Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1891-1894
FERNANDO MARCELINO
2
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO
NA PUBLICAÇÃO (CIP)
Marcelino, Fernando
.
3
SUMÁRIO
Revolução e contra-revolução p. 28
Floriano p.40
Referências p. 79
Sobre o autor p. 83
4
O QUE DIZEM DA HISTÓRIA DO BRASIL?
5
história sem resistência popular, sem a difusão de idéias, sem
revoluções, sem contra-revoluções, sem guerra civil, sem governos
nacionalistas ou governos submissos aos interesses estrangeiros,
sem heróis e sem carrascos. Trata-se de um apagamento sistemático
da história brasileira. Uma história feita pelos indiferentes e cheia de
moralismo.
6
interessante que nos ajude a compreender quem somos hoje. É uma
história enfadonha, desvinculada da realidade, como se
acontecimentos fossem espontâneos e surgissem sem qualquer
lógica, sem qualquer ideologia, sem qualquer experiencia histórica.
8
observa que o modo de produção brasileiro não pode ser
caracterizado como capitalista, ou de sentido capitalista, por
apresentar monopólio da terra e relações de trabalho não
assalariadas. Não sendo ainda capitalista, O Brasil estaria em
transição do feudalismo ao capitalismo. E sustentou estas teses até
1990.
9
Estado brasileiro. O país foi articulado em um todo único,
individualizou-se em um território unificado. Este foi o primeiro
passo da transição da colônia à nação estruturada; 2ª - a supressão
do tráfico (1850) e a Abolição da escravatura (1888), que integraram
a grande massa da população trabalhadora à sociedade brasileira; 3ª
- a partir de 1870, a imigração, que trouxe qualidade técnica ao
trabalho, aumentou a produtividade, melhorou a qualidade cultural
do trabalhador; 4ª - a República, a constituição de um Estado e de
um Direito burgueses. Tudo feito “por cima”, com acordos entre as
classes dominantes, que aceitaram esta transformação de escravistas
para capitalistas sem qualquer ruptura importante.
10
apenas de reduzidos grupos civis e sem nenhuma participação
popular”. Nem cita as reformas florianistas, nem as revoltas
sertanejas de Canudos e Contestado.
11
Não teria se formado no Brasil uma burguesia portadora de
uma consciência revolucionária, plenamente integrada e consciente
de seu destino histórico, mas um estrato social que pretendia uma
evolução com a aristocracia agrária, não contra ela, nos moldes de
uma revolução “dentro da ordem”. E assim o Brasil teria virado
capitalista, numa evolução “a partir de cima” do Império até a
República. Assim, a revolução burguesa teria um caráter de
“contrarrevolução preventiva” no sentido de antecipar as revoltas do
proletariado e legitimar a ordem burguesa. A revolução burguesa
brasileira teria sido conduzida pelo alto, por intermédio de uma
aliança, ao nível do Estado, entre os setores dominantes e sem uma
efetiva participação dos “de baixo” nesse processo. É uma revolução
que não é revolução. Os sujeitos dessa revolução burguesa no Brasil
eram desprovidos de uma orientação democrática e nacional e, por
isso, não tinham como meta a construção de um desenvolvimento
capitalista interno autônomo. Em virtude disso, o legado da
transição ao capitalismo foi um grande déficit nos marcos
civilizatórios e políticos conquistados pelas clássicas revoluções
democrático-burguesas. A revolução francesa sem dúvida seria uma
revolução. O mesmo sobre a norte-americana, russa, chinesa, etc.
Nada parecido teria passado aqui, uma história feita “por cima”, sem
conflitos e rupturas revolucionárias.
