Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
UBERLÂNDIA
2021
1
2
UBERLÂNDIA
2021
RESUMO
The present dissertation, requested in the discipline of Civil Procedure Law I, teached by
Professor Dr. Alice Ribeiro de Souza, from the Law Course at the Federal University of
Uberlândia, has the conceptualize function and, consequently, analyzes the typical modalities
of third-party intervention presented by the Code of Civil Procedure from the legal text, as
well as from the knowledge previously consolidated by the Brazilian procedure doctrine. In
this way, this dissertation permeates, respectively, the concept of third party intervention
through its typical forms, as mentioned above, determined in the Code, that is, assistance,
denunciation of the dispute, call to the process, disregard of the legal personality, amicus
curiae and, finally, the different hypotheses of third-party intervention (within the scope of
Consumer Law, Special Courts, Alimony Action and Federal Law 9469/97).
Keywords: Civil Procedure Law. Third-party intervention hypotheses. Federal Court of
Justice.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 6
3. ASSISTÊNCIA 10
3.1. Conceito 10
3.2. Requisitos para intervenção 11
3.3. Tipos de assistência: simples ou litisconsorcial 11
3.4. Admissibilidade da assistência 12
3.5. Procedimento para pedido de assistência 12
3.6. Poderes e encargos dos assistentes simples e consorcial 13
3.7. Recursos 14
3.8. Assistência e a coisa julgada 14
3.9. Assistência provocada e assistência atípica/negociada 15
3.10. Sindicato como assistente 15
3.11. Recurso de terceiro prejudicado 15
4. DENUNCIAÇÃO DA LIDE 16
4.2. O Código de Processo Civil de 2015 17
4.3. A responsabilidade civil do Estado 19
4.4. A questão da obrigatoriedade da denunciação da lide 19
4.4.1. O Código de Buzaid (CPC/70) 19
4.4.2. A lei vigente 20
4.5. Procedimento 20
4.5.1. Denunciação realizada pelo autor 20
4.5.2. Denunciação realizada pelo réu 21
4.5.3. Julgamento da denunciação e as verbas de sucumbência 21
5. CHAMAMENTO AO PROCESSO 22
5.1. Conceito e critérios gerais 22
5.2. Hipóteses de admissibilidade do chamamento 24
5.3. Procedimento do chamamento ao processo 26
CONSIDERAÇÕES FINAIS 45
REFERÊNCIAS 46
7
1. INTRODUÇÃO
O Código de Processo Civil de 2002, bem como o Código de 1973, prevê uma série
de hipóteses em que o terceiro, interessado na ação haja vista as consequências jurídicas da
decisão a ser proferida, pode integrar o processo. Dessa forma, o CPC/2015, a partir do título
III “da Intervenção de Terceiros” (artigo 119 a 138), traz as formas típicas de intervenção,
sendo elas: a assistência, a denunciação da lide, chamamento ao processo, desconsideração
da personalidade jurídica e amicus curiae. Assim, a presente dissertação detalhará adiante
cada um dos tópicos trazidos acima, assim como demais hipóteses relevantes no
desenvolvimento coerente do tema.
2.1. O terceiro
O terceiro é aquele que não é parte do processo. Para o autor Cassio Scarpinella Bueno
(2019) terceiros são: “sempre entendidos aqueles que não são partes porque não formularam
ou em seu desfavor não foi formulado pedido de tutela jurisdicional”. Dessa forma, entendido
a diferença entre parte e terceiro, faz-se importante ressaltar que uma pessoa pode adquirir
posição de parte em um processo de três maneiras: tomando a iniciativa de instaura-lo;
intervindo em processo já existente entre outras pessoas; e sendo chamado a juízo para ver-se
processar. Outrossim, deve-se lembrar que na assistência e no amicus curiae o terceiro
interveniente permanecerá como tal para todos os fins do processo, ao passo que na
denunciação da lide, no chamamento ao processo e na desconsideração da personalidade
jurídica o terceiro se tornará parte.
Assim sendo, o terceiro, após ingressar no processo, pode adquirir uma posição de
auxiliar, o qual possui interesse na vitória de um das partes, ou de parte principal se igualando
ao autor e réu, ou até mesmo de parte principal com posição antagônica - tanto ao que diz
respeito ao autor, quanto ao réu.
prejudicado pela decisão, inclusive o terceiro, pode pleitear, junto ao Tribunal competente,
seu imediato reexame.
De forma geral, a intervenção de terceiros é voluntária, uma vez que não seria
adequado que uma pessoa fosse obrigada a adentrar e atuar em um processo, pois tal atitude
poderia ferir o direito de ação, o devido processo legal e o princípio da inércia da jurisdição.
Logo, o que se presencia é o desejo que uma das partes possui de integrar um terceiro à
relação processual. Nessa perspectiva, a entrada deste no processo pode ser provocada, como
na denunciação da lide ou no chamamento ao processo, ou por iniciativa do próprio terceiro,
como na assistência.
Ademais, o terceiro pode ingressar no processo a fim de auxiliar uma das partes, seja
do polo passivo ou ativo, como ocorre na assistência, ou com o intuito de confrontar ambas as
partes e proteger direito próprio, como nos embargos de terceiro (previstos no Capítulo VII,
do Título III do atual Código de Processo Civil). Além disso, sua intervenção é possível a
partir da inclusão em processo alheio ou a partir de ação própria. Finalmente, é ainda possível
que a demanda seja alterada pela intervenção de terceiro, visto que tal parte interessada pode
não modificar os pedidos formulados entre autor e réu ou pode formular um novo pedido, o
que acarreta no aumento da demanda do processo.
