Você está na página 1de 202

39º EXAME

ATUALIZADO COM: INCLUI:


• Lei nº14.550/2023
• Quadros de ATENÇÃO
(medidas protetivas)
• Lei nº14.532/2023 (injúria • Tabelas Comparativas
racial como racismo)
• Esquemas Didáticos
• Lei nº14.344/2022 (Lei
Henry Borel) • Referências a temas
cobrados em provas anteriores
SUMÁRIO
1.  PRINCÍPIOS DE DIREITO PENAL
2.  APLICAÇÃO DA LEI PENAL
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

2.1.  LEI PENAL NO TEMPO


2.2.  LEI PENAL NO ESPAÇO
2.2.1  TEORIA DA TERRITORIALIDADE MITIGADA
2.2.2  EXTRATERRITORIALIDADE
2.2.3  LUGAR DO CRIME
2.3.  CONFLITO APARENTE DE NORMAS PENAIS

3.  TEORIA DO CRIME


4.  FATO TÍPICO
4.1.  CONDUTA
4.2.  DOLO E CULPA
4.3.  RESULTADO
4.4.  NEXO CAUSAL
4.5.  TIPICIDADE
4.6.  ERRO DE TIPO

5.  ANTIJURIDICIDADE
5.1.  CONCEITO
5.2.  ESTADO DE NECESSIDADE
5.3.  LEGÍTIMA DEFESA
5.4.  ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL
5.5.  EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO
5.6.  DESCRIMINANTES PUTATIVAS
5.7.  TIPICIDADE CONGLOBANTE

6.  CULPABILIDADE
6.1.  IMPUTABILIDADE
6.2.  POTENCIAL CONSCIÊNCIA DE ILICITUDE
6.3.  EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA

7.  CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES


8.  CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
8.1.  CONSIDERAÇÕES GERAIS
8.2.  TENTATIVA
8.3.  DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA
8.4.  ARREPENDIMENTO EFICAZ
8.5.  ARREPENDIMENTO POSTERIOR
2
Alteração Legislativa Atenção Exemplo
8.6.  CRIME IMPOSSÍVEL

9.  CONCURSO DE PESSOAS


10.  CONCURSO DE CRIMES
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

10.1.  CONCURSO MATERIAL


10.2.  CONCURSO FORMAL
10.3.  CRIME CONTINUADO
10.4.  APLICAÇÃO DAS PENAS NO CONCURSO DE CRIMES

11.  SANÇÕES PENAIS


11.1.  MEDIDA DE SEGURANÇA
11.2.  PENA
11.2.1  PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
11.2.2  PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO
11.2.3  MULTA

12.  APLICAÇÃO DA PENA


12.1.  PRIMEIRA FASE
12.2.  SEGUNDA FASE
12.2.1  AGRAVANTES E ATENUANTES
12.2.2  REINCIDÊNCIA
12.3.  TERCEIRA FASE

13.  SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA (“SURSIS”)


14.  LIVRAMENTO CONDICIONAL
15.  EFEITOS DA CONDENAÇÃO
16.  REABILITAÇÃO
17.  EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
17.1.  MORTE DO AGENTE
17.2.  ANISTIA, GRAÇA E INDULTO
17.3.  “ABOLITIO CRIMINIS”
17.4.  DECADÊNCIA
17.5.  PEREMPÇÃO
17.6.  RENÚNCIA
17.7.  PERDÃO ACEITO
17.8.  RETRATAÇÃO
17.9.  PERDÃO JUDICIAL
17.10.  PRESCRIÇÃO

18.  CRIMES CONTRA A PESSOA


18.1.  CRIMES CONTRA A VIDA
3
18.1.1  HOMICÍDIO
18.1.2  INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO
18.1.3  INFANTICÍDIO
18.1.4  ABORTO
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

18.2.  LESÕES CORPORAIS


18.3.  PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
18.3.1  PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO
18.3.2  PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE
18.3.3  PERIGO PARA A VIDA OU SAÚDE DE OUTREM
18.3.4  ABANDONO DE INCAPAZ
18.3.5  EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO
18.3.6  OMISSÃO DE SOCORRO
18.3.7  CONDICIONAMENTO DE ATENDIMENTO MÉDICO-HOSPITALAR EMERGENCIAL
18.3.8  MAUS-TRATOS
18.4.  RIXA
18.5.  CRIMES CONTRA A HONRA
18.5.1  CONCEITO DE HONRA
18.5.2  CALÚNIA
18.5.3  DIFAMAÇÃO
18.5.4  INJÚRIA
18.5.5  RETRATAÇÃO
18.5.6  AÇÃO PENAL
18.6.  CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL
18.6.1  CONSTRANGIMENTO ILEGAL
18.6.2  AMEAÇA
18.6.3  PERSEGUIÇÃO (STALKING)
18.6.4  VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA CONTRA A MULHER
18.6.5  SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO
18.6.6  REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA A DE ESCRAVO
18.6.7  TRÁFICO DE PESSOAS

19.  CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO


19.1.  FURTO
19.2.  FURTO DE COISA COMUM
19.3.  ROUBO
19.4.  EXTORSÃO
19.5.  EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO
19.6.  EXTORSÃO INDIRETA
4
19.7.  DANO
19.8.  INTRODUÇÃO OU ABANDONO DE ANIMAIS EM PROPRIEDADE ALHEIA (art. 164 do CP)
19.9.  APROPRIAÇÃO INDÉBITA
19.10.  APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

19.11.  APROPRIAÇÃO DE COISA HAVIDA POR ERRO, CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR
19.12.  APROPRIAÇÃO DE TESOURO
19.13.  APROPRIAÇÃO DE COISA ACHADA
19.14.  ESTELIONATO
19.15.  ABUSO DE INCAPAZ
19.16.  FRAUDE NO COMÉRCIO
19.17.  OUTRAS FRAUDES
19.18.  FRAUDE À EXECUÇÃO
19.19.  RECEPTAÇÃO
19.20.  RECEPTAÇÃO DE ANIMAIS
19.21.  IMUNIDADES

20.  CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE INTELECTUAL


20.1.  VIOLAÇÃO DE DIREITO INTELECTUAL

21.  CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO


21.1.  ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE TRABALHO
21.2.  ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE CONTRATO DE TRABALHO OU BOICOTAGEM VIOLENTA
21.3.  ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO
21.4.  PARALISAÇÃO DE TRABALHO SEGUIDA DE VIOLÊNCIA OU PERTURBAÇÃO DA ORDEM
21.5.  INVASÃO DE ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL, COMERCIAL OU AGRÍCOLA. SABOTAGEM
21.6.  FRUSTRAÇÃO DE DIREITO ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA
21.7.  EXERCÍCIO DE ATIVIDADE COM INFRAÇÃO DE DECISÃO ADMINISTRATIVA

22.  CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


22.1.  CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL
22.1.1  ESTUPRO
22.1.2  VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE
22.1.3  IMPORTUNAÇÃO SEXUAL
22.1.4  ASSÉDIO SEXUAL
22.2.  CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL
22.2.1  ESTUPRO DE VULNERÁVEL
22.2.2  CORRUPÇÃO DE MENORES
22.2.3  SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE
22.2.4  FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO
SEXUAL DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU DE VULNERÁVEL
5
22.2.5  DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL,
DE CENA DE SEXO OU DE PORNOGRAFIA
22.3.  LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA
DE EXPLORAÇÃO SEXUAL
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

22.3.1  MEDIAÇÃO PARA SATISFAZER A LASCÍVIA DE OUTREM


22.3.2  FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL
22.3.3  CASA DE PROSTITUIÇÃO
22.3.4  RUFIANISMO
22.4.  PROMOÇÃO DE MIGRAÇÃO ILEGAL (art. 232-A do CP)

23.  CRIMES CONTRA A FAMÍLIA


23.1.  CRIMES CONTRA O CASAMENTO
23.1.1  BIGAMIA
23.1.2  INDUZIMENTO A ERRO ESSENCIAL E OCULTAÇÃO DE IMPEDIMENTO
23.2.  CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR
23.2.1  ABANDONO MATERIAL
23.2.2  ABANDONO INTELECTUAL

24.  CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA


24.1.  INCITAÇÃO AO CRIME
24.2.  APOLOGIA DE CRIME OU CRIMINOSO
24.3.  ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA

25.  CRIMES CONTRA A FÉ-PÚBLICA


25.1.  FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO
25.2.  FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR
25.3.  FALSIDADE IDEOLÓGICA
25.4.  USO DE DOCUMENTO FALSO

26.  CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


26.1.  CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
26.1.1  CARACTERÍSTICAS GERAIS
26.1.2  PECULATO
26.1.3  PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM
26.1.4  PECULATO ELETRÔNICO
26.1.5  CONCUSSÃO
26.1.6  CORRUPÇÃO PASSIVA
26.1.7  PREVARICAÇÃO
26.1.8  ADVOCACIA ADMIISTRATIVA
26.2.  CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃOA EM GERAL
26.2.1  RESISTÊNCIA
6
26.2.2  DESOBEDIÊNCIA
26.2.3  DESACATO
26.2.4  TRÁFICO DE INFLUÊNCIA
26.2.5  CORRUPÇÃO ATIVA
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

26.2.6  DESCAMINHO
26.2.7  CONTRABANDO

27.  CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA


27.1.  DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA
27.2.  COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO
27.3.  FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA
27.4.  EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES
27.5.  FAVORECIMENTO PESSOAL
27.6.  FAVORECIMENTO REAL
27.7.  PATROCÍNIO INFIEL
27.8.  PATROCÍNIO SIMULTÂNEO OU TERGIVERSAÇÃO

28.  LEGISLAÇÃO ESPECIAL


28.1.  LEI DE DROGAS
28.2.  LAVAGEM DE CAPITAIS
28.3.  CRIMES HEDIONDOS
28.4.  TORTURA
28.5.  CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO
28.6.  ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS
28.7.  INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
28.8.  LEI MARIA DA PENHA
28.9.  ECA

7
1

PARTE GERAL
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

1.  PRINCIPAIS PRINCÍPIOS DE DIREITO PENAL PARA A PROVA DA OAB

Abaixo listamos os princípios de direito penal que são mais importantes para a prova da OAB/FGV:

• Princípio da Intervenção Mínima

Em virtude das consequências gravosas advindas da punição penal, incluindo a possibilidade


de restrição da liberdade do infrator, o princípio da intervenção mínima preceitua que a legislação
penal deve se restringir a fatos graves relativos a bens jurídicos importantes, que não possam ser
protegidos pelos outros ramos do Direito.

Derivam do princípio da Intervenção mínima os princípios da subsidiariedade e da


fragmentariedade:

PRINCÍPIO DA
PRINCÍPIO DE SUBSIDIARIEDADE FRAGMENTARIEDADE

O Direito Penal é utilizado apenas em caráter A intervenção do Direito Penal, além de


subsidiário (ultima ratio), ou seja, apenas quando os subsidiária, deve ser restrita à lesão ou
demais ramos do Direito não conseguirem resolver o perigo de lesão mais graves aos bens
a contento o confito gerado. jurídicos selecionados.

• Princípio da Legalidade

Art. 1º do CP - Não há crime sem lei anterior que o defna. Não há pena sem prévia
cominação legal.

Art. 5º; XXXIX, da CF/88 – não há crime sem lei anterior que o defna, nem pena sem
prévia cominação legal;

O princípio da legalidade, ou reserva legal, encontra assento no art. 5º, XXXIX, da CF/88, e no
art. 1º do CP, prescrevendo que, para alguém ser condenado, o crime cometido deve ter previsão
e cominação de pena fxadas expressamente em lei escrita, anterior à prática da infração.

Como decorrência do princípio da legalidade, tem-se também o princípio da anterioridade, segundo


o qual a lei incriminadora deve ter sido elaborada e estar em vigência antes da prática criminosa.

8
Em razão do princípio da anterioridade, veda-se ainda que a lei penal retroaja para prejudicar
o réu, permitindo-se apenas a retroatividade para benefciá-lo (princípio da irretroatividade da
lei penal). Importante destacar ainda que o princípio da irretroatividade não se aplica na esfera
processual penal, onde vigora o princípio da imediatidade da lei processual.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Destacamos abaixo as principais consequências do princípio da legalidade na esfera penal:

• Crime não pode ser fxado por medida provisória, exigindo-se lei em sentido estrito,
conforme art. 62, §1°, I, “b”, da CF/88 TEMA COBRADO NO XIV EXAME DA OAB/FGV.
• Veda-se a utilização dos costumes como fonte de criminalização (deve haver lei
escrita prevendo o crime e a cominação da pena).
• A tipifcação e a pena do crime devem incidir sobre uma conduta determinada, sendo
vedada a defnição de tipos abertos, indeterminados.
• A analogia pode ser utilizada apenas para favorecer o réu, e não para prejudicá-lo.

Normas penais em branco: Existem algumas normas que, apesar de possuírem a cominação
de pena, têm o preceito primário indeterminado, dependendo de complementação de outra
norma, ou ato administrativo. Essas normas são chamadas de “normas penais em branco” e sua
efcácia depende da complementação do outro ato normativo, sob pena de ofender o princípio da
legalidade. As normas penais em brancos são classifcadas em homogêneas, quando a norma
complementar tem a mesma hierárquica da norma complementada, e heterogêneas, quando as
normas possuem hierarquia distinta (complemento ocorre por portaria, resolução, decreto, etc).
A título de exemplo, a maioria dos crimes previstos na Lei de Drogas depende de complementação
em relação ao conceito de droga, devendo-se utilizar o regramento dado pelas portarias da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Sendo assim, pode-se afrmar que, como regra geral, os
crimes da Lei de Drogas são normas penais em branco heterogêneas, já que a complementação
ocorre por normas de hierarquia distinta TEMA COBRADO NO XI EXAME DA OAB/FGV.

• Princípio da Responsabilidade Pessoal do Agente

Art. 5º; […]

XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar


o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;

Em razão do princípio da responsabilidade pessoal do agente, ou intranscendência, não se


permite a extensão da pena a terceiro que não estava envolvido na prática delituosa.

Desse modo, com a morte do sujeito ativo do crime, extingue-se a punibilidade, permitindo-se
apenas eventual responsabilização dos herdeiros na esfera civil, relativamente à reparação dos
danos sofridos pela vítima.

9
• Princípio da Insignifcância ou Bagatela

Pelo princípio da insignifcância, em que pese a conduta do agente se enquadre no tipo penal,
o fato será materialmente atípico por não afetar o bem jurídico tutelado de modo relevante para
justifcar a intervenção do Direito Penal TEMA COBRADO NO V EXAME DA OAB/FGV.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

O Supremo Tribunal Federal se baseia em 4 (quatro) critérios para aplicar o princípio da


insignifcância, a saber: a) mínima ofensividade da conduta do agente; b) nenhuma periculosidade
social da ação; c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; d) inexpressividade da
lesão jurídica provocada TEMA COBRADO NO VIII EXAME DA OAB/FGV

• Princípio da Culpabilidade

Para que o sujeito ativo da infração penal seja responsabilizado, deve ter agido com dolo ou
culpa. Desse modo, se determinada pessoa tiver cometido uma infração penal, mas restar provado
que ela não tinha consciência de seus atos, não poderá ser penalizada.

Não se permite, portanto, a responsabilidade objetiva no Direito Penal, além do que a aplicação
da pena exige que o comportamento do agente seja reprovável, ou seja, não haverá aplicação da
pena se houver a presença de uma das excludentes de culpabilidade (inimputabilidade, potencial
consciência de ilicitude e exigibilidade de conduta diversa).

• Princípio da Adequação Social

O princípio da adequação social determinada a necessidade de atualização da norma penal


incriminadora em relação à reprovação do comportamento pela sociedade, de modo que apenas
aquelas condutas socialmente reprovadas devem ser consideradas fatos típicos.

O Princípio da adequação social, de acordo com a jurisprudência majoritária, não incide em


relação aos crimes de exploração da prostituição e venda de CDS e DVDs piratas.

• Princípio da Humanidade da Pena

Art. 5º da CF/88

(...)

XLVII – não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do
art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis;

XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza


do delito, a idade e o sexo do apenado;

XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

L – às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com


seus flhos durante o período de amamentação; […]. 10
O princípio da humanidade da pena, também conhecido como princípio da limitação das penas,
determina a necessidade de tratamento digno do preso, com a proteção de sua integridade física e
moral (art. 5º, XLIX), proibindo-se ainda a aplicação de penas indignas, conforme previsto inclusive
no art. 5º, XLVII da CF/88, que expressamente veda a pena de morte (salvo em guerra declarada),
de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento e as penas cruéis.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

11
2

2.  APLICAÇÃO DA LEI PENAL


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

2.1.  LEI PENAL NO TEMPO

De acordo com o art. 4º do CP, “considera-se praticado o crime no momento da ação ou


omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”. O Código Penal adotou, portanto, a teoria
da atividade, devendo-se aplicar ao crime a lei da época em que ocorreu o fato, e não o resultado.

Além disso, deve-se recordar que a lei penal não pode retroagir, salvo em casos excepcionais,
para benefciar o réu.

Com base na teoria da atividade e no princípio da irretroatividade da lei penal, deve-se


considerar, portanto, como regra geral, que a lei penal a ser aplicada é aquela referente ao
momento da prática do crime TEMA COBRADO NOS EXAMES X E XXVII DA OAB/FGV.

Ocorre, entretanto, que há algumas situações que excepcionam a regra geral, a saber:

• Abolitio criminis (art. 2º do CP): uma nova lei torna atípica uma conduta até
então considerada proibida. Nesse caso, a lei deve retroagir para benefciar o réu,
extinguindo-se sua punibilidade (art. 107, inciso III, do CP) TEMA COBRADO NO XI
EXAME DA OAB/FGV.
• Novatio legis in mellius: a lei posterior benefcia de alguma forma a situação do
agente, como no caso do crime de posse de substâncias entorpecentes para consumo
pessoal, que deixou de ter pena privativa de liberdade e de multa, passando a ter
somente penas restritivas de direito (art. 28 da Lei n. 11.343/2006). Nesse caso, a
alteração legislativa deve retroagir para benefciar o réu.

Há duas situações em que a lei mais favorável ao réu não retroagirá, ou seja, a lei anterior
produzirá efeitos ultrativos, ainda que prejudicial ao réu. São os casos da lei excepcional (criada
em situação de emergência) e da lei temporária (criada para vigorar por determinado tempo,
como a Lei nº 12.663 de 2012, conhecida como a Lei Geral da Copa). Nesses casos, ainda que
cessado o tempo de vigência da lei temporária ou excepcional, elas continuarão produzindo
efeitos, mesmo que prejudiciais ao réu (ultratividade), conforme art. 3º do CP. TEMA
COBRADO NOS EXAME XIX E XXXV DA OAB/FGV.

• Crimes continuados e permanentes: a lei penal mais grave aplica-se ao crime


continuado ou ao crime permanente, se sua vigência é anterior à cessação da
continuidade ou da permanência, conforme súmula n. 711 do STF TEMA COBRADO
NO XII EXAME DA OAB/FGV.

12
Crime permanente é aquele cuja consumação se prolonga no tempo em função da vontade
do agente, como no caso do crime de sequestro. Assim, se determinada pessoa sequestra sua
vítima e a mantém em cativeiro por 6 meses e uma nova lei mais severa entra em vigor nesse
período, deverá ser aplicada a lei mais grave. TEMA COBRADO NOS EXAMES XII E XIX
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

DA OAB/FGV.

É importante lembrar ainda que, diferentemente do que ocorre no direito material penal,
em que a lei retroage para benefciar o réu, na esfera processual, como regra, a lei é aplicada
imediatamente, ainda que seja desfavorável ao réu.

DIREITO PENAL DIREITO PROCESSUAL PENAL

A norma penal retroage se for mais benéfca A norma processual penal possui aplicação
ao réu, ou seja, a norma poderá ser aplicada às imediata, independentemente se gravosa ou
infrações cometidas antes de sua vigência. não ao réu. Poderá retrogir apenas no caso de
se tratar de norma penal mista.

2.2.  LEI PENAL NO ESPAÇO

2.2.1.  TEORIA DA TERRITORIALIIDADE MITIGADA

Como regra geral, deve-se aplicar a lei brasileira aos crimes cometidos no território nacional.

Mas o que é território nacional?

Considera-se território nacional a massa de terra e de ar do país, o mar territorial e, por


extensão, as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo
brasileiro onde quer que se encontrem TEMA COBRADO NO XXI EXAME DA OAB/FGV, as
aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar (§ 1º do art. 5º do CP), bem
como as aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em
pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar
territorial do Brasil, conforme § 2º do art. 5º do CP.

13
EMBARCAÇÕES
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

E AERONAVES
ESTRANGEIRAS
PRIVADAS NO
TERRITÓRIO
NACIONAL

TERRITÓRIO
NACIONAL

EMBARCAÇÕES
EMBARCAÇÕES PÚBLICAS OU
E AERONAVES A SERVIÇO DO
BRASILEIRAS BRASIL ONDE
NO TERRITÓRIO QUER QUE
NACIONAL ESTEJAM

Desse modo, a título de exemplo, se um tripulante de uma embarcação russa atracada no


Brasil é assassinado por outro tripulante, será aplicada a legislação brasileira para punir o crime
de homicídio. TEMA COBRADO NO VII EXAME DA OAB/FGV.

Embarcações e aeronaves brasileiras de Aplica-se a lei brasileira.


natureza pública ou a serviço do Brasil onde quer
que estejam

Aeronaves e embarcações privadas, brasileiras Aplica-se a lei brasileira.


ou estrangeiras, no território brasileiro (espaço
aéreo e mar territorial)

Embarcações e aeronaves estrangeiras de Não se aplica a lei brasileira.


natureza pública ou a serviço do país estrangeiro
no território brasileiro

Aeronaves e embarcações privadas brasileiras Não se aplica a lei brasileira, salvo no


fora do território brasileiro caso de extraterritorialidade condicionada
(estudada logo baixo).

14
Tratando-se de crime praticado em alto-mar, deve-se aplicar a legislação do país de matrícula
da embarcação (princípio do pavilhão ou da bandeira). Desse modo, se, por exemplo, um
tripulante argentino mata um tripulante alemão em uma embarcação brasileira que está em
alto-mar, aplica-se a lei brasileira.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

O Código Penal, entretanto, excepciona a regra geral, dispondo que é possível a aplicação
de norma estrangeira ao crime praticado no território nacional, quando houver previsão em
convenções, tratados e regras de direito internacional (art. 5º do CP).

Assim, ao excepcionar a regra geral, permitindo-se a aplicação da lei estrangeira no caso


de convenções, tratados e regras de direito internacional, o código penal adotou a teoria de
territorialidade mitigada.

Diplomata estrangeiro que comete crime no Brasil. A Convenção de Viena sobre Relações
Diplomáticas determina que o diplomata vai responder de acordo com a lei de seu país de
origem, ou seja, o diplomata não vai ser punido pela lei brasileira.

Para se determinar qual lei será aplicada, é imprescindível ainda verifcar qual o lugar do crime.

O Código penal adotou a teoria da ubiquidade, considerando-se o crime praticado no lugar


em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria
produzir-se o resultado.

Assim, nos casos de crimes à distância ou de espaço máximo, considerados aqueles em que a
conduta e o resultado ocorrem em países diversos, o código penal determina que deve ser aplicada
a legislação brasileira.

2.2.2.  EXTRATERRITORIALIDADE

Em que pese a legislação penal seja aplicada, como regra geral, apenas no território nacional,
o próprio código penal prevê situações em que a lei penal brasileira deve ser aplicada a crimes
cometidos no estrangeiro, fenômeno conhecido como extraterritorialidade.

Existem duas espécies de extraterritorialidade, a saber:


• Extraterritorialidade incondicionada (art. 7, I, do CP): o agente é punido pela lei brasileira
mesmo que tenha sido absolvido ou condenado no estrangeiro, nos seguintes crimes:

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República TEMA COBRADO


NO XI EXAME DA OAB/FGV;

b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado,


de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista,
autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público TEMA COBRADO NO
XXV EXAME DA OAB/FGV;
15
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço TEMA
COBRADO NO V EXAME DA OAB/FGV;

d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Extraterritorialidade condicionada (art. 7, II, do CP): o agente será punido pela legislação
brasileira nos crimes:

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;

b) praticados por brasileiro;

c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de


propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados

E desde que preenchidos os requisitos § 2º do art. 7º CP:

a) entrar o agente no território nacional;

b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;

c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;

d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena
TEMA COBRADO NO XXXII EXAME DA OAB/FGV;

e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar
extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

Destaca-se ainda que o § 3º do art. 7º permite a aplicação da lei penal brasileira ao crime
cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições do § 2º do
art. 7º CP, acima destacadas, e desde que: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve
requisição do Ministro da Justiça. Por se tratar de situação em que se exige mais requisitos
para a aplicação da lei brasileira, a hipótese do § 3º do art. 7º do CP é conhecida também como
extraterritorialidade hipercondicionada.

Digno de nota também que o instituto do ne bis in idem veda que uma pessoa seja punida
mais de uma vez pelo mesmo fato. Sendo assim, para evitar o bis in idem, o art. 8º do CP dispõe
que a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando
diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

A sentença penal estrangeira para produzir efeitos no Brasil deve ser homologada pelo STJ
(art. 105, I, i, da CF/88).

16
2.2.3.  LUGAR DO CRIME

Para se determinar qual lei será aplicada, é imprescindível ainda verifcar qual o lugar do crime.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

O Código penal adotou a teoria da ubiquidade, considerando-se o crime praticado no lugar


em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria
produzir-se o resultado (art. 8º do CP).

Assim, nos casos de crimes à distância ou de espaço máximo, considerados aqueles em que a
conduta e o resultado ocorrem em países diversos, o código penal determina que deve ser aplicada
a legislação brasileira.

2.3.  CONFLITO APARENTE DE NORMAS PENAIS

Ocorre confito aparente de normas quando é possível a aplicação de duas ou mais normas a
um mesmo fato. Nesses casos, o confito é meramente aparente, já que ele pode ser resolvido por
meio da aplicação dos seguintes princípios:

• Princípio da especialidade: a norma especial deve prevalecer sobre a norma geral.


Considera-se norma especial aquela que, além de englobar os elementos da norma
geral, possui elementos específcos, considerados “especializantes”.

Mãe que, sob a infuência do estado puerperal, mata seu próprio flho. A mãe deve responder
por infanticídio, uma vez que este crime é mais específco que o homicídio.

• Princípio da Subsidiariedade (soldado de reserva): a incidência do tipo penal mais


grave afasta a aplicação do tipo penal menos grave. A subsidiariedade pode ser expressa,
como no caso do art. 132 do CP, que dispõe que a pena no crime de perigo para a vida ou
saúde de outrem é de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave, ou
tácita, como no caso do crime de furto que é subsidiário ao crime de roubo.
• Princípio da Consunção (ou absorção): haverá a absorção do crime meio pela prática
do crime fm. A título de exemplo, para matar alguém é necessário antes lesionar a
pessoa. Assim, se o criminoso desfere uma série de facadas na vítima para matá-la,
o crime de lesão corporal será absorvido pelo crime de homicídio doloso. TEMA
COBRADO NO XXIX EXAME DA OAB/FGV;

17
3

3.  TEORIA DO CRIME


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Inicialmente, é importante destacar que se considera infração penal o gênero, do qual crime e
contravenção penal são espécies.

Não há uma diferença ontológica entre crime e contravenção penal, sendo ambas abarcadas
pela teoria geral do crime.

O que se deve recordar, entretanto, é que há consequências diferentes no âmbito penal e processual
penal para quem comete cada uma dessas espécies de infração penal, conforme abaixo sistematizado.

CRIME CONTRAVENÇÃO PENAL

Pode ser punido com reclusão ou detenção Punida apenas com prisão simples

Tentativa pode ser punida Não se pune a tentativa

Pena máxima de 40 anos Pena máxima de 5 anos

Ação penal pública ou privada, dependendo do crime Apenas ação penal pública incondicionada

Existem basicamente 3 (três concepções) sobre o conceito de crime:

• Conceito formal: considera-se crime violação à lei penal incriminadora.


• Conceito material: crime representa a conduta que lesa ou expõe a perigo bem
protegido pela lei penal.
• Conceito analítico: compreende a existência de elementos ou substratos para a
caracterização do crime, existindo duas teorias principais:
• Teoria fnalista tripartida: crime é fato típico, ilícito e culpável.
• Teoria fnalista bipartida: crime é fato típico e ilícito, sendo a culpabilidade
pressuposto para a aplicação da pena.

Assim, com base na teoria fnalista tripartida, que consideramos a teoria mais adequada para
o conceito de crime, existem três elementos principias para a caracterização do delito: fato típico,
ilicitude e culpabilidade, conforme estudaremos nos próximos capítulos.

18
4

4.  FATO TÍPICO


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

O fato típico é composto por conduta, dolo ou culpa, resultado, relação de causalidade (nexo causal)
e tipicidade.

FATO TÍPICO

CONDUTA RESULTADO NEXO CAUSAL TIPICIDADE

DOLO E CULPA

4.1.  CONDUTA

Entende-se por conduta todo ato humano voluntário, omissivo ou comissivo, que produziu
resultado penalmente relevante. Assim, se a conduta não tiver sido praticada em decorrência da
vontade do agente, não haverá crime, como nas hipóteses de caso fortuito e força maior, atos
refexos, sonambulismo e coação física irresistível.

A coação física irresistível exclui o fato típico, enquanto que a coação moral irresistível exclui a
culpabilidade TEMA COBRADO NO XVII EXAME DA OAB/FGV.

A conduta pode ser omissiva ou comissiva:

• Conduta comissiva: o crime é praticado em razão de um agir, um fazer, do agente.


• Conduta omissiva: o crime é praticado porque o agente deixou de praticar uma
conduta, conforme a lei penal exigia, sendo divido em crime omissivo próprio e crime
omissivo impróprio.
19
CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS
CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS (OU COMISSIVOS POR OMISSÃO)

São os crimes previstos na parte especial do A omissão não é mencionada expressamente,


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

código penal em que a omissão é mencionada tratando-se de previsão genérica do art. 13,
de forma expressa, deixando o agente de § 2º, do CP, em que o agente, apesar de ter
observar o comando legal. São crimes um dever jurídico de agir, deixa de fazê-lo,
considerados de mera conduta, porque são provocando resultado penalmente relevante.
consumados independentemente do resultado
naturalístico e não admitem tentativa. O dever de agir incumbe a quem:

Exemplo: omissão de socorro prevista no a) tenha por lei obrigação de cuidado,


art. 135 do CP, em que o próprio tipo prevê proteção ou vigilância (exemplo: salva vidas
a omissão: “Deixar de prestar assistência, que propositalmente deixa de resgatar
quando possível fazê-lo sem risco pessoal, (...)”. criança que está sendo afogada, vindo a óbito);

b) de outra forma, assumiu a responsabilidade


de impedir o resultado (Exemplo: babá contratada
que deixa propositalmente de alimentar a
criança, que acaba morrendo por inanição).

c) com seu comportamento anterior, criou


o risco da ocorrência do resultado (Exemplo:
campeão de natação, que joga seu amigo na piscina
e, propositalmente, não o salva do afogamento).

Em todos os casos o agente responderá


como se tivesse praticado o crime de forma
comissiva (como se tivesse praticado a
ação), podendo responder de forma culposa
ou dolosa. Nos exemplos acima, o agente
responderia em todos os casos por homicídio
doloso. Além disso, o crime omissivo impróprio
admite tentativa. TEMA COBRADO NOS
EXAMES XIV, XXI, XXVIII E XXXVII DA OAB/FGV.

4.2.  DOLO E CULPA

• CRIME DOLOSO

Art. 18 do CP - Diz-se o crime:

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;

Considera-se crime doloso aquele que foi praticado com a intenção livre e consciente do
agente, ou seja, o sujeito age com intenção de praticar fato penalmente tipifcado.

Existem as seguintes espécies de dolo:

• Dolo direto: o agente busca a realização da conduta típica, sendo o resultado do


crime fruto direto da sua vontade

Sujeito pretende acabar com a vida de seu inimigo e, para tanto, disfere 5 golpes de faca contra
20
a vítima, que acaba morrendo.
• Dolo Indireto: o agente deliberadamente assume o risco de praticar um crime,
sendo dividido em alternativo, onde existem dois resultados possíveis e o agente é
indiferente em relação a qual resultado será, e eventual, no qual o agente assume o
risco de produzir um resultado diverso do que estava previsto originariamente.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Age com dolo alternativo o sujeito que lança uma granada contra a vítima, para lesioná-la
ou matá-la.
• Atua com dolo eventual o sujeito que dispara contra a multidão para afastá-la, mas sabendo
que sua conduta pode ferir ou matar alguém.

• Dolo Genérico: o agente pretende praticar o crime sem nenhuma fnalidade específca.
• Dolo Específco: o agente age com uma intenção adicional que integra o próprio
conceito do fato típico, como no caso do crime de extorsão (art. 158 do CP), que, para
ser confgurado, exige o constrangimento, mediante violência ou grave ameaça, e a
intenção específca de obter vantagem econômica.

• CRIME CULPOSO

Art. 18 do CP - Diz-se o crime:

(...)

II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência


ou imperícia.

O crime culposo deriva de conduta voluntária que gera um delito não querido pelo agente, mas
que era previsto (culpa consciente) ou ao menos previsível (culpa inconsciente), e poderia ter sido
evitado se o agente tivesse agido com cautela.

A caracterização do crime culposo depende dos seguintes elementos:

• Conduta voluntária;
• Inobservância do dever de cuidado: imprudência, negligência e imperícia;
• Resultado involuntário: o agente não tem intenção de praticar o crime, já que, se
tivesse, o crime seria doloso.
• Nexo causal;
• Tipicidade: ninguém pode ser punido por crime culposo se não houver previsão legal.
• Previsibilidade objetiva: é a possibilidade de qualquer pessoa prever o resultado
(exemplo: qualquer pessoa sabe que dirigir veículo em alta velocidade é um risco
acentuado que pode gerar um acidente).

Sobre a inobservância do dever de cuidado, analisemos cada uma de suas modalidades:

• Imprudência: representa um comportamento positivo, consistente em agir com


21
descuido, como no caso do sujeito que dispara arma de fogo para comemorar o gol do
seu time de futebol e acaba atingindo um transeunte.
• Negligência: representa um comportamento negativo, consistente em deixar de
tomar uma determina precaução que era necessária, como no caso do sujeito que
deixa de realizar a troca dos pneus e a reparação dos freios do carro e, por conta
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

disso, acaba atropelando um pedestre.


• Imperícia: é a falta de técnica ou prática do agente, que no exercício de ofício,
atividade ou profssão, em razão da sua incompetência, causa um resultado previsto
como crime, como na hipótese de um cirurgião que, sem o devido conhecimento
técnico, tenta realizar uma cirurgia complexa e, em razão de sua falta de habilidade,
deixa o paciente morrer.

Digno de nota ainda que o Crime culposo é divido nas seguintes espécies:

• Culpa consciente: o agente prevê o resultado, mas espera que ele não ocorra, porque
acredita que pode evitá-lo com a sua habilidade TEMA COBRADO NO XII EXAME DA
OAB/FGV.

Atirador de facas que, apesar de acreditar que acertará a maçã colocada na cabeça da sua
assistente, acaba errando e acertando sua assistente.

• Culpa inconsciente: o agente não prevê o resultado, mas este era previsível.

Sujeito que dispara arma de fogo para o alto, a fm de comemorar o gol do seu time, e acaba
atingindo uma pessoa que passava próximo ao local.

• Culpa própria: é aquela em que o agente não quer causar o resultado, nem assume
o risco, mas o causa por imprudência, negligência ou imperícia. Pode ser consciente
ou inconsciente.
• Culpa imprópria: o agente, por um erro culposo (evitável), supõe equivocadamente
estar agindo numa situação excludente de ilicitude e, em razão dessa falsa percepção,
comete o crime de forma dolosa, mas, por política criminal, responderá como se
tivesse praticado o crime culposamente.

Salienta-se ainda que, apesar de parecidos, culpa consciente não se confunde com dolo eventual.

CULPA CONSCIENTE DOLO EVENTUAL

O agente prevê o resultado, mas acredita O agente não deseja diretamente o resultado,
que pode evitá-lo. mas assume o risco de produzi-lo e, se este
vier a acontecer, não se importa (“tanto faz”).

22
• CRIME PRETERDOLOSO

Art. 19 do CP - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente


que o houver causado ao menos culposamente.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

O crime preterdoloso (além do dolo), também chamado de crime híbrido, é considerado aquele
que foi praticado com dolo, mas posteriormente houve uma conduta culposa do agente que
agravou o resultado (resultado agravador culposo).

Sujeito que tinha intenção de praticar um roubo, mas, por manuseio indevido da arma, acaba
matando a vítima.

Importante destacar que não se admite tentativa nos crimes preterdolosos, já que o resultado
lesivo gravoso fora cometido de forma culposa.

4.3.  RESULTADO

O Resultado pode ser classifcado em jurídico e naturalístico.

O resultado jurídico signifca a própria ofensa à norma penal, ou seja, toda infração penal
acarreta um resultado jurídico.

Já o resultado naturalístico representa a alteração do mundo exterior em razão da conduta


humana, sendo o próprio resultado previsto no tipo penal.

Com base no resultado naturalístico, é possível a existência de 3 (três) tipos de crime:

• Crime material: é aquele em que a sua consumação depende da ocorrência do resultado


naturalístico (exemplo: o homicídio somente será consumado se a vítima falecer).
• Crime formal: não exige a produção do resultado para a consumação do crime, ou seja,
a consumação do crime ocorre apenas com a conduta do agente, independentemente
do resultado atingido.

O crime de ameaça (art. 147 do CP) exige apenas a conduta de quem ameaça, não prevendo qualquer
resultado, ou seja, o crime será consumado mesmo que a vítima não tenha se sentido ameaçada.

• Crime de mera conduta: no crime de mera conduta, além de não se exigir o resultado
naturalístico, a possibilidade de sua ocorrência é de difícil visualização, como no caso
do crime de porte ilegal de arma, em que a mera conduta de portar a arma já gera um
perigo em abstrato, sendo difícil visualizar a existência de um resultado naturalístico.

4.4.  NEXO CAUSAL


23
O nexo causal representa a ligação de causa e efeito entre a conduta e o resultado.

O código penal adotou, como regra geral, a teoria da equivalência dos antecedentes causais
(ou conditio sine qua non), segundo a qual se considera causa tudo aquilo que teria contribuído
com a realização do resultado.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Art. 13, caput, do CP - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é


impuável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
resultado não teria ocorrido.

A teoria da conditio sine qua non é inspirada no procedimento hipotético de eliminação de


Thyrén, segundo o qual um fenômeno é considerado causa quando, eliminando-o mentalmente,
não teria ocorrido o segundo resultado.

A principal crítica a essa teoria é a possibilidade do regressus ad infnitum, isto é, um número


infnito de causas sem as quais o resultado não teria ocorrido. A título de exemplo, o fabricante de
uma arma utilizada em um homicídio poderia responder pelo referido crime, já que, se ele não a
tivesse fabricado, provavelmente a vítima não teria sido morta.

Entretanto, para se evitar o regressus ad infnitum, a teoria da conditio sine qua non é analisada
em conjunto com dolo e a culpa (causalidade psíquica), ou seja, aquele cuja conduta contribui para
a produção do resultado somente será penalizado se tiver agido com dolo ou culpa.

Além do dolo e da culpa (causalidade psíquica), a caracterização do nexo causal deve passar
ainda por mais um fltro, representado pela teoria da imputação objetiva, muito importante para a
prova da OAB/FGV.

TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA: De acordo com a teoria da imputação objetiva o agente


apenas será responsabilizado pela prática de um crime se ele criou ou incrementou um risco
proibido ao bem penalmente tutelado. Associada à teoria da imputação objetiva, vigora o
princípio da confança, segundo o qual se deve esperar que as pessoas se comportem em
conformidade com o direito, não podendo alguém ser responsabilizado pela conduta indevida
de outrem TEMA COBRADO NOS EXAMES VIII E X DA OAB/FGV.

“A” empurra “B” para evitar que este seja atingido por um tiro, mas “B”, em razão do empurrão,
acaba quebrando a perna. Neste caso, como a conduta de “A” foi destinada a preservar a vida
de “B”, não há a existência de um risco proibido, de modo que, pela teoria da imputação objetiva,
“A” não poderá ser responsabilizado pelo crime de lesão corporal.

• CONCAUSAS

Consideram-se concausas as causas paralelas a conduta do agente, que concorrem para a


produção do resultado.

As concausas podem ser dependentes ou independentes.

24
• Concausas Dependentes: encontram-se no desdobramento normal e previsível da
conduta, são, portanto, esperadas.

• Concausas independentes: são aquelas não desejadas e imprevisíveis e acabam


produzindo o resultado penalmente relevante. Podem ser relativamente ou
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

absolutamente independentes.

CONCAUSAS ABSOLUTAMENTE CONCAUSAS RELATIVAMENTE


INDEPENDENTES INDEPENDENTES

Não possuem qualquer vínculo com a conduta São aquelas que, apesar de independentes,
do agente, ou seja, produziriam o resultado dependem da atuação do agente para existirem.
mesmo que o agente não tivesse realizado sua
conduta. O agente responderá somente pelos Também possuem três modalidades:
atos praticados, e não pelo resultado. Podem ser:
• Preexistentes: a causa existe antes da
• Preexistentes: Exemplo – “A” dispara prática da conduta, mas é dela dependente.
contra “B”, que é atingindo no tórax. “B”, Exemplo: “A” dispara contra “B”, com intenção
entretanto, morre logo em seguida, porque de matá-lo, mas este vem a falecer em
havia ingerido veneno. Posteriormente é razão do agravamento das lesões por ser
comprovado pela autópsia que o tiro não hemofílico. “A” conhecia a doença de “B”.
contribuiu para a morte de “B”. Neste caso,
“A” responderá por tentativa de homicídio • Concomitantes: ocorre ao mesmo tempo
TEMA COBRADO NO XII EXAMES DA OAB/FGV. da conduta do agente. Exemplo: “A”, com
intenção de matar, efetua diversos disparos
• Concomitantes: Exemplo – “A” dispara contra “B” que, no mesmo momento,
contra “B”, que, no momento do tiro, teve um tem ataque cardíaco e acaba falecendo.
infarto fulminante. Prova-se pela autópsia
que o tiro não contribuiu para a morte “B “. Nas duas hipóteses acima citadas
(preexistente e concomitante), como a conduta
• Supervenientes: Exemplo - “A” coloca do agente foi decisiva para o resultado, “A”
veneno na comida de “B” que, sem perceber, responderá, pela teoria da conditio sine
volta ao seu trabalho. No caminho, “B” qua non, pelo crime de homicídio doloso.
é atropelado e acaba falecendo. Prova-
se pela autópsia que o envenenamento Se o agente, entretanto, desconhecer a concausa
não contribuiu para a morte “B “. preexistente e não agir com a intenção de matar,
não será responsabilizado pela morte, já que o
Nos exemplos acima, eliminando-se a direito penal não admite responsabilidade objetiva.
conduta de “A”, o resultado morte teria
ocorrido da mesma forma, ou seja, pela • Superveniente: aquela que ocorre
teoria da conditio sine qua non, “A” não deu posteriormente à conduta do agente.
causa ao resultado morte. Desse modo, “A”
responderá apenas pelos atos anteriores ao Deve ser subdivida em duas espécies:
resultado, ou seja, por tentativa de homicídio.
Quando não produziu por si só o resultado:
Exemplo: “A” dispara contra “B” que acaba falecendo
na mesa de cirurgia em virtude de imperícia do
cirurgião. Neste caso, “A” também responderá por
homicídio, já que sua conduta foi decisiva para
a morte de “B” (teoria da conditio sine qua non).

Quando por si só, produziu o resultado:


Exemplo: “A” atira em “B”, com intenção de
matar, que morre em virtude de acidente que
envolveu a ambulância que o levava para o
hospital. Neste caso, o agente responderá
apenas pelos fatos anteriores (tentativa
de homicídio), por expressa previsão
no § 1º do art. 13 do CP, tratando-se de
exceção à teoria da conditio sine qua non

25
Conforme demonstrado no quadro acima, conclui-se que uma exceção importante referente à
teoria da conditio sine qua non é justamente o contido no §1° do art. 13 do CP, que dispõe:

Art. 13 do CP
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

(..)

§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por


si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.

Com efeito, com base no exemplo dado anteriormente, em que “A” atira em “B” e este morre
em razão do acidente sofrido com a ambulância que o levava para o hospital, se fôssemos aplicar
a teoria da conditio sine qua non, “A” deveria responder por homicídio, uma vez que sua conduta foi
determinante para a morte de “B”. No entanto, por expressa determinação do Código Penal, como
a concausa superveniente, por si só, acarretou a morte de “B”, “A” responderá apenas por tentativa
de homicídio TEMA COBRADO NOS EXAMES IX, X E XXIX DA OAB/FGV.

CONCAUSAS INDEPENDENTES

ABSOLUTAMENTE RELATIVAMENTE
INDEPENDENTES INDEPENDENTES

PELA TEORIA DA CONTIDIO SINE CONCAUSAS CONCAUSA


QUA NON, O AGENTE RESPONDE PREEXISTENTES E SUPERVENIENTE
PELOS ATOS PRATICADOS, MAS CONCOMITANTES:
NÃO PELO RESULTADO AGENTE RESPONDE PELO
RESULTADO (TEORIA DA
CONTIDIO SINE QUA NON)

QUANDO PRODUZIU POR SI QUANDO NÃO PRODUZIU POR


SÓ O RESULTADO, O AGENTE SI SÓ O RESULTADO, O AGENTE
RESPONDE APENAS PELOS RESPONDE PELO RESULTADO.
ATOS ATÉ ENTÃO PRATICADOS
(EXCEÇÃO À TEORIA DA
CONDITIO SINE QUA NON - ART.
13,§1°, DO CP)

26
4.5.  TIPICIDADE

Tipicidade é o enquadramento do fato concreto ao tipo penal, que representa a descrição do


crime em abstrato (tipicidade legal).
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

O tipo penal é composto pelo núcleo do tipo, isto é, o verbo que caracteriza o crime (por
exemplo o verbo “matar”, no crime de homicídio), bem como por elementares e circunstâncias.

