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Ditadura e tradições autoritárias no Brasil: por uma revisão crítica permanente1.

Daniel Aarão Reis2

É sempre oportuno efetuar balanços historiográficos sobre a ditadura instaurada em


1964, em particular neste momento, quando tendências obscurantistas e intolerantes
tentam recuperá-la como um regime válido e necessário. Esta intolerância, como se
sabe, não se limita à área política, mas alcança também a Academia. E, infelizmente,
não se limita às direitas, compreende igualmente interpretações de esquerda.
O Brasil nunca foi um país afeito à tolerância e aos debates contraditórios. Sólidas
tradições autoritárias permeiam nossa história. Duas ditaduras, ao longo de 22 anos,
modelaram o processo de modernização, o Estado e a sociedade em suas complexas
relações. Se nestas proposições há um grão de verdade, não seria mesmo possível à
Universidade brasileira fugir aos usos e costumes prevalecentes.
Assim, é com alegria que participo desta coleção, em boa hora concebida pelas
professoras Denise Rollemberg e Janaína Cordeiro, ambas do Núcleo de Estudos
Contemporâneos da Universidade Federal Fluminense. Reúnem-se aqui textos de jovens
e veteranos historiadores de diversas universidades, comprometidos apenas com os
achados de suas pesquisas e com as explicações e interpretações proporcionadas por
suas convicções, avessos à história oficial do Estado, de partidos e correntes políticas e
de instituições, e também às patrulhas ideológicas que infestam o país e a universidade
tentando controlar e desqualificar o pensamento independente.
Pretendo explorar sete questões: 1. A ditadura civil-militar; 2. Populismo e trabalhismo
nos anos 1940-1960; 3. As lutas sociais na conjuntura 1961-1964; 4. Uma ditadura
mutante - 1964/1979; 5. As oposições à ditadura e a questão da luta armada; 6. A longa
transição da ditadura para a democracia – 1974-1988; 7. A ditadura na perspectiva da
longa duração.
Tais questões orientaram boa parte dos estudos que efetuei nos últimos 30 anos,
produzindo algumas revisões historiográficas a que fui levado pelos resultados a que
cheguei e por debates travados na universidade, com colegas professores e estudantes e
também no âmbito da sociedade, com partidários de distintas correntes políticas. Se o
debate em torno delas contribuir para fazer avançar a reflexão e a crítica revisionista3 –
método que deve sempre nos inspirar -, o artigo terá alcançado seus objetivos.

1. A ditadura civil-militar.

O caráter civil-militar do golpe de 1964 alcançou, a muito custo, um certo consenso,


dadas as evidências difíceis de refutá-lo. Na articulação do golpe, no desvelamento das
conspirações, a presença de lideranças políticas, eclesiásticas, empresariais, ao lado de
militares da ativa e da reserva tornou-se óbvia e foi claramente demonstrada desde o
início dos anos 1980 (Dreifuss, 1981).
Também na realização concreta do golpe e nos seus desdobramentos imediatos, tornou-
se muito evidente a participação direta das lideranças políticas – declaração da vacância
de poder pelo senador Auro Moura Andrade, presidente do Senado Federal, quando o

1
Este artigo retoma, amplia e aprofunda temas considerados em palestra proferida por ocasião dos 25
anos do Núcleo de Estudos Contemporâneos da Universidade Federal Fluminense – NEC/UFF, em junho
de 2019
2
Professor Titular de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense/UFF
3
Para a discussão sobre os conceitos de revisionismo e negacionismo, cf. Introdução deste livro, de
autoria de Denise Rollemberg e Janaína Cordeiro.
1
presidente João Goulart ainda se encontrava em território nacional; reconhecimento da
posse do presidente da Câmara, Ranieri Mazzili; “eleição”indireta do general Castelo
Branco, aprovada por ampla maioria de deputados e senadores; tentativa de elaborar
um Ato Institucional por comissão do Congresso, da qual participou o deputado Ulysses
Guimarães, entre muitas outras ações. Valeria igualmente mencionar o apoio do
Supremo Tribunal Federal, na pessoa do presidente da Corte, presente na posse de
Ranieri Mazzili, e de outras instituições representativas das elites sociais, como OAB e
CNBB (Rollemberg, 2008 e 2010; Serbin, 2001), além da imensa maioria da mídia
(jornais, rádios e televisões).
Entretanto, o reconhecimento da participação de segmentos da sociedade no apoio e na
validação do golpe continuam pouco estudadas (Cordeiro, 2009; Presot, 2004). Houve
gigantescas manifestações públicas antes e depois do golpe, reclamando, apoiando e
celebrando a intervenção militar. Na época, e depois, ao longo de história, os golpistas
procuraram legitimar a intervenção invocando este apoio, chegando ao ponto de negar a
existência do golpe, denominando-o de “revolução democrática” (Maciel, 2012).
Esta interpretação, dominante no campo conservador e antidemocrático, inibiu estudos a
respeito do assunto, o que possibilitaria compreender melhor as tradições autoritárias
presentes de forma transversal (das elites às camadas populares) na sociedade brasileira.
As poucas tentativas em abordar a questão tiveram que se haver com as patrulhas
ideológicas e com a acusação de “revisionismo”, atribuindo ao termo carga pejorativa, e
de “fazer o jogo do inimigo”. Quando suscitei a questão (Aarão Reis, 2000 e 2014), fui
obrigado a lidar com estas tolices. Seria necessário esperar muitos e muitos anos para
que brotasse, enfim, a admissão da importância destas tradições autoritárias como
fundamento social da recente ascensão política da extrema-direita no país (Schwarcz,
2019).
No decurso da ditadura, este apoio inicial não se manteve linearmente, ao contrário, as
relações entre os sucessivos governos e a sociedade sofreram zig-zags. As expectativas
de muitas lideranças civis no sentido de que os militares limitar-se-iam a fazer o “jogo
sujo” – expulsando da vida política os comunistas e as tendências nacionalistas radicais
– frustraram-se. A edição do primeiro Ato Institucional, em 9 de abril de 1964, pelos
chefes militares indicou uma direção. A ditadura consolidar-se-ia como militar, no
sentido da preeminência assumida pelas corporações militares, embora, mesmo entre os
militares, esta orientação não fosse unânime, eis que centenas de oficiais e graduados
foram perseguidos e banidos da vida civil e da vida pública.
Na luta política que se travou desde então o caráter militar da ditadura seria enfatizado,
objetivando-se o isolamento dos militares no poder. Um recurso legítimo da luta
política.
Mais tarde, quando as bases políticas da ditadura começaram a se desagregar,
particularmente após as eleições de 1974, teve início uma migração, que se tornaria
cada vez maior, de lideranças de todo o tipo para o campo das oposições à ditadura.
Neste processo houve uma tendência a absolutizar o papel dos militares, acusando-os
como únicos responsáveis pela ditadura, obscurecendo, quando não eliminando, a
participação decisiva de importantes lideranças civis na ditadura e, mais importante do
que isto, a construção de consensos no âmbito da sociedade, sobretudo em determinados
períodos (Cordeiro, 2015; Rollemberg e Quadrat, 2010).
Dizer consenso não significa dizer unanimidade. O consenso, em sociedades complexas,
designa “a formação de um acordo de aceitação do regime existente...compreendendo o
apoio ativo, a simpatia acolhedora, a neutralidade benévola, a indiferença ou, no limite,
a sensação de absoluta impotência...”tais atitudes contribuem para a sustentação de um
regime político, ou para o enfraquecimento de uma eventual luta contra este regime”

