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CONSERVADORISMO E AUTORITARISMO: PSICOLOGIA E MEMÓRIA SOCIAL

FRENTE AO HISTÓRICO CONSTITUCIONAL BRASILEIRO NO PERÍODO MILITAR

Laila
Maria
Franco
Oliveir

a1

Palavras-chave: Histórico Constitucional; Memória Social; Conservadorismo.


Keywords: Constitutional History; Social Memory; Conservatism.

Preliminarmente, cabe destacar os inegáveis e irreparáveis danos acarretados pela


ditadura civil-militar no Brasil. Não obstante, não é incomum, especialmente diante de uma
perspectiva geracional, constatar a memória afetiva que se alude ao período, seja esta positiva
ou negativa. Em contraste, a polarização nos diversos campos decorrentes da construção de
posicionamentos, de capitais simbólicos e da coleta de seus respectivos troféus (BOURDIEU,
1983) coloca em pauta as notas controvérsias com relação ao tema.

Em decorrência do exposto, a ausência de uma justiça de transição e de uma


tentativa de reparação dos danos posteriores ao período militar subentendem um ciclo nefasto
“de não passar, de permanecer em nossa estrutura jurídica, em nossas práticas políticas, em
nossa violência cotidiana, em nossos traumas sociais que se fazem sentir mesmo depois de
reconciliações extorquidas” (Safatle, & Teles, 2010, p. 09). Corrobora-se a importância do
termo “tentativa”, tendo em vista os danos irreparáveis que afrontam à dignidade humana.

Nesse ínterim, o trabalho desenvolvido visa relacionar os fatos apresentados e suas


consequentes interpretações diante de uma perspectiva psicossocial, histórica e política frente
aos elementos que tangem à história constitucional do período militar. São considerados os
mecanismos de reminiscência e de reprodução social e individual de eventos marcantes para
que se possa compreender, mesmo que minimamente, o mecanismo de captação da memória

1 Graduanda em Direito na Universidade Federal de Uberlândia, lailadireitoufu@gmail.com,


http://lattes.cnpq.br/5722133727884735, Grupo de Trabalho “Conservadorismo e autoritarismo na articulação
dos direitos constitucionais no Brasil”
e da percepção dos fenômenos que assolam os diversos campos abordados, isto é, cabe a
resolução da questão referente aos efeitos psicossociais provocados pelo âmbito castrador e
autoritário analisado, assim como as interferências deste na memória expressa.

Deste modo, para que se efetive a propositura do estudo, optou-se pela orientação
metodológica baseada no estudo de dados: (i) quantitativos, relativos a levantamentos quanto
aos casos concretos que remontam ao período cívico-militar, a fim de expor a realidade
fática, (ii) documentais, a partir do levantamento de documentos jurídicos, em especial a
ADPF 153, para que se efetive a elucidação acerca do posicionamento institucional expresso
no período em questão e (iii) bibliográficos, de modo que os dados coletados sejam
relacionados ao comportamento correspondente à memória e à reprodução individual e
coletiva do ponto dos fatos aludidos.

A formulação da realidade depende, inegavelmente, de fatores que afetam a


percepção do sujeito. É destacado o pressuposto de que o constitucionalismo brasileiro atende
aos moldes propostos no trabalho em questão, pois é produto de desdobramentos históricos e
percebido diante de perspectivas tanto individuais, quanto coletivas. À medida que o campo
jurídico, psicossocial e político se interseccionam, é importante considerar que se preza “não
pela focalização da subjetividade no homem separado, mas pela exigência de encontrar o
homem na cidade, o homem no meio dos homens, a subjetividade como aparição singular,
vertical, no campo intersubjetivo e horizontal das experiências” (Gonçalves Filho, 1998).

Nesses termos, é notório que o constitucionalismo brasileiro apresenta demasiado


contraste diante de características psicossociais quanto ao período em questão, de modo que a
memória é tanto uma construção quanto uma reprodução (MYERS, 1999). É importante
ressaltar que a memória relativa a eventos passados é significativamente afetada por fatores
como a atenção, o estado emocional, as crenças, os valores particulares e os conhecimentos
concentrados por um indivíduo ou por um grupo, motivo pelo qual a reprodução de
momentos densos da história constitucional brasileira pareçam (ou efetivamente sejam)
destoantes e, por vezes, inconfidentes

Em complemento, sofrimentos políticos são sentidos significativamente, fazendo-se


evidente que enfrentá-los politicamente implica em enfrentá-los psicologicamente (Gonçalves
Filho, 2004; 2007). A conjuntura social, política e suas convulsões intrínsecas ao sistema e ao
ser enquanto reprodutor da dinâmica psicossocial são estabelecidas e contestadas
reiteradamente, porquanto é considerada a limitação no que tange às capacidades do sujeito,
sobretudo quanto aos sentidos, suas interpretações e sua posterior percepção.

É suscitada a relevância da compreensão dos elementos propostos no trabalho, tendo


em vista que esta implica, indubitavelmente, na discussão de possibilidades de encerramento
do ciclo decorrente da ausência de justiça de transição e do esquecimento institucionalizado
resultante das expressivas anistias concedidas ao longo da história constitucional brasileira.
Outrossim, destaca-se a intenção de comprovar, a partir do estudo dos dados apresentados no
norte metodológico, os efeitos visíveis que se perpetuam mediante a memória social no que
toca ao cenário conservador e autoritário da ditadura cívico-militar.

REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Tradução de Jeni Vaitsman. Rio de janeiro:


editora Marco Zero Limitada, 1983.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Pleno. ADPF nº 153 MC/DF. Rel.: Min. Eros Grau. DJ.
29/04/2010

FIORELLI, José Osmir. Psicologia jurídica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

GONÇALVES FILHO, J. M. Humilhação social: um problema político em psicologia.


Psicologia USP, 1998.
GONÇALVES FILHO, J. M. (). A invisibilidade pública (prefácio). In F. B. Costa,
Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social. São Paulo, SP: Globo. 2004.
GONÇALVES FILHO, J. M. (). Humilhação social: humilhação política. In B. P. Souza
Orientação à queixa escolar . São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.2007.
MYERS, D.G. Introdução à psicologia geral. Rio de Janeiro: LTC, 1999.

SÁ, CP. Psicologia social da memória: sobre memórias históricas e memórias


geracionais. In JACÓ VILELA, AM., and SATO, L., orgs. Diálogos em psicologia social
[online]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2012.

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