• Elementares: elementares são os dados essenciais do crime, sem os quais a


conduta seria considerada atípica (atipicidade absoluta) ou seria considerada outro
crime (atipicidade relativa).

A palavra “alguém” no crime de homicídio (art. 121 do CP) é elementar do crime, uma vez que,
se retirada, não haverá o crime (atipicidade absoluta). Por outro lado, no crime de desacato
(art. 331 do CP), a eliminação da elementar “funcionário público” desclassifca a conduta para o
crime de injúria (art. 140 do CP), tratando-se de atipicidade relativa.

• Circunstâncias: são dados acessórios (acidentais) que, apesar de não interferirem


na caracterização do crime, afetam a sua gravidade, aumentando ou diminuindo a
pena. As circunstâncias são divididas em objetivas e subjetivas.
• Objetivas: são aquelas relacionadas aos meios e modos de realização do
crime, como tempo, lugar, qualidades da vítima, etc.
• Subjetivas: estão relacionadas à própria pessoa do agente do crime, como
os motivos determinantes, suas condições ou qualidades pessoais, relações
com a vítima, etc.

É importante a distinção entre as circunstâncias objetivas e subjetivas, uma vez que as


circunstâncias objetivas comunicam-se aos demais coautores ou partícipes do crime, desde
que delas eles tenham conhecimento. Já as circunstâncias subjetivas (de caráter pessoal) não
se comunicam, salvo quando elementares do crime”.

4.6.  ERRO DE TIPO

Conforme estudado anteriormente, a tipicidade representa o enquadramento do fato concreto


ao tipo penal, o que faz surgir o interesse do Estado em punir o indivíduo que praticou o crime.

No entanto, existem situações que, apesar de serem típicas, podem descaracterizar a existência
de dolo e culpa, já que o agente teve uma percepção equivocada da realidade.

Essas situações se referem ao instituto denominado de erro de tipo, conforme art. 20, caput, do CP:

27
Art. 20 do CP - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo,
mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.

O Erro de Tipo é dividido em duas espécies: “essencial” e “acidental”.


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Erro de Tipo Essencial: signifca a falsa percepção do agente em relação a elemento


essencial do tipo penal. Se o erro de tipo essencial for inevitável (escusável), o dolo e
a culpa serão excluídos, de modo que o agente não responderá pela conduta. Por outro
lado, se o erro for evitável (inescusável), haverá a exclusão do dolo, mas o agente
responderá a título de culpa, caso o crime praticado tenha previsão na modalidade
culposa TEMA COBRADO NOS EXAMES XII E XXXVIII DA OAB/FGV.

Caçador, vendo grande movimentação em uma moita, atira, pensando se tratar de um animal,
mas acaba matando seu amigo, que estava indevidamente no local. Nesse caso, se o erro, pelas
circunstâncias do caso concreto, for considerado inevitável (escusável), a conduta será considerada
atípica (exclui o dolo e a culpa). Entretanto, se o erro for considerado evitável (inescusável), haverá
apenas a exclusão do dolo, devendo o caçador responder por homicídio culposo.

• Erro de tipo acidental: representa a falsa percepção da realidade sobre elemento secundário
do tipo. É dividido nas seguintes subespécies:

• Erro sobre o objeto (error in re): existe uma falsa percepção sobre o objeto
do crime, já que o agente pretende atingir determinada coisa, mas atinge coisa
diversa, como na hipótese do sujeito que pretende furtar um relógio de ouro e
acaba furtando uma réplica. No caso de erro sobre o objeto, o sujeito responde
pela coisa efetivamente subtraída.
• Erro sobre a pessoa (error in persona – art. 20, § 3º, do CP): existe uma falsa
percepção sobre a vítima do crime, como na hipótese do criminoso que pretende
matar seu próprio pai, mas acaba se confundindo e matando um terceiro, com
características físicas próximas de seu genitor. Nesse caso, o agente responde
pelo crime como se tivesse matado a pessoa desejada, no caso, o próprio pai,
incidindo a agravante da prática do crime contra ascendente, conforme art. 61,
II, “e”, do CP TEMA COBRADO NOS EXAMES III E XX DA OAB/FGV.
• Erro na Execução (aberratio ictus – art. 73 do CP): o agente, por acidente ou
erro no uso dos meios de execução, ao invés de atingir a pessoa que pretendia
ofender, atinge pessoa diversa, hipótese em que será aplicado o mesmo
raciocínio do erro sobre a pessoa, devendo o agente responder como se tivesse
praticado o crime contra a pessoa desejada TEMA COBRADO NOS EXAMES
VI, XIX E XXIII DA OAB/FGV. Se em razão do erro na execução o agente atingir
a pessoa desejada e pessoa diversa (resultado duplo), deverá ser aplicada a
regra do concurso formal próprio (art. 70 do CP), ou seja, será aplicada a pena
do crime mais grave, aumentada de 1/6 até 1/2.

28
José pretende matar seu próprio pai, mas, ao apontar a arma para o seu genitor, acaba acertando
outra pessoa, que vem a falecer. A intenção de José era matar seu pai, mas acabou matando
terceiro porque errou na execução do crime (não sabia manusear a arma, por exemplo). Nesse
caso, José responderá como se tivesse matado seu pai (homicídio doloso com a agravante de
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

prática do crime contra ascendente). Por outro lado, se José tivesse matado seu pai e terceira
pessoa por erro na execução, seria aplicada a regra do concurso formal.

No erro quanto à pessoa o agente confunde a vítima que queria atingir, enquanto que no aberratio
ictus, o agente não confunde a vítima, atingindo outra pessoa porque erra na execução do crime.

• Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis – art. 74 do CP) – ocorre quando o


agente desejava cometer um crime, mas por erro na execução, acaba por cometer outro. O
exemplo clássico é o do agente que deseja quebrar a vidraça de uma loja arremessando uma
pedra (art. 163, CP), mas, por erro na execução, acaba acertando uma pessoa que passava
pela calçada, lesionando-a (artigo 129, CP). Há duas possibilidades:

a) O agente ofende apenas bem jurídico diverso do pretendido: responderá apenas


pelo crime praticado, se houver previsão culposa. No exemplo dado, se o agente
atingiu apenas o pedestre, responderá pelo crime de lesão corporal culposa TEMA
COBRADO NOS EXAMES XIII E XXVI DA OAB/FGV.

b) O agente ofende os dois bens jurídicos: o agente responde pelo concurso formal
de crime. Assim, no exemplo dado, se o agente atingir o pedestre e a pedra também
quebrar a vidraça, responderá pelo crime de dano em concurso formal com o crime
de lesão corporal culposa.

Se o crime cometido em erro de execução não possuir a modalidade culposa, o agente


responderá por tentativa do crime que queria praticar. Assim, se o agente quisesse acertar um
pedestre com uma pedra, mas acaba acertando apenas a vidraça, como não há crime de dano
culposo, o agente responderá apenas por tentativa de lesão corporal.

• Erro no nexo causal (aberratio causae): o agente acredita ter cometido um crime de um
modo, quando na verdade foi outro o meio por ele empregado que causou o delito. O exemplo
clássico de aberratio causae é o agente que pretende matar a vítima afogada, lançando-a
de uma ponte, mas a vítima acaba falecendo durante a queda, ao bater a cabeça em uma
pedra. Como o resultado prático é o mesmo (homicídio consumado), a aberratio causae não
possui muita relevância prática, devendo o agente responder pelo seu dolo genérico
TEMA COBRADO NO XXVII EXAME DA OAB/FGV.

29
ERRO DE TIPO não se confunde com ERRO DE PROIBIÇÃO.
No erro de tipo o agente não sabe o que faz, ignorando elementar do crime ou dado complementar
do tipo penal, como no caso do sujeito que sai de uma festa e leva um paletó de outra pessoa,
achando que era seu. Nesse caso, o agente errou sobre o elemento “coisa alheia” do crime de
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

furto (art. 155 do CP), incidindo em erro de tipo. Já no erro de proibição (que será estudado
posteriormente) o agente comete o ato de forma consciente (sabe o que faz), mas acredita que
o fato não é crime, como no caso do sujeito que encontra um paletó de outra pessoa na rua e
leva para casa, mas acha que sua conduta não é crime, já que “achado não é roubado”.

30
5

5.  ANTIJURIDICIDADE
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

5.1.  CONCEITO

Para a ocorrência de um crime não basta que a conduta represente um fato típico. Ela deve ser
ainda antijurídica (ilícita).

A antijuricidade, portanto, é a ofensa da conduta típica ao ordenamento jurídico, sendo


considerada elemento essencial para a caraterização do crime.

Há situações, portanto, que, apesar de serem típicas, não caracterizam crime, porque são
admitidas pelo ordenamento jurídico brasileiro, ou seja, são lícitas.

Essas situações são conhecidas como excludentes de antijuridicidade ou de ilicitude e são


previstas no art. 23 do CP:

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:

I - em estado de necessidade;

II - em legítima defesa;

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

Vejamos cada uma das excludentes de ilicitude.

5.2.  ESTADO DE NECESSIDADE

Art. 24 do CP - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar


de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar,
direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.

§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser
reduzida de um a dois terços.

O estado de necessidade se refere a uma situação de perigo atual de determinado bem, cuja
preservação depende do sacrifício inevitável de outro bem de igual valor ou de valor inferior. Desse
modo, no caso de haver mais de um bem jurídico em perigo (colisão de bens protegidos), permite-se o
sacrifício de um deles para a salvaguarda do outro TEMA COBRADO NO XVI EXAME DA OAB/FGV.

São requisitos do estado de necessidade

31
• Perigo atual: necessário que haja uma probabilidade de dano atual e inevitável que
coloque em risco dois ou mais bens jurídicos, exigindo-se o sacrifício de um bem para
que o outro seja salvo.
• A situação de perigo não pode ter sido causada voluntariamente pelo agente.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• A ação deve ocorrer para salvar direito próprio ou alheio: permite-se, portanto, o
estado de necessidade próprio ou de terceiro.
• Inexistência do dever legal de enfrentar o perigo: não poderá alegar estado de
necessidade aquele que tenha o dever legal de enfrentar o perigo (bombeiro, policial, etc.).
• Inevitabilidade do comportamento lesivo: o sacrifício deve ser necessário. Se for
possível a fuga da situação de perigo, não há que se falar em estado de necessidade.

A defesa contra ataques de animal não confgura, em tese, legítima defesa e sim de estado de
necessidade. Entretanto, se um ser humano se vale de animal para atacar outra pessoa, considera-
se que o animal é mero instrumento da conduta humana, permitindo-se a legítima defesa.

São consideradas espécies de estado de necessidade:

• Estado de necessidade agressivo: o agente destrói bem de um terceiro que não


criou o perigo.
• Estado de necessidade defensivo: o agente destrói bem da pessoa que criou o perigo.
• Estado de necessidade real: é aquele em que estão presentes todos seus requisitos,
excluindo-se a ilicitude do fato.
• Estado de necessidade putativo: o agente imagina uma situação de perigo que
caracterizaria o estado de necessidade, mas ele de fato não acontece. Tratando-se de
erro escusável, haverá exclusão do dolo e da culpa, não sendo o agente responsabilizado
pelo crime. Tratando-se de erro inescusável, o agente responderá pelo crime culposo, se
houver previsão.

O estado de necessidade, embora exclua a ilicitude penal, poderá gerar o dever de indenizar
na esfera civil quando se tratar de estado de necessidade agressivo. Neste caso, a vítima deve
ingressar com ação em desfavor do causador do dano, e este tem direito de regresso contra
aquele que gerou o perigo.
• No estado de necessidade defensivo não há o dever de indenizar.

Importante destacar que o código penal adotou a teoria unitária em relação ao estado de
necessidade, de modo que será legítimo o estado de necessidade apenas quando o bem protegido
tiver valor igual ou superior ao bem jurídico sacrifcado. Se o bem sacrifcado tiver valor superior
ao bem protegido, não haverá excludente de ilicitude, mas a pena poderá ser reduzida de um a dois
terços, conforme §2º do art. 24 do CP.

32
5.3.  LEGÍTIMA DEFESA

Art. 25 do CP - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios


necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-


se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou
risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes. (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)

A Lei 13.964 /19 acrescentou o parágrafo único ao art. 16, mas, na prática, a redação do parágrafo
único apenas deixou expressa uma hipótese que já era considerada legítima defesa, como no caso
do policial que atira no bandido que coloca em risco a vida de um refém. .

São requisitos da legítima defesa:

• Agressão injusta: a agressão deve ser ilícita e proveniente de um ser humano. Desse
modo, contra ataques de animal não se trata, em tese, de legitima defesa e sim de
estado de necessidade. Entretanto, se um ser humano se vale de animal para atacar
outra pessoa, considera-se que o animal é mero instrumento da conduta humana,
permitindo-se a legítima defesa. TEMA COBRADO NO XXX EXAME DA OAB/FGV.
• Atualidade ou iminência da agressão: atual é a agressão que está ocorrendo e
iminente é a que está prestes a ocorrer. Não se admite, portanto, legítima defesa
contra ataque pretérito ou futuro TEMA COBRADO NO IX EXAME DA OAB/FGV.

“X” desfere um soco no estômago contra “Y”, que vai ao chão. Depois de alguns segundos, “Y“
se levanta e vai atrás de “X”, que já estava saindo do local. “Y” consegue alcançar “X” e o agride.
Nesse caso, “Y” não agiu em legítima defesa, uma vez que sua conduta não foi atual.

• Direito próprio ou alheio: qualquer direito, próprio ou de terceiro, admite legítima defesa.
• Uso dos meios necessários: considera-se necessário o meio menos lesivo à
disposição do agente, mas capaz de afastar a injusta agressão (Exemplo: se o agente
possui uma faca e uma arma, mas a faca já é sufciente para afastar a injusta agressão,
o uso da arma confgurará excesso).
• Uso moderado: o meio será considerado moderado quando houver proporcionalidade
entre a conduta do agente e o bem que pretende proteger. Terminada a agressão,
qualquer ato em face do agressor será considerado excesso

Vejamos abaixo as principais espécies de legítima defesa:

• Legítima defesa ativa: quando a reação ao agressor confgura fato típico (exemplo:
matar o agressor em legítima defesa);
• Legítima defesa passiva: quando a reação ao agressor não confgura fato típico
(exemplo: agente apenas se defende dos golpes, se esquivando);
33
• Legítima defesa real: é aquela em que o agente se defende de uma agressão que
realmente existe.
• Legítima defesa putativa: o agente se defende de uma agressão acreditando que
está em legítima defesa, mas sua percepção é falsa. Se o erro for escusável, haverá
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

exclusão do dolo/culpa. Por outro lado, se o erro for inescusável, o agente será
condenado por crime culposo, se houver previsão TEMA COBRADO NO V EXAME
DA OAB/FGV;
• Legítima defesa sucessiva: ocorre quando o próprio agressor se defende do excesso
praticado em legítima defesa. Isso porque, a partir do momento em que foi afastada a
agressão inicial, não se permite qualquer ação por parte do ofendido, sob pena de se
caracterizar excesso. Havendo excesso, permite-se a legítima defesa.
• Legítima defesa subjetiva: o agente comete um excesso na sua reação, por meio de
um erro escusável (“excesso acidental”). A título de exemplo, imaginemos a hipótese
em que o agente, moderadamente, para se defender, dispara para o chão, porém, a
bala ricocheteia e acerta o ofensor.
• Legítima defesa preordenada: a FGV entende que os ofendículos, caracterizam
legítima defesa preordenada.

O que são ofendículos?


Os ofendículos são obstáculos ou instrumentos utilizados propositalmente para a proteção de bens
jurídicos, geralmente patrimoniais, como cerca elétrica, arame farpado e cacos de vidro colocados
propositalmente no muro de algumas residências, para protegê-las da entrada de bandidos.
Há duas teorias sobre a natureza jurídica dos ofendículos. Uma primeira corrente entende que
se trata de legítima defesa preordenada (corrente adotada pela FGV no XII Exames da OAB),
enquanto que outra parte da doutrina defenda se tratar de exercício regular de direito.
De qualquer forma, para que os ofendículos sejam considerados lícitos, excluindo a
antijuridicidade, é preciso que sejam utilizados com razoabilidade e proporcionalidade. Assim,
se determinado pedestre se machucar gravemente numa cerca elétrica colocada em cima de
um muro com apenas um metro de altura, entendemos que o proprietário da residência deve ser
responsabilizado penalmente, uma vez que o ofendículo não foi utilizado com proporcionalidade.

Não se permite a denominada legítima defesa real recíproca, já que aquele que agride
injustamente não pode estar ao mesmo tempo legitimamente se defendendo. Entretanto,
tratando-se de legítima defesa putativa, é possível que ela seja recíproca, como na hipótese
em que dois inimigos se aproximam para pedir desculpas, mas cada um deles acredita que a
aproximação do outro é uma agressão iminente, motivo pelo qual ambos iniciam uma agressão
simultânea. Nesta situação, haverá legítima defesa putativa recíproca.
Salienta-se ainda que é perfeitamente possível a legítima defesa real contra a legítima
defesa putativa, como na hipótese em que “A” se aproxima de “B” para pedir desculpa e, este,
acreditando que seria atacado, agride “A“ (legítima defesa putativa). A partir da agressão de “B”,
“A” poderá atuar em legítima defesa real.

34
LEGÍTIMA DEFESA ESTADO DE NECESSIDADE

Confito de vários bens jurídicos diante de


Ataque ou ameaça a um bem jurídico uma situação de perigo
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

O perigo não decorre de uma agressão


injusta, podendo se originar de um
O perigo decorre de uma agressão humana e injusta comportamento humano, animal, ou de fato
da natureza

A conduta é dirigida contra o agressor A conduta não tem destinatário certo

Não se permite legítima defesa real recíproca Permite-se estado de necessidade recíproco

Por unanimidade, em março de 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) frmou entendimento de
que a tese da legítima defesa da honra é inconstitucional, por violar os princípios constitucionais
da dignidade da pessoa humana, da proteção à vida e da igualdade de gênero, conforme decidido
na (ADPF) 779.

5.4.  ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL

Considera-se estrito cumprimento do dever legal a excludente de antijuridicidade em que o


agente pratica fato típico em razão do exercício de uma obrigação imposta pela lei.

Como regra geral atinge principalmente os agentes públicos, mas nada impede que alcance
também particulares.

A título de exemplo, um policial que realiza a prisão em fagrante de um criminoso não poderá ser
responsabilizado por restringir a liberdade do acusado, já que está apenas cumprindo o seu dever legal.

Para a caracterização do estrito cumprimento do dever legal, o agente, além de cumprir o seu
dever legal, deverá agir com proporcionalidade/razoabilidade.

5.5.  EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO

Quem exerce regularmente um direito não pode ser punido pela prática de infração penal, isto
é, se o próprio direito autoriza uma determinada conduta, não pode ser essa mesma conduta
considerada ilícita na esfera penal.

35
• As lesões ocorridas dentro da prática regular desportiva não são consideradas ilícitas,
ainda que, abstratamente, possam caracterizar infração penal. Um boxeador, por exemplo,
não pode ser punido pelo crime de lesão corporal porque quebrou o nariz do seu adversário,
durante a luta de boxe.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• As intervenções cirúrgicas autorizadas pelos pacientes também não serão consideradas


ilícitas para fns penais, já que decorrem do exercício da profssão médica.
• A utilização moderada da força por meio do desforço imediato no caso de esbulhou ou
turbação também não será penalmente punida, ainda que seja abstratamente um fato típico,
já que autorizada pelo art. 1.210 do CC.
• Eventuais castigos e punições aplicados pelos pais aos seus flhos também não serão
considerados ilícitos, porque decorrem do direito de educação (jus corrigendi).

No entanto, para que a conduta do agente no exercício regular do seu direito não seja considerada
ilícita, ela deve ser utilizada com moderação e nos termos autorizados pela legislação. Eventuais
condutas abusivas, excessivas ou irregularidades serão consideradas ilícitas do ponto de vista penal.

Assim, o boxeador que desfere um pontapé ou morde a orelha do seu adversário durante uma
luta de boxe, ou o pai que agride o rosto do seu flho sob o pretexto de educá-lo, agem de forma
irregular abusiva, podendo ser responsabilizados penalmente, nos exemplos dados, por lesão
corporal dolosa.

5.6.  DESCRIMINANTES PUTATIVAS

Art. 20 do CP (...)

§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justifcado pelas circunstâncias,


supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de
pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.

Há situações em que o agente, por erro, supõe equivocadamente estar agindo numa situação
de excludente de ilicitude e, em razão dessa falsa percepção, acaba cometendo o crime.

Nesses casos, se o erro for plenamente justifcável pelas circunstâncias, o agente será isento
de pena. Entretanto, se o erro for evitável, o agente responderá como se tivesse praticado o crime
culposamente (culpa imprópria).

5.7.  TIPICIDADE CONGLOBANTE

A teoria da tipicidade conglobante, capitaneada pelo penalista Eugênio Raúl Zaffaroni, defende
que a tipicidade não pode representar meramente a correspondência formal entre a conduta
praticada e a infração penal em abstrato (tipicidade legal), devendo analisar ainda se aquela
conduta ofende o ordenamento jurídico em seu conjunto.

36
Em outras palavras, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular do direito
não deveriam ser considerados excludentes de antijuridicidade e sim de tipicidade, uma vez que,
analisada a conduta de forma “conglobante”, ela seria permitida pelo ordenamento jurídico, de
modo que não poderia sequer ser considerada fato típico.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

A título de exemplo, como o próprio direito desportivo permite a conduta do boxeador em


lesionar o seu adversário, o exercício regular desse direito deveria ser considerado uma causa
excludente de tipicidade e não de antijuridicidade, de modo que a conduta seria atípica.

37
6

6.  CULPABILIDADE
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

A culpabilidade está relacionada à reprovabilidade da conduta do agente, ou seja, estuda a


existência de circunstancias capazes de infuenciar a liberdade do agente entre adotar uma conduta
lícita ou ilícita.

A culpabilidade é formada pelos seguintes elementos:

• Imputabilidade
• Potencial consciência da ilicitude
• Exigibilidade de conduta diversa

CULPABILIDADE

POTENCIAL
EXIGIBILIDADE DE
IMPUTABILIDADE CONSCIÊNCIA DA
CONDUTA DIVERSA
ILICITUDE

6.1.  IMPUTABILIDADE

Art. 26 do CP - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento


mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Redução de pena

Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em


virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto
ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.

De acordo com a interpretação do art. 26 do CP, a inimputabilidade, como regra geral, é


verificada de acordo com o critério biopsicológico, isto é, além do aspecto biológico, relativo
à “doença mental”, ou desenvolvimento mental incompleto, deve-se verificar ainda o aspecto
psicológico, consistente na falta de entendimento ou de autodeterminação do agente no
38
momento da conduta TEMA COBRADO NO XI EXAME DA OAB/FGV.

Se determinada pessoa sofre com esquizofrenia mas, no momento do crime, possui


entendimento do que está fazendo, não será considerada inimputável.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Se o agente for considerado inimputável pelo critério biopsicológico, ele será sujeito à medida
de segurança, imposta na chamada sentença absolutória imprópria. TEMA COBRADO NO XXX
EXAME DA OAB/FGV.

Por outro lado, tratando-se de percepção da realidade diminuída (“não era inteiramente
capaz de entender o caráter ilícito do fato”), ou semi-imputabilidade, embora o agente não seja
considerado inimputável, o parágrafo único do art. 26 do CP permite a redução da pena de um a
dois terços.

Além disso, na hipótese do semi-imputável precisar de especial tratamento curativo, a pena


privativa de liberdade pode ser substituída por medida de segurança, consistente na internação,
ou tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos (art. 98 do CP)

INIMPUTÁVEL SEMI-IMPUTÁVEL

• Inteiramente incapaz de entender o caráter • Não era inteiramente incapaz de entender


ilícito do fato o caráter ilícito do fato

• Sujeito à medida de segurança • Redução da pena de um a dois terços,


podendo ser substituída por medida de
segurança nos casos do art. 98 do CP

Salienta-se, entretanto, que Código Penal, como exceção à regra geral, adotou o critério
biológico em um único caso: quando se tratar de pessoa menor de 18 anos de idade, hipótese em
que a inimputabilidade será presumida de forma absoluta, independentemente do entendimento
do agente sobre a ilicitude do fato.

INIMPUTABILIDADE PELO CRITÉRIO INIMPUTABILIDADE PELO


BIOPSCICOLÓGICO CRITÉRIO BIOLÓGICO

• Considerada a REGRA GERAL • Considerada EXCEÇÃO

• Aspecto biológico, relativo à “doença mental”, ou • Apenas quando se tratar de pessoa


desenvolvimento mental incompleto, juntamente menor de 18 anos de idade, hipótese em
com o aspecto psicológico, consistente na falta de que a inimputabilidade será presumida
entendimento ou autodeterminação do agente no de forma absoluta, independentemente
momento da conduta. do entendimento do agente sobre a
ilicitude do fato.
• Aplicação de medida de segurança
• Agente será isento de pena, sendo
submetido a medida socioeducativa ou
de proteção (ECA).
39
• EMBRIAGUEZ

Conforme previsto no art. 28, II, do CP, a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou
substância de efeitos análogos não exclui a culpabilidade nem reduz a pena. Trata-se da aplicação
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

da teoria da actio libera in causa (ação livre da causa), segundo a qual, se o agente tinha liberdade
de escolha para se embriagar, deverá responder normalmente pelos seus atos, caso cometa algum
crime embriagado. TEMA COBRADO NO XXXIII EXAME DA OAB/FGV.

No caso de embriaguez dolosa, ou preordenada, em que o agente se embriaga para praticar


o crime, além de responder normalmente pelo fato típico, haverá a incidência da circunstância
agravante genérica prevista no art. 61, II, “l”, do CP.

Já no caso embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, em que o agente,
ao tempo da ação ou da omissão, era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou
de determinar-se de acordo com esse entendimento, haverá exclusão da culpabilidade, sendo o
único caso em o agente será isento de pena TEMA COBRADO NO XVI EXAME DA OAB/FGV.

Manoel, acidentalmente cai no tonel de cachaça, fcando completamente embriagado. Após


conseguir sair do tonel, pega o seu carro e, sem ter qualquer discernimento sobre o que
fazia, acaba atropelando dois pedestres. Neste, haverá exclusão da culpabilidade e Manoel
será isento de pena.

Se, apesar da embriaguez proveniente de caso fortuito ou força maior, o agente tiver o mínimo
de entendimento sobre o caráter ilícito do fato, não haverá isenção de pena, mas esta poderá ser
reduzida de um a dois terços (§ 2º do art. 28 do CP).

Tratando-se de embriaguez patológica, ou doentia, o agente poderá ser considerado inimputável


ou semi-inimputável, aplicando-se as regras gerais antes estudas (critério biopsicológico):
• Se era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato (inimputável), será aplicada
medida de segurança.
• Se o agente não era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato (semi-
inimputável), haverá redução da pena de um a dois terços, podendo ser substituída por
medida de segurança nos casos do art. 98 do CP.

RESUMINDO:
• EMBRIAGUEZ CULPOSA: responde normalmente pelo crime (art. 28, II, do CP).
• EMBRIAGUEZ PREORDENADA: responde pelo crime incidência da circunstância agravante
genérica prevista no art. 61, II, “l”, do CP.
• EMBRIAGUEZ EM CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR: a) se o agente era inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato: haverá isenção da pena (§ 1º do art. 28 do CP);
b) se o agente tiver o mínimo de entendimento sobre o caráter ilícito do fato: a pena poderá
ser reduzida de um a dois terços (§ 2º do art. 28 do CP).
40
• EMOÇÃO E PAIXÃO

A emoção ou paixão, conforme previsto no art. 28, I, do CP, não são capazes de excluir a
culpabilidade, mas podem possuir efeitos diferentes sobre a pena.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Paixão: é um sentimento duradouro e profundo, que se instala no agente e pode


caracterizar torpeza ou vingança, aumentando a reprovação da conduta.
• Emoção: é um sentimento abrupto e passageiro, que toma conta do agente e logo
vai embora. Apesar de não excluir a culpabilidade, pode atenuá-la, como no caso do
homicídio causado sob o domínio da violenta emoção logo após a injusta provocação
da vítima, em que o § 1°do art. 121 do CP prevê a possibilidade de diminuição da pena
de 1/6 a 1/3.

6.2.  POTENCIAL CONSCIÊNCIA DE ILICITUDE

Art. 21 do CP - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato,


se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a


consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou
atingir essa consciência.

Embora o conhecimento da lei seja obrigatório para todas as pessoas, existem situações em
que o agente atua conscientemente, mas acreditando que não há qualquer ilicitude na sua conduta,
o que se denomina de erro de proibição.

Conforme estudado anteriormente ERRO DE TIPO não se confunde com ERRO DE PROBIÇÃO. No
Erro de tipo o agente não sabe o que faz, ignorando elementar do crime ou dado complementar
do tipo penal. Já no erro de proibição o agente comete o ato de forma consciente (sabe o que
faz), mas acredita que o fato não é crime.

Havendo erro de proibição, duas situações são possíveis:

• Erro de proibição inevitável (escusável): haverá exclusão da culpabilidade e o


agente será isento de pena TEMA COBRADO NOS EXAMES IX E XIV DA OAB/FGV.

• Erro de proibição evitável: haverá redução da pena de 1/3 a 1/6, conforme art. 21 do CP.

O erro de proibição pode ser classifcado também em direito e indireto:

Erro de proibição direto: o agente se equivoca quanto ao conteúdo de uma norma proibitiva,
seja por desconhecer ou ignorar a existência do crime (ex.: holandês, que consume maconha na
Holanda, e acredita ser possível utilizar a droga no Brasil, equivocando-se quanto à ilicitude de
suua conduta).

41
Erro de proibição indireto (descriminante putativa por erro de proibição): o agente sabe que
a sua conduta caracteriza crime, mas aredita que está presente uma causa excludente da ilicitude,

6.3.  EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Art. 22 do CP - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência


a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da
coação ou da ordem

Se no caso concreto não se puder exigir do agente conduta diferente daquela que ele tomou,
signifca que ele não poderá ser censurado pelo que fez, excluindo-se sua culpabilidade.

Há duas hipóteses de inexigibilidade de conduta diversa previstas no art. 22 do CP:

• Coação moral irresistível: o coagido realiza conduta delituosa em razão de pressão


psicológica irresistível feita pelo coator, como no caso de alguém que realiza um
furto em razão de ameaça de sequestrador de que, se não o fzer, matará sua esposa
sequestrada. Havendo coação moral irresistível, apenas o coator poderá ser punido,
já que o coagido terá excluída sua culpabilidade.

• A coação moral irresistível não se confunde com a coação física irresistível, já que,
enquanto aquela exclui a culpabilidade, esta exclui o fato típico.
• Tratando-se de coação resistível, não haverá exclusão da culpabilidade, podendo o coagido
ter sua pena atenuada (art. 65 do CP).

• Obediência hierárquica: para confgurar essa excludente de culpabilidade, são


exigidos dois requisitos: a) Relação de hierarquia pública, já que não se permite a
excludentes nos casos de hierarquia particular (família, relação de emprego, etc) e
b) ordem não pode ser manifestamente ilegal, ou seja, o subordinado deve cometer o
crime sem ter condições de saber que a ordem era ilegal.

Delegado de Polícia discute com uma pessoa dentro da delegacia e manda o investigador
algemar o cidadão e colocá-lo na cela, mas o Promotor de Justiça entende que houve crime
de abuso de autoridade (desrespeito à Súmula Vinculante n. 11 do STF). Nesse caso, apenas o
Delegado poderá ser penalizado pelo crime, já que o Investigador cumpriu uma ordem ilegal,
mas cuja ilegalidade não era manifesta.

42
7

7.  CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Abaixo veremos as principias espécies de crime, segundo a classifcação comumente utilizada


pela doutrina.

• QUANTO AO RESULTADO

• Crime material: é aquele que exige a ocorrência de resultado naturalístico, como no


caso do crime de homicídio.
• Crime formal: o tipo penal faz referência a um resultado material, que entretanto, não
é exigido para a sua caracterização, como no caso do crime de extorsão, que se consuma
independentemente da obtenção da vantagem indevida (Súmula n. 96 do STJ).
• Crime de mera conduta ou de simples atividade: em que o tipo penal não faz
nenhuma referência à um resultado naturalístico, como no caso do crime de porte
ilegal de armas.

• QUANTO À INTENÇÃO DO AGENTE

• Crime de dano: que é aquele em que há efetiva “destruição” do bem protegido, como
no caso dos crime de homicídio e lesão corporal.
• Crime de perigo: sua caracterização exige apenas a probabilidade de dano. É
subdividido em: a) crime de perigo concreto (a situação de perigo deve ser demonstrada
no caso concreto) e b) crime de perigo abstrato (o perigo é presumido pela lei, como
no caso dos crimes de tráfco ilícito de drogas e de porte ilegal de arma de fogo).

• QUANTO AO MOMENTO DA CONSUMAÇÃO

• Crime Instantâneo: a consumação tem momento defnido, como no caso do homicídio


(morte da vítima).
• Crime Permanente: a conduta e a consumação se alongam no tempo por vontade
do agente, como nos crimes de sequestro e de porte ilegal de arma de fogo.

O QUE É CRIME A PRAZO?


É aquele que exige o decurso de um tempo para a sua caracterização (Exemplo: crime de lesão
corporal grave pela incapacidade das ocupações habituais por mais de 30 dias).

• QUANTO AO SUJEITO ATIVO

• Crime comum: é aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa, não se exigindo
qualidade especial do sujeito ativo, como no caso dos crimes de furto e homicídio.
43
• Crime próprio: exige-se qualidade especial do sujeito ativo, como no caso dos
crimes de infanticídio (sujeito ativo deve ser a mãe) e de peculato (sujeito ativo deve
ser servidor público)
• Crime de mão própria: é aquele que somente pode ser praticado pessoalmente pelo
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

agente designado no tipo, não se admitindo coautoria, como no caso dos crimes de
falso testemunho e bigamia.
• Crime vago: é aquele em que o sujeito passivo é destituído de personalidade jurídica,
ou seja, a vítima é indeterminada, como no casos dos crimes de ato obsceno e tráfco
ilícito de drogas.

• QUANTO AOS VESTÍGIOS DEIXADOS

• Crime transeunte: é aquele que não deixa vestígios, como no caso do crime de ato obsceno.
• Crime não transeunte: é aquele que deixa vestígios, sendo obrigatória a elaboração
de exame de corpo de delito, sob pena de nulidade da sentença.

• QUANTO À ESTRUTURA DA CONDUTA

• Crime simples: é aquele formado por um único fato típico.


• Crime complexo: é aquele formado por dois ou mais fatos típicos, que se transformam
em elementares, qualifcadoras ou causas de aumento do crime, como no caso dos
crimes de extorsão mediante sequestro e latrocínio.

• QUANTO À AUTONOMIA DO CRIME

• Crime principal: não depende de outro crime para a sua caracterização, como no
caso dos crime de homicídio e de furto.
• Crime acessório, parasitário, ou delito de fusão: é aquele que depende de outro
crime (chamado de crime antecedente ou pressuposto) para sua caracterização, como
no caso dos crimes de lavagem de dinheiro e receptação.

• OUTRAS CLASSIFICAÇÕES

• Crime habitual: exige reiteração da mesma conduta para a sua caracterização, já


que a realização de atos isolados é considerada fato atípico (Exemplo: Curandeirismo).
O crime habitual não admite tentativa.
• Crime remetido: é aquele que faz menção a outro tipo penal em sua descrição, que
passa a integrá-la, como no caso do crime de uso de documento falso, previsto no art.
304 do CP1.
• Crime inominado: é aquele que afronta a moral, mas não está tipifcado em lei como
crime, como no caso do incesto, que, apesar de imoral, não é crime.

1 Art. 304 do CP- Fazer uso de qualquer dos papéis falsifcados ou alterados, a que se referem os
arts. 297 a 302:
Pena - a cominada à falsifcação ou à alteração.
44
• Crime de atentado ou empreendimento: é aquele em que consumação e tentativa
são apenadas da mesma maneira, porque foi adotada a teoria voluntarista ou
subjetiva para sua punição, isto é, pune-se a intenção do agente, independentemente
do resultado (exemplo: crime de evasão de preso mediante violência - art. 352 do CP).
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Quase-crime: trata-se, na verdade, do nome doutrinário do crime impossível.

45
8

8.  CONSUMAÇÃO E TENTATIVA


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

8.1.  CONSIDERAÇÕES GERAIS

Para a consumação do crime o agente deverá percorrer quatro etapas, as quais compõem o
denominado iter criminis, ou caminho do crime. Essas etapas são:

• Cogitação: pensamento sobre a pratica do crime, que não é punível pelo direito penal.
• Preparação: são atos de preparação do crime, como, por exemplo, a compra dos
materiais que serão utilizados na prática delituosa. Como regra geral, não é punível
pelo código penal.
• Execução: inicia-se a prática do ato defnido como infração penal. Se o crime não se
consumar, o agente será punido pela tentativa.
• Consumação: trata-se da fase fnal do iter criminis, em que todos os elementos para
a realização do crime foram realizados.

Como regra geral, as duas primeiras etapas do iter criminis não são puníveis pelo direito
penal. Entretanto, a partir da execução, podemos ter diversas situações em que o agente será
punido, mesmo que o crime não se consuma:

• O crime não se consuma contra a vontade do agente: tentativa.


• O crime não se consuma pela vontade do agente: desistência voluntária ou
arrependimento efcaz (que não se confunde com “arrependimento posterior”);
• O crime não se consuma porque a consumação á absolutamente impossível:
crime impossível.

Havendo a consumação do crime, o agente, obviamente, responderá pelo crime consumado.

8.2.  TENTATIVA (“CONATUS”)

Conforme previsto no art. 14, II, do CP, o crime é considerado tentado quando, iniciada a
execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. No caso de tentativa,
salvo disposição em contrário, o agente será punido com a pena correspondente ao crime
consumado, diminuída de um a dois terços.

O critério para o juízo dosar o quantum de diminuição da pena é o da proximidade da


consumação. Quanto mais próximo o infrator chegar à consumação, menor a redução, e vice-versa.
Esse é o critério adotado pela doutrina e jurisprudência amplamente majoritárias.

46
Excepcionalmente a tentativa é punida com a mesma pena prevista para o crime consumado,
sem qualquer diminuição, o que é denominado de crime de atentado ou empreendimento, como
no caso do crime previsto no art. 352 do CP.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Art. 352 do CP “EVADIR-SE ou TENTAR EVADIR-SE o preso ou o


indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de
violência contra a pessoa”

É importante destacar que, na tentativa, o agente possui o mesmo dolo do crime consumado,
mas não alcança o resultado em virtude de circunstâncias alheias a sua vontade.

Agente desfere diversas facadas contra a vítima para matá-la, mas não consegue atingir o
resultado porque a polícia interrompe a sua ação. Neste caso, como o agente não conseguiu
consumar o homicídio em razão de circunstâncias alheias a sua vontade, responderá apenas
pela tentativa.

• INFRAÇÕES QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA

• Crime culposo: No crime culposo o agente causa o resultado involuntariamente,


enquanto que na tentativa, o agente quer causar o resultado, mas não atinge o
resultado por circunstâncias alheias a sua vontade. Logo, crime culposo e tentativa
são incompatíveis.

Na culpa imprópria, em que, por erro evitável, o agente supõe equivocadamente estar agindo
em situação de excludente de ilicitude, é possível a tentativa, já que o crime é praticado com
dolo, mas, por política criminal, é punido como se tivesse sido praticado na forma tentada.

• Crime preterdoloso ou preterintencional: não admite tentativa, porque o resultado


é involuntário.
• Crime omissivo puro ou próprio.
• Crime habitual: aquele que exige reiteração da mesma conduta para a sua caracterização,
já que a realização de atos isolados é considerada fato atípico (Exemplo: Curandeirismo).
• Contravenção penal: o art. 4º da Lei das Contravenções diz que não se pune a
tentativa de contravenção penal. Logo, existe tentativa de contravenção, que não é
punida por questões de política criminal.

• CLASSIFICAÇÃO DA TENTATIVA:

• Tentativa branca ou incruenta: a vítima não é atingida;


• Tentativa vermelha ou cruenta: a vítima é atingida.
• Tentativa perfeita, acabada ou crime falho: o infrator consegue esgotar os meios de
execução possíveis, embora não consiga consumar o crime. Ex.: disparo de todas as
47
balas da arma de fogo, que não atingem a vítima (tentativa perfeita branca de homicídio).
• Tentativa imperfeita ou inacabada: o infrator não consegue esgotar os meios de
execução possíveis. Ex.: Agressor tem uma arma com seis munições, efetua três
disparos e erra. A vítima consegue entrar em luta corporal e retirar a arma do agressor
(tentativa imperfeita branca de homicídio)
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

8.3.  DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA

Art. 15 do CP - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou


impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.
Na desistência voluntária, o infrator, sem esgotar os meios de execução (tentativa imperfeita),
desiste voluntariamente de prosseguir na execução do crime.
Em outras palavras, o agente inicia a execução, mas o crime não é consumado em razão da
própria vontade do agressor.
Importante destacar que a desistência precisa ser voluntária, mas não necessariamente
espontânea, ou seja, é possível que o agente desista da prática do crime infuenciado por terceiro.

“A” possui 5 balas no revólver, dispara 2 tiros contra a vítima, mas no momento que vai
disparar o terceiro tiro, é convencido por terceiro pessoa a parar a conduta e deixar a vítima
viva. Entretanto, no mesmo exemplo, se o agressor deixa de consumar o crime em razão da
aproximação de policiais, não haverá desistência voluntária e sim tentativa.

Havendo desistência voluntária, o agente responderá apenas pelos atos praticados. Assim, se
o agente, por exemplo, objetiva roubar a vítima, mas após causar-lhe lesões corporais de natureza
leve, desiste de subtrair o bem, o sujeito responderá apenas pelo crime de lesão corporal TEMA
COBRADO NO III EXAME DA OAB/FGV.

8.4.  ARREPENDIMENTO EFICAZ

Diferentemente da desistência voluntária, no arrependimento efcaz o agente já esgotou


todos os meios disponíveis para executar o crime (tentativa perfeita), mas, posteriormente, toma
providências para que o crime não seja consumado.

Em outras palavras, embora tenha esgotado o processo de execução, o crime não se consuma
em razão da vontade do agente, que toma atitudes para evitá-lo.

Havendo arrependimento efcaz, o agente também responderá apenas pelos atos praticados
TEMA COBRADO NO XIX EXAME DA OAB/FGV.

O agente dispara 2 tiros contra a vítima que fca ferida, sem oferecer qualquer resistência.
O agressor, entretanto, se arrepende da conduta e encaminha a vítima ao hospital, salvando
sua vida. Nesse caso, o agente não responderá pela tentativa de homicídio e sim pelos atos
praticados, a saber: disparo de arma de fogo e lesões corporais.
48
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA ARREPENDIMENTO EFICAZ

O agente que, voluntariamente, desiste de O agente que, voluntariamente, (...) impede


prosseguir na execução (...) que o resultado se produza (...)
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

O infrator, sem esgotar os meios de execução, O infrator, após esgotar os meios de


desiste voluntariamente de prosseguir na execução possíveis, arrepende-se e impede
execução do crime. a consumação do crime

Só pode acontecer durante uma tentativa Só pode acontecer durante uma tentativa
imperfeita ou inacabada perfeita ou crime falho.

Responderá pelos atos praticados e não por tentativa Responderá pelos atos praticados e não
por tentativa

“na tentativa, o agente quer consumar o crime, mas não pode. Na desistência voluntária e no
arrependimento efcaz, o agente pode consumar o crime, mas não quer” (fórmula de Frank).

8.5.  ARREPENDIMENTO POSTERIOR

Art. 16 do CP - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,


reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por
ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

O arrependimento posterior não pode ser confundido com o arrependimento efcaz, já que
neste o crime não foi consumado, enquanto naquele já houve a consumação do delito.

Além disso, o arrependimento posterior é causa geral de diminuição da pena (de 1/3 a 2/3) e
deve preencher os seguintes requisitos TEMA COBRADO NOS EXAMES XVIII E XXIV DA OAB/FGV.

• CRIME COMETIDO SEM VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA À PESSOA: a violência


culposa não impede a aplicação do arrependimento posterior. TEMA COBRADO NO
XXIX EXAME DA OAB/FGV.
• REPARAÇÃO DO DANO ou RESTITUIÇÃO DA COISA: é cabível em qualquer crime
que tenha repercussão patrimonial e a reparação deve ser integral. A reparação do
dano deve ser feita pelo infrator, e não por terceira pessoa. Se uma terceira pessoa
reparar o dano ou restituir a coisa, não haverá arrependimento posterior.
• ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA OU QUEIXA: o mero oferecimento, sem
o recebimento, da denúncia ou queixa não impede o arrependimento posterior. Se a
reparação acontecer após o recebimento da denúncia será mera atenuante genérica.
• ATO VOLUNTÁRIO DO AGENTE: o arrependimento posterior deve ser voluntário,
mas não necessariamente espontâneo, ou seja, pode ser infuenciado por terceiro.

49
ARREPENDIMENTO EFICAZ ARREPENDIMENTO POSTERIOR

Ocorre sempre e necessariamente antes da Ocorre sempre e necessariamente após a


consumação. Pressupõe crime não consumado. consumação. Pressupõe crime consumado
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

É causa de exclusão da tipicidade da tentativa É uma causa geral e obrigatória de diminuição


do crime inicialmente pretendido. de pena (de 1 a 2/3). Geral porque aplicável aos
crimes em geral. Obrigatória porque, presentes
os requisitos legais, o juiz é obrigado a diminuir
a pena (direito público subjetivo).