O autor Humberto Theodoro Júnior (2018) classifica a intervenção de terceiros a partir
de dois critérios: I – conforme o terceiro vise ampliar ou modificar subjetivamente a relação
processual, a intervenção pode ser: (a) ad coadiuvandum: quando o terceiro busca conceder
cooperação a uma das partes primitivas. Exemplo: assistência; (b) ad excludendum: quando o
terceiro busca excluir uma ou ambas as partes primitivas. Exemplo: oposição (suprimida pelo
código atual; será tratada adiante). II – conforme a iniciativa da medida, a intervenção pode
ser: (a) espontânea: quando a iniciativa parte do terceiro. Exemplo: como geralmente ocorre
na oposição, na assistência, e, por vezes, na intervenção do amicus curiae; (b) provocada:
quando foi gerada por citação promovida pela parte primitiva, mesmo que ainda seja uma
acatada pelo terceiro de forma voluntária. Exemplo: denunciação da lide, chamamento ao
processo e desconsideração da personalidade jurídica.
Partindo para uma análise histórica sobre a intervenção de terceiro, faz-se mister
relembrar o que salientava o Código de Processo Civil de 1973 sobre o tema, além das
mudanças ocorridas com a publicação do Código de Processo Civil de 2015. Como citado
10
Em suma, a intervenção de terceiros permite que seja colocado em prática o que versa
o artigo 5º, LXXVIII, da Constituição Federal: “a todos, no âmbito judicial e administrativo,
são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação.”, e no artigo 4º do Código de Processo Civil de 2015: “As partes têm o direito de
obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa.". Dessa
maneira, isso significa dizer que a intervenção de terceiros faz com que o princípio da
eficiência processual seja efetivado.
Outrossim, a intervenção de terceiros permite que situações mais complexas do que a
que foi exposta originalmente na petição inicial sejam resolvidas por um mesmo processo,
uma vez que passa a envolver um maior número de sujeitos, otimizando a prestação
jurisdicional, estimulando a previsibilidade e segurança jurídicas e garantindo a isonomia e
coerência das decisões que visam solucionar os conflitos de interesse. Assim, é possível dizer
que a intervenção de terceiros aproxima o direito processual da busca pelo bem comum e da
efetiva justiça.
3. ASSISTÊNCIA
3.1. Conceito
terceiro não deverá ser econômico ou afetivo, mas sim jurídico para garantir a efetividade e
validade da assistência.
Por conseguinte, para ingressar como assistente, deve haver uma relação jurídica que
será afetada pela decisão do processo em curso que deseja auxiliar uma das partes. Outra
importante característica desta forma de intervenção é a voluntariedade da mesma,
considerando que a decisão de ingressar no processo deve ser do terceiro interessado que
possuir uma relação jurídica que pode ser afetada pela decisão do magistrado do processo.
O artigo 119 do CPC/2015 estabelece dois requisitos essenciais para que a assistência
seja válida e eficiente: presença de relação jurídica com uma das partes pelo terceiro
interessado e o interesse jurídico. Na hipótese de assistência, uma das partes possui outras
relações jurídicas que serão afetadas pela sentença de determinado processo, logo, um terceiro
possui interesse que um dos polos seja favorecido pela determinação do juiz. Dessa situação,
surge o interesse do mesmo de defender direito que não seja próprio.
Percebe-se tais requisitos na situação de locação e sublocação: o locatário principal e
sublocatário possuem relação jurídica diversa da estabelecida entre locatário principal e
locador. Caso o locatário seja afetado por algum ato praticado pelo locador, o sublocatário
também será afetado e por isso o mesmo possui interesse jurídico na relação citada
anteriormente.
deverá se sujeitar aos mesmos ônus processuais que a parte assistida (artigo 121),
considerando que o terceiro interessado é considerado substituto processual em caso de
omissão do assistido.
A assistência litisconsorcial se diferencia da anterior em relação à posição de defesa de
direito próprio, na qual o assistente poderia ter ingressado na origem da ação como
litisconsorte mas não o fez. Dessa forma, segundo artigo 124 do CPC/2015, “Considera-se
litisconsorte da parte principal o assistente sempre que a sentença influir na relação jurídica
entre ele e o adversário do assistido”. Nesse caso, a decisão do processo influirá
consequências diretas na relação do assistente e adversário, sem que sua relação jurídica tenha
sido citada no processo.
O litisconsórcio poderia ser formado no início do processo no caso da assistência
litisconsorcial, mas não foi realizado considerando sua característica facultativa e una apesar
da relação jurídica material em questão ser a mesma, ocorrendo uma substituição processual.
Ademais, o assistente poderá continuar a defesa de seu direito apesar de desistência pela parte
originária.
Para compreensão, pode-se exemplificar a assistência simples como na relação
locador/locatário/sublocatário citada anteriormente. A assistência litisconsorcial ocorre no
processo envolvendo espólio e inventariante na qual o herdeiro não citado ingressa na ação
para defesa de direito próprio.
De acordo com o artigo 119, CPC/2015, a assistência poderá ser admitida em qualquer
procedimento e em todos os graus de jurisdição. Todavia, o assistente receberá o processo no
estado em que se encontre. A assistência é possível mesmo em fase de recurso, sendo que a
única possibilidade de não intervenção é em caso de coisa julgada - é assim estabelecido
considerando que a intervenção possui caráter facultativo e o assistente não possui direito de
apurar atos já praticados.
dias para impugnação do pedido. Em caso de ausência de impugnação, o juiz poderá admitir a
assistência, exceto em caso de rejeição liminar, conforme artigo 120 (CPC/2015).
