condenação por fato posterior
ao início de seu cumprimento, far-se-á nova unifcação, desprezando-se, para esse fm, o período de
pena já cumprido.
É importante destacar ainda que a jurisprudência majoritária entende que o prazo máximo de
40 anos não se aplica para a concessão dos demais benefícios previstos em lei, conforme disposto
na Súmula n. 715 do STF:
Súmula 715 do STF: A pena unifcada para atender ao limite de trinta anos (obs:
atualmente 40 anos com o PAC) de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código
Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento
condicional ou regime mais favorável de execução.
De acordo com o art. 43 do CP, existem 5 (cinco) espécies de penas restritivas de direito:
1) Prestação pecuniária;
5) Limitação de fm de semana.
Para ocorrer a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito, são
exigidos os seguintes requisitos:
Nos crimes dolosos praticados com violência ou grave ameaça não é possível a substituição
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Como regra geral, a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito
ocorre na própria sentença condenatória, devendo o juiz primeiro fxar a pena privativa de liberdade
com a indicação do regime inicial de cumprimento e, na sequência, presentes os requisitos legais,
realizar a substituição, que deve observar os seguintes critérios: TEMA COBRADO NO IV EXAME
DA OAB/FGV.
Vejamos agora as características de cada uma das espécies das penas restritivas de direito:
A pena restritiva de direito deve ter o mesmo prazo da pena privativa de liberdade substituída. No
entanto, no caso de prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas, permite-se, caso a
pena substituída seja superior a 1 ano, que o condenado cumpra a pena em menor tempo, desde
que não seja inferior à metade da pena privativa de liberdade fxada. A título de exemplo, se a pena
privativa de liberdade substituída era de 2 anos, permite-se que o condenado concentre as horas
de prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas em prazo menor, desde que não
seja inferior a 1 (um) ano, que é metade da pena substituída (§ 4º do art. 46).
Por fm, é importante destacar que existem situações que vão importar na conversão da pena
restritiva de direito em pena privativa de liberdade, ou seja, haverá a restituição da pena privativa
de liberdade outrora substituída em decorrência do descumprimento da restrição imposta.
69
CONVERSÃO OBRIGATÓRIA (§ 4º DO CONVERSÃO FACULTATIVA (§ 5º
ART. 44 DO CP) DO ART. 44 DO CP)
11.2.3. MULTA
É importante destacar que, em caso de inadimplemento, a multa não pode ser convertida em
prisão, devendo ser inscrita e executada perante o juiz da execução penal, aplicando-se as normas
relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, conforme disposto na nova redação do art. 51 do CP. dada
pela Lei 13.964/19:
Salienta-se ainda que a Súmula n. 171 do STJ estabelece que cominadas cumulativamente, em
lei especial, penas privativa de liberdade e pecuniária, é defeso a substituição da prisão por multa.
No caso da Lei Maria da Penha, a multa não pode ser aplicada de forma isolada (art. 17 da Lei
n. 11.340/06).
70
12
Para a fxação da pena privativa de liberdade, o código penal adotou, em seu art. 68, o sistema
trifásico, idealizado por Nelson Hungria:
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.
O primeiro critério a ser utilizado para a fxação da pena é observar se há ou não qualifcadoras
no crime. Havendo, os limites da pena base serão fxados de acordo com o preceito do crime
qualifcado, enquanto que, se não houver qualifcadora, os limites serão fxados de acordo com o
preceito do crime simples.
Após, o juiz deverá considerar as circunstâncias judiciais para fazer a dosagem da pena,
lembrando-se que, em relação aos maus antecedentes, estes são condenações defnitivas
(transitadas em julgado) que não geram reincidência, já que esta é analisada na segunda fase da
dosimetria da pena.
Além disso, não se pode considerar como maus antecedentes a existência de inquéritos policiais
e ações penais em curso, conforme previsto na Súmula n. 444 do STJ.
Muito importante destacar ainda que, na primeira fase, a pena não pode ser menor nem maior
71
que o mínimo e o máximo previsto em abstrato para o crime. Desse modo, se todas as circunstâncias
forem favoráveis ao agente, a pena base será fxada no mínimo abstrato previsto para do crime.
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou
qualifcam o crime:
I - a reincidência;
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou
de que podia resultar perigo comum;
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profssão;
III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-
punível em virtude de condição ou qualidade pessoal;
Existem 3 (três) situações em que a agravante não vai agravar a pena: 1) Se a agravante já constitui
ou qualifca o crime (ex: tratando-se de homicídio, o motivo torpe já qualifca o crime, de modo que
a agravante genérica do art. 61, “a”, do CP, não poderá ser utilizada, sob pena de bis in idem); 2)
Se a pena base já foi fxada no máximo, já que a agravante não poderá aumentar o limite máximo
em abstrato da pena; 3) se houver concurso de agravante com atenuante que seja preponderante,
como no caso da atenuante da menoridade, que prepondera sobre qualquer agravante.
I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos,
na data da sentença;
II - o desconhecimento da lei;
b) procurado, por sua espontânea vontade e com efciência, logo após o crime, evitar-lhe
ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;
Muito importante frisar que a reincidência, sem dúvida alguma, é a agravante mais cobrada no exame
da OAB/FGV, motivo pelo qual destacaremos, doravante, os pontos mais importantes sobre o tema.
12.2.2. REINCIDÊNCIA
Conforme previsto no art. 63 do CP, a reincidência ocorre quando o agente comete novo crime,
depois de transitar em julgado a sentença que, no país ou no estrangeiro, o tenha condenado por
crime anterior.
O art. 63 do CP, no entanto, é complementado pelo art. 7º da lei das contravenções penais que
dispõe que “verifca-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar
em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou,
no Brasil, por motivo de contravenção”.
Assim, a reincidência também ocorre quando o agente é condenado por decisão irrecorrível
pela prática de crime e posteriormente pratica crime ou nova contravenção, mas a recíproca não
é verdadeira, ou seja, não haverá reincidência se o agente já tiver sido condenado pela prática de
contravenção e depois praticar crime, já que a norma é silente neste caso TEMA COBRADO NO
IX EXAME DA OAB/FGV.
Além disso, de acordo com o art. 64, II, do CP, crime militar próprio e crime político não geram
reincidência TEMA COBRADO NO XXIII EXAME DA OAB/FGV.
74
CRIME CRIME REINCIDÊNCIA
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CRIME MILITAR
CRIME NÃO HÁ REINCIDÊNCIA
OU POLÍTICO
• A sentença que concede perdão judicial não gera reincidência por expressa previsão no
art. 120 do CP.
• Crime militar próprio e crime político não geram reincidência (art. 64, II, do CP).
Destaca-se ainda que, de acordo com o art. 64, I, do CP, não haverá reincidência se entre
a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de
tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento
condicional, se não ocorrer revogação TEMA COBRADO NO XX EXAME DA OAB/FGV.
Tem-se, portanto, que a reincidência não é eterna e está sujeita a um período de depuração,
também chamado de prescrição da reincidência, que se verifca a partir de 5 anos da extinção da
punibilidade do agente.
Havendo decisão defnitiva que não gera reincidência (decurso do prazo de depuração de
cinco anos, condenação anterior por crime militar próprio ou crime político, que, conforme art.
64, II, do CP, não são considerados para efeito de reincidência), o condenado será considerado
com maus antecedentes.
Diferentemente do que ocorre nas duas primeiras fases do crime, em que o juiz fca adstrito ao
limite mínimo e máximo da pena em abstrato (preceito secundário), na terceira fase o juiz não está
atrelado a esses limites, podendo aumentar ou diminuir a pena além do máximo ou do mínimo
previsto para o crime em abstrato.
As causas de aumento ou diminuição de pena podem ser encontradas na parte geral (tentativa,
concurso formal e concurso material, por exemplo) ou na parte especial, sendo possível identifcá-
las quando o artigo se refere a frações (a pena é reduzida de um a dois terços, a pena é aumentada
75
de um terço, etc.).
Como regra geral, primeiro devem ser aplicadas as causas de aumento de pena e,
posteriormente, as causas de diminuição, deixando-se, por último, a análise da tentativa.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
Com relação à tentativa, salvo disposição em contrário, o agente será punido com a pena
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. Além disso, o critério adotado
pela doutrina e jurisprudência amplamente majoritárias para o juízo dosar o quantum de diminuição
da pena é o da proximidade da consumação: quanto mais próximo o infrator chegar à consumação,
menor a redução, e vice-versa.
• Existindo duas ou mais causas de aumento, o juiz deve aplicar todas, salvo se as
causas de aumento estiverem previstas na parte especial do código, hipótese em que
o juiz poderá aplicar apenas uma causa, desde que seja a causa que mais aumenta a
pena (art. 68, parágrafo único, do CP).
• Existindo duas ou mais causas de diminuição de pena, o juiz deve aplicar todas,
salvo se as causas de diminuição estiverem previstas na parte especial do código,
hipótese em que o juiz poderá aplicar apenas uma causa, desde que seja a causa que
mais diminua a pena (art. 68, parágrafo único, do CP).
• Existindo causas de aumento e de diminuição, o juiz deve primeiro aplicar a causa
de aumento e depois a de diminuição.
76
13
• REQUISITOS
Para que o sursis seja concedido, o condenado deve preencher os seguintes requisitos:
• Pena privativa de liberdade: O benefciário do sursis deve ter sido condenado à pena
privativa de liberdade não superior a 2 anos. Excepcionalmente, entretanto, o sursis
poderá ser concedido ao condenado à pena privativa de liberdade não superior a 4
anos, desde que ele tenha mais de 70 anos de idade (sursis etário) ou por razões de
saúde que justifquem a concessão (sursis humanitário). Além disso, tratando-se de
crimes ambientais, o sursis pode ser concedido ao condenado à pena privativa de
liberdade não superior a 3 anos (art. 16 da Lei n. 9.605/98).
• Não ser reincidente em crime doloso: o condenado não pode ser reincidente em
crime doloso, salvo se a condenação anterior for à pena de multa. Em outras palavras,
o reincidente em crime doloso que tenha sido condenado à pena de multa pode ser
benefciado pelo sursis.
• Circunstâncias favoráveis: a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias devem autorizar
a concessão do benefício.
• Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 do CP: não pode ser
caso de substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito.
77
• No caso de sursis especial, além dos requisitos anteriores, o condenado deve
reparar o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo.
• PERÍODO DE PROVA
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
O período de prova é o tempo em que o condenado será submetido a certas condições para
que a suspensão da sua pena privativa de liberdade seja considerada válida.
O período de prova será de 2 a 4 anos, salvo nos casos de sursis etário e sursis humanitário,
em que o período de prova será de 4 a 6 anos.
• CONDIÇÕES DO SURSIS
• ESPÉCIES
78
SURSIS SURSIS SURSIS SURSIS
SIMPLES ESPECIAL ETÁRIO HUMANITÁRIO
* Não ser
possível
conversão em
pena restritiva
de direito
c) Comparecimento
mensal à juízo
para comprovar
e justifcar
atividades
• REVOGAÇÃO
Por outro lado, a revogação será facultativa, se o condenado descumpre qualquer outra
condição imposta ou é irrecorrivelmente condenado, por crime culposo ou por contravenção, a
79
pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos (art. 81, § 1º, do CP).
Cumprido o período de prova, sem que tenha havido revogação, considera-se extinta a pena
privativa de liberdade
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Se o benefciário do sursis está sendo processado por outro crime ou contravenção, considera-
se prorrogado o prazo da suspensão até o julgamento defnitivo.
Além disso, tratando-se de hipótese de revogação facultativa do sursis, o juiz pode, ao invés de
decretá-la, prorrogar o período de prova até o máximo, se este não foi o fxado.
80
14
14. LIVRAMENTO CONDICIONAL
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
REQUISITOS OBJETIVOS:
De acordo com o art. 84 do CP, as penas que correspondem a infrações diversas devem somar-
se para efeito do livramento. Assim, se a pessoa for condenada a vários crimes, as somas dos
crimes devem ser somadas para fns de livramento condicional.
CRIMES
CONDENADO COM HEDIONDOS E
CONDENADO
BONS ANTECEDENTES ASSEMELHADOS
REINCIDENTE EM
E NÃO REINCIDENTE E O CONDENADO
CRIME DOLOSO
EM CRIME DOLOSO NÃO REINCIDENTE
ESPECÍFICO
Se o condenado for
reincidente específco,
ou se a vítima morreu
(requisito acrescentado
pelo pacote anticrime),
não terá direito ao
livramento condicional.
81
Se o condenado pela prática de crime hediondo for reincidente em crime hediondo ou
assemelhado (reincidente específco), ou se a vítima morreu, não terá direito ao livramento
condicional.
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É importante destacar que o STJ frmou entendimento (Súmula n. 441) no sentido de que a
prática de falta disciplinar de natureza grave não interrompe o lapso temporal para aferição do
tempo devido ao deferimento de livramento condicional TEMA COBRADO NO XXIII EXAME DA
OAB/FGV.
Registra-se também que a Lei 13.964/19 (pacote anticrime) alterou o art. 83 do CP para deixar
expresso que aquele que cometeu falta disciplinar grave nos últimos 12 meses não terá direito
ao livramento condicional.
REQUISITOS SUBJETIVOS:
Para que o benefciado com o livramento condicional permaneça em liberdade, ele terá de
cumprir determinadas condições durante o tempo restante da pena não cumprida, a saber:
CONDIÇÕES OBRIGATÓRIAS
• Obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho;
• Comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação;
• Não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização deste.
• REVOGAÇÃO DO LIVRAMENTO
REVOGAÇÃO OBRIGATÓRIA
82
A revogação do livramento condicional será obrigatória se o liberado vier a ser condenado a
pena privativa de liberdade, em sentença: I - irrecorrível por crime cometido durante a vigência do
benefício; II - por crime anterior, observado o disposto no art. 84 deste Código, ou seja, as penas
serão somadas para verifcar se há direito a novo livramento condicional.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
Condenado defnitivamente por crime praticado Condenado por crime praticado antes do
durante o período de prova, com pena privativa de livramento condicional, com pena privativa
liberdade de liberdade
O livramento será revogado e o condenado terá O benefício será revogado, mas permite-se
de cumprir integralmente o tempo da pena. Além que o tempo de livramento seja descontado
disso, o condenado terá direito a novo livramento na pena, além do que poderá ser somado
condicional apenas em relação à segunda para fns de novo livramento condicional
condenação, salvo em se tratando de reincidente
específco em crime hediondo, hipótese em que o
livramento não poderá ser concedido TEMA
COBRADO NO XXV EXAME DA OAB/FGV
• “A” foi condenada a 9 anos de reclusão e, após cumprir 3 anos de pena, obteve o livramento
condicional, restando, assim, 6 anos de período de prova. Entretanto, após 3 anos no período
de prova, “A” é condenado a 2 anos de reclusão por crime cometido na vigência do benefício.
Nesse caso, o livramento será revogado e “A” terá de cumprir todo o período de livramento
condicional (6 anos) em reclusão, além da pena pelo segundo crime praticado (2 anos).
Além disso, outro livramento condicional somente será concedido em relação à segunda
condenação, desde que cumprida mais de metade da pena (1 ano), já que “A” é reincidente.
• “A” foi condenada a 9 anos de reclusão e, após cumprir 3 anos de pena, obteve o livramento
condicional, restando, assim, 6 anos de período de prova para cumprir. Entretanto, após 3
anos no período de prova, “A” é condenado a 2 anos de reclusão por crime cometido antes
na vigência do benefício. Nesse caso, o livramento condicional será revogado, mas o tempo
de prova cumprido (3 anos) será computado. Assim, “A” terá de cumprir o tempo restante
do livramento revogado (3 anos), além da pena pelo segundo crime praticado (2 anos). Além
disso, as penas poderão ser somadas para fns de novo livramento condicional, que poderá
ser concedido após 2 anos e meio (metade da pena total de 5 anos), já que “A” é reincidente.
REVOGAÇÃO FACULTATIVA
O período de prova será prorrogado se, ao término do seu prazo, o benefciado estiver sendo
processado por crime cometido durante sua vigência.
Nesse caso, durante a prorrogação, o benefciado não fca sujeito a cumprir as obrigações
impostas para o livramento condicional. No entanto, se houver condenação pela prática do crime,
o livramento será revogado. Por outro lado, caso haja absolvição, a pena será extinta.
