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A GUERRA CIVIL BRASILEIRA

1891-1894

FERNANDO MARCELINO

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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO
NA PUBLICAÇÃO (CIP)

Marcelino, Fernando

A guerra civil brasileira (1891-1894). / Fernando


Marcelino Pereira. – Curitiba, 2023.

1. História do Brasil. 2. Floriano Peixoto.


3. Revolução Brasileira

.
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SUMÁRIO

O que dizem da história do Brasil? p.05

Revolução e contra-revolução p. 28

Floriano p.40

A Guerra Civil Brasileira p. 47

Por que Floriano venceu a guerra, mas perdeu o poder? p. 64

Motivações e consequências da guerra civil brasileira p.71

Referências p. 79

Sobre o autor p. 83

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O QUE DIZEM DA HISTÓRIA DO BRASIL?

O Brasil é um dos únicos países que nega suas próprias


revoluções. Livros são escritos para comprovar que aqui nunca
houve uma revolução brasileira. O pensamento liberal, conservador,
monarquista e marxista se digladiam para provar que na história do
Brasil não existem fortes distúrbios políticos que podem levar a
revoluções e guerras civis, que a história brasileira seria feita por
“homens cordiais” que não entram em conflito por suas ideias e que
só existem transformações sociais pacíficas. Se diz até que a
transição do escravismo colonial para o capitalismo teria ocorrido
naturalmente, de forma evolutiva, em acordos formais das antigas
classes dominantes, sempre preservando suas características
fundamentais. De um dia para outro a classe escravocrata teria se
transformado em capitalista, sem rupturas. Sua consciência teria se
evoluído de tal forma que chegaram à conclusão que o trabalho livre
seria melhor que o trabalho escravo.

São feitos diversos livros chamados “a revolução brasileira”


para dizer que nunca houve uma revolução brasileira. E assim, o
Brasil nega sua história. Deixa de ser uma história marcada pela
luta, para ser uma história de gentilezas da classes dominantes, dos
avançados modos de vida do Império, sobre como os senhores de
terra tratavam bem seus escravos, da sempre ação correta e coesiva
dos governantes, alternados por alguns tiranos e ditadores que só
trouxeram o pior para o país. Entretanto, esta é a história da
carochinha, como dizem. Feita para omitir e mentir sobre o sentido
histórico dos acontecimentos mais importantes e cruciais. É uma

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história sem resistência popular, sem a difusão de idéias, sem
revoluções, sem contra-revoluções, sem guerra civil, sem governos
nacionalistas ou governos submissos aos interesses estrangeiros,
sem heróis e sem carrascos. Trata-se de um apagamento sistemático
da história brasileira. Uma história feita pelos indiferentes e cheia de
moralismo.

Sérgio Buarque de Holanda fez a cabeça de muita gente com a


noção de “homem cordial”. Para ele, a transição do Império para a
República foi extremamente cordial, realizada sem maior
repercussão na vida nacional. Repete o mantra de um jornalista da
época, dizendo que “o povo assistiu bestializado”, portanto, alheio -
como se isso tivesse um valor completo para compreender os
acontecimentos entre 1888 e 1894. Jornais na Revolução Francesa
em 1789 estavam repletos de manchetes como: “o povo está sem
saber o que fazer”, “ninguém esperava”, “o que querem os
revoltosos?”, “até quando ficaremos sem saber o que se passa”.
Tomar eles como base certamente não dão uma ideia real do que se
passou. É o mecanismo de tomar a parte pelo todo, destacando um
ponto menor para provar uma tese. No caso do Brasil, “que não
houve revolução”, “não houve guerra civil”, nunca se sabendo ao
certo a partir de qual critério se estaria se falando.

É impressionante como historiadores – liberais, conservadores


e marxistas – desvirtuam a história do Brasil. Omitem fatos
determinantes e interpretam os acontecimentos com uma visão sem
qualquer preocupação em apontar impactos profundos da
transformação social. É um papo furado que nossa história é feita
sem conflitos, com homens cordiais, com de acordo “entre elites”, de
revoluções que não são revoluções, de falta de qualquer coisa

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interessante que nos ajude a compreender quem somos hoje. É uma
história enfadonha, desvinculada da realidade, como se
acontecimentos fossem espontâneos e surgissem sem qualquer
lógica, sem qualquer ideologia, sem qualquer experiencia histórica.

Seja no escravismo colonial, na Independência, na Guerra do


Paraguai, na Abolição, na Proclamação da República, na Revolução
de 1930. Tudo se passaria tranquilamente, sem qualquer maior
relevância. Melhor seria que apagássemos a história e reescrever
outra. E assim fazem. É lamentável que tantos historiadores,
políticos e interessados sigam nesta mesma rota. Escrevem livros e
mais livros para demonstrar que nossa história foi irrelevante,
apenas uma série de fatos desconexos.

São incontáveis pesquisas balizando este caráter sem méritos


de nossa história – dizem que a Abolição foi uma obra do Império,
não realizada pela mobilização popular, pressão do exército de
positivistas, das classes urbanas, abolicionistas e a difusão da
literatura romântica. A República teria sido um golpe sem povo,
implantando o capitalismo magicamente sem qualquer revolução.
Revoltas como Canudos e Contestados seriam fenômenos
“messiânicos” sem a menor importância. A revolução de 1930 seria
um movimento fascista baseado em Mussolini. O período de 1930
até 1964 foi um “populismo falido”.

A velha e nova historiografia – de esquerda e direita – procura


diminuir a significação histórica e as transformações da revolução
brasileira, cujo impacto extraordinário e duradouro é óbvio, pois
ainda vivemos numa república. Porém, teria sido no máximo uma
espécie de golpe de Estado que o povo viu bestializado, como é a
interpretação mais comum.
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Durante a década de 1950 e 1960 são diversos livros
publicados sobre a revolução brasileira, incluindo pensadores
marxistas. Contribuições de Sérgio Buarque de Holanda, Nelson
Werneck Sodré, Gilberto Freyre, Celso Furtado, Guerreiro Ramos,
Jacob Gorender e Caio Prado Júnior abordam a categoria revolução
brasileira.

