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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA


FACULDADE DE DIREITO JACY DE ASSIS

GABRIELA OLIVEIRA FRANÇA BRAGA


JOVANA MENDES VILELA PRADO
LAILA MARIA FRANCO OLIVEIRA
MARIA CAROLINA RODRIGUES
MATHEUS DOFF SOTTA
PAULO AFONSO DE ÁVILA CARVALHO FILHO

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO ÂMBITO DO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

UBERLÂNDIA
2021
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GABRIELA OLIVEIRA FRANÇA BRAGA


JOVANA MENDES VILELA PRADO
LAILA MARIA FRANCO OLIVEIRA
MARIA CAROLINA RODRIGUES
MATHEUS DOFF SOTTA
PAULO AFONSO DE ÁVILA CARVALHO FILHO

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO ÂMBITO DO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

Dissertação apresentada na disciplina de


Direito Processual Civil I, ministrada pela
professora Dr. Alice Ribeiro de Souza, do
Curso de Direito da Universidade Federal de
Uberlândia como Atividade Assíncrona.

UBERLÂNDIA
2021
RESUMO

A presente dissertação, apresentada na disciplina de Direito Processual Civil I, ministrada


pela professora Dr. Alice Ribeiro de Souza, do Curso de Direito da Universidade Federal de
Uberlândia, tem como função conceituar e, consequentemente, analisar as modalidades típicas
de intervenção de terceiros trazidas no Código de Processo Civil a partir do texto legal, bem
como dos conhecimentos consolidados outrora pela doutrina processual brasileira. Desse
modo, o trabalho perpassa, respectivamente, pelo conceito de intervenção de terceiro por meio
de suas formas típicas, como trazido acima, descritas no Código, ou seja, a assistência, a
denunciação da lide, chamamento ao processo, desconsideração da personalidade jurídica,
amicus curiae e, por fim, as hipóteses diversas de intervenção de terceiros (no âmbito do
Direito do Consumidor, dos Juizados Especiais, ação de alimentos e da Lei Federal 9469/97).
Palavras-chave: Direito Processual Civil. Hipóteses de intervenção de terceiros. Supremo
Tribunal Federal.
ABSTRACT

The present dissertation, requested in the discipline of Civil Procedure Law I, teached by
Professor Dr. Alice Ribeiro de Souza, from the Law Course at the Federal University of
Uberlândia, has the conceptualize function and, consequently, analyzes the typical modalities
of third-party intervention presented by the Code of Civil Procedure from the legal text, as
well as from the knowledge previously consolidated by the Brazilian procedure doctrine. In
this way, this dissertation permeates, respectively, the concept of third party intervention
through its typical forms, as mentioned above, determined in the Code, that is, assistance,
denunciation of the dispute, call to the process, disregard of the legal personality, amicus
curiae and, finally, the different hypotheses of third-party intervention (within the scope of
Consumer Law, Special Courts, Alimony Action and Federal Law 9469/97).
Keywords: Civil Procedure Law. Third-party intervention hypotheses. Federal Court of
Justice.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 6

2. CONCEITO DE INTERVENÇÃO DE TERCEIROS 6


2.1. O terceiro 7
2.2. Os motivos da entrada do terceiro no processo e classificações da intervenção de
terceiros 7
2.3. Comparações entre o Código de 1973 e o de 2015 quanto à intervenção de
terceiros 8
2.4. Considerações finais 10

3. ASSISTÊNCIA 10
3.1. Conceito 10
3.2. Requisitos para intervenção 11
3.3. Tipos de assistência: simples ou litisconsorcial 11
3.4. Admissibilidade da assistência 12
3.5. Procedimento para pedido de assistência 12
3.6. Poderes e encargos dos assistentes simples e consorcial 13
3.7. Recursos 14
3.8. Assistência e a coisa julgada 14
3.9. Assistência provocada e assistência atípica/negociada 15
3.10. Sindicato como assistente 15
3.11. Recurso de terceiro prejudicado 15

4. DENUNCIAÇÃO DA LIDE 16
4.2. O Código de Processo Civil de 2015 17
4.3. A responsabilidade civil do Estado 19
4.4. A questão da obrigatoriedade da denunciação da lide 19
4.4.1. O Código de Buzaid (CPC/70) 19
4.4.2. A lei vigente 20
4.5. Procedimento 20
4.5.1. Denunciação realizada pelo autor 20
4.5.2. Denunciação realizada pelo réu 21
4.5.3. Julgamento da denunciação e as verbas de sucumbência 21

5. CHAMAMENTO AO PROCESSO 22
5.1. Conceito e critérios gerais 22
5.2. Hipóteses de admissibilidade do chamamento 24
5.3. Procedimento do chamamento ao processo 26

6. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 26


6.1. Hipóteses de aplicação da desconsideração da personalidade jurídica 27
6.2. Aspectos procedimentais 28
6.3. A desconsideração como incidente 29
6.4. A decisão interlocutória e o encerramento do incidente 29

7. INTERVENÇÃO DO AMICUS CURIAE 30


7.1. Conceito 31
7.2. Procedimento 32
7.3. Abrangência da capacidade 33
7.4. Manutenção basilar do Estado Democrático de Direito 34

8. OUTRAS HIPÓTESES DE INTERVENÇÃO DE TERCEIRO 35


8.1. A intervenção de terceiros sob à luz do Código de Defesa do Consumidor 35
8.2. As intervenções de terceiros nos Juizados Especiais 37
8.3. A intervenção de terceiros na ação de alimentos 38
8.3.1. A ação de alimentos 39
8.3.2. O art. 1.698 do CC/02 e suas controvérsias 40
8.3.3. O art. 1.698 como hipótese de denunciação da lide 40
8.3.4. O art. 1.698 como hipótese de chamamento ao processo 42
8. 4. A intervenção especial da União prevista na Lei Federal 9469/97 43

CONSIDERAÇÕES FINAIS 45

REFERÊNCIAS 46
7

1. INTRODUÇÃO

O Código de Processo Civil de 2002, bem como o Código de 1973, prevê uma série
de hipóteses em que o terceiro, interessado na ação haja vista as consequências jurídicas da
decisão a ser proferida, pode integrar o processo. Dessa forma, o CPC/2015, a partir do título
III “da Intervenção de Terceiros” (artigo 119 a 138), traz as formas típicas de intervenção,
sendo elas: a assistência, a denunciação da lide, chamamento ao processo, desconsideração
da personalidade jurídica e amicus curiae. Assim, a presente dissertação detalhará adiante
cada um dos tópicos trazidos acima, assim como demais hipóteses relevantes no
desenvolvimento coerente do tema.

2. CONCEITO DE INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

A intervenção de terceiros é um fenômeno previsto pelo ordenamento jurídico


brasileiro no título III do Código de Processo Civil de 2015 (CPC/15), mas já era tratado no
antigo Código de 1973 (CPC/73), e pode ser definido pelo ingresso de um terceiro em um
processo já existente, como parte ou coadjuvante da parte. É dividido em cinco situações:
Assistência (simples e litisconsorcial); Denunciação da Lide; Chamamento ao Processo;
Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica; e o Amicus Curiae. Dessa forma,
cabe analisar quais hipóteses permitem, de acordo com o ordenamento nacional, o ingresso de
um terceiro ao processo, bem como as motivações para tal.
Em primeira análise, é preciso salientar que o processo é o método pelo qual a ação
jurisdicional é realizada, ou seja, trata-se da função estatal que visa solucionar conflitos por
intermédio do Poder Judiciário. Assim a ação é capaz de provocar o Poder Judiciário, originar
o processo, pois a jurisdição é inerte, ou seja, o processo apenas se inicia quando há demanda.
Além disso, o processo se dá por uma relação trígona, da qual participam o autor, o
réu e o juiz, e começa com a petição inicial, tornando-se sólido com a citação válida do réu.
Dessa forma, é sabido que o autor é quem exercita o seu direito de ação, inaugurando o
processo e configurando o polo ativo da relação, enquanto o réu configura o polo passivo,
logo é a pessoa contra quem o processo tramita. Por fim, o juiz é o cidadão incumbido com o
poder-dever de exercer a atividade jurisdicional, a fim de solucionar os conflitos de interesse
que chegam ao Poder Judiciário. Com isso em mente, indaga-se quem seria o terceiro.
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2.1. O terceiro

O terceiro é aquele que não é parte do processo. Para o autor Cassio Scarpinella Bueno
(2019) terceiros são: “sempre entendidos aqueles que não são partes porque não formularam
ou em seu desfavor não foi formulado pedido de tutela jurisdicional”. Dessa forma, entendido
a diferença entre parte e terceiro, faz-se importante ressaltar que uma pessoa pode adquirir
posição de parte em um processo de três maneiras: tomando a iniciativa de instaura-lo;
intervindo em processo já existente entre outras pessoas; e sendo chamado a juízo para ver-se
processar. Outrossim, deve-se lembrar que na assistência e no amicus curiae o terceiro
interveniente permanecerá como tal para todos os fins do processo, ao passo que na
denunciação da lide, no chamamento ao processo e na desconsideração da personalidade
jurídica o terceiro se tornará parte.
Assim sendo, o terceiro, após ingressar no processo, pode adquirir uma posição de
auxiliar, o qual possui interesse na vitória de um das partes, ou de parte principal se igualando
ao autor e réu, ou até mesmo de parte principal com posição antagônica - tanto ao que diz
respeito ao autor, quanto ao réu.

2.2. Os motivos da entrada do terceiro no processo e classificações da intervenção de


terceiros

Feitas as devidas considerações acerca do terceiro, é de suma importância que se


compreenda o porquê de sua, possível, entrada em um processo alheio. Via de regra, a
integração em um processo já existente dá-se a partir da existência de interesse quanto aos
efeitos da decisão judicial, ou seja, quando, de algum modo, seus direitos estão envolvidos no
processo. Logo, quanto mais efeitos a coisa julgada trouxer ao terceiro, maior será sua
participação no processo. Segundo Scarpinella:
‘é pertinente entender que a intervenção de terceiros pressupõe conflito ou confronto
de relações jurídicas entre aqueles que são partes e aqueles que, como terceiros,
poderão ou deverão intervir. A depender das especificidades de cada situação,
analisada sempre na perspectiva do direito material, variam as modalidades
interventivas” (SCARPINELLA, 2019, p. 301).

É imprescindível destacar que as decisões interlocutórias que abordam a admissão ou


inadmissão de intervenção de terceiros estão submetidas ao agravo de instrumento do artigo
1.015, IX do Código de Processo Civil de 2015, fato que acarreta na conjectura de que o
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prejudicado pela decisão, inclusive o terceiro, pode pleitear, junto ao Tribunal competente,
seu imediato reexame.
De forma geral, a intervenção de terceiros é voluntária, uma vez que não seria
adequado que uma pessoa fosse obrigada a adentrar e atuar em um processo, pois tal atitude
poderia ferir o direito de ação, o devido processo legal e o princípio da inércia da jurisdição.
Logo, o que se presencia é o desejo que uma das partes possui de integrar um terceiro à
relação processual. Nessa perspectiva, a entrada deste no processo pode ser provocada, como
na denunciação da lide ou no chamamento ao processo, ou por iniciativa do próprio terceiro,
como na assistência.
Ademais, o terceiro pode ingressar no processo a fim de auxiliar uma das partes, seja
do polo passivo ou ativo, como ocorre na assistência, ou com o intuito de confrontar ambas as
partes e proteger direito próprio, como nos embargos de terceiro (previstos no Capítulo VII,
do Título III do atual Código de Processo Civil). Além disso, sua intervenção é possível a
partir da inclusão em processo alheio ou a partir de ação própria. Finalmente, é ainda possível
que a demanda seja alterada pela intervenção de terceiro, visto que tal parte interessada pode
não modificar os pedidos formulados entre autor e réu ou pode formular um novo pedido, o
que acarreta no aumento da demanda do processo.
O autor Humberto Theodoro Júnior (2018) classifica a intervenção de terceiros a partir
de dois critérios: I – conforme o terceiro vise ampliar ou modificar subjetivamente a relação
processual, a intervenção pode ser: (a) ad coadiuvandum: quando o terceiro busca conceder
cooperação a uma das partes primitivas. Exemplo: assistência; (b) ad excludendum: quando o
terceiro busca excluir uma ou ambas as partes primitivas. Exemplo: oposição (suprimida pelo
código atual; será tratada adiante). II – conforme a iniciativa da medida, a intervenção pode
ser: (a) espontânea: quando a iniciativa parte do terceiro. Exemplo: como geralmente ocorre
na oposição, na assistência, e, por vezes, na intervenção do amicus curiae; (b) provocada:
quando foi gerada por citação promovida pela parte primitiva, mesmo que ainda seja uma
acatada pelo terceiro de forma voluntária. Exemplo: denunciação da lide, chamamento ao
processo e desconsideração da personalidade jurídica.

