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estadao.com.br

PPP prevê despejar ocupações no


centro de SP para criar prédios de
aluguel
Priscila Mengue

23–31 minutes

Proposta da Prefeitura para o Largo do Paiçandu,


que inclui polo cultural, foi colocada em consulta
pública com participação exclusiva por e-mail;
gestão diz que houve ‘ampla divulgação’

Priscila Mengue - Estadão

06 de janeiro de 2023 | 10h15

Uma Parceria Público-Privada (PPP) proposta pela gestão


Ricardo Nunes (MDB) para o centro da cidade de São Paulo
permitirá o despejo de cerca de 400 pessoas que vivem em
imóveis ocupados por movimentos de moradia – um deles
há quase 11 anos. A proposta prevê a concessão dos espaços
e outros do entorno do Largo do Paiçandu por 25 anos, com a
transformação pela iniciativa privada dos imóveis ocupados em
apartamentos de aluguel para estudantes, no que chama de
“ativação de imóveis ociosos”.

A nova PPP está em fase de consulta pública até 15 de janeiro,


com sugestões exclusivamente por e-mail
(paicandu@prefeitura.sp.gov.br), sem a possibilidade de

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contribuições pela plataforma municipal ParticipeMais,


geralmente utilizada nesses procedimentos. Moradores e
coordenadores de movimentos envolvidos souberam da
proposta ao serem contatados pelo Estadão.

A Prefeitura argumenta que a consulta foi “amplamente


divulgada”, o que ocorreu em parte dos perfis e páginas do
Município, como da Secretaria Executiva de Desestatização e
Parcerias – à frente da proposta – e da campanha Todos Pelo
Centro, lançada pela gestão Nunes no fim de 2022, além de
publicações oficiais. Uma audiência pública exclusivamente
virtual sobre o tema está marcada para terça-feira, 10, às 10
horas, mediante inscrição na plataforma Zoom.

Continua após a publicidade

Em nota, a Prefeitura diz que as contribuições propostas na


consulta e na audiência pública serão analisadas e, caso se
opte pela continuidade, a Secretaria Municipal de Habitação
tomará as “providências cabíveis” para atender as famílias. O
edital diz que os imóveis serão entregues para as
concessionárias “livres e desimpedidos”.

Ao Estadão, o secretário da Habitação, João Farias, promete


algum tipo de assistência aos moradores da Ocupação Rio
Branco, datada de 2011, e diz aguardar decisão judicial
favorável para fazer o despejo do grupo que vive no antigo Art
Palácio, na Avenida São João, desde outubro.

Werther Santana/Estadão

Meriane vive com os três filhos e o marido na Ocupação Rio


Branco Foto: Werther Santana/Estadão

O secretário também argumenta ao Estadão que tem mantido


“diálogo estreito com movimentos de moradia”, por meio do

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programa Pode Entrar, e que, por isso, não reconhece como


legítima a ocupação de imóveis como forma de pressionar o
Município. Também destacou que 45 mil unidades habitacionais
serão entregues até o fim da gestão.

“Várias obras estão em andamento”, diz ele, ao citar a que


transformará a antiga ocupação Prestes Maia, em outro ponto
do centro, em edifício habitacional. “A Prefeitura tem produzido
como nunca se produziu. Mas não dá para achar que vamos
resolver um problema de décadas.”

A proposta de edital da PPP cita que há ocupações entre os


imóveis só quando apresenta as características de cada um e,
mesmo assim, informa apenas sobre a Ocupação Rio Branco -
há pelo menos mais duas áreas com ocupações no perímetro.

O conteúdo da proposta pode passar por modificações até a


publicação da licitação, ainda sem data divulgada. As obras têm
previsão de conclusão em período de 12 a 18 meses após
iniciadas.

Werther Santana/Estadão

Ocupação Rio Branco engloba três imóveis que antes


funcionavam como hotéis e cinema Foto: Werther
Santana/Estadão

A área de atuação está centralizada em cinco pontos: o Largo


do Paiçandu em si, que poderá receber quiosques móveis; a
Galeria Olido, que viraria um centro educacional; o antigo Art
Palácio, cuja parte do cinema seria adaptada como anfiteatro e
a do hotel para residências de aluguel; o Edifício Independência
(pavimentos acima do Bar Brahma), para “hub de inovação”; e o
Complexo Boticário, onde há ocupações hoje, com construção
de edifícios para locação.