8.6.  CRIME IMPOSSÍVEL

Art. 17 do CP - Não se pune a tentativa quando, por inefcácia absoluta do meio ou por
absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime

Considera-se crime impossível (ou quase-crime) aquele que não pode ser consumado em
razão da inefcácia absoluta do meio, por absoluta impropriedade do objeto ou em razão de obra
do agente provocador.

• Inefcácia absoluta do meio: quando o meio empregado não é efcaz para atingir
o bem jurídico tutelado. A título de exemplo, não é possível punir por tentativa de
homicídio o indivíduo que objetivava matar o seu inimigo se valendo do poder da
mente, ou de um feitiço.
• Absoluta impropriedade do objeto: o objeto não possui as características necessárias
para que o crime seja consumado. A título de exemplo, não é possível matar um
cadáver, já que o corpo (objeto) já está sem vida TEMA COBRADO NOS EXAMES
VII, XVII, XVIII E XXIII DA OAB/FGV.
• Obra do agente provocador (delito de ensaio): ocorre quando o próprio agente
estatal tenta estimular a prática de um crime, para prender o criminoso. Como a ação
é premeditada, e o bem jurídico não é colocado efetivamente em risco, impossível sua
consumação. Sobre o tema, a Súmula n. 145 do STF dispõe:

Súmula 145 do STF - Não há crime, quando a preparação do fagrante pela polícia torna
impossível a sua consumação.

50
9

9.  CONCURSO DE PESSOAS


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Quando mais de uma pessoa tiver concorrido pela prática do mesmo crime, estaremos diante
da hipótese de concurso de pessoas, desde que preenchidos os seguintes requisitos:

• Pluralidade de agentes
• Liame Subjetivo: é necessária a existência da vontade de colaborar com a prática
do crime
• Relevância causal: a colaboração deve ser relevante para a prática do crime
• Unidade de crime

Conforme estudado no capítulo anterior, existem crimes que podem ser praticados por uma ou
mais pessoas (unissubjetivos) e crimes que necessariamente serão praticados por uma pluralidade
de pessoas (plurissubjetivos). Desse modo, nos crimes unissubjetivos poderá haver concurso de
pessoas, enquanto que nos crimes plurissubjetivos o concurso ocorrerá necessariamente.

Existem ao menos três teorias que objetivam explicar quem é autor e quem é partícipe no
concurso de pessoas.

• Teoria Unitária: não há distinção entre autor e partícipe, já que todo aquele que
concorre direta ou indiretamente para o resultado seria considerado autor do crime.
• Teoria Restritiva ou Formal Objetiva: autor é aquele que exerce elementar do tipo
penal, inclusive o verbo, enquanto que o partícipe é aquele que, sem exercer elementar
do tipo, concorre de qualquer modo para a prática do delito.
• Teoria do Domínio do Fato: autor é aquele que tem o controle da ação criminosa, para
dar-lhe início, continuação ou fm. Nessa teoria além do executor, o autor intelectual,
o mandante, e o autor mediato são autores, enquanto que o partícipe, por exclusão, é
aquele que concorre de qualquer modo para o crime sem ter este domínio.

• AUTORIA

Autor do crime, para a teoria restritiva, é aquele que pratica as elementares do tipo penal ou,
para a teoria do domínio do fato, é aquele tem o domínio sobre a ação criminosa.

Vejamos abaixo algumas situações especiais envolvendo autoria:

• Autoria Mediata: o autor mediato não realiza diretamente a conduta típica, valendo-se de
terceira pessoa como um instrumento para a prática delitiva, como no caso do agente que
utiliza uma pessoa sem discernimento para pratica de um delito, ou ainda nas hipóteses de
coação moral irresistível e de erro de tipo ocasionado em virtude de conduta de terceiro.
51
Na autoria mediata NÃO existe concurso de pessoa, uma vez que o executor não deseja praticar
o crime, de modo que apenas o autor mediato deverá ser responsabilizado criminalmente.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Autoria Colateral: ocorre quando o crime é praticado ao mesmo tempo por mais de
um agente, sem, entretanto, haver liame subjetivo entre eles. O exemplo clássico de
autoria colateral ocorre quando duas pessoas “A” e “B”, sem qualquer ligação entre si,
atiram contra a vítima “C”, ao mesmo tempo, matando-a. Nesta situação, cada agente
responderá pelo resultado que causar, ou seja, se foi o disparo de “A” que matou “C”,
“A” responderá por homicídio, enquanto que “B” responderá por tentativa de homicídio.
Agora, se foi a conduta de “B” que matou “C”, “B” responderá por homicídio e “A” por
tentativa. Se não for possível determinar qual dos agentes foi responsável pela morte
da vítima, estaremos diante da situação de autoria incerta, devendo ambos os agentes
responder por tentativa de homicídio, em virtude do princípio in dubio pro reo.

Nas hipóteses de autoria colateral e autoria incerta não haverá concurso de pessoas uma vez
que não há liame subjetivo entre os agentes do crime.

• COAUTORIA

A coautoria ocorre quando duas ou mais pessoas exercem elementares do tipo penal, segundo
a teoria restritiva, ou têm o controle da ação criminosa, segundo teoria do domínio do fato.

• PARTICIPAÇÃO

A participação ocorre quando alguém, de qualquer modo, concorre para o crime sem exercer
elementares do tipo (teoria restritiva) ou sem ter o domínio da ação criminosa (teoria do domínio do fato).

A participação, portanto, possui caráter acessório e será punida, como regra geral, apenas se a
execução do crime for iniciada, conforme previsto no art. 31 do CP, que dispõe:

Art. 31 do CP - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa


em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.

“A” entrega veneno para que “B” mate “C”. Se “B” não fzer nada, “A” não será punido.

Além disso, não há que se falar em participação se a conduta for irrelevante para a prática do crime
(participação inócua), já que ausente o nexo causal TEMA COBRADO NO XVI EXAME DA OAB/FGV.

Existem basicamente duas formas de participação:

• Moral: ocorre por meio de induzimento (criar ideia que não existia na mente do
agente) ou instigação (alimentar ideia já existente na mente do agente).
52
• Material: ocorre por meio do auxílio/ajuda, como no caso do sujeito que empresta a
arma para o agente praticar o crime.

Para defnir se haverá ou não participação, existem ao menos quatro teorias:


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Teoria da acessoriedade mínima: para essa teoria, basta que a conduta principal
seja considerada fato típico para que a participação seja penalmente relevante. Esta
teoria foi descartada porque acarreta uma contradição grave, já que o partícipe pode
instigar alguém a agir em legitima defesa e mesmo assim responder criminalmente.
• Teoria da acessoriedade média ou limitada: para que seja punível a conduta do
partícipe o fato deve ser típico e ilícito.
• Teoria da acessoriedade máxima: para que seja punível a conduta do partícipe o fato
deve ser típico, ilícito e culpável.
• Teoria da hiperacessoriedade: para que seja punível a conduta do partícipe o fato
deve ser típico, ilícito, culpável e punível.

No Brasil adota-se a teoria da acessoriedade média ou limitada.

• TEORIA MONISTA

Art. 29 do CP - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este
cominadas, na medida de sua culpabilidade.

§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um


sexto a um terço.

§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á


aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido
previsível o resultado mais grave (TEMA COBRADO NO XXIII EXAME DA OAB/FGV).

O código penal adotou a teoria monista, unitária ou igualitária para o concurso de pessoas,
isto é, todos aqueles que concorreram para o crime (coautores e partícipes) respondem pelo
mesmo tipo penal e com a mesma pena cominada em abstrato, mas, se houver participação de
menor importância, o partícipe poderá ter sua pena diminuída de 1/6 a 1/3, conforme previsto no
§ 1º do art. 29 do CP TEMA COBRADO NO VII EXAME DA OAB/FGV.

A teoria monista, entretanto, será excepcionada nas seguintes situações:

• Cooperação dolosamente distinta: ocorre quando o agente quis participar de crime


menos grave do que aquele efetivamente praticado, respondendo, nesse caso, apenas
pelo crime que quis praticar, sendo que a pena será aumentada até a metade, na
hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave (§ 2º do art. 29 do CP). TEMA
COBRADO NO XXVII EXAME DA OAB/FGV.

53
“A” combina com “B” de furtar uma determinada residência. Enquanto “B” ingressa na casa, “A”
fca vigiando a rua. Dentro da casa, “B” se depara com um morador inesperado, mata-o com
uma arma que carregava escondido e, posteriormente, subtrai alguns bens. Neste caso, “A”
responde por furto e “B” por latrocínio.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Previsão especial em sentido contrário: em alguns casos específcos, o legislador


prevê crimes diferentes para aqueles que atuaram em concurso de agentes, como nas
hipóteses dos crimes de corrupção ativa (art. 333 do CP) e passiva (art. 317 do CP),
já que quem recebe a vantagem pratica crime diferente daquele que a oferece, e dos
crimes previstos nos artigos 124 e 126 do CP, já que a mãe que consente com o aborto
comete crime diferente daquele que o realiza.

• COMUNICABILIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS E ELEMENTARES NO CONCURSO DE PESSOAS

Art. 30 do CP - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal,


salvo quando elementares do crime.

Conforme estudado anteriormente, elementares são os dados essenciais do crime, sem os


quais a conduta seria considerada atípica (atipicidade absoluta) ou seria considerada outro crime
(atipicidade relativa), enquanto que as circunstâncias são dados acessórios (acidentais) que,
apesar de não interferirem na caracterização do crime, afetam a sua gravidade, aumentando ou
diminuindo a pena.

As circunstâncias são divididas em objetivas e subjetivas. As primeiras são aquelas relacionadas


aos meios e modos de realização do crime, como tempo, lugar, qualidades da vítima, etc., ao passo
que as subjetivas estão relacionadas à própria pessoa do agente do crime, como os motivos
determinantes, suas condições ou qualidades pessoais, relações com a vítima, etc.

No concurso de pessoas, as circunstâncias de caráter pessoal (subjetivas) não se comunicam


entre os agentes, salvo quando elementares do crime, conforme art. 30 do CP TEMA COBRADO
NOS EXAMES III, XIII, XVIII E XI DA OAB/FGV.

Podemos concluir, portanto, que:

• Circunstâncias objetivas: comunicam-se entre os agentes


• Circunstâncias subjetivas: não se comunicam entre os agentes
• Elementares do crime: comunicam-se entre os agentes

54
• No infanticídio (art. 123 do CP), a infuência do estado puerperal é elementar do tipo penal,
por esta razão, comunica-se aos demais agentes do crime. Assim, se “X” ajudar a mulher
“Y”, que está sob a infuência do estado puerperal, a matar seu flho recém-nascido, ambos
respondem por infanticídio.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Nos crimes funcionais típicos, como no caso do peculato, a qualidade de funcionário público,
por ser elementar do tipo, comunica-se ao particular que concorreu para a prática delituosa.
• “X” pretende matar o seu próprio pai e, para tanto, pede ajuda a seu melhor amigo “Z”.
Ambos em coautoria matam o pai de “X”. Neste caso, “X” responderá por homicídio doloso
com a agravante do crime praticado contra ascendente, enquanto “Z” responderá por
homicídio sem a agravante, já que esta é circunstância de caráter pessoal (apenas “X” é
descendente da vítima).

55
10

10.  CONCURSO DE CRIMES


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Enquanto no concurso de pessoas o mesmo crime é praticado ou tem a participação de mais


de uma pessoa, no concurso de crimes uma pessoa pratica, por meio de uma ou mais condutas,
dois ou mais crimes.

10.1.  CONCURSO MATERIAL

Art. 69 do CP- Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois
ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de
liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão
e de detenção, executa-se primeiro aquela.

§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de
liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição
de que trata o art. 44 deste Código.

§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá


simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais.

O concurso material, ou concurso real, ocorre quando o agente, mediante duas ou mais
condutas, pratica dois ou mais crimes.

Há, portanto, dois requisitos para a confguração do concurso material: a) pluralidade de


condutas e b) pluralidade de resultados.

Além disso, o concurso material possui as seguintes espécies:

• Concurso material homogêneo: os resultados praticados são idênticos (Ex: autor


que comete vários furtos, sem caracterizar continuidade delitiva)
• Concurso material heterogêneo: os resultados praticados são distintos (Ex: autor
pratica um furto contra “A” e logo depois estupra a vítima “B”).

Como regra geral, não há restrições quanto às infrações penais no concurso material, sendo
possível a existência de concurso material envolvendo crimes dolosos e culposos, contravenções
penais e crimes, crimes consumados e tentados.

No que diz respeito à sanção, o juiz deverá aplicar a pena para cada um dos crimes cometidos
e, posteriormente, somá-las (sistema do cúmulo material de penas).

Na hipótese de a sentença cumular pena de reclusão e detenção, a de reclusão deverá ser


cumprida em primeiro lugar.

Além disso, é possível que o juiz aplique pena privativa de liberdade para um crime e pena
56
restritiva de direito para o outro crime do concurso material, desde que a pena privativa de
liberdade tenha sido suspensa pelo sursis (§ 1º do art. 69 do CP).

10.2.  CONCURSO FORMAL


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Art. 70 do CP - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais,
somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As
penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes
concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.

Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69
deste Código.

No concurso formal o agente, mediante uma única conduta, pratica dois ou mais crimes.

O concurso formal apresenta duas espécies:

• CONCURSO FORMAL PRÓPRIO OU PERFEITO

É aquele que decorre de uma única vontade ou desígnio do agente TEMA COBRADO NO XV
EXAME DA OAB/FGV.

“A” atira com o objetivo de matar “B”, mas, além de matar a vítima, acaba ferindo “C”

Havendo concurso formal perfeito, a pena do crime mais grave será aumentada de 1/6 até a
metade (sistema da exasperação da pena), como forma de se evitar penas exageradas para crimes
cometidos com propósito único.

Como a intenção do sistema de exasperação da pena é benefciar o réu, o parágrafo único do


art. 70 do CP dispõe que, se o resultado obtido com a incidência do aumento de 1/6 até 1/2 for
maior do que aquele que seria obtido se as penas fossem somadas, deve-se adotar o critério mais
benéfco ao réu, no caso, a soma das penas. Trata-se do denominado concurso material benéfco
que, apesar de ser na essência um concurso formal, aplica-se a pena do concurso material, já que
mais benéfca ao réu TEMA COBRADO NOS EXAMES V, VI E XXII DA OAB/FGV.

• CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO OU IMPERFEITO

Ocorre quando os delitos praticados decorrem de desígnios autônomos, isto é, o agente


tem a vontade de praticar mais de um crime, mas consegue todos os resultados com
apenas uma conduta.

57
Mário pretende matar três colegas do seu trabalho. Para tanto, lança uma granada na sala
onde as vítimas trabalham, conseguindo matá-las. Nesse caso, embora Mário tenha tido
apenas uma conduta, a real intenção era praticar mais de um crime, motivo pelo qual haverá
concurso formal imperfeito.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Como há desígnios autônomos, a regra no concurso formal perfeito é que haja a somatória
das penas dos crimes, assim como no concurso material, para evitar que criminosos audazes
se benefciem indevidamente da regra do concurso formal perfeito TEMA COBRADO NO XXV
EXAME DA OAB/FGV.

CONCURSO FORMAL CONCURSO FORMAL


PERFEITO IMPERFEITO

• Único desígnio • Mais de um desígnio


• Sistema da exasperação da pena, salvo • As penas serão somadas
se for mais maléfca, hipótese em que as
penas serão somadas

10.3.  CRIME CONTINUADO

Art. 71 do CP - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois
ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de
execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação
do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se
diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.

Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com
violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os
antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se
diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75
deste Código.

O crime continuado ocorre quando o agente, mediante duas ou mais condutas, pratica crimes
da mesma espécie que, em razão da semelhança de tempo, lugar e modo de execução, são
considerados atos de continuação do crime principal.

Requisitos:

• Crimes da mesma espécie: são os crimes previstos no mesmo tipo penal, ainda que
cometido de forma simples, qualifcada, privilegiada, tentada ou consumada.
• Conexão espacial: mesma localidade ou cidades próximas.
• Conexão temporal: como regra a jurisprudência admite intervalo máximo de 30 dias
entre os crimes. 58
• Semelhança no modo de execução: os crimes devem guardar semelhança no modo
de execução (mesmos comparsas, armas, horário, etc.).

Existem duas espécies de crimes continuados:


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Crime continuado comum (caput do art. 71 do CP): os delitos não são cometidos
com violência ou grave ameaça contra a pessoa. Nesse caso, aplica-se a pena de um
só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer
caso, de 1/6 a 2/3.
• Crime continuado específco: o crime continuado é composto por crimes dolosos,
cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa. Aplica-se a pena de um só dos
crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentando-a até o triplo TEMA
COBRADO NO XXVI EXAME.

CRIME CONTINUADO
CRIME CONTINUADO COMUM ESPECÍFICO

• Delitos NÃO são cometidos sem violência • Delitos cometidos com violência ou
ou grave ameaça grave ameaça
• Aplica-se a pena mais grave, que poderá • Aplica-se a pena mais grave, que
ser aumentada de 1/6 a 2/3 poderá ser aumentada até o triplo

10.4.  APLICAÇÃO DAS PENAS NO CONCURSO DE CRIMES

Conforme estudado acima, nas hipóteses de concurso material (art. 69 do CP) e concurso formal
imperfeito (art. 70, caput, segunda parte, do CP), as penas previstas para os crimes cometidos
aplicam-se cumulativamente (sistema do cúmulo material ou da acumulação), enquanto que nos
casos de concurso formal perfeito (art. 70, caput, primeira parte, do CP) e de crime continuado
(art. 71, do CP), aplica-se a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas,
mas aumentada até certo patamar previsto para cada caso (sistema da exasperação). TEMA
COBRADO NOS EXAMES II e XXXIII DA OAB/FGV.

CÚMULO MATERIAL SISTEMA DE EXASPERAÇÃO

• Concurso material • Concurso formal perfeito


• Concurso formal imperfeito • Crime continuado

59
11

11.  SANÇÕES PENAIS


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

A sanção penal representa a reação do Estado em face do agente que cometeu infração penal,
subdividindo-se em medida de segurança e pena.

SANÇÕES

MEDIDAS DE
PENA
SEGURANÇA

11.1.  MEDIDA DE SEGURANÇA

É a sanção penal cabível ao inimputável, e excepcionalmente, ao semi-Imputável, que


reconhecidamente cometeram infração penal e tenham manifesta periculosidade.

INIMPUTÁVEL SEMI-IMPUTÁVEL

• Inteiramente incapaz de entender o caráter • Não era inteiramente incapaz de


ilícito do fato. entender o caráter ilícito do fato.

• Sujeito à medida de segurança • Redução da pena de um a dois terços,


podendo ser substituída excepcionalmente
por medida de segurança se o condenado
necessitar de especial tratamento curativo
(art. 98 do CP).

Existem duas espécies de Medidas de Segurança:

• Detentiva: consistente na internação em hospital de custódia e tratamento


psicológico. Haverá, nesse caso, a privação da liberdade do agente;
• Restritiva: consistente no tratamento ambulatorial. O agente continua livre, mas terá
restrição na sua liberdade, já que deverá comparecer ao tratamento ambulatorial.

60
Como regra geral, se o crime cometido pelo inimputável for apenado com reclusão, deverá ser
imposta internação, enquanto que, se a pena for de detenção, o Juiz poderá optar entre uma das
formas de Medida de Segurança (interdição ou tratamento ambulatorial).

De acordo com o § 1º do art. 97 do CP, a medida de segurança tem prazo mínimo de 1(um)
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

a 3(três) anos, mas perdura por tempo indeterminado, enquanto não for averiguada, mediante
perícia médica, a cessação de periculosidade do agente.

Esse dispositivo, entretanto, é muito criticado pela doutrina e pela jurisprudência, uma vez que
a inexistência de um limite máximo para a medida de segurança ofenderia o disposto no art. 5º,
XLVII, da CF/88, que veda “penas de caráter perpétuo”.

Sendo assim, em razão da impossibilidade da medida de segurança assumir caráter perpétuo, o


Superior Tribunal de Justiça sedimentou posicionamento no sentido de que a sua duração deve levar
em conta o limite máximo da pena em abstrato do crime praticado, conforme Súmula n. 527, in verbis:

Súmula n. 527 do STJ: O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar
o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado.

Cabe destacar ainda que, se a inimputabilidade for verifcada na fase de execução da pena,
o juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública ou da autoridade
administrativa, poderá determinar a substituição da pena por medida de segurança, conforme art.
183 da LEP TEMA COBRADO NO XI EXAME DA OAB/FGV. Se isso ocorrer, quando for verifcada
a recuperação do condenado, ele deverá voltar a cumprir a pena imposta na sentença, sendo que
o período de internação será contado como tempo de cumprimento de pena.

11.2.  PENA

O Código Penal prevê 3 (três) espécies de pena, a saber: a) pena privativa de liberdade; b) pena
restritiva de direitos e c) pena de multa.

ESPÉCIES DE PENA

PRIVATIVAS DE RESTRITIVAS DE
MULTA
LIBERDADE DIREITO

61
11.2.1.  PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

A pena privativa de liberdade representa a restrição do direito de locomoção do condenado,


podendo assumir uma das seguintes espécies:
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

a) Reclusão;

b) Detenção;

c) Prisão simples, que é reservada e exclusiva das contravenções penais.

Conforme previsto no art. 33 do CP, a pena de reclusão pode ser cumprida em regime fechado,
semiaberto ou aberto, a depender da pena imposta ao condenado.

Já a pena de detenção deve ser cumprida em regime semiaberto, ou aberto, sendo vedada
imposição de regime inicial fechado, que será admitido apenas em virtude de regressão.

Já a pena de prisão simples é específca para as contravenções penais, devendo ser cumprida,
sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em
regime semiaberto ou aberto (art. 6º, caput, da Lei das Contravenções Penais).

Destaca-se ainda que o condenado a pena de prisão simples fca sempre separado dos
condenados a pena de reclusão ou de detenção e o trabalho é facultativo, se a pena aplicada, não
exceder a quinze dias (§ 1º e § 2º do art. 6º).

Vejamos abaixo as principais características dos regimes de cumprimento de pena.

REGIME
REGIME ABERTO SEMIABERTO REGIME FECHADO

Fixado quando o condenado não Fixado quando o Fixado incialmente apenas


for reincidente em crime doloso e condenado não for em caso de reclusão, quando o
tiver pena de até 4 anos reincidente em crime doloso condenado for reincidente em
e tiver pena superior a 4 crime doloso ou quando tiver
anos até 8 anos. pena superior a 8 anos.

Não pode ser fxado como


regime inicial às penas de
detenção, mas pode ser
aplicado em caso de regressão
de regime.

Pena cumprida com o Pena é cumprida em Pena cumprida em


recolhimento noturno a aos fnais colônia agrícola, industrial estabelecimento de segurança
de semana em casa de albergado ou similar. máxima ou média.
ou estabelecimento similar.

62
Importante destacar que, se o condenado à pena de reclusão for reincidente, o regime inicial
de cumprimento de pena deve ser o regime fechado. Entretanto, a Súmula n. 269 do STJ admite
a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a
quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Digno de nota também que, de acordo com a Súmula n. 718 do STF, a opinião do julgador sobre
a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais
severo do que o permitido segundo a pena aplicada. Em outras palavras, a quantidade da pena ou
a reincidência que estabelecem o regime de cumprimento da pena, sendo irrelevante a opinião do
julgador sobre a gravidade do crime.

• PROGRESSÃO DE REGIME

O Brasil adotou o sistema progressivo para cumprimento de pena privativa de liberdade, de


modo que o condenado, cumpridas determinadas condições, tem o direito de progredir do regime
mais rigoroso para o regime imediatamente menos rigoroso, sendo, entretanto, vedada a chamada
progressão “por salto”, isso é, a progressão do regime fechado diretamente para o aberto.

Como regra geral, com as alterações promovidas pela Lei n. 13.964/19 (pacote anticirme),
para ter direito à progressão de regime, o art. 112 da LEP estabelece que o condenado deve
cumprir os seguintes requisitos:

• Primário que praticou infração comum sem violência ou grave ameaça: 16% da pena.

• Primário que praticou infração comum com violência ou grave ameaça: 20% da pena.

• Reincidente que praticou infração comum sem violência ou grave ameaça: 25 % da pena.

• Reincidente que praticou infração comum com violência ou grave ameaça: 30% da pena.

• Primário que praticou crime hediondo sem resultado morte: 40% da pena.

• Primário que praticou crime hediondo com resultado morte: 50% da pena, sendo vedado
livramento condicional.

• Reincidente específco que praticou crime hediondo ou equiparado sem resultado morte:
60% da pena.

• Reincidente específco que praticou crime hediondo ou equiparado com resultado morte:
70% da pena.

• Primário ou reincidente que praticou crime de organização criminosa destinada a prática


de crimes hediondos ou equiparado: 50% da pena vedado o livramento condicional.

No caso de crime contra a administração pública, a progressão de regime será condicionada,


além dos requisitos citados, à reparação do dano que o condenado causou, ou à devolução
do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais, conforme § 4º do art. 33 do CP.
TEMA COBRADO NO IX EXAME DA OAB/FGV.

63
Importante registrar que a Lei nº 13.769/2018 acrescentou o § 3º ao art. 112 da LEP, criando
um regime especial de progressão, mais brando, aplicável inclusive para os crimes hediondos,
para condenadas: a) gestantes; ou b) que sejam mães ou responsáveis por crianças ou pessoas
com defciência.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Vejamos o disposto no § 3º do art. 112 da LEP:

Art. 112 (...)

(...)

§ 3º No caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por


crianças ou pessoas com defciência, os requisitos para progressão de regime
são, cumulativamente:

I - não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;

II - não ter cometido o crime contra seu flho ou dependente;

III - ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior;

IV - ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo


diretor do estabelecimento;

V - não ter integrado organização criminosa.

Destaca-se ainda que o art. 115 da Lei de Execuções Penais (LEP) estabelece que o juiz pode
estabelecer algumas condições especiais para a concessão de regime aberto:

Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão


de regime aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias:

I - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga;

II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fxados;

III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;

IV - comparecer a Juízo, para informar e justifcar as suas atividades, quando


for determinado.

No entanto, não será possível a imposição de medidas que confgurem pena restritiva de
direito, como, por exemplo, a prestação de serviços à comunidade, conforme inclusive disposto na
Súmula 493 do STJ: “É inadmissível a fxação de pena substitutiva (art. 44 do CP) como condição
especial ao regime aberto” TEMA COBRADO NO IX EXAME DA OAB/FGV.

Vejamos abaixo as principais súmulas sobre progressão de regime:

64
• Súmula n. 491 do STJ: É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional.
• Súmula n. 716 do STF: Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a
aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado
da sentença condenatória.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Súmula 717 do STF: Não impede a progressão de regime de execução da pena, fxada em
sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão especial.
• Súmula n. 718 do STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime
não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido
segundo a pena aplicada.
• Súmula Vinculante n. 26 do STF: Para efeito de progressão de regime no cumprimento de
pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade
do art. 2º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado
preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para
tal fm, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.

• REMIÇÃO

Conforme previsto no art. 126 da LEP, o condenado que cumpre a pena em regime fechado ou
semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.

• 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de


ensino fundamental, médio, inclusive profssionalizante, ou superior, ou ainda de
requalifcação profssional - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias;
• 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho - o tempo remido será computado
como pena cumprida, para todos os efeitos (art. 128 da LEP). Entretanto, em caso de
falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido, observado
o disposto no art. 57 da LEP, recomeçando a contagem a partir da data da infração
disciplinar (art. 127 da LEP).

O art. 127 da LEP teve sua constitucionalidade questionada. No entanto, o STF frmou
posicionamento no sentido de que o referido artigo foi recepcionado pela ordem constitucional
vigente, não se lhe aplicando o limite temporal previsto no caput do artigo 58 da LEP, que prevê
que a restrição de direitos não poderá exceder a 30 dias (Súmula Vinculante n. 9 do STF)2.

O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará a


benefciar-se com a remição (§ 4º do art. 126 da LEP).

É importante consignar ainda que o trabalho é um dever do preso (art. 39, V, da LEP), sendo
que a negativa injustifcada de prestá-lo representa falta grave (art. 50 da LEP), podendo prejudicar
o preso na aquisição de direitos durante o cumprimento da pena (progressão de regime, saída
temporária, etc).

2 Súmula Vinculante n.9: O disposto no artigo 127 da Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) foi
recebido pela ordem constitucional vigente, e não se lhe aplica o limite temporal previsto no caput do artigo 58.
65
• DETRAÇÃO

Conforme previsto no art. 42 do CP, computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida


de segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa
e o de internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta deste, de outro
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

estabelecimento adequado.

• REGRESSÃO DE REGIME

Art. 118 da LEP. A execução da pena privativa de liberdade fcará sujeita à forma regressiva,
com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:

I - praticar fato defnido como crime doloso ou falta grave;

II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em
execução, torne incabível o regime (artigo 111).

§ 1° O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas
nos incisos anteriores, frustrar os fns da execução ou não pagar, podendo, a multa
cumulativamente imposta.

§ 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, deverá ser ouvido previamente


o condenado.

A regressão de regime signifca a passagem de regime menos rigoroso para um mais rigoroso
e, diferentemente do que ocorre na progressão, poderá ser “por salto”, isto é, diretamente do
regime aberto para o fechado.

O art. 118 da LEP prevê as seguintes hipóteses de regressão de regime:

• Prática de falta grave, ou fato previsto como crime doloso.


• Condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em execução,
torne incabível o regime TEMA COBRADO NO VII EXAME DA OAB/FGV. .

“X” foi condenado defnitivamente à pena de 7 anos de reclusão em regime semiaberto. Após 2
meses do início do cumprimento da pena, foi novamente condenado defnitivamente, em razão da
prática de crime anterior, à pena de reclusão de 3 anos, em regime aberto. Neste caso, somando-
se as penas, teremos um total de quase 9 anos de reclusão, o que é incompatível com o regime
semiaberto, de modo que “X” terá a pena regredida para cumprimento em regime fechado.

• No caso de cumprimento de pena em regime aberto se, além das hipóteses referidas
nos incisos anteriores, frustrar os fns da execução ou não pagar, podendo, a multa
cumulativamente imposta.

Parte da doutrina entende que regressão do regime aberto em caso de não pagamento de multa
foi tacitamente revogada pela lei n. 9.268/96, que proíbe a conversão de multa não paga em prisão.
66
• UNIFICAÇÃO DAS PENAS

Estabelece o art. 75 do CP que o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não
pode ser superior a 40 (quarenta) anos, conforme nova redação dada pela Lei 13.964/19.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Desse modo, quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja
superior a 40 (quarente) anos, devem elas ser unifcadas para atender ao limite máximo de 40
anos.

Entretanto, se o condenado já estiver cumprindo pena e sobrevier condenação por fato posterior
ao início de seu cumprimento, far-se-á nova unifcação, desprezando-se, para esse fm, o período de
pena já cumprido.

É importante destacar ainda que a jurisprudência majoritária entende que o prazo máximo de
40 anos não se aplica para a concessão dos demais benefícios previstos em lei, conforme disposto
na Súmula n. 715 do STF:

Súmula 715 do STF: A pena unifcada para atender ao limite de trinta anos (obs:
atualmente 40 anos com o PAC) de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código
Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento
condicional ou regime mais favorável de execução.

11.2.2.  PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO

As penas restritivas de direito representam restrições ou supressão de um ou mais direitos do


condenado e são aplicadas em substituição à pena privativa de liberdade, desde que preenchidos
os requisitos legais.

De acordo com o art. 43 do CP, existem 5 (cinco) espécies de penas restritivas de direito:

1) Prestação pecuniária;

2) Perda de bens e valores;

3) Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;

4) Interdição temporária de direitos;

5) Limitação de fm de semana.

Para ocorrer a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito, são
exigidos os seguintes requisitos:

• Quantidade de pena: tratando-se de crime culposo, qualquer pena imposta admite


a substituição por pena restritiva de direito. Entretanto, no caso de crime doloso, para
que haja a substituição, o crime deve ser cometido sem violência ou grave ameaça
a pessoa e a pena imposta deve ser inferior a 4 anos. TEMA COBRADO NO XXVII
67
EXAME DA OAB/FGV

Nos crimes dolosos praticados com violência ou grave ameaça não é possível a substituição
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

por pena restritiva de direitos.

• Reincidência: O Réu não pode ser reincidente em crime doloso, salvo se a


reincidência não for específca no mesmo tipo penal e a medida for socialmente
recomendável (§ 3º do art. 44 do CP). A reincidência em crime culposo, portanto, não
impede a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito TEMA
COBRADO NOS EXAMES XXI E XXIV DA OAB/FGV.
• Circunstâncias favoráveis: A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que
essa substituição seja sufciente.

Como regra geral, a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito
ocorre na própria sentença condenatória, devendo o juiz primeiro fxar a pena privativa de liberdade
com a indicação do regime inicial de cumprimento e, na sequência, presentes os requisitos legais,
realizar a substituição, que deve observar os seguintes critérios: TEMA COBRADO NO IV EXAME
DA OAB/FGV.

CONDENAÇÃO IGUAL OU MULTA OU 1 (UMA) PENA


INFERIOR A 1 (UM) ANO RESTRITIVA DE DIREITO

1(UMA) PENA RESTRITIVA DE


CONDENAÇÃO SUPERIOR
DIREITO E MULTA OU 2 (DUAS)
A 1 (UM) ANO
PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO

Vejamos agora as características de cada uma das espécies das penas restritivas de direito:

• Prestação pecuniária: consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus


dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de importância
fxada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360 (trezentos
e sessenta) salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual
condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os benefciários (§ 1º do art.
45 do CP).

O § 2º do art. 45 do CP dispõe que, se houver aceitação do benefciário, a prestação pecuniária


pode consistir em prestação de outra natureza, sendo o exemplo mais comum a doação de
cestas básicas.
Entretanto, o art. 17 da Lei Maria da Penha dispõe que é vedada a aplicação, nos casos de
violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação
pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa. 68
• Perda de Bens e valores: a perda de bens e valores pertencentes aos condenados
dar-se-á, ressalvada a legislação especial, em favor do Fundo Penitenciário Nacional,
e seu valor terá como teto – o que for maior – o montante do prejuízo causado ou do
provento obtido pelo agente ou por terceiro, em consequência da prática do crime (§
3º do art. 45 do CP).
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas: aplicável às


condenações superiores a seis meses de privação da liberdade e consiste na atribuição
de tarefas gratuitas ao condenado em entidades assistenciais, hospitais, escolas,
orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou
estatais. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do condenado, devendo ser
cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação, fxadas de modo a
não prejudicar a jornada normal de trabalho.

A pena restritiva de direito deve ter o mesmo prazo da pena privativa de liberdade substituída. No
entanto, no caso de prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas, permite-se, caso a
pena substituída seja superior a 1 ano, que o condenado cumpra a pena em menor tempo, desde
que não seja inferior à metade da pena privativa de liberdade fxada. A título de exemplo, se a pena
privativa de liberdade substituída era de 2 anos, permite-se que o condenado concentre as horas
de prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas em prazo menor, desde que não
seja inferior a 1 (um) ano, que é metade da pena substituída (§ 4º do art. 46).

• Interdição temporária de direitos: I - proibição do exercício de cargo, função ou


atividade pública, bem como de mandato eletivo; II - proibição do exercício de profssão,
atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização
do poder público; III - suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo;
IV – proibição de frequentar determinados lugares; V - proibição de inscrever-se em
concurso, avaliação ou exame públicos (art. 47 do CP).
• Limitação de fm de semana: consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e
domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento
adequado. Durante a permanência do condenado, poderão ser ministrados cursos e
palestras ou atribuídas atividades educativas (art. 48 do CP).

A redação original do § 4º do art. 33 Lei n. 11.343/2006 (lei de Drogas) vedava a substituição de


pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito nos crimes apenados com reclusão
nela previstos. No entanto, a resolução n. 5/2012 do Senado federal suspendeu essa proibição,
não havendo mais qualquer vedação nesse sentido.

Por fm, é importante destacar que existem situações que vão importar na conversão da pena
restritiva de direito em pena privativa de liberdade, ou seja, haverá a restituição da pena privativa
de liberdade outrora substituída em decorrência do descumprimento da restrição imposta.

69
CONVERSÃO OBRIGATÓRIA (§ 4º DO CONVERSÃO FACULTATIVA (§ 5º
ART. 44 DO CP) DO ART. 44 DO CP)

A pena restritiva de direitos converte-se Sobrevindo condenação a pena privativa


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

em privativa de liberdade quando ocorrer o de liberdade, por outro crime, o juiz da


descumprimento injustifcado da restrição imposta. execução penal decidirá sobre a conversão,
No cálculo da pena privativa de liberdade a podendo deixar de aplicá-la se for possível
executar será deduzido o tempo cumprido da pena ao condenado cumprir a pena substitutiva
restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo anterior. Em outras palavras, no caso de
de trinta dias de detenção ou reclusão, que serve uma nova condenação em pena privativa de
para desestimular o descumprimento da restrição liberdade, o juiz poderá deixar de converter
faltando poucos dias para o seu término (na a pena restritiva de direito anteriormente
conversão deverá cumprir no mínimo 30 dias). imposta se o cumprimento da nova pena for
compatível com esta.

11.2.3.  MULTA

Trata-se de quantia em dinheiro paga em favor do Fundo Penitenciário Nacional. A multa é


fxada em sentença com base em dois critérios: a) são fxados dias-multa (mínimo 10 e máximo 360
dias multa) e b) atribui-se um valor para cada dia multa, que varia de 1/30 até 5 vezes o salário
mínimo, a depender da situação econômica do condenado.

É importante destacar que, em caso de inadimplemento, a multa não pode ser convertida em
prisão, devendo ser inscrita e executada perante o juiz da execução penal, aplicando-se as normas
relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, conforme disposto na nova redação do art. 51 do CP. dada
pela Lei 13.964/19:

Art. 51 do CP - Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será


executada perante o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor,
aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que
concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.

Salienta-se ainda que a Súmula n. 171 do STJ estabelece que cominadas cumulativamente, em
lei especial, penas privativa de liberdade e pecuniária, é defeso a substituição da prisão por multa.

No caso da Lei Maria da Penha, a multa não pode ser aplicada de forma isolada (art. 17 da Lei
n. 11.340/06).

70
12

12.  APLICAÇÃO DA PENA


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Para a fxação da pena privativa de liberdade, o código penal adotou, em seu art. 68, o sistema
trifásico, idealizado por Nelson Hungria:

Art. 68 do CP - A pena-base será fxada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código;


em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último,
as causas de diminuição e de aumento.

Parágrafo único - No concurso de causas de aumento ou de diminuição previstas


na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição,
prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua.

12.1.  PRIMEIRA FASE: PENA-BASE

Na primeira fase, respeitados os limites mínimos e máximos cominados em abstrato, o juiz


fxará a pena-base, levando em consideração as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP.

Art. 59 do CP - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à


personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem
como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e sufciente
para reprovação e prevenção do crime:

I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;

II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;

III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;

IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.

O primeiro critério a ser utilizado para a fxação da pena é observar se há ou não qualifcadoras
no crime. Havendo, os limites da pena base serão fxados de acordo com o preceito do crime
qualifcado, enquanto que, se não houver qualifcadora, os limites serão fxados de acordo com o
preceito do crime simples.

Após, o juiz deverá considerar as circunstâncias judiciais para fazer a dosagem da pena,
lembrando-se que, em relação aos maus antecedentes, estes são condenações defnitivas
(transitadas em julgado) que não geram reincidência, já que esta é analisada na segunda fase da
dosimetria da pena.

Além disso, não se pode considerar como maus antecedentes a existência de inquéritos policiais
e ações penais em curso, conforme previsto na Súmula n. 444 do STJ.

Muito importante destacar ainda que, na primeira fase, a pena não pode ser menor nem maior
71
que o mínimo e o máximo previsto em abstrato para o crime. Desse modo, se todas as circunstâncias
forem favoráveis ao agente, a pena base será fxada no mínimo abstrato previsto para do crime.

12.2.  SEGUNDA FASE (PENA INTERMEDIÁRIA)


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

12.2.1.  AGRAVANTES E ATENUANTES

Na segunda fase (pena intermediária), o juiz leva em consideração as atenuantes e as


agravantes previstas em lei, que vão atenuar ou agravar a pena-base, não podendo, entretanto,
extrapolar o limite mínimo e máximo da pena em abstrato do crime TEMA COBRADO NO VII
EXAME DA OAB/FGV.

Súmula n.231 do STJ: a incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à


redução da pena abaixo do mínimo legal.

As agravantes genéricas possuem previsão no artigos 61 e 62 do CP, conforme abaixo transcrito.

Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou
qualifcam o crime:

I - a reincidência;

II - ter o agente cometido o crime:

a) por motivo fútil ou torpe;

b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de


outro crime;

c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que difcultou


ou tornou impossível a defesa do ofendido;

d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou
de que podia resultar perigo comum;

e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;

f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação


ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específca;
(Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006)

g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profssão;

h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;

i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade;

j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de


desgraça particular do ofendido;

l) em estado de embriaguez preordenada.


72
Agravantes no caso de concurso de pessoas

Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que:

I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes;


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

II - coage ou induz outrem à execução material do crime;

III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-
punível em virtude de condição ou qualidade pessoal;

IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa.

Existem 3 (três) situações em que a agravante não vai agravar a pena: 1) Se a agravante já constitui
ou qualifca o crime (ex: tratando-se de homicídio, o motivo torpe já qualifca o crime, de modo que
a agravante genérica do art. 61, “a”, do CP, não poderá ser utilizada, sob pena de bis in idem); 2)
Se a pena base já foi fxada no máximo, já que a agravante não poderá aumentar o limite máximo
em abstrato da pena; 3) se houver concurso de agravante com atenuante que seja preponderante,
como no caso da atenuante da menoridade, que prepondera sobre qualquer agravante.

Já as atenuantes genéricas possuem previsão no art. 65 do CP TEMA COBRADO NO XXXII


EXAME DA OAB/FGV.

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos,
na data da sentença;

II - o desconhecimento da lei;

III - ter o agente:

a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;

b) procurado, por sua espontânea vontade e com efciência, logo após o crime, evitar-lhe
ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;

c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem


de autoridade superior, ou sob a infuência de violenta emoção, provocada por ato
injusto da vítima;

d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;

e) cometido o crime sob a infuência de multidão em tumulto, se não o provocou.

Conforme previsto no art. 67 do CP, no concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve


aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as
que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência.

Para facilitar o estudo, podemos memorizar as seguintes regras:


73
• A circunstância que prepondera sobre todas as demais é a circunstância atenuante
da menoridade (réu menor de 21 anos na data dos fatos) ou da senilidade (réu maior
de 70 anos na data da sentença).
• A agravante da reincidência, salvo no caso das atenuantes da menoridade ou da
senilidade, prepondera sobre todas as demais atenuantes.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

O STJ pacifcou entendimento de que a agravante da reincidência compensa-se com a atenuante


da confssão espontânea. Entretanto, não haverá a compensação se o réu é multirreincidente.

• Atenuantes e agravantes subjetivas prevalecem sobre atenuantes e agravantes objetivas

Muito importante frisar que a reincidência, sem dúvida alguma, é a agravante mais cobrada no exame
da OAB/FGV, motivo pelo qual destacaremos, doravante, os pontos mais importantes sobre o tema.

12.2.2.  REINCIDÊNCIA

Conforme previsto no art. 63 do CP, a reincidência ocorre quando o agente comete novo crime,
depois de transitar em julgado a sentença que, no país ou no estrangeiro, o tenha condenado por
crime anterior.

São requisitos da reincidência, portanto: a) sentença transitada em julgado pela prática de


crime anterior e b) prática de novo crime TEMA COBRADO NOS EXAMES IV E XV DA OAB/FGV.

O art. 63 do CP, no entanto, é complementado pelo art. 7º da lei das contravenções penais que
dispõe que “verifca-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar
em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou,
no Brasil, por motivo de contravenção”.

Assim, a reincidência também ocorre quando o agente é condenado por decisão irrecorrível
pela prática de crime e posteriormente pratica crime ou nova contravenção, mas a recíproca não
é verdadeira, ou seja, não haverá reincidência se o agente já tiver sido condenado pela prática de
contravenção e depois praticar crime, já que a norma é silente neste caso TEMA COBRADO NO
IX EXAME DA OAB/FGV.

Além disso, de acordo com o art. 64, II, do CP, crime militar próprio e crime político não geram
reincidência TEMA COBRADO NO XXIII EXAME DA OAB/FGV.

74
CRIME CRIME REINCIDÊNCIA
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

CRIME CONTRAVENÇÃO REINCIDÊNCIA

CONTRAVENÇÃO CONTRAVENÇÃO REINCIDÊNCIA

CONTRAVENÇÃO CRIME NÃO HÁ REINCIDÊNCIA

CRIME MILITAR
CRIME NÃO HÁ REINCIDÊNCIA
OU POLÍTICO

• A sentença que concede perdão judicial não gera reincidência por expressa previsão no
art. 120 do CP.
• Crime militar próprio e crime político não geram reincidência (art. 64, II, do CP).

Destaca-se ainda que, de acordo com o art. 64, I, do CP, não haverá reincidência se entre
a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de
tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento
condicional, se não ocorrer revogação TEMA COBRADO NO XX EXAME DA OAB/FGV.

Tem-se, portanto, que a reincidência não é eterna e está sujeita a um período de depuração,
também chamado de prescrição da reincidência, que se verifca a partir de 5 anos da extinção da
punibilidade do agente.

Havendo decisão defnitiva que não gera reincidência (decurso do prazo de depuração de
cinco anos, condenação anterior por crime militar próprio ou crime político, que, conforme art.
64, II, do CP, não são considerados para efeito de reincidência), o condenado será considerado
com maus antecedentes.

