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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIENCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL


DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL DE CAMPOS
Discentes:
Karoline Figueiredo Dias
Karolayne Silva dos Santos Pontes

Contextualização do livro “Serviço Social e resistências contra Ditadura: depoimentos"


alinhados as análises da unidade II da disciplina, sobretudo do livro “Serviço Social e Ditadura
- uma análise do serviço social no Brasil” escrito por José Paulo Netto.

Inicialmente, é importante ressaltar as analises do texto de José Paulo Neto, que nos situa sobre o
quadro dos anos sessenta nos centros imperialistas (sobretudo norte-americano), sendo ligados
diretamente a iniciativas e estratégias para alterar o padrão de desenvolvimento nacional dos outros
países, afim do desenvolvimento econômico do sistema capitalista, e consequentemente a
implementação de uma contrarrevolução que desmembrasse e oprimisse as forças populares.

Circunstancialmente, o golpe de estado aparece como uma espécie de mecanismo para a articulação
e efetivação da dominação burguesa e das forças conservadoras para o objetivo proposto, e o reflexo
de tais fatos são fortemente representados no Brasil quando acontece o golpe civil militar de 1964.
Nesse contexto, é de extrema contribuição histórica o depoimento de pessoas que viveram no
período da ditadura civil militar Brasileira, como apresenta o livro “Serviço Social e resistências
contra Ditadura: depoimentos" tornando possível a aproximação e entendimento do que foi enfrentar
essa realidade.

1. Depoimento de Candida Mendes Magalhães:

Candida Moreira Magalhães nasceu no Ceará (1946), e conta de sua infância na origem do meio
rural. Apaixonada por estudar, necessita de ir para a cidade, o que acontece mesmo com muitas
dificuldades, e em (1968) se matricula na faculdade de Serviço Social, a qual participa de inúmeras
assembléias com os movimentos sociais do campo e da cidade na Casa do Estudante Universitário
(CEU) um espaço de debates, espetáculos teatrais, literários, entre outros, uma forte ameaça ao
regime autoritário, pois de acordo com eles feriam a moral e os bons costumes.
Em 1969 Candida Mendes relata a intensificação da repressão no período da ditadura civil militar,
quando não se há segurança para realizarem as reuniões nas universidades e passeatas, se feitas eram
exigidos dos envolvidos determinado preparo físico, pois qualquer tipo de manifestação implicava a
violência das forças militares para conte-los. O estado assumindo esse rearranjo político, e fixando
esse sistema de poder autocrático burguês ditatorial, travam vigorosas tensões sociais. Menciona
Candida, a forma com que nesse momento os universitários e estudantes eram vistos como inimigos
da Pátria de acordo com a Lei de Segurança Nacional (criada na ditadura pela preocupação severa de
proteger o estado dos que ameaçassem o regime vigente).

Os manifestantes universitários, incluindo Candida, lançaram um chapa chamada BANDEJA, (1969)


que era representada por estudantes moradores das casas universitárias que faziam suas refeições no
Bandeijão, aos quais menciona a mesma que 60 deles foram perseguidos, torturados e mortos.
Candida conta ter sido presa pela primeira vez por ser acusada de inciar contra os órgãos da
prefeitura, passando 5 dias na prisão. Posteriormente, relata ter a casa invadida pelos policias
federais, pratica comum da época, e levavam todos os livros de educação popular, política,
antropologia, e psicologia social, vistos como planos contra ordem, o que culminou na sua segunda
prisão que durou 15 dias. Mediante a isso, vale o ressalto de que o governo autoritário adotou um
padrão de políticas educacionais pautadas no medo e do controle a informação, fortalecendo a
obediência social para a crescente produtividade econômica, e o claro exemplo disso é quando as
disciplinas de filosofia e sociologia são substituídas pela de OSPB e educação, moral, e cívica.