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A Ocupação Rio Branco está no “Complexo Boticário”, de 2,3


mil m² e que inclui um centro de acolhida à população de rua –
a ser transferido para outro endereço na mesma quadra –, um
antigo estacionamento invadido há cerca de um ano por um
grupo não ligado a movimentos por moradia conhecidos e cinco
comércios na esquina da Avenida Rio Branco com o Largo,
como salão de beleza e lanchonete. O local será transformado
em condomínio residencial com 308 apartamentos, de 28 m²
cada, com comércio no térreo.

Prefeitura de São Paulo/Reprodução

Imagens do resultado projetado para esquina do Largo do


Paiçandu com a Avenida Rio Branco, onde hoje há comércios e
uma ocupação Foto: Prefeitura de São Paulo/Reprodução

O centro é uma das prioridades da gestão Nunes, que deve


disputar a reeleição ano que vem. Parte das propostas envolve
incentivos e parcerias público-privadas. “A PPP Paiçandu
Núcleo Cultural vai requalificar edifícios ociosos com viés
cultural, para estimular a ocupação noturna e nos fim de
semana”, disse ao Estadão o secretário municipal da Casa
Civil, Fabrício Cobra, em dezembro, sem comentar à época que
a proposta envolve áreas hoje de ocupações.

A PPP do Paiçandu prevê obras de restauro, reforma,


construção e readequação, além da manutenção, zeladoria e
operação de atividades. Os investimentos obrigatórios são
avaliados em cerca de R$ 189 milhões, para 25 anos. A
contraprestação e o aporte pagos pela Prefeitura à
concessionária são estimados em R$ 372,5 milhões. Uma das
obrigações apontadas no edital em consulta pública é “não
permitir que terceiros se apossem da área de concessão”.

Werther Santana/Estadão

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Antigo Art Palácio foi ocupado em 2022 Foto: Werther


Santana/Estadão

Vídeo divulgado pela campanha municipal Todos Pelo Centro


mostra imagens de como ficaria o Complexo do Boticário, com
um condomínio vertical onde hoje existem a Ocupação Rio
Branco, o estacionamento invadido, o centro de atendimento à
população de rua e cinco comércios.

No caso do prédio Olido, cuja ideia é de desapropriação, os


quatro primeiros pavimentos serão de gestão da Secretaria de
Cultura, enquanto o objetivo é transformar o restante em centro
educacional. Já o Edifício Independência, segundo a Prefeitura,
é notificado há mais de seis anos por não cumprir função social
e está em IPTU progressivo desde 2018.

Cobrança por moradia

A PPP afeta especialmente a Ocupação Rio Branco, instalada


em 2011 em imóveis originalmente de até três pavimentos e
nos quais funcionavam os hotéis Lincoln e Visconde e o Cine
América. É ligada ao Movimento de Moradia Central e Regional
(MMCR).

Segundo a coordenadora do movimento, Jomarina Fonseca, de


65 anos, cerca de 300 pessoas (um total de 58 famílias) vivem
no local, de crianças a idosos. Os moradores colaboram com a
manutenção com contribuição de R$ 220 mensais.

Em vistoria feita por técnicos da Prefeitura em 2018, destaca o


documento da consulta pública, identificou-se que a ocupação
tem instalações elétricas em “desconformidade com os padrões
de segurança”, com fiação exposta, inclusive nos chuveiros.
Também consta que não há alarme de incêndio, iluminação de
emergência, hidrantes e corrimões em todas as escadas.

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Dois dos três imóveis da ocupação são alvo há mais de 10 anos


de ações de desapropriação, assim como os comércios da
esquina, e estão ainda em tramitação ou em suspenso na
Justiça.

Eliane diz que o espaço é seguro e que um grupo de moradores


participou de treinamento para brigadista em caso de incêndio.
“Algumas coisas são quase impossíveis, como auto de vistoria
dos bombeiros”, afirma. Também avalia que a ocupação deveria
ter sido ouvida sobre a PPP. “Acho que ninguém sabia. A gente
tinha de estar participando.”