2
(Aarão Reis, 2010). Outros conceitos, como o de “zona cinzenta” e o do “pensar-duplo”
(Laborie, 2003) igualmente contribuiriam para descortinar todo um campo de pesquisa.
Surgiu aí a proposta de caracterizar a ditadura como “civil-militar”. Não para questionar
a preeminência das corporações militares, óbvia demais para ser ofuscada, mas para
chamar a atenção para todo um conjunto de aspectos que estavam sendo omitidos ou
esquecidos, de forma interessada ou não, modelando, a partir dos anos 1980, uma
memória seletiva, envolvendo falsificações evidentes que cumpria superar.
Na sequência, uma série de pesquisas confirmariam a fecundidade desta proposta,
evidenciando importantes bases sociais e históricas da ditadura (Cordeiro, 2015;
Rollemberg, 2010; Grinberg, 2009; Kushnir, 2004; Maia, 2012) que iam muito para
além das “elites sociais” ou das “classes dominantes”, para alcançar segmentos amplos,
incluindo, suprema heresia, até mesmo, parcelas das classes populares (Magalhães,
2014; Ferreira, 2015).
Muito há ainda a pesquisar para a melhor elucidação das relações complexas entre
ditadura e sociedade no Brasil. Cabe, em particular, sublinhar a necessidade de
compreender melhor como se comportaram as mulheres e os homens “comuns” durante
a ditadura. O essencial é superar as simplificações de uma pobreza franciscana que
continuam a sustentar, contra todas as evidências, que a ditadura teria sido sustentada
apenas por militares ou por empresários e setores das classes dominantes de quem os
militares teriam sido os “agentes” ou “o braço armado”, fórmulas imprecisas,
elaboradas em nome de uma ortodoxia marxista tão mais arrogante quanto mal digerida
e que perdem a capacidade de flagrar e compreender a especificidade do processo
histórico real.

2. Populismo e trabalhismo nos anos 1940-1960

Antes de prosseguir, caberia passar em revista uma questão maior, cuja elucidação teria,
como se verá, incidência fundamental na análise de temas suscitados pelo estudo do
período ditatorial.
Refiro-me ao debate a respeito do populismo.
Até os anos 1980, prevalecia em amplos meios acadêmicos e políticos as teses que
caracterizavam o populismo como uma política de massas da burguesia (Ianni, 1966).
Nesta chave as classes populares e os operários em particular apareciam como massa de
manobra, manipulados por lideranças políticas comprometidas com a ordem burguesa
e, além disso, marcadas pela irresponsabilidade, corrupção e descaso em relação aos
interesses bem compreendidos das massas às quais se dirigiam. O trabalhismo aparecia
aí como uma das muitas variantes do populismo latino-americano. Quanto às ditaduras
instauradas no continente, embora denunciadas e condenadas, teriam uma consequência
histórica positiva: levariam ao colapso as ilusões depositadas nas propostas populistas,
ensejando metamorfose histórica: as massas dariam lugar às classes sociais. A
conciliação de classes, derrotada, daria lugar à luta de classes. A revolução social
entrava na ordem do dia. A fórmula tinha coerência interna e um verniz marxista
conferia-lhe credibilidade científica4.
Tais concepções desempenhariam um papel fundamental no surgimento das esquerdas
revolucionárias e nas ações armadas por elas empreendidas com o objetivo não apenas
de derrotar a ditadura, mas de destruir o capitalismo5. E sobreviveram à derrota da luta