Entretanto, caso uma das partes apresente impugnação ao pedido, ocorrerá um
procedimento incidental, que é considerado decisão interlocutória e poderá fomentar recurso
de agravo de instrumento conforme artigo 1.015, inciso IX, do CPC/2015. Assim, tal
procedimento não deve suspender ou prejudicar o processo principal. Ressalta-se que a
contestação do pedido de assistência deve ser apenas em relação ao interesse jurídico do
terceiro.
Por outro lado, o assistente simples pode praticar atos processuais apenas se os
mesmos não contrariarem a vontade do assistido, considerando que a atitude do mesmo deve
ser sempre de auxílio à parte principal. Assim, o assistente simples não poderá se opor aos
atos praticados pelo assistido, acusar incompetência relativa ou suspeição e não poderá
reconvir, considerando que a reconvenção é apresentada apenas pelo réu.
15
3.7. Recursos
O fato do assistente simples não poder iniciar nova discussão acerca do processo que
envolve o assistido reside na lógica de que o terceiro não poderia discutir um direito material
que não lhe é devido e próprio. Dessa forma, os incisos I e II apresentados acima são de
16
fundamental importância para que o assistente não seja prejudicado em suas relações
jurídicas.
Tal participação pode ser acordada entre as partes envolvidas no processo por meio de
negociação acerca dos poderes do assistente, permitindo uma maior flexibilização processual.
pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público, como parte ou como fiscal da ordem
jurídica”, promovendo ferramentas para proteger relações jurídicas não citadas ao longo do
processo. O terceiro que se encaixa na situação prevista no artigo anterior é aquele que sofreu
consequências em suas relações decorrentes de um processo que poderia atuar como
assistente simples ou litisconsorcial.
4. DENUNCIAÇÃO DA LIDE
4.1. Conceito
evicção vem a ser a perda da coisa, por força de decisão judicial, fundada em motivo
jurídico anterior, que a confere a outrem, seu verdadeiro dono, com o conhecimento
em juízo da existência de ônus sobre a mesma coisa, não denunciado oportunamente
no contrato. (DINIZ, 1985-1987, pág. 100).
Diante o exposto, entende-se que o direito à evicção possui três fontes principais: (i) a
perda total ou parcial da coisa adquirida pelo comprador; (ii) a perda que resulta de sentença
que julga meritório a atribuição da mesma coisa a outrem que não o vendedor; (iii) e a perda
da coisa deve ter por fundamento direito anterior ao contrato de compra e venda
(ZANELLATO).
19
2. O art. 70, III, do CPC/73 prevê que a denunciação da lide é obrigatória ‘àquele
que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o
prejuízo do que perder a demanda’. 3. Depreende-se do mencionado comando legal
que a denunciação da lide, nesta hipótese, restringe-se às ações de garantia, isto é,
àquelas em que se discute a obrigação legal ou contratual do denunciado em garantir
o resultado da demanda, indenizando o garantido em caso de derrota. 4. Não é
cabível, portanto, a denunciação da lide quando se pretende pura e simplesmente,
transferir responsabilidade pelo evento danoso. Afinal, por direito de regresso,
autorizador da denunciação da lide com base no art. 70, III, do CPC/73, deve-se
entender aquele fundado em garantia própria, o qual não se confunde com o mero
20
REsp 313.886/RN, cuja relatora, Min. Eliana Calmon, faz uma detida análise da
questão, fazendo numerosas alusões aos entendimentos daquela Corte. Nesse
acórdão, a relatora posiciona-se pelo descabimento da denunciação da lide ao
funcionário quando introduzir discussão fática nova a respeito da culpa deste, admite
a existência de entendimento contrário e conclui que não se há de anular a sentença
ou o acórdão, por ter sido a denunciação indeferida nas instâncias inferiores.
(GONÇALVES; LENZA, 2020, p. 410).
O Código de Processo Civil de 2015 foi explícito quanto a este assunto, uma vez que
revogou o art. 456 do Código Civil (art. 1.072, II) que dispunha do argumento de direito
material que justificava a obrigatoriedade da intervenção e adotou uma redação inequívoca no
caput do art. 125: a denunciação da lide agora é “admissível”. (THEODORO JÚNIOR, 2015).
Ademais, ainda pacificou o entendimento de que a parte que não realizar a
denunciação, seja pela impossibilidade ou por indeferimento, poderá exercer o direito de
regresso em ação autônoma: art. 125, § 1º: “O direito regressivo será exercido por ação
autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for
permitida”.
4.5. Procedimento
A denunciação da lide poderá ser requerida tanto pelo autor quanto pelo réu da ação.
aditar, convencionalmente, a petição inicial, com novos argumentos (CPC, art. 127), por isso
que somente após esse rito processual procederá à citação do réu (THEODORO JÚNIOR,
2015).
Como há duas ações caminhando simultaneamente em um mesmo processo, o
denunciado figurará como litisconsorte na lide principal, mas figurará no polo passivo da
contestação à lide secundária (GONÇALVES; LENZA, 2020).
Prevista pelo art. 128 do CPC/2025,a denunciação realizada pelo réu será requerida na
contestação, elucidando os fundamentos fáticos e jurídicos em que baseia o direito de regresso
e qual o pedido, de modo a ser prerrogativa do juiz apreciar a validade ou não da denunciação,
e dispensa-se o consentimento da parte contrária. Uma vez citado o denunciado, caberá ao
denunciante acautelar a citação, dentro dos moldes legais, em um prazo de 30 (trinta) dias,
sob pena de tornar-se inefetiva a denunciação (art. 126, parte final, c/c art. 131). Dessa forma,
caso o denunciado resida em outra comarca, seção ou subseção judiciárias, o prazo para a
citação será de dois meses, conforme previsão legal. (GONÇALVES; LENZA, 2020).
