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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: REALIDADE SOCIOECONÔMICA E POLÍTICA BRASILEIRA
PROFESSORA: ANGÉLICA MULLER
ESTUDANTES: ANNA COELHO E LETHICIA PEREIRA
CURSO: COMUNICAÇÃO SOCIAL - PUBLICIDADE DE PROPAGANDA

RESENHA – O CINEMA COMO FORÇA DE ATIVAÇÃO: CABRA


MARCADO PRA MORRER E O LEGADO DA NOSSA TRAGÉDIA

O contexto debatido remonta à experiência brasileira do Ato


Institucional Nº 5 – AI5 e a luta pela redemocratização protagonizada pelos
estudantes, artistas de esquerda e intelectuais. Traz à tona, a questão da
desmobilização dos operários e do campesinato, classes massacradas no
golpe de 1964, que objetivava destruir o socialismo. A violência marcante
contra negros, pobres e índios se revela como estrutural – a violência atinge de
maneira intensa classes diferentes.

As narrativas sobre a ditadura e suas aberrações e violências são


seletivas. Não englobam os camponeses e suas lutas por Reforma Agrária ou
de base. A busca por “desaparecidos” ou heróis do período traz à memória
jornalistas, intelectuais, líderes políticos e oculta camponeses, pouco se fala
dos pobres e pretos que morreram nos porões da ditadura. Há uma história
dentro da história, que é oculta porque é seletiva. Não parece ser importante
lembrar.

A obra “Cabra Marcado para Morrer” mais do que um documento


histórico organiza uma relação dialética sobre uma classe que passa quase
invisível sobre a tragédia violenta do golpe no Brasil de 1964. Filmado durante
o período do golpe militar, objetivava produzir uma ficção sobre militância e
morte de uma liderança das ligas Camponesas – João Pedro Teixeira.

O documentário se tornou uma resposta política as consequências


brutais da interrupção da experiencia de classe que se articulava – ficção e
realidade se misturavam na luta contra o imperialismo e contra a burguesia
nacional de modo radical.

A intensificação da repressão e da tortura sobre os camponeses


interrompeu o processo de filmagem. De protagonistas passaram a
espectadores alheios ao processo produtivo do segundo filme. O documentário
mostra as faces da desarticulação como um processo resultante do golpe e do
AI-5. O anonimato dos trabalhadores, subemprego nas metrópoles, miséria,
desarticulação do projeto coletivo. É possível acompanhar o paradeiro dos
membros da família protagonista e a trajetória da experiência brasileira: da
desilusão com a atividade política via repressão à canalização para atividade
religiosa.

A sequência final do filme traz o protagonismo de Elizabeth Teixeira,


que abandona a vida clandestina para dar voz à vida pública nas lutas
advindas com o fim da ditadura como liderança política. As questões
democráticas urgem. As falsas promessas de liberdade ensejadas no processo
de abertura política conduzido por Figueredo deixam margens para questões:
como ser livre com fome? Democracia combina com falta de liberdade?
Educação precisa ser um direito de todos.

A grande força crítica da obra reside na explicação dos traumas e


derrotas infligidas às organizações das classes populares e possibilidades de
ação – “uma arma política de reativação da experiência da luta de classes”.

A estreia do filme no ano em que nasce o MST promoveu o discurso


de Elisabeth Teixeira, já com 82 anos em Brasília para uma plenária com 17 mil
militantes. Até hoje, o ataque das classes dominantes ao processo acelerado
de apropriação dos meios de produção e conhecimento por parte dos
trabalhadores tem se acirrado na mesma medida do avanço da organização
popular.

Referência Bibliográfica
VILAS BÔAS, Rafael Litvin. O cinema como força de ativação: Cabra
marcado pra morrer e o legado de nossa tragédia. Crítica Marxista, n.28,
p.153-162, 2009.

-1964: Entrevistas | Marcelo Ridenti - A ditadura que mudou o Brasil


https://www.youtube.com/watch?v=_2_eN2du05g

-Filme: Cabra Marcado para Morrer, Eduardo Coutinho (1984)


https://www.youtube.com/watch?v=HGSRLIs8BGw

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