4
Seria talvez mais apropriado dizer destas fórmulas que eram mais marchistas (o mundo marcha para o
socialismo) do que marxistas.
5
Voltaremos ao assunto no ponto 5 deste artigo.
3
armada e à passagem dos anos, animadas pela preguiça intelectual, esta poderosa força
que condiciona grande parte dos trabalhos acadêmicos.
O questionamento à vigência do conceito de populismo viria de uma pesquisa
revisionista a respeito das tradições trabalhistas (Gomes, 1994; Ferreira, 2001). Entre
outras contribuições decisivas, destacar-se-ia a recuperação da agência dos
trabalhadores na construção do trabalhismo brasileiro, conduzindo à compreensão
concreta das complexas relações entre lideranças políticas e classes trabalhadoras.
Desfazia-se o mito da manipulação em proveito da compreensão de que as classes
sociais se constroem nas próprias ações, decorrentes, por sua vez, de opções conscientes
(Przeworski, 1989 e Thompson, 1987).
O trabalho de Angela Castro Gomes, evidentemente, não tinha resposta para todos os
problemas, nem este foi ou poderia ser o seu intuito, mas o seu caráter seminal residiu
na abertura de ângulos metodológicos que suscitaram direções fecundas para inúmeras
outras pesquisas como, entre outras: análise da trajetória das classes trabalhadoras
desde o advento da República; relações dos trabalhadores com as ditaduras instauradas
em 1937 e em 1964; formação e desenvolvimento do trabalhismo, reconsiderado como
uma corrente de esquerda; relações entre Estado, Sindicatos e os movimentos de
trabalhadores ( Rodrigues, 1980); campanhas políticas nacionalistas e reformistas dos
anos 1950 e 1960; fundamentos históricos da gravitação do Varguismo;
desdobramentos ocorridos em fins dos anos 1970 que conduziram à formação do PT e à
liderança de Lula, autêntico herdeiro das tradições trabalhistas e varguistas, no quadro
de uma cultura política extraordinariamente plástica, capaz de se redefinir em
circunstâncias variadas, mantendo, porém, referências básicas identificadoras de
determinadas concepções do pensar e do fazer política (Azevedo, 2009; Berstein, 2009;
Joutard, 2009; Sirinelli, 2009).
Com estas referências foi possível revisitar com outros olhos o embate entre esquerdas e
direitas às vésperas do golpe de 1964.

3. Esquerdas, direitas e o golpe de 1964

O golpe de 1964, como acontece com os processos históricos relevantes, mal encerrado
ensejou e ainda enseja batalhas historiográficas. De um lado, os negacionistas, já acima
referidos, que transformaram o golpe numa revolução democrática (Motta e Silva,
2004). Por carente de evidências, dispenso-me aqui de comentá-la, embora seja
merecedor de estudos o fato de que tanta gente, além de tê-lo apoiado, ainda hoje,
permaneça fiel a esta fábula.
Tentando melhor compreender o que se passou, observe-se que os anos que precederam
o golpe, os mais quentes da história republicana, embora estudados, não mereceram
atenção à altura de sua importância (Moraes, 1989). Os vencedores, inebriados pelo
sucesso, dedicaram-se à autocelebração (D’Araújo, 1994). Quanto aos vencidos, o
trauma da derrota e uma perspectiva de que o passado estava “morto e enterrado” não
ajudaram a construção de uma reflexão crítica.
Em termos imediatos, tomou vulto a questão das responsabilidades, ganhando força a
problemática dos bodes expiatórios. Neste caso, Jango e Prestes, entre outros, e as
correntes que lideravam, o trabalhismo e o comunismo, foram eleitos como culpados
pela derrota (Aarão Reis, 2000 e 2014). Há de se convir que os dias do golpe e a vitória
das direitas não foram de glória para eles. É verdade também que a capitulação de Jango
não foi um incentivo à luta. Ao contrário. Considerando a importância da presidência da
república no país e a tradição das classes populares de olhar para o alto à procura de
orientações, sua responsabilidade é evidente. Mas seria muito simplismo reduzir a

4
derrota à análise do comportamento do presidente deposto ou às hesitações do líder
comunista. Em muitas crises históricas, a ausência ou a fuga das principais lideranças
tem propiciado o aparecimento de outras, até então pouco importantes ou mesmo
anônimas. Não foi o caso. E o fenômeno precisa ser explicado e interpretado.
Mereceu igualmente atenção o apoio do governo norte-americano aos golpistas,
evidenciado, anos mais tarde, por pesquisas minuciosas (Correa, 1977; Fico, 2008).
Embora não negligenciável, é mais difícil figurá-lo, como querem alguns, como um
fator essencial, na linha, típica das esquerdas nacionalistas, de que tudo começa em
Washington.
Um outro debate tem sido mais fecundo: as forças populares foram derrotadas por
demandas excessivas? Por não terem sabido negociar? Por que não foram capazes de se
organizar para enfrentar e bater os inimigos? Os mais moderados – liderados por Jango
e Prestes - tenderam a apontar os excessivos radicalismos, abrindo margens para a
exploração do medo de convulsões sociais, surgindo aí com força o espectro do
comunismo. Os mais radicais – como, entre outros, Brizola e Marighela -, denunciaram
as carências e o despreparo, nada inevitáveis. Não foi possível encontrar um consenso e
as controvérsias permanecem.
Entre os mais críticos, afirmou-se, não sem razão, que a derrota devera-se à
dependência dos movimentos populares ao Estado, sua escassa autonomia e
consequente subordinação às iniciativas e orientações que afinal não se materializaram
(Santos, 1969). Como em todas as derrotas, houve discussões ásperas. Até hoje, embora
atenuadas pelo tempo, ainda subsistem, pois, como se sabe, se muitos pais disputam as
vitórias, as derrotas são sempre órfãs...
O tema permaneceu ao longo do tempo como um desafio: por que perderam sem luta as
classes populares? Afinal, as correntes nacionalistas e reformistas tinham realmente
muita força social, partidos, organizações de diversos tipos, lideranças...a derrota
fulminante, sem luta, pareceu estranha. Uma estranha derrota. Assim M. Bloch chamou
a derrota igualmente desmoralizante da França em 1940 face aos invasores nazistas,
embora o país ainda tivesse reservas para continuar na guerra, mas...preferira render-se
(Bloch, 1990). Até que ponto poder-se-ia dizer que as classes populares não chegaram a
ter tempo histórico para compreender que valia a pena lutar por aquela república ainda
muito imperfeita, mas que poderia lhes ser mais favorável, caso lutassem por ela...
Neste quadro de incertezas e dúvidas, apareceu uma peregrina tese, a rigor, nada
original, pois apoiada na teoria dos dois demônios, elaboração formulada no contexto
dos trabalhos da Comissão da Verdade na Argentina (Figueiredo, 1993).
O golpe de 1964, nesta interpretação, teria sido motivado por uma intransigência mútua
entre esquerdas e direitas, entre as forças populares e as classes dominantes, entre
radicalismos de ambos os lados o que levou a impasses e a paralisias institucionais,
resolvidos, afinal, pelo golpe de Estado. A moral da narrativa é clara: trata-se de
celebrar a conciliação de interesses contraditórios. Melhor efetuar concessões mútuas do
que, depois, aguentar o peso – e o tranco - dos regimes ditatoriais. Em grande medida, a
tese foi um produto dos anos 1990 e seguintes, marcados, de modo profundo, por uma
crença robusta (ingênua?) nas virtudes da conciliação de classes e na possibilidade de
prolongá-la ao infinito, desde que houvesse sabedoria, ou seja, autosacrifício, de ambos
os lados.
Conciliadores de todas as vertentes renderam louvores à tese, mas ela suscitou as
mesmas indagações críticas que haviam sido suscitadas na matriz geográfica da ideia, a
Argentina.
Seria razoável responsabilizar igualmente pelas lutas sociais no campo, camponeses
com pouca ou nenhuma terra e latifundiários, com imensas extensões de terras