12.3.  TERCEIRA FASE: PENA DEFINITIVA

Diferentemente do que ocorre nas duas primeiras fases do crime, em que o juiz fca adstrito ao
limite mínimo e máximo da pena em abstrato (preceito secundário), na terceira fase o juiz não está
atrelado a esses limites, podendo aumentar ou diminuir a pena além do máximo ou do mínimo
previsto para o crime em abstrato.

As causas de aumento ou diminuição de pena podem ser encontradas na parte geral (tentativa,
concurso formal e concurso material, por exemplo) ou na parte especial, sendo possível identifcá-
las quando o artigo se refere a frações (a pena é reduzida de um a dois terços, a pena é aumentada
75
de um terço, etc.).

Como regra geral, primeiro devem ser aplicadas as causas de aumento de pena e,
posteriormente, as causas de diminuição, deixando-se, por último, a análise da tentativa.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Com relação à tentativa, salvo disposição em contrário, o agente será punido com a pena
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. Além disso, o critério adotado
pela doutrina e jurisprudência amplamente majoritárias para o juízo dosar o quantum de diminuição
da pena é o da proximidade da consumação: quanto mais próximo o infrator chegar à consumação,
menor a redução, e vice-versa.

Assim, se houver concurso de causas de aumento e de diminuição, o juiz deverá observar


os seguintes critérios:

• Existindo duas ou mais causas de aumento, o juiz deve aplicar todas, salvo se as
causas de aumento estiverem previstas na parte especial do código, hipótese em que
o juiz poderá aplicar apenas uma causa, desde que seja a causa que mais aumenta a
pena (art. 68, parágrafo único, do CP).
• Existindo duas ou mais causas de diminuição de pena, o juiz deve aplicar todas,
salvo se as causas de diminuição estiverem previstas na parte especial do código,
hipótese em que o juiz poderá aplicar apenas uma causa, desde que seja a causa que
mais diminua a pena (art. 68, parágrafo único, do CP).
• Existindo causas de aumento e de diminuição, o juiz deve primeiro aplicar a causa
de aumento e depois a de diminuição.

76
13

13.  SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA (“SURSIS”)


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

O sursis, ou suspensão condicional da pena, representa o direito do condenado de ter suspensa


a execução da sua pena privativa de liberdade por um determinado período (período de prova),
em que fcará sujeito a determinadas condições que, se cumpridas, acarretarão a extinção da
punibilidade do agente.

Não confundir suspensão condicional da pena com a suspensão condicional do processo:


SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (art. 89 da Lei n. 9.099/95):
O Ministério Público poderá propor a denominada suspensão condicional do processo por 2 a
4 anos, nos casos em que a pena mínima cominada ao crime for igual ou inferior a 1 (um) ano,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro
CRIME e que estejam presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional
da pena (art. 77 do Código Penal) TEMA COBRADO NO XXIV EXAME DA OAB/FGV.

• REQUISITOS

Para que o sursis seja concedido, o condenado deve preencher os seguintes requisitos:

• Pena privativa de liberdade: O benefciário do sursis deve ter sido condenado à pena
privativa de liberdade não superior a 2 anos. Excepcionalmente, entretanto, o sursis
poderá ser concedido ao condenado à pena privativa de liberdade não superior a 4
anos, desde que ele tenha mais de 70 anos de idade (sursis etário) ou por razões de
saúde que justifquem a concessão (sursis humanitário). Além disso, tratando-se de
crimes ambientais, o sursis pode ser concedido ao condenado à pena privativa de
liberdade não superior a 3 anos (art. 16 da Lei n. 9.605/98).

A pena restritiva de direitos e a de multa não admitem sursis.

• Não ser reincidente em crime doloso: o condenado não pode ser reincidente em
crime doloso, salvo se a condenação anterior for à pena de multa. Em outras palavras,
o reincidente em crime doloso que tenha sido condenado à pena de multa pode ser
benefciado pelo sursis.
• Circunstâncias favoráveis: a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias devem autorizar
a concessão do benefício.
• Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 do CP: não pode ser
caso de substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito.
77
• No caso de sursis especial, além dos requisitos anteriores, o condenado deve
reparar o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo.

• PERÍODO DE PROVA
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

O período de prova é o tempo em que o condenado será submetido a certas condições para
que a suspensão da sua pena privativa de liberdade seja considerada válida.

O período de prova será de 2 a 4 anos, salvo nos casos de sursis etário e sursis humanitário,
em que o período de prova será de 4 a 6 anos.

• CONDIÇÕES DO SURSIS

As condições impostas no período de prova são classifcadas em legais, quando expressamente


previstas em lei, e judicias, quando determinadas pelo juiz, devendo-se ressaltar que, em todas as
espécies de sursis, o juiz possui liberdade para fxar as condições que entender necessárias, desde
que sejam razoáveis e proporcionais.

• ESPÉCIES

Vejamos abaixo as espécies possíveis de sursis:

• Sursis simples: é considerado o mais rigoroso, sendo imposto ao condenado que


podia ter reparado o dano causado, mas não o fez. No sursis simples, no primeiro ano
do período de prova o juiz deverá impor como condição obrigatória a prestação de
serviços à comunidade ou limitação de fm de semana.
• Sursis especial: é considerado menos grave porque o condenado reparou o dano
ou não podia repará-lo. Neste caso, o juiz fxará as seguintes condições durante o
período de prova: a) Proibição de se ausentar da comarca sem autorização judicial;
b) Proibição de frequentar determinados lugares; c) Comparecimento mensal à juízo
para comprovar e justifcar atividades.
• Sursis etário: concedido ao condenado maior de 70 anos de idade, desde que a sua
pena privativa de liberdade não seja superior a 4 anos. O período de prova será 4 a 6
anos TEMA COBRADO NO XVI EXAME DA OAB/FGV.
• Sursis humanitário: concedido nos casos em que as condições de saúde do
condenado justifcam a suspensão da pena. Poderá ser benefciado o condenado a
pena não superior a 4 anos e o período de prova será de 4 a 6 anos.

78
SURSIS SURSIS SURSIS SURSIS
SIMPLES ESPECIAL ETÁRIO HUMANITÁRIO

REQUISITOS *Pena Privativa Além dos * Pena * Pena privativa


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

de liberdade requisitos gerais privativa de de liberdade não


não superior a do simples, o liberdade não superior a 4 anos
2 anos; condenado deve superior a
ter reparado 4 anos No mais, deve-
*Não ser o dano, salvo se observar
reincidente em impossibilidade No mais, deve- os mesmos
crime doloso, de fazê-lo se observar requisitos do
salvo pena os mesmos sursis simples
de multa; requisitos do
sursis simples
* Condições
judiciais
favoráveis

* Não ser
possível
conversão em
pena restritiva
de direito

PERÍODO DE De 2 a 4 anos De 2 a 4 anos De 4 a 6 anos De 4 a 6 anos


PROVA

CONDIÇÕES Primeiro ano Primeiro ano Condições que Condições que


do sursis: do sursis: podem ser as podem ser as
Prestação de mesmas do mesmas do
serviços à a) Proibição de sursis simples sursis simples
comunidade ou se ausentar da ou especial, ou especial,
limitação de fm comarca sem dependendo dependendo se
de semana no autorização se o o condenado
primeiro ano judicial; condenado reparou ou não
do período reparou ou o dano
de prova b) Proibição não o dano
de frequentar
determinados
lugares;

c) Comparecimento
mensal à juízo
para comprovar
e justifcar
atividades

• REVOGAÇÃO

A revogação será obrigatória quando, durante o período de prova, o benefciário: I - é condenado,


em sentença irrecorrível, por crime doloso; II - frustra, embora solvente, a execução de pena de
multa ou não efetua, sem motivo justifcado, a reparação do dano; III - descumpre a condição do § 1º
do art. 78 do CP, ou seja, deixar de prestar serviços à comunidade ou limitação de fm de semana no
sursis simples, conforme art. 81, caput, do CP TEMA COBRADO NO XIII EXAME DA OAB/FGV.

Por outro lado, a revogação será facultativa, se o condenado descumpre qualquer outra
condição imposta ou é irrecorrivelmente condenado, por crime culposo ou por contravenção, a
79
pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos (art. 81, § 1º, do CP).

Cumprido o período de prova, sem que tenha havido revogação, considera-se extinta a pena
privativa de liberdade
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• PRORROGAÇÃO DO PERÍODO DE PROVA

Se o benefciário do sursis está sendo processado por outro crime ou contravenção, considera-
se prorrogado o prazo da suspensão até o julgamento defnitivo.

A prorrogação do período de prova é necessária quando o benefciário é processado por outro


crime ou contravenção (art. 81, §2º, do CP). Assim, se o benefciário for apenas indiciado em
inquérito policial, não há que se falar em prorrogação do período de prova TEMA COBRADO
NO VI EXAME DA OAB/FGV.

Além disso, tratando-se de hipótese de revogação facultativa do sursis, o juiz pode, ao invés de
decretá-la, prorrogar o período de prova até o máximo, se este não foi o fxado.

80
14
14.  LIVRAMENTO CONDICIONAL
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Trata-se de um benefício legal concedido na fase de execução da pena, consistente no direito


público subjetivo do agente, que cumpre alguns requisitos objetivos e subjetivos, de ter e sua
liberdade antecipada.

• REQUISITOS (art. 83 do CP)

Os requisitos são divididos em objetivos e subjetivos.

REQUISITOS OBJETIVOS:

• Pena Privativa de liberdade igual ou superior a 2 anos: o livramento condicional é


cabível apenas para pena privativa de liberdade (não cabe para restritiva de direito
nem para multa);

De acordo com o art. 84 do CP, as penas que correspondem a infrações diversas devem somar-
se para efeito do livramento. Assim, se a pessoa for condenada a vários crimes, as somas dos
crimes devem ser somadas para fns de livramento condicional.

• Reparação do dano, salvo motivo justifcado;


• Não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses (acrescida pela Lei
13.964/19).
• Cumprimento de parte da pena, que varia de acordo com os seguintes critérios:

CRIMES
CONDENADO COM HEDIONDOS E
CONDENADO
BONS ANTECEDENTES ASSEMELHADOS
REINCIDENTE EM
E NÃO REINCIDENTE E O CONDENADO
CRIME DOLOSO
EM CRIME DOLOSO NÃO REINCIDENTE
ESPECÍFICO

Cumprimento de 1/3 da pena Cumprimento de 1/2 da pena Cumprimento de 2/3


da pena.

Se o condenado for
reincidente específco,
ou se a vítima morreu
(requisito acrescentado
pelo pacote anticrime),
não terá direito ao
livramento condicional.

81
Se o condenado pela prática de crime hediondo for reincidente em crime hediondo ou
assemelhado (reincidente específco), ou se a vítima morreu, não terá direito ao livramento
condicional.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

É importante destacar que o STJ frmou entendimento (Súmula n. 441) no sentido de que a
prática de falta disciplinar de natureza grave não interrompe o lapso temporal para aferição do
tempo devido ao deferimento de livramento condicional TEMA COBRADO NO XXIII EXAME DA
OAB/FGV.

Registra-se também que a Lei 13.964/19 (pacote anticrime) alterou o art. 83 do CP para deixar
expresso que aquele que cometeu falta disciplinar grave nos últimos 12 meses não terá direito
ao livramento condicional.

REQUISITOS SUBJETIVOS:

• Comportamento carcerário satisfatório;


• Bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído;
• Aptidão para prover a sua subsistência, mediante trabalho honesto;
• Em se tratando de crime doloso praticado com violência ou grave ameaça, é
necessário exame para constatação que não voltará a delinquir.

• CONDIÇÕES (art. 132 da LEP)

Para que o benefciado com o livramento condicional permaneça em liberdade, ele terá de
cumprir determinadas condições durante o tempo restante da pena não cumprida, a saber:

CONDIÇÕES OBRIGATÓRIAS

• Obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho;
• Comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação;
• Não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização deste.

Condições facultativas (poderão ser impostas pelo juiz, entre outras)


• Não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da
observação cautelar e de proteção;
• Recolher-se à habitação em hora fxada;
• Não frequentar determinados lugares.

• REVOGAÇÃO DO LIVRAMENTO

REVOGAÇÃO OBRIGATÓRIA

82
A revogação do livramento condicional será obrigatória se o liberado vier a ser condenado a
pena privativa de liberdade, em sentença: I - irrecorrível por crime cometido durante a vigência do
benefício; II - por crime anterior, observado o disposto no art. 84 deste Código, ou seja, as penas
serão somadas para verifcar se há direito a novo livramento condicional.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Condenado defnitivamente por crime praticado Condenado por crime praticado antes do
durante o período de prova, com pena privativa de livramento condicional, com pena privativa
liberdade de liberdade

O livramento será revogado e o condenado terá O benefício será revogado, mas permite-se
de cumprir integralmente o tempo da pena. Além que o tempo de livramento seja descontado
disso, o condenado terá direito a novo livramento na pena, além do que poderá ser somado
condicional apenas em relação à segunda para fns de novo livramento condicional
condenação, salvo em se tratando de reincidente
específco em crime hediondo, hipótese em que o
livramento não poderá ser concedido TEMA
COBRADO NO XXV EXAME DA OAB/FGV

• “A” foi condenada a 9 anos de reclusão e, após cumprir 3 anos de pena, obteve o livramento
condicional, restando, assim, 6 anos de período de prova. Entretanto, após 3 anos no período
de prova, “A” é condenado a 2 anos de reclusão por crime cometido na vigência do benefício.
Nesse caso, o livramento será revogado e “A” terá de cumprir todo o período de livramento
condicional (6 anos) em reclusão, além da pena pelo segundo crime praticado (2 anos).
Além disso, outro livramento condicional somente será concedido em relação à segunda
condenação, desde que cumprida mais de metade da pena (1 ano), já que “A” é reincidente.
• “A” foi condenada a 9 anos de reclusão e, após cumprir 3 anos de pena, obteve o livramento
condicional, restando, assim, 6 anos de período de prova para cumprir. Entretanto, após 3
anos no período de prova, “A” é condenado a 2 anos de reclusão por crime cometido antes
na vigência do benefício. Nesse caso, o livramento condicional será revogado, mas o tempo
de prova cumprido (3 anos) será computado. Assim, “A” terá de cumprir o tempo restante
do livramento revogado (3 anos), além da pena pelo segundo crime praticado (2 anos). Além
disso, as penas poderão ser somadas para fns de novo livramento condicional, que poderá
ser concedido após 2 anos e meio (metade da pena total de 5 anos), já que “A” é reincidente.

REVOGAÇÃO FACULTATIVA

A revogação do livramento condicional será facultativa, se o liberado deixar de cumprir


qualquer das obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime
ou contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade.

• O legislador não tratou especifcamente sobre a hipótese de condenação a contravenção


penal a pena de prisão simples. Neste caso, será caso de revogação facultativa por falta de
previsão legal.
• Ao contrário do sursis, em que o principal critério para diferenciar a revogação facultativa
ou obrigatória é a condenação pela prática de crime doloso ou culposo, no livramento
condicional o principal critério utilizado é a condenação ou não à pena privativa de liberdade.
83
Aplicando-se o mesmo raciocínio da revogação obrigatória, se a condenação ocorrer por
delito praticado antes do benefício, será descontado o tempo do livramento, ao passo que, se a
condenação se referir a delito cometido na vigência do benefício, não haverá o desconto.

Em qualquer caso de revogação, o juiz deve ouvir o benefciado antes de decidir.


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

RESUMINDO: os efeitos da revogação variam se a situação que ensejou a revogação do benefício


ocorreu antes ou durante o período de livramento condicional.
Isso porque, quando a situação que acarretou a revogação do benefício ocorreu durante o
período de prova, entende-se que o condenado traiu a confança do Estado, motivo pelo qual
as consequências são mais severas, de modo que o tempo cumprido de livramento condicional
não será considerado.

• PRORROGAÇÃO DO PERÍODO DE PROVA (art. 89 do CP)

O período de prova será prorrogado se, ao término do seu prazo, o benefciado estiver sendo
processado por crime cometido durante sua vigência.

Nesse caso, durante a prorrogação, o benefciado não fca sujeito a cumprir as obrigações
impostas para o livramento condicional. No entanto, se houver condenação pela prática do crime,
o livramento será revogado. Por outro lado, caso haja absolvição, a pena será extinta.

• EXTINÇÃO DA PENA (art. 90)

Se até o seu término o livramento não for revogado, considera-se extinta a pena privativa de
liberdade.

Desse modo, se o benefciário sofrer nova condenação no curso de livramento condicional, mas o
período de prova do benefício decorrer sem qualquer decisão revogatória, aplica-se a Súmula nº 617 do
STJ: “A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do término do período de
prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena” TEMA COBRADO NO
XXVIII EXAME DA OAB/FGV

84
15

15.  EFEITOS DA CONDENAÇÃO


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

O principal efeito, efeito primário, da condenação é a aplicação da sanção penal pelo Estado, o
que pode ser feito mediante medida de segurança ou de pena, conforme já estudado.

Além do efeito primário, a condenação penal possui ainda diversos efeitos secundários, que
podem possuir natureza penal ou extrapenal, conforme abaixo esquematizado:

• Principais efeitos secundários de natureza penal: a) reincidência (art. 63 do CP); b) impede, em


regra, o sursis (art. 77, I, do CP) e causa a sua revogação (art. 81, I, e § 1º, do CP); c) causa a
revogação do livramento condicional (art. 86 do CP); d) aumenta o prazo da prescrição da pretensão
executória (art. 110, caput, do CP) e e) causa a revogação da reabilitação (art. 95 do CP).

Já em relação aos efeitos de natureza extrapenal, eles podem ser genéricos ou específcos:

• Efeitos extrapenais genéricos (art. 91 do CP): I) Tornar certa a obrigação de indenizar o


dano causado pelo crime (art. 91, I, CP) e II) Confsco dos instrumentos e produtos do crime
(art. 91, II, do CP).

• Efeitos extrapenais específcos (art. 92 do CP): I) Perda de cargo, função pública ou mandato
eletivo (art. 92, I, do CP), exigindo-se, para tanto, que, nos crimes praticados com abuso de
poder ou violação do dever para com a Administração Pública, a pena aplicada seja igual ou
superior a 1 ano e, nos demais casos, a pena seja superior a 4 anos; II) Incapacidade para
o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena
de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar, contra
flho, flha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado(art. 90, II, do CP); e III)
inabilitação para dirigir veículo (art. 90, III, do CP), quando utilizado como meio para a prática
de crime doloso.

Os efeitos extrapenais específcos não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados
na sentença (art. 92, parágrafo único, do CP).

A Lei nº 13.715/2018 alterou a redação do inciso II do art. 92 do Código Penal, estabelecendo


que o crime doloso, sujeito à reclusão, contra pessoa igualmente titular do poder familiar
também é causa de incapacidade para o exercício do poder familiar. Assim, se Paulo, casado
com Ana e com dois flhos, praticar homicídio contra sua esposa, poderá perder o poder familiar
em relação a seus flhos.

85
Importante destacar que a Lei 13.964/19 acresecentou o art. 91-A ao CP, passando a prever
um novo efeito extrapenal para os crimes com pena máxima superior a 6 anos, como forma de
tentar combater a corrupção. Vehamos:

“Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos
bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja
compatível com o seu rendimento lícito.

§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do condenado
todos os bens:

I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou indireto,
na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e

II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do


início da atividade criminal.

§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita


do patrimônio.

§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público,
por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada.

§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e especifcar os


bens cuja perda for decretada.

§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias


deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde
tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a
ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes.”

O efeito extrapenal previsto é a perda dos bens do condenado incompatíveis com os valores
de seus rendimentos, mesmo que esses bens não estejam diretamente relacionados com a prática
do crime.

Mário é Funcionário Público há 5 anos, sem patrimônio anterior, e foi condenado


pelo crime de corrupção ativa (art. 333 do CP – pena máxima de 12 anos), tendo
renda mensal de R$ 10.000 (dez mil reais), mas um patrimônio de R$ 5.000.000 (cinco
milhões de reais). Nesse caso, além dos valores relacionados diretamente com o
crime praticado, Mário poderá perder todo o patrimônio que não é compatível com os
seus vencimentos. Assim, se após analisar os vencimentos de Mário, fcar apurado
que o seu patrimônio máximo poderia ser no máxio de R$ 500.000 (quinhentos mil
reais), Mário poderá perder todo o patrimônio incompatível (R$ 4.500.000).

É importante frisar que, de acordo com o § 1º do art. 91-A do CP, a perda poderá ocorrer
também em relação aos bens que não estão em nome do condenado, mas sob seu domínio direto
ou indireto, como nas hipóteses de bens em nome de laranjas, ou ainda quando transferidos
gratuitamente ou por valores irrisórios.

Já o §3º do art. 91-A do CP dispõe que a perda dos bens deve ser requerida expressamente na
denúncia pelo Ministério Público (não pode ser de ofício pelo juiz) e o § 2º estabelece que o réu terá
oportunidade de demonstrar a inexistência de incompatibilidade ou ilicitude do seu patrimônio.
86
16

16.  REABILITAÇÃO
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Reabilitação é o instituto declaratório que garante ao condenado o sigilo dos registros sobre
o seu processo, condenação e pena, bem como a suspensão de alguns efeitos extrapenais
específcos, previstos no art. 92 do CP, a saber: perda de cargo, função pública ou mandato eletivo
(art. 92, I, do CP), e incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela (art. 92, II, do
CP) e inabilitação para dirigir (art. 92, III, do CP).

A reabilitação é uma ação proposta no juízo do conhecimento onde houve a condenação e


contra o seu indeferimento cabe apelação. Contra a decisão que defere a reabilitação cabe
apelação e recurso de ofício.

Cabe registrar que, com relação ao sigilo dos registros, há entendimento no sentido de que esse
efeito da reabilitação perdeu o sentido, uma vez que a Lei de Execução Penal já garante o mesmo
sigilo, de forma automática, com o simples cumprimento ou extinção da pena (art. 202 da LEP).

Já em relação ao segundo efeito, qual seja, a suspensão dos efeitos extrapenais específcos, é
importante destacar que a reabilitação, nos casos dos incisos I e II do art. 92 do CP, não reintegra o
condenado à situação anterior, permitindo apenas o exercício do direito em relação a situações futuras.

Desse modo, o condenado à perda do cargo público ou ao exercício do poder familiar, por exemplo,
não voltará ao cargo anterior nem terá restituído o poder familiar em relação ao flho que foi vítima
do crime, podendo apenas ter direito a ocupar novo cargo público, a partir de nova aprovação em
concurso, ou a exercer o poder familiar no que tange ao flho que não fora vítima do crime.

Para que a reabilitação seja deferida, o condenado deve cumprir os seguintes requisitos:

• Decurso de 2 anos a partir do cumprimento da pena ou da extinção da punibilidade


por qualquer outra forma, sendo que o tempo do período de prova dos sursis e do
livramento condicional, sem revogação, devem ser computados para este fm.
• Domicílio no Brasil durante este período de 2 anos.
• Bom comportamento público e privado.
• Reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo ou inexigência.

Importante destacar ainda que, conforme dispõe o art. 95 do CP, a reabilitação será revogada,
de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o reabilitado for condenado, como reincidente,
por sentença transitada em julgado, salvo se a pena imposta for pena de multa.
Com a revogação, os efeitos extrapenais que estavam suspensos voltam a incidir.

A reabilitação não se confunde com a reincidência, nem a extingue, haja vista que os seus
efeitos desaparecem apenas decorridos 5 anos do cumprimento da pena. Desse modo, mesmo
que a reabilitação seja concedida, o condenado será considerado reincidente até que o período
de 5 anos seja cumprido. 87
17

17.  EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Conforme previsto no art. 107 do CP, são causas extintivas da punibilidade:

• Morte do agente;
• Anistia, graça ou indulto;
• Retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
• Prescrição, decadência ou perempção;
• Renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;
• Retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;
• Perdão judicial, nos casos previstos em lei.

17.1.  MORTE DO AGENTE

De acordo com o art. 5º, XLV, da CF/88, a pena criminal obedece ao princípio da intransmissibilidade
(ou pessoalidade ou personalidade), já que não pode passar da pessoa do condenado, permitindo-
se apenas a extensão dos efeitos extrapenais na esfera civil referente à reparação do dano e ao
perdimento de bens, sempre na medida do patrimônio herdado.

Desse modo, como a pena não pode passar da pessoa do condenado, havendo a morte do
agente, sua punibilidade será extinta. Entretanto, para que a morte seja declarada, o juiz deverá
se basear em certidão de óbito e ouvir previamente o Ministério Público (art. 62 do CP).

O único documento hábil a declarar a morte do agente é a certidão de óbito, não podendo a
decisão judicial se basear em outros documentos, como corpo de delito, guia de sepultamento,
etc. Além disso, a morte somente será decretada após a oitiva do Ministério Público.

17.2.  ANISTIA, GRAÇA E INDULTO

São as formas de clemência soberana e extinguem a punibilidade do agente, salvo no caso dos
crimes hediondos e assemelhados, em que não podem ser concedidas.

• Anistia: representa o esquecimento jurídico de determinada infração penal mediante


lei específca. Refere-se apenas a fatos, não interferindo na previsão genérica do tipo
penal. É de competência do Congresso Nacional TEMA COBRADO NO VIII EXAME
DA OAB/FGV.
• Indulto: é um ato espontâneo dado a um grupo de pessoas, mediante decreto
88
do Presidente da República, que pode delegar esse poder ao Ministro de Estado,
Advogado Geral da União e Procurador Geral da República.
• Graça: trata-se de medida de caráter individual, por isso também denominada
de indulto individual, concedida por decreto do Presidente da República, que pode
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

delegar esse poder ao Ministro de Estado, Advogado Geral da União e Procurador


Geral da República.

Conforme mencionado anteriormente, não é possível indulto, graça ou anistia nos crimes
hediondos, tortura, tráfco ilícito de entorpecentes e drogas afns e terrorismo (art. 5º,
XLIII, da CF/88).

17.3.  “ABOLITIO CRIMINIS”

Conforme previsto no art. 2º do CP, ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

Sendo assim, lei posterior que deixa de prever o fato como típico deve retroagir, benefciando
o réu e extinguindo a sua punibilidade.

17.4.  DECADÊNCIA

A decadência representa a perda do direito de representação (ação penal pública condicionada)


ou queixa (ação penal privada) pelo decurso do tempo, em regra 6 meses, sem o seu exercício.

Aplica-se, portanto, somente aos crimes de ação penal privada e ação penal pública
condicionada à representação, não incidindo nos crimes de ação penal pública incondicionada.

Por fm, importante lembrar que o prazo decadencial não se interrompe nem se suspende.

17.5.  PEREMPÇÃO

A perempção é uma sanção processual aplicada ao querelante inerte, que tem como
consequência a extinção da punibilidade do agente, nos casos previstos no art. 60 do CPP: I
– quando o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo,
para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a
quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36 do CPP, III - quando o querelante deixar
de comparecer, sem motivo justifcado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou
deixar de formular o pedido de condenação nas alegações fnais; IV - quando, sendo o querelante
pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor TEMA COBRADO NO XXIX EXAME DA
OAB/FGV.

A perempção é causa de extinção da punibilidade exclusiva da ação penal privada. No caso de


perempção na ação penal privada subsidiária da pública (art. 60 do CPP), não haverá extinção da
punibilidade, já que o Ministério Público deverá assumir da titularidade da ação.
89
17.6.  RENÚNCIA

A renúncia representa o ato unilateral de vontade do ofendido de não ingressar com ação
penal privada, podendo ser expressa ou tácita.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

De acordo com o parágrafo único do art. 104 do CP, importa renúncia tácita ao direito de queixa
a prática de ato incompatível com a vontade de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber
o ofendido a indenização do dano causado pelo crime.

A renúncia aplica-se apenas à ação penal privada, salvo no caso do Juizado Especial Criminal,
em que o acordo homologado da composição dos danos civis acarreta a renúncia ao direito de
queixa ou representação (art. 74 da Lei n. 9.099/95).

17.7.  PERDÃO ACEITO

O perdão é um ato bilateral, isto é, depende de aceitação do querelado e ocorre após iniciada a
ação penal privada e antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, podendo ser expresso
ou tácito e ocorrer dentro ou fora do processo, conforme art. 106 do CP, cuja leitura é importante
para a prova da OAB TEMA COBRADO NO XXX EXAME DA OAB/FGV:

Art. 106 do CP - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito:

I - se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita;

II - se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos outros;

III - se o querelado o recusa, não produz efeito.

§ 1º - Perdão tácito é o que resulta da prática de ato incompatível com a vontade de


prosseguir na ação.

§ 2º - Não é admissível o perdão depois que passa em julgado a sentença condenatória.

17.8.  RETRATAÇÃO

A retratação signifca a retirada daquilo que foi dito. Signifca desdizer-se e, no campo moral,
representa uma grande reparação ao ofendido.

A retratação será considerada causa extintiva da punibilidade quando a lei expressamente


admitir, como nos casos dos crimes de calúnia e difamação e no crime de falso testemunho ou
falsa perícia.

17.9.  PERDÃO JUDICIAL

O perdão judicial é causa extintiva da punibilidade e ocorre quando, apesar de comprovada a prática
da infração penal culposa pelo agente, o juiz deixa de aplicar a pena para evitar um mal injusto ao agente.
90
“A”, por descuido, acaba esquecendo o seu flho recém-nascido dentro do carro em dia de
intenso calor e, em razão disso, o flho falece. Se o juiz condenar “A” por homicídio culposo,
poderá aplicar o perdão judicial, uma vez que a própria prática do crime já serviu de pena para
o agente que, evidentemente, não queria ter matado o seu próprio flho.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Destaca-se que o juiz somente poderá aplicar o perdão judicial nas hipóteses expressamente
previstas em lei, como no homicídio culposo (art. 121, § 5º); na lesão corporal culposa (art. 129, §
8º) e na receptação culposa (art. 180, § 3º). Além disso, o perdão judicial não gera efeitos para fns
de reincidência, de modo que, se no exemplo dado acima, “A” praticar posteriormente outro crime,
não será considerado reincidente.

Embora haja divergência sobre a natureza jurídica da sentença que concede o perdão judicial,
o STJ sedimentou posicionamento no sentido de que se trata de sentença declaratória da extinção
da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório (Súmula n. 18 do STJ).

17.10.  PRESCRIÇÃO

Prescrição representa um limite temporal ao poder de punir do Estado, ou seja, signifca a


perda do direito de o Estado punir (prescrição da pretensão punitiva – PPP) ou executar punição
imposta (prescrição da pretensão executória – PPE), em razão do decurso do tempo.

A prescrição é uma garantia do cidadão para evitar o abuso do Estado, mas a própria Constituição
Federal, em seu art. 5, XLII e XLIV, prevê dois crimes imprescritíveis:

• Racismo; TEMA COBRADO NO XXVIII EXAME DA OAB/FGV.


• As ações de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o
estado democrático.

A tortura aparece como crime imprescritível em alguns tratados internacionais ratifcados pelo
Brasil, como no caso do Estatuto de Roma, mas não há jurisprudência consolidada reconhecendo
a imprescritibilidade da tortura na seara penal. Na seara civil, entretanto, o STJ já reconheceu
a imprescritibilidade da tortura.

Para o direito penal, existem duas espécies de prescrição, que são classifcadas de acordo com
o critério do trânsito em julgado da decisão:

• Prescrição da pretensão punitiva (PPP), que ocorre antes do trânsito em julgado e


impede qualquer efeito de eventual condenação (efeitos penais e extrapenais);
• Prescrição da pretensão executória (PPE), que ocorre após o trânsito em julgado e
impede apenas a execução da pena.

91
Prescrição da Pretensão Punitiva (PPP). Prescrição da Pretensão Executória (PPE)

TRÂNSITO EM
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

JULGADO

A prescrição da pretensão punitiva, por sua vez, é subdividida em 4 (quatro) subespécies: a)


prescrição da pretensão punitiva em abstrato (PPPA), pretensão da prescrição punitiva retroativa
(PPPR), prescrição da pretensão punitiva superveniente (PPPS) e prescrição da pretensão punitiva
virtual (PPPV).

17.10.1.  PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA

• PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA EM ABSTRATO (PPPA) OU PROPRIAMENTE DITA

Na PPPA, como ainda não se sabe qual será a pena imposta na sentença, o Estado adotou o
critério da pior hipótese possível, qual seja, a pena máxima imposta em abstrato para o crime,
conjugada com as regras estabelecidas no art. 109 do CP:

PENA MÁXIMA PREVISTA EM PRAZO DA PPP


ABSTRATO PARA O CRIME

Superior a 12 anos 20 anos

Superior a 8 anos e não excedente a 12 anos 16 anos

Superior a 4 anos e não excedente a 8 anos 12 anos

Superior a 2 anos e não excedente a 4 anos 8 anos

Igual ou superior a 1 ano, mas não 4 anos


excedente a 2 anos

Inferior a 1 ano 3 anos

No que diz respeito aos crimes do art. 28 da Lei de Drogas (lei n. 11343/2006), o prazo
prescricional será de 2 anos, não se aplicando a tabela do art. 109 do CP.

Na busca pela pena máxima em abstrato do crime, deve-se levar em consideração as qualifcadoras
e as causas de aumento e de diminuição da pena, sendo que, na hipótese de causa de diminuição ou
aumento variáveis (ex: de 1/3 a 2/3), utiliza-se sempre o maior aumento e a menor diminuição.
92
• Crime de roubo (pena máxima de 3 a 10 anos) cometido com emprego de arma de fogo (causa
de aumento de 1/3 a 1/2). A pena máxima será 10 anos acrescida da maior causa de aumento
(1/2), logo, será de 15 anos. Com base na tabela do art. 109 do CP, a PPPA será de 20 anos.
• No exemplo acima, se houvesse tentativa de roubo com arma de fogo (pena máxima de 15
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

anos), a causa de diminuição da tentativa varia de 1/3 a 2/3. Aplica-se, portanto, a fração que
menos diminui (1/3), que equivale a 5 anos, chegando-se à pena máxima de 10 anos. Com
base na tabela do art. 109 do CP, a PPPA será de 16 anos.

Além disso, como regra geral, as agravantes e atenuantes não são levadas em consideração, salvo
a atenuante da menoridade e da senilidade, que sempre reduzem o prazo prescricional pela metade.

A atenuante incide sobre a PPPA já calculada. Assim, no exemplo do crime de roubo cometido
com arma de fogo, em que a PPPA será de 20 anos, se o agente era menor de 21 anos na data
do crime, a PPPA passará a ser de 10 anos.

Já as circunstâncias judiciais e o concurso de crimes nunca serão levados em consideração


para o cálculo da pena máxima.

Resumindo:

ENTRA NO CÁLCULO DA NÃO ENTRA NO CÁLCULO DA


PENA MÁXIMA PENA MÁXIMA

• Qualifcadoras • Agravantes e Atenuantes (salvo as


atenuantes da menoridade e senilidade)
• Causas de aumento e de diminuição,
prevalecendo a fração que mais aumenta e a • Circunstâncias judiciais
que menos diminui.
• Concurso de crimes
• Atenuantes da menoridade e
da senilidade

Como regra geral, o termo inicial da PPA começa a correr do dia em que o crime se consumou
(teoria do resultado)3. Entretanto, pode variar nas seguintes situações (art. 111 do CP):

• No caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa;


• Nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;
• Nos crimes de bigamia e nos de falsifcação ou alteração de assentamento do
registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido

3 O crime se considerada praticado no momento da conduta (teoria da atividade), mas a prescrição


se inicia com a consumação (teoria do resultado).

93
• Nos crimes contra a dignidade sexual ou que envolvam violência contra a criança
e o adolescente, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a
vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a
ação penal ( Osb: o inciso V do art. 111 foi alterado pela Lei 14.344/2022 para incluir
os crimes que envolvam violência contra a criança e o adolescente)
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Digno de nota que há situações que suspendem ou interrompem o prazo prescricional. No caso
de suspensão, cessada a hipótese suspensiva, o prazo retoma o seu curso normalmente. Já na
hipótese de interrupção, o prazo prescricional começa a correr do zero, ou seja, inicia-se novo prazo.

CAUSAS SUSPENSIVAS CAUSAS INTERRUPTIVAS


DA PPPA DA PPPA

• Enquanto não resolvida, em outro processo, • Recebimento da denúncia ou da queixa


questão de que dependa o reconhecimento da
existência do crime (art. 116, I, do CP) • Pronúncia
• Enquanto o agente cumpre pena no • Decisão confrmatória da pronúncia;
estrangeiro (art. 116, II, do CP)
• Publicação da sentença ou acórdão
• Réu citado por edital que não comparece condenatórios recorríveis
nem constitui advogado (art. 366 do CP)

• na pendência de embargos de declaração ou


de recursos aos Tribunais Superiores, quando
inadmissíveis; e (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)

• enquanto não cumprido ou não rescindido o


acordo de não persecução penal. (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)

CAUSAS INTERRUPTIVAS:

TRIBUNAL DO JÚRI

PPPA PPPA PPPA PPPA PPPA

RECEBIMENTO PRONÚNCIA DECISÃO SENTENÇA TRÂNSITO EM


DA INICIAL CONFIRMATÓRIA JULGADO
DA PRONÚNCIA

PROCEDIMENTO COMUM

PPPA PPPA PPPA

RECEBIMENTO SENTENÇA TRÂNSITO EM 94


DA INICIAL OU ACÓRDÃO JULGADO
CONDENATÓRIO
Assim, para cada situação de interrupção haverá o decurso de novo prazo da PPPA, conforme
demonstrado nos gráfcos acima.

Ressalta-se ainda que, com a PPPA, eventual sentença penal provisória será rescindida, o
acusado não será responsabilizado pelas custas do processo e terá direito à restituição integral de
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

eventual fança paga.

• PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA RETROATIVA (PPPR)

A PPPR passa a levar em consideração a pena fxada em sentença quando houver trânsito em
julgado para a acusação, já que, como não é possível aumentar a pena em caso recurso exclusivo da
defesa (non reformatio in pejus), sabe-se que a pena prevista na sentença não poderá mais ser elevada.

Art. 110 do CP

(...)

§ 1º A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para


a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não
podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou
queixa TEMA COBRADO NO II EXAME DA OAB/FGV.

Chama-se retroativa porque, na verdade, é um novo cálculo da prescrição para trás, mas,
desta vez, levando-se em conta a pena fxada na decisão irrecorrível para a acusação, segundo os
critérios do art. 109 do CP. A PPPR será analisada retroativamente da sentença com trânsito em
julgado para a acusação e terá como termo inicial a denúncia ou queixa.

“A” comete crime de roubo com emprego de arma de fogo (pena máxima de 15 anos, com PPPA
de 20 anos), sendo condenado à pena de 6 anos em sentença irrecorrível para a acusação. Nesse
caso, a PPR será de 12 anos, conforme art. 109 do CP. Assim, se entre a denúncia e a sentença
transcorreu período superior a 12 anos, haverá prescrição da pretensão punitiva retroativa.

Os efeitos da PPPR serão os mesmos da PPPA, ou seja, eventual sentença penal provisória
será rescindida, o acusado não será responsabilizado pelas custas do processo e terá direito à
restituição integral de eventual fança paga.

• PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA SUPERVENIENTE (OU INTERCORRENTE)

A prescrição da pretensão punitiva superveniente (PPPS), assim como a prescrição retroativa


(PPPR), possui como base a pena concreta, mas, ao invés de ser contada “para trás”, será contada
“para frente” TEMA COBRADO NO VI EXAME DA OAB/FGV.

A PPPS verifca-se da publicação da sentença ou acórdão condenatórios irrecorrível para a


acusação “para frente”, até o trânsito em julgado da decisão para a defesa.

Assim, ao mesmo tempo que o trânsito em julgado para a acusação gera a PPPR “para trás”, incide
95
ainda a PPPS para frente, que vai reger o prazo máximo para a apreciação dos recursos da defesa

O prazo da PPPS, portanto, é o mesmo da PPPR, aplicando-o, entretanto, “para a frente”.


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

“A” comete crime de roubo com emprego de arma de fogo (pena máxima de 15 anos, com PPPA
de 20 anos) e é condenado à pena de 3 anos, sendo que apenas a defesa recorre da decisão.
Nesse caso, a PPPS será de 8 anos (mesmo prazo da PPPR), ou seja, o Estado terá o prazo de
8 anos para julgar todos os recursos da defesa, sob pena de prescrição.

• PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA VIRTUAL (HIPOTÉTICA, IDEAL OU ANTECIPADA)

A prescrição da pretensão punitiva virtual (PPPV) não possui previsão legal, tendo sido criada
pela doutrina e pela jurisprudência.

Representa uma antecipação do cálculo da prescrição retroativa (PPPR) antes mesmo da


condenação do réu, de modo que o juiz, analisando o tempo já transcorrido no processo e as
circunstâncias que seriam levadas em conta para graduar a pena no caso de condenação, já
consegue perceber que haverá a incidência da prescrição retroativa, de modo que, por economia
processual, poderia extinguir a punibilidade do agente.

A prescrição virtual, entretanto, não é aceita pelos Tribunais Superiores, conforme previsto na
Súmula n. 438 do STJ:

Súmula 438 do STJ: É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da


pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da
existência ou sorte do processo penal.

17.10.2.  PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA

Prevista no art. 110, caput, do CP, tem como pressuposto o trânsito em julgado da decisão para
as duas partes e o transcurso do seu prazo implica na perda do direito de o Estado executar a pena
imposta. A PPPE leva em conta a pena imposta na decisão defnitiva, aplicando-se a tabela do art.
109 do CP, aumentando-se ainda o prazo em 1/3, em caso de reincidência TEMA COBRADO NO
XV EXAME DA OAB/FGV.

Além disso, o prazo prescricional será reduzido pela metade quando o criminoso era, ao tempo
do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos (art.
115 do CP).

Conforme previsto no art. 112 do CP, a PPPE começa a correr: I - do dia em que transita em
julgado a sentença condenatória para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da
pena ou o livramento condicional; II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o
tempo da interrupção deva computar-se na pena.

96
O art. 113 do CP estabelece que, no caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento
condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da pena.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

“A” é condenado pela prática do crime de roubo a 4 anos de reclusão, tendo a decisão transitado
em julgado. A PPPE será de 8 anos (art. 109 do CP), já que “A” não era reincidente. Se depois
de 2 anos e 6 meses cumprindo a pena, “A” conseguir fugir, a PPPE será regulada pelo tempo
restante da pena, qual seja, 1 ano e 6 meses. Aplicando-se novamente a regra do art. 109 do CP
ao tempo restante da pena, conclui-se que a PPPE será de 4 anos, ou seja, o Estado terá 4 anos
para recapturar “A”, sob pena de prescrição da pretensão executória.

São causas que interrompem o prazo da PPPE: o início ou continuação do cumprimento da


pena e a reincidência.

• Se à época da decisão defnitiva o condenado já é reincidente, haverá o aumento do prazo


prescricional em 1/3. No entanto, caso a reincidência seja verifcada no curso da PPPE, esta
será interrompida.
• A fuga do condenado não “zera” a PPPE, devendo esta ser regulada pelo tempo que
resta da pena, isto é, o tempo restante será novamente enquadrado no art. 109 do CP. Se o
condenado for recapturado, o novo prazo da PPPE será interrompido, ou seja, volta a correr
do “zero”.

No que tange aos efeitos, diferentemente do que ocorre na prescrição da pretensão punitiva
(PPP), na PPPE não há rescisão da sentença condenatória, permanecendo todos os efeitos penais
e extrapenais da condenação.

17.10.3.  PRESCRIÇÃO DA PENA DE MULTA

Conforme previsto no art. 114 do CP, a prescrição da pena de multa obedece às seguintes regras:
• Prescreve em 2 (dois) anos, quando a multa for a única pena cominada ou aplicada;
• Prescreve no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa
de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou
cumulativamente aplicada.

97
18

PARTE ESPECIAL
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

18.  CRIMES CONTRA A PESSOA

18.1.  CRIMES CONTRA A VIDA

18.1.1.  HOMICÍDIO

• Descrição do Tipo (art. 121 do CP): matar alguém. Pena: reclusão 6 a 20 anos.
• Bem jurídico tutelado: vida humana extrauterina, já que a eliminação da vida
uterina é considerada aborto. Importante destacar que o direito à vida não é absoluto,
havendo situações que a morte de outrem não será punida, como nos casos de pena
de morte por crime militar em caso de guerra declarada, e de homicídio praticado em
legítima defesa ou estado de necessidade.
• Sujeitos: a) ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) passivo: qualquer pessoa
nascida com vida.
• Homicídio privilegiado (§ 1º do art. 121): se o agente comete o crime impelido
por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção
(homicídio emocional), logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode
reduzir a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço). O privilégio, portanto, foi elevado
a status de causa de diminuição (terceira fase do sistema trifásico), permitindo que a
pena fque abaixo do limite em abstrato. Importante lembrar ainda que o privilégio não
se comunica aos coautores e partícipes do crime.

O homicídio privilegiado em razão de violenta emoção não se confunde com a atenuante


prevista no art. 65, III, “c” do CP, já que no primeiro exige-se o domínio da violenta emoção e a
ação do agente tem de ser imediata, enquanto que na atenuante genérica basta a infuência da
emoção, além do que não há previsão requisito temporal.

• Homicídio qualifcado (§ 2º do art. 121): considerado crime hediondo, é apenado


com pena de reclusão de 12 a 30 anos e ocorre quando o homicídio é praticado: I -
mediante paga ou promessa de recompensa (homicídio mercenário ou assassínio), ou
por outro motivo torpe; II - por motivo fútil (motivo insignifcante e desproporcional
em relação à conduta adotada); III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfxia,
tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV -
à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que difculte ou
torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a
impunidade ou vantagem de outro crime; VI - contra a mulher por razões da condição
de sexo feminino (Feminicídio); VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts.
142 e 144 da Constituição Federal (autoridades das forças armadas e da segurança
pública), integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública,
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
98
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, VIII - com emprego
de arma de fogo de uso restrito ou proibido, IX - contra menor de 14 (quatorze) anos

O feminicídio (inciso V) ocorre quando envolver: I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

ou discriminação à condição de mulher. O inciso VIII, por sua vez, foi acrescentado em razão
da derrubada de veto do Pacote Anticrirme e o inciso IX foi acrescentado pela Lei Henry Borel.