Werther Santana/Estadão

Eliane vive na Ocupação Rio Branco desde 2011 Foto: Werther


Santana/Estadão

A camareira Eliane Saldanha, de 57 anos, e o pedreiro José


Saldanha, de 62, estão entre os primeiros moradores da
ocupação, para a qual se mudaram após ela ser dispensada de
um trabalho em Higienópolis, na região central. “A gente
alugava quitinete na Sé, por R$ 830, quando a patroa me
dispensou”, relata. “A gente começou a trabalhar na rua,
vendendo café.”

A unidade onde o casal vive foi construída aos poucos na laje


do último pavimento da ocupação. Na maioria dos andares, as
famílias vivem no que antes eram quartos de hotel, enquanto
parte das habitações com divisão improvisada divide banheiros
coletivos.

Eliane conta que ficou preocupada inicialmente ao se mudar


para uma ocupação, mas que a “necessidade falou mais alto”.
Hoje, após 11 anos, se diz cansada de reivindicar moradia,
ainda mais pelo avanço da idade e o problema de ácido úrico
do marido, que, em momentos de crise, precisa ser carregado

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escadas abaixo até o nível da rua.

Werther Santana/Estadão

Antonia Pereira também vive na Ocupação Rio Branco Foto:


Werther Santana/Estadão

Como outros moradores, Eliane conta que outra ocupação seria


o provável destino caso precise sair. “Quando (o poder público)
mexe com uma coisa, tem de ter preparado pra onde vai enviar
essas pessoas. Tirar daqui e colocar na rua vai tornar um caos”,
diz. “Aqui não tem vagabundos. Estamos lutando pela nossa
moradia.”

Na mesma ocupação, vive uma filha de Eliane e Saldanha,


Meriane, de 33 anos, que voltou a morar no local em 2022 após
o sogro destinar o imóvel em que vivia a outro parente. Ela está
em uma unidade improvisada de dois cômodos, com três filhos,
de 2, 7 e 9 anos, e o marido. “Aumentou o preço das coisas.
Está R$ 600, R$ 700 ou aí em diante (para alugar uma moradia
formal).”

Outra moradora é a dona de casa Antônia Ferreira de Lima, de


63 anos, que mora em uma unidade de poucos metros e um
único cômodo, dividido com dois gatos. Antes da Rio Branco,
viveu a metros dali, no Edifício Wilton Paes de Almeida, que
desabou após um incêndio há quase quatro anos e pelo qual
diz receber auxílio-aluguel de cerca de R$ 400, insuficiente para
uma realocação formal.

“A ocupação é mais em conta”, relata. Questionado, o


secretário municipal de Habitação, João Farias, diz que o
auxílio é um complemento, mas não tem o objetivo de cobrir o
custo integral de um aluguel e que a Prefeitura não planeja
rever o valor.

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Já a Ocupação São João 407 ocupa o antigo Art Palácio,


originalmente o Hotel Plaza e um cinema (tombado na esfera
municipal), ao lado da Galeria do Rock. O espaço tem 5,8 mil
m² de área construída, de 1936. Nos últimos anos, projetos
variados da Prefeitura propuseram novos usos para o local,
declarado de utilidade pública em 2008.

O Estadão procurou responsáveis pelo Movimento Sem Teto


pela Reforma Urbana (MSTRU), mas não conseguiu confirmar
o número atual de moradores até o fechamento desta
reportagem. No fim de 2022, o grupo divulgou que cerca de 100
pessoas viviam no endereço. A ocupação do imóvel em outubro
motivou reações do poder público a fim de estimular a saída
dos recém-chegados, como o corte do fornecimento de água e
a restrição de acesso a mulheres e crianças, o que foi revogado
após decisão judicial.

Leia também:


1

Uber anuncia oferta de viagens com moto em SP e no Rio, mas


prefeituras mandam suspender serviço

Prefeito Ricardo Nunes (MDB) determinou a notificação da


empresa pela atividade de transporte remunerado de
passageiros por motocicleta, serviço ainda não regulamentado
no município


2

Mais barulho em SP: Justiça suspende aumento de limite de


ruído em shows e grandes eventos

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Desembargador avalia que liberação de até 75 decibéis em São


Paulo ‘não guarda pertinência temática’ com lei em que foi
inserida, das ‘dark kitchens’; Prefeitura ‘vai avaliar medidas
judiciais cabíveis’