2.3. Comparações entre o Código de 1973 e o de 2015 quanto à intervenção de terceiros

Partindo para uma análise histórica sobre a intervenção de terceiro, faz-se mister
relembrar o que salientava o Código de Processo Civil de 1973 sobre o tema, além das
mudanças ocorridas com a publicação do Código de Processo Civil de 2015. Como citado
10

anteriormente, o antigo código já abordava o tema da intervenção de terceiros em seu


conteúdo, mas com algumas diferenças - as principais mudanças se deram sobre duas
categorias de intervenção de terceiros, a nomeação à autoria e a oposição (ambas não foram
extintas pelo novo código, foram apenas modificadas e realocadas).
A nomeação à autoria era tratada no antigo código nos artigos 62 ao 69, e possuía o
intuito de corrigir o polo passivo do processo. O legislador do atual código desconsiderou este
instituto como forma de intervenção de terceiro e criou um procedimento específico para
atender casos onde seja preciso sanar problemas no polo passivo - tal procedimento está
descrito nos artigos 338 e 339. Esse mecanismo corretivo se dá pela alegação do réu, na
contestação, sobre ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo que lhe está
sendo atribuído.
Quanto à oposição, o antigo código a trazia nos artigos 56 ao 61 dentro do Capítulo
dedicado à intervenção de terceiros, mas no atual código está localizada no Título III, o qual
trata dos procedimentos especiais (art. 682 ao 686). Assim, agora a oposição é vista como
uma ação especial autônoma, a qual se encaixa nos casos onde um terceiro oferece oposição
contra o autor e o réu da ação por pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre os
quais as partes controvertem.
Ainda sobre a oposição, o Código de 73 a diferencia em duas modalidades quanto ao
momento em que é oferecida. Logo, se for oferecida antes da audiência, será tratada como
uma verdadeira intervenção de terceiros, pois será anexada aos autos principais e correrá de
forma simultânea a ação, sendo que ambas serão julgadas pela mesma sentença. (tal fato está
expresso no artigo 59). Entretanto, se for oferecida após a audiência, será julgada sem
prejudicar a causa principal, seguindo o procedimento ordinário (nos moldes do artigo 60) -
nessa hipótese, a oposição não é vista como intervenção de terceiro, e sim como uma ação
autônoma para formar um processo incidente.
Logo, a oposição com natureza interventiva não foi mantida pelo Código de 2015,
apenas a oposição autônoma prevaleceu, a qual é expressa nos artigos 682 a 686 do referido
código. Ela deverá ser oferecida até o momento de proferimento da sentença, assim não há
que se falar de diferenças no tocante a ser oferecida antes ou após a audiência, uma vez que se
a oposição for oferecida após a audiência, o processo principal será suspenso.
Outra importante mudança do Código de 2015 é a consideração do amicus curiae
(artigo 138 do novo código) como hipótese de intervenção de terceiro, a qual não era vista
como tal no antigo código. Tal hipótese trata da permissão, do juiz ou relator, de um terceiro
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participar de um processo em consequência da relevância da matéria, da especificidade do


tema objeto da demanda ou da repercussão social da controvérsia.

2.4. Considerações finais

Em suma, a intervenção de terceiros permite que seja colocado em prática o que versa
o artigo 5º, LXXVIII, da Constituição Federal: “a todos, no âmbito judicial e administrativo,
são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação.”, e no artigo 4º do Código de Processo Civil de 2015: “As partes têm o direito de
obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa.". Dessa
maneira, isso significa dizer que a intervenção de terceiros faz com que o princípio da
eficiência processual seja efetivado.
Outrossim, a intervenção de terceiros permite que situações mais complexas do que a
que foi exposta originalmente na petição inicial sejam resolvidas por um mesmo processo,
uma vez que passa a envolver um maior número de sujeitos, otimizando a prestação
jurisdicional, estimulando a previsibilidade e segurança jurídicas e garantindo a isonomia e
coerência das decisões que visam solucionar os conflitos de interesse. Assim, é possível dizer
que a intervenção de terceiros aproxima o direito processual da busca pelo bem comum e da
efetiva justiça.

3. ASSISTÊNCIA

3.1. Conceito

O Código de Processo Civil de 2015, no artigo 119, conceitua assistência como


“pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado em que
a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la”. O Título III
trata da “Intervenção de Terceiros”, considerando a assistência como uma das formas de
intervir no processo, sendo que a mesma deve ser voluntária. O assistente não deve ser
considerado parte da relação processual, diferentemente do litisconsorte, e não defende o
direito próprio, mas possui interesse jurídico para proteger de forma indireta.
O interesse jurídico citado no artigo 119 do CPC/2015 refere-se àquele que “tiver uma
relação jurídica com uma das partes, diferente daquela sobre a qual versa o processo, mas que
poderá ser afetada pelo resultado” (GONÇALVES, 2020, p. 392). Dessa forma, o interesse do
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terceiro não deverá ser econômico ou afetivo, mas sim jurídico para garantir a efetividade e
validade da assistência.
Por conseguinte, para ingressar como assistente, deve haver uma relação jurídica que
será afetada pela decisão do processo em curso que deseja auxiliar uma das partes. Outra
importante característica desta forma de intervenção é a voluntariedade da mesma,
considerando que a decisão de ingressar no processo deve ser do terceiro interessado que
possuir uma relação jurídica que pode ser afetada pela decisão do magistrado do processo.

3.2. Requisitos para intervenção

O artigo 119 do CPC/2015 estabelece dois requisitos essenciais para que a assistência
seja válida e eficiente: presença de relação jurídica com uma das partes pelo terceiro
interessado e o interesse jurídico. Na hipótese de assistência, uma das partes possui outras
relações jurídicas que serão afetadas pela sentença de determinado processo, logo, um terceiro
possui interesse que um dos polos seja favorecido pela determinação do juiz. Dessa situação,
surge o interesse do mesmo de defender direito que não seja próprio.
Percebe-se tais requisitos na situação de locação e sublocação: o locatário principal e
sublocatário possuem relação jurídica diversa da estabelecida entre locatário principal e
locador. Caso o locatário seja afetado por algum ato praticado pelo locador, o sublocatário
também será afetado e por isso o mesmo possui interesse jurídico na relação citada
anteriormente.

3.3. Tipos de assistência: simples ou litisconsorcial

A assistência pode ser classificada em duas modalidades: simples e litisconsorcial. A


primeira refere-se ao auxílio prestado por assistente defendendo direito que não lhe é próprio
para que uma das partes receba uma sentença que lhe seja favorável. A segunda configura-se
quando o terceiro interessado defende direito próprio por meio da assistência litisconsorcial.
Na assistência simples, a relação jurídica presente no mérito do processo não envolve
o assistente de forma direta, sendo que o mesmo possui relação diversa com uma das partes
que será afetada de forma indireta ou terá reflexos decorrentes da decisão do processo.
Segundo artigo 122 do CPC/2015, o assistente simples não poderá impedir que a “parte
principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação, renuncie aos direitos sobre o
que se funda a ação ou transija sobre direitos controvertidos”. Ademais, o assistente simples
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deverá se sujeitar aos mesmos ônus processuais que a parte assistida (artigo 121),
considerando que o terceiro interessado é considerado substituto processual em caso de
omissão do assistido.
A assistência litisconsorcial se diferencia da anterior em relação à posição de defesa de
direito próprio, na qual o assistente poderia ter ingressado na origem da ação como
litisconsorte mas não o fez. Dessa forma, segundo artigo 124 do CPC/2015, “Considera-se
litisconsorte da parte principal o assistente sempre que a sentença influir na relação jurídica
entre ele e o adversário do assistido”. Nesse caso, a decisão do processo influirá
consequências diretas na relação do assistente e adversário, sem que sua relação jurídica tenha
sido citada no processo.
O litisconsórcio poderia ser formado no início do processo no caso da assistência
litisconsorcial, mas não foi realizado considerando sua característica facultativa e una apesar
da relação jurídica material em questão ser a mesma, ocorrendo uma substituição processual.
Ademais, o assistente poderá continuar a defesa de seu direito apesar de desistência pela parte
originária.
Para compreensão, pode-se exemplificar a assistência simples como na relação
locador/locatário/sublocatário citada anteriormente. A assistência litisconsorcial ocorre no
processo envolvendo espólio e inventariante na qual o herdeiro não citado ingressa na ação
para defesa de direito próprio.

3.4. Admissibilidade da assistência

De acordo com o artigo 119, CPC/2015, a assistência poderá ser admitida em qualquer
procedimento e em todos os graus de jurisdição. Todavia, o assistente receberá o processo no
estado em que se encontre. A assistência é possível mesmo em fase de recurso, sendo que a
única possibilidade de não intervenção é em caso de coisa julgada - é assim estabelecido
considerando que a intervenção possui caráter facultativo e o assistente não possui direito de
apurar atos já praticados.

3.5. Procedimento para pedido de assistência

O artigo 120 do Código de Processo Civil de 2015 disserta a respeito do procedimento


do pedido de assistência: a intervenção assistencial deverá ser solicitada por petição pelo
terceiro interessado. Após as partes serem ouvidas e observadas, elas terão o prazo de quinze
14

dias para impugnação do pedido. Em caso de ausência de impugnação, o juiz poderá admitir a
assistência, exceto em caso de rejeição liminar, conforme artigo 120 (CPC/2015).
Entretanto, caso uma das partes apresente impugnação ao pedido, ocorrerá um
procedimento incidental, que é considerado decisão interlocutória e poderá fomentar recurso
de agravo de instrumento conforme artigo 1.015, inciso IX, do CPC/2015. Assim, tal
procedimento não deve suspender ou prejudicar o processo principal. Ressalta-se que a
contestação do pedido de assistência deve ser apenas em relação ao interesse jurídico do
terceiro.

3.6. Poderes e encargos dos assistentes simples e consorcial

O assistente simples e litisconsorcial podem auxiliar a parte principal por meio do


direito de exercer os mesmos poderes e sujeitando-se aos mesmos ônus processuais que o
assistido, podendo produzir provas, requerer perícias e participar de audiências, conforme
artigo 121 e 124 do CPC/2015. Todavia, os mesmos não podem modificar o objeto da
demanda ou as estratégias definidas pelo assistido, proibindo aos assistentes a condição de
produção de nova demanda.
Em relação à assistência litisconsorcial, ocorre maior autonomia em relação aos atos
processuais, sendo as mesmas da parte principal, considerando que o mesmo seria
litisconsorte unitário, podendo atuar a partir do momento que o processo se encontra, sem
alterações aos procedimentos anteriores. De acordo com Marcus Vinicius Rios Gonçalves
(2020), em seu livro “Curso de Direito Processual Civil”:

Aplica-se o regime da unitariedade: o assistente litisconsorcial pode praticar


isoladamente os atos que sejam benéficos, e o benefício se estenderá à parte. Mas os
atos desfavoráveis serão ineficazes até mesmo em relação a ele, salvo se praticados
em conjunto pelos assistidos e pelo assistente litisconsorcial. Não se aplica o art. 122
do CPC ao assistente litisconsorcial, mas somente ao simples. Desde que haja a
intervenção do primeiro no processo, a parte assistida não pode mais renunciar ao
direito, reconhecer o pedido, transigir ou mesmo desistir da ação, sem que haja
concordância do assistente litisconsorcial, que é cotitular da relação jurídica una e
incindível, discutida no processo. (GONÇALVES, 2020, p. 400)

Por outro lado, o assistente simples pode praticar atos processuais apenas se os
mesmos não contrariarem a vontade do assistido, considerando que a atitude do mesmo deve
ser sempre de auxílio à parte principal. Assim, o assistente simples não poderá se opor aos
atos praticados pelo assistido, acusar incompetência relativa ou suspeição e não poderá
reconvir, considerando que a reconvenção é apresentada apenas pelo réu.
15

Em relação aos encargos e honorários advocatícios, o artigo 94 do CPC/2015


estabelece: “Se o assistido for vencido, o assistente será condenado ao pagamento das custas
em proporção à atividade que houver exercido no processo”. Assim, o assistente
litisconsorcial deverá arcar com os honorários advocatícios na mesma proporção das partes,
enquanto o assistente simples não receberá nem pagará os honorários considerando que ele é
uma figura auxiliar.

3.7. Recursos

Como o assistente litisconsorcial é considerado parte do processo, é possível que o


mesmo interponha recursos mesmo que o assistido não o tenha feito. O Código de Processo
Civil de 2015 estabelece o terceiro interessado em intervenção assistencial como um
“substituto processual”. Assim, no artigo 121, parágrafo único, o código estabelece para o
assistente simples: “sendo revel ou, de qualquer outro modo, omisso o assistido, o assistente
será considerado seu substituto processual”. Dessa forma, Leonardo Carneiro Cunha (2004)
conceitua dois tipos de omissão: omissão contumacial (assistente atua no processo de forma
livre) e omissão negocial (assistente não deve ir contra vontade do assistido).