HOMICÍDIO QUALIFICADO PRIVILEGIADO: é possível aplicar o privilégio previsto no § 1º do art.


121 do CP ao homicídio qualifcado? Prevalece o entendimento que as hipóteses de privilégio,
por possuírem natureza subjetiva, são incompatíveis com as qualifcadoras de natureza
subjetiva (121, §2°, I, II e V). Entretanto, nada impede aplicação do privilégio com qualifcadora
de natureza objetiva (art. 121, §2°, III e IV). Salienta-se ainda que prevalece o entendimento que
o homicídio qualifcado privilegiado não é considerado crime hediondo.

• Causas de aumento da pena no homicídio doloso:

1. Aumenta-se de 1/3 a pena se o homicídio praticado contra pessoa menor de


14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.

2. A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado
por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por
grupo de extermínio

3. A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime


for praticado: : I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta), com
defciência, ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição
limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; III - na presença física ou
virtual de descendente ou de ascendente da vítima e IV – em descumprimento
das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do
art. 22 da Lei nº 11.340/2006.

4. A Lei n. 14.344 (Lei Henry Borel) acrescentou o § 2º-B ao art. 121, passando a
prever que a pena será aumentada de um terço à metade se a vítima for pessoa
com defciência ou tiver doença que implique o aumento de sua vulnerabilidade,
bem como haverá aumento da pena de 2/3 se o crime for cometido por
ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor,
curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outra pessoa que
tiver autoridade sobre ela.

• Homicídio culposo: com pena de 1 a 3 anos, ocorre quando o agente atua com
negligência, imprudência ou imperícia, devendo-se destacar que o crime culposo
praticado com veículo automotor não é tratado pelo código penal e sim pelo Código de
Trânsito (art. 302 do CTB).
• Causas de aumento do homicídio culposo: a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se
99
1. O crime resulta de inobservância de regra técnica de profssão, arte ou ofício

Na imperícia o agente não possui conhecimento da técnica da profssão. Na causa de aumento,


ele tem conhecimento da técnica, mas não a utiliza.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

2. O agente deixa de prestar imediato socorro à vítima

3. O agente não procura diminuir as consequências do seu ato

4. O agente foge para evitar prisão em fagrante.

• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a morte do agente (crime


material) que, de acordo com o art. 3º da Lei n. 9434/97, ocorre com a morte encefálica.
A tentativa é plenamente possível.
• Perdão judicial: na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a
pena (extinção da punibilidade), se as consequências da infração atingirem o próprio
agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Apesar não
haver disposição expressa, entende-se que o perdão judicial também pode ser aplicado
no caso de homicídio culposo do código de trânsito.

18.1.2.  INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO OU A


AUTOMUTILAÇÃO (ART. 122 DO CP)

• Descrição do Tipo (art. 122): Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar


automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: Pena - reclusão, de 6
(seis) meses a 2 (dois) anos.

Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave


ou gravíssima: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte:Pena - reclusão, de 2


(dois) a 6 (seis) anos.
• Induzir: criar, fazer nascer, a vontade na vítima.
• Instigar: reforçar a ideia já existente na vítima.
• Prestar auxílio: ajudar materialmente a vítima a praticar o crime.

Com a Lei n. 13.968/2019, o crime do art. 122 passou a ser formal, já que o mero induzimento,
instigação ou auxílio ao suicídio ou automutilação já carcateriza o crime.

• Tipo Subjetivo: não se admite a modalidade culposa.


• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum),
admitindo-se a coautoria e a participação, b) sujeito passivo: também pode ser
100
qualquer pessoa, desde que determinada e que tenha capacidade de resistência
TEMA COBRADO NO XXIX EXAME DA OAB/FGV .
• Consumação e tentativa: a consumação do crime ocorre com o induzimento,
instigação ou auxílio ao suicídio ou automutilação, sendo possível a tentativa.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Antes da Lei n. 13.968/19, para a consumação do crime do art. 122, exigia-se que a vítima
morresse ou sofresse no mínimo lesão grave TEMA COBRADO NO XIII EXAME DA
• ocorre
OAB/FGV coma amudança
. Com morte ou lesão grave
legislativa, dainstigação,
a mera vítima. Não se admite
induzimento outentativa.
auxílio ao suicídio ou
automutilação já consuma o crime (crime formal). Além disso, se da tentativa da automutilação
ou do suicídio resulta lesão grave à vítima, a pena será de 1 a 3 anos, e se resultar morte, a
pena será de 2 a 6 anos.

• Causas de aumento de pena: a) duplicada se o crime é praticado por motivo egoístico,


torpe ou fútil, b) aumentada em até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede
de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real e c) aumentada em
metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual.
• Trata-se de crime doloso contra a vida será julgado pelo Tribunal do Júri.

A Lei n. 13.968/19 acrescentou os parágrafos 6º e 7º ao art. 122, estabelecendo que, se o crime


for praticado contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou defciência
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra
causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de homicídio (art. 121), se
resultar morte, ou de lesão corporal (art. 129 do CP).

PACTO DE MORTE: conhecido também como ambicídio, ocorre quando duas ou mais pessoas
frmam um pacto para morrerem ao mesmo tempo, mediante suicídio, como no exemplo clássico
do casal de namorados que se tranca em ambiente hermeticamente fechado e abrem o registro de
gás. Nesse caso, a responsabilidade de cada envolvido fcará caracterizada pelos atos praticados
por cada um, ou seja, quem abre a torneira de gás responde por homicídio tentado ou consumado
e quem não abre a torneira responde por participação em suicídio TEMA COBRADO NO X
EXAME DA OAB/FGV.

18.1.3.  INFANTICÍDIO

• Descrição do Tipo (art. 123 do CP): matar, sob a infuência do estado puerperal, o
próprio flho, durante o parto ou logo após. Pena - detenção, de dois a seis ano.
• Estado puerperal: representa o conjunto de alterações físicas e psicológicas sofridas
pela mulher em razão do parto. Trata-se de elementar do crime e se comunica aos
demais participantes na forma dos artigos 29 e 30 do CP, ou seja, o coautor e o partícipe
também responderão por infanticídio.

Não basta a existência do estado puerperal, é necessário que o crime seja praticado sob a
infuência dele.

101
• Tipo Subjetivo: não se admite a modalidade culposa
• Sujeitos: a) sujeito ativo: apenas a mãe pode praticar infanticídio (crime próprio), b)
sujeito passivo: apenas o flho que está nascendo ou acabou de nascer.
• Consumação e tentativa: considera-se o crime consumado com a morte do nascente
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

ou do neonato. Admite-se a tentativa.


• Trata-se de crime doloso contra a vida que será julgado pelo Tribunal do Júri.

• O Sujeito passivo do crime é o flho que está nascendo ou acabou de nascer. Se a mãe
mata flho de outra pessoa ou seu próprio flho adolescente, deverá responder por homicídio,
podendo, entretanto, incidir a causa de diminuição de pena prevista no parágrafo único do
art. 26 do CP.
• Se a mãe, sob infuência do estado puerperal, mata flho de outra pessoa achando ser seu,
responderá por infanticídio (infanticídio putativo). TEMA COBRADO NOS EXAMES II,
XVI E XXX DA OAB/FGV.
• Não existe infanticídio culposo. Sendo assim, se a mãe, culposamente e sob a infuência do
estado puerperal, matar seu flho recém-nascido, deverá responder por homicídio culposo,
mas existe doutrina que entende que o fato é atípico, já que não se pode exigir diligência de
uma mulher em estado puerperal

18.1.4.  ABORTO

18.1.4.1.  ABORTO PROVOCADO PELA GESTANTE OU COM SEU CONSENTIMENTO

• Descrição do Tipo (art. 124 do CP): provocar aborto em si mesma ou consentir que
outrem lhe provoque. Pena: detenção, de um a três anos.
• Tipo Subjetivo: não se admite a modalidade culposa
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado apenas pela gestante, b) sujeito passivo:
produto da concepção, feto.
• Consumação e tentativa: consuma-se com a morte do feto. Admite-se tentativa.
• Trata-se de crime doloso contra a vida que será julgado pelo Tribunal do Júri.

Conforme estudado anteriormente, no caso de concurso de agentes no crime de aborto, o


Código Penal excepcionou à teoria monista, de modo que a gestante responderá pelo crime do
art. 124 e o terceiro que a ajudou responderá pelo crime do art. 126 do CP.

18.1.4.2.  ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO SEM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE

• Descrição do Tipo (art. 125 do CP): provocar aborto, sem o consentimento da


gestante. Pena - reclusão, de três a dez anos.

102
Considera-se falta de consentimento as seguintes situações: a) ausência de concordância ou
ciência da gestante, b) quando a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil
mental e c) o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Tipo Subjetivo: não se admite a modalidade culposa


• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: possui duas vítimas: a gestante e o feto.
• Consumação e tentativa: consuma-se com a morte do feto. Admite-se tentativa.
• Aumento de pena:
• Aumenta de 1/3 se, em consequência do aborto ou dos meios empregados
para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave.
• É duplicada se, por qualquer dessas causas, a gestante morre.
• Trata-se de crime doloso contra a vida que será julgado pelo Tribunal do Júri.

18.1.4.3.  ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO COM CONSENTIMENTO DA VÍTIMA

• Descrição do Tipo (art. 126 do CP): provocar aborto com o consentimento da


gestante. Pena - reclusão, de um a quatro anos.

A concordância dada por gestante que não seja maior de quatorze anos, alienada ou débil
mental, ou obtida mediante fraude, grave ameaça ou violência, não é válida, devendo o agente
responder como se não houvesse concordância, ou seja, pelo crime do art. 125 do CP.

• Tipo Subjetivo: não se admite a modalidade culposa


• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa, b) sujeito passivo:
apenas o feto, já que a gestante consentiu com o crime.
• Consumação e tentativa: consuma-se com a morte do feto. Admite-se tentativa.
• Aumento de pena:
• Aumenta de 1/3 se, em consequência do aborto ou dos meios empregados
para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave.
• É duplicada se, por qualquer dessas causas, a gestante morre.
• Trata-se de crime doloso contra a vida que será julgado pelo Tribunal do Júri.

18.1.4.4.  ABORTO LEGAL

Conforme previsto no art. 128 do CP, não se pune o aborto praticado por médico:
103
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante (aborto terapêutico)

II - Aborto no caso de gravidez resultante de estupro (aborto humanitário).


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Nos dois casos, portanto, para que o aborto não seja punível, é necessário que ele seja realizado por
médico. Além disso, na hipótese de aborto humanitário, deve haver ainda o consentimento da gestante.

Importante destacar que o STF julgou procedente o pedido contido na Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental (ADPF) 54, considerando que a interrupção da gravidez de feto anencéfalo
não é considerado crime.

Além disso, em 2016, a primeira Turma do STF entendeu que na interrupção da gravidez no
primeiro trimestre também não é considerada fato típico.

18.2.  LESÕES CORPORAIS

• Descrição do Tipo: ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem.


• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa, b) sujeito passivo:
pode ser qualquer pessoa, salvo nas hipóteses do art. 129, §1º, IV e §2º V, em que a
vítima é somente a gestante e nos casos do art. 129, §§ 9º, 10, 11, referente à violência
doméstica.
• Tipo Subjetivo: pode ser doloso, culposo e preterdoloso.
• Consumação e tentativa: consuma-se com a efetiva ofensa à integridade corporal ou
a saúde da vítima (crime material). Admite-se tentativa na modalidade dolosa.

Lesão Corporal Leve (art. 129, caput, do CP)

O crime de lesão corporal leve, com pena de detenção de três meses a um ano, é obtido por
exclusão, ou seja, será assim considerada quando não se tratar de lesão grave (§1º), gravíssima
(§2º) ou lesão seguida de morte (§3º).

Trata-se de crime de menor potencial ofensivo e a ação penal será pública condicionada à
representação (art. 88 da Lei n. 9.099/95), salvo se a vítima for mulher no âmbito doméstico,
hipótese em o crime será processado mediante ação penal pública incondicionada (o art. 41 Lei n.
11.340/2006). TEMA COBRADO NO XXVI EXAME DA OAB/FGV.

No caso de lesão corporal leve, o juiz poderá substituir a pena de detenção pela de multa
quando se tratar de lesão corporal privilegiada (§4º) ou quando as lesões forem recíprocas.

Lesão Corporal Grave (art. 129, §1º, do CP)

A lesão corporal é da natureza grave, com pena de reclusão de 1 a 5 anos, se resulta:

104
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias: o inciso não se refere a
trabalho mas sim a ocupações habituais, de modo que qualquer pessoa pode ser enquadrada,
mesmo que não exerça atividade remunerada, como o aposentado e o estudante. Além do
exame de corpo de delito, é necessária a realização de exame complementar após o 30º dia,
comprovando que vítima permaneceu incapacitada para as suas ocupações habituais.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

II - perigo de vida: representa a probabilidade imediata de morte, comprovada por laudo pericial.

III - debilidade permanente de membro, sentido ou função: signifca a redução da capacidade


funcional, que deve ser permanente, ou seja, sem a possibilidade de se estabelecer quanto
tempo irá durar. Depende de laudo pericial.

IV - aceleração de parto: o parto será antecipado sem acarretar a morte do feto. Ocorrendo
a morte do nascituro, a lesão será gravíssima.

A lesão corporal grave é processada mediante ação penal pública incondicionada. Além disso, é
possível aplicar a suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei n. 9.099/95, já
que se trata de infração penal com pena mínima em abstrato até 1 (um) ano .

Lesão Corporal Gravíssima (art. 129, §2º, do CP)

Embora a denominação seja doutrinária e não legal, a lesão corporal é gravíssima, com pena
de reclusão de 2 a 8 anos, se resulta:

I - Incapacidade permanente para o trabalho: considera-se permanente a incapacidade


sempre que não seja possível fxar quanto tempo irá durar. Prevalece o entendimento que
a qualifcadora se refere ao trabalho em geral, e não especifcamente ao trabalho realizado
pela vítima.

II - enfermidade incurável;

III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função: perda se refere principalmente aos
membros e ocorre principalmente no caso de mutilação ou amputação. Já a inutilização
signifca a inaptidão total a sua função específca, como no caso de cegueira total, paralisia
completa do braço, etc.

Para que seja caracteriza a perda de sentido referente à visão ou audição é necessário que os
dois olhos ou ouvidos sejam prejudicados, já que a lesão de apenas um deles representará
debilidade, nos termos do art. 129, §1º, III, do CP.

IV - deformidade permanente: representa a quebra da harmonia corporal da vítima de


forma permanente.

V - aborto: nesse caso o crime é preterdoloso, ou seja, o agente atua com intenção de praticar
105
lesão corporal, mas com culpa em relação ao aborto. Para a incidência da qualifcadora, o
agente deve ter conhecimento da gravidez da vítima.

Lesão corporal seguida de morte (art. 129, §3º, do CP)


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

A lesão corporal seguida de morte é crime preterdoloso, apenado com 4 (quatro) a 12 (doze)
anos de reclusão, e ocorre quando o agente possui intenção de lesionar a vítima, mas, em razão de
conduta culposa, acaba matando-a.

Lesão corporal privilegiada (art. 129, §4º, do CP)

Trata-se de causa de diminuição da pena de 1/6 a 1/3 e pode ser aplicada quando o agente comete
o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção,
logo em seguida a injusta provocação da vítima TEMA COBRADO NO XI EXAME DA OAB/FGV.

Causas de aumento da pena na lesão corporal dolosa:

• Aumenta-se de 1/3 a pena se o crime é praticado contra pessoa menor de 14


(quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
• A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por
milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo
de extermínio
• A pena é aumentada de 1/3 a 2/3 se a lesão for praticada contra autoridade ou
agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal (autoridades das forças
armadas e da segurança pública), integrantes do sistema prisional e da Força Nacional
de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau.
• No caso de lesão corporal grave, gravíssima ou seguida de morte, a pena desses
crimes será aumentada de 1/3 se a lesão for praticada no âmbito doméstico ou
familiar (§ 10 do art. 129). Entretanto, tratando-se de lesão leve nessa situação, haverá
a qualifcadora prevista no § 9° do art. 129 do CP.

• Heron arremessa um vaso dolosamente contra sua esposa, causando-lhe perda da visão
de um olho. Nesse caso, haverá lesão corporal grave (debilidade) com a incidência da causa
de aumento de 1/3, já que se trata de crime cometido no âmbito doméstico.
• No mesmo exemplo acima, se a esposa de Heron tivesse sofrido pequenas escoriações
(lesão leve), haveria o crime previsto no § 9° do art. 129 do CP.

Lesão corporal culposa

Tratando-se de lesão corporal culposa, o § 6° do art. 129 do CP prevê pena de detenção, de dois
meses a um ano, pouco importando se a lesão é leve, grave ou gravíssima.

A pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime resulta de inobservância de regra técnica
de profssão, arte ou ofício, se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura
106
diminuir as consequências do seu ato ou se foge para evitar prisão em fagrante.

No caso de lesão corporal culposa a ação penal pública condicionada à representação da


vítima, salvo quando se tratar de lesão praticada contra mulher no âmbito doméstico, em que a
ação será pública incondicionada, conforme posicionamento do STF.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

PERDÃO JUDICIAL: Assim como acontece no homicídio culposo, na lesão corporal culposa
o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio
agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.

Lesão corporal doméstica (§ 9º do art. 129 do CP)

Trata-se de qualifcadora da lesão corporal leve e ocorre quando a lesão for praticada contra
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido,
ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, o
crime será apenado com detenção de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

Além disso, a pena será aumentada de 1/3 se a lesão doméstica for praticada contra pessoa
com defciência.

Se a vítima for mulher, o crime será processado mediante ação penal pública incondicionada,
já que o art. 41 Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) veda a aplicação da Lei n. 9.099/95.
Entretanto, se a vítima for homem, a ação será condicionada à representação, já que a Lei Maria
da Penha se aplica apenas às mulheres.

Lesão corporal praticada contra a mulher em razão do sexo feminino (§ 13 do art. 129 do CP)

A Lei n. 14.188/21 acrescentou o § 13 ao artigo 129 do CP para prever mais uma qualifcadora
para o crime de lesão corporal leve, quando praticada contra a mulher, por razões da condição
do sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 do CP, ou seja, contra mulher no ambiente
doméstico e familiar, ou ainda por preconceito, menosprezo ou discriminação quanto ao sexo.

Nesse caso, a pena, será de reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos).

18.3.  PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE

18.3.1.  PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO

• Descrição do Tipo (art. 130 do CP): expor alguém, por meio de relações sexuais ou
qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber
que está contaminado. Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

107
O art. 130 do CP exige que o meio de transmissão seja ato libidinoso ou relação sexual. Se outra
for a forma de transmissão (seringa, por exemplo), provavelmente caracterizará o crime do art.
131 do CP.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Forma qualifcada: se é intenção do agente transmitir a moléstia. Pena - reclusão, de


um a quatro anos, e multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: deve ser alguém com moléstia venérea, b) sujeito passivo:
Pode ser qualquer pessoa que não esteja contaminada, inclusive prostituta.
• Tipo Subjetivo: deve ser doloso.
• Consumação e tentativa: consuma-se no momento da prática do ato sexual, mesmo
que a vítima não seja contaminada. A tentativa é possível quando o agente deseja, mas
não consegue manter a relação sexual.
• Ação Penal: depende de representação (ação penal pública condicionada).

18.3.2.  PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE (art. 131 do CP)

• Descrição do Tipo (art. 131 do CP): praticar, com o fm de transmitir a outrem


moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio. Pena -
reclusão, de um a quatro anos, e multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: deve ser alguém com moléstia grave, b) sujeito passivo:
pode ser qualquer pessoa que não esteja contaminada.
• Tipo Subjetivo: apenas o dolo direto, já que o crime se consuma apenas quando o
agente quer transmitir a moléstia.
• Consumação e tentativa: consuma-se no momento da prática do ato (crime de forma
livre), mesmo que a vítima não seja contaminada.
• Ação Penal: pública incondicionada.

18.3.3.  PERIGO PARA A VIDA OU SAÚDE DE OUTREM

• Descrição do Tipo (art. 132 do CP): expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e
iminente. Pena: detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
• Causa de aumento de pena: a pena é aumentada de 1/6 a 1/3 se a exposição da vida
ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de
serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa, b) sujeito passivo: Qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa (dolo de perigo).
• Consumação e tentativa: consuma-se no momento da prática do ato que resulta
perigo concreto, sendo possível a tentativa.

108
• Ação Penal: pública incondicionada.

18.3.4.  ABONDONO DE INCAPAZ


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Descrição do Tipo (art. 133 do CP): abandonar pessoa que está sob seu cuidado,
guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos
riscos resultantes do abandono. Pena - detenção, de seis meses a três anos.
• Forma qualifcada: Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave (pena -
reclusão, de um a cinco anos) e se resulta a morte (pena - reclusão, de quatro a doze anos).
• Causa de aumento de pena: as penas aumentam-se de um terço: I - se o abandono
ocorre em lugar ermo; II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão,
tutor ou curador da vítima; III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos
• Sujeitos: a) sujeito ativo: quem tem o dever de cuidar (crime próprio), b) sujeito
passivo: pessoa que esteja sob cuidado, guarda ou vigilância.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se quando, a partir do abandono, a vítima sofre
risco. É possível a tentativa.
• Ação Penal: pública incondicionada.

18.3.5.  EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO

• Descrição do Tipo (art. 134 do CP): expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar
desonra própria. Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
• Forma qualifcada: se do fato resulta lesão corporal de natureza grave (pena -
detenção, de um a três anos) e se resulta a morte (pena - detenção, de dois a seis
anos) TEMA COBRADO NO XVIII EXAME DA OAB/FGV.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: mãe ou pai que desejam esconder flho recém-nascido
concebido por adultério, incesto, ou outra forma que possa causar desonra; b) sujeito
passivo: recém-nascido.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se quando o abandono ou a exposição resultar
perigo para o recém-nascido. Possível a tentativa.
• Ação Penal: pública incondicionada.

18.3.6.  OMISSÃO DE SOCORRO

• Descrição do Tipo (art. 135 do CP): deixar de prestar assistência, quando possível
fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada (perdida), ou à pessoa
inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses
casos, o socorro da autoridade pública. Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
• Forma qualifcada: se do fato resulta lesão corporal de natureza grave (pena - reclusão,
de um a quatro anos) e se resulta a morte (pena - reclusão, de quatro a doze anos).
109
• Causa de aumento de pena: a pena é aumentada de metade, se da omissão resulta
lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa; b) sujeito passivo: vítimas
descritas no tipo penal (criança abandonada ou extraviada, pessoa inválida, ferida, ao
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

desamparo ou em iminente perigo).


• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se no momento da omissão. Não admite tentativa
porque é crime omisso puro.
• Ação Penal: pública incondicionada.

• Se várias pessoas negam assistência à vítima, como no caso de acidente grave de trânsito em
que ninguém presta socorro ou comunica a autoridade pública, todos respondem pelo crime.
• Se várias pessoas negam o socorro, mas posteriormente alguém socorre a vítima, não
haverá crime, já que a vítima foi socorrida.
• No caso de acidente de trânsito, o condutor do veículo que se envolveu no acidente e
deixou de socorrer a vítima, responderá pelo art. 303 ou art. 304 do Código de Trânsito.

18.3.7.  CONDICIONAMENTO DE ATENDIMENTO MÉDICO-HOSPITALAR


EMERGENCIAL

• Descrição do Tipo (art. 135-A do CP): exigir cheque-caução, nota promissória ou


qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos,
como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial. Pena - detenção,
de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
• Causa de aumento de pena: a pena é aumentada até o dobro se da negativa de
atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: funcionários, médicos e diretores do estabelecimento
médico-hospitalar emergencial, b) sujeito passivo: pessoa que precisa de atendimento
médico-hospitalar emergencial.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se com a exigência de cheque-caução, nota
promissória ou qualquer garantia, ou com a exigência de preenchimento de formulário
para que o paciente seja atendido. O crime é consumado mesmo que depois a vítima
seja atendida.
• Ação Penal: pública incondicionada.

18.3.8.  MAUS-TRATOS

• Descrição do Tipo (art. 136 do CP): expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa
sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fm de educação, ensino, tratamento
110
ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer
sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção
ou disciplina. Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
• Forma qualifcada: se do fato resulta lesão corporal de natureza grave (pena - reclusão,
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

de um a quatro anos) e se resulta a morte (pena - reclusão, de quatro a doze anos).


• Causa de aumento de pena: aumenta-se a pena de 1/3, se o crime é praticado contra
pessoa menor de 14 (catorze) anos.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: o autor do crime deve ter a guarda, vigilância ou autoridade
sobre a vítima para fm de educação, ensino, tratamento ou custódia; b) sujeito passivo:
vítima deve ter relação de subordinação em relação ao sujeito ativo.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se no momento da produção do perigo, sendo
possível a tentativa nas condutas comissivas.
• Ação Penal: pública incondicionada.

• Não confgura maus-tratados a conduta do marido em face da esposa, e vice-versa, já que


não há relação de poder, guarda ou autoridade entre ambos.
• O crime de tortura previsto no art. 1º da Lei n. 9.455/97 não se confunde com os maus-
tratos. Isso porque no crime de tortura a vítima é submetida a intenso sofrimento físico ou
mental, enquanto no crime de maus-tratos não.
• Se a vítima dos maus-tratos for idoso, incide o crime previsto no art. 99 do Estatuto do
Idoso, uma vez que se trata de norma especial.

18.4.  RIXA

A rixa representa, de acordo com Cléber Mason, “uma luta tumultuosa e confusa que travam
entre si 3 (três) ou mais pessoas, acompanhada de vias de fato ou violência recíprocas”4. Trata-se,
portanto, de tumulto em que não é possível identifcar exatamente de onde partiram as agressões,
de modo que todos aqueles que participaram da briga desordenada serão punidos.

Na rixa não há grupos definidos, já que as agressões são feitas indistintamente entre
os envolvidos.

• Se houver uma briga entre duas torcidas de futebol, não há rixa, uma vez que a briga
ocorre entre grupos defnidos, com ânimos opostos. Nesse caso, o tumulto caracterizará o
delito previsto no art. 41-B do Estatuto de Torcedor.
• Tumulto com agressões dentro de uma boate, em que cada um dos envolvidos atua por si,
caracteriza o crime de rixa.

4 MASSON, Cleber Rogério. Direito Penal Esquematizado, volume 2, parte especial. 3. Ed. São Paulo.
Método, 2011. pág. 157.
111
Destaca-se ainda que, para a confguração do crime, não há necessidade de que qualquer um
dos envolvidos sofra lesão, já que se trata de crime de perigo, ou seja, a simples troca de agressões
caracteriza o delito.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Descrição do Tipo: participar de rixa, salvo para separar os contendores. Pena -


detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
• Forma qualifcada: se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se,
pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos. Sendo
assim, se qualquer um dos envolvidos sofrer lesão corporal grave ou morte, todos os
envolvidos responderão pela forma qualifcada, inclusive a vítima.
• Sujeitos: o crime de rixa é considerado crime de concurso necessário, uma vez que
exige a participação de no mínimo 3 (três) pessoas e os envolvidos são, ao mesmo
tempo, sujeitos ativos e passivos do delito.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se com a troca das agressões. Prevalece o
entendimento que não é possível tentativa.
• Ação Penal: pública incondicionada.

18.5.  CRIMES CONTRA A HONRA

18.5.1.  CONCEITO DE HONRA

De forma simples, a honra pode ser defnida como o conjunto de atributos físicos, morais e
intelectuais que conferem autoestima ou reputação a determinada pessoa, podendo ser classifcada
em honra objetiva e subjetiva.

• Honra objetiva: diz respeito à reputação, ou seja, refere-se ao juízo de valor feito por
terceiros sobre os atributos de alguém.
• Honra subjetiva: diz respeito à autoestima, ou seja, refere-se ao juízo de valor de
determinada pessoa sobre os seus próprios atributos.

Os crimes de calúnia e difamação atingem a honra objetiva, enquanto que o crime de injúria
atinge a honra subjetiva.

HONRA OBJETIVA HONRA SUBJETIVA

CALÚNIA INJÚRIA
DIFAMAÇÃO

112
18.5.2.  CALÚNIA

• Descrição do Tipo: caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato defnido como


crime. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Na mesma pena incorre quem,
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. É punível a calúnia contra os mortos.

Tanto a conduta de imputar falsamente a alguém fato defnido como crime quanto a conduta de
divulgar essa informação se enquadram no crime de calúnia. Além disso, por se tratar de crime
relacionada à honra objetiva, o CP pune a calúnia contra os mortos.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se quando os fatos noticiados chegam ao
conhecimento de terceiro. A tentativa é possível em algumas situações (forma escrita,
mensagem na secretaria eletrônica, etc).
• Exceção da Verdade: para que o crime de calúnia seja caracterizado, é necessário
que a imputação atribuída à vítima seja falsa. Por esse motivo, o próprio código penal
garante ao acusado a oportunidade de provar que os fatos atribuídos a vítima são
verdadeiros (exceção da verdade), como forma de excluir a tipicidade do fato.
• A exceção da verdade, no entanto, não será admitida em 3 (três) situações:

1) O fato imputado constitui crime de ação privada e o ofendido não foi


condenado por sentença irrecorrível (138, § 3º, I, do CP). A lógica dessa regra
é que, se a vítima do crime imputado a terceiro não quis oferecer queixa, não
cabe ao autor da imputação tratar desse fatos, já que a iniciativa era exclusiva
da vítima.
2) O fato é imputado contra o presidente da República ou contra chefe de
governo estrangeiro (138, § 3º, II, do CP).
3) Se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por
sentença irrecorrível (138, § 3º, II, do CP). Se pelos fatos imputados o ofendido já foi
absolvido, evidentemente que a acusação é falsa, não cabendo exceção da verdade.
TEMA COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV.

18.5.3.  DIFAMAÇÃO

• Descrição do Tipo (art. 139 do CP): difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à
sua reputação. Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Na difamação, o fato imputado a terceiro é ofensivo à honra objetiva, não precisa ser falso nem
constitui crime. A difamação contra morto não constitui crime.

113
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se quando os fatos noticiados chegam ao
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

conhecimento de terceiro. A tentativa é possível em algumas situações (forma escrita,


mensagem na secretaria eletrônica, etc).
• Exceção da Verdade: a difamação se caracteriza mesmo que os fatos
ofensivos sejam verdadeiros, por isso não cabe exceção da verdade, salvo
se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas
funções. TEMA COBRADO NO VI EXAME DA OAB/FGV
• Atipicidade (art. 142 do CP): não constituem injúria ou difamação punível: I - a
ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científca, salvo quando
inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; III - o conceito desfavorável emitido
por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de
dever do ofício.

Nos casos dos incisos I e III, acima citados, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe
dá publicidade.

• Dizer que determinada pessoa pratica adultério caracteriza difamação, uma vez que o
adultério deixou de ser considerado crime.
• Dizer que determinada pessoa usa drogas caracteriza difamação, já que o uso de droga
não é fato típico.
• Se o crime de difamação ocorrer por meio de propaganda eleitoral, ou visando a fns de
propaganda, haverá o crime específco de difamação previsto no art. 325 do Código Eleitoral
TEMA COBRADO NO XIV EXAME DA OAB/FGV.

18.5.4.  INJÚRIA

• Descrição do Tipo (art. 140 do CP): injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o


decoro. Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
• Formas Qualifcadas: existem duas formas qualifcadas:

• Injúria real: quando consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza
ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes (exemplo: tapa na cara,
atirar tomate em quem faz discurso, etc). Pena: detenção, de três meses a um
ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

As vias de fato são agressões dirigidas à vítima que não causa lesão corporal, como um tapa na
cara, cusparada, etc. As vias de fato são absorvidas pela injúria real, mas as lesões corporais não.
114
• Injúria preconceituosa: quando consiste na utilização de elementos referentes à
religião ou à condição de pessoa idosa ou com defciência: TEMA COBRADO
NO VI EXAME DA OAB/FGV
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

A Lei 14.532/23 alterou a redação do §3º do art. 140 do CP, para excluir da qualifcadora as
ofensas referentes à raça, cor, etnia ou procedência nacional, transportando a injúria racial
para a Lei 7.716/89 (racismo).
Desse modo, a qualifcadora do §3º do art. 140 do CP passou a tratar apenas da injúria referente
à religião ou à condição de pessoa idosa ou com defciência, sendo que a injúria com elementos
referentes a raça, cor, etnia ou procedência nacional passou a ser prevista como espécie de
racismo, nos termos do art. 2º-A da Lei 7.716/89:
Não há mais dúvida, portanto, que a injúria em razão de raça, cor, etnia ou
procedência nacional passou a ser considerada espécie de racismo, sendo,
portanto: imprescritível, inafiançável e de ação penal pública incondicionada.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se quando a ofensa chega ao conhecimento da
vítima. A tentativa é possível em algumas situações (forma escrita, mensagem na
secretaria eletrônica, etc).
• Exceção da Verdade: Não é cabível na injúria.
• Perdão judicial: o juiz poderá deixar de aplicar a pena nas seguintes hipóteses: I -
quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II - no caso
de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
• Atipicidade (art. 142 do CP): não constituem injúria ou difamação punível: I - a ofensa
irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; II - a
opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científca, salvo quando inequívoca
a intenção de injuriar ou difamar; III - o conceito desfavorável emitido por funcionário
público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício

• O art. 141 do CP traz regras de aumento comuns para os crimes contra a honra:

A pena será aumentada de 1/3 se o crime for: I - contra o Presidente da República, ou
contra chefe de governo estrangeiro; II - contra funcionário público, em razão de suas
funções, ou contra os Presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do
Supremo Tribunal Federal; III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite
a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria. IV – contra pessoa maior de 60
(sessenta) anos, com defciência ou com doenças degenerativas que acarretem condição
limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;.
Se o crime contra honra é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena
em dobro (§ 1º do art. 141 do CP)
Se o crime contra honra é cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais da
115
rede mundial de computadores, aplica-se em triplo a pena (§ 2º do art. 141 do CP).

18.5.5.  RETRATAÇÃO
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Conforme previsto no art. 143 do CP, o querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente
da calúnia ou da difamação, fca isento de pena.

Além disso, o parágrafo único do referido artigo acrescenta que, nos casos em que o querelado
tenha praticado a calúnia ou a difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação
deverá ser feita, se assim desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa.

Não cabe retratação no crime de injúria.

CALÚNIA DIFAMAÇÃO INJÚRIA

Honra OBJETIVA Honra OBJETIVA Honra SUBJETIVA

Imputação de FATO ofensivo


Imputação de FATO defnido Não há imputação de
à REPUTAÇÃO, que não seja
como CRIME fato algum
defnido como crime

Imputação deve ser FALSA Imputação falsa ou verdadeira Não há fato imputado

Nunca cabe exceção


É cabível EXCEÇÃO DA Não cabe exceção da verdade, da verdade
VERDADE, exceto nos salvo funcionário público no
casos previstos exercício da função
(não há fato)

Consumação: quando a Consumação: quando a ofensa Consumação: quando


ofensa chega ao conhecimento chega ao conhecimento de a ofensa chega ao
de TERCEIRO TERCEIRO conhecimento da VÍTIMA

NÃO é punível
É punível quando praticada NÃO é punível quando quando praticada
contra os MORTOS praticada contra os MORTOS contra os MORTOS

NÃO é cabível a
Cabível a RETRATAÇÃO Cabível a RETRATAÇÃO RETRATAÇÃO

NÃO admite PERDÃO JUDICIAL NÃO admite PERDÃO JUDICIAL Admite PERDÃO JUDICIAL

116
18.5.6.  AÇÃO PENAL (art. 145 do CP)

No crimes contra a honra, como regra geral, a ação penal será privada.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Existem, entretanto, as seguintes exceções:

• Ação penal pública incondicionada: no caso de injúria real se a violência causar


lesão corporal.
• Ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça: quando o crime
for cometido em face do Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro.
• Ação penal pública condicionada à representação do ofendido: no caso de injúria
preconceituosa e no caso de crime cometido contra funcionário público, em razão de
suas funções, mas, neste último caso, o entendimento do STF é que ofendido também
terá legitimidade concorrente para oferecer queixa:

Súmula 714 do STF: É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do


ministério público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por
crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções
TEMA COBRADO NO XXIV EXAME DA OAB/FGV.

18.6.  CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL

18.6.1.  CONSTRANGIMENTO ILEGAL

• Descrição do Tipo (art. 146 do CP): constranger alguém, mediante violência ou


grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade
de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda. Pena
- detenção, de três meses a um ano, ou multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se quando a vítima faz ou deixa de fazer alguma
coisa contra sua vontade. É possível a tentativa quando, apesar de empregada violência
ou grave ameaça, a vítima não precisa agir ou deixar de agir contra sua vontade.
• Causa de aumento de pena: as penas aplicam-se cumulativamente e em dobro,
quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego
de armas.
• Atipicidade: não confguram constrangimento ilegal: I - a intervenção médica
ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se
justifcada por iminente perigo de vida; II - a coação exercida para impedir suicídio.
• Ação Penal: pública incondicionada.

117
Entende-se majoritariamente que, no caso de “roubo de uso”, há a prática de
constrangimento ilegal, uma vez que a vítima é constrangida, mediante violência ou
grave ameaça, a entregar o seu bem ao criminoso. Assim, se “A” agride “B” para levar
o seu carro, mas o faz apenas para passear com o veículo e devolvê-lo depois, “A” não
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

responderá pelo crime de roubo (“roubo de uso”), mas poderá ser responsabilizado pelo
crime de constrangimento ilegal TEMA COBRADO NO VI EXAME DA OAB/FGV

18.6.2.  AMEAÇA

• Descrição do Tipo (art. 147 do CP): ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto,
ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção,
de um a seis meses, ou multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum),
b) sujeito passivo: qualquer pessoa que possa compreender a gravidade da ameaça.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se quando a vítima recebe a ameaça,
independentemente de qualquer outro resultado (crime formal). A tentativa é possível
em algumas situações (forma escrita, mensagem na secretaria eletrônica, etc).
• Ação Penal: pública condicionada à representação.

18.6.3.  PERSEGUIÇÃO (STALKING)

• Descrição do Tipo (art. 147-A do CP) : Perseguir alguém, reiteradamente e por


qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe
a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua
esfera de liberdade ou privacidade. Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos,
e multa.
• O tipo penal prevê a conduta de “perseguir”, o que signifca importunar
constantemente a vítima. O tipo exige a reiteração da conduta (perseguição reiterada)
e estará caracterizado em uma das seguintes formas:
1) ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica: é um tipo especial em relação à
ameaça (art. 147do CP), já que exige adicionalmente a perseguição.
2) restringindo-lhe a liberdade de locomoção: não há efetiva privação da liberdade,
e sim mera restrição, senão estaria caracterizado o crime de sequestro ou cárcere
privado (art. 148 do CP).
3) ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou
privacidade: como no caso do paparazzi que persegue a vítima invadindo a sua
privacidade, situação típica do stalking.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: qualquer pessoa,

causas de aumento:

• De acordo com o § 1º do art. 147-A do CP, a pena é aumentada de metade se o crime


118
é cometido:
I – contra criança, adolescente ou idoso;
II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos
do § 2º-A do art. 121 deste Código;
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego


de arma.

• Consumação e tentativa: consuma-se com a perseguição. Como o tipo penal exige


habitualidade, caracterizada pela reiteração da perseguição, entendemos não ser
possível a tentativa.
• Ação Penal: pública condicionada à representação.

O §2º do art. 147-A do CP, por sua vez, estabelece que as penas previstas no crime
são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. Desse modo, se houver
outro crime decorrente da perseguição, como, por exemplo, lesão corporal, o agente deve
responder em concurso material pelo crime de perseguição (art. 147-A do CP) e lesão
corporal (art. 129 do CP).

18.6.4.  VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA CONTRA A MULHER

• Descrição do Tipo (art. 147 -B do CP): Causar dano emocional à mulher que a
prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a
controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização,
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde
psicológica e autodeterminação: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa , b) sujeito passivo:
apenas mulher.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se com a ocorrência do dano emocional. É
possível a tentativa. mas de difícil ocorrência prática.
• Ação Penal: pública incondicionada.

Trata-se de crime inserido pela Lei n. 14.188/2021.

Percebam que o tipo penal não limita a ocorrência do crime ao âmbito doméstico/familiar,
podendo ocorrer, portanto, em qualquer ambiente (ensino, religioso, trabalho, etc),

Além disso, não se exige a ocorrência de lesão à saúde psicológica da vítima (patologia), mas
apenas a ocorrência de dano emocional (sofrimento, dor, angústia signifcativos).

119
A prova do dano emocional pode ser feita por diversos meios, como depoimento da vítima /
testemunhas ou relatório psicológico, não havendo necessidade de comprovação por laudo médico.

Se houver a caracterização de dano à saúde psicológica da vítima, ou seja a ocorrência de


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

patologia, comprovada por laudo técnico, com indicação da respectiva CID (identifcação da doença),
estará caracterizado o crime de lesão corporal do art. 129 do Código Penal, com pena mais grave.

Além disso, o crime de violência psicológica contra a mulher (art. 147-B do CP) não se confunde
com o crime de perseguição (stalking) previsto no art. 147-A do CP, uma vez que neste último exige-
se a conduta reiterada do autor do crime (pelos menos dois atos), para caracterizar a perseguição,
além do que a vítima pode ser homem ou mulher.

18.6.5. SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO

• Descrição do Tipo: privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere


privado: Pena - reclusão, de um a três anos.

Para a doutrina, enquanto que no cárcere privado a vítima fca em local fechado (há
confnamento), no sequestro a vítima fca privada de sua liberdade, mas em local aberto. A lei,
entretanto, usa as duas expressões indistintamente.

Qualifcadoras:

• A pena é de reclusão, de dois a cinco anos, se: I –a vítima é ascendente, descendente,


cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; II - o crime é
praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; III - a privação
da liberdade dura mais de quinze dias; IV – o crime é praticado contra menor de 18
(dezoito) anos; V –o crime é praticado com fns libidinosos.
• A pena é de reclusão, de dois a oito anos, se resulta à vítima, em razão de maus-
tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se a partir do momento em que a vítima tem
sua liberdade cerceada. Trata-se de crime permanente, de modo que o fagrante será
possível até que a vítima não seja solta. A tentativa é possível.
• Ação Penal: pública incondicionada.

• Se o agente sequestra a vítima e depois pratica estupro, o agente responde por sequestro
qualifcado (fns libidinosos) em concurso material com o crime de estupro.
• Se a fnalidade do sequestro for a obtenção de resgate, o crime será de extorsão mediante
sequestro (art. 159 do CP), que é um crime contra o patrimônio.
• Se o agente sequestra ou mantem a vítima em cárcere privado e depois a tortura, o agente
responde pelo crime de tortura (Lei n. 9.455/97).
120
18.6.6.  REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO

• Descrição do Tipo (art. 149 do CP): reduzir alguém a condição análoga à de escravo,
quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua


locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto. Pena -
reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
• Forma equiparada: nas mesmas penas incorre quem: I – cerceia o uso de qualquer
meio de transporte por parte do trabalhador, com o fm de retê-lo no local de trabalho;
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos
ou objetos pessoais do trabalhador, com o fm de retê-lo no local de trabalho.

CRIME DE AÇÃO VINCULADA: O crime de redução à condição análoga a de escravo é de ação


vinculada, ou seja, será caracterizado quando houver a prática de uma das 6 condutas a seguir
descritas:
• Submissão a trabalhos forçados
• Submissão a jornada exaustiva.
• Submissão a condições degradantes
• Restrição, por qualquer meio, da locomoção em razão de dívida contraída com o
empregador ou preposto;
• Cerceamento do uso de qualquer meio de transporte, com o intuito de retê-la no local de trabalho;
• Vigilância ostensiva no local de trabalho ou apoderando-se de documentos ou objetos
pessoais do trabalhador, com o fm de retê-lo no local de trabalho.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum),
b) sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre quando houver a prática de qualquer
uma das ações descritas no tipo penal, ou seja, submissão do trabalhador à jornada
exaustiva, trabalho forçado, condições degradantes, restrição de sua locomoção,
por qualquer meio, em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto,
cerceamento do uso de qualquer meio de transporte, com o intuito de reter o
trabalhador no local de trabalho, vigilância ostensiva ou retenção de documentos com
o fm de reter a vítima no local de trabalho. É possível a tentativa.
• Causas de aumento de pena: a pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:
I – contra criança ou adolescente; II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia,
religião ou origem.
• Ação Penal: pública incondicionada.

Conforme decidido pelo STF, a competência para julgar o crime de redução à condição análoga
à de escravo é da Justiça Federal (Recurso Extraordinário n. 398041 de 2006).
121
18.6.7.  TRÁFICO DE PESSOAS

A lei n. 13.444/2016 revogou os artigos 231 e 231-A do CP para tratar de forma mais genérica
do tráfco de pessoas no art. 149-A, englobando outras hipóteses além da exploração sexual.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Descrição do Tipo (art. 149-A): agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir,


comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude
ou abuso, com a fnalidade de: I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo; III - submetê-la a
qualquer tipo de servidão; IV - adoção ilegal; ou V - exploração sexual. Pena - reclusão,
de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se quando o sujeito ativo realiza umas das ações
nucleares, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com o dolo
específco previsto no tipo penal. A tentativa é possível.
• Causas de aumento: a pena é aumentada de 1/3 até a metade se: I - o crime for
cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de
exercê-las; II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou
com defciência; III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas,
de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de
superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou IV - a
vítima do tráfco de pessoas for retirada do território nacional.