3

Reconhecimento facial: após críticas, cidade de SP suspende


temporariamente programa com câmeras

Gestão Nunes diz que removeu termos ‘vadiagem’ e ‘cor’ do


edital; proposta foi criticada por entidades e parlamentares

PPP prevê despejar ocupações no centro de SP


para criar prédios de aluguel

Proposta da Prefeitura para o Largo do Paiçandu,


que inclui polo cultural, foi colocada em consulta
pública com participação exclusiva por e-mail;
gestão diz que houve ‘ampla divulgação’

Priscila Mengue - Estadão

06 de janeiro de 2023 | 10h15

Uma Parceria Público-Privada (PPP) proposta pela gestão


Ricardo Nunes (MDB) para o centro da cidade de São Paulo
permitirá o despejo de cerca de 400 pessoas que vivem em
imóveis ocupados por movimentos de moradia – um deles
há quase 11 anos. A proposta prevê a concessão dos espaços
e outros do entorno do Largo do Paiçandu por 25 anos, com a
transformação pela iniciativa privada dos imóveis ocupados em
apartamentos de aluguel para estudantes, no que chama de
“ativação de imóveis ociosos”.

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A nova PPP está em fase de consulta pública até 15 de janeiro,


com sugestões exclusivamente por e-mail
(paicandu@prefeitura.sp.gov.br), sem a possibilidade de
contribuições pela plataforma municipal ParticipeMais,
geralmente utilizada nesses procedimentos. Moradores e
coordenadores de movimentos envolvidos souberam da
proposta ao serem contatados pelo Estadão.

A Prefeitura argumenta que a consulta foi “amplamente


divulgada”, o que ocorreu em parte dos perfis e páginas do
Município, como da Secretaria Executiva de Desestatização e
Parcerias – à frente da proposta – e da campanha Todos Pelo
Centro, lançada pela gestão Nunes no fim de 2022, além de
publicações oficiais. Uma audiência pública exclusivamente
virtual sobre o tema está marcada para terça-feira, 10, às 10
horas, mediante inscrição na plataforma Zoom.

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Em nota, a Prefeitura diz que as contribuições propostas na


consulta e na audiência pública serão analisadas e, caso se
opte pela continuidade, a Secretaria Municipal de Habitação
tomará as “providências cabíveis” para atender as famílias. O
edital diz que os imóveis serão entregues para as
concessionárias “livres e desimpedidos”.

Ao Estadão, o secretário da Habitação, João Farias, promete


algum tipo de assistência aos moradores da Ocupação Rio
Branco, datada de 2011, e diz aguardar decisão judicial
favorável para fazer o despejo do grupo que vive no antigo Art
Palácio, na Avenida São João, desde outubro.

Werther Santana/Estadão

Meriane vive com os três filhos e o marido na Ocupação Rio


Branco Foto: Werther Santana/Estadão

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O secretário também argumenta ao Estadão que tem mantido


“diálogo estreito com movimentos de moradia”, por meio do
programa Pode Entrar, e que, por isso, não reconhece como
legítima a ocupação de imóveis como forma de pressionar o
Município. Também destacou que 45 mil unidades habitacionais
serão entregues até o fim da gestão.

“Várias obras estão em andamento”, diz ele, ao citar a que


transformará a antiga ocupação Prestes Maia, em outro ponto
do centro, em edifício habitacional. “A Prefeitura tem produzido
como nunca se produziu. Mas não dá para achar que vamos
resolver um problema de décadas.”

A proposta de edital da PPP cita que há ocupações entre os


imóveis só quando apresenta as características de cada um e,
mesmo assim, informa apenas sobre a Ocupação Rio Branco -
há pelo menos mais duas áreas com ocupações no perímetro.

O conteúdo da proposta pode passar por modificações até a


publicação da licitação, ainda sem data divulgada. As obras têm
previsão de conclusão em período de 12 a 18 meses após
iniciadas.

Werther Santana/Estadão

Ocupação Rio Branco engloba três imóveis que antes


funcionavam como hotéis e cinema Foto: Werther
Santana/Estadão

A área de atuação está centralizada em cinco pontos: o Largo


do Paiçandu em si, que poderá receber quiosques móveis; a
Galeria Olido, que viraria um centro educacional; o antigo Art
Palácio, cuja parte do cinema seria adaptada como anfiteatro e
a do hotel para residências de aluguel; o Edifício Independência
(pavimentos acima do Bar Brahma), para “hub de inovação”; e o
Complexo Boticário, onde há ocupações hoje, com construção

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de edifícios para locação.

