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Empreendimento em Secretário preocupa moradores, mas agrada a autoridades

Considerado viável pelo Inea, projeto prevê a construção de cinco hotéis e quatro campos de
golfe
POR EMANUEL ALENCAR
12/01/2015 5:00 / ATUALIZADO 12/01/2015 8:42

Vista panorâmica de fazenda próxima a empreendimento (Werneck) - Fabio Rossi / Agência


O Globo

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RIO - Dono de uma birosca localizada numa região de

enormes fazendas em Petrópolis, Darci Pereira da


Silva, de 67 anos, tenta sobreviver da modesta venda de

cerveja, biscoitos e utensílios domésticos. Ele já cuidou

de lavouras de abóbora, feijão e milho, mas, diz que,

desde 2000, “a terra vem enfraquecendo”. Sem

dinheiro, deixou de vez a roça, num movimento

seguido por dezenas de outros pequenos agricultores.

Hoje, a pacata área rural onde vive, no distrito de

Secretário, está no centro de um turbilhão. O Instituto

Estadual do Ambiente (Inea) analisa a concessão de

uma licença prévia para um megaempreendimento

hoteleiro, residencial e esportivo desenhado para

ocupar uma área de 1.100 hectares — que corresponde

a quase um terço do Parque Nacional da Tijuca. O

projeto, que prevê a construção de cinco hotéis e quatro

campos de golfe, será implantado ao longo de 30 anos.

O órgão ambiental já considerou a construção viável.

Porém, o início das obras ainda depende de mais

análises.

PROMESSAS SÃO QUESTIONADAS

Preocupados, moradores e frequentadores de

Secretário argumentam que a região não tem

capacidade para absorver um impacto tão gigantesco.

Repetida frequentemente pelos empreendedores do

projeto, a promessa de desenvolvimento econômico

não sensibiliza boa parte dos petropolitanos e cariocas

que buscam refúgio no alto da serra. Cercado por uma

bela cordilheira, Secretário é um paraíso bucólico

adorado por muitos artistas. Quem costuma circular

por seu charmoso ‘‘centrinho’’ certamente já esbarrou

com Fernanda Torres, Lulu Santos ou Murilo Benício.

— Nosso principal ponto de discordância está na

dimensão daquilo que se pretende implantar. São


quatro campos de golfe, hotéis, um shopping center e

condomínios verticais e horizontais — enumera o

advogado Antonio Luís Ferreira, proprietário de uma

fazenda na região. — O fornecimento de água para o

empreendimento é uma incógnita. O Rio Maria

Comprida, que abastece Secretário, tem uma vazão

pequena. Dificilmente terá condições de sustentar

aquela nova cidade.

Testemunha das transformações de Secretário desde que nasceu, Darci, o dono da birosca, diz
que ainda não tem uma opinião formada sobre o assunto:

— O projeto pode trazer mais progresso, mas também

pode acabar com a tranquilidade, não é? Espero que

cumpram a promessa de dar serviço à comunidade

daqui. Tenho filhos de 30 anos que precisam trabalhar.

Seria ótimo ver alguém dando uma oportunidade para

eles. Mas já nos avisaram que, para receber os gringos

que vão se hospedar lá, será preciso muito estudo, falar

línguas, essas coisas. Na verdade, acho que isso tudo

vai ficar para os meus bisnetos.

O complexo imobiliário, hoteleiro e esportivo foi

planejado numa parceria entre a Plarcon Engenharia, o

grupo inglês International Golf and Resort


Management (IGRM) e a empreiteira João Fortes. O

projeto chama a atenção pelos números superlativos.

Distante 27 quilômetros do Centro de Petrópolis,

ocupará uma área de seis fazendas. Estão previstos

investimentos de R$ 2,98 bilhões nas obras,

escalonadas em cinco etapas, numa construção que se

estenderá até 2020 — isso, claro, se a proposta for

adiante.

A ideia é erguer um hotel cinco estrelas, um quatro

estrelas, um outro dotado de centro de convenções, um

hotel boutique e o chamado Hotel da Academia de

Golfe. No Estudo de Impacto Ambiental (EIA), os

empreendedores informam que aguardam “uma

clientela de alta capacidade”.