3.8. Assistência e a coisa julgada

O assistente litisconsorcial é sujeito à eficácia da coisa julgada em relação à decisão


por meio da sentença porque é considerado parte do processo. Todavia, o assistente simples
não sofre consequências diretas tendo em vista sua posição de defesa de direito que não lhe é
próprio e fica impedido de discutir acerca da decisão sobre o mérito em outros processos,
conforme artigo 123, CPC/2015:

Art. 123. Transitada em julgado a sentença no processo em que interveio o


assistente, este não poderá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo
se alegar e provar que:
I - pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações e pelos atos do
assistido, foi impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença;
II - desconhecia a existência de alegações ou de provas das quais o assistido, por
dolo ou culpa, não se valeu. (BRASIL, 2015, Art. 123)

O fato do assistente simples não poder iniciar nova discussão acerca do processo que
envolve o assistido reside na lógica de que o terceiro não poderia discutir um direito material
que não lhe é devido e próprio. Dessa forma, os incisos I e II apresentados acima são de
16

fundamental importância para que o assistente não seja prejudicado em suas relações
jurídicas.

3.9. Assistência provocada e assistência atípica/negociada

O artigo 119 do CPC/2015 dispõe acerca da característica voluntária e espontânea da


intervenção assistencial. Entretanto, pode ocorrer a provocação de inclusão de terceiros em
determinados tipos de processo, como na ação cautelar preparatória de futuro processo
principal, pela qual a convocação do terceiro ocorre como prevenção antecipada de
denunciação da lide ou chamamento ao processo (THEODORO JÚNIOR, 2015). Na hipótese
da assistência provocada, o juiz pode convocar determinada pessoa (física ou jurídica) para
participar do processo se quiser, desde que seja verificado seu interesse jurídico no mesmo.
Ainda no tocante do interesse jurídico, é possível que o juiz aceite intervenção de
terceiros sem confirmação do mesmo, conforme explica Humberto Theodoro Júnior:

“(...) é possível que o juiz admita a intervenção de sujeitos, mesmo sem a


comprovação do interesse como necessária para a assistência, se houver
concordância das partes, concretizando “a ideia de participação democrática no
processo civil”.É a denominada intervenção atípica ou negociada.” (THEODORO
JÚNIOR, 2015, p. 381)

Tal participação pode ser acordada entre as partes envolvidas no processo por meio de
negociação acerca dos poderes do assistente, permitindo uma maior flexibilização processual.

3.10. Sindicato como assistente

O Recurso Extraordinário 550.769 (Rio de Janeiro) trouxe um entendimento acerca da


intervenção assistencial de sindicatos a um associado que questionava a constitucionalidade
de determinada lei. O Supremo Tribunal Federal entendeu que a participação do sindicato por
meio da assistência simples poderia auxiliar em futuros processos e promover a garantia de
direitos de forma coletiva por meio da defesa do individual.

3.11. Recurso de terceiro prejudicado

A intervenção assistencial é vista como uma forma de economia processual. Diante


disso, o artigo 996 do CPC/2015 dispõe: “o recurso pode ser interposto pela parte vencida,
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pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem
jurídica”, promovendo ferramentas para proteger relações jurídicas não citadas ao longo do
processo. O terceiro que se encaixa na situação prevista no artigo anterior é aquele que sofreu
consequências em suas relações decorrentes de um processo que poderia atuar como
assistente simples ou litisconsorcial.

4. DENUNCIAÇÃO DA LIDE

4.1. Conceito

A denunciação da lide consiste na segunda modalidade de intervenção de terceiros que


será abordada neste presente trabalho. Difere-se perante as demais categorias devido a
particularidades diversas. Em primeiro lugar, é relevante a elucidação das partes que
compõem a modalidade de ação em análise, as quais distinguem-se em (i) denunciante, o qual
evidencia-se como o autor ou o réu da ação principal, e (ii) denunciado, sendo este um
terceiro que possua a responsabilidade de ressarci-lo por eventuais danos decorrentes do
resultado do processo.
Isso posto, a denunciação da lide compreende uma ação de regresso, in simultaneus
processus, um pedido de tutela jurisdicional, que se antecipa à finalização do processo
principal e cita, enquanto denunciado, um terceiro que pretende-se à parte denunciante, seja
esta pretensão de natureza indenizatória ou de reembolso (CARNEIROS, 1989). A finalidade
dessa citação, portanto, apresenta-se à celeridade do processo já que, uma vez vencido, o
denunciante ocuparia outra posição de partícipe em uma nova lide. Desse modo, envolvendo o
terceiro na figura do processo, uma nova demanda incidente será instaurada, entretanto,
acompanhará a ação originária. Isto é, proposta a denunciação, o processo comportará dois
litígios distintos: o principal, que abrange autor e réu, e a incidental, que compreende o
denunciante e o denunciado (THEODORO JÚNIOR, 2015).
Nesse sentido, caso a resolução do mérito comporte o denunciante enquanto parte
vencida da ação principal, caberá ao juiz a apreciação da denunciação da lide, sem a
necessidade de uma nova ação ser ingressada na Justiça; contudo, se vencedor, a ação de
denunciação não terá o seu pedido examinado. Tal explicação possui respaldo jurídico no
Código de Processo Civil de 2015, sobretudo no conteúdo exposto nos art. 125 ao 129. Um
ponto importante de ser ressaltado está presente na figuração do denunciado enquanto
litisconsorte, esclarecendo uma controvertida questão do ambiente jurídico, por expressa
18

disposição legal, conforme entendido pelo STJ, quando do julgamento do REsp


1.065.437/MG (BRASIL, STJ, 2009)[7], de relatoria da Ministra Eliana Calmon.
Em síntese, a denunciação da lide assimila casos em que o terceiro tem interesse na
solução processual, de sorte que poderiam ter ingressado, anteriormente, como assistente
simples ou litisconsorcial (ORDEM BRASILEIRA DE ADVOGADOS, 2015) e pode ser
compreendida perante três aspectos principais: (i) sua provocação poderá ser efetuada tanto
pelo autor quanto pelo réu; (ii) possui natureza jurídica de ação, porém não implica a
formação de um processo autônomo; (iii) a totalidade das hipóteses de denunciação são
correlacionadas ao direito de regresso (GONÇALVES; LENZA, 2020).

4.2. O Código de Processo Civil de 2015

Esta modalidade de intervenção de terceiros está presente no ordenamento de processo


civil vigente no Título III, Capítulo II, sob o nome de “Denunciação da Lide”. Compreende
cinco artigos, nos quais explicitam-se as hipóteses de admissão, o procedimento e como se
dará a resolução do mérito.
A princípio, tem-se início da previsão legal no art. 125, cujo caput introduz a
legitimidade tanto do polo ativo quanto do passivo enquanto potentes denunciantes do
ajuizamento dessa possibilidade de intervenção, e será este originário (quando provocado pelo
autor) e superveniente (quando a iniciativa iniciar-se pelo réu) (THEODORO JÚNIOR,
2015). Adiante neste item, os incisos I e II preveem as hipóteses de garantia do direito à
evicção e garantia de regresso, respectivamente.
Nesse sentido, a etimologia do vocábulo evicção provém do latino evictio, o qual
relaciona-se à evencere (evencer, desapossar judicialmente), que significa recuperação
judicial de alguma coisa. Para Maria Helena Diniz:

evicção vem a ser a perda da coisa, por força de decisão judicial, fundada em motivo
jurídico anterior, que a confere a outrem, seu verdadeiro dono, com o conhecimento
em juízo da existência de ônus sobre a mesma coisa, não denunciado oportunamente
no contrato. (DINIZ, 1985-1987, pág. 100).

Diante o exposto, entende-se que o direito à evicção possui três fontes principais: (i) a
perda total ou parcial da coisa adquirida pelo comprador; (ii) a perda que resulta de sentença
que julga meritório a atribuição da mesma coisa a outrem que não o vendedor; (iii) e a perda
da coisa deve ter por fundamento direito anterior ao contrato de compra e venda
(ZANELLATO).
19

Ademais, para completar tal lógica, a evicção possui necessariamente três


personagens: o alienante, o adquirente, e o terceiro, que se proclama como verdadeiro titular.
Desse modo, o terceiro pode ajuizar ação para reaver o bem que está com o adquirente. Diante
dessa situação, existem duas possibilidades de desfecho. A primeira relaciona-se ao caso de
que o adquirente seja condenado a restituí-lo, e, portanto, a evicção ter-se-á completado com a
perda da propriedade ou posse da coisa adquirida. O adquirente, por fim, tem direito de
regresso em face do alienante, com o intuito de reaver a importância que pagou pela coisa que
agora lhe é privada. A segunda, em contrapartida, dá-se quando a reivindicatória não é
reconhecida, caso em que a denunciação ficará prejudicada, pois a evicção não consumou-se;
logo, caberá ao juiz sentenciá-la extinta sem resolução de mérito por falta de interesse
superveniente. (GONÇALVES; LENZA, 2020).
Em relação ao inciso II, desloca-se a análise da possibilidade de evicção para a
garantia do direito de regresso. Nesse prisma, a atenção volta-se à amplitude da denunciação
da lide, de modo que o direito de regresso conglomera inclusive a garantia de evicção, uma
vez que nesta há direito de regresso decorrente de lei (GONÇALVES; LENZA, 2020). Sendo
assim, conceitua-se direito de regresso como a possibilidade de um denunciado entrar em um
processo, quando obrigado por lei ou por contrato a ressarcir o agravo da parte vencida em
ação de regresso.
Consequentemente, em face da amplitude de hipóteses decorrentes deste dispositivo
normativo, há uma controversa discussão a respeito de serem introduzidas questões novas ao
litígio, uma vez que a denunciação da lide possui um objetivo claro de induzir à celeridade
processual. Dessa forma, a controvertida lança-se na possibilidade de exigir-se a produção de
provas que não seriam apreciadas caso a demanda não fosse exigida (GONÇALVES;
LENZA, 2020). Diante disso, sobreleva no Superior Tribunal de Justiça o entendimento de
que não é compatível com a hipótese da denunciação da lide a introdução de fundamentos
inéditos ao escopo do processo, como observado no voto da Min. Nancy Andrighi, proferido
em de 24 de março de 2017, REsp 1.635.636:

2. O art. 70, III, do CPC/73 prevê que a denunciação da lide é obrigatória ‘àquele
que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o
prejuízo do que perder a demanda’. 3. Depreende-se do mencionado comando legal
que a denunciação da lide, nesta hipótese, restringe-se às ações de garantia, isto é,
àquelas em que se discute a obrigação legal ou contratual do denunciado em garantir
o resultado da demanda, indenizando o garantido em caso de derrota. 4. Não é
cabível, portanto, a denunciação da lide quando se pretende pura e simplesmente,
transferir responsabilidade pelo evento danoso. Afinal, por direito de regresso,
autorizador da denunciação da lide com base no art. 70, III, do CPC/73, deve-se
entender aquele fundado em garantia própria, o qual não se confunde com o mero
20

direito genérico de regresso, isto é, fundado em garantia imprópria. (BRASIL,


Supremo Tribunal de Justiça, 2016)

4.3. A responsabilidade civil do Estado

Conceitualmente, a responsabilidade civil do Estado é entendida como a obrigação da


Fazenda Pública de ressarcir o dano causado a terceiros por omissão ou por atos de seus
agentes públicos, quando da atividade ou do pretexto de exercer suas prerrogativas. De acordo
com Celso Antônio Bandeira de Mello: "um dos pilares do moderno Direito Constitucional é,
exatamente, a sujeição de todas as pessoas, públicas ou privadas, ao quadro da ordem jurídica,
de tal sorte que a lesão aos bens jurídicos de terceiros engendra para o autor do dano a
obrigação de repará-lo" (MELLO, 2014, p. 1011.).
Nesse sentido, a Constituição Federal, art. 37, § 6º, outorga responsabilidade objetiva
tanto às pessoas jurídicas de direito público quanto às de direito privado, prestadoras de
serviço público, diante os possíveis danos que seus agentes possam causar a terceiros. Mas
assegura direito de regresso, decorrente de lei, contra o responsável, nos casos de dolo ou
culpa. Contudo, trata-se de uma demanda controversa já que pode introduzir no processo uma
nova questão, que não compreendia o escopo processual, e que agora configurará enquanto
objeto a ser apreciado: a culpa ou dolo do funcionário (GONÇALVES; LENZA).
Contudo, apesar das controvérsias, existe certo entendimento pacificado no Superior
Tribunal de Justiça, segundo Marcus Vinicius Rios Gonçalves, que se traduz no fato de que
caso as instâncias comuns indeferirem a denunciação da lide, o acórdão e/ou a sentença não
serão ab-rogados, já que tal fato acabaria por acarretar inéditos prejuízos à questão da
celeridade processual, justamente o que a denunciação visa combater. Assim, para consolidar
sua argumentação, o doutrinador cita a decisão do:

REsp 313.886/RN, cuja relatora, Min. Eliana Calmon, faz uma detida análise da
questão, fazendo numerosas alusões aos entendimentos daquela Corte. Nesse
acórdão, a relatora posiciona-se pelo descabimento da denunciação da lide ao
funcionário quando introduzir discussão fática nova a respeito da culpa deste, admite
a existência de entendimento contrário e conclui que não se há de anular a sentença
ou o acórdão, por ter sido a denunciação indeferida nas instâncias inferiores.
(GONÇALVES; LENZA, 2020, p. 410).