Se até o seu término o livramento não for revogado, considera-se extinta a pena privativa de
liberdade.
Desse modo, se o benefciário sofrer nova condenação no curso de livramento condicional, mas o
período de prova do benefício decorrer sem qualquer decisão revogatória, aplica-se a Súmula nº 617 do
STJ: “A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do término do período de
prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena” TEMA COBRADO NO
XXVIII EXAME DA OAB/FGV
84
15
O principal efeito, efeito primário, da condenação é a aplicação da sanção penal pelo Estado, o
que pode ser feito mediante medida de segurança ou de pena, conforme já estudado.
Além do efeito primário, a condenação penal possui ainda diversos efeitos secundários, que
podem possuir natureza penal ou extrapenal, conforme abaixo esquematizado:
Já em relação aos efeitos de natureza extrapenal, eles podem ser genéricos ou específcos:
• Efeitos extrapenais específcos (art. 92 do CP): I) Perda de cargo, função pública ou mandato
eletivo (art. 92, I, do CP), exigindo-se, para tanto, que, nos crimes praticados com abuso de
poder ou violação do dever para com a Administração Pública, a pena aplicada seja igual ou
superior a 1 ano e, nos demais casos, a pena seja superior a 4 anos; II) Incapacidade para
o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena
de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar, contra
flho, flha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado(art. 90, II, do CP); e III)
inabilitação para dirigir veículo (art. 90, III, do CP), quando utilizado como meio para a prática
de crime doloso.
Os efeitos extrapenais específcos não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados
na sentença (art. 92, parágrafo único, do CP).
85
Importante destacar que a Lei 13.964/19 acresecentou o art. 91-A ao CP, passando a prever
um novo efeito extrapenal para os crimes com pena máxima superior a 6 anos, como forma de
tentar combater a corrupção. Vehamos:
“Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior
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a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos
bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja
compatível com o seu rendimento lícito.
§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do condenado
todos os bens:
I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou indireto,
na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e
§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público,
por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada.
O efeito extrapenal previsto é a perda dos bens do condenado incompatíveis com os valores
de seus rendimentos, mesmo que esses bens não estejam diretamente relacionados com a prática
do crime.
É importante frisar que, de acordo com o § 1º do art. 91-A do CP, a perda poderá ocorrer
também em relação aos bens que não estão em nome do condenado, mas sob seu domínio direto
ou indireto, como nas hipóteses de bens em nome de laranjas, ou ainda quando transferidos
gratuitamente ou por valores irrisórios.
Já o §3º do art. 91-A do CP dispõe que a perda dos bens deve ser requerida expressamente na
denúncia pelo Ministério Público (não pode ser de ofício pelo juiz) e o § 2º estabelece que o réu terá
oportunidade de demonstrar a inexistência de incompatibilidade ou ilicitude do seu patrimônio.
86
16
16. REABILITAÇÃO
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
Reabilitação é o instituto declaratório que garante ao condenado o sigilo dos registros sobre
o seu processo, condenação e pena, bem como a suspensão de alguns efeitos extrapenais
específcos, previstos no art. 92 do CP, a saber: perda de cargo, função pública ou mandato eletivo
(art. 92, I, do CP), e incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela (art. 92, II, do
CP) e inabilitação para dirigir (art. 92, III, do CP).
Cabe registrar que, com relação ao sigilo dos registros, há entendimento no sentido de que esse
efeito da reabilitação perdeu o sentido, uma vez que a Lei de Execução Penal já garante o mesmo
sigilo, de forma automática, com o simples cumprimento ou extinção da pena (art. 202 da LEP).
Já em relação ao segundo efeito, qual seja, a suspensão dos efeitos extrapenais específcos, é
importante destacar que a reabilitação, nos casos dos incisos I e II do art. 92 do CP, não reintegra o
condenado à situação anterior, permitindo apenas o exercício do direito em relação a situações futuras.
Desse modo, o condenado à perda do cargo público ou ao exercício do poder familiar, por exemplo,
não voltará ao cargo anterior nem terá restituído o poder familiar em relação ao flho que foi vítima
do crime, podendo apenas ter direito a ocupar novo cargo público, a partir de nova aprovação em
concurso, ou a exercer o poder familiar no que tange ao flho que não fora vítima do crime.
Para que a reabilitação seja deferida, o condenado deve cumprir os seguintes requisitos:
Importante destacar ainda que, conforme dispõe o art. 95 do CP, a reabilitação será revogada,
de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o reabilitado for condenado, como reincidente,
por sentença transitada em julgado, salvo se a pena imposta for pena de multa.
Com a revogação, os efeitos extrapenais que estavam suspensos voltam a incidir.
A reabilitação não se confunde com a reincidência, nem a extingue, haja vista que os seus
efeitos desaparecem apenas decorridos 5 anos do cumprimento da pena. Desse modo, mesmo
que a reabilitação seja concedida, o condenado será considerado reincidente até que o período
de 5 anos seja cumprido. 87
17
• Morte do agente;
• Anistia, graça ou indulto;
• Retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
• Prescrição, decadência ou perempção;
• Renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;
• Retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;
• Perdão judicial, nos casos previstos em lei.
De acordo com o art. 5º, XLV, da CF/88, a pena criminal obedece ao princípio da intransmissibilidade
(ou pessoalidade ou personalidade), já que não pode passar da pessoa do condenado, permitindo-
se apenas a extensão dos efeitos extrapenais na esfera civil referente à reparação do dano e ao
perdimento de bens, sempre na medida do patrimônio herdado.
Desse modo, como a pena não pode passar da pessoa do condenado, havendo a morte do
agente, sua punibilidade será extinta. Entretanto, para que a morte seja declarada, o juiz deverá
se basear em certidão de óbito e ouvir previamente o Ministério Público (art. 62 do CP).
O único documento hábil a declarar a morte do agente é a certidão de óbito, não podendo a
decisão judicial se basear em outros documentos, como corpo de delito, guia de sepultamento,
etc. Além disso, a morte somente será decretada após a oitiva do Ministério Público.
São as formas de clemência soberana e extinguem a punibilidade do agente, salvo no caso dos
crimes hediondos e assemelhados, em que não podem ser concedidas.
Conforme mencionado anteriormente, não é possível indulto, graça ou anistia nos crimes
hediondos, tortura, tráfco ilícito de entorpecentes e drogas afns e terrorismo (art. 5º,
XLIII, da CF/88).
Conforme previsto no art. 2º do CP, ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Sendo assim, lei posterior que deixa de prever o fato como típico deve retroagir, benefciando
o réu e extinguindo a sua punibilidade.
17.4. DECADÊNCIA
Aplica-se, portanto, somente aos crimes de ação penal privada e ação penal pública
condicionada à representação, não incidindo nos crimes de ação penal pública incondicionada.
Por fm, importante lembrar que o prazo decadencial não se interrompe nem se suspende.
17.5. PEREMPÇÃO
A perempção é uma sanção processual aplicada ao querelante inerte, que tem como
consequência a extinção da punibilidade do agente, nos casos previstos no art. 60 do CPP: I
– quando o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo,
para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a
quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36 do CPP, III - quando o querelante deixar
de comparecer, sem motivo justifcado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou
deixar de formular o pedido de condenação nas alegações fnais; IV - quando, sendo o querelante
pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor TEMA COBRADO NO XXIX EXAME DA
OAB/FGV.
A renúncia representa o ato unilateral de vontade do ofendido de não ingressar com ação
penal privada, podendo ser expressa ou tácita.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
De acordo com o parágrafo único do art. 104 do CP, importa renúncia tácita ao direito de queixa
a prática de ato incompatível com a vontade de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber
o ofendido a indenização do dano causado pelo crime.
A renúncia aplica-se apenas à ação penal privada, salvo no caso do Juizado Especial Criminal,
em que o acordo homologado da composição dos danos civis acarreta a renúncia ao direito de
queixa ou representação (art. 74 da Lei n. 9.099/95).
O perdão é um ato bilateral, isto é, depende de aceitação do querelado e ocorre após iniciada a
ação penal privada e antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, podendo ser expresso
ou tácito e ocorrer dentro ou fora do processo, conforme art. 106 do CP, cuja leitura é importante
para a prova da OAB TEMA COBRADO NO XXX EXAME DA OAB/FGV:
17.8. RETRATAÇÃO
A retratação signifca a retirada daquilo que foi dito. Signifca desdizer-se e, no campo moral,
representa uma grande reparação ao ofendido.
O perdão judicial é causa extintiva da punibilidade e ocorre quando, apesar de comprovada a prática
da infração penal culposa pelo agente, o juiz deixa de aplicar a pena para evitar um mal injusto ao agente.
90
“A”, por descuido, acaba esquecendo o seu flho recém-nascido dentro do carro em dia de
intenso calor e, em razão disso, o flho falece. Se o juiz condenar “A” por homicídio culposo,
poderá aplicar o perdão judicial, uma vez que a própria prática do crime já serviu de pena para
o agente que, evidentemente, não queria ter matado o seu próprio flho.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
Destaca-se que o juiz somente poderá aplicar o perdão judicial nas hipóteses expressamente
previstas em lei, como no homicídio culposo (art. 121, § 5º); na lesão corporal culposa (art. 129, §
8º) e na receptação culposa (art. 180, § 3º). Além disso, o perdão judicial não gera efeitos para fns
de reincidência, de modo que, se no exemplo dado acima, “A” praticar posteriormente outro crime,
não será considerado reincidente.
Embora haja divergência sobre a natureza jurídica da sentença que concede o perdão judicial,
o STJ sedimentou posicionamento no sentido de que se trata de sentença declaratória da extinção
da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório (Súmula n. 18 do STJ).
17.10. PRESCRIÇÃO
A prescrição é uma garantia do cidadão para evitar o abuso do Estado, mas a própria Constituição
Federal, em seu art. 5, XLII e XLIV, prevê dois crimes imprescritíveis:
A tortura aparece como crime imprescritível em alguns tratados internacionais ratifcados pelo
Brasil, como no caso do Estatuto de Roma, mas não há jurisprudência consolidada reconhecendo
a imprescritibilidade da tortura na seara penal. Na seara civil, entretanto, o STJ já reconheceu
a imprescritibilidade da tortura.
Para o direito penal, existem duas espécies de prescrição, que são classifcadas de acordo com
o critério do trânsito em julgado da decisão:
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Prescrição da Pretensão Punitiva (PPP). Prescrição da Pretensão Executória (PPE)
TRÂNSITO EM
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
JULGADO
Na PPPA, como ainda não se sabe qual será a pena imposta na sentença, o Estado adotou o
critério da pior hipótese possível, qual seja, a pena máxima imposta em abstrato para o crime,
conjugada com as regras estabelecidas no art. 109 do CP:
No que diz respeito aos crimes do art. 28 da Lei de Drogas (lei n. 11343/2006), o prazo
prescricional será de 2 anos, não se aplicando a tabela do art. 109 do CP.
Na busca pela pena máxima em abstrato do crime, deve-se levar em consideração as qualifcadoras
e as causas de aumento e de diminuição da pena, sendo que, na hipótese de causa de diminuição ou
aumento variáveis (ex: de 1/3 a 2/3), utiliza-se sempre o maior aumento e a menor diminuição.
92
• Crime de roubo (pena máxima de 3 a 10 anos) cometido com emprego de arma de fogo (causa
de aumento de 1/3 a 1/2). A pena máxima será 10 anos acrescida da maior causa de aumento
(1/2), logo, será de 15 anos. Com base na tabela do art. 109 do CP, a PPPA será de 20 anos.
• No exemplo acima, se houvesse tentativa de roubo com arma de fogo (pena máxima de 15
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
anos), a causa de diminuição da tentativa varia de 1/3 a 2/3. Aplica-se, portanto, a fração que
menos diminui (1/3), que equivale a 5 anos, chegando-se à pena máxima de 10 anos. Com
base na tabela do art. 109 do CP, a PPPA será de 16 anos.
Além disso, como regra geral, as agravantes e atenuantes não são levadas em consideração, salvo
a atenuante da menoridade e da senilidade, que sempre reduzem o prazo prescricional pela metade.
A atenuante incide sobre a PPPA já calculada. Assim, no exemplo do crime de roubo cometido
com arma de fogo, em que a PPPA será de 20 anos, se o agente era menor de 21 anos na data
do crime, a PPPA passará a ser de 10 anos.
Resumindo:
Como regra geral, o termo inicial da PPA começa a correr do dia em que o crime se consumou
(teoria do resultado)3. Entretanto, pode variar nas seguintes situações (art. 111 do CP):
93
• Nos crimes contra a dignidade sexual ou que envolvam violência contra a criança
e o adolescente, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a
vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a
ação penal ( Osb: o inciso V do art. 111 foi alterado pela Lei 14.344/2022 para incluir
os crimes que envolvam violência contra a criança e o adolescente)
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
Digno de nota que há situações que suspendem ou interrompem o prazo prescricional. No caso
de suspensão, cessada a hipótese suspensiva, o prazo retoma o seu curso normalmente. Já na
hipótese de interrupção, o prazo prescricional começa a correr do zero, ou seja, inicia-se novo prazo.
CAUSAS INTERRUPTIVAS:
TRIBUNAL DO JÚRI
PROCEDIMENTO COMUM
Ressalta-se ainda que, com a PPPA, eventual sentença penal provisória será rescindida, o
acusado não será responsabilizado pelas custas do processo e terá direito à restituição integral de
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
A PPPR passa a levar em consideração a pena fxada em sentença quando houver trânsito em
julgado para a acusação, já que, como não é possível aumentar a pena em caso recurso exclusivo da
defesa (non reformatio in pejus), sabe-se que a pena prevista na sentença não poderá mais ser elevada.
Art. 110 do CP
(...)
Chama-se retroativa porque, na verdade, é um novo cálculo da prescrição para trás, mas,
desta vez, levando-se em conta a pena fxada na decisão irrecorrível para a acusação, segundo os
critérios do art. 109 do CP. A PPPR será analisada retroativamente da sentença com trânsito em
julgado para a acusação e terá como termo inicial a denúncia ou queixa.
“A” comete crime de roubo com emprego de arma de fogo (pena máxima de 15 anos, com PPPA
de 20 anos), sendo condenado à pena de 6 anos em sentença irrecorrível para a acusação. Nesse
caso, a PPR será de 12 anos, conforme art. 109 do CP. Assim, se entre a denúncia e a sentença
transcorreu período superior a 12 anos, haverá prescrição da pretensão punitiva retroativa.
Os efeitos da PPPR serão os mesmos da PPPA, ou seja, eventual sentença penal provisória
será rescindida, o acusado não será responsabilizado pelas custas do processo e terá direito à
restituição integral de eventual fança paga.
Assim, ao mesmo tempo que o trânsito em julgado para a acusação gera a PPPR “para trás”, incide
95
ainda a PPPS para frente, que vai reger o prazo máximo para a apreciação dos recursos da defesa
“A” comete crime de roubo com emprego de arma de fogo (pena máxima de 15 anos, com PPPA
de 20 anos) e é condenado à pena de 3 anos, sendo que apenas a defesa recorre da decisão.
Nesse caso, a PPPS será de 8 anos (mesmo prazo da PPPR), ou seja, o Estado terá o prazo de
8 anos para julgar todos os recursos da defesa, sob pena de prescrição.
A prescrição da pretensão punitiva virtual (PPPV) não possui previsão legal, tendo sido criada
pela doutrina e pela jurisprudência.
A prescrição virtual, entretanto, não é aceita pelos Tribunais Superiores, conforme previsto na
Súmula n. 438 do STJ:
Prevista no art. 110, caput, do CP, tem como pressuposto o trânsito em julgado da decisão para
as duas partes e o transcurso do seu prazo implica na perda do direito de o Estado executar a pena
imposta. A PPPE leva em conta a pena imposta na decisão defnitiva, aplicando-se a tabela do art.
109 do CP, aumentando-se ainda o prazo em 1/3, em caso de reincidência TEMA COBRADO NO
XV EXAME DA OAB/FGV.
Além disso, o prazo prescricional será reduzido pela metade quando o criminoso era, ao tempo
do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos (art.