Assim como na hipótese de intervenção iniciado pelo autor, o denunciado contrai a
qualidade de litisconsorte, e, portanto, poderá refutar os fatos alegados pelo autor na petição
inicial. Nesse sentido, há duas hipóteses que fazem-se relevantes à elucidação, (i) se o
denunciado aceitar a denunciação, poderá contestar o pedido, no prazo de resposta (15 dias),
de modo que o denunciado será litisconsorte do denunciante em relação à ação principal (art.
128, inciso I); (ii) caso o denunciado assuma-se enquanto revel, o denunciante tem a
possibilidade de não dar sequência à sua defesa, e, dessa maneira, abster-se de recorrer,
restringindo sua atuação à ação regressiva (THEODORO JÚNIOR, 2015, p. 393).
Por fim, é no art. 129 em que se expressa quando e como será a apreciação da
denunciação da lide. O pedido de regresso formulado pelo denunciado contra o denunciante
representa a ação regressiva, a qual somente será apreciada (e julgada) caso o pedido
formulado “pelo denunciante em face do réu originário ser rejeitado ou se acolhido o pedido
formulado em seu detrimento pelo autor” (BUENO, 2019, p. 318-319).
23
5. CHAMAMENTO AO PROCESSO
O chamamento ao processo, definido por Moacyr Amaral Santos (2013, p. 36) como:
“o ato pelo qual o réu, citado como devedor, chama ao processo o devedor principal, ou os
corresponsáveis ou os coobrigados solidários para virem responder pelas suas respectivas
obrigações”, é disciplinado pelo Código de Processo Civil de 2015 nos artigos 130 a 132
como uma das formas de intervenção de terceiros ao processo. Apesar de, por vezes, se
aproximar da denunciação da lide, é vantajoso - para a maior compreensão da matéria -
mencionar três diferenças principais existentes entre as modalidades, sendo elas: 1. o
chamamento ao processo é feito a partir da inserção, na ação existente, dos réus em
conformidade com as hipóteses legais, enquanto na denunciação uma outra ação é realizada;
2. logo, a primeira modalidade conta com apenas uma relação jurídica processual, na medida
em que a segunda conta com duas relações jurídicas; 3. por fim, o chamamento ao processo só
pode ser realizado pela parte passiva do processo, diferentemente da denunciação à lide que
pode ser feita por ambas as partes.
Logo, com a finalidade de “favorecer o devedor que está sendo acionado, porque
amplia a demanda, para permitir a condenação também dos demais devedores, além de lhe
fornecer, no mesmo processo, título executivo para cobrar deles aquilo que pagar” (BARBI,
1999, p. 359), bem como assegurar a economia processual, haja vista a existência de uma
única ação, e a não ocorrência de decisões contraditórias, o chamamento ao processo cria uma
relação litisconsorcial passiva entre os réus, recaindo sobre estes todos os pressupostos do
litisconsórcio como o efeito da coisa julgada material.
Em conformidade com o disposto acima, é importante ressaltar a natureza do
litisconsórcio formado. Assim, o chamamento ao processo sempre será um instrumento
utilizado pela parte passiva da ação e à escolha dela, logo, o litisconsórcio é passivo e
facultativo. Ademais, como será enfatizado com maior detalhamento outrora, trata-se de
modalidade ulterior, pois a pluralidade de réus não se dá no momento da propositura da ação,
mas sim na contestação, como destacado no artigo 131, caput, do CPC/2015 (grifos nossos):
“A citação daqueles que devam figurar em litisconsórcio passivo será requerida pelo réu na
contestação e deve ser promovida no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de ficar sem efeito o
chamamento”. Quanto à sentença, tendo em mente que a mera possibilidade de distintas
decisões configuram o litisconsórcio como simples, garante que o instrumento não seja tido
como unitário, haja vista as diversas circunstâncias envolvendo a relação autor versus réu
(chamante, bem como chamado). Dessa forma, em resumo, o chamamento de processo forma
litisconsórcio passivo, facultativo, ulterior e simples.
Outrossim, segundo Athos Gusmão Carneiro (2006), para o exercício do instituto
legal destacado neste tópico, é preciso que dois pressupostos sejam cumpridos:
(...) em primeiro lugar, a relação de direito ‘material’ deve pôr o chamado também
como devedor (em caráter principal, ou em caráter subsidiário) ao mesmo credor, o
qual na demanda figura como autor. Em segundo lugar, é necessário que, em face da
relação de direito ‘material, deduzida em juízo, o pagamento da dívida pelo
'chamante' ao autor, em cumprimento da sentença condenatória, confira ao chamante
o direito de, no mesmo processo, exigir o seu reembolso (total ou parcial) pelo
chamado. (CARNEIRO, 2006, p. 161)
(...) cumpre lembrar que, caso o chamante indique o inciso errado, não será
necessariamente caso de indeferimento do chamamento ao processo. Isto em razão
dos princípios iura novit curia e, também, da mihi factum, dabo tibi ius, que não
obstam que o juiz defira o pedido, fundamentando sua decisão no inciso correto.
(JORGE, 1999, p. 80).
O fiador é obrigado subsidiário e uma das maneiras de ele poder fazer valer esta
subsidiariedade é, justamente, tomar, já no processo de conhecimento, a providência
a que se refere o art. 77, n. I [art. 130, inc. I, do CPC/2015]. Se o fiador for
demandado e deixar de tomar a providência do art. 77, I, formar-se-á exclusivamente
contra ele, fiador, título executivo porque não exercer a função esta faculdade de
27
chamar o afiançado, no prazo para contestar, na forma do que dispõe o art. 78 [art.