5
improdutivas, muitas griladas ou/e apropriadas ilegalmente e pela violência? Seria
legítimo equiparar as demandas dos trabalhadores por melhores condições de vida e de
trabalho num dos países mais desiguais do mundo e a recusa dos patrões em ceder uma
fração de seus lucros? Seria possível colocar no mesmo nível estudantes que desejavam
reformar um sistema educacional ineficaz e inepto e os então chamados catedráticos,
esclerosados em suas cátedras perpétuas? Seria válido incluir num mesmo balaio os
cidadãos analfabetos – quase metade da população – aptos a pagar impostos mas
inabilitados a votar - e um sistema político construído na base desta exclusão? Seria
justificável equiparar as reivindicações de marinheiros e graduados a um regime de
respeito à sua condição de cidadãos à decisão dos oficiais das forças armadas de manter
privilégios anacrônicos? Enfim, seria justo tomar como iguais grupos sociais postos em
condições de extrema desigualdade?
Não, não seria razoável, nem possível nem válido, nem justificável.
O grande movimento pelas reformas sociais, políticas, econômicas e culturais que
abalou o país na conjuntura anterior ao Golpe de 1964 visava democratizar uma
democracia autoritária, desigual e excludente, consagrada pela Constituição de 1946. A
concretização das reformas iria modificar radicalmente o país em benefícios das grandes
maiorias. O fato de que estas perderam um embate histórico de forma tão
desmoralizante é até hoje e será ainda por muito tempo matéria para reflexão. Mas não
me parece defensável, ao arrepio das evidências, tratar igualmente os desiguais, pois já
ensinava um antigo político que é necessário – e justo - tratar desigualmente os
desiguais. Este não seria o verdadeiro sentido da igualdade, uma descoberta velha de
mais de dois séculos?

4. Uma ditadura mutante – 1964-1979.

No longo período ditatorial, houve marchas e contra-marchas. Avanços e recuos.


Reviravoltas. Um processo nada linear.
Apesar de mutante, uma coisa, porém, é evidente: enquanto durou, desde 1964 até
19796, foi um estado de exceção, o que, afinal, caracteriza toda e qualquer ditadura,
quando o poder cria, revoga ou ignora leis existentes ou que ele próprio já formulou,
segundo as suas conveniências, ou segundo as conveniências dos governantes –
ditadores – que exercem o poder.
Assim, as teses peregrinas de que a ditadura foi branda entre 1964 e 1968 – a chamada
ditabranda – ou envergonhada – carecem de evidências que as apoiem (Gaspari, 2002;
Villa, 2014). Com efeito, o primeiro governo ditatorial, chefiado pelo general Castello
Branco, na sequência da deposição – violenta – do presidente eleito, da qual ele próprio
se beneficiou, reencentou a dinâmica dos atos institucionais, publicando mais três,
depois que o primeiro perdera a vigência; cassou e caçou milhares de cidadãos e
funcionários civis e militares, censurou as artes e os meios de comunicação, prendeu e
assistiu passivamente a matanças e a torturas de presos, autorizou a criação do sinistro
Serviço Nacional de Informações/SNI, dissolveu o parlamento, eliminou da vida
política os partidos políticos existentes, instituindo, por ato de força, o bipartidarismo
no país, entre outros – muitos – desmandos. Onde a brandura? Onde a vergonha?
A ditadura, depois de 1968, ainda iria piorar, sem dúvida. Mas dizer dela que foi branda
nesta primeira fase é, no mínimo, uma impropriedade, uma proposta negacionista.
A favor da ditadura de Castello Branco, alega-se que em seu período foi definida uma
nova Constituição, a de 1967, que pretendia institucionalizar a ditadura, seja lá o que