115 do CP).
Conforme previsto no art. 112 do CP, a PPPE começa a correr: I - do dia em que transita em
julgado a sentença condenatória para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da
pena ou o livramento condicional; II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o
tempo da interrupção deva computar-se na pena.
96
O art. 113 do CP estabelece que, no caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento
condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da pena.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
“A” é condenado pela prática do crime de roubo a 4 anos de reclusão, tendo a decisão transitado
em julgado. A PPPE será de 8 anos (art. 109 do CP), já que “A” não era reincidente. Se depois
de 2 anos e 6 meses cumprindo a pena, “A” conseguir fugir, a PPPE será regulada pelo tempo
restante da pena, qual seja, 1 ano e 6 meses. Aplicando-se novamente a regra do art. 109 do CP
ao tempo restante da pena, conclui-se que a PPPE será de 4 anos, ou seja, o Estado terá 4 anos
para recapturar “A”, sob pena de prescrição da pretensão executória.
No que tange aos efeitos, diferentemente do que ocorre na prescrição da pretensão punitiva
(PPP), na PPPE não há rescisão da sentença condenatória, permanecendo todos os efeitos penais
e extrapenais da condenação.
Conforme previsto no art. 114 do CP, a prescrição da pena de multa obedece às seguintes regras:
• Prescreve em 2 (dois) anos, quando a multa for a única pena cominada ou aplicada;
• Prescreve no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa
de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou
cumulativamente aplicada.
97
18
PARTE ESPECIAL
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
18.1.1. HOMICÍDIO
• Descrição do Tipo (art. 121 do CP): matar alguém. Pena: reclusão 6 a 20 anos.
• Bem jurídico tutelado: vida humana extrauterina, já que a eliminação da vida
uterina é considerada aborto. Importante destacar que o direito à vida não é absoluto,
havendo situações que a morte de outrem não será punida, como nos casos de pena
de morte por crime militar em caso de guerra declarada, e de homicídio praticado em
legítima defesa ou estado de necessidade.
• Sujeitos: a) ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) passivo: qualquer pessoa
nascida com vida.
• Homicídio privilegiado (§ 1º do art. 121): se o agente comete o crime impelido
por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção
(homicídio emocional), logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode
reduzir a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço). O privilégio, portanto, foi elevado
a status de causa de diminuição (terceira fase do sistema trifásico), permitindo que a
pena fque abaixo do limite em abstrato. Importante lembrar ainda que o privilégio não
se comunica aos coautores e partícipes do crime.
ou discriminação à condição de mulher. O inciso VIII, por sua vez, foi acrescentado em razão
da derrubada de veto do Pacote Anticrirme e o inciso IX foi acrescentado pela Lei Henry Borel.
2. A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado
por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por
grupo de extermínio
4. A Lei n. 14.344 (Lei Henry Borel) acrescentou o § 2º-B ao art. 121, passando a
prever que a pena será aumentada de um terço à metade se a vítima for pessoa
com defciência ou tiver doença que implique o aumento de sua vulnerabilidade,
bem como haverá aumento da pena de 2/3 se o crime for cometido por
ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor,
curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outra pessoa que
tiver autoridade sobre ela.
• Homicídio culposo: com pena de 1 a 3 anos, ocorre quando o agente atua com
negligência, imprudência ou imperícia, devendo-se destacar que o crime culposo
praticado com veículo automotor não é tratado pelo código penal e sim pelo Código de
Trânsito (art. 302 do CTB).
• Causas de aumento do homicídio culposo: a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se
99
1. O crime resulta de inobservância de regra técnica de profssão, arte ou ofício
Com a Lei n. 13.968/2019, o crime do art. 122 passou a ser formal, já que o mero induzimento,
instigação ou auxílio ao suicídio ou automutilação já carcateriza o crime.
Antes da Lei n. 13.968/19, para a consumação do crime do art. 122, exigia-se que a vítima
morresse ou sofresse no mínimo lesão grave TEMA COBRADO NO XIII EXAME DA
• ocorre
OAB/FGV coma amudança
. Com morte ou lesão grave
legislativa, dainstigação,
a mera vítima. Não se admite
induzimento outentativa.
auxílio ao suicídio ou
automutilação já consuma o crime (crime formal). Além disso, se da tentativa da automutilação
ou do suicídio resulta lesão grave à vítima, a pena será de 1 a 3 anos, e se resultar morte, a
pena será de 2 a 6 anos.
PACTO DE MORTE: conhecido também como ambicídio, ocorre quando duas ou mais pessoas
frmam um pacto para morrerem ao mesmo tempo, mediante suicídio, como no exemplo clássico
do casal de namorados que se tranca em ambiente hermeticamente fechado e abrem o registro de
gás. Nesse caso, a responsabilidade de cada envolvido fcará caracterizada pelos atos praticados
por cada um, ou seja, quem abre a torneira de gás responde por homicídio tentado ou consumado
e quem não abre a torneira responde por participação em suicídio TEMA COBRADO NO X
EXAME DA OAB/FGV.
18.1.3. INFANTICÍDIO
• Descrição do Tipo (art. 123 do CP): matar, sob a infuência do estado puerperal, o
próprio flho, durante o parto ou logo após. Pena - detenção, de dois a seis ano.
• Estado puerperal: representa o conjunto de alterações físicas e psicológicas sofridas
pela mulher em razão do parto. Trata-se de elementar do crime e se comunica aos
demais participantes na forma dos artigos 29 e 30 do CP, ou seja, o coautor e o partícipe
também responderão por infanticídio.
Não basta a existência do estado puerperal, é necessário que o crime seja praticado sob a
infuência dele.
101
• Tipo Subjetivo: não se admite a modalidade culposa
• Sujeitos: a) sujeito ativo: apenas a mãe pode praticar infanticídio (crime próprio), b)
sujeito passivo: apenas o flho que está nascendo ou acabou de nascer.
• Consumação e tentativa: considera-se o crime consumado com a morte do nascente
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
• O Sujeito passivo do crime é o flho que está nascendo ou acabou de nascer. Se a mãe
mata flho de outra pessoa ou seu próprio flho adolescente, deverá responder por homicídio,
podendo, entretanto, incidir a causa de diminuição de pena prevista no parágrafo único do
art. 26 do CP.
• Se a mãe, sob infuência do estado puerperal, mata flho de outra pessoa achando ser seu,
responderá por infanticídio (infanticídio putativo). TEMA COBRADO NOS EXAMES II,
XVI E XXX DA OAB/FGV.
• Não existe infanticídio culposo. Sendo assim, se a mãe, culposamente e sob a infuência do
estado puerperal, matar seu flho recém-nascido, deverá responder por homicídio culposo,
mas existe doutrina que entende que o fato é atípico, já que não se pode exigir diligência de
uma mulher em estado puerperal
18.1.4. ABORTO
• Descrição do Tipo (art. 124 do CP): provocar aborto em si mesma ou consentir que
outrem lhe provoque. Pena: detenção, de um a três anos.
• Tipo Subjetivo: não se admite a modalidade culposa
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado apenas pela gestante, b) sujeito passivo:
produto da concepção, feto.
• Consumação e tentativa: consuma-se com a morte do feto. Admite-se tentativa.
• Trata-se de crime doloso contra a vida que será julgado pelo Tribunal do Júri.
102
Considera-se falta de consentimento as seguintes situações: a) ausência de concordância ou
ciência da gestante, b) quando a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil
mental e c) o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
A concordância dada por gestante que não seja maior de quatorze anos, alienada ou débil
mental, ou obtida mediante fraude, grave ameaça ou violência, não é válida, devendo o agente
responder como se não houvesse concordância, ou seja, pelo crime do art. 125 do CP.
Conforme previsto no art. 128 do CP, não se pune o aborto praticado por médico:
103
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante (aborto terapêutico)
Nos dois casos, portanto, para que o aborto não seja punível, é necessário que ele seja realizado por
médico. Além disso, na hipótese de aborto humanitário, deve haver ainda o consentimento da gestante.
Importante destacar que o STF julgou procedente o pedido contido na Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental (ADPF) 54, considerando que a interrupção da gravidez de feto anencéfalo
não é considerado crime.
Além disso, em 2016, a primeira Turma do STF entendeu que na interrupção da gravidez no
primeiro trimestre também não é considerada fato típico.
O crime de lesão corporal leve, com pena de detenção de três meses a um ano, é obtido por
exclusão, ou seja, será assim considerada quando não se tratar de lesão grave (§1º), gravíssima
(§2º) ou lesão seguida de morte (§3º).
Trata-se de crime de menor potencial ofensivo e a ação penal será pública condicionada à
representação (art. 88 da Lei n. 9.099/95), salvo se a vítima for mulher no âmbito doméstico,
hipótese em o crime será processado mediante ação penal pública incondicionada (o art. 41 Lei n.
11.340/2006). TEMA COBRADO NO XXVI EXAME DA OAB/FGV.
No caso de lesão corporal leve, o juiz poderá substituir a pena de detenção pela de multa
quando se tratar de lesão corporal privilegiada (§4º) ou quando as lesões forem recíprocas.
104
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias: o inciso não se refere a
trabalho mas sim a ocupações habituais, de modo que qualquer pessoa pode ser enquadrada,
mesmo que não exerça atividade remunerada, como o aposentado e o estudante. Além do
exame de corpo de delito, é necessária a realização de exame complementar após o 30º dia,
comprovando que vítima permaneceu incapacitada para as suas ocupações habituais.
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II - perigo de vida: representa a probabilidade imediata de morte, comprovada por laudo pericial.
IV - aceleração de parto: o parto será antecipado sem acarretar a morte do feto. Ocorrendo
a morte do nascituro, a lesão será gravíssima.
A lesão corporal grave é processada mediante ação penal pública incondicionada. Além disso, é
possível aplicar a suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei n. 9.099/95, já
que se trata de infração penal com pena mínima em abstrato até 1 (um) ano .
Embora a denominação seja doutrinária e não legal, a lesão corporal é gravíssima, com pena
de reclusão de 2 a 8 anos, se resulta:
II - enfermidade incurável;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função: perda se refere principalmente aos
membros e ocorre principalmente no caso de mutilação ou amputação. Já a inutilização
signifca a inaptidão total a sua função específca, como no caso de cegueira total, paralisia
completa do braço, etc.
Para que seja caracteriza a perda de sentido referente à visão ou audição é necessário que os
dois olhos ou ouvidos sejam prejudicados, já que a lesão de apenas um deles representará
debilidade, nos termos do art. 129, §1º, III, do CP.
V - aborto: nesse caso o crime é preterdoloso, ou seja, o agente atua com intenção de praticar
105
lesão corporal, mas com culpa em relação ao aborto. Para a incidência da qualifcadora, o
agente deve ter conhecimento da gravidez da vítima.
A lesão corporal seguida de morte é crime preterdoloso, apenado com 4 (quatro) a 12 (doze)
anos de reclusão, e ocorre quando o agente possui intenção de lesionar a vítima, mas, em razão de
conduta culposa, acaba matando-a.
Trata-se de causa de diminuição da pena de 1/6 a 1/3 e pode ser aplicada quando o agente comete
o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção,
logo em seguida a injusta provocação da vítima TEMA COBRADO NO XI EXAME DA OAB/FGV.
• Heron arremessa um vaso dolosamente contra sua esposa, causando-lhe perda da visão
de um olho. Nesse caso, haverá lesão corporal grave (debilidade) com a incidência da causa
de aumento de 1/3, já que se trata de crime cometido no âmbito doméstico.
• No mesmo exemplo acima, se a esposa de Heron tivesse sofrido pequenas escoriações
(lesão leve), haveria o crime previsto no § 9° do art. 129 do CP.
Tratando-se de lesão corporal culposa, o § 6° do art. 129 do CP prevê pena de detenção, de dois
meses a um ano, pouco importando se a lesão é leve, grave ou gravíssima.
A pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime resulta de inobservância de regra técnica
de profssão, arte ou ofício, se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura
106
diminuir as consequências do seu ato ou se foge para evitar prisão em fagrante.
PERDÃO JUDICIAL: Assim como acontece no homicídio culposo, na lesão corporal culposa
o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio
agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
Trata-se de qualifcadora da lesão corporal leve e ocorre quando a lesão for praticada contra
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido,
ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, o
crime será apenado com detenção de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
Além disso, a pena será aumentada de 1/3 se a lesão doméstica for praticada contra pessoa
com defciência.
Se a vítima for mulher, o crime será processado mediante ação penal pública incondicionada,
já que o art. 41 Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) veda a aplicação da Lei n. 9.099/95.
Entretanto, se a vítima for homem, a ação será condicionada à representação, já que a Lei Maria
da Penha se aplica apenas às mulheres.
Lesão corporal praticada contra a mulher em razão do sexo feminino (§ 13 do art. 129 do CP)
A Lei n. 14.188/21 acrescentou o § 13 ao artigo 129 do CP para prever mais uma qualifcadora
para o crime de lesão corporal leve, quando praticada contra a mulher, por razões da condição
do sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 do CP, ou seja, contra mulher no ambiente
doméstico e familiar, ou ainda por preconceito, menosprezo ou discriminação quanto ao sexo.
• Descrição do Tipo (art. 130 do CP): expor alguém, por meio de relações sexuais ou
qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber
que está contaminado. Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
107
O art. 130 do CP exige que o meio de transmissão seja ato libidinoso ou relação sexual. Se outra
for a forma de transmissão (seringa, por exemplo), provavelmente caracterizará o crime do art.
131 do CP.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
• Descrição do Tipo (art. 132 do CP): expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e
iminente. Pena: detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
• Causa de aumento de pena: a pena é aumentada de 1/6 a 1/3 se a exposição da vida
ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de
serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa, b) sujeito passivo: Qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa (dolo de perigo).
• Consumação e tentativa: consuma-se no momento da prática do ato que resulta
perigo concreto, sendo possível a tentativa.
108
• Ação Penal: pública incondicionada.
• Descrição do Tipo (art. 133 do CP): abandonar pessoa que está sob seu cuidado,
guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos
riscos resultantes do abandono. Pena - detenção, de seis meses a três anos.
• Forma qualifcada: Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave (pena -
reclusão, de um a cinco anos) e se resulta a morte (pena - reclusão, de quatro a doze anos).
• Causa de aumento de pena: as penas aumentam-se de um terço: I - se o abandono
ocorre em lugar ermo; II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão,
tutor ou curador da vítima; III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos
• Sujeitos: a) sujeito ativo: quem tem o dever de cuidar (crime próprio), b) sujeito
passivo: pessoa que esteja sob cuidado, guarda ou vigilância.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se quando, a partir do abandono, a vítima sofre
risco. É possível a tentativa.
• Ação Penal: pública incondicionada.
• Descrição do Tipo (art. 134 do CP): expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar
desonra própria. Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
• Forma qualifcada: se do fato resulta lesão corporal de natureza grave (pena -
detenção, de um a três anos) e se resulta a morte (pena - detenção, de dois a seis
anos) TEMA COBRADO NO XVIII EXAME DA OAB/FGV.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: mãe ou pai que desejam esconder flho recém-nascido
concebido por adultério, incesto, ou outra forma que possa causar desonra; b) sujeito
passivo: recém-nascido.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se quando o abandono ou a exposição resultar
perigo para o recém-nascido. Possível a tentativa.
• Ação Penal: pública incondicionada.
• Descrição do Tipo (art. 135 do CP): deixar de prestar assistência, quando possível
fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada (perdida), ou à pessoa
inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses
casos, o socorro da autoridade pública. Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
• Forma qualifcada: se do fato resulta lesão corporal de natureza grave (pena - reclusão,
de um a quatro anos) e se resulta a morte (pena - reclusão, de quatro a doze anos).
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• Causa de aumento de pena: a pena é aumentada de metade, se da omissão resulta
lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa; b) sujeito passivo: vítimas
descritas no tipo penal (criança abandonada ou extraviada, pessoa inválida, ferida, ao
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
• Se várias pessoas negam assistência à vítima, como no caso de acidente grave de trânsito em
que ninguém presta socorro ou comunica a autoridade pública, todos respondem pelo crime.
• Se várias pessoas negam o socorro, mas posteriormente alguém socorre a vítima, não
haverá crime, já que a vítima foi socorrida.