Gilberto Freyre pensa a revolução como um processo histórico


de média e longa duração, para além de um motim ou quartelada. O
patriarcado agrário e escravista acomodou-se com a Primeira
República como o patriarcado escravista se acomodara ao Império.
Na interpretação de Freyre, a formação e a consolidação do
patriarcado rural ocorrem entre os séculos XVI a XVII, idade de
ouro do Brasil. O complexo patriarcal da casa grande é o fator
determinante de nossa formação histórica, em virtude da
generalidade a todo território da forma de organização patriarcal ou
tutelar não apenas da família, como da economia, da política e da
sociedade fundadas na miscigenação e hierarquia, na monocultura,
no latifúndio e no trabalho escravo e servil. A partir do século XVIII
iniciar-se-ia o declínio do patriarcado rural, que se acentua no século
XIX e XX. As revoluções sangrentas são episódios ligados à América
espanhola, mas não ao Brasil, na visão de Freyre (2004), pois na
versão da história brasileira, narrada por ele, inexistiram as
transformações radicais abruptas, em razão da forma patriarcal, de
alguns brasileiros, estrangeiros e a forma monárquica de governo.

Nelson Werneck Sodré fala de ausência da revolução brasileira


no desenvolvimento histórico. Ele enxerga no Brasil a existência de
uma forma própria de modo de produção pré-capitalista. O autor
denominará este modo de produção de feudalismo brasileiro. Sodré

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observa que o modo de produção brasileiro não pode ser
caracterizado como capitalista, ou de sentido capitalista, por
apresentar monopólio da terra e relações de trabalho não
assalariadas. Não sendo ainda capitalista, O Brasil estaria em
transição do feudalismo ao capitalismo. E sustentou estas teses até
1990.

A obra de Caio Prado Jr. A Revolução Brasileira, de 1966,


escrita e recebida de forma apaixonada no ambiente de derrota das
esquerdas pós-golpe de 64 busca uma revisão histórica do Brasil.
Para ele, a economia brasileira nasceu como grande exploração
comercial, criada pelo capitalismo mercantil europeu e voltada para
o mercado externo. O Brasil sempre compartilhou do mesmo
sistema e das mesmas relações econômicas que teriam dado origem
ao capitalismo. O escravismo que predominou aqui não seria
incompatível com o modo de produção capitalista. A abolição da
escravidão seria a culminação de um modo de produção já
implantado desde o início. A substituição da mão-de-obra escrava
não teria afetado a natureza estrutural da grande exploração
capitalista. O escravo aproxima-se do assalariado: é uma força de
trabalho que não possui os meios de produção, não decide sobre o
produto a produzir, reivindica não os meios de produção, mas
melhor remuneração e incentivos. No Brasil colonial,
predominariam a grande propriedade rural que produzia para
exportação e não a pequena propriedade explorada por camponeses.
No Brasil não teria se constituído uma classe camponesa, que
produzisse em pequenas propriedades e em família. Para Caio
Prado, seriam quatro etapas: 1a - a independência política, iniciada
em 1808 e consolidada em 1822, quando se começou a estruturar o

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Estado brasileiro. O país foi articulado em um todo único,
individualizou-se em um território unificado. Este foi o primeiro
passo da transição da colônia à nação estruturada; 2ª - a supressão
do tráfico (1850) e a Abolição da escravatura (1888), que integraram
a grande massa da população trabalhadora à sociedade brasileira; 3ª
- a partir de 1870, a imigração, que trouxe qualidade técnica ao
trabalho, aumentou a produtividade, melhorou a qualidade cultural
do trabalhador; 4ª - a República, a constituição de um Estado e de
um Direito burgueses. Tudo feito “por cima”, com acordos entre as
classes dominantes, que aceitaram esta transformação de escravistas
para capitalistas sem qualquer ruptura importante.

A análise d'A Revolução Brasileira de Caio Prado indica que ela


não se deu segundo o modelo clássico francês e norte-americano,
mas foi uma transição modernizadora e conservadora: uma
"modernização conservadora". A modernização da estrutura agrária
brasileira não teria levado à supressão da propriedade pré-
capitalista, que se perpetuou e se adaptou ao modo de produção
capitalista. Seria uma "via prussiana", caracterizada por esta
articulação de progresso (adaptação ao capitalismo) e "conservação"
(permanência da velha ordem). Entretanto, esta modernização
conservadora, feita pelo alto, pela conciliação das elites dominantes
entre si e com o imperialismo, excluindo e reprimindo o povo e
cooptando os seus líderes, fez-se contra a "soberania nacional". Crê
uma passagem natural e espontânea do escravismo colonial do
Império no capitalismo na República. Ele chega a afirmar o
seguinte: “não que a proclamação da República tivesse
profundezas políticas ou sociais; a mudança de regime não
passou efetivamente de um golpe militar, com o concurso

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apenas de reduzidos grupos civis e sem nenhuma participação
popular”. Nem cita as reformas florianistas, nem as revoltas
sertanejas de Canudos e Contestado.

Além disso, confunde trabalho escravo com assalariado, sem


qualquer referência histórica. Nenhum trabalhador livre no Brasil
foi obrigado a vir em barcos movidos pela própria força para chegar
em canaviais, trabalhando extensas horas sob chicotes e medo
permanente da morte, muitos não chegando a 30 anos de idade. É
absolutamente descabido, muito próxima da visão oficial que
legitimava a escravidão até o século XIX. Caio também diz que na
Abolição já predominava o capitalismo. Se assim era, por que existe
uma reação violenta pelo restabelecimento da monarquia e a
escravidão? É um aplainamento da história como se a Proclamação
não representasse qualquer ruptura significativa no Brasil.

Em 1974, Florestan Fernandes publicou A revolução burguesa


no Brasil. Defende que a ausência de uma sucessão de
acontecimentos de impacto, de uma revolução propriamente dita,
não impediu o desenvolvimento do capitalismo no Brasil, mas ditou-
lhe um ritmo próprio e uma condição particular. A Independência
abre caminho para a emergência da sociabilidade burguesa – seja
como tipo de personalidade ou como formação social –, bloqueada
até então pela conjugação de estatuto colonial, escravismo e grande
lavoura exportadora. É uma transição suave, com reformas
progressivas do Império que levaram ao estabelecimento do
capitalismo. Nenhuma palavra sobre o governo Floriano em mais de
400 páginas. E, assim, na ausência de uma ruptura com o passado,
haveria uma conciliação pelas reformas republicanas e capitalistas.

