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RESUMO
A finalidade desta comunicação é relatar uma experiência de regência realizada no
âmbito do Programa de Residência Pedagógica do curso de História da Universidade
Estadual do Norte do Paraná. A prática pedagógica ocorreu no Colégio Estadual Rui
Barbosa, com as turmas de 3°A e B, sob a supervisão da professora regente Silvana
M. Francisquino e orientação da professora Dra. Marisa Noda. O conteúdo abordado
foi a Ditadura civil-militar de 1964 e suas implicações políticas e sociais. A metodologia
adotada fundamentou-se nos referenciais teóricos do "passado sensível" propostos
por Pereira e Seffner (2018) e de aula oficina sugerida a partir de Schmidt e
Fernandes (2007). Dessa maneira, a ditadura foi discutida a partir das
remanescências, explorando um passado cuja influência ainda se faz presente na
memória coletiva. Para enriquecer a abordagem, foram utilizadas fontes digitais, visto
que, segundo Silveira (2016), essas desempenham papel fundamental ao provocar
sensações de empatia por meio da memória. Ao final, nossos objetivos visavam
suscitar questionamentos a partir das fontes históricas, proporcionando aos alunos
elementos para uma reflexão histórica e o reconhecimento da brutal violência ditatorial
que assolou nosso país entre 1964 e 1985.
Palavras-chave: Regência; Ditadura Civil-Militar; Comissão Nacional da Verdade;
Passado sensível.
TEMAS SENSÍVEIS NO ENSINO DE HISTÓRIA: A DITADURA CIVIL-MILITAR E SUAS
REMANESCÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS
MOURA, Dionatan Souza de
SILVA, Maria Jesus da
NODA, Marisa
Universidade Estadual do Norte do Paraná
Alberti (2022) propõe uma análise documental por níveis de inferência. “1. O
que o documento diz? 2. O que posso inferir? 3. O que ele não diz? 4. O que e onde
podemos saber mais?” (Alberti, 2022, p. 17). Diante de duas fontes é possível
observar a mesma conjuntura histórica, isto é, a Ditadura civil-militar. Se por um lado,
para Eny Moreira, advogada e defensora dos presos políticos, a ditadura foi
repressiva, violenta e desumana, para um membro do alto escalão do exército, a
ditadura é objeto de uma memorável ordem do dia, pois em sua interpretação, ela fora
um “momento de restabelecimento da ordem e de democracia, valores patrióticos
inegociáveis”. Portanto, deixamos essas questões levantadas pela autora como forma
de metacognição e solicitamos às turmas, para que refletissem sobre as questões
discutidas e por escrito respondessem em seus cadernos. Ressaltamos que não
obtivemos retorno dessa atividade, pois em função do planejamento escolar, não foi
possível retornar àquelas turmas tão breve, pois ambas tiveram uma sequência de
avaliações externas e outras pendências da demanda escolar, como semana cultural e
de jogos. Portanto, não aferimos de forma precisa como eles se apropriaram deste
conteúdo e sua abordagem.
Evidentemente que ensinar a história da Ditadura civil-militar é fundamental,
pois segundo Alberti (2022) é necessário fornecer subsídios aos alunos e alunas para
saírem do registro ético (isso não foi o certo, isso não foi democrático, não podemos
repetir), alcançando a abordagem de fontes históricas de diversas naturezas, com
suas multiplicidades de perspectivas Isso significa conferir à História status de
relevância para reconhecer os processos e conjunturas que muitas vezes são
considerados “dados” ou neutros. É também reconhecer que se trata de um passado
sensível, cujas memórias são coletivas e ainda estão presentes em nosso meio e que,
por isso, é mais do que um dever abordá-las em nossas salas de aula, em última
análise é uma obrigação, pois pensar historicamente é pressuposto fundamental para
vivermos em uma sociedade que se pretende um ambiente multicultural.
Referências:
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