• No caso de acidente de trânsito, o condutor do veículo que se envolveu no acidente e
deixou de socorrer a vítima, responderá pelo art. 303 ou art. 304 do Código de Trânsito.
18.3.8. MAUS-TRATOS
• Descrição do Tipo (art. 136 do CP): expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa
sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fm de educação, ensino, tratamento
110
ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer
sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção
ou disciplina. Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
• Forma qualifcada: se do fato resulta lesão corporal de natureza grave (pena - reclusão,
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
18.4. RIXA
A rixa representa, de acordo com Cléber Mason, “uma luta tumultuosa e confusa que travam
entre si 3 (três) ou mais pessoas, acompanhada de vias de fato ou violência recíprocas”4. Trata-se,
portanto, de tumulto em que não é possível identifcar exatamente de onde partiram as agressões,
de modo que todos aqueles que participaram da briga desordenada serão punidos.
Na rixa não há grupos definidos, já que as agressões são feitas indistintamente entre
os envolvidos.
• Se houver uma briga entre duas torcidas de futebol, não há rixa, uma vez que a briga
ocorre entre grupos defnidos, com ânimos opostos. Nesse caso, o tumulto caracterizará o
delito previsto no art. 41-B do Estatuto de Torcedor.
• Tumulto com agressões dentro de uma boate, em que cada um dos envolvidos atua por si,
caracteriza o crime de rixa.
4 MASSON, Cleber Rogério. Direito Penal Esquematizado, volume 2, parte especial. 3. Ed. São Paulo.
Método, 2011. pág. 157.
111
Destaca-se ainda que, para a confguração do crime, não há necessidade de que qualquer um
dos envolvidos sofra lesão, já que se trata de crime de perigo, ou seja, a simples troca de agressões
caracteriza o delito.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
De forma simples, a honra pode ser defnida como o conjunto de atributos físicos, morais e
intelectuais que conferem autoestima ou reputação a determinada pessoa, podendo ser classifcada
em honra objetiva e subjetiva.
• Honra objetiva: diz respeito à reputação, ou seja, refere-se ao juízo de valor feito por
terceiros sobre os atributos de alguém.
• Honra subjetiva: diz respeito à autoestima, ou seja, refere-se ao juízo de valor de
determinada pessoa sobre os seus próprios atributos.
Os crimes de calúnia e difamação atingem a honra objetiva, enquanto que o crime de injúria
atinge a honra subjetiva.
CALÚNIA INJÚRIA
DIFAMAÇÃO
112
18.5.2. CALÚNIA
Tanto a conduta de imputar falsamente a alguém fato defnido como crime quanto a conduta de
divulgar essa informação se enquadram no crime de calúnia. Além disso, por se tratar de crime
relacionada à honra objetiva, o CP pune a calúnia contra os mortos.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se quando os fatos noticiados chegam ao
conhecimento de terceiro. A tentativa é possível em algumas situações (forma escrita,
mensagem na secretaria eletrônica, etc).
• Exceção da Verdade: para que o crime de calúnia seja caracterizado, é necessário
que a imputação atribuída à vítima seja falsa. Por esse motivo, o próprio código penal
garante ao acusado a oportunidade de provar que os fatos atribuídos a vítima são
verdadeiros (exceção da verdade), como forma de excluir a tipicidade do fato.
• A exceção da verdade, no entanto, não será admitida em 3 (três) situações:
18.5.3. DIFAMAÇÃO
• Descrição do Tipo (art. 139 do CP): difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à
sua reputação. Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Na difamação, o fato imputado a terceiro é ofensivo à honra objetiva, não precisa ser falso nem
constitui crime. A difamação contra morto não constitui crime.
113
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se quando os fatos noticiados chegam ao
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
Nos casos dos incisos I e III, acima citados, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe
dá publicidade.
• Dizer que determinada pessoa pratica adultério caracteriza difamação, uma vez que o
adultério deixou de ser considerado crime.
• Dizer que determinada pessoa usa drogas caracteriza difamação, já que o uso de droga
não é fato típico.
• Se o crime de difamação ocorrer por meio de propaganda eleitoral, ou visando a fns de
propaganda, haverá o crime específco de difamação previsto no art. 325 do Código Eleitoral
TEMA COBRADO NO XIV EXAME DA OAB/FGV.
18.5.4. INJÚRIA
• Injúria real: quando consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza
ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes (exemplo: tapa na cara,
atirar tomate em quem faz discurso, etc). Pena: detenção, de três meses a um
ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
As vias de fato são agressões dirigidas à vítima que não causa lesão corporal, como um tapa na
cara, cusparada, etc. As vias de fato são absorvidas pela injúria real, mas as lesões corporais não.
114
• Injúria preconceituosa: quando consiste na utilização de elementos referentes à
religião ou à condição de pessoa idosa ou com defciência: TEMA COBRADO
NO VI EXAME DA OAB/FGV
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
A Lei 14.532/23 alterou a redação do §3º do art. 140 do CP, para excluir da qualifcadora as
ofensas referentes à raça, cor, etnia ou procedência nacional, transportando a injúria racial
para a Lei 7.716/89 (racismo).
Desse modo, a qualifcadora do §3º do art. 140 do CP passou a tratar apenas da injúria referente
à religião ou à condição de pessoa idosa ou com defciência, sendo que a injúria com elementos
referentes a raça, cor, etnia ou procedência nacional passou a ser prevista como espécie de
racismo, nos termos do art. 2º-A da Lei 7.716/89:
Não há mais dúvida, portanto, que a injúria em razão de raça, cor, etnia ou
procedência nacional passou a ser considerada espécie de racismo, sendo,
portanto: imprescritível, inafiançável e de ação penal pública incondicionada.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se quando a ofensa chega ao conhecimento da
vítima. A tentativa é possível em algumas situações (forma escrita, mensagem na
secretaria eletrônica, etc).
• Exceção da Verdade: Não é cabível na injúria.
• Perdão judicial: o juiz poderá deixar de aplicar a pena nas seguintes hipóteses: I -
quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II - no caso
de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
• Atipicidade (art. 142 do CP): não constituem injúria ou difamação punível: I - a ofensa
irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; II - a
opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científca, salvo quando inequívoca
a intenção de injuriar ou difamar; III - o conceito desfavorável emitido por funcionário
público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício
• O art. 141 do CP traz regras de aumento comuns para os crimes contra a honra:
•
A pena será aumentada de 1/3 se o crime for: I - contra o Presidente da República, ou
contra chefe de governo estrangeiro; II - contra funcionário público, em razão de suas
funções, ou contra os Presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do
Supremo Tribunal Federal; III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite
a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. IV – contra pessoa maior de 60
(sessenta) anos, com defciência ou com doenças degenerativas que acarretem condição
limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;.
Se o crime contra honra é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena
em dobro (§ 1º do art. 141 do CP)
Se o crime contra honra é cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais da
115
rede mundial de computadores, aplica-se em triplo a pena (§ 2º do art. 141 do CP).
18.5.5. RETRATAÇÃO
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
Conforme previsto no art. 143 do CP, o querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente
da calúnia ou da difamação, fca isento de pena.
Além disso, o parágrafo único do referido artigo acrescenta que, nos casos em que o querelado
tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação
deverá ser feita, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa.
Imputação deve ser FALSA Imputação falsa ou verdadeira Não há fato imputado
NÃO é punível
É punível quando praticada NÃO é punível quando quando praticada
contra os MORTOS praticada contra os MORTOS contra os MORTOS
NÃO é cabível a
Cabível a RETRATAÇÃO Cabível a RETRATAÇÃO RETRATAÇÃO
NÃO admite PERDÃO JUDICIAL NÃO admite PERDÃO JUDICIAL Admite PERDÃO JUDICIAL
116
18.5.6. AÇÃO PENAL (art. 145 do CP)
No crimes contra a honra, como regra geral, a ação penal será privada.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
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Entende-se majoritariamente que, no caso de “roubo de uso”, há a prática de
constrangimento ilegal, uma vez que a vítima é constrangida, mediante violência ou
grave ameaça, a entregar o seu bem ao criminoso. Assim, se “A” agride “B” para levar
o seu carro, mas o faz apenas para passear com o veículo e devolvê-lo depois, “A” não
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
responderá pelo crime de roubo (“roubo de uso”), mas poderá ser responsabilizado pelo
crime de constrangimento ilegal TEMA COBRADO NO VI EXAME DA OAB/FGV
18.6.2. AMEAÇA
• Descrição do Tipo (art. 147 do CP): ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto,
ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção,
de um a seis meses, ou multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum),
b) sujeito passivo: qualquer pessoa que possa compreender a gravidade da ameaça.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se quando a vítima recebe a ameaça,
independentemente de qualquer outro resultado (crime formal). A tentativa é possível
em algumas situações (forma escrita, mensagem na secretaria eletrônica, etc).
• Ação Penal: pública condicionada à representação.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: qualquer pessoa,
causas de aumento:
O §2º do art. 147-A do CP, por sua vez, estabelece que as penas previstas no crime
são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. Desse modo, se houver
outro crime decorrente da perseguição, como, por exemplo, lesão corporal, o agente deve
responder em concurso material pelo crime de perseguição (art. 147-A do CP) e lesão
corporal (art. 129 do CP).
• Descrição do Tipo (art. 147 -B do CP): Causar dano emocional à mulher que a
prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a
controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização,
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde
psicológica e autodeterminação: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa , b) sujeito passivo:
apenas mulher.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se com a ocorrência do dano emocional. É
possível a tentativa. mas de difícil ocorrência prática.
• Ação Penal: pública incondicionada.
Percebam que o tipo penal não limita a ocorrência do crime ao âmbito doméstico/familiar,
podendo ocorrer, portanto, em qualquer ambiente (ensino, religioso, trabalho, etc),
Além disso, não se exige a ocorrência de lesão à saúde psicológica da vítima (patologia), mas
apenas a ocorrência de dano emocional (sofrimento, dor, angústia signifcativos).
119
A prova do dano emocional pode ser feita por diversos meios, como depoimento da vítima /
testemunhas ou relatório psicológico, não havendo necessidade de comprovação por laudo médico.
patologia, comprovada por laudo técnico, com indicação da respectiva CID (identifcação da doença),
estará caracterizado o crime de lesão corporal do art. 129 do Código Penal, com pena mais grave.
Além disso, o crime de violência psicológica contra a mulher (art. 147-B do CP) não se confunde
com o crime de perseguição (stalking) previsto no art. 147-A do CP, uma vez que neste último exige-
se a conduta reiterada do autor do crime (pelos menos dois atos), para caracterizar a perseguição,
além do que a vítima pode ser homem ou mulher.
Para a doutrina, enquanto que no cárcere privado a vítima fca em local fechado (há
confnamento), no sequestro a vítima fca privada de sua liberdade, mas em local aberto. A lei,
entretanto, usa as duas expressões indistintamente.
Qualifcadoras:
• Se o agente sequestra a vítima e depois pratica estupro, o agente responde por sequestro
qualifcado (fns libidinosos) em concurso material com o crime de estupro.
• Se a fnalidade do sequestro for a obtenção de resgate, o crime será de extorsão mediante
sequestro (art. 159 do CP), que é um crime contra o patrimônio.
• Se o agente sequestra ou mantem a vítima em cárcere privado e depois a tortura, o agente
responde pelo crime de tortura (Lei n. 9.455/97).
120
18.6.6. REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO
• Descrição do Tipo (art. 149 do CP): reduzir alguém a condição análoga à de escravo,
quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum),
b) sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre quando houver a prática de qualquer
uma das ações descritas no tipo penal, ou seja, submissão do trabalhador à jornada
exaustiva, trabalho forçado, condições degradantes, restrição de sua locomoção,
por qualquer meio, em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto,
cerceamento do uso de qualquer meio de transporte, com o intuito de reter o
trabalhador no local de trabalho, vigilância ostensiva ou retenção de documentos com
o fm de reter a vítima no local de trabalho. É possível a tentativa.
• Causas de aumento de pena: a pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:
I – contra criança ou adolescente; II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia,
religião ou origem.
• Ação Penal: pública incondicionada.
Conforme decidido pelo STF, a competência para julgar o crime de redução à condição análoga
à de escravo é da Justiça Federal (Recurso Extraordinário n. 398041 de 2006).
121
18.6.7. TRÁFICO DE PESSOAS
A lei n. 13.444/2016 revogou os artigos 231 e 231-A do CP para tratar de forma mais genérica
do tráfco de pessoas no art. 149-A, englobando outras hipóteses além da exploração sexual.
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O tráfco internacional (inciso IV), portanto, é uma causa de aumento de pena do crime do art.
149-A do CP.
122
19
19.1. FURTO
• Descrição do Tipo (art. 155 do CP): subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia
móvel. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
• Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico
(§ 3º do art. 155 do CP).
• Para o STF, a ligação clandestina para obter sinal de internet ou de televisão não é
considerada furto, já que o sinal de televisão ou internet não é considerado energia.
• Para que confgure o furto, o objeto deve ser alheio. Assim, se determinada pessoa
empenha um bem e depois o subtrai, não haverá crime de furto.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa. Além disso, exige-se que o agente
tenha o objetivo de fcar com a coisa ou entrega-la para terceiro, de modo que será
considerado atípico o denominado furto de uso (o agente, por exemplo, subtrai um
carro apenas para dar uma volta e depois o devolve ao dono).
• Consumação e tentativa: prevalece o entendimento de o crime se que consuma
quando o sujeito ativo consegue a inversão da posse do bem, mesmo que essa não
seja mansa e pacífca. A tentativa é possível quando o agente pratica a ação, mas não
consegue a inversão da posse.
• Formas qualifcadas:
123
A Lei 13.654/18 acrescentou o § 4º-A e o § 7º ao art. 155 do CP, prevendo mais duas formas de
furto qualifcado, ambas com pena de reclusão de a 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, a saber:
• Se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum (§ 4º-A)
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• Reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha
a ser transportado para outro Estado ou para o exterior
• Reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, se a subtração for de semovente
domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da
subtração.
• O furto mediante fraude não se confunde com o crime de estelionato, já que no primeiro
o agente emprega fraude para enganar a vítima e subtrair o bem sem que ela perceba
(exemplo: agente que se faz passar por técnico de TV a cabo, entra na casa da vítima e, sem
que ela perceba, furta determinado bem), enquanto que no estelionato a vítima, após ser
enganada, entrega voluntariamente o bem ao agente.
• O furto qualifcado pelo abuso de confança ocorre quando o agente se vale de confança
depositada pela vítima para furtar, como no caso de empregada doméstica ou da babá que,
aproveitando-se dessa condição, furta bens da casa onde trabalha.
• Para que haja a qualifcadora do furto de semovente, este deve ser destinado à produção,
ou seja, furto de animal doméstico não se enquadra na qualifcadora.
• A existência de sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por segurança
no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a confguração do
crime de furto (Súmula n. 567 d o STJ).
• Ação Penal: os crimes contra o patrimônio, como regra geral, são de ação penal
pública incondicionada. Entretanto, serão processados mediante representação
quando cometidos em prejuízo I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
• Descrição do Tipo (art. 156 do CP): subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para
si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum. Pena: detenção, de
seis meses a dois anos, ou multa
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado apenas por condômino (de bem móvel),
coerdeiro e sócio (crime próprio), b) sujeito passivo: condômino, coerdeiro ou sócio
que detinha o bem.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: quando a coisa é retirada da esfera de disponibilidade da
vítima, ainda que por curto espaço de tempo. A tentativa é possível quando o agente
não conseguir fcar com a posse de fato do bem.
• Exclusão da punibilidade: não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo
valor não excede a quota a que tem direito o agente.
• Ação Penal: pública condicionada à representação.
19.3. ROUBO
• Descrição do Tipo (roubo próprio – art. 157, caput, do CP): subtrair coisa móvel
alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou
depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência. Pena
- reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
• Forma equiparada (roubo impróprio – art. 157, § 1º): na mesma pena incorre quem,
logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a
fm de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
125
ROUBO PRÓPRIO (CAPUT) ROUBO IMPRÓPRIO (§ 1º)
LATROCÍNIO:
• O latrocínio é crime hediondo (lei n. 8.072/90)
• A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do
tribunal do júri (Súmula 603 do STF), já que se trata de crime contra o patrimônio.