12
metrópole. Em “Escravismo Colonial” retoma o debate sobre o
caráter da formação social brasileira nos períodos colonial e
imperial, muito em voga nos anos 50 e 60, e afirma uma tese
absolutamente original: a de que no Brasil desenvolveu-se como
modo de produção dominante não o feudalismo, como defendiam o
PCB e teóricos como Nelson Werneck Sodré e Alberto Passos
Guimarães (e ele mesmo anteriormente, como intelectual e dirigente
pecebista); nem o capitalismo, como acreditavam Caio Prado Júnior,
a chamada “escola paulista de sociologia” (Florestan Fernandes,
Fernando Henrique Cardoso e Otavio Ianni) e mesmo organizações
de esquerda e teóricos que criticavam a estratégia pecebista de
revolução nacional e democrática como a Polop (Política Operária) e
Ruy Mauro Marini. Ao contrário, no Brasil havia se desenvolvido um
modo de produção historicamente novo, o escravismo colonial, com
leis de tendência e dinâmica específicas e distintas dos outros modos
de produção, mesmo do escravismo antigo, vigentes nas sociedades
grega e romana.
13
brasileira, mesmo considerando-a de modo particular como buscam
fazer os analistas que se utilizam dos conceitos de revolução
“passiva”, revolução “por cima”, “caminho prussiano” ou ainda
“contra-revolução permanente”. Mesmo na chamada “Revolução de
1930”, considerado por muitos o principal momento de ruptura na
trajetória do capitalismo brasileiro, o que houve não foi uma
revolução, mas uma alteração na correlação de forças no interior do
bloco no poder que apeou as oligarquias exportadoras do núcleo do
poder, sem derrota-las completamente, e permitiu a “desobstrução”
do desenvolvimento capitalista com uma orientação econômica
favorável ao mercado interno e ao desenvolvimento industrial. No
final da vida, Gorender veio relativizar seu estamento “não revolução
burguesa no Brasil” para apontar que a única revolução social digna
deste nome ocorrida no Brasil foi a abolição da escravidão (1888),
que aboliu o escravismo colonial e teve como complemento a
proclamação da República (1989). Porém, apesar de elucidar a
formação social brasileira com o modo de produção escravista
colonial, Gorender não pode elucidar a transição do escravismo
colonial ao capitalismo, bem como a reação das classes escravistas
ao avanço burguês. Os avanços de Gorender na formulação histórica
de um modo de produção escravista colonial são evidentes,
absolutamente cruciais para compreensão da história brasileira. O
que falta é a compreensão sobre como passamos de país
escravocrata colonial para capitalista no final do século XIX.
14
nasce as elaborações com Otávio Brandão, passando por Caio Prado
Jr, Nelson Werneck ao marxismo uspiano, não se atende a revolução
republicana como instauradora uma hegemonia burguesa no Estado.
Uns dizem que “nunca houve revolução burguesa” e outros que
houve uma “transição pacífica e sem rupturas importantes”.
16
Baixando ainda mais o nível, Olavo de Carvalho dizia que
“o golpe republicano foi a maior desgraça que já aconteceu com
o país. Tudo começou com a influência dos positivistas que
queriam destruir a tradição cristã do Brasil. A modéstia da corte
foi substituída pela corrupção que não tenha no Império”.
Leandro Nardoch fala “Dom Pedro II era quase um rei absoluto,
mas raramente tomada decisões autoritárias”, “a humildade de
Dom Pedro II se revelava no cuidado que ele tinha com os gastos
pessoais”, “Dom Pedro II tolerava opiniões divergentes e ligava
pouco para o poder”, “a monarquia não demorou para dar fim à
escravidão”, “Dom Pedro II respeitava todos os políticos”
(NARLOCH, 2011).
17
da República seria um “golpe de Estado ilegítimo” aplicado pelos
militares. “A proclamação foi um golpe de uma minoria
escravocrata aliada aos grandes latifundiários, aos militares, a
segmentos da Igreja e da maçonaria. O que é fato notório é que foi
um golpe ilegítimo”, disse à BBC News Brasil o empresário Luiz
Philippe de Orleans e Bragança, tataraneto de D. Pedro II e militante
do movimento de direita Acorda Brasil. Em 2018, recebeu 118.457
votos no Estado de São Paulo e se elegeu deputado federal pelo PSL.
18
Reduzem tudo isso a um “golpe militar” de menor importância.