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Não teria se formado no Brasil uma burguesia portadora de
uma consciência revolucionária, plenamente integrada e consciente
de seu destino histórico, mas um estrato social que pretendia uma
evolução com a aristocracia agrária, não contra ela, nos moldes de
uma revolução “dentro da ordem”. E assim o Brasil teria virado
capitalista, numa evolução “a partir de cima” do Império até a
República. Assim, a revolução burguesa teria um caráter de
“contrarrevolução preventiva” no sentido de antecipar as revoltas do
proletariado e legitimar a ordem burguesa. A revolução burguesa
brasileira teria sido conduzida pelo alto, por intermédio de uma
aliança, ao nível do Estado, entre os setores dominantes e sem uma
efetiva participação dos “de baixo” nesse processo. É uma revolução
que não é revolução. Os sujeitos dessa revolução burguesa no Brasil
eram desprovidos de uma orientação democrática e nacional e, por
isso, não tinham como meta a construção de um desenvolvimento
capitalista interno autônomo. Em virtude disso, o legado da
transição ao capitalismo foi um grande déficit nos marcos
civilizatórios e políticos conquistados pelas clássicas revoluções
democrático-burguesas. A revolução francesa sem dúvida seria uma
revolução. O mesmo sobre a norte-americana, russa, chinesa, etc.
Nada parecido teria passado aqui, uma história feita “por cima”, sem
conflitos e rupturas revolucionárias.

Jacob Gorender faz sua introdução crítica no debate nos anos


1970, destacando que o modo de produção vigente na formação
social brasileira, após a ocupação portuguesa, não poderia ignorar a
importância da presença dos escravos como força de trabalho
principal. Ao mesmo tempo destaca que a lógica de organização
deste sistema estava orientada aos interesses mercantis da

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metrópole. Em “Escravismo Colonial” retoma o debate sobre o
caráter da formação social brasileira nos períodos colonial e
imperial, muito em voga nos anos 50 e 60, e afirma uma tese
absolutamente original: a de que no Brasil desenvolveu-se como
modo de produção dominante não o feudalismo, como defendiam o
PCB e teóricos como Nelson Werneck Sodré e Alberto Passos
Guimarães (e ele mesmo anteriormente, como intelectual e dirigente
pecebista); nem o capitalismo, como acreditavam Caio Prado Júnior,
a chamada “escola paulista de sociologia” (Florestan Fernandes,
Fernando Henrique Cardoso e Otavio Ianni) e mesmo organizações
de esquerda e teóricos que criticavam a estratégia pecebista de
revolução nacional e democrática como a Polop (Política Operária) e
Ruy Mauro Marini. Ao contrário, no Brasil havia se desenvolvido um
modo de produção historicamente novo, o escravismo colonial, com
leis de tendência e dinâmica específicas e distintas dos outros modos
de produção, mesmo do escravismo antigo, vigentes nas sociedades
grega e romana.

Gorender demonstra a importância e a abrangência das


relações escravistas não apenas na economia, mas na própria
dinâmica histórica da sociedade brasileira desde o início da
colonização, ainda no século XVI, até a abolição da escravidão, em
1888. Esta situação conferiu dada particularidade ao capitalismo
brasileiro, pois o mesmo se viabilizou e desenvolveu sem precisar
passar por uma revolução democrática e anti-imperialista,
prevalecendo uma postura de acomodação e composição entre a
burguesia industrial, as antigas classes dominantes e o
imperialismo. Com base nesta interpretação Gorender afirma a
inaplicabilidade da categoria de revolução burguesa na história

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brasileira, mesmo considerando-a de modo particular como buscam
fazer os analistas que se utilizam dos conceitos de revolução
“passiva”, revolução “por cima”, “caminho prussiano” ou ainda
“contra-revolução permanente”. Mesmo na chamada “Revolução de
1930”, considerado por muitos o principal momento de ruptura na
trajetória do capitalismo brasileiro, o que houve não foi uma
revolução, mas uma alteração na correlação de forças no interior do
bloco no poder que apeou as oligarquias exportadoras do núcleo do
poder, sem derrota-las completamente, e permitiu a “desobstrução”
do desenvolvimento capitalista com uma orientação econômica
favorável ao mercado interno e ao desenvolvimento industrial. No
final da vida, Gorender veio relativizar seu estamento “não revolução
burguesa no Brasil” para apontar que a única revolução social digna
deste nome ocorrida no Brasil foi a abolição da escravidão (1888),
que aboliu o escravismo colonial e teve como complemento a
proclamação da República (1989). Porém, apesar de elucidar a
formação social brasileira com o modo de produção escravista
colonial, Gorender não pode elucidar a transição do escravismo
colonial ao capitalismo, bem como a reação das classes escravistas
ao avanço burguês. Os avanços de Gorender na formulação histórica
de um modo de produção escravista colonial são evidentes,
absolutamente cruciais para compreensão da história brasileira. O
que falta é a compreensão sobre como passamos de país
escravocrata colonial para capitalista no final do século XIX.

O ceticismo sobre a Revolução Brasileira ter sido uma


revolução burguesa emerge na visão marxista da década de 1920. Da
fundação do PCB até nossos dias, o marxismo brasileiro pouco
compreendeu sobre a revolução republicana no Brasil. Quando

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nasce as elaborações com Otávio Brandão, passando por Caio Prado
Jr, Nelson Werneck ao marxismo uspiano, não se atende a revolução
republicana como instauradora uma hegemonia burguesa no Estado.
Uns dizem que “nunca houve revolução burguesa” e outros que
houve uma “transição pacífica e sem rupturas importantes”.

Carlos Nelson Coutinho e Eduardo Viana também falam que


no Brasil houve uma “via prussiana”, excludente para as massas.
José Chasin fala em “via prussiana-colonial”. Na mesma esteira,
Otávio Ianni diz que o Brasil vive uma “contra-revolução
permanente”, sem explicar contra qual revolução que seria a contra-
revolução. Antonio Carlos Mazeo fala que a transição ao capitalismo
no Brasil aconteceu por meio da conciliação fundada numa
autocracia burguesa permanente.

O que não se explicou ainda é como que o Brasil virou um


regime burguês sem uma revolução. Como as classes dominantes
foram tão hábeis em convencer os escravistas que deveriam deixar
de ser escravistas? Como generalizou manufaturas, rompeu com
laços de dependência com Portugal e se instaurou o capitalismo?
Costumam explicar isso como algo espontâneo ou um acordo entre
as elites. Dezenas de livros sobre o Brasil nem citam os conflitos
após a Proclamação da República, se acreditando que Dom Pedro II
passou o poder para Marechal Deodoro e daí para Floriano Peixoto,
sem resistências, e assim foi feita a transição para um regime
burguês.