Em 1971, aos 25 anos, recebe o seu certificado de graduação em Serviço Social, porém, mesmo
passando em concursos, quando tentava assumir cargos, era novamente perseguida e seqüestrada
pelo pelotão de investigação criminal do exercito. Interrogatórios, tortura física como afogamento e
choque elétrico, e sofrimento psíquico, tal qual Candida passou (durante 3 meses em sua terceira
prisão) eram práticas realizadas em sua maioria pelo Destacamento de Operações de Informação e
Centro de Operações de Defesa Interna (DOI/CODI) criados como força repressiva e cada vez mais
articuladas, auferindo severo vigor e usando de força brutal contra os manifestantes e opositores do
regime. Mesmo depois de solta, após anos conturbados repletos de violência, as marcas de Candida
nunca serão apagadas, foi extremamente difícil recomeçar após a ditadura e percorrer o fluxo normal
de sua vida. Existia uma carga emocional muito pesada, e as pessoas tinham medo de se aproximar
dos que já tinham sido presos. A ditadura militar civil Brasileira (1964-1985) foi baseada na
repressão popular e exclusão política da massa do povo, desmantelando a liberdade de expressão,
calando os universitários, os revolucionários, os que pensavam em um Brasil plural e mais rico
culturalmente, os socialistas, os sociopolíticos resistentes a luta da democracia.
2. Depoimento de Marilda Villela Iamamoto:

Marilda Villela Iamamoto, nasceu em Juiz de fora (MG), é assistente social formada pela UFJF e um
importante nome para a história do Serviço Social. Marilda conta em seu depoimento como foi a sua
vivência e o quanto sofreu com a intensificação da repressão da Ditadura Militar e também a forma
como foi perseguida e torturada pelos militares. Iniciando, o primeiro ataque ocorre quando uma
invasão da reitoria pela Polícia Militar em que as atividades do DCE por mais verba para a educação,
seria contra a reforma MEC-USAID. Estudantes estavam lutando por mais vagas para ingressar na
universidade e Marilda foi quem defendeu e representou a Faculdade de Serviço Social juntamente
com o Movimento Estudantil. Para Iamamoto, a sua geração foi beneficiada amplamente da
emergência cultural dos anos de 1960 por ter vivido a política e o debate da esquerda daquele
momento, que era rever os clássicos da revolução brasileira.

O movimento estudantil foi alvo da repressão que tinha uma ação desproporcional ao que de fato
eram as atividades realizadas pelo movimento. Então, nesse período em que a Marilda começa a ser
perseguida, após se formar e mudar para Belo Horizonte, ela foi convidada a dar aula na
Universidade Católica de Minas Gerais que hoje conhecemos por PUC Minas e também começou a
atuar como assistente social no INSS. Vinculada a esses dois trabalhos em Belo Horizonte ela foi
sequestrada em frente ao seu apartamento que dividia com a Mariléa Venâncio Porfírio, e acabou
sendo presa pelo DOPS e passou dois meses e dois dias no DOI-CODI, o departamento não tinha
nada contra ela, mas a queriam mantê-la para obter informações que pudessem levar a apreensão de
outros militantes que iam ou apenas pensavam contra as políticas da Ditadura. Neste momento do
depoimento, Marilda conta sobre toda a tortura que sofreu pelos militares, em que passou fome e
também todas as formas de agressão que sofreu com tapas, objetos, choques, ameaças, o assédio e
infelizmente pode presenciar o horror da ditadura com outras pessoas que também estavam presas ali
com seus corpos deformados e hematomas por todo o corpo. No dia 22 de julho de 1973, Marilda foi
julgada e condenada a 6 meses de prisão. No entanto, mesmo após tanta tortura, repressão e
sofrimento que lhe foi causado, apesar de estar presa Iamamoto conseguiu um projeto de
implantação de Serviço Social na Instituição e orientou dois trabalhos de conclusão de curso que
foram de grande importância para época. Iamomoto é um símbolo de força e sobrevivência desse
período sombrio da nossa história brasileira, os traumas e as marcas de sofrimento que ela e todos
que sofreram com a Ditadura não podem ser eliminadas, o que se torna importante para os
desdobramentos futuros em defesa da nação brasileira sob os princípios éticos de uma democracia.
Uma análise de Octavio Ianni para entender este processo foi a abertura do Brasil ao grande capital, a
ditadura do grande capital e para isso você teve que obter ordem e progresso, ou seja, segurança e
desenvolvimento e, portanto, reprimir. Que nesse caso é de toda forma calar quem se opuser para que
a ordem daqueles que possuíam o poder fosse mantida e o país progredisse, mas os benefícios só
estariam com quem ditava as regras. O que fazia sentido para a Ditadura Militar, perseguir e torturar
a oposição ao seu governo fez com que o capitalismo e seus ideais expandissem no Brasil, e esse era
o objetivo. Marilda Villela Iamamoto finaliza seu depoimento demonstrando a importância por mais
que difíceis relatar o que viveu nesse período, para que a história não seja esquecida, pois foi uma
expressão da realidade coletiva de uma geração e revelar todo esse processo seja necessário para
criar o debate, elucidar o passado para os novos caminhos do presente e do futuro.

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