6
Este controvertido marco cronológico será discutido no ponto 6.
6
isto queria dizer. Uma constituição formulada por um grupo de notáveis, designada pelo
próprio ditador, que elaborou em tempo recorde um texto, depois, aprovado, também
em tempo recorde, sob toques de clarins – e ameaças de tanques -, por um congresso
que não fora eleito com tal finalidade e cujo mandato, aliás, já expirara. Chamar a isso
de constituição é uma acrobacia digna de...ditaduras. Provavelmente por isso foi
cancelada menos de dois anos depois.
O primeiro governo ditatorial, com suas políticas de austeridade, liberais e de
subordinação quase cega à hegemonia dos Estados Unidos, depredou, em não pequena
medida, o crédito social e político que lhe fora concedido por ocasião do golpe.
Importantes lideranças políticas desencantaram-se com a preeminência indisputada das
corporações militares. Os trabalhadores sofriam com o arrocho salarial. Os empresários,
com a falta de crédito. As classes médias, com as arbitrariedades contínuas e com a
persistente crise econômica, atenuada, mas não superada.
O segundo governo ditatorial daria uma guinada na política econômica, retornando-se à
tradição varguista do desenvolvimentismo nacional-estatista, reivindicando margens de
autonomia na dependência aos EUA, mas, agora, sem o povo, excluindo-o de forma
radical, e surpreendendo pensadores e organizações de esquerda que custaram a avaliar
a importância da mudança de rumos7. O arrocho das classes trabalhadoras permaneceu,
mas os índices positivos de crescimento ampliavam os empregos. Os empresários
felicitavam-se. O ditador acenava com aberturas e diálogos, em busca de uma
popularidade perdida.
Entretanto, nas estreitas margens legais existentes, diversos tipos de oposição se
estruturaram. Entre as direitas, os políticos conservadores frustrados com a perda de
prestígio e de poder e boa parte dos meios de comunicação que os acompanhavam.
Entre as esquerdas, movimentos sociais – de estudantes, principalmente, nas ruas das
principais cidades, desde 1966 – e organizações políticas clandestinas que propunham a
luta armada para destruir a ditadura e o capitalismo.
Estas insatisfações desaguariam no ano quente de 1968: o movimento estudantil cresceu
muito (Martins Filho, 1987) e a ele se associaram algumas greves operárias importantes.
Brotaram, desde 1967, ações armadas no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte
No partido de oposição consentida, o MDB, deputados criticavam abertamente a
ditadura. Mesmo no partido do governo, a ARENA, despontavam reservas.
A ditadura respondeu com o Ato Institucional n° 5, em dezembro de 1968, de duração
indeterminada, ao contrário dos anteriores. Radicalizou-se e escancarou-se. (Gaspari,
2002a). Os parlamentos – federal e estaduais – foram dissolvidos, sem prazo para
reconvocação. Mais prisões e cassações. A tortura como política de Estado. A censura
aos meios de comunicação. O furor repressivo. O fim das escassas margens de luta
legal ainda existentes.
O significado histórico do AI-5 ainda suscita controvérsias. Há debates sobre
importância efetiva da chamada “linha dura” das forças armadas (Chirio, 2012; Martins
Filho, 2019). Num plano mais geral, segundo a versão oficial, em parte fundamentada, o
Ato foi condicionado pelas ameaças das oposições radicais (Portela, 1979). Prefiro, por
melhor evidenciada, a análise que o caracterizou como um golpe dentro do golpe,
visando mais as próprias classes dominantes e, em especial, suas direções políticas, do
que propriamente às oposições moderadas ou radicais (Aarão Reis, 2000 e 2013). Com
efeito, a cacofonia entre os de cima foi silenciada.

7
Cf. ponto 5.
7
A partir daí intensificou-se o processo de modernização conservadora. Tomou corpo o
milagre econômico que ganharia velocidade no terceiro governo ditatorial, chefiado
pelo General Médici.
Anos de ouro da ditadura, quando foi possível reagrupar as classes dominantes em torno
do projeto nacional então desenhado, baseado no concurso do Estado e dos capitais
nacionais e internacionais, sob hegemonia dos capitais financeiros e apoiado por nutrida
propaganda (Fico, 1997). Foi quando se aprofundou o consenso social, alcançando
distintas camadas sociais (Cordeiro, 2015; Motta, 2014 e 2014a). O capitalismo mudou
de patamar no país, embora aprofundando desigualdades regionais e sociais (Aarão
Reis, 2000 e 2014; Luna e Klein, 2014 e 2014a).
Ao mesmo tempo, anos de chumbo, de repressão desatada, silêncio dos cemitérios.
Neste período as forças repressivas, unificadas, liquidaram física e politicamente as
oposições radicais, armadas ou não. Nas brechas, escassas, permaneceriam o MDB e
algumas entidades da sociedade civil. Embora tendo apoiado o golpe, não se dispuseram
a ser cúmplices das arbitrariedades do regime.
O quarto governo ditatorial já seria marcado por outras ênfases. Consolidado o modelo
econômico, foi obrigado a lidar com suas contradições (Singer, 2013) e renovadas
forças de oposição mesmo no interior das classes dominantes. Aquele estado estava
ficando forte demais, invadindo a economia, suas margens de arbítrio passaram a ser
consideradas ameaçadoras, mesmo para setores empresariais. A ditadura cumprira um
ciclo, não chegara hora de superá-la?
Teve início um processo de transição, a que chamei de transacional e transicional
(Aarão Reis, 2014).8 Antes de abordá-lo, porém, convém examinar como se
constituíram as oposições à ditadura

5. As oposições à ditadura e a questão da luta armada.

O golpe impôs uma derrota humilhante e desmoralizante às classes populares e às forças


de esquerda. Como já se disse, muitos não hesitaram em dizer que ali se sepultava a
tradição nacional-estatista, encarnada pelo trabalhismo. Um equívoco, pois ela
permaneceria, redefinida, assumindo diferentes e novas versões, mesmo durante a
ditadura.
Batidas, as esquerdas se bifurcariam em duas grandes tendências.
Houve os que apostaram numa restauração democrática, pacífica. Em um primeiro
momento, nas margens culturais preservadas, foi possível exercer a crítica à ditadura
(Napolitano, 2013). Na sequência, porém, pareciam não ter qualquer chance,
principalmente depois que os atos institucionais foram se sucedendo, radicalizando a
ditadura. Mais tarde, no entanto, a partir de meados dos anos 1970, contando com o
apoio de entidades, movimentos sociais e também com a desagregação crescente das
bases de apoio da ditadura, readquiriram protagonismo e se constituíram em
importantes atores do processo de redemocratização (Araújo, 2000; Kucinski, 1991;
Sader, 1988). Em determinados momentos, personagens, entidades e o MDB, único
partido permitido, sofreriam o peso da repressão, demonstrando coragem cívica e
determinação. A historiografia até hoje não fez justiça a estas forças e propostas,
relegando-as a um plano secundário, quase irrelevante, de todo imerecido.
Num outro registro, apareceram os partidários da luta armada contra a ditadura.
Estavam convencidos de que o capitalismo brasileiro estava definitivamente bloqueado,
sem alternativas a oferecer, senão a repressão cada vez mais violenta (Furtado, 1966;