E repetem sem verificação dos personagens, movimentos e
acontecimentos que “a passagem do Império para a República
não foi marcada por uma grande revolução nem por uma
significativa participação popular”.
19
Desentendimentos entre republicanos, sobretudo entre militares e
civis e militares entre si (Exército e Marinha) resultaram em golpes
e contragolpes, revoltas armadas, greves operárias, constante
agitação nas ruas. Particularmente agitado foi o governo de Floriano
Peixoto (1891-1894), cujo carisma inspirou intensa participação
popular na defesa da República contra a Revolta da Armada (1893-
1894) e contra os federalistas no Rio Grande do Sul (1893-1895).
Não sem razão, seus seguidores foram chamados de jacobinos.
Morto Floriano, no entanto, e subindo ao poder Prudente de Moraes
(1894-1898), a liderança republicana, civil e conservadora, começou
a desmontar a base florianista. O episódio culminante desse esforço
se deu em 1897, quando jacobinos tentaram assassinar o presidente,
resultando do episódio a morte do ministro da Guerra. A partir daí,
os florianistas foram varridos da cena política. A revolta popular de
Canudos (1893-1897) foi vista equivocamente como
antirrepublicanas (CARVALHO, 2017, p.22).
20
Império. Bestializados estavam todos os que não participaram da
conspiração secreta: Conservadores, Liberais, Republicanos radicais,
classes médias, jornalistas, escravos. Eduardo Silva, numa visão
mais moderada acerca do povo, define que “percorrendo os antros
da gentinha podemos perceber, contudo, que não era unânime a
aclamação dos povos e que, por trás dos “bestializados”, existiam
posições políticas – e éticas – muito claras”. A versão de uma
suposta elite letrada indiferente também parece ser mais um pilar do
argumento dos “bestializados”. Para a nossa intelligentsia, a
República era mais um sentimento estético que propriamente
prático ou político. Como se dizia: “Era belo ser republicano, como
era belo ser abolicionista”.
21
como a de Carlos Bernardino de Moura reuniam um número de 2
mil espectadores antes mesmo da fundação do Partido Republicano.
22
demonstrar-lhe que a soberania nacional reside no povo e não na
Coroa”.
23
que a propaganda de Silva Jardim atinge uma atitude “realmente
catequizadora e militante”.
24
erupção. No dia 1 de julho de 1891, acompanhado de Carneiro de
Mendonça, arranjam um guia e vão até a cratera, aproximam-se da
borda, no exato momento que o solo treme e Antônio da Silva
Jardim é tragado pelo Vulcão por uma fenda que se abriu na cratera
da montanha - não se sabendo se foi um acidente ou um ato
voluntário.
25
De 1500 até o século XIX, o Brasil passou de lugar
desconhecido para o Ocidente, para invadido, ocupado, colonizado,
unido, republicano e burguês. Nossa história desemboca no final do
século XIX visando uma revisão geral de rumos. Em nossa visão, o
Império escravista e aristocrata se enfraqueceu severamente depois
da Guerra do Paraguai, levando a Revolução Brasileira, culminando
com a Abolição, a República, o governo Floriano Peixoto e a Guerra
Civil, depois com a restauração branda da República Velha até a
Revolução de 1930.
27
REVOLUÇÃO E CONTRA- REVOLUÇÃO
28
Hannah Arendt, por exemplo, assinala que: "só se pode falar
de Revolução, quando a mudança se verifica com vistas a um novo
início, quando se faz uso da violência para constituir uma forma de
governo absolutamente nova e para tornar real a formação de um
novo ordenamento político, e quando a libertação da opressão visa
pelo menos à instauração da liberdade”. A socióloga Theda Sckopol
considera a ocorrência de uma revolução somente quando há o
emprego da violência para derrubar as autoridades políticas do
poder, substituindo-as por outras, que se encarregarão, numa etapa
imediatamente posterior, de efetuar mudanças no sistema político
como um todo, nas relações sociais e na estrutura econômica.