4.4. A questão da obrigatoriedade da denunciação da lide

4.4.1. O Código de Buzaid (CPC/70)


21

A redação da antiga legislação processual brasileira, o Código de Processo Civil de


1973, era clara ao enunciar a obrigatoriedade quando da denunciação da lide. Entretanto, a
despeito da expressa declaração do dispositivo legal, tanto os entendimentos doutrinários
quanto a jurisprudência encaravam a intervenção enquanto uma categoria que tendia ao
caráter facultativo. Na esteira desse entendimento, classificavam como obrigatório casos em
que a denúncia estava substantivada à atribuição dos direitos materiais, ou seja, quando da
garantia de evicção; e, por outro lado, na hipótese de somente estender a coisa julgada ao
denunciado, classificavam-na com um caráter facultativo. Desse modo, é possível resumir: a
obrigatoriedade do CPC/73 decorreria do direito material e não da lei processual
(THEODORO JÚNIOR, 2015).

4.4.2. A lei vigente

O Código de Processo Civil de 2015 foi explícito quanto a este assunto, uma vez que
revogou o art. 456 do Código Civil (art. 1.072, II) que dispunha do argumento de direito
material que justificava a obrigatoriedade da intervenção e adotou uma redação inequívoca no
caput do art. 125: a denunciação da lide agora é “admissível”. (THEODORO JÚNIOR, 2015).
Ademais, ainda pacificou o entendimento de que a parte que não realizar a
denunciação, seja pela impossibilidade ou por indeferimento, poderá exercer o direito de
regresso em ação autônoma: art. 125, § 1º: “O direito regressivo será exercido por ação
autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for
permitida”.

4.5. Procedimento

A denunciação da lide poderá ser requerida tanto pelo autor quanto pelo réu da ação.

4.5.1. Denunciação realizada pelo autor

Supondo uma fortuita improcedência, o autor pode requerer a denunciação da lide de


modo a exercer o seu direito de regresso contra o terceiro, que ficará obrigado a responder
pelos prejuízos provocados caso o autor seja vencido. Assim, a denunciação será feita logo na
petição inicial (CPC/2015, art 126), e, uma vez deferida, cita-se, primeiramente, o denunciado
e depois o réu, uma vez que na condição de litisconsorte do autor no litígio principal poderá
22

aditar, convencionalmente, a petição inicial, com novos argumentos (CPC, art. 127), por isso
que somente após esse rito processual procederá à citação do réu (THEODORO JÚNIOR,
2015).
Como há duas ações caminhando simultaneamente em um mesmo processo, o
denunciado figurará como litisconsorte na lide principal, mas figurará no polo passivo da
contestação à lide secundária (GONÇALVES; LENZA, 2020).

4.5.2. Denunciação realizada pelo réu

Prevista pelo art. 128 do CPC/2025,a denunciação realizada pelo réu será requerida na
contestação, elucidando os fundamentos fáticos e jurídicos em que baseia o direito de regresso
e qual o pedido, de modo a ser prerrogativa do juiz apreciar a validade ou não da denunciação,
e dispensa-se o consentimento da parte contrária. Uma vez citado o denunciado, caberá ao
denunciante acautelar a citação, dentro dos moldes legais, em um prazo de 30 (trinta) dias,
sob pena de tornar-se inefetiva a denunciação (art. 126, parte final, c/c art. 131). Dessa forma,
caso o denunciado resida em outra comarca, seção ou subseção judiciárias, o prazo para a
citação será de dois meses, conforme previsão legal. (GONÇALVES; LENZA, 2020).
Assim como na hipótese de intervenção iniciado pelo autor, o denunciado contrai a
qualidade de litisconsorte, e, portanto, poderá refutar os fatos alegados pelo autor na petição
inicial. Nesse sentido, há duas hipóteses que fazem-se relevantes à elucidação, (i) se o
denunciado aceitar a denunciação, poderá contestar o pedido, no prazo de resposta (15 dias),
de modo que o denunciado será litisconsorte do denunciante em relação à ação principal (art.
128, inciso I); (ii) caso o denunciado assuma-se enquanto revel, o denunciante tem a
possibilidade de não dar sequência à sua defesa, e, dessa maneira, abster-se de recorrer,
restringindo sua atuação à ação regressiva (THEODORO JÚNIOR, 2015, p. 393).

4.5.3. Julgamento da denunciação e as verbas de sucumbência

Por fim, é no art. 129 em que se expressa quando e como será a apreciação da
denunciação da lide. O pedido de regresso formulado pelo denunciado contra o denunciante
representa a ação regressiva, a qual somente será apreciada (e julgada) caso o pedido
formulado “pelo denunciante em face do réu originário ser rejeitado ou se acolhido o pedido
formulado em seu detrimento pelo autor” (BUENO, 2019, p. 318-319).
23

O interesse processual na denunciação, portanto, somente será concretizado quando no


caso de eventualmente o denunciante portar-se enquanto vencido na lide principal, ou seja,
enquanto figura-se como autor ou como réu. Nas palavras de Marcus Vinicius Rios
Gonçalves,

Se a ação principal e a denunciação foram ambas julgadas procedentes, a solução


será a seguinte: se não tiver havido resistência do denunciado à denunciação, o juiz
condenará o réu denunciante a pagar os honorários advocatícios ao autor e
condenará o denunciado a ressarcir ao denunciante o que ele despendeu a título de
honorários na lide principal, sem a fixação de novos honorários advocatícios para a
denunciação. Mas se o denunciado tiver resistido à denunciação, além de ressarcir
ao denunciante os honorários da lide principal, será condenado a pagar, ao
denunciante, honorários referentes à denunciação.
Mais complexa é a situação quando o denunciante sai vitorioso e a denunciação é
extinta sem resolução de mérito. O vencido na ação principal pagará honorários ao
vencedor denunciante. Mas este precisará pagar honorários ao denunciado? Ou é o
vencido na lide principal quem os pagará também ao denunciado?
O art. 129, parágrafo único, dá a solução: “Se o denunciante for vencedor, a ação de
denunciação não terá o seu pedido examinado, sem prejuízo da condenação do
denunciante ao pagamento das verbas de sucumbência em favor do denunciado”.
(GONÇALVES; LENZA, 2020, p. 416-417).

5. CHAMAMENTO AO PROCESSO

5.1. Conceito e critérios gerais

O chamamento ao processo, definido por Moacyr Amaral Santos (2013, p. 36) como:
“o ato pelo qual o réu, citado como devedor, chama ao processo o devedor principal, ou os
corresponsáveis ou os coobrigados solidários para virem responder pelas suas respectivas
obrigações”, é disciplinado pelo Código de Processo Civil de 2015 nos artigos 130 a 132
como uma das formas de intervenção de terceiros ao processo. Apesar de, por vezes, se
aproximar da denunciação da lide, é vantajoso - para a maior compreensão da matéria -
mencionar três diferenças principais existentes entre as modalidades, sendo elas: 1. o
chamamento ao processo é feito a partir da inserção, na ação existente, dos réus em
conformidade com as hipóteses legais, enquanto na denunciação uma outra ação é realizada;
2. logo, a primeira modalidade conta com apenas uma relação jurídica processual, na medida
em que a segunda conta com duas relações jurídicas; 3. por fim, o chamamento ao processo só
pode ser realizado pela parte passiva do processo, diferentemente da denunciação à lide que
pode ser feita por ambas as partes.

Nesse sentido, diferencia-se do instituto da denunciação da lide, na medida em que


aquele que for chamado ao processo tem relação jurídica tanto com o autor da ação,
24

quanto com o réu originariamente demandado, enquanto na denunciação da lide a


relação existe apenas entre o denunciante e o denunciado, mas não deste com o autor
da demanda. Nota-se, todavia, que o art. 128, parágrafo único, do Código admite que
o denunciado também poderá ser cobrado diretamente, em sede de cumprimento de
sentença. (ALVIM; GRANADO; FERREIRA, 2019, p. 457)

Logo, com a finalidade de “favorecer o devedor que está sendo acionado, porque
amplia a demanda, para permitir a condenação também dos demais devedores, além de lhe
fornecer, no mesmo processo, título executivo para cobrar deles aquilo que pagar” (BARBI,
1999, p. 359), bem como assegurar a economia processual, haja vista a existência de uma
única ação, e a não ocorrência de decisões contraditórias, o chamamento ao processo cria uma
relação litisconsorcial passiva entre os réus, recaindo sobre estes todos os pressupostos do
litisconsórcio como o efeito da coisa julgada material.
Em conformidade com o disposto acima, é importante ressaltar a natureza do
litisconsórcio formado. Assim, o chamamento ao processo sempre será um instrumento
utilizado pela parte passiva da ação e à escolha dela, logo, o litisconsórcio é passivo e
facultativo. Ademais, como será enfatizado com maior detalhamento outrora, trata-se de
modalidade ulterior, pois a pluralidade de réus não se dá no momento da propositura da ação,
mas sim na contestação, como destacado no artigo 131, caput, do CPC/2015 (grifos nossos):
“A citação daqueles que devam figurar em litisconsórcio passivo será requerida pelo réu na
contestação e deve ser promovida no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de ficar sem efeito o
chamamento”. Quanto à sentença, tendo em mente que a mera possibilidade de distintas
decisões configuram o litisconsórcio como simples, garante que o instrumento não seja tido
como unitário, haja vista as diversas circunstâncias envolvendo a relação autor versus réu
(chamante, bem como chamado). Dessa forma, em resumo, o chamamento de processo forma
litisconsórcio passivo, facultativo, ulterior e simples.
Outrossim, segundo Athos Gusmão Carneiro (2006), para o exercício do instituto
legal destacado neste tópico, é preciso que dois pressupostos sejam cumpridos:

(...) em primeiro lugar, a relação de direito ‘material’ deve pôr o chamado também
como devedor (em caráter principal, ou em caráter subsidiário) ao mesmo credor, o
qual na demanda figura como autor. Em segundo lugar, é necessário que, em face da
relação de direito ‘material, deduzida em juízo, o pagamento da dívida pelo
'chamante' ao autor, em cumprimento da sentença condenatória, confira ao chamante
o direito de, no mesmo processo, exigir o seu reembolso (total ou parcial) pelo
chamado. (CARNEIRO, 2006, p. 161)

Apesar das mais diversos benefícios previamente apresentados, dois pontos


contraditórios do chamamento ao processo merecem uma atenção especial no presente
trabalho: 1. a possibilidade de um devedor chamar a outro (ou outros) em uma dívida solidária
25

a qual ele é acionado, haja vista a expressa característica da solidariedade na qual um só


indivíduo pode ser responsabilizado por toda a dívida; e 2. o modo como o réu pode decidir,
até mesmo contra a vontade do autor, de chamar os demais réus, em contrariedade com o
princípio o qual determina a impossibilidade de forçar o polo ativo a litigar contra quem não
deseja. (JORGE, 1997).

5.2. Hipóteses de admissibilidade do chamamento

Art. 130. É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu:


I - do afiançado, na ação em que o fiador for réu;
II - dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles;
III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o
pagamento da dívida comum. (BRASIL, 2015, Art. 130)

O Código de Processo Civil de 2015, em seu artigo 130 (correspondente ao art. 77 do


CPC/1973), traz as três hipóteses em que é possível chamar ao processo outros indivíduos,
além do citado previamente pelo polo ativo, como disposto no excerto acima.
Inicialmente, é importante ressaltar que as duas primeiras hipóteses da legislação
dizem respeito, diretamente, ao contrato de fiança, definido como o contrato em que “uma
pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a
cumpra” (art. 818 do CC/2002). Assim, a legitimação das hipóteses de uso do mecanismo do
chamamento se dá, principalmente, pelo benefício de ordem - garantido aos fiadores por meio
do artigo 827 do CC/2002, o qual assegura que - em caso de cobrança - os bens do devedor
sejam executados primeiramente (cabe ressaltar que, por vezes, o benefício da ordem pode ser
renunciado, bem como outros fatores podem incidir no processo, relativizando-o, por
exemplo: a ausência de bens do devedor ou aceitação do fiador de integrar a posição de
principal pagador ou devedor solidário).
Logo, feitas as devidas considerações, o inciso I do artigo 130 garante que o
afiançado possa ser chamado ao processo no caso de citação do fiador, bem como que este se
utilize do benefício descrito outrora, nomeando à penhora os bens do devedor. Cabe, no
entanto, ressaltar que, em caso de insuficiência dos bens do afiançado, o fiador deverá
participar com patrimônio próprio no devido cumprimento da sentença. Ademais, como
reforça Flávio Cheim Jorge (1999), tal hipótese diz respeito aos casos em que o fiador não
assume posição principal na obrigação, nem integra como solidário - entretanto, a citação
errônea do inciso não leva, necessariamente, ao indeferimento da ação:
26

(...) cumpre lembrar que, caso o chamante indique o inciso errado, não será
necessariamente caso de indeferimento do chamamento ao processo. Isto em razão
dos princípios iura novit curia e, também, da mihi factum, dabo tibi ius, que não
obstam que o juiz defira o pedido, fundamentando sua decisão no inciso correto.
(JORGE, 1999, p. 80).

