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Inicialmente, é importante ressaltar as analises do texto de José Paulo Neto, que nos situa sobre o
quadro dos anos sessenta nos centros imperialistas (sobretudo norte-americano), sendo ligados
diretamente a iniciativas e estratégias para alterar o padrão de desenvolvimento nacional dos outros
países, afim do desenvolvimento econômico do sistema capitalista, e consequentemente a
implementação de uma contrarrevolução que desmembrasse e oprimisse as forças populares.
Circunstancialmente, o golpe de estado aparece como uma espécie de mecanismo para a articulação
e efetivação da dominação burguesa e das forças conservadoras para o objetivo proposto, e o reflexo
de tais fatos são fortemente representados no Brasil quando acontece o golpe civil militar de 1964.
Nesse contexto, é de extrema contribuição histórica o depoimento de pessoas que viveram no
período da ditadura civil militar Brasileira, como apresenta o livro “Serviço Social e resistências
contra Ditadura: depoimentos" tornando possível a aproximação e entendimento do que foi enfrentar
essa realidade.
Candida Moreira Magalhães nasceu no Ceará (1946), e conta de sua infância na origem do meio
rural. Apaixonada por estudar, necessita de ir para a cidade, o que acontece mesmo com muitas
dificuldades, e em (1968) se matricula na faculdade de Serviço Social, a qual participa de inúmeras
assembléias com os movimentos sociais do campo e da cidade na Casa do Estudante Universitário
(CEU) um espaço de debates, espetáculos teatrais, literários, entre outros, uma forte ameaça ao
regime autoritário, pois de acordo com eles feriam a moral e os bons costumes.
Em 1969 Candida Mendes relata a intensificação da repressão no período da ditadura civil militar,
quando não se há segurança para realizarem as reuniões nas universidades e passeatas, se feitas eram
exigidos dos envolvidos determinado preparo físico, pois qualquer tipo de manifestação implicava a
violência das forças militares para conte-los. O estado assumindo esse rearranjo político, e fixando
esse sistema de poder autocrático burguês ditatorial, travam vigorosas tensões sociais. Menciona
Candida, a forma com que nesse momento os universitários e estudantes eram vistos como inimigos
da Pátria de acordo com a Lei de Segurança Nacional (criada na ditadura pela preocupação severa de
proteger o estado dos que ameaçassem o regime vigente).
Em 1971, aos 25 anos, recebe o seu certificado de graduação em Serviço Social, porém, mesmo
passando em concursos, quando tentava assumir cargos, era novamente perseguida e seqüestrada
pelo pelotão de investigação criminal do exercito. Interrogatórios, tortura física como afogamento e
choque elétrico, e sofrimento psíquico, tal qual Candida passou (durante 3 meses em sua terceira
prisão) eram práticas realizadas em sua maioria pelo Destacamento de Operações de Informação e
Centro de Operações de Defesa Interna (DOI/CODI) criados como força repressiva e cada vez mais
articuladas, auferindo severo vigor e usando de força brutal contra os manifestantes e opositores do
regime. Mesmo depois de solta, após anos conturbados repletos de violência, as marcas de Candida
nunca serão apagadas, foi extremamente difícil recomeçar após a ditadura e percorrer o fluxo normal
de sua vida. Existia uma carga emocional muito pesada, e as pessoas tinham medo de se aproximar
dos que já tinham sido presos. A ditadura militar civil Brasileira (1964-1985) foi baseada na
repressão popular e exclusão política da massa do povo, desmantelando a liberdade de expressão,
calando os universitários, os revolucionários, os que pensavam em um Brasil plural e mais rico
culturalmente, os socialistas, os sociopolíticos resistentes a luta da democracia.
2. Depoimento de Marilda Villela Iamamoto:
Marilda Villela Iamamoto, nasceu em Juiz de fora (MG), é assistente social formada pela UFJF e um
importante nome para a história do Serviço Social. Marilda conta em seu depoimento como foi a sua
vivência e o quanto sofreu com a intensificação da repressão da Ditadura Militar e também a forma
como foi perseguida e torturada pelos militares. Iniciando, o primeiro ataque ocorre quando uma
invasão da reitoria pela Polícia Militar em que as atividades do DCE por mais verba para a educação,
seria contra a reforma MEC-USAID. Estudantes estavam lutando por mais vagas para ingressar na
universidade e Marilda foi quem defendeu e representou a Faculdade de Serviço Social juntamente
com o Movimento Estudantil. Para Iamamoto, a sua geração foi beneficiada amplamente da
emergência cultural dos anos de 1960 por ter vivido a política e o debate da esquerda daquele
momento, que era rever os clássicos da revolução brasileira.
O movimento estudantil foi alvo da repressão que tinha uma ação desproporcional ao que de fato
eram as atividades realizadas pelo movimento. Então, nesse período em que a Marilda começa a ser
perseguida, após se formar e mudar para Belo Horizonte, ela foi convidada a dar aula na
Universidade Católica de Minas Gerais que hoje conhecemos por PUC Minas e também começou a
atuar como assistente social no INSS. Vinculada a esses dois trabalhos em Belo Horizonte ela foi
sequestrada em frente ao seu apartamento que dividia com a Mariléa Venâncio Porfírio, e acabou
sendo presa pelo DOPS e passou dois meses e dois dias no DOI-CODI, o departamento não tinha
nada contra ela, mas a queriam mantê-la para obter informações que pudessem levar a apreensão de
outros militantes que iam ou apenas pensavam contra as políticas da Ditadura. Neste momento do
depoimento, Marilda conta sobre toda a tortura que sofreu pelos militares, em que passou fome e
também todas as formas de agressão que sofreu com tapas, objetos, choques, ameaças, o assédio e
infelizmente pode presenciar o horror da ditadura com outras pessoas que também estavam presas ali
com seus corpos deformados e hematomas por todo o corpo. No dia 22 de julho de 1973, Marilda foi
julgada e condenada a 6 meses de prisão. No entanto, mesmo após tanta tortura, repressão e
sofrimento que lhe foi causado, apesar de estar presa Iamamoto conseguiu um projeto de
implantação de Serviço Social na Instituição e orientou dois trabalhos de conclusão de curso que
foram de grande importância para época. Iamomoto é um símbolo de força e sobrevivência desse
período sombrio da nossa história brasileira, os traumas e as marcas de sofrimento que ela e todos
que sofreram com a Ditadura não podem ser eliminadas, o que se torna importante para os
desdobramentos futuros em defesa da nação brasileira sob os princípios éticos de uma democracia.
Uma análise de Octavio Ianni para entender este processo foi a abertura do Brasil ao grande capital, a
ditadura do grande capital e para isso você teve que obter ordem e progresso, ou seja, segurança e
desenvolvimento e, portanto, reprimir. Que nesse caso é de toda forma calar quem se opuser para que
a ordem daqueles que possuíam o poder fosse mantida e o país progredisse, mas os benefícios só
estariam com quem ditava as regras. O que fazia sentido para a Ditadura Militar, perseguir e torturar
a oposição ao seu governo fez com que o capitalismo e seus ideais expandissem no Brasil, e esse era
o objetivo. Marilda Villela Iamamoto finaliza seu depoimento demonstrando a importância por mais
que difíceis relatar o que viveu nesse período, para que a história não seja esquecida, pois foi uma
expressão da realidade coletiva de uma geração e revelar todo esse processo seja necessário para
criar o debate, elucidar o passado para os novos caminhos do presente e do futuro.