131 do CPC/2015], ficará impossibilidade de utilizar-se no processo de execução do
benefício de ordem. (ALVIM, 1976, p. 346)
Como definido previamente pelo art. 131 do CPC/2015, o chamamento dos demais
réus da ação deve ser requerida na contestação no prazo de, no máximo, 30 (trinta) dias ou 60
(sessenta) dias - caso o chamado resida em outra comarca, seção, subseção judiciária ou local
incerto, nos moldes do parágrafo único do mesmo artigo. Cabe ainda ressaltar que, de acordo
com a Súmula 106 do STJ: “Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora
na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifica o acolhimento da
arguição de prescrição ou decadência”, ou seja, caso o prazo disposto nos artigos não seja
cumprido por falhas do serviço judiciário, não há como perder o efeito do chamamento.
Após a citação do chamado descrita acima, o indivíduo tem 15 (quinze) dias para
responder ao chamamento, isso posto, apresentando-se ou não, torna-se litisconsorte da ação
principal. Desse modo, no caso da improcedência da demanda, ambos (chamante e chamado)
se beneficiam da decisão, entretanto, caso seja procedente, valerá o procedimento trazido no
art. 132 do CPC/2015. Assim, sendo a decisão favorável ao autor, este poderá “(...) exigi-la,
por inteiro, do devedor principal, ou, de cada um dos codevedores, a sua quota, na proporção
que lhes tocar” (art. 132, CPC/2015). Logo, segundo Athos Gusmão Carneiro,
patrimônio de empresas coligadas, isto é, empresas controladas por outras com objetivos
corrompidos. Nesse ínterim, a responsabilidade também pode ser estendida aos chamados
“laranjas”, que utilizam meios para tentar se escusar da lei.
processos judiciários que possuam como objeto matéria incluída em sua competência.
(ALVIM; FERREIRA; GRANADO, 2019).
Posteriormente, ainda pretérito ao Código Processual Civil de 2015 (CPC/15),
houveram diferentes situações legislativas em que o ordenamento pátrio permitiu outras
hipóteses de intervenção do amicus curiae (ainda que não explicitamente), como é o caso de
duas significativas leis promulgadas no ano de 1999: a Lei nº 9.868, responsável por tratar
sobre o processo e julgamento das ações de controle concentrado de constitucionalidade; e a
Lei nº 9.882, a qual regulamenta a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental.
(ALVIM; FERREIRA; GRANADO, 2019)
7.1. Conceito
7.2. Procedimento
A pessoa que pode ingressar como amicus curiae em um processo pode ser tanto
natural quanto jurídica, desde que haja legitimação, isto é, possa contribuir positivamente para
o debate e desenvolvimento adequado da tese de decisão, além de não possuir interesse
particular na lide. Desse modo demonstra-se, a partir disso, a exigência de imparcialidade
desse terceiro, sob a possibilidade de ser afastado com base no art. 144, do CPC/15, o qual
dispõe das regras de impedimento. Independente do sujeito de direito, Humberto Theodoro Jr.
(2015, p. 414) preceitua com excelência a eminência de haver presente “noções de autoridade,
respeitabilidade, reconhecimento científico e perícia acerca da matéria sobre a qual irão se
manifestar.”. No que tange às pessoas jurídicas excepcionalmente, é de caráter obrigacional a
comprovação de que há razoabilidade entre o interesse institucional e os efeitos que hão de ser
originados a partir da sentença da ação. (ALVIM; FERREIRA; GRANADO, 2019).
Por fim, vale mencionar que quando a intervenção do terceiro é requerida pelo próprio
órgão judicial, não há necessidade de haver representação por meio de advogado. O oposto
ocorre quando o instituto é solicitado espontaneamente, nessa situação, por estar pleiteando
em juízo, há a obrigatoriedade de representação através de um advogado.
O amicus curiae possui seus poderes delimitados pelo juiz ou relator, tendo este livre
capacidade para limitar a atuação do interventor, havendo sempre a necessidade de ponderar
entre a função de colaborador da corte, sua capacidade perante o processo e o caso específico
em questão, consoante ao art. 138, § 2º, CPC/15.
Ademais, fica explícito que esse instituto é incapaz de promover alteração de
competência e interpor recursos, cabendo-lhe apenas a oposição de embargos de declaração
(art. 138, § 1º, CPC/15) e o recurso “da decisão que julgar o incidente de resolução de
demandas repetitivas.” (art. 138, § 3º, CPC/15). Ambas as particularidades recursais citadas
visam realizar a manutenção adequada da jurisprudência, impondo ao juiz para que revise a
decisão do litígio utilizando como base teses firmadas em julgamentos repetitivos, alinhando a
lógica entre os tribunais, impedindo o conflito entre soluções a fim de preservar a isonomia e
a segurança jurídica.
A doutrina pátria majoritária compreende que a participação do amicus curiae pode
ser requerida a qualquer momento, sendo necessário que sua manifestação ocorra em até
35
quinze dias após da data de intimação e que o direito ao contraditório das partes não seja
violado. Essa participação, de acordo com entendimento do STF, nas palavras do Ministro
Celso de Mello, durante julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental 187 - DF “a necessidade de assegurar, ‘ao amicus curiae’, mais do que o
simples ingresso formal no processo de fiscalização abstrata de constitucionalidade, a
possibilidade de exercer a prerrogativa da sustentação oral perante esta Suprema Corte”
(grifos nossos). Diante do supracitado, apesar do CPC/15 não citar expressamente, percebe-se
que além da capacidade de interpor recursos excepcionalmente, há também pleno direito de
apresentar informações, dados, ideais, técnicas e estudos, e ainda possuem aptidão para
sustentação oral na corte.