A hipótese trazida no inciso II diz respeito à possibilidade de se chamar ao processo


os demais fiadores em ação proposta contra um deles. Inicialmente, para maior compreensão
do instituto, cabe enfatizar que a solidariedade, via de regra, não é presumida, parte da
vontade dos indivíduos da relação, salvo em virtude de lei. Logo, como garante o art. 829 do
CC/2002: “A fiança conjuntamente prestada a um só débito por mais de uma pessoa importa o
compromisso de solidariedade entre elas, se declaradamente não se reservarem o benefício de
divisão.”. Assim, pode o citado inicialmente chamar a todos os demais devedores solidários,
ou não - havendo aos chamados posteriormente a possibilidade de se valerem do mecanismo
para demandarem os demais fiadores (chamamento sucessivo, determinado no inciso III do
mesmo artigo). A exemplo do exposto, se X, Y e Z são fiadores, logo, devedores solidários,
tendo sido X o primeiro réu incluído na ação e chamado Y (a partir do instrumento legal
descrito no tópico), pode Y chamar ao processo Z.
Por fim, apesar das divergências doutrinárias que cercam o tema, muitos autores
como Eduardo Arruda Alvim, Daniel Willian Granado e Eduardo Aranha Ferreira, acreditam
que a hipótese trazida pelo art. 788, o qual determina que: “Morrendo a pessoa sem
testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens
que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento
caducar, ou for julgado nulo", é mais uma hipótese de chamamento de terceiros em
decorrência da relação jurídica existente entre o direito material do segurado, bem como do
ação da ação e do réu demandado em primeiro lugar (ALVIM; GRANADO; FERREIRA,
2019).
Por fim, cabe enfatizar dois pontos demasiadamente relevantes: (I) no caso em que o
réu for o próprio afiançado, não é possível chamar ao processo o fiador, haja vista a ausência
de respaldo legal para tal hipótese; (II) não é possível a participação do devedor principal
apenas na fase de execução a partir do argumento de benefício da ordem, porque sua
participação deveria ter sido requisitada também em sede de cognição, assim:

O fiador é obrigado subsidiário e uma das maneiras de ele poder fazer valer esta
subsidiariedade é, justamente, tomar, já no processo de conhecimento, a providência
a que se refere o art. 77, n. I [art. 130, inc. I, do CPC/2015]. Se o fiador for
demandado e deixar de tomar a providência do art. 77, I, formar-se-á exclusivamente
contra ele, fiador, título executivo porque não exercer a função esta faculdade de
27

chamar o afiançado, no prazo para contestar, na forma do que dispõe o art. 78 [art.
131 do CPC/2015], ficará impossibilidade de utilizar-se no processo de execução do
benefício de ordem. (ALVIM, 1976, p. 346)

5.3. Procedimento do chamamento ao processo

Como definido previamente pelo art. 131 do CPC/2015, o chamamento dos demais
réus da ação deve ser requerida na contestação no prazo de, no máximo, 30 (trinta) dias ou 60
(sessenta) dias - caso o chamado resida em outra comarca, seção, subseção judiciária ou local
incerto, nos moldes do parágrafo único do mesmo artigo. Cabe ainda ressaltar que, de acordo
com a Súmula 106 do STJ: “Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora
na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifica o acolhimento da
arguição de prescrição ou decadência”, ou seja, caso o prazo disposto nos artigos não seja
cumprido por falhas do serviço judiciário, não há como perder o efeito do chamamento.
Após a citação do chamado descrita acima, o indivíduo tem 15 (quinze) dias para
responder ao chamamento, isso posto, apresentando-se ou não, torna-se litisconsorte da ação
principal. Desse modo, no caso da improcedência da demanda, ambos (chamante e chamado)
se beneficiam da decisão, entretanto, caso seja procedente, valerá o procedimento trazido no
art. 132 do CPC/2015. Assim, sendo a decisão favorável ao autor, este poderá “(...) exigi-la,
por inteiro, do devedor principal, ou, de cada um dos codevedores, a sua quota, na proporção
que lhes tocar” (art. 132, CPC/2015). Logo, segundo Athos Gusmão Carneiro,

A rigor, a sentença de procedência é ‘por si’ título executivo apenas em favor do


autor, como qualquer outra sentença condenatória; mas, somada ao comprovante do
pagamento (feito ao autor), também será título executivo em favor daquele réu que
efetuou tal pagamento, se e na medida em que esse réu tiver direito de reembolso em
face dos demais litisconsortes. (CARNEIRO, 2006, p. 174)

Apesar da teoria supracitada, acerca da natureza do chamamento do processo, ser a


visão dominante na doutrina processual brasileira, grandes nomes como Rosa Nery e Nelson
Nery Jr. tem uma visão distinta, haja vista a defesa de que o chamamento do processo, assim
como a denunciação da lide, “é ação condenatória que deve ser proposta pelo réu, no prazo da
contestação. Esta deve obedecer aos requisitos do CPC 320 e 321, com pedido de citação e
condenação dos chamados” (NERY JUNIOR; NERY, 2015, p. 618).

6. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA


28

6.1. Hipóteses de aplicação da desconsideração da personalidade jurídica

A pessoa jurídica configura-se como um conjunto de pessoas ou de bens arrecadados


que adquirem personalidade própria por intermédio de equiparação legal, de forma que esta é
protegida no que lhe cabe, como esclarece o art. 52 do Código Civil de 2002. A partir da
ficção legal, a pessoa jurídica se torna uma realidade e goza de identidade organizacional
própria. Em regra, a pessoa jurídica possui existência distinta de seus membros, mas o
exposto pode ser relativizado em casos de constatação de desvio de finalidade ou de abuso da
personalidade jurídica.
Decerto, a responsabilidade pelos feitos da empresa pode ser estendida aos sócios
sem que haja a dissolução da personalidade jurídica, sendo o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica (disregard doctrine) estabelecido como uma forma de impedir o uso
corrompido da autonomia patrimonial dos entes em questão. Para o juiz de Direito e professor
Marcus Vinicius Rios Gonçalves (2018), o juiz não converte o sócio em codevedor, apenas
acresce a responsabilidade patrimonial a ele ao fixar a relação entre o credor e a empresa
(relação credor-devedor) e entre o credor e o sócio no contexto de desconsideração (relação
credor-responsável).
Destarte, cabe evidenciar particularidades que remontam ao direito obrigacional,
sendo o débito e a responsabilidade elementos importantes. Em geral, o débito reporta-se
àquele que contraiu a obrigação, enquanto a responsabilidade relaciona-se com a parte que
responde juridicamente mediante a vinculação de seus bens. Assim, a desconsideração de
personalidade jurídica pode ocorrer de forma comum, na qual o devedor é a empresa e o sócio
é responsabilizado, e de forma inversa, a partir do procedimento em que a responsabilidade
dos sócios pode ser estendida à empresa.
As disposições acerca do tema podem ser visualizadas no Código de Defesa do
Consumidor, no Código Civil, na Lei de Crimes Ambientais e entre outros. Em primeira
análise, a partir do entendimento de que cabe ao direito material estabelecer quais são as
exigências para que seja alegada a desconsideração, é normatizado o procedimento, de modo
que “em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou
pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério
Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos” (art. 50 do CC/2002).
Em consonância, o Enunciado 11 da I Jornada de Direito Processual Civil da Justiça
Federal verifica a possibilidade de aplicar o incidente de desconsideração para atingir o
29

patrimônio de empresas coligadas, isto é, empresas controladas por outras com objetivos
corrompidos. Nesse ínterim, a responsabilidade também pode ser estendida aos chamados
“laranjas”, que utilizam meios para tentar se escusar da lei.

6.2. Aspectos procedimentais

O Código de Processo Civil de 1973 não normatizou o procedimento a ser adotado


em casos de desconsideração da personalidade jurídica, de forma que cabia ao juiz considerar
o art. 50 do Código Civil e o art. 28 do Código de Defesa do Consumidor em sua análise
hermenêutica. Nesse ínterim, o sócio a quem se pretendia abarcar a responsabilidade não era
considerado parte do processo e não recebia o benefício do contraditório. Inegavelmente, este
método fornece amparo para que garantias legais sejam deixadas à mercê, uma vez que o
contraditório versa sobre o direito de se defender contra a acusação realizada, auxiliando
significativamente na promoção do devido processo legal.
O contraditório é contemplado no art. 9° do Código de Processo Civil de 2015 e
alega que não se proferirá decisão contra uma das partes sem que esta seja previamente
ouvida, salvo nos casos previstos em seu parágrafo único. O artigo citado e,
consequentemente, o contraditório, não possui a mesma correspondência no Código de 1973,
mas a questão evoluiu ao longo dos anos, como é possível perceber na maturação da
perspectiva que estabelece que o magistrado deverá apresentar o tópico mediante
contraditório antes de decidir sobre a conduta do indivíduo no depoimento pessoal.
Dessa forma, o procedimento uma vez adotado foi alterado pelo novo Código.
Anteriormente, o sócio afetado não era considerado parte do processo e poderia defender-se
apenas por meio de embargos de terceiro, enquanto o credor poderia realizar o pedido de
desconsideração de personalidade jurídica a partir da constatação dos critérios suficientes para
tal. Posteriormente, foi definido que o sócio deveria fazer parte da lide e submeter embargos
de execução, não sendo aceito o recolhimento de seu patrimônio sem que antes este pudesse
se defender nos termos do princípio do contraditório.
Em postura de contraste, o procedimento atual revela-se mais claro e seguro, sendo
que o autor pode realizar o pedido de desconsideração no próprio impulso inicial da função
jurisdicional, isto é, na petição inicial. Nesse caso, não há suspensão no processo e não se
trata de intervenção de terceiros, pois o ente é citado desde o início através do pedido de
reconhecimento de sua responsabilidade patrimonial.
30

Por fim, é preciso reconhecer que a constitucionalização do Direito Processual Civil


e a busca pela concretização das garantias legais impulsionam a evolução apresentada. Assim,
a apresentação do art. 9° no novo Código de Processo Civil representa uma expressiva
evolução no tema abordado, visto que promove a expansão do contraditório em uma
perspectiva de defesa do direito dos afetados.

Essa fundamentação não é apenas uma imposição do princípio do contraditório, do


qual decorre a submissão do juiz a decidir a causa, dando sempre resposta às
alegações e defesas deduzidas pelas partes (NCPC, art. 489, II), como também é
uma exigência de ordem política – institucional do Estado Democrático de Direito. É
por meio da motivação e da publicidade dos decisórios que a autoridade judiciária
presta contas à sociedade da maneira com que desempenha a parcela do poder a ela
delegada. Assim, toda a sociedade pode controlar a fidelidade ou os abusos de poder
com que age o magistrado” (THEODORO JÚNIOR, 2018, p. 82).

6.3. A desconsideração como incidente

Inicialmente, é requerida a desconsideração da personalidade jurídica a partir do


pedido do credor ou do Ministério Público, processo que configura o procedimento de
intervenção de terceiros provocado. A posteriori, cabe lembrar que “o incidente de
desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento
de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial” (art. 134 do CPC/2015).
Para que haja prosseguimento no pedido, a apresentação de fundamentos de fato e de
direito é essencial, como mostram as declarações do art. 18 do Código de Defesa do
Consumidor e do art. 50 do Código Civil de 2002. Por conseguinte, se aprovado o pedido de
verificação do incidente, o processo é suspenso até que o impasse da desconsideração seja
solucionado, exceto nos casos em que o requerimento seja feito diretamente na petição inicial.
Destarte, caso haja o deferimento do incidente de desconsideração, o ente passa a ser
parte do processo, como esclarece Marcus Vinícius Rios Gonçalves:

Instaurado o incidente, o juiz determinará a citação do sócio (na desconsideração


direta) ou da pessoa jurídica (na inversa), para que se manifestem no prazo de 15 dias.
O incidente assegura contraditório prévio, permitindo que o sócio ou a pessoa jurídica
apresentem as suas alegações e procurem demonstrar que não estão presentes os
requisitos da lei material para a desconsideração. (...) O juiz poderá determinar as
provas necessárias para que suscitante e suscitado comprovem as suas alegações.
Concluída a instrução, ele decidirá o incidente, que será resolvido por decisão
interlocutória, contra a qual poderá ser interposto recurso de agravo de instrumento
(art. 1.015, IV, do CPC).