8
Cf. ponto 6.
8
Prado Jr, 1966; Santos, 1969). A ditadura era a última linha de defesa do capitalismo. E
o capitalismo, no Brasil, não tinha outra forma política, senão a ditadura. Não haveria
outra opção senão o socialismo, a ser conquistado pela força das armas. A esta
configuração chamei de a utopia do impasse (Aarão Reis, 1990).
Tais análises e opções precisam ser compreendidas num contexto histórico em que as
revoluções armadas atestavam atualidade e eficácia. Algumas, já vitoriosas, como nos
casos da China (1949), Cuba, (1959) e Argélia (1962). Outras, em andamento um pouco
por toda a parte, na própria América Latina, na África e na Ásia, com destaque para a
guerra do Vietnã, onde um pequeno povo mostrava que era possível enfrentar e vencer
os EUA, o mais poderoso estado do planeta.
Além disso, certas versões autorizadas da revolução cubana (Debray,1969), pareciam
confirmar a necessidade e a viabilidade da luta armada em toda a América Latina.
Assim, várias centenas de revolucionários, a maioria constituída de jovens estudantes,
lançaram-se à luta, um combate nas trevas (Gorender, 1987; Nossa, 2012; Portela,
1979; Ridenti, 2010 e 2013).
Nas cidades multiplicaram-se as ações armadas, algumas, espetaculares, como as ações
de captura de embaixadores estrangeiros, trocados por dezenas de revolucionários
presos e torturados pela ditadura. Nas zonas rurais também houve tentativas
relativamente importantes. A todas elas faltou, entretanto, apoio popular, condição
indispensável para o sucesso deste tipo de aventura. Nestas circunstâncias, as
organizações revolucionárias foram cercadas por um aparato repressivo centralizado,
que recorreu à tortura como política de Estado, e liquidadas em poucos anos.
Algumas centenas foram mortos ou desaparecidos. Alguns milhares foram presos ou
escaparam para o exílio (Rollemberg, 1999). Outros mergulharam na clandestinidade
mais rigorosa, à procura de alternativas.
Em fins dos anos 1970 e ao longo dos anos seguintes, esta saga, em tons épicos, seria
narrada em diferentes versões pelo próprios participantes (Caldas, 1981; Gabeira, 1979;
Polari, 1982; Sirkis, 1980; Tavares, 2004), alcançando grande difusão e ganhando
ampla e simpática acolhida pela opinião pública das grandes cidades brasileiras. O
processo ganharia uma força inusitada na Academia, onde dissertações e teses se
dedicariam a esmiuçar a trajetória da miríade de organizações armadas e de alguns de
seus personagens mais em evidência.
Entretanto, no contexto da luta pela anistia, nos últimos anos 1970, quando a ditadura
exalava os últimos suspiros, uma curiosa reconstrução passou a vigorar: os
revolucionários foram reinterpretados, contra todas as evidências, como uma espécie de
ala extrema da luta pela restauração democrática (Arquidiocese, 1985). O deslocamento
de sentido, como designei a operação, avolumou-se de tal forma que, não raro, os
próprios participantes daquela aventura passaram a se apresentar como democratas que,
num último recurso, haviam apelado para as armas. A luta revolucionária transmudava-
se na ala extrema da luta pela democracia.
O triunfo da memória sobre a história.
A rigor, tal operação negacionista não teve nada de original, considerando-se a história
da humanidade (Ferro, 1983). No caso brasileiro, consistiu numa espécie de
contrapartida ao esquecimento das atrocidades cometidas pela ditadura e por seus
agentes. Além disso, consolidou a atmosfera de conciliação que marcou a virada das
décadas 1970/1980 e viabilizou uma política de reparações aos atingidos pela repressão
dos anos de chumbo.