Nessa temática, eminente viés apresenta-se também na teoria de Peter Häberle através
da ruptura do paradigma da “sociedade fechada”. Primordialmente, a aptidão para
interpretação do sistema normativo possuía caráter restritivo, pertencendo, via de regra, a
figura do juiz. Contudo, o constitucionalista passa a abordar a noção de que os integrantes da
dinâmica social são os destinatários da norma e, portanto, estes são, da mesma forma,
intérpretes dela, assim sendo, tornam-se participantes ativos da atividade hermenêutica legal.
A partir da concepção e incorporação da ideia de que a natureza particular é essencial no
processo interpretativo, torna-se possível mensurar abstratamente o quão condizente é o
ordenamento normativo diante da realidade social. (JORDÃO; PEREIRA, 2017).
Por conseguinte, diante do supracitado, é notório que o Poder Judiciário encontra no
instituto do amicus curiae uma forma de aproximar, através do diálogo, as esferas privada e
pública, permitindo, destarte, que o processo hermenêutico vá além do juiz, assumindo
também presença dentre os sujeitos destinatários das normas, isto é, a sociedade civil. Essa
atividade interpretativa que vai além dos membros das Cortes permite a criação de decisões
melhores fundamentadas com base na pluralidade social, além de permitir compreender o
quão destoante é o ambiente social se comparado com a letra da lei. Como consequência
dessa ampliação de abrangência do debate, há maior tangibilidade entre o texto constitucional
com a concretude social, aproximando-se ainda mais da democracia deliberativa proposta por
Habermas e, igualmente, de um Estado Democrático de Direito ideal.
consumidor. Desse modo, estas preferências do legislador dá-se pelo fato de que (I) um
fornecedor pode realizar relações comerciais, em contextos de globalização, com uma
pluralidade muito ampla de consumidores, e também pela questão (II) da salvaguarda do
consumidor, já que quem deveria arcar com os custos de uma falha no produto/serviço é
aquele que o fornece.
Em seguida, evidencia-se que o chamamento ao processo está consagrado no inciso II
do mesmo artigo do Código de Defesa do Consumidor e dispõe que o réu poderá chamar ao
processo o segurador quando ambas estas figuras empregarem seguro de um determinado
objeto que contemple ou se relacione com o litígio. Dessa forma, segundo o doutrinador
Kazuo Watanabe, um dos autores do Anteprojeto do Código de Defesa do Consumidor, “o
chamamento ao processo, portanto, amplia a garantia do consumidor e ao mesmo tempo
possibilita ao fornecedor convocar desde logo, sem a necessidade de ação regressiva
autônoma, o segurador para responder pela cobertura securitária prometida”. (GRINOVER et
al., 2004).
Os Juizados Especiais Cíveis, disciplinados pela Lei n° 9.099 de 1995, têm como
critérios do processo a “(...) oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e
celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.” (art. 2° da Lei n°
9.099/95).
No que diz respeito às intervenções de terceiros, enfoque do presente trabalho, de
acordo com o art. 10 da lei supracitada: “Não se admitirá, no processo, qualquer forma de
intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio.”. Entretanto, o
CPC/2015, por meio do art. 1062, garantiu a possibilidade de competência dos juizados nos
casos de desconsideração de personalidade jurídica, modalidade disciplinada pelos artigos 133
a 137 do Código. Segundo Bruno Vasconcelos de Oliveira (2007), apesar destas vedações
quanto a atuação dos juizados terem sido realizadas pelo legislador com a intenção de
promover a maior celeridade na tramitação dos processos, em muitos casos tal medida não é,
devidamente, eficaz:
Posto isso, indaga-se o que é a ação de alimentos: é uma ação proferida por uma das
partes em detrimento da outra, como intuito de que esta última garanta à primeira meios
necessários para o sustento e manutenção de uma vida digna, sendo que o juiz deverá decidir
observando as necessidades da parte pedinte de forma proporcional aos recursos da pessoa
que deverá pagar os alimentos.
A ação de alimentos encontra sua fundamentação na Lei nº 5.478/68, que prevê rito
especial para a ação, nos artigos 1.694 a 1.710, do Código Civil, os quais versam sobre o
direito de pedir alimentos ao cônjuge, parentes e companheiro, e nos artigos 528 a 533 do
Código de Processo Civil, os quais dizem respeito ao cumprimento de sentença que reconheça
a exigibilidade de obrigação de prestar alimentos.
Os alimentos são prestações, de natureza pecuniária ou não, que uma pessoa deve à
outra relativas à satisfação de necessidades que proporcionam a manutenção de um padrão de
vida digno, sendo que a pessoa favorecida pela ação deve provar que não possui meios de
garantir sua subsistência. É preciso atentar ao fato de que o pagador de alimentos, além de
assegurar o mínimo para o outro, o qual pode ser seus filhos, ascendentes, descendentes,
parentes ou ex-cônjuge/companheiro, deve também prezar pela qualidade de vida do mesmo,
englobando, assim, fatores como habitação, vestimenta, assistência médica, manutenção do
estilo de vida e a preservação da vida física, moral e social do indivíduo. Cita-se o art. 1.695
do CC/02:
São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem
pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam,
pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento. (BRASIL, 1988, art.
61)
Dessa forma, a ação de alimentos está sujeita à possibilidade e necessidade, uma vez
que deve estar de acordo com a situação financeira de quem a propõe e de quem deverá
executá-la, e, por isso, existe a possibilidade de ser alterada a qualquer momento por
mudanças no padrão de vida do devedor e do credor.