Em seu livro mais ambicioso, “Uma História do Brasil”


(2000), o brasilianista Thomas Skidmore vai ainda mais longe.
Ele fala que “como a maioria das transições políticas no Brasil, a
República deu-se virtualmente sem derramamento de sangue” e
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que “o Império foi derrubado por um golpe militar e não por
uma revolução social”. Mesmo assim, reconhece o impacto da
nova bandeira “Ordem e Progresso”, a descentralização radical
com Deodoro, que a Igreja Católica Romana foi desoficializada,
títulos aristocráticos não podiam ser mais criados e o Ministro
Rui Barbosa que ordenou a queima dos registros do comércio de
escravos, impedindo qualquer tentativa de compensação dos
donos de escravos e dos ex-escravos. Para ele, nada disso
poderia significar uma revolução no Brasil nem um apagamento
da história. Seu livro ainda conseguiu a façanha de nem citar o
governo Floriano, a Revolta da Armada e dos maragatos. É como
se não tivessem existidos. Do nada, se passaria para a República
dos governadores, marcada pela repressão em Canudos, para ele
um “movimento messiânico sem sentido”.

No ensaio ultra monarquista “Revivendo o Brasil Império”,


assinado pelo pseudônimo de Leopoldo Bibiano Xavier, amigo
íntimo de Dom Luís de Orleans e Bragança, chefe da Casa Imperial
do Brasil em 1991, reafirma a máxima de que “a multidão não
participou e nem aplaudiu a República”. Na contracapa do livro,
Dom Orleans, autoproclamado herdeiro de Dom Pedro II para
continuar a dinastia no Brasil no século XXI, ressalta que

Cem anos se passaram, e os contrastes entre o Brasil atual e o Brasil


Império só têm crescido. No tempo do Império havia estabilidade
política, administrativa e econômica; havia honestidade e seriedade em
todos os órgãos da administração pública e em todas as camadas da
população; havia credibilidade do País no exterior; havia dignidade, havia
segurança, havia fartura, havia harmonia.

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Baixando ainda mais o nível, Olavo de Carvalho dizia que
“o golpe republicano foi a maior desgraça que já aconteceu com
o país. Tudo começou com a influência dos positivistas que
queriam destruir a tradição cristã do Brasil. A modéstia da corte
foi substituída pela corrupção que não tenha no Império”.
Leandro Nardoch fala “Dom Pedro II era quase um rei absoluto,
mas raramente tomada decisões autoritárias”, “a humildade de
Dom Pedro II se revelava no cuidado que ele tinha com os gastos
pessoais”, “Dom Pedro II tolerava opiniões divergentes e ligava
pouco para o poder”, “a monarquia não demorou para dar fim à
escravidão”, “Dom Pedro II respeitava todos os políticos”
(NARLOCH, 2011).

Um movimento que ganhou força nos últimos anos –


principalmente nas redes sociais – diz que a monarquia era o
modelo mais adequado para a sociedade que se tinha no país. O
historiador mais monarquista é o professor Armando Alexandre dos
Santos, da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul).
Frequentemente convidado pela Casa Real para palestras e eventos,
ele é amigo pessoal de D. Luiz Gastão de Orleans e Bragança – que
seria o imperador do país caso fosse uma monarquia – desde os anos
1980. Para Santos, a República representou a instauração de uma
ditadura jamais vivida até então no Brasil. “Foi uma quartelada de
uma minoria revoltosa de militares que não teve nenhum apoio
popular. A própria proclamação foi um show de indecisões: Deodoro
da Fonseca, por exemplo, só decidiu proclamá-la porque foi
pressionado pelos membros do seu grupinho que precisavam de um
militar de patente para representá-los. Foi, acima de tudo, um
modismo, uma imitação servil dos EUA”, argumenta. A Proclamação

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da República seria um “golpe de Estado ilegítimo” aplicado pelos
militares. “A proclamação foi um golpe de uma minoria
escravocrata aliada aos grandes latifundiários, aos militares, a
segmentos da Igreja e da maçonaria. O que é fato notório é que foi
um golpe ilegítimo”, disse à BBC News Brasil o empresário Luiz
Philippe de Orleans e Bragança, tataraneto de D. Pedro II e militante
do movimento de direita Acorda Brasil. Em 2018, recebeu 118.457
votos no Estado de São Paulo e se elegeu deputado federal pelo PSL.

O exagero fazendo da monarquia brasileira quase o paraíso


terrestre pode parecer escandaloso para um cidadão nascido já na
República. O “povo” teria ficado chocado, bestializado. Se o “povo”
assistiu o fim do belo e perfeito Império, por que não foi possível
restaurar a monarquia? Em grande parte, partem da esperança de
encontrar no Brasil um povo que inexiste. Mas engana-se quem
pensa que essa mentalidade é fruto somente dos pouquíssimos
monarquistas ainda existentes no Brasil. Como vimos, também é
presente no pensamento conservador, liberal e marxista.

O historiador Boris Fausto considera a transição entre a


Monarquia a República como “quase um passeio”. Em seu livro
sobre a Revolução de 1930, os tenentistas surgem
espontaneamente, fora da história, e levam Getúlio para o
governo. Isto é, a leitura dos historiador é a queda da monarquia
brasileira ocorreu por disputas de interesses entre as elites
nacionais, não pelo clamor popular em deixar de ser governado
por uma Família Real. Omitem apenas quase cem anos de lutas
pela Independência, as forças sociais geradas na Guerra do
Paraguai, as disputas entre a Igreja e o Estado, o movimento
romântico, as lutas sociais intensas pela abolição da escravatura.

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Reduzem tudo isso a um “golpe militar” de menor importância.
E repetem sem verificação dos personagens, movimentos e
acontecimentos que “a passagem do Império para a República
não foi marcada por uma grande revolução nem por uma
significativa participação popular”.

Segundo José Murilo de Carvalho, é possível afirmar que a


proclamação foi obra quase totalmente dos militares. “Só poucos
dias antes do golpe é que líderes civis foram envolvidos”, fala Murilo.
Especialista no período, o jornalista e historiador José Laurentino
Gomes, autor da trilogia 1808, 1822 e 1889, concorda com a leitura
do “golpe”. Hamilton Monteiro, autor de “Brasil República”, diz “a
República nasceu de um golpe militar”.