• No latrocínio, a morte da vítima pode ser causada por dolo ou culpa.
• Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a
subtração de bens da vítima (súmula 610 do STF).
Súmula 582 do STJ: “Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífca ou desvigiada”.
“A” agride “B”, rouba o seu relógio e sai correndo. No entanto, “B”, exímio corredor, consegue
alcançar “A”, recuperando o bem. Neste caso, “A” responderá por roubo consumado.
Por outro lado, se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de
fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput.
Resumindo:
Roubo com arma branca – Causa de aumento da pena de 1/3 até a metade.
Roubo com arma de fogo – Causa de aumento da pena de 2/3
Roubo com arma de fogo de uso restrito – Pena em dobro.
19.4. EXTORSÃO
• Descrição do Tipo (art. 158 do CP): constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica,
a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa. Pena - reclusão, de quatro
a dez anos, e multa.
• O crime de extorsão não se confunde com o crime de constrangimento ilegal (art. 146
do CP), uma vez que no constrangimento ilegal não há fnalidade de obtenção de indevida
vantagem econômica.
• O crime de extorsão também não se confunde com o crime de roubo. Para diferenciá-
los, podemos adotar os seguintes critérios: a) no crime de roubo o agente subtrai o bem,
enquanto que na extorsão o agente faz com que a vítima lhe entregue o bem; b) no crime
de roubo a colaboração da vítima é dispensável, enquanto que na extorsão é indispensável;
c) no crime de roubo a vantagem visada é imediata enquanto que na extorsão a vantagem
é mediata.
127
• Formas qualifcadas (§ 2º e § 3º do art. 158 do CP):
Aplica-se ao crime de extorsão, praticado mediante violência, que resulte lesão grave
ou morte o disposto no § 3º do artigo 157, referente ao roubo qualifcado. Havendo
morte, o crime será considerado hediondo.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
• Descrição do Tipo (art. 159 do CP): sequestrar pessoa com o fm de obter, para
si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena -
reclusão, de oito a quinze anos.
• Apesar de o tipo penal se referir apenas a sequestro, é evidente que ele engloba também
o cárcere privado.
• O crime de extorsão mediante sequestro é sempre hediondo.
• Se o agente sequestra um animal (cachorro, por exemplo) e exige vantagem econômica,
o crime não será de extorsão mediante sequestro (o tipo se refere a pessoa) e sim de
extorsão (art. 158 do CP).
128
• Se a vítima era menor de 18 anos no início do sequestro e atinge a maioridade durante a
privação da liberdade, ou se a vítima tinha 59 anos e depois completa 60 anos, a qualifcadora
incidirá da mesma forma, já que se trata de crime permanente.
• A nomenclatura bando ou quadrilha (ar. 288 do CP) foi alterada, pela Lei n. 12.850/2013,
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa. Deve haver o dolo específco de obter
indevida vantagem econômica.
• Consumação e tentativa: prevalece o entendimento de que o crime se consuma
com a privação da liberdade da vítima com o intuito de obter a vantagem econômica
indevida, mesmo que a vantagem não chegue a ser exigida ou obtida. Além de formal,
o crime de extorsão mediante sequestro é permanente. A tentativa é possível, quando
o agente não consegue privar a liberdade da vítima TEMA COBRADO NO XII EXAME
DA OAB/FGV.
DICA: Quando se falar em crime permanente, é importante lembrar que: 1) o crime admite
o fagrante a qualquer tempo da permanência (art. 303 do CPP), 2) a prescrição somente
começa a correr após cessada a permanência (art. 111, III, do CP), 3) Lei penal nova cuja
vigência coincide com o período de permanência será aplicada ao caso, ainda que mais
grave (Súmula n. 711 do STF).
• Descrição do Tipo (art. 160 do CP): exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando
da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a
vítima ou contra terceiro. Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
“B” deve dinheiro a “A”, e este exige que “B” lhe entregue uma carta confessando um crime, que
será utilizada caso o devedor não pague a dívida.
129
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum),
mas é muito comum a prática por agiota. b) sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: se for na modalidade “exigir” o crime é formal, mas se for
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
19.7. DANO
• Descrição do Tipo (art. 163 do CP): destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
A res nullius (coisa que nunca teve dono) e a res derelicta (coisa abandonada) não podem ser
objeto de crime de dano, já que não são consideradas coisa alheia. A coisa perdida, por sua vez,
tem dono, de modo quem a danifcar pode responder pelo crime de dano.
• Formas Qualifcadas (parágrafo único do art. 163): o crime de dano será qualifcado se:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça; II - com emprego de substância infamável
ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave; III - contra o patrimônio da União,
de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa
pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos;
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima. Pena - detenção,
de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: proprietário do bem.
• Tipo Subjetivo: apenas a modalidade dolosa. Não existe, portanto, crime de dano
culposo TEMA COBRADO NO III EXAME DA OAB/FGV.
• Consumação e tentativa: consuma-se no momento em que o bem é danifcado.
Se o agente objetiva destruir, mas apenas danifca o bem, o crime será consumado.
Tentativa é possível, como no caso em que o agente lança uma granada para destruir
um carro, mas a granada não explode.
• Ação Penal:
130
AÇÃO PENAL PÚBLICA
AÇÃO PENAL PRIVADA INCONDICIONADA
• Descrição do Tipo (art. 168 do CP): apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem
a posse ou a detenção. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
No crime de apropriação indébita a entrega do bem é livre e consciente pela vítima, diferenciando-
se do estelionato, já que neste a vítima é enganada.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum),
mas é muito comum a prática por agiota, b) sujeito passivo: proprietário, usufrutuário
ou possuidor do bem.
Tratando-se de apropriação indébita contra idoso, haverá o crime específco previsto no art. 102
do Estatuto do Idoso.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa. O tipo penal contém o dolo específco
do agente de se apropriar da coisa para si de forma defnitiva, ou seja, a intenção do
agente em não devolver o bem. Em razão do dolo específco, apropriação de uso não
é considerada fato típico.
131
• “A” deixa seu relógio aos cuidados de “B”, para que este realize o seu conserto. “B” se
apropria do bem e o vende para terceiro (crime de apropriação indébita).
• “A” deixa um relógio aos cuidados de “B”, para que este realize o seu conserto. “B” conserta o
relógio, utiliza-o em uma festa como se fosse seu dono, e depois o devolve na data combinada
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
19.11. APROPRIAÇÃO DE COISA HAVIDA POR ERRO, CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR
• Descrição do Tipo (art. 169 do CP): apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao
seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza. Pena - detenção, de um mês a
um ano, ou multa.
• “A”, que tem o mesmo nome de “B”, recebe um depósito em sua conta corrente de “C”,
que se confundiu em razão da similitude nominal, incidindo em erro. Se “B”, sabendo do
equívoco, se apropriar do valor depositado, cometerá o crime do art. 169 do CP.
• Tempestade (força maior) leva objetos da casa de “A” para a casa do seu vizinho “B”. Se
“B” se apropriar desses objetos, mesmo sabendo que são de seu vizinho, cometerá o crime
do art. 169 do CP.
• Descrição do Tipo (art. 169, parágrafo único, I, do CP): quem acha tesouro em prédio
alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprietário do
prédio. Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Jardineiro presta serviço em uma casa e descobre um baú de moedas valiosas enterradas
no quintal. Se o jardineiro se apropriar das moedas sem comunicar ao dono do imóvel e lhe
entregar sua cota parte, responderá pelo crime do parágrafo único do art. 169, parágrafo
único, I, do CP.
133
19.13. APROPRIAÇÃO DE COISA ACHADA
• Descrição do Tipo (art. 169, parágrafo único, I, do CP): quem acha coisa alheia
perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
19.14. ESTELIONATO
• Descrição do Tipo (art. 171, caput, do CP): obter, para si ou para outrem, vantagem
ilícita em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício,
ardil, ou qualquer outro meio fraudulento. Pena — reclusão, de um a cinco anos, e multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). b) sujeito passivo:
qualquer pessoa.
• Consumação: consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita, com prejuízo alheio.
A tentativa é possível.
134
DICA:
• O estelionato é um crime material (exige a obtenção da vantagem ilícita para se consumar)
e de duplo resultado (prejuízo da vítima e vantagem do agente).
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
• O furto mediante fraude não se confunde com o crime de estelionato, já que no primeiro o
agente emprega fraude para enganar a vítima e subtrair o bem sem que ela perceba (exemplo:
agente que se faz passar por técnico de TV a cabo, entra na casa da vítima e, sem que ela
perceba, furta determinado bem), enquanto que no estelionato a vítima, após ser enganada,
entrega voluntariamente o bem ao agente TEMA COBRADO NO XXXVII EXAME DA OAB/
FGV.
• Súmula nº 17 do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade
lesiva, é por este absorvido”. TEMA COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV.
• Tipo Subjetivo: consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita, com prejuízo alheio.
A tentativa é possível.
• Causas de aumento de pena (§ 3º e § 4º): a) a pena aumenta-se de um terço, se
o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de
economia popular, assistência social ou benefcência, b) Aplica-se a pena em dobro se
o crime for cometido contra idoso.
• Estelionato privilegiado: de acordo com o art. 171, § 1º, do CP, se o criminoso é
primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o
disposto no art. 155, § 2º, ou seja, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de
detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
• Ação Penal: pública condicionada à representação, salvo: se a vítima for:
I - a Administração Pública, direta ou indireta; (Incluído pela Lei nº 13.964/19)
II - criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 13.964/19)
III - pessoa com defciência mental; ou (Incluído pela Lei nº 13.964/19)
IV - maior de 70 anos de idade ou incapaz. (Incluído pela Lei nº 13.964/19
A Lei n. 14.155/21, inseriu o § 2º-A ao art. 171 do CP, tratando da qualifcadora do estelionato
mediante fraude eletrônica e os parágrafos 2º-B e 4º, prevendo causas de aumento de pena
no caso de o crime ser praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território
nacional ou se cometido contra idoso ou vulnerável.
Outra alteração muito importante diz respeito à competência.
A Lei n. 14.155/21 alterou a redação do § 4º do art. 70 do CP dispondo que, se o crime de
estelionato for praticado mediante depósito, mediante emissão de cheques sem sufciente
provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante
transferência de valores, a competência será defnida pelo local do domicílio da vítima e, em
caso de pluralidade de vítimas, a competência frmar-se-á pela prevenção.
135
19.15. ABUSO DE INCAPAZ
O crime exige que o agente não tenha dinheiro. Se o agente possuir recursos para pagar a conta
e recusar fazê-lo por algum motivo, não gostaram do serviço, por exemplo, o fato é atípico.
19.19. RECEPTAÇÃO
DICAS:
• A receptação na modalidade adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito
próprio ou alheio, é classifcada como receptação própria (crime formal). Já na modalidade
infuir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte é denominada de receptação
imprópria (crime material).
• A receptação é o único crime contra o patrimônio que a admite a forma culposa.
• A receptação é considerada um crime parasitário ou acessório, já que depende de um
crime anterior.
• A receptação será punível mesmo que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de
que proveio a coisa (art. 180, § 4º, do CP).
• Na receptação a coisa deve ser produto de crime. Se for produto de contravenção penal,
não haverá o crime de receptação.
• Quem adquire CD pirata com intuito de lucro (camelô, por exemplo) comete o crime
específco do art. 184, § 2º, do CP (violação de direito autoral), mas o consumidor que adquire
o produto pirata comete o crime de receptação.
• O advogado que recebe produto de crime como pagamento pelos serviços prestados para
o criminoso comete crime de receptação.
• Formas qualifcadas:
O art. 180-A do CP foi acrescentado pala Lei nº 13.330/2016 e pune especifcamente a receptação
de semoventes domesticáveis de produção com fnalidade de produção ou comercialização.
19.21. IMUNIDADES
138
• IMUNIDADES ABSOLUTAS OU ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS (art. 181 do CP): é isento
de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do
cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja
o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
“A” pratica furto em face de seu próprio pai. Neste caso, incide a escusa absolutória prevista no
art. 181 e “A” será isento de pena.
Se “A” pratica furto em face de seu irmão “B”, a ação penal dependerá de representação
da vítima.
No caso do inciso II do art. 183 do CP, se o flho, com a ajuda de seu vizinho, furta o seu próprio
pai, a escusa absolutória não se aplica ao vizinho.
139
20
O art. 184 do CP é considerada uma norma penal em branco, complementada pela Lei n.
9.610/98, cujo estudo é importante para a compreensão do tema.
• Descrição do Tipo (art. 184, caput, do CP): violar direitos de autor e os que lhe são
conexos. Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.
Entende-se por direito autoral o conjunto de direitos materiais e morais que o autor detém
sobre a obra que produz. Desse modo, o verbo “violar” do tipo penal possui signifcado amplo e
abrange atos como plágio, utilização indevida, reprodução não autorizada da obra e até mesmo
a produção de exemplares e edições em número superior ao que autorizado pelo autor.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: titular
dos direitos autorais.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
140
• Consumação: consuma-se no momento da violação. Admite-se a tentativa em todos
os casos.
• Ação penal: o tipo da ação penal varia de acordo com a fgura típica do crime:
Ação penal privada no caso da modalidade simples prevista no caput do art.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
184 do CP.
Ação penal pública incondicionada nas modalidades qualifcadas dos § §s 1º e
2º do art. 184 do CP.
Ação penal pública condicionada à representação na modalidade qualifcada do
§ 3º do art. 184 do CP.
• Atipicidade: o art. 46 da Lei n. 9.610/98 elenca diversas situações em que não haverá
ofensa a direitos autorais, ou seja, condutas que são atípicas.
I - a reprodução:
reprodução em si não seja o objetivo principal da obra nova e que não prejudique a
exploração normal da obra reproduzida nem cause um prejuízo injustifcado aos
legítimos interesses dos autores.
Art. 47. São livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da
obra originária nem lhe implicarem descrédito.
DICAS:
• A venda de produto pirata é fato típico, não se aplicando o princípio da insignifcância ou
adequação social (Súmula n. 502 do STJ). Assim, se “A” é pego vendendo CDs piratas, sua
conduta se amolda ao art. 184 do CP, não podendo alegar que os produtos comercializados
são de pequeno valor (insignifcância) ou que sua conduta é socialmente tolerada.
• Para a caracterização do crime do art. 184 do CP, não há necessidade de perícia minuciosa
em cada bem apreendido nem identifcação individualizada dos titulares dos direitos autorais
violados, bastando a análise das características externas do material (Súmula n. 574 do STJ).
Sendo assim, se “A” estiver comercializando DVDs pitaras, não há necessidade da realização
de perícia em cada um dos DVDs apreendidos nem a identifcação dos titulares dos direitos
autorais de cada produto, sob pena de inviabilizar a atividade policial e a condenação do
criminoso. No caso, basta a identifcação externa de que os produtos são falsifcados para
que a conduta de “A” seja típica.
• Quem adquire produto pirata para revender (camelô, por exemplo) comete o crime
específco do art. 184, § 2º, do CP (violação de direito autoral), mas o consumidor que adquire
o produto, sem intenção de lucro comete o crime de receptação.
142
21
• Descrição do Tipo (art. 197 do CP): constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça: I - a exercer ou não exercer arte, ofício, profssão ou indústria, ou a trabalhar
ou não trabalhar durante certo período ou em determinados dias (Pena - detenção, de
um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência); II - a abrir ou
fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de parede ou paralisação de
atividade econômica (pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:
qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que a vítima cede à
exigência do sujeito ativo, exercendo ou deixando de exercer a atividade determinada
pelo infrator. A tentativa é possível se a vítima, apesar de constrangida, não cede à
exigência do infrator.
• Ação penal: pública incondicionada.
Em que pese o art. 109, VI, da CF disponha que compete à Justiça Federal processar e julgar os
crimes contra a organização do trabalho, a jurisprudência majoritária do STF e do STJ entende que
a competência da Justiça Federal se materializa apenas quando o crime ofender a organização
geral do trabalho ou direitos dos trabalhadores considerados coletivamente. Quando se tratar de
trabalhador atingido de forma individual, a competência será da Justiça Estadual
Tipo penal possui duas fguras típicas: a) constranger mediante violência ou grave ameaça
alguém a celebrar contrato de trabalho e b) constranger alguém mediante violência ou grave
ameaça a não fornecer ou não adquirir matéria prima ou produto industrial ou agrícola, o que
se denomina de boicotagem.