O tráfco internacional (inciso IV), portanto, é uma causa de aumento de pena do crime do art.
149-A do CP.

• Ação Penal: pública incondicionada.

122
19

19.  CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

19.1.  FURTO

• Descrição do Tipo (art. 155 do CP): subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia
móvel. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

• Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico
(§ 3º do art. 155 do CP).
• Para o STF, a ligação clandestina para obter sinal de internet ou de televisão não é
considerada furto, já que o sinal de televisão ou internet não é considerado energia.
• Para que confgure o furto, o objeto deve ser alheio. Assim, se determinada pessoa
empenha um bem e depois o subtrai, não haverá crime de furto.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa. Além disso, exige-se que o agente
tenha o objetivo de fcar com a coisa ou entrega-la para terceiro, de modo que será
considerado atípico o denominado furto de uso (o agente, por exemplo, subtrai um
carro apenas para dar uma volta e depois o devolve ao dono).
• Consumação e tentativa: prevalece o entendimento de o crime se que consuma
quando o sujeito ativo consegue a inversão da posse do bem, mesmo que essa não
seja mansa e pacífca. A tentativa é possível quando o agente pratica a ação, mas não
consegue a inversão da posse.
• Formas qualifcadas:

• Pena de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - com


destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; II - com abuso de
confança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave
falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas TEMA COBRADO NOS
EXAMES VIII, XXI, XXX E XXXII DA OAB/FGV.

Consoante entendimento do STJ, a qualifcadora da destreza no crime de furto pressupõe que


o agente lance mão de uma excepcional habilidade para a subtração do objeto, de modo a
impedir qualquer percepção por parte da vítima. Meros atos dissimulados comuns à prática
do crime de furto, não confgura a qualifcadora (REsp 1.478.648/PR) TEMA COBRADO NO
XXXI DA OAB/FGV.

123
A Lei 13.654/18 acrescentou o § 4º-A e o § 7º ao art. 155 do CP, prevendo mais duas formas de
furto qualifcado, ambas com pena de reclusão de a 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, a saber:
• Se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum (§ 4º-A)
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou


isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego (§ 7º).
O principal objetivo do legislador ao inserir o § 4º-A foi punir com mais rigor os furtos de caixas
eletrônicos, que são consumados com o emprego de explosivos. Entretanto, na prática, o efeito
foi inverso, uma vez que, pela jurisprudência majoritária, o agente que cometia o crime nessas
condições respondia pelo crime de furto qualifcado pelo rompimento de obstáculo (art. 155, §
4º do CP) em concurso formal impróprio com o crime de explosão majorada (art. 251, § 2º do
CP), cuja pena era superior à pena introduzida pela Lei n. 13.654/18.

• Reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha
a ser transportado para outro Estado ou para o exterior
• Reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, se a subtração for de semovente
domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da
subtração.

• O furto mediante fraude não se confunde com o crime de estelionato, já que no primeiro
o agente emprega fraude para enganar a vítima e subtrair o bem sem que ela perceba
(exemplo: agente que se faz passar por técnico de TV a cabo, entra na casa da vítima e, sem
que ela perceba, furta determinado bem), enquanto que no estelionato a vítima, após ser
enganada, entrega voluntariamente o bem ao agente.
• O furto qualifcado pelo abuso de confança ocorre quando o agente se vale de confança
depositada pela vítima para furtar, como no caso de empregada doméstica ou da babá que,
aproveitando-se dessa condição, furta bens da casa onde trabalha.
• Para que haja a qualifcadora do furto de semovente, este deve ser destinado à produção,
ou seja, furto de animal doméstico não se enquadra na qualifcadora.
• A existência de sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por segurança
no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a confguração do
crime de furto (Súmula n. 567 d o STJ).

• Reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos: A Lei n. 14.155/21 passou a prever uma


modalidade específca de furto mediante fraude em dispositivo eletrônico, com pena
de 4 a 8 anos. Além disso, se o crime for praticado mediante utilização de servidor
mantido fora do território nacional (situação mais difícil de combater) ou contra idoso
ou vulnerável a incidência das causas de aumento de pena previstas no novo § 4º-C.

• Causa de aumento de pena (§ 1º do art. 155 do CP): a pena aumenta-se de um terço,


se o crime é praticado durante o repouso noturno.

• Repouso noturno é o período em que a coletividade se recolhe para o descanso de um dia


para o outro, o que pode variar de uma cidade para outra. Prevalece o entendimento de que
a majorante é aplicada mesmo que a moradia esteja desabitada ou que os moradores não
estejam repousando.
124
• Furto privilegiado, ou furto mínimo (§ 2º do art. 155 do CP): se o criminoso é
primário, e é de pequeno valor (não ultrapassa 1 salário mínimo) a coisa furtada, o
juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3, ou
aplicar somente a pena de multa.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Prevalece o entendimento de que é possível o furto qualifcado-privilegiado, ou seja, é possível


incidir a causa de diminuição de pena nos furtos qualifcados, desde que o réu seja primário e a
qualifcadora seja de ordem objetiva (Súmula n. 511 do STJ). Assim, no caso de furto qualifcado
por abuso de confança, não é possível incidir a causa de diminuição de pena, uma vez que a
qualifcadora é de ordem subjetiva TEMA COBRADO NO XV EXAME DA OAB/FGV

• Ação Penal: os crimes contra o patrimônio, como regra geral, são de ação penal
pública incondicionada. Entretanto, serão processados mediante representação
quando cometidos em prejuízo I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

19.2.  FURTO DE COISA COMUM

• Descrição do Tipo (art. 156 do CP): subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para
si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum. Pena: detenção, de
seis meses a dois anos, ou multa
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado apenas por condômino (de bem móvel),
coerdeiro e sócio (crime próprio), b) sujeito passivo: condômino, coerdeiro ou sócio
que detinha o bem.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: quando a coisa é retirada da esfera de disponibilidade da
vítima, ainda que por curto espaço de tempo. A tentativa é possível quando o agente
não conseguir fcar com a posse de fato do bem.
• Exclusão da punibilidade: não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo
valor não excede a quota a que tem direito o agente.
• Ação Penal: pública condicionada à representação.

19.3.  ROUBO

• Descrição do Tipo (roubo próprio – art. 157, caput, do CP): subtrair coisa móvel
alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou
depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência. Pena
- reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
• Forma equiparada (roubo impróprio – art. 157, § 1º): na mesma pena incorre quem,
logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a
fm de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.

125
ROUBO PRÓPRIO (CAPUT) ROUBO IMPRÓPRIO (§ 1º)

A violência ou grave ameaça é empregada Violência ou grave ameaça é empregada após


antes ou durante a subtração. a subtração para garantir a impunidade do
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

crime ou a detenção da coisa.


Exemplo: “A” agride “B” para subtrair o seu relógio.
Exemplo: “A” subtrai o relógio de “B” e depois o
agride para garantir que a vítima não terá tempo
para chamar a polícia.

• Formas qualifcadas (§ 3º do artigo 157): há duas formas qualifcadas de roubo:

1. Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete)


a 18 (dezoito) anos, e multa

2. Se resulta morte (latrocínio), a pena de reclusão é de 20 (vinte) a 30 (trinta)


anos, e multa

LATROCÍNIO:
• O latrocínio é crime hediondo (lei n. 8.072/90)
• A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do
tribunal do júri (Súmula 603 do STF), já que se trata de crime contra o patrimônio.
• No latrocínio, a morte da vítima pode ser causada por dolo ou culpa.
• Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a
subtração de bens da vítima (súmula 610 do STF).

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:


qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se quando o sujeito ativo consegue a inversão da
posse do bem, mesmo que essa não seja mansa e pacífca, conforme Súmula n. 582 do
STJ. A tentativa é possível quando, mesmo com a violência ou grave ameaça, o agente
não consegue subtrair o bem. TEMA COBRADO NO XXXVII EXAME DA OAB/FGV.

Súmula 582 do STJ: “Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífca ou desvigiada”.

“A” agride “B”, rouba o seu relógio e sai correndo. No entanto, “B”, exímio corredor, consegue
alcançar “A”, recuperando o bem. Neste caso, “A” responderá por roubo consumado.

• Causas de aumento (roubo majorado):


A pena aumenta-se de um terço até metade (§ 2º): I – revogado pela Lei n. 13.654/2018;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas TEMA COBRADO NO XXV EXAME
126
DA OAB/FGV; III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente
conhece tal circunstância; IV - se a subtração for de veículo automotor que venha
a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; V - se o agente mantém
a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade, VI – se a subtração for de
substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

sua fabricação, montagem ou emprego; VII - se a violência ou grave ameaça é exercida


com emprego de arma branca; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

A pena aumenta-se de dois terços (§ 2º-A): I – se a violência ou ameaça é exercida com


emprego de arma de fogo (Incluído pela Lei nº 13.654/2018); II – se há destruição ou
rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo
que cause perigo comum (Incluído pela Lei nº 13.654/2018).

Por outro lado, se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de
fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput.

Resumindo:
Roubo com arma branca – Causa de aumento da pena de 1/3 até a metade.
Roubo com arma de fogo – Causa de aumento da pena de 2/3
Roubo com arma de fogo de uso restrito – Pena em dobro.

• O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige


fundamentação concreta, não sendo sufciente para a sua exasperação a mera indicação do
número de majorantes (Súmula n. 443 do STJ). TEMA COBRADO NO XVII EXAME DA
OAB/FGV.
• A Súmula n. 174 do STJ estabelecia que, no crime de roubo, a intimidação com arma de
brinquedo autorizava o aumento da pena. Entretanto, a referida súmula foi CANCELADA.

• Ação Penal: pública incondicionada.

19.4.  EXTORSÃO

• Descrição do Tipo (art. 158 do CP): constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica,
a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa. Pena - reclusão, de quatro
a dez anos, e multa.

• O crime de extorsão não se confunde com o crime de constrangimento ilegal (art. 146
do CP), uma vez que no constrangimento ilegal não há fnalidade de obtenção de indevida
vantagem econômica.
• O crime de extorsão também não se confunde com o crime de roubo. Para diferenciá-
los, podemos adotar os seguintes critérios: a) no crime de roubo o agente subtrai o bem,
enquanto que na extorsão o agente faz com que a vítima lhe entregue o bem; b) no crime
de roubo a colaboração da vítima é dispensável, enquanto que na extorsão é indispensável;
c) no crime de roubo a vantagem visada é imediata enquanto que na extorsão a vantagem
é mediata.
127
• Formas qualifcadas (§ 2º e § 3º do art. 158 do CP):
Aplica-se ao crime de extorsão, praticado mediante violência, que resulte lesão grave
ou morte o disposto no § 3º do artigo 157, referente ao roubo qualifcado. Havendo
morte, o crime será considerado hediondo.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima (sequestro


relâmpago), e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica,
a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão
corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º ,
respectivamente, referentes ao crime de extorsão mediante sequestro.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa. Deve haver o dolo específco de obter
indevida vantagem econômica.
• Consumação e tentativa: consuma-se com a exigência da indevida vantagem,
mediante constrangimento da vítima. Trata-se, portanto, de crime formal, ou seja, não
depende da obtenção da vantagem indevida para ser consumado (Súmula n. 96 do
STJ). A tentativa é possível.
• Causa de aumento: se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com
emprego de arma, aumenta-se a pena de 1/3 até 1/2.
• Ação Penal: pública incondicionada.

19.5.  EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO

• Descrição do Tipo (art. 159 do CP): sequestrar pessoa com o fm de obter, para
si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena -
reclusão, de oito a quinze anos.

• Apesar de o tipo penal se referir apenas a sequestro, é evidente que ele engloba também
o cárcere privado.
• O crime de extorsão mediante sequestro é sempre hediondo.
• Se o agente sequestra um animal (cachorro, por exemplo) e exige vantagem econômica,
o crime não será de extorsão mediante sequestro (o tipo se refere a pessoa) e sim de
extorsão (art. 158 do CP).

• Formas qualifcadas (§ 1º, § 2º e § 3º do art. 159 do CP):


Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor
de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por
bando ou quadrilha. Pena - reclusão, de doze a vinte anos.

128
• Se a vítima era menor de 18 anos no início do sequestro e atinge a maioridade durante a
privação da liberdade, ou se a vítima tinha 59 anos e depois completa 60 anos, a qualifcadora
incidirá da mesma forma, já que se trata de crime permanente.
• A nomenclatura bando ou quadrilha (ar. 288 do CP) foi alterada, pela Lei n. 12.850/2013,
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

para a expressão associação criminosa.

Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave. Pena - reclusão, de


dezesseis a vinte e quatro anos.
Se resulta a morte. Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa. Deve haver o dolo específco de obter
indevida vantagem econômica.
• Consumação e tentativa: prevalece o entendimento de que o crime se consuma
com a privação da liberdade da vítima com o intuito de obter a vantagem econômica
indevida, mesmo que a vantagem não chegue a ser exigida ou obtida. Além de formal,
o crime de extorsão mediante sequestro é permanente. A tentativa é possível, quando
o agente não consegue privar a liberdade da vítima TEMA COBRADO NO XII EXAME
DA OAB/FGV.

DICA: Quando se falar em crime permanente, é importante lembrar que: 1) o crime admite
o fagrante a qualquer tempo da permanência (art. 303 do CPP), 2) a prescrição somente
começa a correr após cessada a permanência (art. 111, III, do CP), 3) Lei penal nova cuja
vigência coincide com o período de permanência será aplicada ao caso, ainda que mais
grave (Súmula n. 711 do STF).

• Causa de diminuição da pena (delação efcaz): se o crime é cometido em concurso,


o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado,
terá sua pena reduzida de um a dois terços
• Ação Penal: pública incondicionada.

19.6.  EXTORSÃO INDIRETA

• Descrição do Tipo (art. 160 do CP): exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando
da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a
vítima ou contra terceiro. Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

“B” deve dinheiro a “A”, e este exige que “B” lhe entregue uma carta confessando um crime, que
será utilizada caso o devedor não pague a dívida.

129
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum),
mas é muito comum a prática por agiota. b) sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: se for na modalidade “exigir” o crime é formal, mas se for
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

na modalidade “receber” é material. A tentativa é possível.


• Ação Penal: pública incondicionada.

19.7.  DANO

• Descrição do Tipo (art. 163 do CP): destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia.
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

A res nullius (coisa que nunca teve dono) e a res derelicta (coisa abandonada) não podem ser
objeto de crime de dano, já que não são consideradas coisa alheia. A coisa perdida, por sua vez,
tem dono, de modo quem a danifcar pode responder pelo crime de dano.

• Formas Qualifcadas (parágrafo único do art. 163): o crime de dano será qualifcado se:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça; II - com emprego de substância infamável
ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave; III - contra o patrimônio da União,
de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa
pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos;
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima. Pena - detenção,
de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), b)
sujeito passivo: proprietário do bem.
• Tipo Subjetivo: apenas a modalidade dolosa. Não existe, portanto, crime de dano
culposo TEMA COBRADO NO III EXAME DA OAB/FGV.
• Consumação e tentativa: consuma-se no momento em que o bem é danifcado.
Se o agente objetiva destruir, mas apenas danifca o bem, o crime será consumado.
Tentativa é possível, como no caso em que o agente lança uma granada para destruir
um carro, mas a granada não explode.
• Ação Penal:

• Em se tratando de dano simples ou de dano qualifcado pelo motivo egoístico


ou pelo prejuízo considerável à vítima (inciso IV), a ação penal é privada.
• Nas demais hipóteses de dano qualifcado, ou seja, emprego de violência
contra pessoa ou grave ameaça (I), substância explosiva ou infamável (II) ou
contra bens públicos, concessionárias de serviços públicos ou sociedades de
economia mista (III), a ação é pública incondicionada.

130
AÇÃO PENAL PÚBLICA
AÇÃO PENAL PRIVADA INCONDICIONADA

• DANO SIMPLES • DEMAIS HIPÓTESES DE DANO


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

QUALIFICADO (INCISOS I, II E III)


• DANO QUALIFICADO POR MOTIVO EGOÍSTICO
OU PREJUÍZO CONSIDERÁVEL (IV)

19.8.  INTRODUÇÃO OU ABANDONO DE ANIMAIS EM PROPRIEDADE ALHEIA

• Descrição do Tipo (art. 164 do CP): Introduzir ou deixar animais em propriedade


alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte prejuízo. Pena
- detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum),
mas é muito comum a prática por agiota. b) sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: consuma-se o crime com o efetivo prejuízo (crime material).
A tentativa é possível.
• Ação Penal: ação penal privada.

19.9.  APROPRIAÇÃO INDÉBITA

• Descrição do Tipo (art. 168 do CP): apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem
a posse ou a detenção. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

No crime de apropriação indébita a entrega do bem é livre e consciente pela vítima, diferenciando-
se do estelionato, já que neste a vítima é enganada.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum),
mas é muito comum a prática por agiota, b) sujeito passivo: proprietário, usufrutuário
ou possuidor do bem.

Tratando-se de apropriação indébita contra idoso, haverá o crime específco previsto no art. 102
do Estatuto do Idoso.

• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa. O tipo penal contém o dolo específco
do agente de se apropriar da coisa para si de forma defnitiva, ou seja, a intenção do
agente em não devolver o bem. Em razão do dolo específco, apropriação de uso não
é considerada fato típico.

131
• “A” deixa seu relógio aos cuidados de “B”, para que este realize o seu conserto. “B” se
apropria do bem e o vende para terceiro (crime de apropriação indébita).
• “A” deixa um relógio aos cuidados de “B”, para que este realize o seu conserto. “B” conserta o
relógio, utiliza-o em uma festa como se fosse seu dono, e depois o devolve na data combinada
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

para “A” (apropriação de uso – fato atípico).

• Consumação e tentativa: consuma-se o crime quando o agente começa a se


comportar como dono do bem que lhe foi entregue ou quando se recusa a devolver o
bem. A tentativa é possível, salvo na hipótese de recusa de devolução.
• Causas de aumento de pena: a pena é aumentada de um terço, quando o agente
recebeu a coisa: I - em depósito necessário; II - na qualidade de tutor, curador, síndico,
liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial; III - em razão de
ofício, emprego ou profssão.
• Apropriação Indébita Privilegiada (causa de diminuição de pena): de acordo com o
art. 170 do CP, aplica-se à apropriação indébita o disposto no § 2º do art. 155 do CP,
ou seja o criminoso for primário, e de pequeno valor o bem apropriado, o juiz pode
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou
aplicar somente a pena de multa.
• Ação Penal: pública incondicionada.

19.10.  APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA

• Descrição do Tipo (art. 168-A do CP): deixar de repassar à previdência social as


contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
• Formas equiparadas: nas mesmas penas incorre quem deixar de: I – recolher, no
prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que
tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada
do público; II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham
integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação
de serviços; III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou
valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: responsável por recolher a contribuição à Previdência
Social. b) sujeito passivo: Estado (Previdência Social).
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Extinção da Punibilidade (§ 2º do art. 168-A): é extinta a punibilidade se o agente,
espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições,
importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na
forma defnida em lei ou regulamento, antes do início da ação fscal.
• Perdão judicial: é facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de
multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: I – tenha promovido,
após o início da ação fscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição
social previdenciária, inclusive acessórios; II – o valor das contribuições devidas,
132
inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social,
administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fscais.
• Ação Penal: pública incondicionada.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

19.11.  APROPRIAÇÃO DE COISA HAVIDA POR ERRO, CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR

• Descrição do Tipo (art. 169 do CP): apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao
seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza. Pena - detenção, de um mês a
um ano, ou multa.

• “A”, que tem o mesmo nome de “B”, recebe um depósito em sua conta corrente de “C”,
que se confundiu em razão da similitude nominal, incidindo em erro. Se “B”, sabendo do
equívoco, se apropriar do valor depositado, cometerá o crime do art. 169 do CP.
• Tempestade (força maior) leva objetos da casa de “A” para a casa do seu vizinho “B”. Se
“B” se apropriar desses objetos, mesmo sabendo que são de seu vizinho, cometerá o crime
do art. 169 do CP.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:


qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Ação Penal: pública incondicionada.

19.12.  APROPRIAÇÃO DE TESOURO

• Descrição do Tipo (art. 169, parágrafo único, I, do CP): quem acha tesouro em prédio
alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprietário do
prédio. Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Jardineiro presta serviço em uma casa e descobre um baú de moedas valiosas enterradas
no quintal. Se o jardineiro se apropriar das moedas sem comunicar ao dono do imóvel e lhe
entregar sua cota parte, responderá pelo crime do parágrafo único do art. 169, parágrafo
único, I, do CP.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). b) sujeito passivo:


proprietários do prédio.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Ação Penal: pública incondicionada.

133
19.13.  APROPRIAÇÃO DE COISA ACHADA

• Descrição do Tipo (art. 169, parágrafo único, I, do CP): quem acha coisa alheia
perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro do prazo de 15


dias. Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

• O crime se caracteriza quando o objeto apropriado é esquecido por alguém em local


público. Se o bem apropriado for esquecido em local privado (ex: relógio esquecido em um
provador de uma loja) o crime será de furto.
• Se o objeto apropriado tiver sido abandonado propositalmente por alguém, o fato será
atípico, já que a coisa, ao ser abandonada, deixa de ser alheia.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). b) sujeito passivo:


proprietários do bem esquecido.
• Consumação: trata-se de crime de prazo, ou seja, o crime será consumado após o
transcurso de 15 dias na posse do bem, salvo se o agente tomar conduta incompatível
com a possibilidade de devolução, como proceder à venda o bem apropriado. A
tentativa é possível.

Se o agente devolver o bem antes do prazo de 15 dias, o fato será atípico.

• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.


• Ação Penal: pública incondicionada.

19.14.  ESTELIONATO

• Descrição do Tipo (art. 171, caput, do CP): obter, para si ou para outrem, vantagem
ilícita em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício,
ardil, ou qualquer outro meio fraudulento. Pena — reclusão, de um a cinco anos, e multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). b) sujeito passivo:
qualquer pessoa.
• Consumação: consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita, com prejuízo alheio.
A tentativa é possível.

134
DICA:
• O estelionato é um crime material (exige a obtenção da vantagem ilícita para se consumar)
e de duplo resultado (prejuízo da vítima e vantagem do agente).
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• O furto mediante fraude não se confunde com o crime de estelionato, já que no primeiro o
agente emprega fraude para enganar a vítima e subtrair o bem sem que ela perceba (exemplo:
agente que se faz passar por técnico de TV a cabo, entra na casa da vítima e, sem que ela
perceba, furta determinado bem), enquanto que no estelionato a vítima, após ser enganada,
entrega voluntariamente o bem ao agente TEMA COBRADO NO XXXVII EXAME DA OAB/
FGV.
• Súmula nº 17 do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade
lesiva, é por este absorvido”. TEMA COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV.

• Tipo Subjetivo: consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita, com prejuízo alheio.
A tentativa é possível.
• Causas de aumento de pena (§ 3º e § 4º): a) a pena aumenta-se de um terço, se
o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de
economia popular, assistência social ou benefcência, b) Aplica-se a pena em dobro se
o crime for cometido contra idoso.
• Estelionato privilegiado: de acordo com o art. 171, § 1º, do CP, se o criminoso é
primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o
disposto no art. 155, § 2º, ou seja, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de
detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
• Ação Penal: pública condicionada à representação, salvo: se a vítima for:
I - a Administração Pública, direta ou indireta; (Incluído pela Lei nº 13.964/19)
II - criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº 13.964/19)
III - pessoa com defciência mental; ou (Incluído pela Lei nº 13.964/19)
IV - maior de 70 anos de idade ou incapaz. (Incluído pela Lei nº 13.964/19

A Lei n. 14.155/21, inseriu o § 2º-A ao art. 171 do CP, tratando da qualifcadora do estelionato
mediante fraude eletrônica e os parágrafos 2º-B e 4º, prevendo causas de aumento de pena
no caso de o crime ser praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território
nacional ou se cometido contra idoso ou vulnerável.
Outra alteração muito importante diz respeito à competência.
A Lei n. 14.155/21 alterou a redação do § 4º do art. 70 do CP dispondo que, se o crime de
estelionato for praticado mediante depósito, mediante emissão de cheques sem sufciente
provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante
transferência de valores, a competência será defnida pelo local do domicílio da vítima e, em
caso de pluralidade de vítimas, a competência frmar-se-á pela prevenção.

135
19.15.  ABUSO DE INCAPAZ

• Descrição do Tipo (art. 173 do CP): abusar, em proveito próprio ou alheio, de


necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir


efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro. Pena - reclusão, de dois a seis
anos, e multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: menor
de 18 anos, salvo o emancipado, ou pessoa com defciência mental.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.

19.16.  FRAUDE NO COMÉRCIO

• Descrição do Tipo (art. 175): enganar, no exercício de atividade comercial, o


adquirente ou consumidor: I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria
falsifcada ou deteriorada; II - entregando uma mercadoria por outra: Pena - detenção,
de seis meses a dois anos, ou multa.
• Forma qualifcada: alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de
metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor
valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, como precioso, metal de ou outra
qualidade. Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: empresário (crime próprio), b) sujeito passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Forma privilegiada: se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz
pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º, do CP.
• Ação penal: pública incondicionada.

19.17.  OUTRAS FRAUDES

• Descrição do Tipo (art. 176 do CP): tomar refeição em restaurante, alojar-se em


hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o
pagamento. Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.

O crime exige que o agente não tenha dinheiro. Se o agente possuir recursos para pagar a conta
e recusar fazê-lo por algum motivo, não gostaram do serviço, por exemplo, o fato é atípico.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:


qualquer empresário.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Ação penal: somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as
circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
136
19.18.  FRAUDE À EXECUÇÃO

• Descrição do Tipo: fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danifcando


bens, ou simulando dívidas. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:


qualquer empresário.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Ação penal: somente se procede mediante queixa, salvo se atingir execução
promovida pela União, Estado ou Município, hipótese em que ação será pública
incondicionada (art. 24, § 2º, do Código de Processo Penal).

19.19.  RECEPTAÇÃO

• Descrição do Tipo (art.180 do CP): adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em


proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou infuir para que terceiro,
de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

DICAS:
• A receptação na modalidade adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito
próprio ou alheio, é classifcada como receptação própria (crime formal). Já na modalidade
infuir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte é denominada de receptação
imprópria (crime material).
• A receptação é o único crime contra o patrimônio que a admite a forma culposa.
• A receptação é considerada um crime parasitário ou acessório, já que depende de um
crime anterior.
• A receptação será punível mesmo que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de
que proveio a coisa (art. 180, § 4º, do CP).
• Na receptação a coisa deve ser produto de crime. Se for produto de contravenção penal,
não haverá o crime de receptação.
• Quem adquire CD pirata com intuito de lucro (camelô, por exemplo) comete o crime
específco do art. 184, § 2º, do CP (violação de direito autoral), mas o consumidor que adquire
o produto pirata comete o crime de receptação.
• O advogado que recebe produto de crime como pagamento pelos serviços prestados para
o criminoso comete crime de receptação.

• Formas qualifcadas:

Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar,


montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
coisa que deve saber ser produto de crime. Pena - reclusão, de três a oito anos,
e multa (§ 1º do art. 180).
137
Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência (§ 2º do art. 180 do CP).
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de


Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de
economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos, aplica-se em
dobro a pena prevista no caput deste artigo (§ 6º do art. 180, com redação dada
pela Lei nº 13.531, de 2017).

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), salvo no caso da


receptação qualifcada, em que o sujeito ativo deve ser comerciante (crime próprio) b)
sujeito passivo: qualquer empresário.
• Tipo Subjetivo: único crime contra o patrimônio que admite a forma dolosa e culposa.
• Receptação culposa (§ 3º): adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou
pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve
presumir-se obtida por meio criminoso. Pena - detenção, de um mês a um ano, ou
multa, ou ambas as penas.
• Causas de aumentos (§ 6º): tratando-se de bens e instalações do patrimônio da
União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade
de economia mista, a pena prevista no caput deste artigo aplica-se em dobro.
• Consumação e tentativa: a receptação própria é crime material e se consuma com a
produção do resultado (adquirir, transportar, etc), admitindo tentativa. Já a receptação
imprópria é um crime formal, se consuma quando o agente infuiu terceiro de boa-fé,
e não admite tentativa.
• Ação penal: pública incondicionada.

19.20.  RECEPTAÇÃO DE ANIMAIS

O art. 180-A do CP foi acrescentado pala Lei nº 13.330/2016 e pune especifcamente a receptação
de semoventes domesticáveis de produção com fnalidade de produção ou comercialização.

• Descrição dotipo: adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou


vender, com a fnalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável
de produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de
crime: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:
qualquer empresário.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Ação penal: pública incondicionada.

19.21.  IMUNIDADES

138
• IMUNIDADES ABSOLUTAS OU ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS (art. 181 do CP): é isento
de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do
cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja
o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

“A” pratica furto em face de seu próprio pai. Neste caso, incide a escusa absolutória prevista no
art. 181 e “A” será isento de pena.

• IMUNIDADES RELATIVAS (art. 182 do CP): somente se procede mediante


representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo: I - do cônjuge
desquitado ou judicialmente separado; II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; III - de tio ou
sobrinho, com quem o agente coabita.

Se “A” pratica furto em face de seu irmão “B”, a ação penal dependerá de representação
da vítima.

• EXCLUSÃO DAS IMUNIDADES (art. 183): não se aplicam as imunidades ora


estudadas (absoluta e relativa): I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em
geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; II - ao estranho
que participa do crime; III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos TEMA COBRADO NO XVII EXAME DA OAB/FGV

No caso do inciso II do art. 183 do CP, se o flho, com a ajuda de seu vizinho, furta o seu próprio
pai, a escusa absolutória não se aplica ao vizinho.

139
20

20.  CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE INTELECTUAL


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

20.1.  VIOLAÇÃO DE DIREITO INTELECTUAL

O art. 184 do CP é considerada uma norma penal em branco, complementada pela Lei n.
9.610/98, cujo estudo é importante para a compreensão do tema.

• Descrição do Tipo (art. 184, caput, do CP): violar direitos de autor e os que lhe são
conexos. Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Entende-se por direito autoral o conjunto de direitos materiais e morais que o autor detém
sobre a obra que produz. Desse modo, o verbo “violar” do tipo penal possui signifcado amplo e
abrange atos como plágio, utilização indevida, reprodução não autorizada da obra e até mesmo
a produção de exemplares e edições em número superior ao que autorizado pelo autor.

• Formas qualifcadas: os parágrafos 1º, 2º e 3º do artigo 184 do CP preveem três


formas qualifcadas, todas com pena de reclusão de 2 a 4 anos e multa.

§ 1º do art. 184 - Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com


intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra
intelectual, interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa
do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou
de quem os represente.
§ 2º do art. 184 - Quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui,
vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito,
original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do
direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do
produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou
fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem
os represente.
§ 3º do art. 184 - Quem oferecer ao público, mediante cabo, fbra ótica, satélite,
ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção
da obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar previamente
determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto ou
indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do artista
intérprete ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem os represente

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: titular
dos direitos autorais.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.

140
• Consumação: consuma-se no momento da violação. Admite-se a tentativa em todos
os casos.
• Ação penal: o tipo da ação penal varia de acordo com a fgura típica do crime:
Ação penal privada no caso da modalidade simples prevista no caput do art.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

184 do CP.
Ação penal pública incondicionada nas modalidades qualifcadas dos § §s 1º e
2º do art. 184 do CP.
Ação penal pública condicionada à representação na modalidade qualifcada do
§ 3º do art. 184 do CP.

• Atipicidade: o art. 46 da Lei n. 9.610/98 elenca diversas situações em que não haverá
ofensa a direitos autorais, ou seja, condutas que são atípicas.

Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:

I - a reprodução:

a) na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em


diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação
de onde foram transcritos;

b) em diários ou periódicos, de discursos pronunciados em reuniões públicas de


qualquer natureza;

c) de retratos, ou de outra forma de representação da imagem, feitos sob encomenda,


quando realizada pelo proprietário do objeto encomendado, não havendo a oposição da
pessoa neles representada ou de seus herdeiros;

d) de obras literárias, artísticas ou científcas, para uso exclusivo de defcientes visuais,


sempre que a reprodução, sem fns comerciais, seja feita mediante o sistema Braille ou
outro procedimento em qualquer suporte para esses destinatários;

II - a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado do copista,


desde que feita por este, sem intuito de lucro;

III - a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação,


de passagens de qualquer obra, para fns de estudo, crítica ou polêmica, na medida
justifcada para o fm a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra;

IV - o apanhado de lições em estabelecimentos de ensino por aqueles a quem elas se


dirigem, vedada sua publicação, integral ou parcial, sem autorização prévia e expressa
de quem as ministrou;

V - a utilização de obras literárias, artísticas ou científcas, fonogramas e transmissão de


rádio e televisão em estabelecimentos comerciais, exclusivamente para demonstração
à clientela, desde que esses estabelecimentos comercializem os suportes ou
equipamentos que permitam a sua utilização;

VI - a representação teatral e a execução musical, quando realizadas no recesso familiar


ou, para fns exclusivamente didáticos, nos estabelecimentos de ensino, não havendo
em qualquer caso intuito de lucro;
141
VII - a utilização de obras literárias, artísticas ou científcas para produzir prova judiciária
ou administrativa;

VIII - a reprodução, em quaisquer obras, de pequenos trechos de obras preexistentes,


de qualquer natureza, ou de obra integral, quando de artes plásticas, sempre que a
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

reprodução em si não seja o objetivo principal da obra nova e que não prejudique a
exploração normal da obra reproduzida nem cause um prejuízo injustifcado aos
legítimos interesses dos autores.

Art. 47. São livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da
obra originária nem lhe implicarem descrédito.

DICAS:
• A venda de produto pirata é fato típico, não se aplicando o princípio da insignifcância ou
adequação social (Súmula n. 502 do STJ). Assim, se “A” é pego vendendo CDs piratas, sua
conduta se amolda ao art. 184 do CP, não podendo alegar que os produtos comercializados
são de pequeno valor (insignifcância) ou que sua conduta é socialmente tolerada.
• Para a caracterização do crime do art. 184 do CP, não há necessidade de perícia minuciosa
em cada bem apreendido nem identifcação individualizada dos titulares dos direitos autorais
violados, bastando a análise das características externas do material (Súmula n. 574 do STJ).
Sendo assim, se “A” estiver comercializando DVDs pitaras, não há necessidade da realização
de perícia em cada um dos DVDs apreendidos nem a identifcação dos titulares dos direitos
autorais de cada produto, sob pena de inviabilizar a atividade policial e a condenação do
criminoso. No caso, basta a identifcação externa de que os produtos são falsifcados para
que a conduta de “A” seja típica.
• Quem adquire produto pirata para revender (camelô, por exemplo) comete o crime
específco do art. 184, § 2º, do CP (violação de direito autoral), mas o consumidor que adquire
o produto, sem intenção de lucro comete o crime de receptação.

142
21

21.  CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

21.1.  ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE TRABALHO

• Descrição do Tipo (art. 197 do CP): constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça: I - a exercer ou não exercer arte, ofício, profssão ou indústria, ou a trabalhar
ou não trabalhar durante certo período ou em determinados dias (Pena - detenção, de
um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência); II - a abrir ou
fechar o seu estabelecimento de trabalho, ou a participar de parede ou paralisação de
atividade econômica (pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:
qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que a vítima cede à
exigência do sujeito ativo, exercendo ou deixando de exercer a atividade determinada
pelo infrator. A tentativa é possível se a vítima, apesar de constrangida, não cede à
exigência do infrator.
• Ação penal: pública incondicionada.

Em que pese o art. 109, VI, da CF disponha que compete à Justiça Federal processar e julgar os
crimes contra a organização do trabalho, a jurisprudência majoritária do STF e do STJ entende que
a competência da Justiça Federal se materializa apenas quando o crime ofender a organização
geral do trabalho ou direitos dos trabalhadores considerados coletivamente. Quando se tratar de
trabalhador atingido de forma individual, a competência será da Justiça Estadual

21.2.  ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE CONTRATO DE TRABALHO OU


BOICOTAGEM VIOLENTA

• Descrição do Tipo (art. 198 do CP): constranger alguém, mediante violência ou


grave ameaça, a celebrar contrato de trabalho, ou a não fornecer a outrem ou a não
adquirir de outrem matéria- prima ou produto industrial ou agrícola. Pena — detenção,
de um mês a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

Tipo penal possui duas fguras típicas: a) constranger mediante violência ou grave ameaça
alguém a celebrar contrato de trabalho e b) constranger alguém mediante violência ou grave
ameaça a não fornecer ou não adquirir matéria prima ou produto industrial ou agrícola, o que
se denomina de boicotagem.

143
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:
qualquer pessoa e, no caso da boicotagem, o empresário é vítima indireta do crime.
• Tipo Subjetivo: Apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: No caso da primeira parte do tipo, o crime se consuma
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

quando o trabalhador celebra o contrato de trabalho. Já na boicotagem, o crime se


consuma no momento em que a vítima não fornece ou adquire a mercadoria. A tentativa
é possível se a vítima, apesar de constrangida, não cede à exigência do infrator.
• Ação penal: Pública incondicionada.

21.3.  ATENTADO CONTRA A LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO

• Descrição do Tipo (art. 199 do CP): constranger alguém, mediante violência


ou grave ameaça, a participar ou deixar de participar de determinado sindicato ou
associação profssional. Pena — detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:
qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que a vítima cede à
exigência do sujeito ativo, integrando ou deixando de integrar sindicato ou associação. A
tentativa é possível se a vítima, apesar de constrangida, não cede à exigência do infrator.
• Ação penal: pública incondicionada.

21.4.  PARALISAÇÃO DE TRABALHO SEGUIDA DE VIOLÊNCIA OU PERTURBAÇÃO


DA ORDEM

• Descrição do Tipo (art. 200 do CP): participar de suspensão ou abandono coletivo de


trabalho, praticando violência contra pessoa ou coisa. Pena — detenção, de um mês a
um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

A suspensão do trabalho é feita pelo empregador (lockout) enquanto que o abandono se refere
à greve dos trabalhadores. Trata-se de crime de concurso necessário, já que, para que se
considere coletivo o abandono de trabalho, o parágrafo único do art. 200 do CP dispõe que é
indispensável o concurso de, pelo menos, três empregados.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: no caso de greve os sujeitos ativos são os empregados e


no caso de lockout os empregadores, b) sujeito passivo: a pessoa atingida ou, no caso
violência contra a coisa, o seu proprietário.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que for empregada
a violência. A tentativa é possível quando os infratores não conseguirem usar a
violência, por razões alheias às suas vontades (Ex.: chegada da polícia). 144
• Ação penal: pública incondicionada.

21.5.  INVASÃO DE ESTABELECIMENTO INDUSTRIAL, COMERCIAL OU AGRÍCOLA.


SABOTAGEM
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Descrição do Tipo (art. 202 do CP): invadir ou ocupar estabelecimento industrial,


comercial ou agrícola com o intuito de impedir ou embaraçar o curso normal do
trabalho, ou com o mesmo fm danifcar o estabelecimento ou as coisas nele existentes
ou delas dispor. Pena — reclusão, de um a três anos, e multa.

O crime engloba duas fguras típicas: a) invadir ou ocupar com intuito de impedir ou embaraçar
o curso normal do trabalho e b) danifcar o estabelecimento ou as coisas nele existentes ou
delas dispor com intuito de impedir ou embaraçar o curso normal do trabalho (sabotagem). Em
ambos os casos, só haverá crime se a conduta for praticada com o fm específco de impedir ou
embaraçar o curso normal do trabalho. Não havendo esse fm específco, não há que se falar
no crime do art. 202 do CP, podendo caracterizar crime comum (ex.: violação de domicílio, dano,
apropriação indébita, etc.).

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:


coletividade e empresário.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que ocorre a
invasão, ocupação, danifcação ou disposição do bem, sem a necessidade de prejuízo
da atividade empresarial (crime formal). A tentativa é possível se o infrator não
conseguir invadir, ocupar, danifcar ou dispor da coisa por circunstâncias alheias à
sua vontade.
• Ação penal: pública incondicionada.

21.6.  FRUSTRAÇÃO DE DIREITO ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA

• Descrição do Tipo (art. 203 do CP): frustrar, mediante fraude ou violência, direito
assegurado pela legislação do trabalho: Pena — detenção, de um a dois anos, e multa,
além da pena correspondente à violência.

O crime disposto no art. 203 do Código Penal é considerado norma penal em branco, uma vez
que os direitos trabalhistas estão previstos em outras leis e na própria Constituição Federal.

• Forma equiparada: na mesma pena incorre quem: I - obriga ou coage alguém a usar
mercadorias de determinado estabelecimento, para impossibilitar o desligamento
do serviço em virtude de dívida; II - impede alguém de se desligar de serviços de
qualquer natureza, mediante coação ou por meio da retenção de seus documentos
pessoais ou contratuais.
145
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:
qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Causa de aumento de pena: A pena é aumentada de um sexto a um terço se a vítima
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

é menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de defciência física


ou mental.
• Consumação e tentativa: no momento em que o direito é frustrado. A tentativa é
possível se, apesar da conduta do agente, o direito não for frustrado.
• Ação penal: pública incondicionada.

21.7.  EXERCÍCIO DE ATIVIDADE COM INFRAÇÃO DE DECISÃO ADMINISTRATIVA

• Descrição do Tipo (art. 205 do CP): exercer atividade, de que está impedido por
decisão administrativa. Pena — detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pessoa que viola decisão administrativa (crime própria), b)
sujeito passivo: Estado.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre pela reiteração de atos (crime
habitual) que demonstrem o exercício da atividade vedada administrativamente. Não
admite tentativa, porque se trata de crime habitual.
• Ação penal: pública incondicionada.

DICAS:
• Se o agente exercer profssão para qual nunca foi habilitado, haverá a prática de
contravenção de exercício ilegal de profssão ou atividade (art. 47 da LCP), salvo se exercer
ilegalmente medicina, arte dentária ou farmacêutica, já que haverá a prática do crime do art.
282 do CP.
• Se o agente exercer atividade da qual está impedido por decisão judicial, haverá o crime
específco previsto no art. 359 do Código Penal, salvo quando se trata de exercício ilegal de
função pública por parte de quem foi exonerado, removido, substituído ou suspenso, hipótese
em que haverá a prática do crime do art. 324 do Código Penal.

146
22

22.  CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

É importante destacar que algumas características são comuns para todos os crimes contra a
dignidade sexual: a) Com a Lei n. 13.718/18 todos os crimes contra a dignidade sexual passaram a
ser de ação pública incondicionada, b) conforme previsto no art. 234-B do Código Penal, os processos
que apuram crimes contra a dignidade sexual correm em segredo de justiça e c) conforme previsto
nos artigos 226 e 234-A do CP, que também sofreram alterações com a Lei n. 13.718/18, os crimes
contra a dignidade sexual terão a pena aumentada com base nos seguintes critérios:

AUMENTO
AMENTO DE 1/3 DE 1/3 (UM
AUMENTO DE AUMENTO DE (UM TERÇO) TERÇO) A
1/4 1/2 A 2/3 (DOIS 2/3 (DOIS
TERÇOS) TERÇOS

• Se o crime é • Se o agente • Se o agente • Estupro


cometido com é ascendente, transmite à Coletivo
concurso de padrasto ou vítima doença
duas ou mais madrasta, tio, sexualmente • Estupro
pessoas. irmão, cônjuge, transmissível de Corretivo
companheiro, que sabe ou deveria
tutor, curador, saber ser portador,
preceptor ou ou se a vítima é
empregador idosa ou pessoa
da vítima ou com defciência
por qualquer
outro título
tem autoridade
sobre ela.

• Se resulta
gravidez

22.1.  CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

22.1.1.  ESTUPRO

• 
Descrição do Tipo (art. 213 do CP): constranger alguém, mediante violência ou


grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique
outro ato libidinoso. Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
• Forma qualifcada TEMA COBRADO NO XIII EXAME DA OAB/FGV
• Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima
é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8
(oito) a 12 (doze) anos.
• Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
147
• Se a vítima for menor de 14 anos, haverá a prática crime de estupro de vulnerável (art.
217-A), mesmo que não haja emprego de violência ou grave ameaça, uma vez que a violência
é presumida.
• As fguras qualifcadas são de caráter preterdoloso, de modo que a lesão grave ou morte
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

ocorrem de forma culposa. Havendo dolo em relação à lesão corporal ou morte, o agente
responderá pelo crime de estupro em concurso material com o crime de lesão corporal ou
homicídio.
• O crime de estupro, na forma simples ou qualifcada, é considerado crime hediondo (art.
1º, V, da Lei n. 8.072/90)

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:


qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Causas de aumento: conforme previsto nos artigos 226 e 234-A do CP, os crimes
contra a dignidade sexual terão a pena aumentada: I – de quarta parte, se o crime é
cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas e II – de metade, se o agente
é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador,
preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre
ela; III - de 2/3, se do crime resultar gravidez; IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços),
se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou
deveria saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com defciência; V - de
1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado: a) mediante concurso de 2
(dois) ou mais agentes (estupro coletivo); b) para controlar o comportamento social
ou sexual da vítima (Estupro preventivo).
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a conjunção carnal ou com
a prática do ato libidinoso. A tentativa é possível se, apesar da violência ou grave
ameaça, não há a conjunção carnal ou o ato libidinoso TEMA COBRADO NO VII
EXAME DA OAB/FGV.
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.

22.1.2.  VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE TEMA COBRADO NO XIII EXAME


DA OAB/FGV.

• Descrição do Tipo (art. 215 do CP): ter conjunção carnal ou praticar outro ato
libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou difculte a livre
manifestação de vontade da vítima. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos e, se o
crime é cometido com o fm de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:
qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Causas de aumento: aplicam-se as causas de aumento de pena previstas nos artigos
226 e 234-A do CP.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a conjunção carnal ou com a
prática do ato libidinoso. A tentativa é possível
148
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.