José de Murilo de Carvalho também defende a tese de que


“a ausência de povo é o pecado original da República”. De que
povo exatamente se está falando nunca é esclarecido. Porém, por
vezes não consegue omitir todos acontecimentos. Ao mesmo
tempo que fala que o Segundo Reinado (1840-1889) criou um
“arranjo estável” e “sem conflitos entre grupos da elite,
reduziram-se também as oportunidades para as revoltas
populares”, também revela que “havia propagandistas
inspirados na Revolução Francesa, tentavam envolver o povo” e
que “a vitória da República foi facilitada pelo fato de o velho
regime não ter mais apoio entre as principais forças sociais: a
Igreja, o Exército, os antigos senhores de escravos, a juventude
das escolas superiores, profissionais liberais”. Excelente
exemplo de “arranjo estável” este onde as “principais forças
sociais” eram contra. Com a “República sem povo” de Murilo,
em suas próprias palavras:

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Desentendimentos entre republicanos, sobretudo entre militares e
civis e militares entre si (Exército e Marinha) resultaram em golpes
e contragolpes, revoltas armadas, greves operárias, constante
agitação nas ruas. Particularmente agitado foi o governo de Floriano
Peixoto (1891-1894), cujo carisma inspirou intensa participação
popular na defesa da República contra a Revolta da Armada (1893-
1894) e contra os federalistas no Rio Grande do Sul (1893-1895).
Não sem razão, seus seguidores foram chamados de jacobinos.
Morto Floriano, no entanto, e subindo ao poder Prudente de Moraes
(1894-1898), a liderança republicana, civil e conservadora, começou
a desmontar a base florianista. O episódio culminante desse esforço
se deu em 1897, quando jacobinos tentaram assassinar o presidente,
resultando do episódio a morte do ministro da Guerra. A partir daí,
os florianistas foram varridos da cena política. A revolta popular de
Canudos (1893-1897) foi vista equivocamente como
antirrepublicanas (CARVALHO, 2017, p.22).

Depois, diz “a Primeira República não tinha povo”. E o


povo que participou desses agitados momentos? E os pica-paus
mobilizados por todo país contra a sanha violência da
restauração de maragatos e marinheiros monarquistas? E os
florianistas que foram varridos? Nenhuma melhor elaboração do
que a suposta “falta de povo”.

Na visão de Fábio Carvalho Leite, o termo bestializado “parece


ainda revelar um estado de choque ante um fato incompreensível,
que escapa a qualquer lógica, o que sugeriria que a proclamação da
República do Brasil foi um ato sem sentido ou, o que parece mais
apropriado, uma consequência desproporcional à causa”. Maria
Tereza Chaves de Mello defende que “a historiografia que privilegia a
versão do bestializado desvaloriza o que a década de 1880 valorizou:
a rua. Ou melhor: desqualificar a proclamação da República é
desqualificar a política feita na rua”. Uma boa parcela da população
que estava participando do processo político que tomava o fim do

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Império. Bestializados estavam todos os que não participaram da
conspiração secreta: Conservadores, Liberais, Republicanos radicais,
classes médias, jornalistas, escravos. Eduardo Silva, numa visão
mais moderada acerca do povo, define que “percorrendo os antros
da gentinha podemos perceber, contudo, que não era unânime a
aclamação dos povos e que, por trás dos “bestializados”, existiam
posições políticas – e éticas – muito claras”. A versão de uma
suposta elite letrada indiferente também parece ser mais um pilar do
argumento dos “bestializados”. Para a nossa intelligentsia, a
República era mais um sentimento estético que propriamente
prático ou político. Como se dizia: “Era belo ser republicano, como
era belo ser abolicionista”.

Não tinha povo dizem uns. Mas todo movimento abolicionista,


positivista e republicano incendiou o país. A experiência de
conferências públicas na segunda metade do século XIX, por
exemplo, são mais antigas que a criação do Partido Republicano. Na
esteira da atuação do Clube Radical, durante a década de 1860,
Sinfrônio Coutinho, tribuno do Recife, disse que “as conferências
radicais são a aurora de um regime livre que começa a aparecer
nesta nação de despotismo”. Nabuco de Araújo, também
participante do Clube, confidenciou a Buarque de Macedo o clima de
instabilidade da monarquia começou antes mesmo da famosa
geração de 70, diz ele que “os outros não têm mais confiança nesta
ordem de coisas e pensam que a Monarquia está acabada e não há o
que fazer.” Nesta época, as conferências radicais passaram a ser bem
mais expressivas em ternos de propaganda e público, como o aluguel
do teatro Fênix Dramática no Rio de Janeiro em 1869, capaz de
receber até 3 mil pessoas. As conferências de Silveira Mota assim

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como a de Carlos Bernardino de Moura reuniam um número de 2
mil espectadores antes mesmo da fundação do Partido Republicano.

Mas foi durante a década de 1870 que a discussão acerca da


república tomou as ruas num tom claramente público. É notória a
atuação de tribunos famosos como Silva Jardim, Martins Júnior,
Silveira Marinho, Benjamin Constant, Lopes Trovão, Luís Gama,
José do Patrocínio e José Mariano que levaram consigo milhares de
adeptos a escutarem acerca da Abolição e/ou da República e das
suas consequências democráticas no seio do espaço público. É
verdade que nem todos os tribunos eram, necessariamente,
republicanos, mas contribuíram para o clima de discussão acerca
dos “defeitos” do Segundo Reinado e a necessidade, urgente, de
reformas.

Maria da Glória Gohn examinou os comícios de Lopes Trovão


em 1889 que “em favor do Partido Republicano, provocaram o
afluxo de grandes massas às praças, as quais, segundo pesquisas
sobre a época, reivindicavam melhoramentos urbanos”. Ângela de
Castro Gomes diz que “Silva Jardim, ao lado de Luís Gama e Lopes
Trovão, exemplifica a vertente de agitadores populares que
propunham uma República com apoio e participação popular”.
Antônio da Silva Jardim, sozinho, arrastava uma multidão de 2 a 3
mil pessoas, nos quais figuravam “pretos libertos” e “operários”,
Lopes Trovão durante a Revolta do Vintém teve 8 mil, José Mariano
no Recife de 3 mil 42 a 10 mil, e no Ceará 8 mil, em situações as
mais diversas possíveis, utilizadas com sucesso contra a monarquia,
símbolo do atraso. Em um trecho de Lopes Trovão, transcrito por
Joaquim Felizardo, ele brada “Dizei ao Imperador que enquanto eu
estiver à testa da multidão, como seu diretor, me esforçarei para

22
demonstrar-lhe que a soberania nacional reside no povo e não na
Coroa”.