Quanto à natureza da ação em questão, é personalíssima, além de ser irrenunciável e
intransmissível. Outra característica é o fato de não ser possível realizar a devolução ou
penhora dos alimentos, e muito menos a renúncia da obrigação de pagá-los. Inclusive, a
41
obrigação de pagar alimentos é transmitida aos herdeiros do devedor, assim como é exposto
no art. 1.700 do CC/02.
Ademais, para propor a ação de alimentos, faz-se necessário comprovar vínculo,
parentesco ou a existência de obrigação de se pagar pensão alimentícia, além de apresentar os
documentos que provem a situação financeira do devedor e a necessidade de receber os
alimentos do credor.
Primeiramente, será apresentada a visão que defende o art. 1.698 como um caso de
denunciação da lide, a qual ocorre quando o terceiro (denunciado) está obrigado, por lei ou
42
contrato, a indenizar a parte (denunciante) sobre o prejuízo que esta possa ter ao perder a
demanda, assim, é notório que se trata de uma ação regressiva. Outrossim, um aspecto
fundamental dessa modalidade de intervenção de terceiros é o fato de que não existe qualquer
tipo de relação jurídica entre o denunciado e a parte contrária ao denunciante, pois ele não é o
titular do direito material controvertido, apenas o afeta de maneira secundária, fato que
impossibilita, originalmente, que a demanda seja proposta contra ou por ele.
O civilista Renan Lotufo defendeu tal visão ao dispor:
Entretanto, Lotufo tornou pública tal opinião antes da entrada em vigor do CC/02,
acreditando que o art. 1.698 iria tornar solidária a obrigação de prestar alimentos entre os
parentes de grau sucessivo, haja vista que o CC/02 ainda estava sob análise como forma de
um projeto. Indubitavelmente, o Código não materializou a solidariedade das obrigações de
prestar alimentos advindas de parentesco, impedindo ao “eleito” para prestar alimentos o
direito regressivo, o que é uma característica essencial da denunciação da lide.
Além disso, o art. 256 do CC/02, proíbe a presunção de solidariedade, ela deve derivar
da lei ou da vontade das partes, e como não há previsão legal quanto à solidariedade da
obrigação de prestar alimentos, ou ao direito de regresso, a visão de Lotufo não é concebível.
Assim, se a denunciação da lide fosse aplicada à ação de alimentos, o beneficiado pela
obrigação poderia cobrar o pagamento integral da prestação de qualquer um dos potenciais
alimentantes e, caso este pagasse, possuiria direito de regresso sobre os outros, ou seja, todos
seriam responsáveis pelo valor total dos alimentos. Mas, o alimentante deve, primeiramente,
se voltar contra parente de grau mais próximo, e, apenas se não obtiver sucesso, em virtude da
comprovação da falta de condições desse parente a fim de pagar os alimentos, poderá se
voltar aos outros parentes de graus mais distantes.
Portanto, a permissão que o art. 1.698 faz de se chamar outros indivíduos não diz
respeito a uma garantia de regresso do réu, e sim uma forma de assegurar o recebimento dos
alimentos pelo alimentado. Então, não se pode dizer que o artigo trata de denunciação da lide,
pois esta objetiva o ressarcimento do denunciante pelo denunciado em razão de eventuais
ônus decorrentes do processo pendente, e, por isso, não é possível afirmar a existência de uma
relação jurídica entre o denunciado e o adversário do denunciante. Dessa forma, como não há
43
direito de regresso de um alimentante a outro, cada um deles deve pagar apenas pelo que
conseguir, podendo surgir um número de relações jurídicas proporcionais ao número de
alimentantes.
Passa-se agora para a opinião de que o art. 1.698 trata de chamamento ao processo.
Essa modalidade de intervenção de terceiros está disposta no artigos 130, 131 e 132 o
CPC/15, e versa sobre a possibilidade do réu chamar ao processo os outros coobrigados pela
dívida para figurarem no polo passivo de uma relação já existente, sendo que todos serão
condenados na mesma sentença se o pedido for julgado procedente.
O art. 130 admite o chamamento ao processo, requerido pelo réu: I- do afiançado, na
ação em que o fiador for o réu; II- dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns
deles; III- dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o
pagamento da dívida comum.
Assim, o chamamento ao processo seria uma maneira de formação de litisconsórcio,
por iniciativa do réu, o que atende ao princípio da economia processual, e os devedores
chamados passam a compor o polo passivo e ficam submetidos à coisa julgada.
Para os que defendem essa hipótese, se formaria um litisconsórcio incidental ou
superveniente entre os coobrigados, visando estabelecer a quota-parte de cada um dos
devedores, de forma proporcional às suas condições financeiras. Além disso, admitem que
não há solidariedade na prestação pelos devedores nas ações de alimentos, mas, mesmo assim,
a regra do artigo controvertido pode ser embutida no inciso III do art. 130 do CPC, porém de
forma modificada, já que é mais importante buscar um julgamento e decisão justos e eficazes
do que se ater à norma de forma excessiva, com muito formalismo.
Logo, para os defensores da ideia, se teria uma ampliação do termo “solidariedade”
empregado no inciso III do art. 130 para que se possa aceitar o chamamento de devedores
comuns no caso da ação de alimentos. A partir de tal posicionamento, caso a ação de
alimentos venha a ser movida originariamente contra quem não é obrigado a pagar os
alimentos em primeiro lugar, seria possível chamar ao processo o devedor principal, com base
no inciso I do art. 130, concedendo ao termo “fiador” a elasticidade feita ao termo
“solidariedade” do inciso III.