22.1.3.  IMPORTUNAÇÃO SEXUAL


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Descrição do Tipo (art. 215-A do CP): praticar contra alguém e sem a sua anuência
ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro. Pena -
reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:
qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Causas de aumento: a pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de
18 (dezoito) anos. Além disso, aplicam-se as demais causas de aumento previstas nos
artigos 226 e 234-A do CP
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento da conduta do ato
libidinoso. A tentativa é possível.
• Ação penal: ação pública incondicionada.

• O crime de importunação sexual foi inserido no código penal a partir da Lei nº 13.718/2018,
visando punir as condutas libidinosas contra terceiros, como nos casos noticiados pela
mídia de sujeitos que se masturbavam e ejaculavam em passageiros de ônibus. Antes, esse
tipo de conduta era enquadrada na contravenção penal chamada de importunação ofensiva
ao pudor (art. 61 da Lei de Contravenções penai), que foi revogada pela Lei nº 13.718/2018.
• Se o ato libidinoso não se destinar a uma vítima determinada, como no caso da masturbação
em público sem ofender pessoa específca, o ato poderá confgurar o crime de ato obsceno
(art. 233 do C).

22.1.4.  ASSÉDIO SEXUAL

• Descrição do Tipo (art. 216-A do CP): constranger alguém com o intuito de obter
vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de
superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou
função. Pena — detenção, de um a dois anos
• Sujeitos: a) sujeito ativo: superior hierárquico da vítima (crime próprio), b) sujeito
passivo: qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Causas de aumento: a pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de
18 (dezoito) anos. Além disso, aplicam-se as demais causas de aumento previstas nos
artigos 226 e 234-A do CP
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento da conduta do assédio,
independentemente do resultado (crime formal). A tentativa é possível, como no caso
do assédio praticado por bilhete interceptado.
149
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.

22.2.  CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

22.2.1.  ESTUPRO DE VULNERÁVEL

• Descrição do Tipo (art. 217-A do CP): ter conjunção carnal ou praticar outro ato
libidinoso com menor de 14 anos: Pena — reclusão, de oito a quinze anos.
• Forma equiparada: incorre nas mesmas penas quem pratica as ações descritas no
caput com alguém que, por enfermidade ou doença mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência.

• O conceito de vulnerável, portanto, abrange os menores de 14 anos, os que, por enfermidade


ou doença mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, assim como
os que, por qualquer outra causa, não podem oferecer resistência (idade avançada, pessoa
desmaiada, pessoa embriagada completamente, em coma, etc). TEMA COBRADO NOS
EXAME XX E XXXV DA OAB/FGV.
• Súmula 593-STJ: O crime de estupro de vulnerável se confgura com a conjunção carnal ou
prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da
vítima para a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento
amoroso com o agente. TEMA COBRADO NOS EXAMES XXXI E XXXVII DA OAB

• Forma majorada:

• Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave. Pena — reclusão,


de dez a vinte anos.
• Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

• As fguras qualifcadas são de caráter preterdoloso, de modo que a lesão grave ou morte
ocorrem de forma culposa. Havendo dolo em relação à lesão corporal ou morte, o agente
responderá por estupro de vulnerável em concurso material com o crime de lesão corporal
ou homicídio.
• O crime de estupro, na forma simples ou qualifcada, é considerado crime hediondo (art.
1º, VI, da Lei n. 8.072/90)

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum); b) sujeito passivo:


qualquer pessoa vulnerável.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Causas de aumento: a pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de
18 (dezoito) anos. Além disso, aplicam-se as demais causas de aumento previstas nos
artigos 226 e 234-A do CP
150
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a conjunção carnal ou com
a prática do ato libidinoso. A tentativa é possível se, apesar da violência ou grave
ameaça, não há a conjunção carnal ou o ato libidinoso.

• Ação penal: ação penal pública incondicionada.


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

A Lei nº 13.718/2018 acrescentou o § 5º ao art. 217 do CP, dispondo que as penas previstas
no artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter
mantido relações sexuais anteriormente ao crime.

22.2.2.  CORRUPAÇÃO DE MENORES

• Descrição do Tipo (art. 218 do CP): induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a
satisfazer a lascívia de outrem. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: menor
de 14 anos de idade.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Causas de aumento: aplicam-se as causas de aumento previstas nos artigos 226 e
234-A do CP.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que o ato é realizado,
mesmo que o terceiro não tenha fcado sexualmente satisfeito. A tentativa é possível.
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.

DICA: Não confundir o crime de corrupção de menores previsto no art. 218 do CP com o crime
de corrupção de menores previsto no art. 244-B do ECA, já que neste último caso o crime se
caracteriza quando o agente corrompe pessoa menor de 18 anos para praticar infração penal.

22.2.3.  SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE CRIANÇA


OU ADOLESCENTE

• Descrição do Tipo (art. 218-A do CP): praticar, na presença de alguém menor de


14 anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fm de
satisfazer a lascívia própria ou de outrem. Pena — reclusão, de dois a quatro anos.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: menor
de 14 anos de idade.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Causas de aumento: aplicam-se as causas de aumento previstas nos artigos 226 e
234-A do CP.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que o ato é realizado
na presença do menor de 14 anos. A tentativa é possível quando, por exemplo, o
agente induz a vítima a presenciar determinado ato sexual, mas o ato não é praticado
por circunstancias alheias a sua vontade.
151
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.

22.2.4.  FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA FORMA DE


EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU DE VULNERÁVEL
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Descrição do Tipo (art. 218-B do CP): submeter, induzir ou atrair à prostituição ou


outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 anos ou que, por enfermidade ou
defciência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la,
impedir ou difcultar que a abandone. Pena — reclusão, de quatro a dez anos.
• Formas equiparadas: incorre nas mesmas penas: I — quem pratica conjunção carnal
ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 e maior de 14 anos na situação
descrita no caput deste artigo (pune-se, portanto, o cliente que faz o programa com a
vítima menor de 18 anos e maior de 14 anos. Se a vítima for menor de 14 anos, haverá
o crime de estupro de vulnerável); II — o proprietário, o gerente ou o responsável
pelo local em que se verifquem as práticas referidas no caput deste artigo (pune-se,
portanto, os envolvidos na casa de prostituição ou show).
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: menor
de 18 anos de idade.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Causas de aumento: aplicam-se as causas de aumento previstas nos artigos 226 e
234-A do CP.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre quando a vítima passa a ser explorada
sexualmente. A tentativa é possível.
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.

22.2.5.  DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA DE ESTUPRO DE


VULNERÁVEL, DE CENA DE SEXO OU DE PORNOGRAFIA

• Descrição do Tipo (art. 218-C): oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender


ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por
meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografa,
vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de
vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da
vítima, cena de sexo, nudez ou pornografa. Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos,
se o fato não constitui crime mais grave.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:
qualquer pessoa, mas, se a vítima for criança ou adolescente haverá a prática do
crime do art. 241 ou o do art. 241-A do ECA.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa, não se exigindo dolo específco.
• Causas de aumento: a pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o
crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto
com a vítima ou com o fm de vingança ou humilhação
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que um dos atos
previsto no tipo é praticado.
152
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.
• Excludente de ilicitude: não há crime quando o agente pratica as condutas descritas
no caput deste artigo em publicação de natureza jornalística, científca, cultural ou
acadêmica com a adoção de recurso que impossibilite a identifcação da vítima,
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

ressalvada sua prévia autorização, caso seja maior de 18 (dezoito) anos.

O crime sob análise foi inserido no código penal a partir da Lei nº 13.718/2018, visando punir
as condutas corriqueiras de transmissão e divulgação de cenas de estupro ou estupro de
vulnerável ou, sem consentimento da vítima, de sexo e de nudez. Se o crime for praticado
contra pessoa que o agente tenha mantendo relação íntima ou de afeto (ex-mulher, namorada,
etc) ou por vingança (“revenge porn”), a pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços).

22.3.  LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO OU


OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

22.3.1.  MEDIAÇÃO PARA SATISFAZER A LASCÍVIA DE OUTREM

• Descrição do Tipo (art. 227 do CP): induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem.
Pena — reclusão, de um a três anos.
• Formas qualifcadas:
• Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o
agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou
curador ou pessoa a quem esteja confada para fns de educação, de tratamento
ou de guarda. Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
• Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude.
Pena- reclusão, de dois a oito anos, além da pena correspondente à violência.

SE a vítima for menor de 14 anos de idade, o agente pratica o crime de corrupção de menores.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:


qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em a vítima realiza
o ato, mesmo que o terceiro não tenha fcado sexualmente satisfeito. A tentativa é
possível quando a vítima é induzida, mas não realiza o ato sexual.
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.

22.3.2.  FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE


EXPLORAÇÃO SEXUAL

153
• Descrição do Tipo (art. 228 do CP): induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra
forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou difcultar que alguém a abandone.
Pena — reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
• Formas qualifcadas:
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge,


companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se
assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância.
Pena — reclusão, de três a oito anos.
• Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude.
Pena — reclusão, de quatro a dez anos, além da pena correspondente à violência.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:
qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.

22.3.3.  CASA DE PROSTITUIÇÃO

• Descrição do Tipo: manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em


que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do
proprietário ou gerente. Pena — reclusão, de dois a cinco anos
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:
pessoas exploradas sexualmente no estabelecimento e a coletividade.
• Tipo Subjetivo: Apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com o funcionamento do
estabelecimento, tratando-se de crime habitual e permanente. Sendo crime habitual,
a tentativa não é admitida.
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.

Entende-se majoritariamente que o fato de não existir resistência da sociedade em relação


às casas de prostituição não retira a tipicidade do fato, ou seja, não se aplica o princípio da
adequação social.

22.3.4.  RUFIANISMO

• Descrição do Tipo (art. 230 do CP): tirar proveito da prostituição alheia, participando
diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a
exerça. Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa.
• Formas qualifcadas:
• Se a vítima é menor de 18 e maior de 14 anos ou se o crime é cometido por
ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor

154
ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu por lei ou outra
forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: Pena — reclusão, de três a
oito anos, e multa.
• Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça, fraude ou
outro meio que impeça ou difculte a livre manifestação da vontade da vítima. Pena
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

— reclusão, de dois a oito anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo:


qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre na participação habitual nos lucros
da prostituta. Sendo crime habitual, a tentativa não é admitida.
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.

22.4.  PROMOÇÃO DE MIGRAÇÃO ILEGAL

A Lei nº 13.445/17, que institui a Lei de Migração, revogando o Estatuto do Estrangeiro,


acrescentou o art. 232-A ao Código Penal.

A inserção, entretanto, ocorreu indevidamente no Título dos crimes contra a dignidade sexual,
já que o tipo penal objetiva tutelar a soberania nacional, garantindo a segurança interna do país,
não havendo, portanto, qualquer conotação sexual.
• Descrição do Tipo (art. 232-A do CP): promover, por qualquer meio, com o fm de
obter vantagem econômica, a entrada ilegal de estrangeiro em território nacional ou
de brasileiro em país estrangeiro. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

O tipo penal pune apenas o terceiro que promove a migração ilegal. O migrante ilegal não
comete o crime.

• Forma equiparada: na mesma pena incorre quem promover, por qualquer meio,
com o fm de obter vantagem econômica, a saída de estrangeiro do território nacional
para ingressar ilegalmente em país estrangeiro.
• Causas de aumento de pena: a pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um
terço) se: I - o crime é cometido com violência; ou II - a vítima é submetida a condição
desumana ou degradante.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado.
• Tipo Subjetivo: apenas na forma dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a entrada ilegal do estrangeiro no
território brasileiro ou com a entrada ilegal do brasileiro em território estrangeiro e, na
forma equiparada, com a saída do estrangeiro do território brasileiro. A tentativa é possível.
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.

155
O § 3º do art. 232-A do CP estabelece que a pena prevista para o crime será aplicada sem
prejuízo das correspondentes às infrações conexas. Assim, caso o agente cometa outros crimes
no contexto da promoção de migração material (falsifcação de documento, por exemplo),
haverá concurso material, não se aplicando princípio da consunção. Assim, é perfeitamente
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

possível a ocorrência de concurso material com os crimes do art. 232-A e de tráfco de pessoas
(art. 149-A do CP).

156
23

23.  CRIMES CONTRA A FAMÍLIA


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

23.1.  CRIMES CONTRA O CASAMENTO

23.1.1.  BIGAMIA

• Descrição do Tipo (art. 235 do CP): contrair alguém, sendo casado, novo casamento.
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
• Exceção à teoria monista do concurso de pessoas: aquele que, não sendo casado,
contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com
reclusão ou detenção, de um a três anos. Em outras palavras, embora o crime seja
de concurso necessário, a pessoa casada e o terceiro com quem se casa terão penas
diferentes pela prática do crime.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: apenas pessoa casada (crime próprio), b) sujeito passivo:
Estado e, indiretamente, o cônjuge enganado.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento da celebração do
casamento.
• Ação penal: ação penal pública incondicionada.

Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia,
considera-se inexistente o crime (§ 2º do art. 235 do CP).

23.1.2.  INDUZIMENTO A ERRO ESSENCIAL E OCULTAÇÃO DE IMPEDIMENTO

• Descrição do Tipo (art. 236 do CP): contrair casamento, induzindo em erro essencial
o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior.
Pena — detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado
e, indiretamente, o cônjuge enganado.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento da celebração do casamento.
• Ação penal (art. 236, parágrafo único, do CP): a ação penal depende de queixa do
contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a
sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.

157
23.2.  CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR

23.2.1.  ABANDONO MATERIAL


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Descrição do Tipo (art. 244 do CP): deixar, sem justa causa, de prover à subsistência
do cônjuge, ou de flho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de
ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os
recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente
acordada, fxada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou
ascendente, gravemente enfermo. Pena — detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e
multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País.
• Forma equiparada: nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou
ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustifcado de emprego ou função, o
pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fxada ou majorada.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pode ser o cônjuge, genitor, ascendente ou descendente
(crime próprio), b) sujeito passivo: pode ser o cônjuge, o flho enfermo, menor de
dezoito anos ou inapto para o trabalho, ascendente enfermo, maior de sessenta anos
de idade ou inválido.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a recusa de prestar assistência.
Não cabe tentativa.
• Ação penal: pública incondicionada.

23.2.2.  ABANDONO INTELECTUAL

• Descrição do Tipo (art. 246 do CP): deixar, sem justa causa, de prover à instrução
primária de flho em idade escolar: Pena — detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês,
ou multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: pais do menor (crime próprio), b) sujeito passivo: flho em
idade escolar obrigatória.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre quando o sujeito ativo, por tempo
relevante, deixa de providenciar a instrução primária do flho. Não cabe tentativa.
• Ação penal: pública incondicionada.

158
24

24.  CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

24.1.  INCITAÇÃO AO CRIME TEMA COBRADO NO IV EXAME DA OAB/FGV.

• Descrição do Tipo (art. 286 do CP): incitar, publicamente, a prática de crime: Pena —
detenção, de 3 (três) a 6 (seis) meses, ou multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: coletividade.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a incitação pública. Possível a
tentativa quando a execução for pela forma escrita.
• Ação penal: pública incondicionada.

24.2.  APOLOGIA DE CRIME OU CRIMINOSO

• Descrição do Tipo (art. 287 do CP): fazer, publicamente, apologia de fato criminoso
ou de autor de crime: Pena — detenção, de 3 (três) a 6 (seis) meses, ou multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: coletividade.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Ação penal: pública incondicionada.

“Marcha da Maconha” - No julgamento da ADPF 187, o Supremo Tribunal Federal frmou


entendimento no sentido de que o art. 287 do Código Penal deve ser interpretado conforme a
Constituição Federal, de forma a não impedir manifestações públicas em defesa da legalização
do uso de drogas ou quaisquer entorpecentes.

24.3.  ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA

• Descrição do Tipo (art. 288 do CP): associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o
fm específco de cometer crimes. Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Se não houver combinação ou liame subjetivo entre os sujeitos que cometeram os crimes, não
há que se falar em associação criminosa TEMA COBRADO NO XV EXAME DA OAB/FGV.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: coletividade.

159
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa. Exige-se, ainda, o dolo específco
consubstanciado na expressão “para o fm específco de cometer crimes”
• Causa de aumento: a pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou
se houver a participação de criança ou adolescente.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que três ou mais


pessoas se associam para o fm específco de cometer crimes, não se exigindo que o
crime de fato ocorra, tratando-se, portanto, de crime formal. A tentativa não é possível
porque a associação deve ser permanente.
• Ação penal: pública incondicionada.

DICAS:
• A associação de pessoas para o fm específco de cometer contravenções penais (jogo do
bicho, por exemplo) não constitui crime de associação criminosa, já que o art. 288 se refere
expressamente à prática de crimes TEMA COBRADO NO XVIII EXAME DA OAB/FGV.
• Para a caracterização da associação criminosa basta a associação estável e permanente
para a prática de crimes (crime formal). Caso os integrantes da associação pratiquem os
crimes, haverá concurso material do art. 288 do CP com os delitos cometidos.
• A associação criminosa não se confunde com a organização criminosa prevista na Lei
n. 12.850/2013, que se caracteriza mediante “a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente,
com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante
a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou
que sejam de caráter transnacional”. TEMA COBRADO NOS EXAMES XXXI e XXXII
DA OAB/FGV.

160
25

25.  CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

25.1.  MOEDA FALSA

• Descrição do Tipo (art. 289 do CP): falsifcar, fabricando-a ou alterando-a, moeda


metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro. Pena - reclusão, de
três a doze anos, e multa.

• Forma Equiparada: nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia,
importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na
circulação moeda falsa (§ 1º do art. 289).

• Forma privilegiada: quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa
ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com
detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

• Forma qualifcada: é punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o


funcionário público ou diretor, gerente, ou fscal de banco de emissão que fabrica,
emite ou autoriza a fabricação ou emissão: I - de moeda com título ou peso inferior ao
determinado em lei; II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado
e pessoas prejudicadas.

• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa

• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com fabricação ou alteração da


moeda, desde que não haja erro grosseiro. A tentativa é possível quando o agente é
pego antes de terminado a falsifcação ou alteração.

• Se a falsifcação da moeda for grosseira, imediatamente perceptível pela vítima, como no


caso de moeda falsifcada de R$ 3,00, haverá crime impossível ( TEMA COBRADO NO XXVII
EXAME DA OAB/FGV), podendo responder o agente pelo crime de petrechos para falsifcação
de moeda (art. 291 do CP), caso tenha realizado a fabricação.
• No entanto, se a falsifcação, mesmo que grosseira, enganar a vítima, a conduta poderá
confgurar o crime de estelionato, conforme Súmula73 do STJ: “A utilização de papel-moeda
grosseiramente falsifcado confgura, em tese, o crime de estelionato, de competência da
Justiça Estadual”.

161
25.2.  FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO

• Descrição do Tipo (art. 297 do CP): falsifcar, no todo ou em parte, documento


público, ou alterar documento público verdadeiro: Pena — reclusão, de dois a seis
anos, e multa.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Documento público é o elaborado por funcionário público no exercício das suas atribuições.
Entretanto, para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade
paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade
comercial, os livros mercantis e o testamento particular (§ 2º do art. 297 do CP).
• A falsidade de documento público também é chamada de falsidade material.
• A “falsifcação grosseira”, que não é capaz de atingir a fé-pública do documento e enganar
terceiro, não caracteriza o crime de falsifcação de documento TEMA COBRADO NO
III EXAME DA OAB/FGV.

• Forma equiparada: a Lei n. 9.983/2000 acrescentou os §§ 3º e 4º ao art. 297, punindo


com as mesmas penas quem insere ou faz inserir dados falsos na CTPS ou documento
que deva produzir efeito perante a previdência social. Ocorre que houve um equívoco
do legislador na inserção desses parágrafos no crime de falsifcação de documento, já
que a inserção de dados não é falsifcação material e sim falsidade ideológica, prevista
no art. 299 do CP. No entanto, para a prova da OAB, deve-se considerar o crime como
de falsidade material.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado
e pessoas prejudicadas.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Causa de aumento: se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-
se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a falsifcação ou alteração do
documento público, independentemente do seu uso (crime de perigo). A tentativa é possível
quando o agente é pego antes de terminada a falsifcação ou alteração do documento.

A comprovação do crime de falsidade material depende da realização de perícia.

• Ação penal: pública incondicionada.

COMPETÊNCIA:
Justiça federal: Se o documento falsifcado é de atribuição de autoridade federal (como o
passaporte), a competência é da Justiça Federal.
Justiça Estadual: Se o documento falsifcado devia ter sido emitido por funcionário público
estadual ou municipal, a competência é da Justiça Estadual (Exemplo; CNH, já que emitida por
autoridade estadual)
Falsifcação de Carteira de Trabalho (CTPS): Se a fnalidade da falsifcação é prejudicar a
previdência social, a competência será da Justiça Federal, ao passo que, se a falsifcação for
162
para fns particulares, a competência é da Justiça Estadual (Súmula n. 62 do STJ).
25.3.  FALSIDADE DE DOCUMENTO PARTICULAR

• Descrição do Tipo (art. 298 do CP): falsifcar, no todo ou em parte, documento


particular ou alterar documento particular verdadeiro: Pena — reclusão, de um a cinco
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

anos, e multa

O conceito de documento particular é obtido por exclusão, ou seja, todo documento que não for
público ou a ele equiparado para fns penais será documento particular, inclusive os cartões de
crédito e de débito.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado
e as pessoas prejudicadas.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a falsifcação ou alteração do
documento público, independentemente do seu uso (crime de perigo). A tentativa é possível
quando o agente é pego antes de terminada a falsifcação ou alteração do documento.
• Ação penal: pública incondicionada.

Súmula n. 104 do STJ: Compete à Justiça Estadual o processo e


julgamento dos crimes de falsifcação e uso de documento falso relativo
a estabelecimento particular de ensino.

25.4.  FALSIDADE IDEOLÓGICA TEMA COBRADO NO XVII EXAME DA OAB/FGV.

• Descrição do Tipo (art. 299 do CP): omitir, em documento público ou particular,


declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou
diversa da que devia ser escrita, com o fm de prejudicar direito, criar obrigação ou
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena — reclusão, de um a cinco
anos, e multa, se o documento é público, e reclusão, de um a três anos, e multa, se o
documento é particular.

O crime de falsidade ideológica também é conhecido como falsidade intelectual e pode recair
sobre documento público ou particular, variando apenas quanto a pena (no documento público
a pena é de reclusão, de um a cinco anos, e multa, e, no documento particular a pena é de
reclusão, de um a três anos, e multa).

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado
e as pessoas prejudicadas.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa TEMA COBRADO NO XXI EXAME
DA OAB/FGV.
• Causa de aumento: se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-
163
se do cargo, ou se a falsifcação ou alteração é de assentamento de registro civil,
aumenta-se a pena de sexta parte.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre quando o documento fca pronto com a
omissão ou alteração dos seus dados. A tentativa é possível apenas se a conduta por comissiva.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Ação penal: pública incondicionada.

25.5.  USO DE DOCUMENTO FALSO

• Descrição do Tipo (art. 304 do CP): fazer uso de qualquer dos papéis falsifcados ou
alterados, a que se referem os arts. 297 a 302. Pena - a cominada à falsifcação ou à alteração.

• Fazer uso signifca apresentar o documento a alguém. A mera posse do documento não
caracteriza o crime. Assim, se “A” obteve um documento falsifcado, mas nunca o apresentou
a ninguém não poderá responder pelo crime do art. 304 do CP.
• A pessoa que falsifcou o documento e depois o utilizou responde apenas pelo crime de
falsifcação, uma vez que o uso é considerado fato posterior não punível.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), menos quem praticou a
falsifcação b) sujeito passivo: Estado e as pessoas prejudicadas.
• Tipo Subjetivo: apenas na modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com o uso, a apresentação, do
documento, ainda que o agente não obtenha qualquer vantagem (crime formal). A
tentativa não é possível, porque se o agente não apresenta o documento o fato é atípico.
• Ação penal: pública incondicionada.

DICA: O agente que usa documento falso para cometer estelionato responde apenas pelo
estelionato, uma vez que o uso é considerado apenas crime-meio.

164
26
26.  CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

26.1.  CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A


ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

26.1.1.  CARACTERÍSTICAS GERAIS

Os crimes praticados por funcionários públicos, chamados de crimes funcionais, possuem


algumas características importantes que devem ser memorizadas:

• Conceito: considera-se funcionário público, para efeitos penais, quem, embora


transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. Além
disso, equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em
entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou
conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública (art. 327 do CP).
• Concurso de pessoas: nos crimes funcionais a condição de funcionário público é
elementar do tipo, ou seja, comunica-se aos demais particulares envolvidos no delito.
Assim, o particular que conhece da condição de funcionário do comparsa e participa
do crime (concurso de pessoas), também responderá pelo crime funcional TEMA
COBRADO NO XII EXAME DA OAB/FGV.
• Efeito da pena: a condenação nos crimes funcionais pode ter como efeito a perda do
cargo, função pública ou mandato eletivo quando aplicada pena privativa de liberdade
por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou
violação de dever para com a Administração Pública (art. 92, I, do CP). Esse efeito não
é automático, devendo ser motivadamente declarado na sentença TEMA COBRADO
NO XXVI EXAME DA OAB/FGV.
• Progressão de regime: o condenado por crime contra a administração pública terá
a progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano
que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais
(§ 4º do art. 33 do CP).
• Princípio da Insignifcância: de acordo com a Súmula n. 599 do STJ, aprovada
em 20/11/2017, o princípio da insignifcância é inaplicável aos crimes contra a
Administração Pública. Entretanto, como exceção à referida súmula, embora não
mencionado no seu texto, deve-se recordar que o STJ admite a aplicação do princípio
da insignifcância ao crime de descaminho.

Súmula n. 599-STJ: O princípio da insignifcância é inaplicável aos crimes


contra a Administração Pública.

165
26.1.2.  PECULATO

• Descrição do Tipo (art. 312, caput, do CP): apropriar-se o funcionário público de


dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio. Pena - reclusão,


de dois a doze anos, e multa. TEMA COBRADO NO XXXVIII EXAME DA OAB/FGV:

Peculato próprio: A fgura típica do caput do art. 312 do CP contempla o peculato próprio, que abrange
o denominado peculato-apropriação (primeira parte do tipo: “apropriar-se”) e o peculato-desvio
(segunda parte do tipo penal: “desviá-lo”).

• Forma equiparada (peculato impróprio ou peculato-furto): aplica-se a mesma pena,


se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai,
ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de
facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário (§ 1º do art. 312 do CP).
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer funcionário público (crime próprio), exceto os
prefeitos que respondem pelos crimes específcos do Decreto-Lei n. 201/67, b) sujeito
passivo: Estado e, em algumas situações, as pessoas prejudicadas.
• Tipo Subjetivo: admite a modalidade dolosa e culposa.
• Peculato culposo: se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem.
Pena - detenção, de três meses a um ano. No caso de peculato culposo, se houver
reparação do dano, antes da sentença irrecorrível, haverá extinção da punibilidade. Se
a reparação for posterior ao trânsito em julgado, a pena imposta será reduzida pela
metade (§ 2º e § 3º do art. 312 do CP).
• Consumação e tentativa: a consumação no peculato próprio ocorre quando o
funcionário passa a agir como proprietário do bem (peculato-apropriação) ou o desvia
(peculato desvio), no peculato impróprio quando o funcionário retira o bem da esfera
de vigilância da vítima e no peculato culposo quando houver a consumação do crime
do terceiro. A tentativa não é possível apenas na modalidade peculato culposo.
• Ação penal: pública incondicionada.

26.1.3.  PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM

• Descrição do Tipo (art. 313 do CP): apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade


que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena — reclusão, de um a
quatro anos, e multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer funcionário público (crime próprio), b) sujeito
passivo: Estado e a pessoa prejudicada.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre quando o funcionário se comporta
como dono do objeto. A tentativa é possível.
• Ação penal: pública incondicionada.

166
26.1.4.  PECULATO ELETRÔNICO

A Lei nº 9.983/2000 acrescentou os artigos 313-A e 313-B ao código penal, que punem a conduta
do funcionário público referente à inserção de dados falsos, alteração ou modifcação de dados no
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

sistema de informações da administração pública, o que é denominado pela doutrina de peculato


eletrônico TEMA COBRADO NO II EXAME DA OAB/FGV.

Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos,


alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos
de dados da Administração Pública com o fm de obter vantagem indevida para si ou
para outrem ou para causar dano:

Art. 313-B. Modifcar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de


informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente:

26.1.5.  CONCUSSÃO

• Descrição do Tipo (art. 316 do CP): exigir, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela,
vantagem indevida. Pena - reclusão, de dois a 12 anos, e multa.

• Na concussão a exigência feita pelo funcionário implica uma ameaça, direta ou indireta,
já que no caso de mero pedido, há o crime de corrupção passiva TEMA COBRADO NO
XXIII EXAME DA OAB/FGV.
• Na concussão a vantagem deve ser indevida. Se a vantagem for devida, poderá caracterizar
o crime de abuso de autoridade.

• Forma qualifcada (excesso de exação): se o funcionário exige tributo ou contribuição


social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança
meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito)
anos, e multa.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: funcionário público (crime próprio), b) sujeito passivo:


Estado e a pessoa prejudicada.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que a exigência
chega ao conhecimento da vítima, mesmo que o funcionário público não consiga a
vantagem indevida (crime formal). A tentativa é possível, como no caso de exigência
feita por carta interceptada.
• Ação penal: pública incondicionada.

26.1.6.  CORRUPÇÃO PASSIVA

• Descrição do Tipo (art. 317 do CP): solicitar ou receber, para si ou para outrem,
167
direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em
razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem. Pena – reclusão,
de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. TEMA COBRADO NO XXXIII EXAME DA OAB/
FGV:
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer funcionário público (crime próprio), b) sujeito
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

passivo: Estado e a pessoa prejudicada.


• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Causa de aumento de aumento (§ 1º): a pena é aumentada de um terço, se, em
consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar
qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
• Forma privilegiada (§ 2º): se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato
de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou infuência de outrem.
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Na corrupção passiva privilegiada o agente não objetiva vantagem indevida, por isso a pena é menor.

• Consumação e tentativa TEMA COBRADO NO XXI EXAME DA OAB/FGV: a


consumação ocorre no momento em que o funcionário solicita, recebe ou aceita a
vantagem indevida (crime formal). A tentativa é possível na modalidade solicitar,
quando feita por escrito. Já na corrupção passiva privilegiada, o crime se consuma
quando o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda o ato (crime material).

• Ação penal: pública incondicionada.

26.1.7.  PREVARICAÇÃO

• Descrição do Tipo (art. 319 do CP): retardar ou deixar de praticar, indevidamente,


ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse
ou sentimento pessoal. Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa TEMA
COBRADO NOS EXAME X E XXXV DA OAB/FGV.

• Para a caracterização da prevaricação é essencial que a conduta do agente seja realizada


para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Dessa forma, se for constatado que o
funcionário público agiu de forma irregular, mas não for possível apurar o motivo de sua
conduta, não haverá o crime de prevaricação.
• A prevaricação não se confunde com corrupção passiva privilegiada, uma vez que nesta
o agente age a pedido ou infuência de outrem, enquanto que na prevaricação o funcionário
age por conta própria.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer funcionário público (crime próprio), b) sujeito


passivo: Estado e a pessoa eventualmente prejudicada.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que o funcionário omite,
retarda ou pratica o ato (crime formal). A tentativa é possível na modalidade comissiva.

168
PREVARICACÃO IMPRÓPRIA: A Lei n. 11.466/2007 inseriu o art. 319-A ao CP, prevendo uma
nova modalidade típica, chamada pela doutrina de prevaricação imprópria, para punir Diretor de
Penitenciária e/oupública
• Ação penal: agente público que deixar de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso
incondicionada.
a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou
com o ambiente externo
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

26.1.8.  ADVOCACIA ADMINISTRATIVA

• Descrição do Tipo (art. 312 do CP): patrocinar, direta ou indiretamente, interesse


privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário.
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
• Forma qualifcada: se o interesse é ilegítimo: Pena — detenção, de três meses a um
ano, além da multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: Qualquer funcionário público (crime próprio), b) sujeito
passivo: Estado.
• Tipo Subjetivo: Admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que o funcionário
patrocina interesse alheio (crime formal), ainda que não consiga benefciar o particular.
A tentativa é possível.
• Ação penal: pública incondicionada.

26.2.  CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃOA EM GERAL

26.2.1.  RESISTÊNCIA

• Descrição do Tipo (art. 329 do CP): opor-se à execução de ato legal, mediante
violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja
prestando auxílio. Pena — detenção, de dois meses a dois anos.
• Forma qualifcada: se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena — reclusão,
de um a três anos.

Para a caracterização da resistência é necessário o emprego de violência ou ameaça.


Assim, se determinada pessoa se jogar no chão ou sair correndo para não ser presa, não
há crime de resistência.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que o agente
emprega violência ou ameaça (crime formal). Se em razão da sua conduta o agente
evitar a pratica do ato resistido, estará consumada a forma qualifcada. A tentativa é
possível, como no caso de ameaça feita por escrito.

169
• Ação penal: pública incondicionada.

26.2.2.  DESOBEDIÊNCIA
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Descrição do Tipo (art. 330 do CP): desobedecer a ordem legal de funcionário


público. Pena — detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.

O crime de desobediência pode ocorrer na modalidade comissiva ou omissiva. Será comissiva


quando a ordem emanada corresponder a um não fazer e o agente descumpri-la e omissiva
quando a ordem estipular um fazer e o agente permanecer inerte.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado
e indiretamente o funcionário público.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que o agente
descumpre o ordem emanada. A tentativa é possível apenas na modalidade comissiva.
• Ação penal: pública incondicionada.

A recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da


ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público, caracteriza o crime específco do
art. 10 da Lei n. 7.347/85

26.2.3.  DESACATO

• Descrição do Tipo (art. 331 do CP): desacatar funcionário público no exercício da


função ou em razão dela: Pena — detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

DICA: Desacatar signifca desrespeitar ou ofender o funcionário público, como no caso do


agente que xinga, faz gestos ou sinais obscenos contra o funcionário que está exercendo as
suas funções. Para a confguração do desacato é essencial que o funcionário público presencie
a conduta ofensiva ou desrespeitosa. Caso a conduta não ocorra na presença do funcionário,
poderá haver o crime de injúria majorada.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum), b) sujeito passivo: Estado
e o funcionário público.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento da ofensa. Não se
admite a tentativa, porque a ofensa deve ocorrer na presença do funcionário público.
170
• Ação penal: pública incondicionada.

A redação originária do § 2º do art. 7º do EAOAB previa que os advogados tinham imunidade em


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

relação a condutas que pudessem caracterizar o crime de desacato. Entretanto, no julgamento


da ADIN 1.127-8, o STF suspendeu a efcácia da expressão “desacato” do referido artigo, de
modo que o advogado responde normalmente se cometer o crime de desacato, ainda que esteja
no exercício de sua função.

26.2.4.  TRÁFICO DE INFLUÊNCIA

• Descrição do Tipo (art. 332 do CP): solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para
outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de infuir em ato praticado por
funcionário público no exercício da função: Pena — reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

“B” está respondendo pelo crime de furto. Sabendo disso, “A” fala para “B” que é amigo íntimo
do juiz que julgará o seu processo e exige dinheiro para ajudá-lo na causa.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa, b) sujeito passivo: Estado e pessoa enganada.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Causa de aumento de pena: a pena é aumentada da metade, se o agente alega ou
insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que o agente solicita,
exige, cobra ou obtém a vantagem ou promessa de vantagem. A tentativa é possível,
como no caso de exigência feita por escrito que é interceptada.
• Ação penal: pública incondicionada.

26.2.5.  CORRUPÇÃO ATIVA

• Descrição do Tipo (art. 333 do CP): oferecer ou prometer vantagem indevida a


funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício. Pena
– reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

A entrega de bem ou quantia solicitada por funcionário público não confgura por si só corrupção
ativa, uma vez que esta depende da ação de oferecer ou prometer vantagem indevida. Se o
particular apenas entregar vantagem solicitada, sem praticar os verbos do tipo, será vítima de
corrupção passiva.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa, b) sujeito passivo: Estado.


• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Causa de aumento de pena: a pena é aumentada de um terço, se, em razão da
vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica
171
infringindo dever funcional.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que o funcionário
público toma conhecimento da oferta ou promessa feita pelo agente. A tentativa é
possível na forma escrita.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Ação penal: pública incondicionada.

26.2.6.  DESCAMINHO

• Descrição do Tipo (art. 334 do CP): iludir, no todo ou em parte, o pagamento de


direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos..
• Forma equiparada: incorre na mesma pena quem:

I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei

II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;

III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza
em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País
ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina
no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem;

IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de


atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira,
desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que
sabe serem falsos.

Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências (§
2º do art. 334 do CP).

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa, b) sujeito passivo: Estado.


• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Causa de aumento de pena: a pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é
praticado em transporte aéreo, marítimo ou fuvial.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento da passagem
alfandegária sem o pagamento do tributo. A tentativa é possível.
• Ação penal: pública incondicionada.
• Princípio da insignifcância: prevalece o entendimento de que se aplica o princípio da
insignifcância, incidindo, segundo o STJ, para os valores sonegados até R$ 10.000,00 e, para
172
o STF, para os valores até R$ 20.000,00 TEMA COBRADO NO XV EXAME DA OAB/FGV.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

SÚMULA 151 do STJ - A COMPETÊNCIA PARA O PROCESSO E JULGAMENTO POR CRIME


DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO DEFINE-SE PELA PREVENÇÃO DO JUIZO FEDERAL DO
LUGAR DA APREENSÃO DOS BENS.

26.2.7.  CONTRABANDO

• Descrição do Tipo (art. 334-A do CP): importar ou exportar mercadoria proibida.


Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
• Formas equiparadas: Incorre na mesma pena quem:

I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando;

II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro,


análise ou autorização de órgão público competente;

III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação;

IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza


em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
mercadoria proibida pela lei brasileira;

V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de


atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.

Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências (§ 2º
do art. 334-A do CP).

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa, b) sujeito passivo: Estado.


• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Causa de aumento de pena: a pena aplica-se em dobro se o crime é praticado em
transporte aéreo, marítimo ou fuvial.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento da passagem
alfandegária ou na entrada ou saída irregular do país. A tentativa é possível.
• Ação penal: Pública incondicionada.

• Princípio da insignifcância: não se aplica ao crime de contrabando.

173
DESCAMINHO CONTRABANDO

Bem lícito Bem ilícito


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Entrada ou saída de produtos permitidos, mas Entra e saída de produtos vedados por lei
que não passaram pelos trâmites burocrático- (armas, drogas, etc).
tributários devidos.

Aplica-se o princípio da insignifcância. Não se aplica o princípio da insignifcância.

174
27

27.  CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

27.1.  DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

• Descrição do Tipo (art. 339 do CP): Dar causa à instauração de inquérito policial, de
procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo
disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra alguém,
imputando-lhe crime, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente:
(Redação dada pela Lei nº 14.110, de 2020) TEMA COBRADO NOS EXAMES V, XIX
E XXXII DA OAB/FGV.

A mera imputação a alguém de fato defnido como crime, sem a instauração de investigação
administrativa ou policial, processo judicial, inquérito civil ou ação de improbidade
administrativa, pode confgurar o crime de calúnia (art. 138 do CP), mas não confgura
denunciação caluniosa TEMA COBRADO NO II EXAME DA OAB/FGV.

Antes da Lei n. 14.110/2020, para a confguração do crime de denunciação caluniosa, o


agente deveria imputar, a alguém que sabe inocente, a prática de CRIME, dando causa à instauração
de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito
civil ou ação de improbidade administrativa.

Com a nova lei, além da imputação de crime, poderá também confgurar denunciação
caluniosa a imputação de infração ético-disciplinar ou ato ímprobo a alguém que se sabe que é
inocente.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa, b) sujeito passivo: Estado e, em segundo


plano, a pessoa inocente.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa. O sujeito ativo deve saber que
a pessoa a quem o crime é imputado é inocente.
• Causa de aumento de pena (§ 1º): a pena é aumentada de sexta parte, se o agente
se serve de anonimato ou de nome suposto.
• Causa de diminuição de pena (§ 2º): a pena é diminuída de metade, se a imputação
é de prática de contravenção.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a instauração dos procedimentos
de investigação. A tentativa é possível.
• Ação penal: Pública incondicionada.

A Lei nº 13.834/2019 inseriu o art. 326-A ao Código Eleitoral, prevendo o crime de denunciação
caluniosa com fnalidade eleitoral. Desse modo, se alguém praticar denunciação caluniosa com
fnalidade eleitoral responderá pelo crime do art. 326-A do CE, e não pelo art. 339 do CP. 175
27.2.  COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO

• Descrição do Tipo (art. 340 do CP): provocar a ação de autoridade, comunicando-


lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verifcado. Pena
- detenção, de um a seis meses, ou multa.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa, b) sujeito passivo: Estado.]


• Tipo Subjetivo: Admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que a autoridade
pública adota alguma providência para esclarecer os fatos denunciados. A tentativa
é possível.
• Ação penal: pública incondicionada.

Diferentemente do que ocorre na denunciação caluniosa, no crime do art. 340 do CP não se


imputa a alguém a prática de crime, mas apenas comunica-se falsamente a ocorrência de crime
ou contravenção, provocando a ação de autoridade.
Ex1: “A” comunica falsamente que “B” matou “C”, dando causa à instauração de inquérito policial
(crime de denunciação caluniosa).
Ex2: “A” passa trote para a polícia relatando que houve um homicídio em determinada localidade,
provocando o deslocamento de policiais ao local (comunicação falsa de crime).

27.3.  FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA

• Descrição do Tipo (art. 342 do CP): fazer afrmação falsa, ou negar ou calar a verdade
como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4
(quatro) anos, e multa. .
• Sujeitos: a) sujeito ativo: testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, exigindo-
se a atuação pessoal do agente (crime de mão própria), b) sujeito passivo: Estado.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Causas de aumento: as penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime
é praticado mediante suborno ou se cometido com o fm de obter prova destinada a
produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da
administração pública direta ou indireta.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que a testemunha,
tradutor ou intérprete, terminam o seu depoimento, ou na entrega do laudo pericial pelo
perito. A tentativa é possível apenas na forma escrita (entrega de laudo, por exemplo).
• Ação penal: pública incondicionada.
• Retratação: o fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que
ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.

176
DICAS:
• Teoria subjetiva: Prevalece a adoção da teoria subjetiva no falso testemunho, ou seja, o
crime estará caracterizado quando não houver correspondência entre o depoimento e aquilo
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

que a testemunha de fato presenciou. Sendo assim, é possível o falso testemunho sobre fato
verdadeiro, como na hipótese da testemunha que alega ter presenciado um crime que de
fato ocorreu, mas ela não estava no local.
• Súmula n. 165 do STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso
testemunho cometido no processo trabalhista.

27.4.  EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES

• Descrição do Tipo (art. 345 do CP): fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer
pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite. Pena - detenção, de quinze
dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.

A pretensão deve ser legítima para confgurar o crime do art. 345 do CP. Caso a pretensão seja
ilegítima, a conduta do agente pode confgurar o crime de constrangimento ilegal (art. 146 do CP)

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa, mas se for funcionário público pode
confgurar o crime de abuso de autoridade, b) sujeito passivo: Estado e, em segundo
plano, a pessoa prejudicada.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Ação penal: se o crime for praticado sem violência, o delito se processa mediante ação
penal privada. Se o crime for praticado com violência, a ação será pública incondicionada.

27.5.  FAVORECIMENTO PESSOAL

• Descrição do Tipo (art. 348 do CP): auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade


pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão. Pena - detenção, de um a
seis meses, e multa.

Se ao crime não é cominada pena de reclusão. Pena - detenção, de quinze dias a três
meses, e multa.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa, mas se for funcionário público pode
confgurar o crime de abuso de autoridade, b) sujeito passivo: Estado.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Ação penal: pública incondicionada.
177
• Escusa absolutória (§ 2º): se quem presta o auxílio é ascendente, descendente,
cônjuge ou irmão do criminoso, fca isento de pena.

27.6.  FAVORECIMENTO REAL TEMA COBRADO NOS EXAMES VII, XIX E XXXIII DA
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

OAB/FGV.

• Descrição do Tipo (art. 349 do CP): prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria
ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime. Pena -
detenção, de um a seis meses, e multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa, mas se for funcionário público pode
confgurar o crime de abuso de autoridade, b) sujeito passivo: Estado.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.

• Ação penal: Pública incondicionada.

FAVORECIMENTO PESSOAL FAVORECIMENTO REAL

Busca ajudar o autor de crime anterior Busca tornar seguro o proveito do crime

Admite escusa absolutória Não admite escusa absolutória.

FAVORECIMENTO REAL IMPRÓPRIO: A Lei n. 12.012/2009 inseriu o art. 349-A ao CP, prevendo
uma nova modalidade típica, chamada pela doutrina de favorecimento real impróprio, para
quem ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de
comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional.
Importante lembrar que o direitor da penitenciária ou agente público que forem coniventes
com o ingresso de aparelho telefônicos no presidio responderão pelo crime de prevaricação
imprópria (art. 319-A do CP).

27.7.  PATROCÍNIO INFIEL

• Descrição do Tipo (art. 355, caput, do CP): trair, na qualidade de advogado ou


procurador, o dever profssional, prejudicando interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe
é confado. Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: advogado devidamente inscrito na OAB (crime próprio); b)
sujeito passivo: Estado.