143
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:
qualquer pessoa e, no caso da boicotagem, o empresário é vítima indireta do crime.
• Tipo Subjetivo: Apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: No caso da primeira parte do tipo, o crime se consuma
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A suspensão do trabalho é feita pelo empregador (lockout) enquanto que o abandono se refere
à greve dos trabalhadores. Trata-se de crime de concurso necessário, já que, para que se
considere coletivo o abandono de trabalho, o parágrafo único do art. 200 do CP dispõe que é
indispensável o concurso de, pelo menos, três empregados.
O crime engloba duas fguras típicas: a) invadir ou ocupar com intuito de impedir ou embaraçar
o curso normal do trabalho e b) danifcar o estabelecimento ou as coisas nele existentes ou
delas dispor com intuito de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho (sabotagem). Em
ambos os casos, só haverá crime se a conduta for praticada com o fm específco de impedir ou
embaraçar o curso normal do trabalho. Não havendo esse fm específco, não há que se falar
no crime do art. 202 do CP, podendo caracterizar crime comum (ex.: violação de domicílio, dano,
apropriação indébita, etc.).
• Descrição do Tipo (art. 203 do CP): frustrar, mediante fraude ou violência, direito
assegurado pela legislação do trabalho: Pena — detenção, de um a dois anos, e multa,
além da pena correspondente à violência.
O crime disposto no art. 203 do Código Penal é considerado norma penal em branco, uma vez
que os direitos trabalhistas estão previstos em outras leis e na própria Constituição Federal.
• Forma equiparada: na mesma pena incorre quem: I - obriga ou coage alguém a usar
mercadorias de determinado estabelecimento, para impossibilitar o desligamento
do serviço em virtude de dívida; II - impede alguém de se desligar de serviços de
qualquer natureza, mediante coação ou por meio da retenção de seus documentos
pessoais ou contratuais.
145
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:
qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Causa de aumento de pena: A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima
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• Descrição do Tipo (art. 205 do CP): exercer atividade, de que está impedido por
decisão administrativa. Pena — detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pessoa que viola decisão administrativa (crime própria), b)
sujeito passivo: Estado.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre pela reiteração de atos (crime
habitual) que demonstrem o exercício da atividade vedada administrativamente. Não
admite tentativa, porque se trata de crime habitual.
• Ação penal: pública incondicionada.
DICAS:
• Se o agente exercer profssão para qual nunca foi habilitado, haverá a prática de
contravenção de exercício ilegal de profssão ou atividade (art. 47 da LCP), salvo se exercer
ilegalmente medicina, arte dentária ou farmacêutica, já que haverá a prática do crime do art.
282 do CP.
• Se o agente exercer atividade da qual está impedido por decisão judicial, haverá o crime
específco previsto no art. 359 do Código Penal, salvo quando se trata de exercício ilegal de
função pública por parte de quem foi exonerado, removido, substituído ou suspenso, hipótese
em que haverá a prática do crime do art. 324 do Código Penal.
146
22
É importante destacar que algumas características são comuns para todos os crimes contra a
dignidade sexual: a) Com a Lei n. 13.718/18 todos os crimes contra a dignidade sexual passaram a
ser de ação pública incondicionada, b) conforme previsto no art. 234-B do Código Penal, os processos
que apuram crimes contra a dignidade sexual correm em segredo de justiça e c) conforme previsto
nos artigos 226 e 234-A do CP, que também sofreram alterações com a Lei n. 13.718/18, os crimes
contra a dignidade sexual terão a pena aumentada com base nos seguintes critérios:
AUMENTO
AMENTO DE 1/3 DE 1/3 (UM
AUMENTO DE AUMENTO DE (UM TERÇO) TERÇO) A
1/4 1/2 A 2/3 (DOIS 2/3 (DOIS
TERÇOS) TERÇOS
• Se resulta
gravidez
22.1.1. ESTUPRO
ocorrem de forma culposa. Havendo dolo em relação à lesão corporal ou morte, o agente
responderá pelo crime de estupro em concurso material com o crime de lesão corporal ou
homicídio.
• O crime de estupro, na forma simples ou qualifcada, é considerado crime hediondo (art.
1º, V, da Lei n. 8.072/90)
• Descrição do Tipo (art. 215 do CP): ter conjunção carnal ou praticar outro ato
libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou difculte a livre
manifestação de vontade da vítima. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos e, se o
crime é cometido com o fm de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:
qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Causas de aumento: aplicam-se as causas de aumento de pena previstas nos artigos
226 e 234-A do CP.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a conjunção carnal ou com a
prática do ato libidinoso. A tentativa é possível
148
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.
• Descrição do Tipo (art. 215-A do CP): praticar contra alguém e sem a sua anuência
ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro. Pena -
reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:
qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Causas de aumento: a pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de
18 (dezoito) anos. Além disso, aplicam-se as demais causas de aumento previstas nos
artigos 226 e 234-A do CP
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento da conduta do ato
libidinoso. A tentativa é possível.
• Ação penal: ação pública incondicionada.
• O crime de importunação sexual foi inserido no código penal a partir da Lei nº 13.718/2018,
visando punir as condutas libidinosas contra terceiros, como nos casos noticiados pela
mídia de sujeitos que se masturbavam e ejaculavam em passageiros de ônibus. Antes, esse
tipo de conduta era enquadrada na contravenção penal chamada de importunação ofensiva
ao pudor (art. 61 da Lei de Contravenções penai), que foi revogada pela Lei nº 13.718/2018.
• Se o ato libidinoso não se destinar a uma vítima determinada, como no caso da masturbação
em público sem ofender pessoa específca, o ato poderá confgurar o crime de ato obsceno
(art. 233 do C).
• Descrição do Tipo (art. 216-A do CP): constranger alguém com o intuito de obter
vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de
superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou
função. Pena — detenção, de um a dois anos
• Sujeitos: a) sujeito ativo: superior hierárquico da vítima (crime próprio), b) sujeito
passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Causas de aumento: a pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de
18 (dezoito) anos. Além disso, aplicam-se as demais causas de aumento previstas nos
artigos 226 e 234-A do CP
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento da conduta do assédio,
independentemente do resultado (crime formal). A tentativa é possível, como no caso
do assédio praticado por bilhete interceptado.
149
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.
• Descrição do Tipo (art. 217-A do CP): ter conjunção carnal ou praticar outro ato
libidinoso com menor de 14 anos: Pena — reclusão, de oito a quinze anos.
• Forma equiparada: incorre nas mesmas penas quem pratica as ações descritas no
caput com alguém que, por enfermidade ou doença mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência.
• Forma majorada:
• As fguras qualifcadas são de caráter preterdoloso, de modo que a lesão grave ou morte
ocorrem de forma culposa. Havendo dolo em relação à lesão corporal ou morte, o agente
responderá por estupro de vulnerável em concurso material com o crime de lesão corporal
ou homicídio.
• O crime de estupro, na forma simples ou qualifcada, é considerado crime hediondo (art.
1º, VI, da Lei n. 8.072/90)
A Lei nº 13.718/2018 acrescentou o § 5º ao art. 217 do CP, dispondo que as penas previstas
no artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter
mantido relações sexuais anteriormente ao crime.
• Descrição do Tipo (art. 218 do CP): induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a
satisfazer a lascívia de outrem. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: menor
de 14 anos de idade.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Causas de aumento: aplicam-se as causas de aumento previstas nos artigos 226 e
234-A do CP.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que o ato é realizado,
mesmo que o terceiro não tenha fcado sexualmente satisfeito. A tentativa é possível.
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.
DICA: Não confundir o crime de corrupção de menores previsto no art. 218 do CP com o crime
de corrupção de menores previsto no art. 244-B do ECA, já que neste último caso o crime se
caracteriza quando o agente corrompe pessoa menor de 18 anos para praticar infração penal.
O crime sob análise foi inserido no código penal a partir da Lei nº 13.718/2018, visando punir
as condutas corriqueiras de transmissão e divulgação de cenas de estupro ou estupro de
vulnerável ou, sem consentimento da vítima, de sexo e de nudez. Se o crime for praticado
contra pessoa que o agente tenha mantendo relação íntima ou de afeto (ex-mulher, namorada,
etc) ou por vingança (“revenge porn”), a pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços).
• Descrição do Tipo (art. 227 do CP): induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem.
Pena — reclusão, de um a três anos.
• Formas qualifcadas:
• Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o
agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou
curador ou pessoa a quem esteja confada para fns de educação, de tratamento
ou de guarda. Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
• Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude.
Pena- reclusão, de dois a oito anos, além da pena correspondente à violência.
SE a vítima for menor de 14 anos de idade, o agente pratica o crime de corrupção de menores.
153
• Descrição do Tipo (art. 228 do CP): induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra
forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou difcultar que alguém a abandone.
Pena — reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
• Formas qualifcadas:
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22.3.4. RUFIANISMO
• Descrição do Tipo (art. 230 do CP): tirar proveito da prostituição alheia, participando
diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a
exerça. Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa.
• Formas qualifcadas:
• Se a vítima é menor de 18 e maior de 14 anos ou se o crime é cometido por
ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor
154
ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu por lei ou outra
forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: Pena — reclusão, de três a
oito anos, e multa.
• Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça, fraude ou
outro meio que impeça ou difculte a livre manifestação da vontade da vítima. Pena
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A inserção, entretanto, ocorreu indevidamente no Título dos crimes contra a dignidade sexual,
já que o tipo penal objetiva tutelar a soberania nacional, garantindo a segurança interna do país,
não havendo, portanto, qualquer conotação sexual.
• Descrição do Tipo (art. 232-A do CP): promover, por qualquer meio, com o fm de
obter vantagem econômica, a entrada ilegal de estrangeiro em território nacional ou
de brasileiro em país estrangeiro. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
O tipo penal pune apenas o terceiro que promove a migração ilegal. O migrante ilegal não
comete o crime.
• Forma equiparada: na mesma pena incorre quem promover, por qualquer meio,
com o fm de obter vantagem econômica, a saída de estrangeiro do território nacional
para ingressar ilegalmente em país estrangeiro.
• Causas de aumento de pena: a pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um
terço) se: I - o crime é cometido com violência; ou II - a vítima é submetida a condição
desumana ou degradante.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado.
• Tipo Subjetivo: apenas na forma dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a entrada ilegal do estrangeiro no
território brasileiro ou com a entrada ilegal do brasileiro em território estrangeiro e, na
forma equiparada, com a saída do estrangeiro do território brasileiro. A tentativa é possível.
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.
155
O § 3º do art. 232-A do CP estabelece que a pena prevista para o crime será aplicada sem
prejuízo das correspondentes às infrações conexas. Assim, caso o agente cometa outros crimes
no contexto da promoção de migração material (falsifcação de documento, por exemplo),
haverá concurso material, não se aplicando princípio da consunção. Assim, é perfeitamente
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
possível a ocorrência de concurso material com os crimes do art. 232-A e de tráfco de pessoas
(art. 149-A do CP).
156
23
23.1.1. BIGAMIA
• Descrição do Tipo (art. 235 do CP): contrair alguém, sendo casado, novo casamento.
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
• Exceção à teoria monista do concurso de pessoas: aquele que, não sendo casado,
contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com
reclusão ou detenção, de um a três anos. Em outras palavras, embora o crime seja
de concurso necessário, a pessoa casada e o terceiro com quem se casa terão penas
diferentes pela prática do crime.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: apenas pessoa casada (crime próprio), b) sujeito passivo:
Estado e, indiretamente, o cônjuge enganado.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento da celebração do
casamento.
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.
Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia,
considera-se inexistente o crime (§ 2º do art. 235 do CP).
• Descrição do Tipo (art. 236 do CP): contrair casamento, induzindo em erro essencial
o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior.
Pena — detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado
e, indiretamente, o cônjuge enganado.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento da celebração do casamento.
• Ação penal (art. 236, parágrafo único, do CP): a ação penal depende de queixa do
contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a
sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.
157
23.2. CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR
• Descrição do Tipo (art. 244 do CP): deixar, sem justa causa, de prover à subsistência
do cônjuge, ou de flho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de
ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os
recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente
acordada, fxada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou
ascendente, gravemente enfermo. Pena — detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País.
• Forma equiparada: nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou
ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustifcado de emprego ou função, o
pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fxada ou majorada.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser o cônjuge, genitor, ascendente ou descendente
(crime próprio), b) sujeito passivo: pode ser o cônjuge, o flho enfermo, menor de
dezoito anos ou inapto para o trabalho, ascendente enfermo, maior de sessenta anos
de idade ou inválido.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a recusa de prestar assistência.
Não cabe tentativa.
• Ação penal: pública incondicionada.
• Descrição do Tipo (art. 246 do CP): deixar, sem justa causa, de prover à instrução
primária de flho em idade escolar: Pena — detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês,
ou multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pais do menor (crime próprio), b) sujeito passivo: flho em
idade escolar obrigatória.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre quando o sujeito ativo, por tempo
relevante, deixa de providenciar a instrução primária do flho. Não cabe tentativa.
• Ação penal: pública incondicionada.
158
24
• Descrição do Tipo (art. 286 do CP): incitar, publicamente, a prática de crime: Pena —
detenção, de 3 (três) a 6 (seis) meses, ou multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: coletividade.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a incitação pública. Possível a
tentativa quando a execução for pela forma escrita.
• Ação penal: pública incondicionada.
• Descrição do Tipo (art. 287 do CP): fazer, publicamente, apologia de fato criminoso
ou de autor de crime: Pena — detenção, de 3 (três) a 6 (seis) meses, ou multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: coletividade.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Ação penal: pública incondicionada.
• Descrição do Tipo (art. 288 do CP): associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o
fm específco de cometer crimes. Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Se não houver combinação ou liame subjetivo entre os sujeitos que cometeram os crimes, não
há que se falar em associação criminosa TEMA COBRADO NO XV EXAME DA OAB/FGV.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: coletividade.
159
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa. Exige-se, ainda, o dolo específco
consubstanciado na expressão “para o fm específco de cometer crimes”
• Causa de aumento: a pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou
se houver a participação de criança ou adolescente.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
DICAS:
• A associação de pessoas para o fm específco de cometer contravenções penais (jogo do
bicho, por exemplo) não constitui crime de associação criminosa, já que o art. 288 se refere
expressamente à prática de crimes TEMA COBRADO NO XVIII EXAME DA OAB/FGV.
• Para a caracterização da associação criminosa basta a associação estável e permanente
para a prática de crimes (crime formal). Caso os integrantes da associação pratiquem os
crimes, haverá concurso material do art. 288 do CP com os delitos cometidos.
• A associação criminosa não se confunde com a organização criminosa prevista na Lei
n. 12.850/2013, que se caracteriza mediante “a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente,
com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante
a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou
que sejam de caráter transnacional”. TEMA COBRADO NOS EXAMES XXXI e XXXII
DA OAB/FGV.
160
25
• Forma Equiparada: nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia,
importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na
circulação moeda falsa (§ 1º do art. 289).
• Forma privilegiada: quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa
ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com
detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado
e pessoas prejudicadas.
161
25.2. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO
• Documento público é o elaborado por funcionário público no exercício das suas atribuições.
Entretanto, para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade
paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade
comercial, os livros mercantis e o testamento particular (§ 2º do art. 297 do CP).
• A falsidade de documento público também é chamada de falsidade material.
• A “falsifcação grosseira”, que não é capaz de atingir a fé-pública do documento e enganar
terceiro, não caracteriza o crime de falsifcação de documento TEMA COBRADO NO
III EXAME DA OAB/FGV.
COMPETÊNCIA:
Justiça federal: Se o documento falsifcado é de atribuição de autoridade federal (como o
passaporte), a competência é da Justiça Federal.