Leôncio Basbaum, marxista que contribuiu fortemente para a


tese dos bestializados, a causa fundamental da queda do Império foi
a decadência da aristocracia açucareira. Para Basbaum, o
republicanismo no Brasil teve diversas correntes, assim que “uns
eram do tipo revolucionário, como Silva Jardim, o qual apoiado por
alguns elementos isolados do Rio e pelos republicanos de
Pernambuco, pregava um movimento armado do povo”.
Paralelamente à orientação liberal do Partido Republicano de
Quintino Bocaiúva existia outra “agremiação” de republicanos que
pretendia instaurar uma Ditadura Republicana de inspiração
positivista. Silva Jardim, o maior propagandista deste grupo, além
dos setores positivistas do Rio Grande do Norte, São Paulo, Ceará,
Maranhão e Pará, o Apostolado Positivista, as Escolas Militares, as
Escolas Normais e as Faculdades de Direito possuíam adeptos a essa
corrente antiliberal. Para esses positivistas a continuação, na
República, da mesma estrutura política do Império seria uma mera
troca de regime, sem transformação social. Por isso, homens como
Aníbal Falcão (Pernambuco), Pereira Barreto (São Paulo), Lauro
Sodré (Pará), Júlio de Castilhos (Rio Grande do Sul), entre outros,
defendiam o regime de governo executivo liderado pelo Ditador,
com o poder legislativo quase extinto, com inclusão do proletariado
à nova ordem. Pautas como o regime de trabalho por 8h, férias,
descanso semanal obrigatório, educação primária universal e
gratuita, entre outros aspectos, são planos políticos deste grupo que
foi vencido pelo golpe de Quinze de Novembro. Basbaum reconhece

23
que a propaganda de Silva Jardim atinge uma atitude “realmente
catequizadora e militante”.

Silva Jardim dedicou grande parte de sua atividade, como maior


propagandista da República, entre as camadas mais pobres da população,
especialmente os empregados no comércio. Ele fazia parte desse grupo
mais radical que sente os anseios das massas e procura ligar-se a elas e
trabalhar em função do interesse delas. Silva Jardim, como republicano,
era também um líder social.

Silva Jardim, o mais radical de todos os republicanos, sofreu


um atentado em meio a sua conferência na Sociedade Francesa de
Ginástica em 30 de dezembro de 1888. Só soube do golpe de
Deodoro por meio de um mensageiro durante um jantar com amigos
na noite de 14 de novembro e, juntamente com Aníbal Falcão,
tramaram uma revolta em conjunto com o Exército em 1888,
malogrado pela morte de Sena Madureira. Depois, o número de
dissidentes que acompanharam Silva Jardim diminuiu no decorrer
de 1889.

Movido pelo seu espírito revolucionário, se transformou em


um dos mais destacados abolicionistas e entusiastas da causa
republicana. Por seu radicalismo e discursos violentos foi excluído
do Partido Republicano. Instalada a República sendo afastado do
primeiro governo republicano. Em 1890, candidata-se para compor
o Congresso Constituinte, pelo Distrito Federal, mas é derrotado.
Retira-se da vida política. Em 2 de outubro do mesmo ano, vai para
Europa, em companhia da família e dos amigos Carneiro de
Mendonça e Américo de Campos. Estando em Pompéia, na Itália,
quer ver o Vesúvio que há treze anos não se verificava qualquer

24
erupção. No dia 1 de julho de 1891, acompanhado de Carneiro de
Mendonça, arranjam um guia e vão até a cratera, aproximam-se da
borda, no exato momento que o solo treme e Antônio da Silva
Jardim é tragado pelo Vulcão por uma fenda que se abriu na cratera
da montanha - não se sabendo se foi um acidente ou um ato
voluntário.

Edgard Carone foi quem apontou que era preciso revermos a


imagem anestesiada dos monarquistas, inativos depois da
Proclamação da República, como que encarando o novo regime
dentro de uma certa fatalidade. A reação monarquista na Primeira
República, sua reorganização, sua atuação, as transformações
ideológicas e programáticas, agora num contexto adverso, que
exigirá uma reestruturação do movimento que não parece ficar
apenas num plano saudosista. Apontou que esta questão merecia um
reexame por parte dos nossos estudiosos de história política, mas ele
próprio não pode continuar este objetivo.

Chega a ser vergonhoso como historiadores renomados


chegam a repetir como mantar que na Proclamação da República o
povo assistiu bestializado, sem saber o que se passava, o que
demonstraria que foi uma espécie de golpe de estado sem maiores
repercussões. Imaginam que uma revolução só poderia ser feita com
as massas espontâneas e que consensualmente iriam depor ou
degolar o Imperador.

O Brasil é um país que desconhece suas próprias revoluções.


Elas são ignoradas e não constam na história oficial do Brasil. No
melhor das hipóteses, o debate gira em torno se houve revolução ou
não. Para a maioria, nunca existiu uma revolução no Brasil.

25
De 1500 até o século XIX, o Brasil passou de lugar
desconhecido para o Ocidente, para invadido, ocupado, colonizado,
unido, republicano e burguês. Nossa história desemboca no final do
século XIX visando uma revisão geral de rumos. Em nossa visão, o
Império escravista e aristocrata se enfraqueceu severamente depois
da Guerra do Paraguai, levando a Revolução Brasileira, culminando
com a Abolição, a República, o governo Floriano Peixoto e a Guerra
Civil, depois com a restauração branda da República Velha até a
Revolução de 1930.

Apenas a nossa revolução burguesa é ignorada, omitida e


desconhecida. Seus marcos foram a Abolição, a Proclamação da
República, a contra-revolução monarquista-escravista e a guerra
civil, vencida por Floriano. Se passou para um regime burguês ao
cair os privilégios aristocráticos. A legislação se torna burguesa. Ela
demole o velho Estado e ergue uma nova ordem política, um novo
monopólio duradouro da influência político-ideológica de forças
hegemônicas.

Uma das mentiras mais popularizadas é que a história do


Brasil é marcada pela predominância das continuidades em
contraposição às rupturas. Teria sido assim nossa enfadonha
história. Enquanto existem a revolução francesa, norte-americana,
russa e chinesa, no Brasil reinaria a tranquilidade. Viveríamos no
capitalismo sem nunca ter existido uma revolução burguesa, se
intuindo que os escravocratas que dominaram o país por séculos
iriam se adaptaram sem qualquer percalço.