29
dominantes, reclamar por direitos e ações coletivas, uma parte de
propõe a se apropriar do poder do Estado num ambiente de maior
participação da massa em assuntos políticos diante da incapacidade
dos governantes em neutralizar aspirações, gerando ciclos de
protestos, ondas de mobilização, entre avanços e recuos.
31
Nos EUA, depois de dois anos de guerra, Lincoln transforma a
abolição da escravatura como forma de derrotar os confederados.
Assinando em 16 de abril a abolição, Lincoln visava destruir as bases
do poder oligárquico sulista. A emancipação proporcionada pela 13
emenda foi retraída após o assassinato de Lincoln.
33
perceber a revolução como uma ameaça para seus próprios
países se ela se mostrasse vitoriosa na França.
35
girondinos e burgueses, e em conjunto, estes dois grupos apelam
para um golpe de Estado para ceder o poder a um novo monarca.
37
e contrários a mudança tem sua intensidade elevada e decidirá a
formação do futuro. Não raramente as forças reacionárias vencem o
confronto e então podemos dizer que toma forma a contrarevolução.
38
Quando a contra-revolução alcança a um nível militar, os
revolucionários (ou reformistas) devem ter condições de dissuadir as
manifestações de violência, desde a sabotagem até o terrorismo.
Mesmo em situações em que existe uma rejeição estratégica da
guerra civil, a contra-revolução se atira num confronto armado
quando não consegue impor sua vontade pelas articulações políticas.
A medida que velhas classes dominantes percam poder, prestígio e
legitimidade, transformam o governo em inimigo, que os leva a
desenvolver sua capacidade de financiamento, apoio político,
autodefesa, segurança, contatos militares e então numa dinâmica
violenta quando acreditam que podem fazer frente a um governo
nascente, muitas vezes confuso e cheio de distensões. Provocações
para arrastar o governo para repressão e perder apoio popular e
internacional.
39
FLORIANO
41
A propaganda florianista difundia a ideia de que o Marechal
não estava só, tinha o “povo” a seu lado. Isto é o que dava
legitimidade à sua obra política e coletiva. Era uma “relação dialética
que se justificava porque Floriano Peixoto e florianistas se
apropriavam reciprocamente.” (PENNA, 1999, p. 18). Dentre estes
florianistas havia positivistas. Destaca-se, sobretudo, os
pertencentes à Igreja Positivista do Brasil, IPB, sob liderança de
Miguel Lemos e Teixeira Mendes. Estes respeitavam uma liderança
militar genuína, saída da aclamação popular. Para a direção política
era necessário apenas o decreto de medidas por um líder sábio. Esse
líder era Benjamin Constant, segundo os membros da IPB, os quais
o incentivaram a proclamar a ditadura republicana, quando a
República foi instituída em 15 de novembro de 1889. Benjamin
Constant não aceitou essa sugestão. Floriano Peixoto não era o líder
sábio ideal, entendiam os pertencentes à IPB, mas tinha o carisma
popular, além de ter participado “positivamente” para a
Proclamação da República. Assim, o apoio ao governo de Floriano
Peixoto era dúbio por parte da IPB, que entendia ser ele um líder
forte e autoritário (características admiráveis para os positivistas),
mas que se negou a implantar uma ditadura republicana.
A vós, que sois moços e trazeis vivo e ardente no coração o amor da Pátria
e da República, a vós corre o dever de amparal-a e defendel-a dos
ataques insidiosos dos inimigos". A mim me chamais o consolidador da
República. Consolidador da obra grandiosa de Benjamin Constant e
Deodoro são o exército nacional e uma parte da armada, que a Lei e às
instituições se conservaram fiéis.
Consolidador da República é a guarda nacional, são os corpos de polícia
da Capital e do estado do Rio, batendo-se com inexcedível heroísmo e
selando com o seu sangue as instituições proclamadas pela Revolução
de 15 de novembro.
Consolidador da República é a mocidade das escolas civis e militares
derramando o seu sangue generoso para com ele escrever a página
mais brilhante da história das nossas lutas.
Consolidador da República, finalmente, é o grande e glorioso partido
republicano, que, tomando a forma de batalhões patrióticos, praticou
tais e tantos feitos de bravura, que serão ouvidos sempre com
admiração e respeito pelas gerações vindouras.