A Ocupação Rio Branco está no “Complexo Boticário”, de 2,3


mil m² e que inclui um centro de acolhida à população de rua –
a ser transferido para outro endereço na mesma quadra –, um
antigo estacionamento invadido há cerca de um ano por um
grupo não ligado a movimentos por moradia conhecidos e cinco
comércios na esquina da Avenida Rio Branco com o Largo,
como salão de beleza e lanchonete. O local será transformado
em condomínio residencial com 308 apartamentos, de 28 m²
cada, com comércio no térreo.

Prefeitura de São Paulo/Reprodução

Imagens do resultado projetado para esquina do Largo do


Paiçandu com a Avenida Rio Branco, onde hoje há comércios e
uma ocupação Foto: Prefeitura de São Paulo/Reprodução

O centro é uma das prioridades da gestão Nunes, que deve


disputar a reeleição ano que vem. Parte das propostas envolve
incentivos e parcerias público-privadas. “A PPP Paiçandu
Núcleo Cultural vai requalificar edifícios ociosos com viés
cultural, para estimular a ocupação noturna e nos fim de
semana”, disse ao Estadão o secretário municipal da Casa
Civil, Fabrício Cobra, em dezembro, sem comentar à época que
a proposta envolve áreas hoje de ocupações.

A PPP do Paiçandu prevê obras de restauro, reforma,


construção e readequação, além da manutenção, zeladoria e
operação de atividades. Os investimentos obrigatórios são
avaliados em cerca de R$ 189 milhões, para 25 anos. A
contraprestação e o aporte pagos pela Prefeitura à
concessionária são estimados em R$ 372,5 milhões. Uma das
obrigações apontadas no edital em consulta pública é “não
permitir que terceiros se apossem da área de concessão”.

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Antigo Art Palácio foi ocupado em 2022 Foto: Werther


Santana/Estadão

Vídeo divulgado pela campanha municipal Todos Pelo Centro


mostra imagens de como ficaria o Complexo do Boticário, com
um condomínio vertical onde hoje existem a Ocupação Rio
Branco, o estacionamento invadido, o centro de atendimento à
população de rua e cinco comércios.

No caso do prédio Olido, cuja ideia é de desapropriação, os


quatro primeiros pavimentos serão de gestão da Secretaria de
Cultura, enquanto o objetivo é transformar o restante em centro
educacional. Já o Edifício Independência, segundo a Prefeitura,
é notificado há mais de seis anos por não cumprir função social
e está em IPTU progressivo desde 2018.

Cobrança por moradia

A PPP afeta especialmente a Ocupação Rio Branco, instalada


em 2011 em imóveis originalmente de até três pavimentos e
nos quais funcionavam os hotéis Lincoln e Visconde e o Cine
América. É ligada ao Movimento de Moradia Central e Regional
(MMCR).

Segundo a coordenadora do movimento, Jomarina Fonseca, de


65 anos, cerca de 300 pessoas (um total de 58 famílias) vivem
no local, de crianças a idosos. Os moradores colaboram com a
manutenção com contribuição de R$ 220 mensais.

Em vistoria feita por técnicos da Prefeitura em 2018, destaca o


documento da consulta pública, identificou-se que a ocupação
tem instalações elétricas em “desconformidade com os padrões
de segurança”, com fiação exposta, inclusive nos chuveiros.
Também consta que não há alarme de incêndio, iluminação de

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emergência, hidrantes e corrimões em todas as escadas.

Dois dos três imóveis da ocupação são alvo há mais de 10 anos


de ações de desapropriação, assim como os comércios da
esquina, e estão ainda em tramitação ou em suspenso na
Justiça.

Eliane diz que o espaço é seguro e que um grupo de moradores


participou de treinamento para brigadista em caso de incêndio.
“Algumas coisas são quase impossíveis, como auto de vistoria
dos bombeiros”, afirma. Também avalia que a ocupação deveria
ter sido ouvida sobre a PPP. “Acho que ninguém sabia. A gente
tinha de estar participando.”