6. A longa transição da ditadura para a democracia: 1974/1988

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As referências cronológicas frequentementre tornam-se objeto de acirrada disputa. Nada
mais comum, pois a história não tem marcos, como os que assinalam o percurso das
estradas. Eles são inventados pelos historiadores ou pelo poder político ou ainda pelos
interessados. Seja no caso da história de instituições ou de sociedades ou ainda de
períodos históricos mais gerais, para não falar em biografias ou autobiografias, não há
referências cronológicas objetivas, elas são elaboradas e, para se firmarem no tempo,
dependem da capacidade persuasiva dos argumentos dos que as propõem ou das forças
políticas, sociais ou institucionais que imaginam assim defender melhor seus interesses.
A transição política da democracia à ditadura foi longa. Sobre isto não parece haver
dúvidas (Gaspari, 2016; Sallum, 1996). Iniciada em 1974 pelo general Geisel, o quarto
ditador, seria batizada com o nome de abertura. Ela seria, segundo definição do general,
lenta, segura e gradual. A este processo atribuí o nome de transicional por seu caráter
tortuoso, zigzagueante, às vezes contraditório, obrigando a constantes mudanças de
planos e de rumos, concessões imprevistas. Nele tiveram lugar alianças improváveis,
reviravoltas, deserções, adesões, e foi preciso, muita vez, enfrentar resistências
conservadoras, nostálgicas de uma ditadura que se esvaía (Frota, 2006).
Um outro aspecto relevante foi seu caráter negociado, ao qual chamei de transacional.
Foi preciso chegar a acordos, redefinir seus termos, segundo as circunstâncias. Atacada
à direita, pelas forças que não a desejavam, ou não a desejavam tão ampla; e também
pela esquerda, com muitas forças a considerando insuficiente e não correspondente aos
requerimentos de uma autêntica democracia, ainda assim, uma primeira e decisiva etapa
seria vencida com a revogação dos Atos Institucionais, desde o início de 1979.
Entretanto, numa tentativa de manter o controle sobre o processo, ainda na vigência da
ditadura, sob o estado de exceção, foi “eleito” um novo presidente, o general João
Figueiredo, indicado/imposto à nação e ao congresso nacional pelo próprio Geisel.
A partir de 1979, porém, a transição ingressou numa nova etapa: já não havia ditadura,
pois o estado de exceção, referência essencial de uma ditadura, deixara de existir. Mas
em seu lugar, uma nova constituição ainda não fora editada ou aprovada, dando corpo a
um estado de direito democrático. Passara a vigorar uma colcha de retalhos jurídica,
combinando, às vezes de forma incongruente, fragmentos da Constituição de 1967,
emendas constitucionais, atos institucionais e complementares, etc.. As oposições a
apelidavam de entulho autoritário, mas o fato é que este ordenamento já não podia ser –
e não o foi – alterado por medidas de força, de exceção.
Aprovou-se uma anistia parcial, mas efetiva. Combinada com a reforma da lei de
segurança nacional, com diminuição drástica das penas, o país deixou de ter presos
políticos, viabilizando-se também a volta dos exilados políticos. Quanto aos crimes da
ditadura, poderiam até ser denunciados, mas seus agentes não seriam passíveis de
julgamento. Embora controvertida, esta foi a interpretação que o Supremo Tribunal
Federal deu à Anistia.
Além disso, restabeleceu-se a liberdade de organização partidária, embora sob
parâmetros determinados. Revogada a censura, restabeleceu-se a liberdade de expressão
e de manifestação. Os tribunais recuperaram a autonomia e o habeas corpus e o
mandado de segurança passaram novamente a vigorar e a proteger a cidadania de
eventuais arbitrariedades.
Em 1982, realizaram-se eleições diretas para os governadores de todos os estados,
sagrando-se vencedores e tendo a vitória reconhecida candidatos das oposições nos
maiores e mais importantes estados.
No plano social, sindicatos e associações de tipo sindical lideraram greves dos mais
diferentes tipos, nas cidades e nas áreas rurais. Desde 1978, a partir de uma greve dos
metalúrgicos do ABC (Santo André, São Bernardo e São Caetano do Sul, municípios da

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periferia da cidade de São Paulo), os movimentos grevistas se estenderiam pelo país.
Alguns tinham que se haver com a repressão policial, prisão de lideranças, logo soltas, e
mesmo dissolução de entidades sindicais, pouco depois revogadas. Vários movimentos
de greve geral foram então decretados, sem que pudessem ser impedidas pela polícia
política.
Entre 1983 e 1984, desencadeou-se uma campanha pela eleição direta para presidente
da República, a campanha das Diretas-Já. Governadores e prefeitos já eram, desde
1982, eleitos diretamente, mas a eleição presidencial continuava se processando de
forma indireta. A campanha mobilizou milhões de pessoas em todo o país. É certo que
mão conseguiu aprovação pelo Congresso Nacional, mas, pela sua dinâmica, associada
aos movimentos grevistas, imprimiu à transição democrática uma dinâmica irreprimível,
consolidando-a.
Ora, apesar de todas estas evidências, formou-se estranho e singular consenso – político
e acadêmico – de que a ditadura persistiu até 1985.
Onde a ditadura, se os tribunais tinham autonomia? e a imprensa, liberdade? assim
como os partidos e os sindicatos? Uma ditadura certamente original, pois não havia
presos e exilados políticos. O entulho autoritário tolhia os passos daquela sociedade e
não equivalia a ume estado de direito democrático, mas também não equivalia ao estado
de exceção. Por outro lado, se o governo federal era chefiado por um general, e eleito
nos marcos da ditadura, ele já não tinha poderes excepcionais e a própria preeminência
incontestável das corporações militares, característica essencial da ditadura, diluíra-se,
pois elas tinham que se submeter ao estado de direito realmente existente. O entulho
autoritário era uma colcha de retalhos bizarra, mas – repetimos – não podia e não foi
mais alterada pela força.
E o que aconteceu de tão extraordinário em 1985 que fez deste ano um marco
cronológico assinalando, para muitos, o fim da ditadura? Aconteceu uma eleição
indireta – regida pelo entulho autoritário e contrariando a vontade das amplas maiorias,
manifestada nas ruas. Sagrou-se vencedor nesta disputa uma chapa encabeçada por
Tancredo Neves, um político de oposição moderada. Porém, por amarga ironia, faleceu
antes de ser empossado, assumindo seu vice, José Sarney, um dos principais líderes
civis da ditadura que, como muitos outros, migrara para a oposição ao regime. Isto não
impediu que muitos definissem, a partir daí, e só a partir daí, o fim da ditadura.
A definição ensejaria, como ensejou, a versão de que a ditadura fora obra apenas e
exclusivamente dos militares. E contribuiu para ocultar a participação ativa e consciente
dos civis no apoio e na construção da ditadura. Tal o sentido deste marco cronológico,
sem embargo de muitos aderirem à fórmula sem assumir suas consequências.
Competiria, assim, a um dos principais líderes civis da ditadura chefiar a última fase da
transição. Houve então a legalização dos partidos comunistas, já conquistada de fato, e a
lei de atribuição ao Congresso a ser eleito em 1986 de poderes constituintes,
preservando-se, no entanto, a participação neste Congresso dos chamados senadores
biônicos, nomeados e não eleitos, cujos mandatos venciam apenas em 1988. Mais
evidências do caráter negociado da transição.
O Congresso com poderes constituintes fez seu trabalho e aprovou uma nova
Constituição, promulgada em 1988, quando, aí, sim, reinstaurou-se um estado de direito
democrático, encerrando uma longa transição. A nova Constituição foi saudada como
cidadã. Certamente continha importantes e inegáveis avanços. Entre outros, a
consagração de amplos direitos civis, políticos e sociais. Entretanto, também estão lá,
inscritos, importantes legados da ditadura, outra marca do caráter da transição que
efetivamente teve lugar (Aarão Reis, 2018; CEDI, 1992; Kinzo, 1990) .