Para aqueles que acreditam no “homem cordial”, se esquecem


apenas que as contra-revoluções no Brasil não foram nada cordiais.
O “homem cordial” só serve para esconder os contra-
26
revolucionários, dar uma aura gentil, cordial e racional para
escravistas em 1894, os cafeicultores paulistas em 1932, a classe
dominante nos golpes de 1964 e 2016. O papel do historiador não é
mascarar os conflitos, mas revisar as convicções enraizadas,
construídas com esforço das classes dominantes, que foram
assimiladas sem maior digressão. É rever a história como sucessão
de “feitos culturais civilizatórios” das classes dirigentes e nadar
contra as ondas da história oficial. Quebrar o “fio conformista da
continuidade histórica e cultural”, sabendo que a narrativa oficial
visa a procissão triunfal para confirmar, ilustrar e validar a
superioridade dos poderosos.

27
REVOLUÇÃO E CONTRA- REVOLUÇÃO

É certo que o conceito “revolução” tem sido usado diariamente


em uma infinidade de contextos diferentes. Parece-nos que, ainda
que seu uso guarde uma característica semântica comum – o sentido
de rompimento, de descontinuidade de um processo acabado e o
início de outro –, existe um recorrente uso do conceito “revolução”
de forma banal e pouco rigorosa.

Podemos encontrar diversas menções ao termo revolução,


desde o século XV, mas o conceito “revolução”, como o
compreendemos hoje, não foi desenvolvido antes, ou mesmo,
durante as revoluções francesa e americana. Seu conceito está ligado
à compreensão que os pensadores deram ao fenômeno
posteriormente a essas grandes sublevações.

Segundo o Dicionário Houaiss, a palavra revolução é datada


do século XV e designa: "grande transformação, mudança sensível
de qualquer natureza, seja de modo progressivo, contínuo, seja de
maneira repentina"; "movimento de revolta contra um poder
estabelecido, e que visa promover mudanças profundas nas
instituições políticas, econômicas, culturais e morais". Por isso, uma
revolução não é um golpe (disputa pela tomada de poder). As
revoluções transformam estruturas econômicas, políticas, sociais e
culturais. Quando se pensa a Revolução Francesa, Revolução Russa,
Revolução Chinesa, Revolução Cubana, Revolução Iraniana,
Revolução Vietnamita, etc, é óbvio que atendem a estes critérios
básicos.

28
Hannah Arendt, por exemplo, assinala que: "só se pode falar
de Revolução, quando a mudança se verifica com vistas a um novo
início, quando se faz uso da violência para constituir uma forma de
governo absolutamente nova e para tornar real a formação de um
novo ordenamento político, e quando a libertação da opressão visa
pelo menos à instauração da liberdade”. A socióloga Theda Sckopol
considera a ocorrência de uma revolução somente quando há o
emprego da violência para derrubar as autoridades políticas do
poder, substituindo-as por outras, que se encarregarão, numa etapa
imediatamente posterior, de efetuar mudanças no sistema político
como um todo, nas relações sociais e na estrutura econômica.

Para Marx, se pode falar de revolução quando ocorre uma


ruptura com a velha ordem política, social e econômica e, no seu
lugar, são estabelecidos novos padrões de relações sociais. Assim, o
termo revolução refere-se a toda e qualquer transformação radical
que atinja drasticamente os mais variados aspectos da vida de uma
sociedade. Marx aponta que as revoluções acontecidas entres os
séculos XVII e XVIII, que levaram à queda do Antigo Regime,
favoreceu a ascensão política da burguesia que manteve – sob outros
parâmetros – a exploração das classes trabalhadoras. Até por isso,
muitos chamam tais transformações de “revoluções burguesas”.

Marx e Engels dizem que uma “época revolucionária” acontece


em período históricos extraordinários, com vertiginosas mudanças
do poder das forças sociais, reiteradas crises estatais, recomposição
das classes e suas alianças, ondas de sublevação popular. Uma época
revolucionária pode ser um período longo de intensa atividade
política, destacando-se setores e classes sociais que antes era
apáticos e passam a se lançar abertamente a desafiar as classes

29
dominantes, reclamar por direitos e ações coletivas, uma parte de
propõe a se apropriar do poder do Estado num ambiente de maior
participação da massa em assuntos políticos diante da incapacidade
dos governantes em neutralizar aspirações, gerando ciclos de
protestos, ondas de mobilização, entre avanços e recuos.

Nem toda época revolucionária leva à revolução. Alguma


levam a restauração do velho regime por meio de golpes de Estados.
Não é possível compreender a revolução sem a contra-revolução, e
vice-versa. O movimento contrarrevolucionário tem o sentido
essencial de defesa de uma ordem política estabelecida
historicamente, em face da tendência inovadora que pretende ou
criar uma nova organização da sociedade ou enxertar na velha novos
princípios. Como processo de transição, coexistem formas novas e
velhas, com diferentes reações. Como diz Marx,

Uma revolução é, indubitavelmente, a coisa mais autoritária que existe, é


o ato por meio do qual uma parte da população impõe a sua vontade
sobre a outra por meio de fuzis, baionetas e canhões, meios
tremendamente autoritários. E o partido vitorioso, se não quiser ter
lutado em vão, deverá manter esse domínio pelo terror que suas armas
inspiram aos reacionários (de la autoridad)

O maior paradoxo da revolução é que ela só acontece quando


se cria um bloco político e social que não está mais disposto a
suportar a violência das classes dominantes, mas precisam da
violência para não ser varridos pela contra-revolução.

A Revolução Norte-Americana tem como marco 4 de julho de


1776, quando as treze colônias que vieram a constituir inicialmente
os Estados Unidos da América declararam sua independência,
rompendo o pacto colonial com a Inglaterra. Afirmaram igualdade,
30
direito à vida e a liberdade. Mesmo assim, as relações e a estrutura
sócio-econômica da nação americana não sofreram abalos nem
modificação alguma. A escravidão permaneceu, o que só foi abolida
com Lincoln em 1863 durante a guerra civil.

Em março 1831, após eleição de Lincoln, os estados escravistas


do sul se separaram da federação. Se formou uma nova nação com
capital em Montgomery no Alabama, composta por sete estados:
Carolina do Sul, Flórida, Geórgia, Alabama, Mississipi, Luisiana e
Texas. Um senador do Mississipi foi eleito presidente dos Estados
Confederados da América. Uma Constituição que garantia a possa de
escravos e a supremacia branca foi aprovada. Outros estados que
tenham sido livres da escravidão poderiam adotá-la logo que fossem
incorporados pela Confederação.