Werther Santana/Estadão

Eliane vive na Ocupação Rio Branco desde 2011 Foto: Werther


Santana/Estadão

A camareira Eliane Saldanha, de 57 anos, e o pedreiro José


Saldanha, de 62, estão entre os primeiros moradores da
ocupação, para a qual se mudaram após ela ser dispensada de
um trabalho em Higienópolis, na região central. “A gente
alugava quitinete na Sé, por R$ 830, quando a patroa me
dispensou”, relata. “A gente começou a trabalhar na rua,
vendendo café.”

A unidade onde o casal vive foi construída aos poucos na laje


do último pavimento da ocupação. Na maioria dos andares, as
famílias vivem no que antes eram quartos de hotel, enquanto
parte das habitações com divisão improvisada divide banheiros
coletivos.

Eliane conta que ficou preocupada inicialmente ao se mudar


para uma ocupação, mas que a “necessidade falou mais alto”.
Hoje, após 11 anos, se diz cansada de reivindicar moradia,

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ainda mais pelo avanço da idade e o problema de ácido úrico


do marido, que, em momentos de crise, precisa ser carregado
escadas abaixo até o nível da rua.

Werther Santana/Estadão

Antonia Pereira também vive na Ocupação Rio Branco Foto:


Werther Santana/Estadão

Como outros moradores, Eliane conta que outra ocupação seria


o provável destino caso precise sair. “Quando (o poder público)
mexe com uma coisa, tem de ter preparado pra onde vai enviar
essas pessoas. Tirar daqui e colocar na rua vai tornar um caos”,
diz. “Aqui não tem vagabundos. Estamos lutando pela nossa
moradia.”

Na mesma ocupação, vive uma filha de Eliane e Saldanha,


Meriane, de 33 anos, que voltou a morar no local em 2022 após
o sogro destinar o imóvel em que vivia a outro parente. Ela está
em uma unidade improvisada de dois cômodos, com três filhos,
de 2, 7 e 9 anos, e o marido. “Aumentou o preço das coisas.
Está R$ 600, R$ 700 ou aí em diante (para alugar uma moradia
formal).”

Outra moradora é a dona de casa Antônia Ferreira de Lima, de


63 anos, que mora em uma unidade de poucos metros e um
único cômodo, dividido com dois gatos. Antes da Rio Branco,
viveu a metros dali, no Edifício Wilton Paes de Almeida, que
desabou após um incêndio há quase quatro anos e pelo qual
diz receber auxílio-aluguel de cerca de R$ 400, insuficiente para
uma realocação formal.

“A ocupação é mais em conta”, relata. Questionado, o


secretário municipal de Habitação, João Farias, diz que o
auxílio é um complemento, mas não tem o objetivo de cobrir o
custo integral de um aluguel e que a Prefeitura não planeja

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rever o valor.

Já a Ocupação São João 407 ocupa o antigo Art Palácio,


originalmente o Hotel Plaza e um cinema (tombado na esfera
municipal), ao lado da Galeria do Rock. O espaço tem 5,8 mil
m² de área construída, de 1936. Nos últimos anos, projetos
variados da Prefeitura propuseram novos usos para o local,
declarado de utilidade pública em 2008.

O Estadão procurou responsáveis pelo Movimento Sem Teto


pela Reforma Urbana (MSTRU), mas não conseguiu confirmar
o número atual de moradores até o fechamento desta
reportagem. No fim de 2022, o grupo divulgou que cerca de 100
pessoas viviam no endereço. A ocupação do imóvel em outubro
motivou reações do poder público a fim de estimular a saída
dos recém-chegados, como o corte do fornecimento de água e
a restrição de acesso a mulheres e crianças, o que foi revogado
após decisão judicial.

Leia também:


1

Uber anuncia oferta de viagens com moto em SP e no Rio, mas


prefeituras mandam suspender serviço

Prefeito Ricardo Nunes (MDB) determinou a notificação da


empresa pela atividade de transporte remunerado de
passageiros por motocicleta, serviço ainda não regulamentado
no município


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Mais barulho em SP: Justiça suspende aumento de limite de

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ruído em shows e grandes eventos

Desembargador avalia que liberação de até 75 decibéis em São


Paulo ‘não guarda pertinência temática’ com lei em que foi
inserida, das ‘dark kitchens’; Prefeitura ‘vai avaliar medidas
judiciais cabíveis’


3

Reconhecimento facial: após críticas, cidade de SP suspende


temporariamente programa com câmeras

Gestão Nunes diz que removeu termos ‘vadiagem’ e ‘cor’ do


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