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É portanto baseado em evidências numerosas – e contundentes – que venho propondo
uma revisão dos marcos cronológicos até hoje consensuais, assim resumida: a transição
transicional e transacional estender-se-ia de 1974 a 1988. Uma primeira etapa, de 1974
a 1979, ainda sob o estado de exceção, sob a ditadura, encerra-se com a revogação dos
Atos Institucionais, quando, aí também, se encerra a ditadura. Um segunda etapa tem
então lugar, de 1979 a 1988, com a aprovação de uma nova Constituição. A
peculiaridade desta etapa: já não há ditadura, mas ainda não existe um estado de direito
democrático. Parece estranho e é realmente estranho. Um estranho fruto da transição
transicional e transacional que levou, nas condições particulares do Brasil, da ditadura
à democracia.

7. A ditadura na longa duração.

Há reflexões clássicas sobre as tendências autoritárias que marcam a construção


histórica da sociedade brasileira. Nos dias de hoje, quando se evidenciou que a a
democracia corre riscos por não estar consolidada, como anunciavam demagogos de
distinta procedência, estas reflexões têm sido redescobertas ou/e reencetadas (Schwarcz,
2019). Bem-vindas reflexões! Desde que não ensejem a eliminação da política da
história, fazendo crer que estaríamos condenados a regimes autoritários e repressivos.
Entretanto, na vasta literatura sobre a ditadura instaurada em 1964, não há investigações
que a tenham colocado em perspectiva, na longa duração, embora aqui e ali haja
referências sobre o tema. Seriam também bem-vindos estudos que tivessem este
objetivo, comparando, inclusive, as duas ditaduras do século XX. Foram 22 anos de
regimes de exceção, com a tortura como política de Estado e de importância decisiva no
desenvolvimento econômico, social, político e cultural do país. É claro que não
ocorreram como fruto de acaso, foram plasmadas social e historicamente.
Infelizmente, mas nada gratuitamente, as duas ditaduras não foram objeto de um
inventário de cicatrizes, como propunha o poema de Alex Polari. E uma das
consequências deste silêncio foi a insuficiente reflexão sobre os legados que deixaram,
marcando a sociedade como o ferro em brasa no lombo dos bois.
Assim, desigualdades estruturais, que fazem do país um dos mais desiguais do mundo;
legislações excludentes, que privilegiam elites sociais; instituições repressivas
centenárias, como as Polícias Militares; concepções autoritárias, como a de que os
militares são tutores da república; práticas sociais, como a delação; violência repressiva,
como o uso da tortura, entre tantas e tantas outras características puderam permanecer e
reproduzir-se, às vezes silenciosamente, outras em forma de ameaças, veladas ou
abertas. Pelo fato de o bom combate não ter sido travado contra tais tradições e
legados, construiu-se um contexto desfavorável à construção democrática.
Não pode haver dúvida de que as classes dominantes são as principais beneficiárias e
responsáveis por esta situação. Contudo, como as ideias e concepções dominantes são
as ideias e concepções das classes dominantes, é fato que elas atravessam a sociedade
como um conjunto, de alto a baixo, constituindo bases – sociais, históricas – que
retroalimentam a permanência e a reprodução do autoritarismo.
Nas brechas, quando e onde existam, cabe às disciplinas que estudam a sociedade em
seu movimento, em particular à História, estudar, desvendar, explicar e interpretar estes
fenômenos, para que da sua melhor compreensão possam surgir melhores chances de
superação.

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Neste artigo, tentei discutir um conjunto de propostas revisionistas que apresentei ao
longo das últimas décadas. Não voltarei ao debate a respeito das diferenças radicais
entre revisionismo & negacionismo, já devidamente apresentado na Introdução deste
volume, com cujas conclusões concordo plenamente. Mas não desejaria terminar sem
uma palavra, sobretudo aos historiadores mais jovens, no sentido de que não se
intimidem nem se deixem controlar pelas patrulhas ideológicas – de direita e de
esquerda – que pretendem dirigir os rumos das pesquisas acadêmicas. E se esmeram em
desqualificar teses inovadoras.
Um dirigente político permitiu-se dizer que a história é muito séria para ser deixada nas
mãos dos historiadores. Mas os historiadores dignos da arte a que se dedicam devem
dispor-se a enfrentar, sempre, as injunções das memórias seletivas, parciais e capciosas
dos Estados, das instituições, partidos ou correntes de opinião de distinta natureza
(Ferro, 1985). E examinar com atenção e cuidado os resultados dos estudos e das
pesquisas, por mais renomados que sejam seus autores.
E não se deixar tomar pela preguiça intelectual, repetindo acriticamente consensos, por
mais sólidos que pareçam. Proceder à revisão critica das afirmações, todas elas, por
mais fundamentadas que sejam. A revisão constante e permanente é indispensável a
qualquer disciplina e é essencial sobretudo à História, sem o que ela simplesmente deixa
de existir para se tornar mera narrativa interessada (Ferro, 1983).
O compromisso maior do historiador é não omitir ou distorcer as evidências
encontradas, por mais que contrariem suas hipóteses iniciais ou preferências políticas. E
suas explicações e interpretações têm apenas um único juiz – o próprio historiador. E
devem ser fiéis, única e exclusivamente, às próprias convicções e consciência.

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