6.4. A decisão interlocutória e o encerramento do incidente


31

A decisão interlocutória, como sugere o título do segmento apresentado, é o


pronunciamento judicial de natureza decisória que soluciona o incidente. Para que seja
realizada, o juiz considera apenas os fatos cabíveis que não foram apresentados e negados em
mesmo pedido de mesma fundamentação à autoridade em questão. Caso a desconsideração
seja efetivada e a empresa não possuir meios para cumprir a obrigação, há a penhora dos bens
do sócio, o qual pode defender-se mediante impugnação ou embargos de devedor. Ademais,
“o sócio réu, quando responsável pelo pagamento da dívida da sociedade, tem o direito de
exigir que primeiro sejam executados os bens da sociedade” (art. 795, § 1° do CPC).
Dessa forma, o sócio se torna responsável, e não devedor, nos parâmetros
apresentados anteriormente acerca do débito e responsabilidade. Por fim, a desconsideração
não implica em imediata constrição do patrimônio do ente, de maneira que a alienação e a
oneração serão dadas como ineficazes em situações de fraude à execução, como convenciona
o art. 137 do instituto base do âmbito processual do país.

7. INTERVENÇÃO DO AMICUS CURIAE

A origem desse instituto ao longo da história do pensamento jurídico na esfera do


Direito Processual Civil apresenta divergência doutrinária, havendo controvérsia se possui
origem no Direito Romano, derivado da noção de consilliarius romano; ou no direito inglês,
cenário onde, através da common law, houve uma melhor incorporação e adaptação da figura
do consilliarius romano, aproximando-se mais do instituto hodiernamente conhecido.
Ademais, ainda faz-se mister destacar que, independente de sua origem, é indubitável o
fundamental papel do direito norte-americano no aperfeiçoamento e evolução desse método
de intervenção, demonstrando-se ser, através de casos como Muller versus Oregon e Gideon
versus Wainwright, um importante pilar no debate do constitucionalismo. (SANTANA,
2019).
No Brasil, o nomen iuris aparece pela primeira vez, em dispositivo legal, na Resolução
nº 390, de 17.09.2004, ou seja, não havia previsão de forma expressa no Código de Processo
Civil de 1973, como ocorre atualmente. Contudo, apesar de não haver a denominação
adequada no texto da lei, doutrinadores entendem que a existência da possibilidade de
intervenção do amicus curiae é anterior a isso, revelando-se inicialmente no ordenamento
jurídico brasileiro através da promulgação da Lei nº 6.616, de 16.12.1978, que instituiu o art.
31 na Lei nº 6.385, de 07.12.1976, o qual dispõe sobre a possibilidade da Comissão de
Valores Mobiliários (CVM) ser intimada para prestação de esclarecimentos ou pareceres em
32

processos judiciários que possuam como objeto matéria incluída em sua competência.
(ALVIM; FERREIRA; GRANADO, 2019).
Posteriormente, ainda pretérito ao Código Processual Civil de 2015 (CPC/15),
houveram diferentes situações legislativas em que o ordenamento pátrio permitiu outras
hipóteses de intervenção do amicus curiae (ainda que não explicitamente), como é o caso de
duas significativas leis promulgadas no ano de 1999: a Lei nº 9.868, responsável por tratar
sobre o processo e julgamento das ações de controle concentrado de constitucionalidade; e a
Lei nº 9.882, a qual regulamenta a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental.
(ALVIM; FERREIRA; GRANADO, 2019)

7.1. Conceito

O amicus curiae, expresso legalmente no art. 138, do CPC, é uma modalidade de


intervenção de terceiros tal como os outros institutos já citados no presente trabalho,
entretanto, difere-se pelo fato dessa intervenção não ocorrer em razão de interesse próprio,
nem agir contra as partes. Assim, percebe-se que sua ocorrência decorre de uma necessidade
intrínseca que surge a partir do direito pleiteado no litígio.
Portanto, pode-se explicar o amicus curiae como um auxiliar do juízo, necessário
diante a relevância da matéria, da especificidade do tema objeto da demanda ou da
repercussão social da controvérsia (art. 138, CPC/15). Vale destacar também que não é parte
do processo, trata-se de um terceiro que diante do seu interesse jurídico institucional ou pelo
conhecimento especial que é dotado auxilia o juiz no julgamento de determinada lide.
Destarte, tão somente e no sentido técnico do sujeito da lide objeto do processo, é um
colaborador do juiz, havendo sua participação como meramente opinativa. Sua finalidade
consiste em melhorar o debate processual a fim da lapidação da tutela jurisdicional prestada,
visando uma decisão que aproxime-se mais da justiça e que tenha em si uma estrutura
adequadamente fundamentada, por isso “amigo da corte”. (MÖLLER, 2021).
O Ministro Teori Zavascki, em um julgado do STF apresenta brilhante ponderação
sobre o tema:

O amicus curiae é um colaborador da Justiça que, embora possa deter algum


interesse no desfecho da demanda, não se vincula processualmente ao resultado do
seu julgamento. É que sua participação no processo ocorre e se justifica, não como
defensor de interesses próprios, mas como agente habilitado a agregar subsídios que
possam contribuir para a qualificação da decisão a ser tomada pelo Tribunal. A
presença de amicus curiae no processo se dá, portanto, em benefício da jurisdição,
33

não configurando, consequentemente, um direito subjetivo processual do


interessado. (BRASIL, Supremo Tribunal Federal. 2015)

Quanto a sua natureza jurídica, deve-se explicitar aqui a existência de complicada


controvérsia dentre a doutrina pátria. Parcela dos doutrinadores compreendem como uma
modalidade de intervenção sui generis ou atípica, haja em vista a vinculação entre sua
intervenção e a necessidade de demonstração de interesse jurídico que possua legitimidade.
Em contrapartida, outros autores consideram como um terceiro interveniente no processo a
fim de auxiliar o juiz, objetivando prestar suporte técnico ao julgador, visando colaborar com
maior embasamento técnico-intelectual para pronunciamento da decisão. (THEODORO
JÚNIOR, 2015).
Outrossim, é válido pontuar também que essa divergência ideológica faz-se mais
pertinente no âmbito academicista, haja em vista que na proposição prática o CPC/15
estabelece, através do Livro III, Título III, Capítulo V, da Parte Geral, o amicus curiae no
campo da intervenção de terceiros. (THEODORO JÚNIOR, 2015).

7.2. Procedimento

Como já destacado anteriormente, a presença do amicus curiae pode ser requerida,


conforme caput do art. 138, CPC/15, em três principais hipóteses não cumulativas: relevância
da matéria, como situações de análise de constitucionalidade; especificidade do tema objeto
da demanda, presente, por exemplo, em litígios pertinentes ao mercado de capitais; e
repercussão social da controvérsia, posto que a decisão pode atingir além das partes do
processo, na situação de revisão ou cancelamento de súmula dos tribunais, ou quando trata-se
de processos coletivos e o resultado afeta uma parcela significativa de sujeitos de direito.
O requerente da intervenção pode ser as partes, o juiz ou relator, ou o próprio sujeito
que pretende manifestar-se, cabendo ao julgador total liberdade para admitir (por decisão
irrecorrível) ou não sua participação. Ainda, o juiz necessita apresentar devidamente
fundamentada as razões de fato e de direito que o conduziram a tomar determinada decisão,
sob prerrogativa da norma fundamental de publicidade e fundamentação das decisões judiciais
(art. 11, CPC/15) e, consequentemente, do Princípio da Fundamentação e Coerência da
Jurisprudência, presente no art. 93, inciso IX, da Constituição Federal de 1988:

todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e


fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a
34

estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no


sigilo não prejudique o interesse público à informação. (BRASIL, 1988, art. 93, IX)

A pessoa que pode ingressar como amicus curiae em um processo pode ser tanto
natural quanto jurídica, desde que haja legitimação, isto é, possa contribuir positivamente para
o debate e desenvolvimento adequado da tese de decisão, além de não possuir interesse
particular na lide. Desse modo demonstra-se, a partir disso, a exigência de imparcialidade
desse terceiro, sob a possibilidade de ser afastado com base no art. 144, do CPC/15, o qual
dispõe das regras de impedimento. Independente do sujeito de direito, Humberto Theodoro Jr.
(2015, p. 414) preceitua com excelência a eminência de haver presente “noções de autoridade,
respeitabilidade, reconhecimento científico e perícia acerca da matéria sobre a qual irão se
manifestar.”. No que tange às pessoas jurídicas excepcionalmente, é de caráter obrigacional a
comprovação de que há razoabilidade entre o interesse institucional e os efeitos que hão de ser
originados a partir da sentença da ação. (ALVIM; FERREIRA; GRANADO, 2019).
Por fim, vale mencionar que quando a intervenção do terceiro é requerida pelo próprio
órgão judicial, não há necessidade de haver representação por meio de advogado. O oposto
ocorre quando o instituto é solicitado espontaneamente, nessa situação, por estar pleiteando
em juízo, há a obrigatoriedade de representação através de um advogado.

7.3. Abrangência da capacidade

O amicus curiae possui seus poderes delimitados pelo juiz ou relator, tendo este livre
capacidade para limitar a atuação do interventor, havendo sempre a necessidade de ponderar
entre a função de colaborador da corte, sua capacidade perante o processo e o caso específico
em questão, consoante ao art. 138, § 2º, CPC/15.
Ademais, fica explícito que esse instituto é incapaz de promover alteração de
competência e interpor recursos, cabendo-lhe apenas a oposição de embargos de declaração
(art. 138, § 1º, CPC/15) e o recurso “da decisão que julgar o incidente de resolução de
demandas repetitivas.” (art. 138, § 3º, CPC/15). Ambas as particularidades recursais citadas
visam realizar a manutenção adequada da jurisprudência, impondo ao juiz para que revise a
decisão do litígio utilizando como base teses firmadas em julgamentos repetitivos, alinhando a
lógica entre os tribunais, impedindo o conflito entre soluções a fim de preservar a isonomia e
a segurança jurídica.
A doutrina pátria majoritária compreende que a participação do amicus curiae pode
ser requerida a qualquer momento, sendo necessário que sua manifestação ocorra em até
35

quinze dias após da data de intimação e que o direito ao contraditório das partes não seja
violado. Essa participação, de acordo com entendimento do STF, nas palavras do Ministro
Celso de Mello, durante julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental 187 - DF “a necessidade de assegurar, ‘ao amicus curiae’, mais do que o
simples ingresso formal no processo de fiscalização abstrata de constitucionalidade, a
possibilidade de exercer a prerrogativa da sustentação oral perante esta Suprema Corte”
(grifos nossos). Diante do supracitado, apesar do CPC/15 não citar expressamente, percebe-se
que além da capacidade de interpor recursos excepcionalmente, há também pleno direito de
apresentar informações, dados, ideais, técnicas e estudos, e ainda possuem aptidão para
sustentação oral na corte.

7.4. Manutenção basilar do Estado Democrático de Direito

Em decorrência do conturbado processo de formação da sociedade brasileira, derivado


de uma construção escravocrata, com raízes indígenas e influências africanas e européias, é
perceptível a pluralidade cultural presente no Brasil, ocorrendo o encontro constante entre
distintos grupos sociais, religiões, etnias e perspectivas. Esse contínuo diálogo encontra-se
amparado por preceitos constitucionais, fundamentais na manutenção de uma sociedade
pacífica e justa. Entretanto, apesar de ser um objetivo fundamental “construir uma sociedade
livre, justa e solidária” (art. 3º, inciso I, CF/88), em razão da variedade de interesses já
expostos, muitas vezes o equilíbrio social sob égide da justiça encontra-se lesado. Nesse
sentido, com a separação tripartite dos Poderes, é dever de cada um deles, dentro de sua esfera
de atuação institucional, buscar modos de restabelecer a comunicação entre Constituição
Federal e realidade, para que o papel escrito vá além de mero documento hipotético.
Nessa conjuntura, encontra-se em Jüger Habermas um importante aspecto contribuinte
para o fortalecimento da democracia: a racionalidade comunicativa. Segundo o filósofo, é
inerente ao ser humano a aptidão de comunicar-se a partir da linguagem, sendo esta
fundamental aspecto constitutivo do saber humano. A partir disso, o filósofo postula a
indubitável relevância da comunicação entre as autonomias moral e política, local onde a
esfera pública e privada precisam dialogar de modo igual e, portanto, constituir-se-ão
substancial debate democrático marcado pela razão e lógica. Assim, com uma progressiva
incorporação da sociedade civil ao fazer normativo, em conciliação com a pluralidade
ideológica, e ainda numa busca cooperativa pela verdade, seria possível atingir o que o
pensador denomina de “democracia deliberativa”. (JORDÃO; PEREIRA, 2017).
36

Nessa temática, eminente viés apresenta-se também na teoria de Peter Häberle através
da ruptura do paradigma da “sociedade fechada”. Primordialmente, a aptidão para
interpretação do sistema normativo possuía caráter restritivo, pertencendo, via de regra, a
figura do juiz. Contudo, o constitucionalista passa a abordar a noção de que os integrantes da
dinâmica social são os destinatários da norma e, portanto, estes são, da mesma forma,
intérpretes dela, assim sendo, tornam-se participantes ativos da atividade hermenêutica legal.
A partir da concepção e incorporação da ideia de que a natureza particular é essencial no
processo interpretativo, torna-se possível mensurar abstratamente o quão condizente é o
ordenamento normativo diante da realidade social. (JORDÃO; PEREIRA, 2017).
Por conseguinte, diante do supracitado, é notório que o Poder Judiciário encontra no
instituto do amicus curiae uma forma de aproximar, através do diálogo, as esferas privada e
pública, permitindo, destarte, que o processo hermenêutico vá além do juiz, assumindo
também presença dentre os sujeitos destinatários das normas, isto é, a sociedade civil. Essa
atividade interpretativa que vai além dos membros das Cortes permite a criação de decisões
melhores fundamentadas com base na pluralidade social, além de permitir compreender o
quão destoante é o ambiente social se comparado com a letra da lei. Como consequência
dessa ampliação de abrangência do debate, há maior tangibilidade entre o texto constitucional
com a concretude social, aproximando-se ainda mais da democracia deliberativa proposta por
Habermas e, igualmente, de um Estado Democrático de Direito ideal.