De acordo com o § 1º do art. 3º do EAOAB, exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao


regime desta lei, além do regime próprio a que se subordinem, os integrantes da Advocacia-
Geral da União, da Procuradoria da Fazenda Nacional, da Defensoria Pública e das Procuradorias
e Consultorias Jurídicas dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas
entidades de administração indireta e fundacional. Os integrantes dos órgãos ora citados,
portanto, podem cometer o crime de patrocínio infel.
178
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: o crime se consuma com o efetivo prejuízo à vítima (crime
material). A tentativa é possível apenas na forma comissiva.
• Ação penal: pública incondicionada.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

27.8.  PATROCÍNIO SIMULTÂNEO OU TERGIVERSAÇÃO

• Descrição do Tipo (art. 355, parágrafo único, do CP): advogado ou procurador judicial
que defende na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias. Pena
- detenção, de seis meses a três anos, e multa.

Não há necessidade que o patrocínio ocorra no mesmo processo, desde que seja relativo à
mesma causa.

• Sujeitos: a) sujeito ativo: advogado devidamente inscrito na OAB (crime próprio); b)


sujeito passivo: Estado.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: o crime se consuma quando o agente pratica qualquer ato
processual relativo ao patrocínio simultâneo de partes contrárias (crime formal), não
se exigindo o prejuízo. A tentativa é possível.
• Ação penal: pública incondicionada.

179
28

28.  LEGISLAÇÃO ESPECIAL


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Existem algumas leis especiais cujo conhecimento é importante para a prova da OAB, conforme
doravante analisado.

28.1.  LEI DE DROGAS (LEI N. 11.343/06)

As regras sobre o procedimento adotado nos crimes previstos na Lei de Drogas já foram
estudadas no livro de processo penal, de modo que analisaremos neste tópico apenas os crimes
mais importantes para a prova da OAB.

Importante destacar que os crimes previstos na Lei de Drogas dependem de complementação em


relação ao conceito de droga, devendo-se utilizar o regramento dado pela portarias da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária. Sendo assim, pode-se afrmar que os crimes da Lei de Drogas são normas penais
em branco heterogêneas, já que a complementação ocorre por norma de hierarquia distinta.

28.1.1.  PORTE E CULTIVO PARA CONSUMO PRÓPRIO

• Descrição do Tipo (art. 28): quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar
ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I -
advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III -
medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo, sendo que, nos
casos II e III, serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses, salvo no caso de
reincidência em que o prazo máximo poderá ser 10 (dez) meses (§ 3º e § 4º).

Não há imposição de pena privativa de liberdade para o crime previsto no art. 28 da


Lei de Drogas.

• Formas equiparadas: às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo


pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena
quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.

O § 2º do art. 28 dispõe que, para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o


juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em
que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos
antecedentes do agente.

180
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum); b) sujeito passivo: Coletividade.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: o crime se consuma quando o agente adquire ou, no
caso de trazer consigo, guardar ou ter em depósito, quando o agente obtém a posse
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

da droga, prolongando-se no tempo enquanto ele a detiver (crime permanente). A


tentativa é possível apenas na modalidade adquirir.
• Ação penal: pública incondicionada.
• Procedimento: será adotado o procedimento da Lei n. 9.099/95 (Juizado Especial Criminal).
• Prazo prescricional (art. 30): prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução
das penas previstas para o crime de porte e cultivo para consumo próprio.

No crime do art. 28 da Lei de Drogas não é possível a prisão em fagrante do usuário, devendo
o infrator ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o
compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se
as requisições dos exames e perícias necessários (§ 2º do art. 48). Além disso, como não há
pena privativa de liberdade prevista para o crime do art. 28 da Lei n. 11.343/2006, trata-se de
infração de menor potencial ofensivo, devendo ser submetida ao rito sumaríssimo previsto
na Lei n. 9.099/95, permitindo-se inclusive a aplicação da transação penal e da suspensão
condicional do processo.

28.1.2.  TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS

• Descrição do Tipo (art. 33): importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar,
adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo,
guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar. Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
• Formas equiparadas: nas mesmas penas incorre quem:

I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda,


oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à
preparação de drogas;

II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com


determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-
prima para a preparação de drogas;

III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse,
administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize,
ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar, para o tráfco ilícito de drogas.
181
IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico
destinado à preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com
a determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado, quando
presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente
(acrescido pela Lei n. 13.964/19)
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Para a caracterização dessa forma equiparada, a droga ou matéria-prima já deve estar na


posse do criminoso (conduta de trazer consigo, prevista no caput). Se o policial disfarçado
pedir a droga ao criminoso e este for buscá-la, não haverá o crime, já que se trata de fagrante
preparado (crime impossível, nos termos do art. 17 do CP).

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum); b) sujeito passivo: Coletividade.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Causas de aumento da pena (art. 40): a pena pode ser aumentadas de um sexto a
dois terços, se:

I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as


circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito; II - o agente
praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de
missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;

III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de


estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades
estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou benefcentes, de locais
de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de
qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de
reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;
IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma
de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva; V - caracterizado
o tráfco entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal; VI - sua
prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha,
por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e
determinação; VII - o agente fnanciar ou custear a prática do crime.

De acordo com a Súmula 587, para a incidência da majorante prevista no artigo 40, inciso V, da
lei 11.343/06, é desnecessária a efetiva transposição de fronteiras entre Estados da Federação,
sendo sufciente a demonstração inequívoca da intenção de realizar o tráfco interestadual.
TEMA COBRADO NO XXXVII EXAME DA OAB/FGV.

• Tráfco privilegiado: as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde
que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas
nem integre organização criminosa TEMA COBRADO NO XXIV EXAME DA OAB/FGV.

182
• Consumação e tentativa: o crime se consuma quando o agente realiza um as
condutas descritas no tipo penal, havendo algumas condutas instantâneas (vender,
adquirir, oferecer, etc.) e outras permanentes (transportar, guardar, etc.). TEMA
COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV. A tentativa é possível apenas nas condutas
instantâneas.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Ação penal: pública incondicionada.

O crime de tráfco de drogas é considerado hediondo, salvo quando se tratar de tráfco


privilegiado (cancelamento da Súmula n. 512 do STJ).

28.2.  LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS (LEI 9.613/98)

Entende-se por lavagem de capitais o conjunto de atos destinados a mascarar a natureza


ilícita de determinados bens ou valores, advindos de condutas criminosas, para reintroduzi-los na
economia formal, com aparência lícita TEMA COBRADO NO II EXAME DA OAB/FGV.

Desse modo, o crime de lavagem de capitais é considerado um “crime acessório” ou


“parasitário”, já que sua existência depende necessariamente de um crime anterior, de onde deriva
o produto ilícito que se objetiva mascarar.

Importante destacar, entretanto, que o processo e julgamento dos crimes de lavagem de


capitais não dependem do processo e julgamento dos crimes antecedentes.

CRIME DE LAVAGEM DE CAPITAIS

• Descrição do Tipo (art. 1º da lei n. 9.613/98): ocultar ou dissimular a natureza,


origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou
valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. Pena: reclusão, de 3
(três) a 10 (dez) anos, e multa.
• Formas equiparadas: nas mesmas penas incorre quem:

I – Para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de


infração penal: a) os converte em ativos lícitos; b) os adquire, recebe, troca, negocia,
dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou transfere; c)
importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros;

II- utiliza, na atividade econômica ou fnanceira, bens, direitos ou valores


provenientes de infração penal;

III - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua


atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes de lavagem de capital.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum); b) sujeito passivo: Estado.

183
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Causas de aumento de pena (§ 4º): a pena será aumentada de um a dois terços, se
os crimes defnidos nesta Lei forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio
de organização criminosa.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Forma privilegiada (colaboração premiada): a pena poderá ser reduzida de um a dois


terços e ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de
aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor
ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos
que conduzam à apuração das infrações penais, à identifcação dos autores, coautores e
partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.
• Ação penal: pública incondicionada.

Como regra geral, a competência para o julgamento do crime da lavagem de capitais é da Justiça
Estadual (STJ, CC 32.861). No entanto, a competência será da Justiça Federal nos seguintes
casos: a) Quando praticado em detrimento de bens serviços e interesses da União, suas
autarquias e empresas públicas (artigo 109, IV da CF); b) Quando a infração penal antecedente
for de competência da Justiça Federal e c) Quando a lavagem de capitais for praticada além do
território nacional.

Importante destacar que a lei n. 13.964/19 acrescentou o § 6º ao art. 1º da Lei nº 9.613/98,


que passou a permitir a utilização da ação controlada e da infltração de agentes para os crimes
de “Lavagem” ou ocultação de Bens, Direitos e Valores.
• Ação controlada: Trata-se exemplo de fagrante esperado e ocorre quando há o
retardamento da intervenção da autoridade policial ou administrativa para que a prisão
seja realizada posteriormente, no momento mais efcaz à formação de provas e obtenção de
informações. É importante destacar que a ação controlada será previamente comunicada
ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao
Ministério Público.
• Infltração de agentes: Prevista inicialmente no art. 10 e seguintes da lei n. 12.850/2013
(organizações criminosas), signifca a inserção proposital e dissimulada de agente policial
com o fm de obter provas efcazes para combater o crime.

28.3.  LEI DE CRIMES HEDIONDOS (LEI N. 8.072/90).

A lei n. 8.072/90 elenca expressamente os crimes que são considerados hediondos, o que o faz
em seu art. 1º, recentemente alterado pela Lei n. 13.964/19 (pacote anticrime), a saber:

• Homicídio (art. 121 do CP), quando praticado em atividade típica de grupo de


extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualifcado (art. 121, §
2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII e IX).

O homicídio contra menor de 14 anos de idade passou a ser considerado hediondo (inciso IX
do art. 121 , acrescido pela Lei Henry Borel)

184
O homicídio simples será crime hediondo apenas quando praticado em atividade típica de grupo
de extermínio. Não podemos ainda confundir grupo de extermínio com concurso de pessoas,
uma vez que no grupo de extermínio a vítima é atacada em razão de alguma característica
determinada (ex.: ser mendigo, negro, torcedor de determinado tipo, homossexual, etc.), não
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

importando sua identidade.

• Lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2º, do CP) e lesão
corporal seguida de morte (art. 129, § 3º), quando praticadas contra autoridade ou
agente descrito nos arts.1422 e1444 da Constituição Federal, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição;

• Roubo: a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso
V); b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo
emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B); c) qualifcado
pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º) art. 157, § 3º, in fne, do
CP)

Antes da Lei n. 13.964/19, apenas o latrocínio era considerado crime hediondo,

• Extorsão qualifcada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão


corporal ou morte (art. 158, § 3º)
• Extorsão mediante sequestro e na forma qualifcada (art. 159, caput, e §§ lº, 2º e 3º, do CP)
• Estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º, do CP)
• Estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º, do CP)
• Epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º, do CP)
• Falsifcação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fns
terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B, do CP)
• Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança
ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º, do CP)
• Furto qualifcado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause
perigo comum (art. 155, § 4º-A).

Antes da Lei n. 13.964/19, nenhuma modalidade de furto era considerada crime hediondo.

Já o parágrafo único da Lei nº 8.072/90, alterado pela Lei nº 13.964/19, considera também
crimes hedionondos:

• Genocídio (Lei n. 2.889/56).


• Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido (art. 16 da Lei nº 10.826/
2003)

185
• Comércio ilegal de armas de fogo (art. 17 da Lei nº 10.826/03);

• Tráfco internacional de arma de fogo, acessório ou munição (art. 18 da Lei nº


10.826/03)
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou


equiparado.

Os crimes acima listados serão considerados hediondos se praticados na forma consumada ou tentada.

Existem ainda três crimes que são equiparados a hediondos (“regra do triplo T”), a saber:
Tortura (Lei 9.455/97), Tráfco (Lei 11.343/2006) e Terrorismo (Lei n. 13.260/2016).

É importante memorizar quais crimes são hediondos e equiparados, porque a eles não se
aplicam uma série de direitos, a saber:

I – Não são suscetíveis de anistia, graça e indulto TEMA COBRADO NOS


EXAMES XXVI E XXVIII DA OAB/FGV.

II – Não admitem fança

III – A progressão de regime nos crimes hediondos e equiparados é diferente: a)


40% da pena para primário sem resultado morte, b) 50% da pena para primário
com resultado morte ou para condenado por exercer o comando, individual
ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática de crime
hediondo ou equiparado; ou condenado pela prática do crime de constituição
de milícia privada;, c) 60% da pena para reincidente específco sem resultado
morte e d) 70% para reincidente específco com resultado morte.

O § 1º do art. 2º dispõe que a pena no crime hediondo será cumprida inicialmente em regime
fechado. Ocorre, entretanto que, no HC 11.840, o STF entendeu que é inconstitucional a fxação
do regime inicial fechado apenas pelo caráter hediondo do crime.
Além disso, na progressão de regime do crime hediondo, deve-se observar o contido na Súmula
Vinculante n. 26 do STF:

Súmula Vinculante 26: Para efeito de progressão de regime no


cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da
execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei nº 8.072, de
25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche,
ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo
determinar, para tal fm, de modo fundamentado, a realização de exame
criminológico.
Embora a lei de execução penal não exija mais a realização de exame criminológico, o juiz
poderá determinar sua realização para avaliar se haverá ou não a progressão do regime.

IV – A prisão temporária será de 30 dias, prorrogável por igual período no caso


186
de extrema e comprovada necessidade (art. 2º, § 4º, da Lei n. 7.960/89).

V – O livramento condicional será concedido apenas se o condenado tiver


cumprido mais de 2/3 da pena, sendo vedado quando o crimé é praticado com
resultado morte.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

VI – A pena do crime de associação criminosa será mais grave quando por


realizada para a prática de crimes hediondos ou equiparados.

CRIMES HEDIONDOS OU
CRIMES COMUNS EQUIPRADOS

Suscetíveis de anistia, graça e indulto NÃO são suscetíveis de anistia, graça e indulto

Admitem, como regra geral, fança NÃO admitem fança

Progressão de regime depende do cumprimento Progressão de regime depende do


de 1/6 da pena cumprimento de 40%, 50%, 60% ou 70% da
pena.

A prisão temporária de 5 dias, prorrogável por A prisão temporária de 30 dias, prorrogável


igual período por igual período

Livramento condicional depende do cumprimento Livramento condicional será concedido


de 1/3 (primário) ou 1/2 (reincidente) da pena. se crime não resultou morte e depende do
cumprimento de 2/3 da pena.

A pena do crime de associação criminosa (art. 288 A pena do crime de associação criminosa
do CP) é de 1 a 3 anos. (art. 288 do CP) é de 3 a 6 anos.

28.4.  TORTURA (LEI N. 9.455/97)

O crime de tortura previsto na lei n. 9.455/97 pode ser classifcado em tortura própria e tortura imprópria.

A tortura própria, apenada com reclusão de 2 a 8 anos, ocorre quando o agente praticas as
seguintes condutas

• Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe


sofrimento físico ou mental: a) com o fm de obter informação, declaração ou confssão
da vítima ou de terceira pessoa; b) para provocar ação ou omissão de natureza
criminosa; c) em razão de discriminação racial ou religiosa (inciso I do art. 1º)
TEMA COBRADO NO XIX EXAME DA OAB/FGV.
• Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência
ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo
pessoal ou medida de caráter preventivo (inciso II do art. 1º).
187
O crime de tortura previsto no art. 1º, inciso II, da Lei n. 9.455/97 não se confunde com os
maus-tratos do art. 136 do CP. Isso porque no crime de tortura a vítima é submetida a intenso
sofrimento físico ou mental, enquanto no crime de maus-tratos não.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Submeter pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou


mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de
medida legal (§ 1º do art. 1º).

Já a tortura imprópria, apenada com detenção de 1 a 4 anos, ocorre quando o agente se omite
em face das condutas da tortura própria, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las. Trata-se,
portanto, de crime omissivo e próprio, pois só poderá ser praticada por aquele que tinha o dever
de evitar o crime TEMA COBRADO NO III EXAME DA OAB/FGV.

28.5.  CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO (LEI 9.503/97)

28.5.1.  HOMICÍDIO CULPOSO NA CONDUÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR

• Descrição do Tipo (art. 302 do CTB): praticar homicídio culposo na direção de veículo
automotor: Penas — detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
• Forma qualifcada: se o agente conduz veículo automotor sob a infuência de álcool
ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência. Penas
- reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor (§ 3º, acrescentado pela Lei
n. 13.546/2017)
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum); b) sujeito passivo:
qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade culposa, já que na modalidade dolosa
o crime será o previsto no art. 121 do CP.
• Causas de aumento de pena (§ 1º): a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à metade,
se o agente: I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; II -
praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; III - deixar de prestar socorro, quando
possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; IV - no exercício de sua
profssão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento da morte da vítima. A
tentativa não é possível, já que se trata de modalidade culposa.
• Prisão em fagrante: ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito
de que resulte vítima, não se imporá a prisão em fagrante, nem se exigirá fança, se
prestar pronto e integral socorro àquela (art. 301 do CTB).
• Ação penal: pública incondicionada.

Recordando:

188
CRIME DE DANO: é aquele em que há efetiva CRIME DE PERIGO: sua caracterização
“destruição” do bem protegido, como no caso dos exige apenas a probabilidade de dano. É
crimes de homicídio e de lesão corporal. subdividido em: a) crime de perigo concreto
(a situação de perigo deve ser demonstrada
no caso concreto, como no caso do crime de
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

racha (art. 308 do CTB) e b) crime de perigo


abstrato (o perigo é presumido pela lei, como
no caso do crime de embriaguez no volante
(art. 306 do CTB)

28.5.2.  LESÃO CULPOSA NA CONDUÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR

• Descrição do Tipo (art. 303 do CTB): praticar lesão corporal culposa na direção
de veículo automotor. Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou
proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor
TEMA COBRADO NO V EXAME DA OAB/FGV.

O crime de lesão corporal culposa é de menor potencial ofensivo, aplicando-se a Lei n. 9.099/95,
salvo nas hipóteses previstas no § 1º do art. 291 do CTB , ou seja, quando o agente estiver: I -
sob a infuência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência;
II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição
ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade
competente; III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h
TEMA COBRADO NO XVIII EXAME DA OAB/FGV.

• Forma qualifcada: a pena privativa de liberdade é de reclusão de dois a cinco


anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo, se o agente conduz o
veículo com capacidade psicomotora alterada em razão da infuência de álcool ou de
outra substância psicoativa que determine dependência, e se do crime resultar lesão
corporal de natureza grave ou gravíssima (§ 2º, acrescentado pela Lei n. 13.546/2017)
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum); b) sujeito passivo:
qualquer pessoa.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade culposa, já que na modalidade dolosa
o crime será o previsto no art. 129 do CP.
• Causas de aumento de pena (as mesmas do art. 302 do CTB): a pena é aumentada
de 1/3 (um terço) à metade, se o agente: I - não possuir Permissão para Dirigir ou
Carteira de Habilitação; II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; III - deixar
de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; IV
- no exercício de sua profssão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte
de passageiros.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que a vítima sofre a
lesão. A tentativa não é possível, já que se trata de modalidade culposa.
• Prisão em fagrante: ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito
de que resulte vítima, não se imporá a prisão em fagrante, nem se exigirá fança, se
prestar pronto e integral socorro àquela (art. 301 do CTB).
189
• Ação penal: pública condicionada à representação, salvo nos casos previstos no §
1º do art. 291 do CTB.

28.5.3.  OMISSÃO DE SOCORRO


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

• Descrição do Tipo (art. 304 do CTB): deixar o condutor do veículo, na ocasião do


acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente,
por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública. Penas — detenção, de
seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime mais grave.
TEMA COBRADO NO XXXVIII EXAME DA OAB/FGV.
• Parágrafo único do art. 304: incide nas penas previstas neste artigo o condutor do
veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima
com morte instantânea ou com ferimentos leves.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: condutor do veículo que se envolveu em acidente com
vítima; b) sujeito passivo: vítima do acidente.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento da omissão. A tentativa
não é possível, já que se trata de crime omisso próprio.
• Prisão em fagrante: ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito
de que resulte vítima, não se imporá a prisão em fagrante, nem se exigirá fança, se
prestar pronto e integral socorro àquela (art. 301 do CTB).
• Ação penal: pública incondicionada.

O condutor do veículo que se envolve em acidente com vítima e deixa de prestar socorro comete
o crime do art. 304 do CTB, enquanto que as demais pessoas que não prestam socorro, inclusive
condutores de outros veículos, podem cometer o crime de omissão de socorro do art. 135 do CP.

28.5.4.  FUGA DO LOCAL DE ACIDENTE

• Descrição do Tipo (art. 305 do CTB): afastar-se o condutor do veículo do local do


acidente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída.
Penas — detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: condutor do veículo; b) sujeito passivo: Estado e, em
segundo plano, vítima do acidente.
• Tipo Subjetivo: admite apenas a modalidade dolosa.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento da fuga. A tentativa é possível.
• Ação penal: pública incondicionada.

28.5.5.  EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

• Descrição do Tipo (art. 306 do CTB): conduzir veículo automotor com capacidade
psicomotora alterada em razão da infuência de álcool ou de outra substância
190
psicoativa que determine dependência. Penas - detenção, de seis meses a três anos,
multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor.
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

A verifcação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia ou
toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em
direito admitidos, observado o direito à contraprova (§ 2º do art. 306).

• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum); b) sujeito passivo: Coletividade.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre no momento em que o agente dirige
o veículo embriagado. A tentativa não é possível.
• Ação penal: pública incondicionada.

DICA: O crime de embriaguez ao volante é considerado um crime de perigo abstrato, já que


estará caracterizado independentemente do agente ter, de fato, colocado em risco a integridade
física de outras pessoas.

28.5.6.  PARTICIPAÇÃO EM COMPETIÇÃO NÃO AUTORIZADA – “RACHA”

• Descrição do Tipo (art. 308 do CTB): participar, na direção de veículo automotor,


em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela
autoridade competente, gerando situação de risco à incolumidade pública ou privada:
Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de
se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
• Formas qualifcadas:
• Se da prática do crime resultar lesão corporal de natureza grave, e as
circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu
o risco de produzi-lo (modalidade culposa), a pena privativa de liberdade é de
reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, sem prejuízo das outras penas previstas
neste artigo.
• Se da prática do crime resultar morte, e as circunstâncias demonstrarem
que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo (modalidade
culposa), a pena privativa de liberdade é de reclusão de 5 (cinco) a 10 (dez)
anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum); b) sujeito passivo: coletividade.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a participação da corrida não
autorizada, gerando risco. A tentativa não é possível.
• Ação penal: pública incondicionada.

DICA: O crime de racha é considerado um crime de perigo concreto, já que depende da


comprovação do risco efetivo à incolumidade pública ou privada.

191
28.5.7.  EXCESSO DE VELOCIDADE EM DETERMINADOS LOCAIS

• Descrição do Tipo (art. 311 do CTB): trafegar em velocidade incompatível com


a segurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações de embarque
e desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou onde haja grande
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

movimentação ou concentração de pessoas, gerando perigo de dano. Penas - detenção,


de seis meses a um ano, ou multa.
• Sujeitos: a) sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum); b) sujeito passivo: coletividade.
• Consumação e tentativa: a consumação ocorre quando o agente dirigir com
velocidade incompatível nos locais previstos no tipo penal, gerando perigo de dano. A
tentativa não é possível.
• Ação penal: pública incondicionada.

28.6.  LEI DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS (LEI N. 12. 850/2013)

O § 1º do art. 1º da Lei n. 12.850/2013 defne organização criminosa como a associação de


4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas,
ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer
natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4
(quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
Requisitos:

• Reunião de ao menos 4 pessoas


• Estrutura com divisão de tarefas, ainda que a divisão seja informal
• Obtenção da vantagem de qualquer natureza
• Prática de duas ou mais infrações penais com penas superiores a 4 anos, ou que
sejam de caráter transnacional (ultrapassam o território de um país).

Se qualquer um dos quatro requisitos acima elencados não estiver presente, estaremos
provavelmente diante de hipótese do crime de associação criminosa previsto no art. 288 do CP,
e não de organização criminosa

CRIME DE ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA


(ART. 288)

Na associação criminosa exige-se a reunião de ao Reunião de ao menos 4 pessoas


menos três pessoas com intenção de praticar crime.
Estrutura com divisão de tarefas, ainda
que a divisão seja informal

Obtenção da vantagem de qualquer natureza

Prática de duas ou mais infrações penais


com penas superiores a 4 anos, ou que sejam
de caráter transnacional (ultrapassam o
território de um país).

192
Importante destacar que a Lei n. 13.964/19 (pacote anticrime) acrescentou os parágrafos 8º
e 9º ao art. 2º da Lei nº 12.850/13, estabelecendo que:

(...)
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

§ 8º As lideranças de organizações criminosas armadas ou que tenham armas à


disposição deverão iniciar o cumprimento da pena em estabelecimentos penais de
segurança máxima.

§ 9º O condenado expressamente em sentença por integrar organização criminosa ou


por crime praticado por meio de organização criminosa não poderá progredir de regime
de cumprimento de pena ou obter livramento condicional ou outros benefícios prisionais
se houver elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo.”

A ideia é isolar os líderes das organizações criminosas armadas ou que tenham armas à
disposição, para que eles não continuem comandando a organização de dentro da cadeia, como
infelizmente costuma acontecer. O § 9º, por sua vez, veda a progressão de regime e a concessão
de livramento condicional ou outro benefício para os integrantes de organização criminosas que
ainda mantém vínculo associativo com a organização.

Outro ponto importantíssimo sobre a lei de organizações criminosas se refere a seu art. 3º, que
admite os seguintes meios de obtenção de prova em qualquer fase da persecução penal:

a) colaboração premiada;

b) captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos;

c) ação controlada;

d) acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes


de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais;

e) interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da


legislação específca;

f) afastamento dos sigilos fnanceiro, bancário e fscal, nos termos da legislação específca;

g) infltração, por policiais, em atividade de investigação;

h) cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na


busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal.

A lei n. 13.964/19 (pacote anticrime) acrescentou também os artigos 3º-A, 3º-B e 3º-C, tratando
especifcamente do acordo de colaboração premiada:

‘Art. 3º-A. O acordo de colaboração premiada é negócio jurídico processual e meio de


193
obtenção de prova, que pressupõe utilidade e interesse públicos.’

‘Art. 3º-B. O recebimento da proposta para formalização de acordo de colaboração


demarca o início das negociações e constitui também marco de confdencialidade,
confgurando violação de sigilo e quebra da confança e da boa-fé a divulgação de tais
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

tratativas iniciais ou de documento que as formalize, até o levantamento de sigilo por


decisão judicial.

§ 1º A proposta de acordo de colaboração premiada poderá ser sumariamente indeferida,


com a devida justifcativa, cientifcando-se o interessado.

§ 2º Caso não haja indeferimento sumário, as partes deverão frmar Termo de


Confdencialidade para prosseguimento das tratativas, o que vinculará os órgãos
envolvidos na negociação e impedirá o indeferimento posterior sem justa causa.

§ 3º O recebimento de proposta de colaboração para análise ou o Termo de


Confdencialidade não implica, por si só, a suspensão da investigação, ressalvado
acordo em contrário quanto à propositura de medidas processuais penais cautelares
e assecuratórias, bem como medidas processuais cíveis admitidas pela legislação
processual civil em vigor.

§ 4º O acordo de colaboração premiada poderá ser precedido de instrução, quando


houver necessidade de identifcação ou complementação de seu objeto, dos fatos
narrados, sua defnição jurídica, relevância, utilidade e interesse público.

§ 5º Os termos de recebimento de proposta de colaboração e de confdencialidade serão


elaborados pelo celebrante e assinados por ele, pelo colaborador e pelo advogado ou
defensor público com poderes específcos.

§ 6º Na hipótese de não ser celebrado o acordo por iniciativa do celebrante, esse não
poderá se valer de nenhuma das informações ou provas apresentadas pelo colaborador,
de boa-fé, para qualquer outra fnalidade.’

‘Art. 3º-C. A proposta de colaboração premiada deve estar instruída com procuração
do interessado com poderes específcos para iniciar o procedimento de colaboração e
suas tratativas, ou frmada pessoalmente pela parte que pretende a colaboração e seu
advogado ou defensor público.

§ 1º Nenhuma tratativa sobre colaboração premiada deve ser realizada sem a presença
de advogado constituído ou defensor público.

§ 2º Em caso de eventual confito de interesses, ou de colaborador hipossufciente, o


celebrante deverá solicitar a presença de outro advogado ou a participação de defensor
público.

§ 3º No acordo de colaboração premiada, o colaborador deve narrar todos os fatos


ilícitos para os quais concorreu e que tenham relação direta com os fatos investigados.

§ 4º Incumbe à defesa instruir a proposta de colaboração e os anexos com os fatos


adequadamente descritos, com todas as suas circunstâncias, indicando as provas e os
elementos de corroboração.’

Os artigos acima transcritos regulamentam a fase negocial do acordo de colaboração, que se


inicia com a proposta para a formalização do acordo, entregue ao delegado de polícia ou ao Ministério
Público.

194
Se a proposta não for sumariamente indeferida, as partes devem frmar Termo de Confdencialidade
para prosseguimento das tratativas, o que vinculará os órgãos envolvidos na negociação e impedirá
o indeferimento posterior sem justa causa (§ 2º do art. 3º-B).

Se o acordo não for celebrado por iniciativa do celebrante, esse não poderá se valer de nenhuma
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

das informações ou provas apresentadas pelo colaborador, de boa-fé, para qualquer outra fnalidade
(§ 6º do art. 3º-B).

Outro ponto que merece destaque, em especial para a prova da OAB, é que o colaborador deve
estar sempre assistido por advogado ou defensor púbico, devendo o advogado possuir poderes
especiais para representar o seu cliente.

Realizado o acordo, este deverá ser homologado pelo juiz, que ouvirá sigilosamente o colaborador,
acompanhado de seu defensor, oportunidade em que analisará a legalidade, regularidade e
voluntariedade do colaborador na celebração do acordo, conforme § 7º do art. 4º, também alterado
pela Lei 13.964/19.

Destaca-se ainda que nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas
nas declarações de agente colaborador . Além disso, a Lei n. 13.964/19 aletrou o § 16 do art. 4º, para
dispor que, além da sentença, fcam incluídas na proibição as medidas cautelares reais (arresto e
sequestro, por exemplo) ou pessoais (prisão preventiva e temporária, por exemplo) e o recebimento
da denúncia ou queixa-crime.

Para tratar da inflrtração de agentes, a Lei n. 13.964/19 (pacote anticrime) acrescentou ainda os
artigos 10-A, 10-B, 10-C e 10-D:
“Art. 10-A. Será admitida a ação de agentes de polícia infltrados virtuais, obedecidos
os requisitos do caput do art. 10, na internet, com o fm de investigar os crimes
previstos nesta Lei e a eles conexos, praticados por organizações criminosas, desde
que demonstrada sua necessidade e indicados o alcance das tarefas dos policiais, os
nomes ou apelidos das pessoas investigadas e, quando possível, os dados de conexão
ou cadastrais que permitam a identifcação dessas pessoas.

§ 1º Para efeitos do disposto nesta Lei, consideram-se:

I - dados de conexão: informações referentes a hora, data, início, término, duração,


endereço de Protocolo de Internet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão;

II - dados cadastrais: informações referentes a nome e endereço de assinante ou de


usuário registrado ou autenticado para a conexão a quem endereço de IP, identifcação
de usuário ou código de acesso tenha sido atribuído no momento da conexão.

§ 2º Na hipótese de representação do delegado de polícia, o juiz competente, antes de


decidir, ouvirá o Ministério Público.

§ 3º Será admitida a infltração se houver indícios de infração penal de que trata o art.
1º desta Lei e se as provas não puderem ser produzidas por outros meios disponíveis.

§ 4º A infltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de
eventuais renovações, mediante ordem judicial fundamentada e desde que o total não
exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja comprovada sua necessidade.

§ 5º Findo o prazo previsto no § 4º deste artigo, o relatório circunstanciado, juntamente


195
com todos os atos eletrônicos praticados durante a operação, deverão ser registrados,
gravados, armazenados e apresentados ao juiz competente, que imediatamente
cientifcará o Ministério Público.

§ 6º No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar aos seus


OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

agentes, e o Ministério Público e o juiz competente poderão requisitar, a qualquer


tempo, relatório da atividade de infltração.

§ 7º É nula a prova obtida sem a observância do disposto neste artigo.”

A infltração de agentes na internet já possuía previsão no ECA, para os crimes contra dignidade
sexual de crianças e adolescentes e, com a Lei n. 13.964/19, passou a ter previsão também
para combater os crimes de organização criminosa e os a ele conexos.
A infltração depende de autorização judicial e, quando o pedido for feito pelo delegado de
polícia, o Ministério Público deve ser ouvido. Pode ser autorizada pelo prazo de 6 meses, que
pode ser prorrogado várias vezes, desde que não exceda o total de 720 dias.
Após o prazo de duração da infltração, deve ser elaborado relatório minucioso com o histórico
de todos os atos praticados, sendo que o relatório será apresentado ao juiz, que imediatamente
cientifcará o MP.

Art. 10-B. As informações da operação de infltração serão encaminhadas diretamente


ao juiz responsável pela autorização da medida, que zelará por seu sigilo.

Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o acesso aos autos será reservado
ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia responsável pela operação, com o
objetivo de garantir o sigilo das investigações.”


Apenas o juiz, o MP e o delegado de polícia responsável pela operação podem ter acesso aos
autos da infltração, para que esta não seja prejudicada. O advogado, portanto, não tem direito a
acessar os autos, o que confgura uma exceção ao direito estabelecido no art. 7 º, XIV, do EAOAB.

“Art. 10-C. Não comete crime o policial que oculta a sua identidade para, por meio da
internet, colher indícios de autoria e materialidade dos crimes previstos no art. 1º desta
Lei.

Parágrafo único. O agente policial infltrado que deixar de observar a estrita fnalidade
da investigação responderá pelos excessos praticados.”

O registro, a gravação e o armazenamento dos dados são necessários para preservar a cadeia
de custódia dos indícios e provas colhidos.

Por fm, cabe destacar ainda a inclusão do parágrafo único ao art. 11 da Lei 12.850, nos seguintes
termos:
O “Art. 11. (...)

Parágrafo único. Os órgãos de registro e cadastro público poderão incluir nos bancos
196
de dados próprios, mediante procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial,
as informações necessárias à efetividade da identidade fctícia criada, nos casos de
infltração de agentes na internet.”
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Levando-se em consideração o alto grau de profssionalismo das organizações criminosas, a


inclusão do nome fctício do agente nos bancos de dados públicos objetiva dar mais veracidade
e credibilidade à infltração, já que difcultará para os criminosos identifcarem que se trata de
pessoa com identidade falsa.

28.7.  INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA (LEI N. 9.296/96).

A interceptação das comunicações telefônicas é media excepcional e poderá ser determinada


pelo juiz, de ofício ou a requerimento: a) da autoridade policial, na investigação criminal ou b) do
representante do Ministério Público, na investigação criminal ou na instrução processual penal (art.
3º)

O § 1º do art. 4º dispõe que, excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido seja formulado
verbalmente, desde que estejam presentes os pressupostos que autorizem a interceptação, caso
em que a concessão será condicionada à sua redução a termo.

Para que interceptação telefônica seja deferida, são necessários os seguintes requisitos,
conforme interpretação, a contrario sensu, do art. 2º Lei n. 9.296/96:

a) Deve haver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal;

b) A prova não pode ser feita por outros meios disponíveis;

c) O fato investigado constituir infração penal punida com pena de reclusão

Destaca-se ainda que a Lei n. 13.964 /19 (pacote anticrime) acrescentou o art. 8º-A na Lei
de Interceptação Telefônica, deixando claro que a captação ambiental de sinais eletromagnéticos,
ópticos ou acústicos poderá ser feita mesmo que o crime não esteja relacionado às organizações
criminosas, desde que presentes os seguintes requisitos: a) Impossibilidade de a prova ser
produzida por outros meios disponíveis e igualmente efcazes; b) Elementos probatórios razoáveis
de autoria e participação em infrações criminais cujas penas máximas sejam superiores a 4
(quatro) anos ou em infrações penais conexas.

Pode ser considerada infração penal conexa aquela que está sendo investigada no mesmo
contexto de outra infração penal.

Além disso, de acordo com a redação original do Pacote Anticrime havia a previsão de inserção
dos parágrafos 2º e 4º no art. 8-A da Lei de Interceptações Telefônicas (Lei nº 9.296/96), com a
seguinte redação:

§ 2º A instalação do dispositivo de captação ambiental poderá ser realizada, quando


197
necessária, por meio de operação policial disfarçada ou no período noturno, exceto na
casa, nos termos do inciso XI do caput do art. 5º da Constituição Federal.

§ 4º A captação ambiental feita por um dos interlocutores sem o prévio conhecimento da


autoridade policial ou do Ministério Público poderá ser utilizada, em matéria de defesa,
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

quando demonstrada a integridade da gravação.

Ambos os parágrafos foram vetados pelo Presidente da República, principalmente porque,


no parágrafo primeiro, ao excluir a “casa”, a lei estaria esvaziando a possibilidade de captação
ambiental, uma vez que o STF alargou o conceito da palavra para salvaguardar qualquer
compartimento habitado, até mesmo um aposento que não seja aberto ao público, utilizado para
moradia, profissão ou atividades, nos termos do art. 150, § 4º, do Código Penal (v. g. HC 82788,
Relator: Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 12/04/2005).

Já o parágrafo segundo foi vetado sob o argumento de que, ao limitar o uso da prova obtida
mediante a captação ambiental apenas pela defesa, a norma contraria o interesse público e
também a jurisprudência do STF.

Com a derrubada do veto, ambos os parágrafos passam a vigorar no ordenamento jurídico,


mas a constitucionalidade dos dispositivos é duvidosa e muita discussão será travada a respeito
do tema.

28.8.  LEI MARIA DA PENHA (LEI N. 11.340/2006)

A lei n. 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, cria mecanismos para coibir a
violência doméstica e familiar contra a mulher.

Abaixo destacamos, de forma sucinta, os principais pontos da referida lei a serem memorizados
para a prova da OAB/FGV:

• Confgura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão


baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico
e dano moral ou patrimonial, inclusive em qualquer relação íntima de afeto, na qual o
agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação
(art. 5º, III, da Lei Maria da Penha). TEMA COBRADO NO XX EXAME DA OAB/FGV.

A Lei 13.772/2018 alterou o inciso II do art. 7º da Lei Maria da Penha, dispondo que
a violação da intimidade da mulher também é considerada violência doméstica, na
modalidade violência psicológica

• Não se aplica a Lei n. 9.099/95 aos crimes praticados no ambiente doméstico e


familiar contra a mulher, independentemente da pena do crime. Em outras palavras,
não existe crime de menor potencial ofensivo praticado contra a mulher no ambiente
doméstico. Assim, não se admitem as medidas despenalizadoras da Lei n. 9.099/95
(composição civil extintiva da punibilidade, transação penal, suspensão condicional do
198
processo), além do que todos os tipos de lesão corporal são processados mediante
ação penal pública incondicionada TEMA COBRADO NO XXV EXAME DA OAB/FGV.

• Todos os gastos acarretados pela vítima da violência doméstica devem ser arcados
pelo agressor , incluindo o ressarcimento dos custos do tratamento de saúde prestado
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

pelo SUS às vítimas de violência doméstica e familiar e aos dispositivos de segurança


por elas utilizados (art. 9º, com nova redação dada pela Lei n. 13.873/2019)

• O art. 11 da Lei Maria da Penha estabelece que, no atendimento à mulher em


situação de violência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras
providências: I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de
imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário; II - encaminhar a ofendida ao
hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal; III - fornecer transporte para
a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de
vida; IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus
pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar; V - informar à ofendida
os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis, inclusive os de
assistência judiciária para o eventual ajuizamento perante o juízo competente da
ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução
de união estáve (alínea acrescentada pela Lei nº 13.894/2019)
• O art. 16 da Lei Maria da Penha dispõe que “nas ações penais públicas condicionadas
à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à
representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal
fnalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público”.
• O art. 17 da Lei Maria da Penha dispõe que é vedada a aplicação, nos casos de
violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras
de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento
isolado de multa.

• O Capítulo II da Lei Maria da Penha prevê a possibilidade de o juiz aplicar medidas


protetivas para evitar ou coibir a violência contra a mulher. O juiz deverá estabelecer
as medidas protetivas necessárias no prazo de 48 horas do recebimento do pedido da
Vítima ou do Ministério Público. Entre as medias que podem ser aplicadas, destacam-
se as seguintes: a) afastamento do agressor do local de convivência com a vítima, b)
fxação de limite mínimo de distância que o agressor deve permanecer da vítima, c)
proibição de qualquer tipo de contato com a vítima ou seus familiares, d) pagamento
de alimentos provisórios e e) o encaminhamento da ofendida à assistência judiciária,
o que abrange o direito de ajuizar ações de separação judicial, de divórcio, de anulação
de casamento ou de dissolução de união estável (alínea acrescentada pela Lei nº
13.894/2019)

• No caso de descumprimento das medidas impostas, o infrator pode ser obrigado a


pagar multa bem como ter sua prisão preventiva decretada (art. 313, III, do CPP). Além
disso, a Lei nº 13.641/2018 acrescentou o art. 24-A à Lei Maria da Penha passando a
dispor que o descumprimento de medida protetiva imposta também será considerado
crime.

• A Lei nº 13.827/2019 inseriu o art. 12-C à Lei Maria da Penha, passando a dispor
que, havendo risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou psicológica
(a previsão da integridade psicológica foi acrescentada pela Lei nº 14.188/21)
da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes,
199
permite-se a aplicação IMEDIATA de medida protetiva para afastar o agressor do lar,
domicílio ou local de convivência com a ofendida. A medida deverá ser aplicada pelo
juiz, mas também poderá ser aplicada pelo delegado de polícia, quando o Município
não for sede de comarca ou pelo policial, quando o Município não for sede de comarca
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

e não houver delegado disponível no momento da denúncia.

A Lei nº 13.641/2018 acrescentou o art. 24-A à Lei Maria da Penha passando a dispor
que o descumprimento de medida protetiva imposta também será considerado crime.

Importante destacar, ainda, que a Lei n° 14.550/23 promoveu duas alterações importantes na
Lei a Maria da Penha.

A primeira alteração foi a inclusão dos parágrafos 4º, 5º e 6º no artigo 19, vejamos:
Art. 19 da Lei Maria da Penha

(...)

§ 4º As medidas protetivas de urgência serão concedidas em juízo de cognição sumária


a partir do depoimento da ofendida perante a autoridade policial ou da apresentação de
suas alegações escritas e poderão ser indeferidas no caso de avaliação pela autoridade
de inexistência de risco à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da
ofendida ou de seus dependentes. (Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023)

§ 5º As medidas protetivas de urgência serão concedidas independentemente da


tipifcação penal da violência, do ajuizamento de ação penal ou cível, da existência de
inquérito policial ou do registro de boletim de ocorrência. (Incluído pela Lei nº 14.550,
de 2023)

§ 6º As medidas protetivas de urgência vigorarão enquanto persistir risco à integridade


física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes.
(Incluído pela Lei nº 14.550, de 2023)

Estabelece o novo parágrafo quarto, portanto, que, para a concessão das medidas protetivas de
urgência, é sufciente o depoimento da vítima em cognição sumária, ou seja, não há necessidade
de outras provas, como depoimento testemunhal ou laudos periciais, sendo desnecessária a
existência de processo ou inquérito policial. Além disso, somente será possível o indeferimento
das medidas se, na avaliação da autoridade, inexistir risco à integridade física, psicológica, sexual,
patrimonial ou moral da ofendida ou de seus dependentes.

O parágrafo quinto, por sua vez, passou a consagrar a natureza cível de todas as medidas
protetivas, uma vez que elas podem ser deferidas independentemente de registro de Boletim de
Ocorrência, inquérito policial instaurado ou processo criminal em curso.

Já o parágrafo sexto passou a dispor que as medidas protetivas de urgência vigorarão enquanto
persistir risco à integridade física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral da ofendida ou de
seus dependentes, ou seja, não é possível vincular a duração da medida à existência de inquérito,
200
processo ou ao cumprimento da pena.

Já a segunda alteração promovida pela Lei n° 14.550/23 foi o acréscimo do art. 40-A, in verbis:
Art. 40-A da Lei Maria da Penha - Esta lei será aplicada a todas as situações previstas
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

no art. 5º., independentemente da causa ou motivação dos atos de violência, ou da


condição do ofensor ou da ofendida.”

O legislador passou a considerar, portanto, que se presume que a violência no âmbito doméstico
é uma violência de gênero, incidindo a necessidade de proteção da Lei Maria da Penha. Trata-se de
presunção relativa, de modo que apenas é possível deixar de aplicar a Lei Maria da Penha quando
ocorrer a demonstração inequívoca de que o ato de violência não atingiu ou visou a vítima mulher.

28.9.  ECA

Em relação aos crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, o tema foi tratado
em capítulo próprio na apostila de ECA.

201
BIBLIOGRAFIA

• CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 1, parte geral. 22ª ed. São Paulo:
OAB NA MEDIDA | DIREITO PENAL

Saraiva, 2018.
• CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 2, parte especial: arts. 121 a 212.
18ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
• CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 3, parte especial: arts. 213 a 359-
H. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
• CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 4, legislação especial. 13ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2018.
• CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal – Parte Especial. Volume único.
10ª Ed. São Paulo: JusPodivm, 2018.
• CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal – Parte Geral. Volume único. 6ª
Ed. São Paulo: JusPodivm, 2018.
• MASSON, Cleber Rogério. Direito Penal Esquematizado, volume 1, parte geral. 12ª.
Ed. São Paulo: Método, 2011.
• MASSON, Cleber Rogério. Direito Penal Esquematizado, volume 2, parte especial. 3ª.
Ed. São Paulo: Método, 2011.
• MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. Vol. I. 23 ª ed. São Paulo: Atlas, 2006.

202

Você também pode gostar