São esses os heróis para os quais a Pátria deve volver os olhos,
agradecida.
À frente de elementos tão valiosos, não duvidei, um momento sequer , do
nosso triunfo, e, pedindo conselhos a inspiração e a experiência e
procurando amparo no sentimento da grande responsabilidade que
trazia sobre os ombros tive a felicidade de poder guiar os nossos no
caminho da vitória. [....]" – Floriano Peixoto, junho de 1895.
44
história do Brasil, apenas o suicídio de Getúlio produziu tal comoção
nacional.
45
também ganhou destaque, estando em ordem cronológica inclusive
no título do poema.
46
A GUERRA CIVIL BRASILEIRA
53
No Rio de Janeiro, Floriano tinha receio de que Custódio
poderia se coadunar com forças estrangeiras num cenário de
conflito. Havia na baía da Guanabara um navio de guerra francês,
três ingleses, um italiano e um português. Seus comandantes
levaram aos revoltosos a preocupação com a destruição de vidas e
propriedades estrangeiras. Custódio se comprometeu a não atacar
mais a cidade. Para Floriano, pediram que retirasse as baterias
instaladas, que não o fez, mantendo as fortificações no morro apesar
de por vezes dizer que ia retirá-las. No “acordo de 5 de outubro”, as
força estrangeiras estabeleceram um conjunto de regras a serem
seguidas pelo governo e pelos revoltosos. Entre as medidas, o Rio de
Janeiro foi considerado “cidade aberta” e, portanto, não poderia
sofrer ataques ou agressões de ambos os lados. A proibição de
bombardeios à capital, deu à Floriano tempo necessário para
reorganizar suas forças.
58
Na madrugada de 22 de janeiro, Gumercindo preparava o
ataque ocupando a mata e as casas do morro do Monge. De manha
atacavam a vila com canhões, fuzis e metralhadoras. Tomam a
estação da Estrada de Ferro, o cemitério e o engenho. Os pica-paus
com artilharia e fuzilaria respondem desalojando maragatos das
matas e das casas invadidas, retomam o cemitério e a estação. O fogo
cerrado contínuo dos outros dias destrói a cidade.
60
Na madrugada de 16 de abril de 1894 ocorre o último combate
naval. Eram 11 embarcações florianistas contra o temido
encouraçado Aquidaban, principal navio da Revolta Armada. Era o
último elo de resistência. Quase meia-noite, a frota bombardeia a
Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, ao norte de Desterro. O
comandante e toda tripulação abandonam a embarcação, buscando
abrigo e retirada por terra. Era a primeira vez que se utilizava
torpedos num combate naval no Brasil. Na fortaleza da ilha de
Anhatomirim, próxima de Desterro, quase duzentos maragatos,
estrangeiros, políticos e juízes, como o desembargador Francisco
Antônio Vieira Caldas, são fuzilados por ordem do coronel Moreira
César – que depois veio a morrer em Canudos, na Bahia. Moreira César
iniciou então uma operação pente fino na ilha de Santa Catarina e
colocou toda força à sua disposição no encalço dos remanescentes
revolucionários. A cidade recuperada foi batizada de Florianópolis.
61
Mendonça, Matos Guedes, José Ferreira e Presciliano Correia. No Rio
Grande do Sul, em abril de 1894, tropas do general Firmino de Paula
conseguem surpreender um grupo maragato de Ubaldino Machado.
Foram degolados 370 maragatos em respostas às degolas em Rio Negro,
poucos meses antes. Nos conflitos posteriores não se pouparam os
adversários. Em novembro, morria Gumercindo em Corovi. No dia 15
de novembro de 1894 assume Prudente de Moraes.
63
POR QUE FLORIANO VENCEU A GUERRA,
MAS PERDEU O PODER?
64
paulistas mantiveram firme controle do governo estadual e
protegeram-no contra interferências excessivas do governo federal,
em parte pela manutenção de uma forte organização militar própria
– a polícia estadual – à qual não regateavam recursos os prósperos
cafeicultores.