Entretanto, muitos defendem que a ação de alimentos não pode ser solidária, pois não
é possível exigir o pagamento da integralidade da dívida por um dos devedores à escolha do
44
credor, haja vista que cada devedor, na dívida alimentar, só responde nos limites da sua
possibilidade financeira, o que abre espaço para obrigações desiguais. Ademais, o indivíduo
que pagou o valor total da dívida não possui o direito de ser ressarcido pelos demais
devedores.
Dessa forma, como o chamamento ao processo é pautado por uma obrigação solidária
e a obrigação alimentar não possui natureza de solidariedade, não seria viável enxergar o art.
1.698 do Código Civil como uma espécie de chamamento ao processo. Todavia, é
compreensível que considerar tal artigo como chamamento ao processo beneficiaria o
alimentando, o qual é o autor da ação, uma vez que outras relações e direito material
adentrariam no processo, que se mantém uno, e que podem resultar em uma maior
possibilidade de cumprimento da prestação em favor do alimentando.
Seguindo essa linha de raciocínio, o Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o recurso
especial de número 964.866 de São Paulo, no dia 11 de março de 2011, entendeu que o
legislador do art. 1.698 do Código Civil pretendeu buscar celeridade e efetividade ao
processo, de forma a garantir a satisfação do polo ativo da ação de alimentos. Logo, o STJ
opta pela tese se que o artigo em questão pode ser visto como uma hipótese de chamamento
ao processo, indicando que os operadores do direito não podem se atrelar ao formalismo, pois
isso corrobora para uma justiça lenta e, por muitas vezes, desatenta à realidade da vida e
angústias dos que buscam a resolução de um conflito no Poder Judiciário.
Portanto, haveria uma similaridade das diversas obrigações alimentares com a
solidariedade, já que o chamamento de outros devedores, sendo estes solidários ou não,
beneficia o alimentado, porque isso amplia a possibilidade da concretização da tutela
jurisdicional a seu favor. Ou seja, essa visão aumenta a proteção do alimentado, prezando por
sua dignidade e alcançando a justiça, o que privilegia a efetividade do direito à prestação
alimentícia em detrimento da instrumentalidade e aspectos formais do processo.
Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo,
da União, suas autarquias ou empresas públicas”.
Outrossim, o interesse jurídico é sustentado, no âmbito público, federal, estadual ou
municipal, a partir do vínculo formado devido às consequências, mesmo que indiretas, que
estes poderiam sofrer. Os elementos de interesse econômico e jurídico ocasionam embate, de
modo que a literalidade do parágrafo único do art. 5° reconhece que a participação poderá ser
realizada em decorrência de reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica,
independentemente da demonstração de interesse jurídico. De qualquer forma, é de suma
importância frisar que a interpretação literal da regra especial da Lei 9.469/1997 nem sempre
é aconselhável, apesar de boa parte da jurisprudência adotar tal entendimento. Isto pois pode
haver a consideração de que a alegação de interesse jurídico, por si só, não é suficiente para
que a presença no processo seja devidamente justificada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARRUDA, Alvim. Código de Processo Civil Comentado, v. III São Paulo : RT, 1976.
BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 17 jan. 1973. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5869.htm. Acesso em: 05. Set. 2021.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial 1.065.437-MG, 2ª Turma, Rel. Min.
Eliana Calmo, D.J.E. 02.04.2009.
BRASIL. Código de Processo Civil (2015). Código de Processo Civil Brasileiro. Brasília,
DF: Senado Federal, março de 2015.
BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil: volume único. 5. ed. – São
Paulo : Saraiva Educação, 2019.
CARNEIRO, Athos Gusmão. Intervenção de terceiros. 4. Ed. São Paulo: Saraiva, 1989. P.
67.
CARNEIRO, Athos Gusmão. Intervenção de terceiros, 16. ed. Imprenta: São Paulo, Saraiva,
2006.
49
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, vol. 3. São Paulo, Saraiva, 1985-
1987.
JORDÃO, Marco Aurélio Medeiros; PEREIRA, Carlos André Maciel Pinheiro. A figura do
Amicus Curiae e a concretização da democracia deliberativa pela justiça constitucional
brasileira. Revista Eletrônica Direito e Sociedade. Canoas, v. 5, n. 1, 2017. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.18316/redes.v5i1.2743. Acesso em: 05 set. 2021.
JORGE, Flávio Cheim. Chamamento ao processo, 2 ed. Imprenta: São Paulo, Revista dos
Tribunais, 1999
50
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 31ª Ed. São Paulo:
Malheiros, 2014.
NETO, Josino Ribeiro. Direito de Família – Lei de Alimentos e o Código de Processo Civil
de 2015 – Aspectos. Cidade Verde, 2017. Disponível em:
https://cidadeverde.com/semanariojuridico/85300/direito-de-familia-lei-de-alimentos-e-o-
codigo-de-processo-civil-de-2015-aspectos. Acesso em: 01 set. 2021.
OLIVEIRA, Gabriela Lomeu Soares de. Intervenção de Terceiros. Âmbito Jurídico, 2018.
Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-172/intervencao-de-terceiros/.
51
MÖLLER, Guilher Christen. ProcessoCast 22: amicus curiae. [S. I.]. 25 de julho de 2021.
Disponível em: https://open.spotify.com/episode/0dyqJHIyXkHeqXgpdwR267?
si=D7SOVSzvQki_g-WFWTFbtA&dl_branch=1. Acesso em: 04 set. 2021.
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. v. 2. São Paulo:
Saraiva, 2013.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. vol. I. 56 ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2015.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. vol. I. 59 ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2018.
ZANELLATO, Marco Antônio. Considerações sobre a evicção. São Paulo, 2001. Disponível
em: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/
doc_publicacao_divulgacao/doc_gra_doutrina_civel/civel%2029.pdf. Acesso em: 29 ago. 2021.
52