8. OUTRAS HIPÓTESES DE INTERVENÇÃO DE TERCEIRO

8.1. A intervenção de terceiros sob à luz do Código de Defesa do Consumidor

O Código de Defesa do Consumidor possui três dispositivos normativos que legislam


ou fazem menção a respeito da intervenção de terceiros, sendo eles os artigos 13, 88 e 101.
Define-se como terceiro, à luz da lei supracitada, como aquele que ingressa na relação
processual ainda irresoluta de modo a constituir-se como parte interessada a fim de responder
seus ulteriores termos, ou seja, depois da resolução do mérito.
Primeiramente, tem-se na previsão do art.13 uma extensão do disposto na cláusula
anterior, que aborda a questão da responsabilidade civil do comerciante. Entretanto, quando se
trata da intervenção de terceiros, vê-se importante o destaque do parágrafo único deste
dispositivo, uma vez que aborda justamente o direito de regresso, de forma expressa, na
redação do Código.
37

Ademais, é no art. 88 em que há a primeira a primeira norma específica em relação à


intervenção de terceiros no processo. Assim, tal dispositivo aborda a questão da vedação da
denunciação da lide, salvo quando instituída em prol do réu denunciante, com o objetivo de
fornecer uma tutela judicial de caráter célere ao consumidor, de maneira a buscar a proteção
de seu direito em juízo. Dessa forma, a inovação da denunciação da lide não é estendida ao
denunciado, segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, pois poderia implicar na
maior dilação probatória, possivelmente dando ensejo à produção de provas desnecessárias,
muitas vezes, para a resolução do litígio, de interesse do consumidor. Segue alguns julgados
que ratificam tal visão da Corte:

Consoante a jurisprudência do STJ, é vedada a denunciação da lide em processos


que envolvam relações de consumo, por acarretar maior dilação probatória,
subvertendo os princípios da celeridade e economia processual, em prejuízo ao
hipossuficiente. (BRASIL, Supremo Tribunal de Justiça, 2016).
A vedação à denunciação da lide nas relações de consumo refere-se tanto à
responsabilidade pelo fato do serviço quanto pelo fato do produto. (BRASIL,
Supremo Tribunal de Justiça; 2016).

Além disso, ainda é interessante destacar a orientação da mesma Corte a respeito da


proibição à denunciação da lide estabelecida, a qual “não se limita à responsabilidade por fato
do produto (art. 13 do CDC), sendo aplicável também nas demais hipóteses de
responsabilidade por acidentes de consumo (arts. 12 e 14 do CDC)” (AgInt no AREsp
1.148.774/RS, Quarta Turma, julgado em 19/11/2019, DJe 13/12/2019; REsp 801.691/SP,
Terceira Turma, julgado em 06/12/2011, DJe 15/12/2011).
Por fim, resta ainda a apreciação do art. 101, o qual possibilita, em seu inciso I, o
ingresso de ações de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços pelo
consumidor no foro do seu domicílio. Tal previsão normativa consiste em uma exceção à
regra geral do Código de Processo Civil de 2015, o qual estabelece em seu art. 46 que “A
ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra,
no foro de domicílio do réu”. Isso posto, verifica-se uma prerrogativa distinta quando se trata
da relação consumerista, já que a ação pode ser proposta no domicílio do autor, com a
finalidade de acautelar os direitos do consumidor.
Trata-se, portanto, de uma possibilidade; entretanto, em um quadro de maior sensatez,
cabe a opção de ingressar com a ação,também, no foro geral do domicílio do réu-fornecedor,
ressaltando, por sua vez, que esta escolha recai ao próprio consumidor. Todavia, caso a ação
seja movida pelo fornecedor em contradição com o consumidor, tem-se que o foro
competente será o do domicílio do réu, não sendo facultativo como previsto para o
38

consumidor. Desse modo, estas preferências do legislador dá-se pelo fato de que (I) um
fornecedor pode realizar relações comerciais, em contextos de globalização, com uma
pluralidade muito ampla de consumidores, e também pela questão (II) da salvaguarda do
consumidor, já que quem deveria arcar com os custos de uma falha no produto/serviço é
aquele que o fornece.
Em seguida, evidencia-se que o chamamento ao processo está consagrado no inciso II
do mesmo artigo do Código de Defesa do Consumidor e dispõe que o réu poderá chamar ao
processo o segurador quando ambas estas figuras empregarem seguro de um determinado
objeto que contemple ou se relacione com o litígio. Dessa forma, segundo o doutrinador
Kazuo Watanabe, um dos autores do Anteprojeto do Código de Defesa do Consumidor, “o
chamamento ao processo, portanto, amplia a garantia do consumidor e ao mesmo tempo
possibilita ao fornecedor convocar desde logo, sem a necessidade de ação regressiva
autônoma, o segurador para responder pela cobertura securitária prometida”. (GRINOVER et
al., 2004).

8.2. As intervenções de terceiros nos Juizados Especiais

Os Juizados Especiais Cíveis, disciplinados pela Lei n° 9.099 de 1995, têm como
critérios do processo a “(...) oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e
celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.” (art. 2° da Lei n°
9.099/95).
No que diz respeito às intervenções de terceiros, enfoque do presente trabalho, de
acordo com o art. 10 da lei supracitada: “Não se admitirá, no processo, qualquer forma de
intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio.”. Entretanto, o
CPC/2015, por meio do art. 1062, garantiu a possibilidade de competência dos juizados nos
casos de desconsideração de personalidade jurídica, modalidade disciplinada pelos artigos 133
a 137 do Código. Segundo Bruno Vasconcelos de Oliveira (2007), apesar destas vedações
quanto a atuação dos juizados terem sido realizadas pelo legislador com a intenção de
promover a maior celeridade na tramitação dos processos, em muitos casos tal medida não é,
devidamente, eficaz:

Diante da análise pormenorizada de cada instituto, entretanto, restou demonstrado


que tal vedação não atingiu, em sua plenitude, o objetivo planejado pelo legislador,
uma vez que não levou em conta as particularidades de cada instituto, dispensando-
lhes igual tratamento, como se formassem um todo unitário.
39

Relativamente às modalidades de assistência simples, oposição, e chamamento ao


processo, foi impecável a disposição da lei, tendo em vista que sua vedação promove
a celeridade processual e em nada comprometem a prestação jurisdicional emanada
dos referidos Juizados.
Entretanto, deveria a lei ter sido mais criteriosa quanto às demais modalidades,
fazendo ressalvas importantes para sua correta aplicação.
No que concerne à vedação da assistência litisconsorcial, demonstrou-se que, a
despeito da celeridade conferida aos processos, sua vedação implica em manifesto
prejuízo para o virtual assistente, tendo em vista que o priva de participar da
discussão do direito do qual também é titular. Em uma análise mais fervorosa,
poder-se-ia dizer, inclusive, que há cerceamento de defesa, tendo em vista a
completa inércia a que é submetido o terceiro assistente. (OLIVEIRA, B. 2007, p.
59)

Portanto, em conformidade com o exposto acima, apesar da Lei n° 9.099 de setembro


de 1995 determinar a vedação de intervenção de terceiros em Juizados Especiais Cíveis, o
Código de Processo Civil de 2015 inovou, trazendo - como exceção a tal regra - a
possibilidade nos casos de despersonalidade de pessoa jurídica.

8.3. A intervenção de terceiros na ação de alimentos

Em primeira análise, é essencial comentar sobre a Lei de Alimentos (Lei nº 5.478/68),


a qual foi editada enquanto o Código Civil de 1916 e o Código de Processo Civil de 1939
ainda estavam em vigor. Ela possui uma inspiração trabalhista, justamente pelo momento em
que foi criada, e proporcionou celeridade nos procedimentos de ação de alimentos ao
estabelecer um rito especial para os tais, além de estar intrinsecamente ligada à relação de
parentesco, matrimônio ou união estável. Dessa forma, mesmo sendo antiga, a lei ainda possui
sua importância, logo, foi apenas parcialmente revogada, tanto pelo antigo Código de
Processo Civil de 1973, quanto pelo atual de 2015.
Da mesma forma, é necessário explicar de antemão que a dívida de natureza alimentar
pode surgir de três maneiras distintas e regidas por regras diferentes: a partir da lei, da
vontade ou do delito. Quando a dívida é gerada a partir de uma previsão legal, ela será
orientada pelo subtítulo III do capítulo VI do Código Civil de 2002 (CC/02), o qual versa
sobre os alimentos, à luz do Direito de Família. Todavia, quando gerada por vontade, possui
uma natureza contratual, então deverá ser observado os regramentos referentes ao modelo de
contrato, por exemplo: a prestação alimentícia que foi instituída em testamento deverá
obedecer o art. 1.920 do CC/02, o qual trata do Direito das Sucessões. Por fim, se a dívida
surge por uma condenação recebida pelo réu, deve-se atentar ao art. 948, II do CC/02.
40

8.3.1. A ação de alimentos

Posto isso, indaga-se o que é a ação de alimentos: é uma ação proferida por uma das
partes em detrimento da outra, como intuito de que esta última garanta à primeira meios
necessários para o sustento e manutenção de uma vida digna, sendo que o juiz deverá decidir
observando as necessidades da parte pedinte de forma proporcional aos recursos da pessoa
que deverá pagar os alimentos.
A ação de alimentos encontra sua fundamentação na Lei nº 5.478/68, que prevê rito
especial para a ação, nos artigos 1.694 a 1.710, do Código Civil, os quais versam sobre o
direito de pedir alimentos ao cônjuge, parentes e companheiro, e nos artigos 528 a 533 do
Código de Processo Civil, os quais dizem respeito ao cumprimento de sentença que reconheça
a exigibilidade de obrigação de prestar alimentos.
Os alimentos são prestações, de natureza pecuniária ou não, que uma pessoa deve à
outra relativas à satisfação de necessidades que proporcionam a manutenção de um padrão de
vida digno, sendo que a pessoa favorecida pela ação deve provar que não possui meios de
garantir sua subsistência. É preciso atentar ao fato de que o pagador de alimentos, além de
assegurar o mínimo para o outro, o qual pode ser seus filhos, ascendentes, descendentes,
parentes ou ex-cônjuge/companheiro, deve também prezar pela qualidade de vida do mesmo,
englobando, assim, fatores como habitação, vestimenta, assistência médica, manutenção do
estilo de vida e a preservação da vida física, moral e social do indivíduo. Cita-se o art. 1.695
do CC/02:

São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem
pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam,
pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento. (BRASIL, 1988, art.
61)

Dessa forma, a ação de alimentos está sujeita à possibilidade e necessidade, uma vez
que deve estar de acordo com a situação financeira de quem a propõe e de quem deverá
executá-la, e, por isso, existe a possibilidade de ser alterada a qualquer momento por
mudanças no padrão de vida do devedor e do credor.
Quanto à natureza da ação em questão, é personalíssima, além de ser irrenunciável e
intransmissível. Outra característica é o fato de não ser possível realizar a devolução ou
penhora dos alimentos, e muito menos a renúncia da obrigação de pagá-los. Inclusive, a
41

obrigação de pagar alimentos é transmitida aos herdeiros do devedor, assim como é exposto
no art. 1.700 do CC/02.
Ademais, para propor a ação de alimentos, faz-se necessário comprovar vínculo,
parentesco ou a existência de obrigação de se pagar pensão alimentícia, além de apresentar os
documentos que provem a situação financeira do devedor e a necessidade de receber os
alimentos do credor.