66
deodoristas ou o federalismo monarquista de Silveira Martins
colocaria em xeque a autonomia dos estados e as classes dominantes
locais. Só que enquanto Floriano mobilizava a resistência armada
contra as forças reacionárias, os paulistas tratavam de ocupar a
política, se organizando num novo partido e lançando Prudente de
Moraes para sucessão. Ficaram em campanha por quase um ano, se
articulando com as oligarquias regionais para garantir a ascensão ao
poder depois da guerra civil que se desencadeava fortemente de
março de 1893 até fevereiro de 1894, quando o governo passou a
ofensiva para debelar definitivamente os revoltosos. Neste meio
tempo, as divisões entre os revolucionários cresciam e a unidade das
oligarquias aumentava.
69
atendessem as camadas populares, afastando militares da política e
desmontando seus aparelhos ideológicos.
70
MOTIVAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS DA
GUERRA CIVIL BRASILEIRA
73
O que alguns entendem como “Revolução Federalista” foi a
união de interessados na restauração monárquica e escravocrata,
promovendo uma guerra civil de grandes proporções. Era um
movimento retrógrado e armado, contra-revolucionário, de objetivos
restauradores. Eram os pica-paus os defensores da república e do
federalismo, com um governo era de orientação nacionalista e
centralizadora. Os escravocratas, monarquistas e liberais acusavam
o Floriano de autoritário. Para seus apoiadores, chamados
florianistas, seu lider era o “Salvador da República”, ou mesmo o
“Robespierre brasileiro” em referência a Revolução Francesa e
“Lincoln brasileiro’ em relação à guerra civil nos Estados Unidos.
74
federalista dos maragatos: derrubar a República, reinstalar a
escravidão num sistema parlamentarista, que incluísse a antiga
realeza, ou mesmo restaurar a monarquia. Monarquistas (que
diziam ser “federalistas”), apoiados por poderosas fracções
regionais, não conformados pelo novo regime, desencadeiam uma
guerra total contra Floriano Peixoto, numa contra-revolução
extremamente violenta. Enquanto os centros urbanos queriam que o
Brasil avançasse contra a escravatura e a monarquia, as forças
monarquistas misturadas com escravistas e parlamentaristas
passaram para ações visando depor Peixoto e implantar um
parlamentarismo ou o retorno da monarquia de tal forma que fosse
possível restaurar a escravidão.
75
hegemonia burguesa em relação às outras regiões e, finalmente,
encerrou o debate sobre as possibilidades de restauração da
monarquia, inaugurando uma duradoura era de reconhecimento da
República. Não só a escravidão jazia ferida de morte, como a elite
escravocrata, que havia controlado o Império por várias décadas,
agora estava militar e economicamente derrotada. E essa passagem
da Monarquia para a República não teve nada como uma transição
pacífica entre as classes dominantes, culminando com a guerra civil
de maragatos e pica-paus, um dos mais trágicos e sangrentos
conflitos naquela época no mundo.
76
república brasileira. Ela foi usada com base em um critério
republicano radical, nas suas promessas para o contexto brasileiro
da época. Contribuiu para criar uma narrativa política sobre os
acontecimentos ocorridos e vindouros, para enaltecer o
protagonismo político das forças armadas no combate contra a
escravidão. Na verdade, ao alegar a falta de importância histórica da
revolução e contra-revolução brasileira, que revisionistas e liberais
almejam, se nega o papel do povo na história e sua capacidade em
mudar os rumos da sociedade. Hoje, 120 anos depois, é possível
reconstruir o sentido histórico da guerra civil com maior clareza,
expressão da luta pela emancipação nacional.
77
REFERÊNCIAS
78
DA SILVA, Ernani. A grande jornada de Gumercindo Saraiva, o Napoleão dos
Pampas, na Revolução Federalista de 1893. Semina - Revista dos Pós-
Graduandos em História da UPF, v. 12, n. 1, 2013.
D'ALBUQUERQUE, Américo. Floriano Peixoto: O consolidador da
República. Esboço biográfico. Rio de Janeiro, 1894.