Desde fevereiro de 2014, foram feitas duas audiências

públicas, que suscitaram debates acalorados. A quem

manifestou preocupação com os danos ambientais, o

empresário Cláudio Neves, vice-presidente da Plarcon,

argumentou que a iniciativa contemplará uma região

que não está em uma Área de Proteção Ambiental

(APA) e que serão mantidas matas e nascentes. Ele

expôs ainda a intenção dos empreendedores de

aproveitar “ao máximo" a mão de obra local, inclusive

investindo na formação e na qualificação de

trabalhadores.

Logo após a primeira audiência, a atriz e escritora

Fernanda Torres jogou lenha na fogueira em sua

coluna na revista “Veja Rio”. No texto, ela questionou a

sustentabilidade dos campos de golfe e afirmou que

“para manter as longas extensões de grama fofa e

compacta, é necessário acrescentar ao solo caminhões

de aditivos químicos”. Além disso, perguntou: “Será


mesmo essa a vocação de Secretário? Abrigar um

megaempreendimento tão artificial quanto a Disney? É

difícil prever".
Nascida em Secretário e dona de uma empresa de

paisagismo, Rachel Simas ficou conhecida no lugarejo

como “inimiga dos campos de golfe”. Falante, ela

garante que sua posição está longe de ser radical — só

quer entender melhor todos os detalhes.

— O problema é o tamanho desse projeto. Não cabe

aqui. Já sofremos com problemas básicos de

infraestrutura, como faltas recorrentes de luz e de água

— destacou Rachel.

O empresário carioca Flávio Salles, morador da região

há oito anos, também defende mais diálogo antes da

batida final do martelo.

— Os empreendedores dizem que, com o projeto, os

moradores daqui terão, enfim, acesso a serviços

básicos. Dá a sensação de que somos de segunda classe,

e quem frequentará os campos de golfe, de primeira.

Temos uma coleta de lixo pífia, falta luz toda hora.

Outra questão importante é a falta de mão de obra

qualificada. Vão montar o empreendimento para

depois qualificar as pessoas? Sem infraestrutura básica,

não há desenvolvimento — argumenta Rachel.

PREFEITURA APOIA PROJETO

O empresário Roberto Pereira, dono de um novíssimo

posto de gasolina em Secretário, afirma que não se

pode remar contra a maré de boas novidades.

— Os governos só trabalham de forma reativa, e esse

empreendimento é uma oportunidade única para as

autoridades investirem aqui. Se eu não ousasse, jamais

teria tirado meu negócio do papel. Quando falei para

amigos empresários que gostaria de abrir um posto


aqui, todos me chamaram de louco. Hoje, o negócio vai

bem, obrigado. Não podemos jogar contra o

desenvolvimento — opina.

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Na mesma linha, a prefeitura de Petrópolis informou

que considera o projeto importante, “assim como

outros que podem impulsionar o desenvolvimento de

forma sustentável". O secretário de Planejamento e

Desenvolvimento Econômico, Robson Cardinelli,

entende que a iniciativa pode contribuir para o

progresso local, garantindo a preservação do meio

ambiente e melhorando a qualidade de vida da

população.

— O projeto só será executado se houver a manutenção

de toda a área de mata, a recuperação e manutenção de

nascentes e o desenvolvimento de ações sociais. O

empreendimento se enquadra naquilo que o município

espera, pois a ocupação prevista, com instalação de

hotéis e campos de golfe, vai atrair um público que

exige um local com as características bucólicas de

Secretário — afirma Cardinelli. — Nós, gestores

públicos, temos de pensar em como conciliar a atração

de veranistas com a melhoria das condições de vida da

população local, criando possibilidades de empregos

principalmente para os mais jovens.

Somente após a emissão de uma licença prévia do Inea

os empreendedores estarão autorizados a desenvolver

os projetos de engenharia. Em seguida, o grupo deverá

apresentar à prefeitura de Petrópolis os detalhes da

proposta para dar continuidade ao licenciamento da

obra. Nessa etapa, deverão ser definidas as

contrapartidas.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/empreendimento-em-secretario-
preocupa-moradores-mas-agrada-autoridades-15025595#ixzz3cKSDtNQG 
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