8.3.2. O art. 1.698 do CC/02 e suas controvérsias

Superada a etapa de entendimento sobre questões fundamentais da ação de alimentos,


cabe iniciar a análise da mesma no tocante à intervenção de terceiros, tema que gera muita
discordância doutrinária e na aplicação da lei. O motivo do problema é a redação do art. 1.698
do CC/02, o qual expressa que:

Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de


suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato;
sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na
proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as
demais ser chamadas a integrar a lide. (BRASIL, 2002, art. 1698)

Ao observar o artigo, entende-se que a primeira parte do mesmo permite o


pleiteamento de alimentos complementares ao parente de outra classe se o obrigado a prestar
alimentos de forma primordial não estiver em condições de suportar totalmente o encargo. O
artigo também dispõe que, quando há pluralidade de devedores, cada um concorre com
parcela proporcional aos seus recursos. Por último, é expresso que, quando a ação é proposta
contra apenas um indivíduo obrigado, os demais podem ser chamados a integrar o processo.
A questão principal que cria discordâncias é quanto ao uso do verbo “chamar”, o qual
foi feito de forma a gerar dúvidas quanto à natureza da relação gerada pelo artigo referido e
quanto a quem caberia esse chamamento. Assim, três correntes principais surgiram: a visão de
que o artigo trata de uma nova hipótese de intervenção de terceiros, a de que seria um caso de
denunciação da lide e a de que seria hipótese de chamamento ao processo.

8.3.3. O art. 1.698 como hipótese de denunciação da lide

Primeiramente, será apresentada a visão que defende o art. 1.698 como um caso de
denunciação da lide, a qual ocorre quando o terceiro (denunciado) está obrigado, por lei ou
42

contrato, a indenizar a parte (denunciante) sobre o prejuízo que esta possa ter ao perder a
demanda, assim, é notório que se trata de uma ação regressiva. Outrossim, um aspecto
fundamental dessa modalidade de intervenção de terceiros é o fato de que não existe qualquer
tipo de relação jurídica entre o denunciado e a parte contrária ao denunciante, pois ele não é o
titular do direito material controvertido, apenas o afeta de maneira secundária, fato que
impossibilita, originalmente, que a demanda seja proposta contra ou por ele.
O civilista Renan Lotufo defendeu tal visão ao dispor:

Como se vê, a alteração implica em tornar a obrigação solidária entre os do grau


sucessivo, remanescendo com o autor o direito de escolha contra quem direcionar o
pedido, facultado ao "eleito" o direito regressivo, mediante denunciação à lide.
(LOTUFO, 2001, p. 70).

Entretanto, Lotufo tornou pública tal opinião antes da entrada em vigor do CC/02,
acreditando que o art. 1.698 iria tornar solidária a obrigação de prestar alimentos entre os
parentes de grau sucessivo, haja vista que o CC/02 ainda estava sob análise como forma de
um projeto. Indubitavelmente, o Código não materializou a solidariedade das obrigações de
prestar alimentos advindas de parentesco, impedindo ao “eleito” para prestar alimentos o
direito regressivo, o que é uma característica essencial da denunciação da lide.
Além disso, o art. 256 do CC/02, proíbe a presunção de solidariedade, ela deve derivar
da lei ou da vontade das partes, e como não há previsão legal quanto à solidariedade da
obrigação de prestar alimentos, ou ao direito de regresso, a visão de Lotufo não é concebível.
Assim, se a denunciação da lide fosse aplicada à ação de alimentos, o beneficiado pela
obrigação poderia cobrar o pagamento integral da prestação de qualquer um dos potenciais
alimentantes e, caso este pagasse, possuiria direito de regresso sobre os outros, ou seja, todos
seriam responsáveis pelo valor total dos alimentos. Mas, o alimentante deve, primeiramente,
se voltar contra parente de grau mais próximo, e, apenas se não obtiver sucesso, em virtude da
comprovação da falta de condições desse parente a fim de pagar os alimentos, poderá se
voltar aos outros parentes de graus mais distantes.
Portanto, a permissão que o art. 1.698 faz de se chamar outros indivíduos não diz
respeito a uma garantia de regresso do réu, e sim uma forma de assegurar o recebimento dos
alimentos pelo alimentado. Então, não se pode dizer que o artigo trata de denunciação da lide,
pois esta objetiva o ressarcimento do denunciante pelo denunciado em razão de eventuais
ônus decorrentes do processo pendente, e, por isso, não é possível afirmar a existência de uma
relação jurídica entre o denunciado e o adversário do denunciante. Dessa forma, como não há
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direito de regresso de um alimentante a outro, cada um deles deve pagar apenas pelo que
conseguir, podendo surgir um número de relações jurídicas proporcionais ao número de
alimentantes.

8.3.4. O art. 1.698 como hipótese de chamamento ao processo

Passa-se agora para a opinião de que o art. 1.698 trata de chamamento ao processo.
Essa modalidade de intervenção de terceiros está disposta no artigos 130, 131 e 132 o
CPC/15, e versa sobre a possibilidade do réu chamar ao processo os outros coobrigados pela
dívida para figurarem no polo passivo de uma relação já existente, sendo que todos serão
condenados na mesma sentença se o pedido for julgado procedente.
O art. 130 admite o chamamento ao processo, requerido pelo réu: I- do afiançado, na
ação em que o fiador for o réu; II- dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns
deles; III- dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o
pagamento da dívida comum.
Assim, o chamamento ao processo seria uma maneira de formação de litisconsórcio,
por iniciativa do réu, o que atende ao princípio da economia processual, e os devedores
chamados passam a compor o polo passivo e ficam submetidos à coisa julgada.
Para os que defendem essa hipótese, se formaria um litisconsórcio incidental ou
superveniente entre os coobrigados, visando estabelecer a quota-parte de cada um dos
devedores, de forma proporcional às suas condições financeiras. Além disso, admitem que
não há solidariedade na prestação pelos devedores nas ações de alimentos, mas, mesmo assim,
a regra do artigo controvertido pode ser embutida no inciso III do art. 130 do CPC, porém de
forma modificada, já que é mais importante buscar um julgamento e decisão justos e eficazes
do que se ater à norma de forma excessiva, com muito formalismo.
Logo, para os defensores da ideia, se teria uma ampliação do termo “solidariedade”
empregado no inciso III do art. 130 para que se possa aceitar o chamamento de devedores
comuns no caso da ação de alimentos. A partir de tal posicionamento, caso a ação de
alimentos venha a ser movida originariamente contra quem não é obrigado a pagar os
alimentos em primeiro lugar, seria possível chamar ao processo o devedor principal, com base
no inciso I do art. 130, concedendo ao termo “fiador” a elasticidade feita ao termo
“solidariedade” do inciso III.
Entretanto, muitos defendem que a ação de alimentos não pode ser solidária, pois não
é possível exigir o pagamento da integralidade da dívida por um dos devedores à escolha do
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credor, haja vista que cada devedor, na dívida alimentar, só responde nos limites da sua
possibilidade financeira, o que abre espaço para obrigações desiguais. Ademais, o indivíduo
que pagou o valor total da dívida não possui o direito de ser ressarcido pelos demais
devedores.
Dessa forma, como o chamamento ao processo é pautado por uma obrigação solidária
e a obrigação alimentar não possui natureza de solidariedade, não seria viável enxergar o art.
1.698 do Código Civil como uma espécie de chamamento ao processo. Todavia, é
compreensível que considerar tal artigo como chamamento ao processo beneficiaria o
alimentando, o qual é o autor da ação, uma vez que outras relações e direito material
adentrariam no processo, que se mantém uno, e que podem resultar em uma maior
possibilidade de cumprimento da prestação em favor do alimentando.
Seguindo essa linha de raciocínio, o Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o recurso
especial de número 964.866 de São Paulo, no dia 11 de março de 2011, entendeu que o
legislador do art. 1.698 do Código Civil pretendeu buscar celeridade e efetividade ao
processo, de forma a garantir a satisfação do polo ativo da ação de alimentos. Logo, o STJ
opta pela tese se que o artigo em questão pode ser visto como uma hipótese de chamamento
ao processo, indicando que os operadores do direito não podem se atrelar ao formalismo, pois
isso corrobora para uma justiça lenta e, por muitas vezes, desatenta à realidade da vida e
angústias dos que buscam a resolução de um conflito no Poder Judiciário.
Portanto, haveria uma similaridade das diversas obrigações alimentares com a
solidariedade, já que o chamamento de outros devedores, sendo estes solidários ou não,
beneficia o alimentado, porque isso amplia a possibilidade da concretização da tutela
jurisdicional a seu favor. Ou seja, essa visão aumenta a proteção do alimentado, prezando por
sua dignidade e alcançando a justiça, o que privilegia a efetividade do direito à prestação
alimentícia em detrimento da instrumentalidade e aspectos formais do processo.

8. 4. A intervenção especial da União prevista na Lei Federal 9469/97

O art. 109, I, da Constituição Federal de 1988 dispõe que a participação da União,


autarquias e empresas públicas federais como assistentes ou oponentes direciona a
competência para a justiça federal de primeira instância. É importante lembrar que a
participação do processo exige interesse jurídico, motivo pelo qual o tema é controverso e
inspira a Súmula n. 150 do Superior Tribunal de Justiça, a qual alega que “compete à Justiça
45

Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo,
da União, suas autarquias ou empresas públicas”.
Outrossim, o interesse jurídico é sustentado, no âmbito público, federal, estadual ou
municipal, a partir do vínculo formado devido às consequências, mesmo que indiretas, que
estes poderiam sofrer. Os elementos de interesse econômico e jurídico ocasionam embate, de
modo que a literalidade do parágrafo único do art. 5° reconhece que a participação poderá ser
realizada em decorrência de reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica,
independentemente da demonstração de interesse jurídico. De qualquer forma, é de suma
importância frisar que a interpretação literal da regra especial da Lei 9.469/1997 nem sempre
é aconselhável, apesar de boa parte da jurisprudência adotar tal entendimento. Isto pois pode
haver a consideração de que a alegação de interesse jurídico, por si só, não é suficiente para
que a presença no processo seja devidamente justificada.

Em outros termos, autoriza-se a intervenção anômala da União, baseada apenas em


interesse econômico e não jurídico, mas sem deslocamento da competência da Justiça
Estadual para a Federal. Ocorre a competência ratione materiae da Justiça Federal nas
seguintes hipóteses: (a) causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado
estrangeiro ou organismo internacional (Constituição Federal, art. 109, III); (b) a
disputa sobre direitos indígenas (Constituição Federal, art. 109, XI); (c) execução de
carta rogatória após o exequatur e de sentença estrangeira após homologação
(Constituição Federal, art. 109, X); (d) causas referentes à nacionalidade, inclusive a
respectiva opção, e à naturalização (Constituição Federal, art. 109, X); (e) causas
relativas a direitos humanos, quando verificada a hipótese prevista no § 5º do art. 109
da Constituição (a Emenda Constitucional 45, de 30.12.2004, incluiu o inc. V-A no
elenco das competências arroladas no art. 109 da Constituição). (THEODORO
JÚNIOR, 2015).
46

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante a versatilidade e as inúmeras movimentações que a história do Direito


Processual apresenta, vê-se justa a colocação da inesgotabilidade somente no tripé autor, réu e
juiz, sendo o terceiro uma figura aquém do simbólico, ou seja, de extrema relevância jurídica.
Assim, evidencia-se na intervenção de terceiros, um meio que faculta a possibilidade daquele
de ser atingido pelo processo, ainda que mediatamente, pelas repercussões provenientes da
sentença, de exercer seu direito de imiscuir-se, com finalidades ímpares de acompanhar o
trajeto do processo.
Dessa forma, o terceiro poderá ingressar no processo a fim de opor-se a uma ou a
ambas as partes, em prol de uma garantia inconciliável com o direito sustentado pelos
litigantes, ou, de maneira oposta, o terceiro poderá ingressar no processo a fim de defender
um interesse próprio, correlato à relação jurídica objeto do litígio, de modo a percorrer o
processo intentando o auxílio na vitória da parte a qual vincula-se seu direito.
Nesse sentido, o intermédio da figura interessada dá-se por variadas formas, esgotadas
de previsibilidade normativa em diversos dispositivos legais, e são elas: a assistência (simples
e litisconsorcial); a denunciação da lide; o chamamento ao processo; o incidente de
desconsideração da personalidade jurídica; e o amicus curiae. Todas intencionam-se
distintamente, contudo, sobrepujam a morosidade do processo em conformidade e zelam por
uma prestação jurisdicional solenemente cativada aos interesses sociais constantes no vínculo
processual.
47

REFERÊNCIAS

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