FAUSTO, Boris. A revolução de 1930: historiografia e história. 3. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1975.
FAUSTO, Boris (org.). História Geral da Civilização Brasileira: O Brasil
Republicano, Tomo III. Vol. 1. São Paulo; Ed. Difel, 1975.
FERNANDES, Florestan. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de
interpretação sociológica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.
79
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil São Paulo: Companhia das
Letras. 1995.
80
______. O Progresso da Ordem — o florianismo e a construção da República.
Rio de Janeiro: Sette Letras, 1997.
PRADO Jr., Caio. Evolução Política do Brasil, Brasiliense, SP, 1980.
_____. História Econômica do Brasil, Brasiliense, SP, 1982.
_____. A revolução brasileira, Brasiliense, SP, 1987.
_____. Formação do Brasil Contemporâneo, Brasiliense, 2000.
REVERBEL, Carlos. Maragatos e Picapaus; Guerra Civil e Degola no Rio
Grande. Porto Alegre: L&PM Editores, 1985.
RUY, José Carlos. “Visões do Brasil” – in Princípios, n. 52 a 59, Anita Garibaldi,
SP, 1999/2000.
SAES, Décio. A formação do Estado burguês no Brasil (1888-1891), Paz e Terra,
SP, 1985.
SAES, Guillaume Azevedo Marques de. A República da Espada: a primeira
década republicana e o florianismo. São Paulo: Dissertação de Mestrado,
Universidade de São Paulo, 2005.
SILVA, Ana Carolina Feracin da. Entre a Pena e a Espada: literatos e jacobinos
nos primeiros anos da República. Campinas: Dissertação de Mestrado,
Unicamp, 2001.
SIMAS, Luiz Antonio. O Evangelho segundo os jacobinos - Floriano Peixoto e o
mito do salvador da República brasileira. Rio de Janeiro: Dissertação de
Mestrado, PPGHIS/UFRJ, 1994.
SODRÉ, Lauro. Os sucessos de 14 de novembro de 1904, os republicanos, a
nação brasileira, o major Gomes de Castro no plenário militar. Rio de Janeiro:
Typ. Jornal do Commércio, 1905.
SODRÉ, Nelson W. "Modos de Produção no Brasil". In LAPA, José R. A. Modos
de Produção e Realidade Brasileira Petrópolis, Vozes, 1980.
____. Capitalismo e a revolução burguesa no Brasil. Belo Horizonte: Oficina de
Livros, 1990.
____. Introdução à revolução brasileira. 4. ed. São Paulo: Ciências Humanas,
1978.
____. História da burguesia brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1964.
____. Raízes históricos do nacionalismo brasileiro. Rio de Janeiro, 1960.
SKIDMORE, Thomas E. O Brasil visto de fora. 2ª edição. Rio de Janeiro: Paz e
Terra. 2001.
81
SILVA, Eduardo. As queixas do povo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
SILVA, Luiz José Pereira. Floriano Peixoto: Traços biográficos. Rio de
Janeiro, 1894.
SILVEIRA, Rosa Maria Godoy. Republicanismo e federalismo: um estudo da
implantação da República Brasileira (1889-1902). Brasília: Senado Federal,
1978.
SILVA, C. Floriano Peixoto: o consolidador da República. São Paulo: Edagert,
1963.
SOBRE O AUTOR
Fernando Marcelino, graduado em Relações Internacionais pela
UNICURITIBA, Mestre em Ciência Política e Doutor em Sociologia
pela UFPR. Atuou no Escritório Paraná-China ligado ao Instituto
Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES).
Autor dos livros “Classes Dominantes no Paraná” (2019), “COVID e
a nova geopolítica global” (2020), “Em defesa do projetamento:
Ignácio Rangel e o desenvolvimento brasileiro” (2022), “Última
Hora” (poemas, 2022), “China: novos ensaios” (2023), “Marx no
século XXI” (2023) e diversos textos e artigos. Militante do
Movimento Popular por Moradia – MPM.
82