Justiça Estadual: Se o documento falsifcado devia ter sido emitido por funcionário público
estadual ou municipal, a competência é da Justiça Estadual (Exemplo; CNH, já que emitida por
autoridade estadual)
Falsifcação de Carteira de Trabalho (CTPS): Se a fnalidade da falsifcação é prejudicar a
previdência social, a competência será da Justiça Federal, ao passo que, se a falsifcação for
162
para fns particulares, a competência é da Justiça Estadual (Súmula n. 62 do STJ).
25.3. FALSIDADE DE DOCUMENTO PARTICULAR
anos, e multa
O conceito de documento particular é obtido por exclusão, ou seja, todo documento que não for
público ou a ele equiparado para fns penais será documento particular, inclusive os cartões de
crédito e de débito.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado
e as pessoas prejudicadas.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a falsifcação ou alteração do
documento público, independentemente do seu uso (crime de perigo). A tentativa é possível
quando o agente é pego antes de terminada a falsifcação ou alteração do documento.
• Ação penal: pública incondicionada.
O crime de falsidade ideológica também é conhecido como falsidade intelectual e pode recair
sobre documento público ou particular, variando apenas quanto a pena (no documento público
a pena é de reclusão, de um a cinco anos, e multa, e, no documento particular a pena é de
reclusão, de um a três anos, e multa).
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado
e as pessoas prejudicadas.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa TEMA COBRADO NO XXI EXAME
DA OAB/FGV.
• Causa de aumento: se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-
163
se do cargo, ou se a falsifcação ou alteração é de assentamento de registro civil,
aumenta-se a pena de sexta parte.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre quando o documento fca pronto com a
omissão ou alteração dos seus dados. A tentativa é possível apenas se a conduta por comissiva.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
• Descrição do Tipo (art. 304 do CP): fazer uso de qualquer dos papéis falsifcados ou
alterados, a que se referem os arts. 297 a 302. Pena - a cominada à falsifcação ou à alteração.
• Fazer uso signifca apresentar o documento a alguém. A mera posse do documento não
caracteriza o crime. Assim, se “A” obteve um documento falsifcado, mas nunca o apresentou
a ninguém não poderá responder pelo crime do art. 304 do CP.
• A pessoa que falsifcou o documento e depois o utilizou responde apenas pelo crime de
falsifcação, uma vez que o uso é considerado fato posterior não punível.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), menos quem praticou a
falsifcação b) sujeito passivo: Estado e as pessoas prejudicadas.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com o uso, a apresentação, do
documento, ainda que o agente não obtenha qualquer vantagem (crime formal). A
tentativa não é possível, porque se o agente não apresenta o documento o fato é atípico.
• Ação penal: pública incondicionada.
DICA: O agente que usa documento falso para cometer estelionato responde apenas pelo
estelionato, uma vez que o uso é considerado apenas crime-meio.
164
26
26. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
165
26.1.2. PECULATO
Peculato próprio: A fgura típica do caput do art. 312 do CP contempla o peculato próprio, que abrange
o denominado peculato-apropriação (primeira parte do tipo: “apropriar-se”) e o peculato-desvio
(segunda parte do tipo penal: “desviá-lo”).
166
26.1.4. PECULATO ELETRÔNICO
A Lei nº 9.983/2000 acrescentou os artigos 313-A e 313-B ao código penal, que punem a conduta
do funcionário público referente à inserção de dados falsos, alteração ou modifcação de dados no
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
26.1.5. CONCUSSÃO
• Descrição do Tipo (art. 316 do CP): exigir, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
vantagem indevida. Pena - reclusão, de dois a 12 anos, e multa.
• Na concussão a exigência feita pelo funcionário implica uma ameaça, direta ou indireta,
já que no caso de mero pedido, há o crime de corrupção passiva TEMA COBRADO NO
XXIII EXAME DA OAB/FGV.
• Na concussão a vantagem deve ser indevida. Se a vantagem for devida, poderá caracterizar
o crime de abuso de autoridade.
• Descrição do Tipo (art. 317 do CP): solicitar ou receber, para si ou para outrem,
167
direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em
razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem. Pena – reclusão,
de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. TEMA COBRADO NO XXXIII EXAME DA OAB/
FGV:
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer funcionário público (crime próprio), b) sujeito
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Na corrupção passiva privilegiada o agente não objetiva vantagem indevida, por isso a pena é menor.
26.1.7. PREVARICAÇÃO
168
PREVARICACÃO IMPRÓPRIA: A Lei n. 11.466/2007 inseriu o art. 319-A ao CP, prevendo uma
nova modalidade típica, chamada pela doutrina de prevaricação imprópria, para punir Diretor de
Penitenciária e/oupública
• Ação penal: agente público que deixar de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso
incondicionada.
a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou
com o ambiente externo
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26.2.1. RESISTÊNCIA
• Descrição do Tipo (art. 329 do CP): opor-se à execução de ato legal, mediante
violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja
prestando auxílio. Pena — detenção, de dois meses a dois anos.
• Forma qualifcada: se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena — reclusão,
de um a três anos.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que o agente
emprega violência ou ameaça (crime formal). Se em razão da sua conduta o agente
evitar a pratica do ato resistido, estará consumada a forma qualifcada. A tentativa é
possível, como no caso de ameaça feita por escrito.
169
• Ação penal: pública incondicionada.
26.2.2. DESOBEDIÊNCIA
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• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado
e indiretamente o funcionário público.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que o agente
descumpre o ordem emanada. A tentativa é possível apenas na modalidade comissiva.
• Ação penal: pública incondicionada.
26.2.3. DESACATO
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado
e o funcionário público.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento da ofensa. Não se
admite a tentativa, porque a ofensa deve ocorrer na presença do funcionário público.
170
• Ação penal: pública incondicionada.
• Descrição do Tipo (art. 332 do CP): solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para
outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de infuir em ato praticado por
funcionário público no exercício da função: Pena — reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
“B” está respondendo pelo crime de furto. Sabendo disso, “A” fala para “B” que é amigo íntimo
do juiz que julgará o seu processo e exige dinheiro para ajudá-lo na causa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa, b) sujeito passivo: Estado e pessoa enganada.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Causa de aumento de pena: a pena é aumentada da metade, se o agente alega ou
insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que o agente solicita,
exige, cobra ou obtém a vantagem ou promessa de vantagem. A tentativa é possível,
como no caso de exigência feita por escrito que é interceptada.
• Ação penal: pública incondicionada.
A entrega de bem ou quantia solicitada por funcionário público não confgura por si só corrupção
ativa, uma vez que esta depende da ação de oferecer ou prometer vantagem indevida. Se o
particular apenas entregar vantagem solicitada, sem praticar os verbos do tipo, será vítima de
corrupção passiva.
26.2.6. DESCAMINHO
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza
em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País
ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina
no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem;
Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências (§
2º do art. 334 do CP).
26.2.7. CONTRABANDO
Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências (§ 2º
do art. 334-A do CP).
173
DESCAMINHO CONTRABANDO
Entrada ou saída de produtos permitidos, mas Entra e saída de produtos vedados por lei
que não passaram pelos trâmites burocrático- (armas, drogas, etc).
tributários devidos.
174
27
• Descrição do Tipo (art. 339 do CP): Dar causa à instauração de inquérito policial, de
procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo
disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra alguém,
imputando-lhe crime, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente:
(Redação dada pela Lei nº 14.110, de 2020) TEMA COBRADO NOS EXAMES V, XIX
E XXXII DA OAB/FGV.
A mera imputação a alguém de fato defnido como crime, sem a instauração de investigação
administrativa ou policial, processo judicial, inquérito civil ou ação de improbidade
administrativa, pode confgurar o crime de calúnia (art. 138 do CP), mas não confgura
denunciação caluniosa TEMA COBRADO NO II EXAME DA OAB/FGV.
Com a nova lei, além da imputação de crime, poderá também confgurar denunciação
caluniosa a imputação de infração ético-disciplinar ou ato ímprobo a alguém que se sabe que é
inocente.
A Lei nº 13.834/2019 inseriu o art. 326-A ao Código Eleitoral, prevendo o crime de denunciação
caluniosa com fnalidade eleitoral. Desse modo, se alguém praticar denunciação caluniosa com
fnalidade eleitoral responderá pelo crime do art. 326-A do CE, e não pelo art. 339 do CP. 175
27.2. COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO
• Descrição do Tipo (art. 342 do CP): fazer afrmação falsa, ou negar ou calar a verdade
como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4
(quatro) anos, e multa. .
• Sujeitos: a) sujeito ativo: testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, exigindo-
se a atuação pessoal do agente (crime de mão própria), b) sujeito passivo: Estado.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Causas de aumento: as penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime
é praticado mediante suborno ou se cometido com o fm de obter prova destinada a
produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da
administração pública direta ou indireta.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que a testemunha,
tradutor ou intérprete, terminam o seu depoimento, ou na entrega do laudo pericial pelo
perito. A tentativa é possível apenas na forma escrita (entrega de laudo, por exemplo).
• Ação penal: pública incondicionada.
• Retratação: o fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que
ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.
176
DICAS:
• Teoria subjetiva: Prevalece a adoção da teoria subjetiva no falso testemunho, ou seja, o
crime estará caracterizado quando não houver correspondência entre o depoimento e aquilo
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que a testemunha de fato presenciou. Sendo assim, é possível o falso testemunho sobre fato
verdadeiro, como na hipótese da testemunha que alega ter presenciado um crime que de
fato ocorreu, mas ela não estava no local.
• Súmula n. 165 do STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso
testemunho cometido no processo trabalhista.
• Descrição do Tipo (art. 345 do CP): fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer
pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite. Pena - detenção, de quinze
dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.
A pretensão deve ser legítima para confgurar o crime do art. 345 do CP. Caso a pretensão seja
ilegítima, a conduta do agente pode confgurar o crime de constrangimento ilegal (art. 146 do CP)
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa, mas se for funcionário público pode
confgurar o crime de abuso de autoridade, b) sujeito passivo: Estado e, em segundo
plano, a pessoa prejudicada.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Ação penal: se o crime for praticado sem violência, o delito se processa mediante ação
penal privada. Se o crime for praticado com violência, a ação será pública incondicionada.
Se ao crime não é cominada pena de reclusão. Pena - detenção, de quinze dias a três
meses, e multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa, mas se for funcionário público pode
confgurar o crime de abuso de autoridade, b) sujeito passivo: Estado.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Ação penal: pública incondicionada.
177
• Escusa absolutória (§ 2º): se quem presta o auxílio é ascendente, descendente,
cônjuge ou irmão do criminoso, fca isento de pena.
27.6. FAVORECIMENTO REAL TEMA COBRADO NOS EXAMES VII, XIX E XXXIII DA
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OAB/FGV.
• Descrição do Tipo (art. 349 do CP): prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria
ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime. Pena -
detenção, de um a seis meses, e multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa, mas se for funcionário público pode
confgurar o crime de abuso de autoridade, b) sujeito passivo: Estado.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
Busca ajudar o autor de crime anterior Busca tornar seguro o proveito do crime
FAVORECIMENTO REAL IMPRÓPRIO: A Lei n. 12.012/2009 inseriu o art. 349-A ao CP, prevendo
uma nova modalidade típica, chamada pela doutrina de favorecimento real impróprio, para
quem ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de
comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional.
Importante lembrar que o direitor da penitenciária ou agente público que forem coniventes
com o ingresso de aparelho telefônicos no presidio responderão pelo crime de prevaricação
imprópria (art. 319-A do CP).
• Descrição do Tipo (art. 355, parágrafo único, do CP): advogado ou procurador judicial
que defende na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias. Pena
- detenção, de seis meses a três anos, e multa.
Não há necessidade que o patrocínio ocorra no mesmo processo, desde que seja relativo à
mesma causa.
179
28
Existem algumas leis especiais cujo conhecimento é importante para a prova da OAB, conforme
doravante analisado.
As regras sobre o procedimento adotado nos crimes previstos na Lei de Drogas já foram
estudadas no livro de processo penal, de modo que analisaremos neste tópico apenas os crimes
mais importantes para a prova da OAB.
• Descrição do Tipo (art. 28): quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar
ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I -
advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III -
medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo, sendo que, nos
casos II e III, serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses, salvo no caso de
reincidência em que o prazo máximo poderá ser 10 (dez) meses (§ 3º e § 4º).
180
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum); b) sujeito passivo: Coletividade.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: o crime se consuma quando o agente adquire ou, no
caso de trazer consigo, guardar ou ter em depósito, quando o agente obtém a posse
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No crime do art. 28 da Lei de Drogas não é possível a prisão em fagrante do usuário, devendo
o infrator ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o
compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se
as requisições dos exames e perícias necessários (§ 2º do art. 48). Além disso, como não há
pena privativa de liberdade prevista para o crime do art. 28 da Lei n. 11.343/2006, trata-se de
infração de menor potencial ofensivo, devendo ser submetida ao rito sumaríssimo previsto
na Lei n. 9.099/95, permitindo-se inclusive a aplicação da transação penal e da suspensão
condicional do processo.
• Descrição do Tipo (art. 33): importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar,
adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo,
guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar. Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
• Formas equiparadas: nas mesmas penas incorre quem:
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse,
administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize,
ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar, para o tráfco ilícito de drogas.
181
IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico
destinado à preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com
a determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado, quando
presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente
(acrescido pela Lei n. 13.964/19)
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• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum); b) sujeito passivo: Coletividade.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Causas de aumento da pena (art. 40): a pena pode ser aumentadas de um sexto a
dois terços, se:
De acordo com a Súmula 587, para a incidência da majorante prevista no artigo 40, inciso V, da
lei 11.343/06, é desnecessária a efetiva transposição de fronteiras entre Estados da Federação,
sendo sufciente a demonstração inequívoca da intenção de realizar o tráfco interestadual.
TEMA COBRADO NO XXXVII EXAME DA OAB/FGV.
• Tráfco privilegiado: as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde
que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas
nem integre organização criminosa TEMA COBRADO NO XXIV EXAME DA OAB/FGV.
182
• Consumação e tentativa: o crime se consuma quando o agente realiza um as
condutas descritas no tipo penal, havendo algumas condutas instantâneas (vender,
adquirir, oferecer, etc.) e outras permanentes (transportar, guardar, etc.). TEMA
COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV. A tentativa é possível apenas nas condutas
instantâneas.
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183
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Causas de aumento de pena (§ 4º): a pena será aumentada de um a dois terços, se
os crimes defnidos nesta Lei forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio
de organização criminosa.
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Como regra geral, a competência para o julgamento do crime da lavagem de capitais é da Justiça
Estadual (STJ, CC 32.861). No entanto, a competência será da Justiça Federal nos seguintes
casos: a) Quando praticado em detrimento de bens serviços e interesses da União, suas
autarquias e empresas públicas (artigo 109, IV da CF); b) Quando a infração penal antecedente
for de competência da Justiça Federal e c) Quando a lavagem de capitais for praticada além do
território nacional.
A lei n. 8.072/90 elenca expressamente os crimes que são considerados hediondos, o que o faz
em seu art. 1º, recentemente alterado pela Lei n. 13.964/19 (pacote anticrime), a saber:
184
O homicídio simples será crime hediondo apenas quando praticado em atividade típica de grupo
de extermínio. Não podemos ainda confundir grupo de extermínio com concurso de pessoas,
uma vez que no grupo de extermínio a vítima é atacada em razão de alguma característica
determinada (ex.: ser mendigo, negro, torcedor de determinado tipo, homossexual, etc.), não
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• Lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2º, do CP) e lesão
corporal seguida de morte (art. 129, § 3º), quando praticadas contra autoridade ou
agente descrito nos arts.1422 e1444 da Constituição Federal, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição;
• Roubo: a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso
V); b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo
emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B); c) qualifcado
pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º) art. 157, § 3º, in fne, do
CP)
Antes da Lei n. 13.964/19, nenhuma modalidade de furto era considerada crime hediondo.
Já o parágrafo único da Lei nº 8.072/90, alterado pela Lei nº 13.964/19, considera também
crimes hedionondos:
185
• Comércio ilegal de armas de fogo (art. 17 da Lei nº 10.826/03);
Os crimes acima listados serão considerados hediondos se praticados na forma consumada ou tentada.
Existem ainda três crimes que são equiparados a hediondos (“regra do triplo T”), a saber:
Tortura (Lei 9.455/97), Tráfco (Lei 11.343/2006) e Terrorismo (Lei n. 13.260/2016).
É importante memorizar quais crimes são hediondos e equiparados, porque a eles não se
aplicam uma série de direitos, a saber:
O § 1º do art. 2º dispõe que a pena no crime hediondo será cumprida inicialmente em regime
fechado. Ocorre, entretanto que, no HC 11.840, o STF entendeu que é inconstitucional a fxação
do regime inicial fechado apenas pelo caráter hediondo do crime.
Além disso, na progressão de regime do crime hediondo, deve-se observar o contido na Súmula
Vinculante n. 26 do STF:
CRIMES HEDIONDOS OU
CRIMES COMUNS EQUIPRADOS
Suscetíveis de anistia, graça e indulto NÃO são suscetíveis de anistia, graça e indulto
A pena do crime de associação criminosa (art. 288 A pena do crime de associação criminosa
do CP) é de 1 a 3 anos. (art. 288 do CP) é de 3 a 6 anos.
O crime de tortura previsto na lei n. 9.455/97 pode ser classifcado em tortura própria e tortura imprópria.
A tortura própria, apenada com reclusão de 2 a 8 anos, ocorre quando o agente praticas as
seguintes condutas
Já a tortura imprópria, apenada com detenção de 1 a 4 anos, ocorre quando o agente se omite
em face das condutas da tortura própria, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las. Trata-se,
portanto, de crime omissivo e próprio, pois só poderá ser praticada por aquele que tinha o dever
de evitar o crime TEMA COBRADO NO III EXAME DA OAB/FGV.
• Descrição do Tipo (art. 302 do CTB): praticar homicídio culposo na direção de veículo
automotor: Penas — detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
• Forma qualifcada: se o agente conduz veículo automotor sob a infuência de álcool
ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência. Penas
- reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor (§ 3º, acrescentado pela Lei
n. 13.546/2017)
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum); b) sujeito passivo:
qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade culposa, já que na modalidade dolosa
o crime será o previsto no art. 121 do CP.
• Causas de aumento de pena (§ 1º): a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à metade,
se o agente: I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; II -
praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; III - deixar de prestar socorro, quando
possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; IV - no exercício de sua
profssão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento da morte da vítima. A
tentativa não é possível, já que se trata de modalidade culposa.
• Prisão em fagrante: ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito
de que resulte vítima, não se imporá a prisão em fagrante, nem se exigirá fança, se
prestar pronto e integral socorro àquela (art. 301 do CTB).
• Ação penal: pública incondicionada.
Recordando:
188
CRIME DE DANO: é aquele em que há efetiva CRIME DE PERIGO: sua caracterização
“destruição” do bem protegido, como no caso dos exige apenas a probabilidade de dano. É
crimes de homicídio e de lesão corporal. subdividido em: a) crime de perigo concreto
(a situação de perigo deve ser demonstrada
no caso concreto, como no caso do crime de
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
• Descrição do Tipo (art. 303 do CTB): praticar lesão corporal culposa na direção
de veículo automotor. Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou
proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor
TEMA COBRADO NO V EXAME DA OAB/FGV.
O crime de lesão corporal culposa é de menor potencial ofensivo, aplicando-se a Lei n. 9.099/95,
salvo nas hipóteses previstas no § 1º do art. 291 do CTB , ou seja, quando o agente estiver: I -
sob a infuência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência;
II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição
ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade
competente; III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h
TEMA COBRADO NO XVIII EXAME DA OAB/FGV.
O condutor do veículo que se envolve em acidente com vítima e deixa de prestar socorro comete
o crime do art. 304 do CTB, enquanto que as demais pessoas que não prestam socorro, inclusive
condutores de outros veículos, podem cometer o crime de omissão de socorro do art. 135 do CP.
• Descrição do Tipo (art. 306 do CTB): conduzir veículo automotor com capacidade
psicomotora alterada em razão da infuência de álcool ou de outra substância
190
psicoativa que determine dependência. Penas - detenção, de seis meses a três anos,
multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor.
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A verifcação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia ou
toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em
direito admitidos, observado o direito à contraprova (§ 2º do art. 306).
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum); b) sujeito passivo: Coletividade.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que o agente dirige
o veículo embriagado. A tentativa não é possível.
• Ação penal: pública incondicionada.
191
28.5.7. EXCESSO DE VELOCIDADE EM DETERMINADOS LOCAIS
Se qualquer um dos quatro requisitos acima elencados não estiver presente, estaremos
provavelmente diante de hipótese do crime de associação criminosa previsto no art. 288 do CP,
e não de organização criminosa
192
Importante destacar que a Lei n. 13.964/19 (pacote anticrime) acrescentou os parágrafos 8º
e 9º ao art. 2º da Lei nº 12.850/13, estabelecendo que:
(...)
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
A ideia é isolar os líderes das organizações criminosas armadas ou que tenham armas à
disposição, para que eles não continuem comandando a organização de dentro da cadeia, como
infelizmente costuma acontecer. O § 9º, por sua vez, veda a progressão de regime e a concessão
de livramento condicional ou outro benefício para os integrantes de organização criminosas que
ainda mantém vínculo associativo com a organização.
Outro ponto importantíssimo sobre a lei de organizações criminosas se refere a seu art. 3º, que
admite os seguintes meios de obtenção de prova em qualquer fase da persecução penal:
a) colaboração premiada;
c) ação controlada;
f) afastamento dos sigilos fnanceiro, bancário e fscal, nos termos da legislação específca;
A lei n. 13.964/19 (pacote anticrime) acrescentou também os artigos 3º-A, 3º-B e 3º-C, tratando
especifcamente do acordo de colaboração premiada:
§ 6º Na hipótese de não ser celebrado o acordo por iniciativa do celebrante, esse não
poderá se valer de nenhuma das informações ou provas apresentadas pelo colaborador,
de boa-fé, para qualquer outra fnalidade.’
‘Art. 3º-C. A proposta de colaboração premiada deve estar instruída com procuração
do interessado com poderes específcos para iniciar o procedimento de colaboração e
suas tratativas, ou frmada pessoalmente pela parte que pretende a colaboração e seu
advogado ou defensor público.
§ 1º Nenhuma tratativa sobre colaboração premiada deve ser realizada sem a presença
de advogado constituído ou defensor público.
194
Se a proposta não for sumariamente indeferida, as partes devem frmar Termo de Confdencialidade
para prosseguimento das tratativas, o que vinculará os órgãos envolvidos na negociação e impedirá
o indeferimento posterior sem justa causa (§ 2º do art. 3º-B).
Se o acordo não for celebrado por iniciativa do celebrante, esse não poderá se valer de nenhuma
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das informações ou provas apresentadas pelo colaborador, de boa-fé, para qualquer outra fnalidade
(§ 6º do art. 3º-B).
Outro ponto que merece destaque, em especial para a prova da OAB, é que o colaborador deve
estar sempre assistido por advogado ou defensor púbico, devendo o advogado possuir poderes
especiais para representar o seu cliente.
Realizado o acordo, este deverá ser homologado pelo juiz, que ouvirá sigilosamente o colaborador,
acompanhado de seu defensor, oportunidade em que analisará a legalidade, regularidade e
voluntariedade do colaborador na celebração do acordo, conforme § 7º do art. 4º, também alterado
pela Lei 13.964/19.
Destaca-se ainda que nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas
nas declarações de agente colaborador . Além disso, a Lei n. 13.964/19 aletrou o § 16 do art. 4º, para
dispor que, além da sentença, fcam incluídas na proibição as medidas cautelares reais (arresto e
sequestro, por exemplo) ou pessoais (prisão preventiva e temporária, por exemplo) e o recebimento
da denúncia ou queixa-crime.
Para tratar da inflrtração de agentes, a Lei n. 13.964/19 (pacote anticrime) acrescentou ainda os
artigos 10-A, 10-B, 10-C e 10-D:
“Art. 10-A. Será admitida a ação de agentes de polícia infltrados virtuais, obedecidos
os requisitos do caput do art. 10, na internet, com o fm de investigar os crimes
previstos nesta Lei e a eles conexos, praticados por organizações criminosas, desde
que demonstrada sua necessidade e indicados o alcance das tarefas dos policiais, os
nomes ou apelidos das pessoas investigadas e, quando possível, os dados de conexão
ou cadastrais que permitam a identifcação dessas pessoas.
§ 3º Será admitida a infltração se houver indícios de infração penal de que trata o art.
1º desta Lei e se as provas não puderem ser produzidas por outros meios disponíveis.
§ 4º A infltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de
eventuais renovações, mediante ordem judicial fundamentada e desde que o total não
exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja comprovada sua necessidade.
A infltração de agentes na internet já possuía previsão no ECA, para os crimes contra dignidade
sexual de crianças e adolescentes e, com a Lei n. 13.964/19, passou a ter previsão também
para combater os crimes de organização criminosa e os a ele conexos.
A infltração depende de autorização judicial e, quando o pedido for feito pelo delegado de
polícia, o Ministério Público deve ser ouvido. Pode ser autorizada pelo prazo de 6 meses, que
pode ser prorrogado várias vezes, desde que não exceda o total de 720 dias.
Após o prazo de duração da infltração, deve ser elaborado relatório minucioso com o histórico
de todos os atos praticados, sendo que o relatório será apresentado ao juiz, que imediatamente
cientifcará o MP.
Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o acesso aos autos será reservado
ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia responsável pela operação, com o
objetivo de garantir o sigilo das investigações.”
”
Apenas o juiz, o MP e o delegado de polícia responsável pela operação podem ter acesso aos
autos da infltração, para que esta não seja prejudicada. O advogado, portanto, não tem direito a
acessar os autos, o que confgura uma exceção ao direito estabelecido no art. 7 º, XIV, do EAOAB.
“Art. 10-C. Não comete crime o policial que oculta a sua identidade para, por meio da
internet, colher indícios de autoria e materialidade dos crimes previstos no art. 1º desta
Lei.
Parágrafo único. O agente policial infltrado que deixar de observar a estrita fnalidade
da investigação responderá pelos excessos praticados.”
O registro, a gravação e o armazenamento dos dados são necessários para preservar a cadeia
de custódia dos indícios e provas colhidos.
Por fm, cabe destacar ainda a inclusão do parágrafo único ao art. 11 da Lei 12.850, nos seguintes
termos:
O “Art. 11. (...)
Parágrafo único. Os órgãos de registro e cadastro público poderão incluir nos bancos
196
de dados próprios, mediante procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial,
as informações necessárias à efetividade da identidade fctícia criada, nos casos de
infltração de agentes na internet.”
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O § 1º do art. 4º dispõe que, excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido seja formulado
verbalmente, desde que estejam presentes os pressupostos que autorizem a interceptação, caso
em que a concessão será condicionada à sua redução a termo.
Para que interceptação telefônica seja deferida, são necessários os seguintes requisitos,
conforme interpretação, a contrario sensu, do art. 2º Lei n. 9.296/96:
Destaca-se ainda que a Lei n. 13.964 /19 (pacote anticrime) acrescentou o art. 8º-A na Lei
de Interceptação Telefônica, deixando claro que a captação ambiental de sinais eletromagnéticos,
ópticos ou acústicos poderá ser feita mesmo que o crime não esteja relacionado às organizações
criminosas, desde que presentes os seguintes requisitos: a) Impossibilidade de a prova ser
produzida por outros meios disponíveis e igualmente efcazes; b) Elementos probatórios razoáveis
de autoria e participação em infrações criminais cujas penas máximas sejam superiores a 4
(quatro) anos ou em infrações penais conexas.
Pode ser considerada infração penal conexa aquela que está sendo investigada no mesmo
contexto de outra infração penal.
Além disso, de acordo com a redação original do Pacote Anticrime havia a previsão de inserção
dos parágrafos 2º e 4º no art. 8-A da Lei de Interceptações Telefônicas (Lei nº 9.296/96), com a
seguinte redação:
Já o parágrafo segundo foi vetado sob o argumento de que, ao limitar o uso da prova obtida
mediante a captação ambiental apenas pela defesa, a norma contraria o interesse público e
também a jurisprudência do STF.
A lei n. 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, cria mecanismos para coibir a
violência doméstica e familiar contra a mulher.
Abaixo destacamos, de forma sucinta, os principais pontos da referida lei a serem memorizados
para a prova da OAB/FGV:
A Lei 13.772/2018 alterou o inciso II do art. 7º da Lei Maria da Penha, dispondo que
a violação da intimidade da mulher também é considerada violência doméstica, na
modalidade violência psicológica
• Todos os gastos acarretados pela vítima da violência doméstica devem ser arcados
pelo agressor , incluindo o ressarcimento dos custos do tratamento de saúde prestado
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• A Lei nº 13.827/2019 inseriu o art. 12-C à Lei Maria da Penha, passando a dispor
que, havendo risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou psicológica
(a previsão da integridade psicológica foi acrescentada pela Lei nº 14.188/21)
da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes,
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permite-se a aplicação IMEDIATA de medida protetiva para afastar o agressor do lar,
domicílio ou local de convivência com a ofendida. A medida deverá ser aplicada pelo
juiz, mas também poderá ser aplicada pelo delegado de polícia, quando o Município
não for sede de comarca ou pelo policial, quando o Município não for sede de comarca
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A Lei nº 13.641/2018 acrescentou o art. 24-A à Lei Maria da Penha passando a dispor
que o descumprimento de medida protetiva imposta também será considerado crime.
Importante destacar, ainda, que a Lei n° 14.550/23 promoveu duas alterações importantes na
Lei a Maria da Penha.
A primeira alteração foi a inclusão dos parágrafos 4º, 5º e 6º no artigo 19, vejamos:
Art. 19 da Lei Maria da Penha
(...)
Estabelece o novo parágrafo quarto, portanto, que, para a concessão das medidas protetivas de
urgência, é sufciente o depoimento da vítima em cognição sumária, ou seja, não há necessidade
de outras provas, como depoimento testemunhal ou laudos periciais, sendo desnecessária a
existência de processo ou inquérito policial. Além disso, somente será possível o indeferimento
das medidas se, na avaliação da autoridade, inexistir risco à integridade física, psicológica, sexual,
patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes.
O parágrafo quinto, por sua vez, passou a consagrar a natureza cível de todas as medidas
protetivas, uma vez que elas podem ser deferidas independentemente de registro de Boletim de
Ocorrência, inquérito policial instaurado ou processo criminal em curso.
Já o parágrafo sexto passou a dispor que as medidas protetivas de urgência vigorarão enquanto
persistir risco à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de
seus dependentes, ou seja, não é possível vincular a duração da medida à existência de inquérito,
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processo ou ao cumprimento da pena.
Já a segunda alteração promovida pela Lei n° 14.550/23 foi o acréscimo do art. 40-A, in verbis:
Art. 40-A da Lei Maria da Penha - Esta lei será aplicada a todas as situações previstas
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O legislador passou a considerar, portanto, que se presume que a violência no âmbito doméstico
é uma violência de gênero, incidindo a necessidade de proteção da Lei Maria da Penha. Trata-se de
presunção relativa, de modo que apenas é possível deixar de aplicar a Lei Maria da Penha quando
ocorrer a demonstração inequívoca de que o ato de violência não atingiu ou visou a vítima mulher.
28.9. ECA
Em relação aos crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, o tema foi tratado
em capítulo próprio na apostila de ECA.
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BIBLIOGRAFIA
• CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 1, parte geral. 22ª ed. São Paulo:
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL
Saraiva, 2018.
• CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 2, parte especial: arts. 121 a 212.
18ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
• CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 3, parte especial: arts. 213 a 359-
H. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
• CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 4, legislação especial. 13ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2018.
• CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal – Parte Especial. Volume único.
10ª Ed. São Paulo: JusPodivm, 2018.
• CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal – Parte Geral. Volume único. 6ª
Ed. São Paulo: JusPodivm, 2018.
• MASSON, Cleber Rogério. Direito Penal Esquematizado, volume 1, parte geral. 12ª.
Ed. São Paulo: Método, 2011.
• MASSON, Cleber Rogério. Direito Penal Esquematizado, volume 2, parte especial. 3ª.
Ed. São Paulo: Método, 2011.
• MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. Vol. I. 23 ª ed. São Paulo: Atlas, 2006.
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