Os Confederados aproveitaram o longo período entre a eleição


e a possa de Lincoln. Eleito em novembro de 1960 só tomou posse
em 4 de março de 1861. Seus discursos iniciais enfatizavam a união
dos estados, num caráter conciliatório, porém sustentando a
inconstitucionalidade da separação. Em 12 de abril de 1861, as
tropas sulistas atacam o forte Sunter, na baía de Charleston, na
Carolina do Sul. Após dois dias, o forte se rendeu. O ataque colocou
o sul como agressor, possibilitando que Lincoln convocasse 75 mil
voluntários e que houvesse uma nova onda de separações na recém
criada Confederação. Arkansas, Tennesse, Carolina do Norte e
Virgínia passam a reconhecer a União, desde que não houvesse
interferência federal na escravidão. Antes da guerra civil, nos EUA
não tinha se consolidado uma sensação de insegurança que
justificasse a criação de um exército poderoso.

31
Nos EUA, depois de dois anos de guerra, Lincoln transforma a
abolição da escravatura como forma de derrotar os confederados.
Assinando em 16 de abril a abolição, Lincoln visava destruir as bases
do poder oligárquico sulista. A emancipação proporcionada pela 13
emenda foi retraída após o assassinato de Lincoln.

O que foi um movimento de emancipação logo depois da


guerra recuou com a aceitação que os estados sulistas pudessem se
organizaram pelo white supremacy, mantendo seus privilégios e
restringindo a liberdade dos negros. Os negros eram livres, mas o
acesso a outros direitos lhes era negado. Os cerca de 4 milhões de
escravos ficaram à mercê da própria sorte depois de uma reação
inicial de contentamento e comemoração. Até começo do século XX,
ainda era comum festivais aos domingos em estados sulistas para
matar, queimar e esquartejar negros em praça pública. O movimento
pelos direitos humanos na década de 1950 e 1960 também foi
duramente reprimido, resultando nos assassinatos de Marthin
Luther King, Malcom X e Fred Hampton, considerados pelo FBI e as
forças de segurança como lideranças capazes de mobilizar e
organizar os negros numa perspectiva política.

Algumas ideias da Revolução Norte-Americana de 1776 foram


retomadas com mais amplitude treze anos mais tarde, em 1789, na
Revolução Francesa que derrubou o Antigo Regime e o absolutismo
real.

Durante as décadas de 1770 e 1780, a França passou por


uma grande estiagem, o que gerou uma queda brusca das
colheitas de trigo e outros cereais, que eram a principal fonte de
alimento dos camponeses. Essa crise, em conjunto com os
sucessivos aumentos de impostos dos mais pobres, causou um
32
estado de miséria entre camponeses e trabalhadores das cidades
no país. Houve muitas mortes por inanição e saqueamentos,
além de conflitos nas ruas por comida.

No dia 14 de julho de 1789, diversos setores da população


de Paris tomaram a prisão da Bastilha. A fortificação
representou desde o século XV como uma prisão, o poder
absoluto da monarquia de prender e torturar prisioneiros sem
julgamento ou direito a defesa. Muitos prisioneiros morriam de
fome e frio nos calabouços da fortificação após serem presos por
ordens do rei. E, além de representar um símbolo do
absolutismo francês, em 1789 a Bastilha servia mais como um
depósito de pólvora e armamentos do que como uma prisão, e
foi por conta dessas armas que ela foi tomada pelos
revolucionários.

Nos dias seguintes à tomada da bastilha, o rei cede à


pressão da população francesa e aceita a criação de uma
Assembléia Constituinte Nacional que seria responsável por
criar a constituição da França. O país passa então a ser
uma monarquia constitucional. Lançam a Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão, afirmando igualdade, liberdade e
fraternidade, com soberania nacional, direito à propriedade e
separação dos poderes.

Em junho de 1971, Luís XVI tenta fugir com seus


aliados para se reunir com forças estrangeiras para retomar a
França dos revolucionários. Com o fracasso da tentativa,
monarcas de toda a Europa, da Prússia (atual Alemanha) à
Russia, iniciaram ataques às fronteiras francesas, pois passaram

33
perceber a revolução como uma ameaça para seus próprios
países se ela se mostrasse vitoriosa na França.

Em agosto de 1792, como resposta, os revolucionários


tentaram invadir o Palácio Tulherias para prender o rei, mas não
conseguem. Então decretam "a Pátria em perigo" e batalhões
começaram a se formar vindo das províncias, inclusive os
marselheses, com seu canto de marcha “A Marselhesa”, que alguns
anos mais tarde, viria a se tornar o hino nacional francês. Mesmo
assim, marcham de novo até o Palácio e derrotam o exército suíço
que estava o protegendo. Um grupo de revolucionários conhecidos
como sans-culottes, por usarem calças compridas e largas,
contrariamente aos ricos, que usavam calças curtas e apertadas até a
altura do joelho, chamadas de culotes, tomaram o palácio das
Tulherias, onde vivia a família real. Luís XVI e Maria Antonieta
foram presos por alta traição.

Em 21 de setembro de 1792 é convocada a Convenção Nacional


eleita por sufrágio universal, extinguindo a monarquia o
estabelecimento da Primeira República Francesa. A instabilidade da
situação aprofundava a crise econômica. Em 1792 e começo de 1793,
Paris passou uma fome em massa. Sobre o que fazer com a família
real, os debates se polarizaram. Girondinos defendiam que a
família real fosse exilada, ao passo que os jacobinos entendiam
que apenas a execução da monarquia livraria a França da
ameaça de um retorno do absolutismo. Estes últimos venceram,
e no dia 21 de janeiro de 1793, Luís XVI foi executado na
guilhotina.

Os conflitos entre jacobinos e girondinos passaram a se


intensificar. Os girondinos estavam com medo das proporções
34
que a Revolução e que os movimentos populares como os sans-
culottes estavam tomando, e pediam o fim da Revolução, uma
vez que haviam alcançado suas reivindicações pela liberdade
econômica e fim da aristocracia. Os jacobinos acreditavam que
o fortalecimento dos movimentos populares era essencial para
que uma revolução profunda ocorresse. O auge desse conflito
acontece com a criação da Comissão de Segurança Pública em
1793, liderada por Robespierre, "para lidar com os movimentos
radicais dos Enragés, escassez de alimentos e revoltas, a revolta
na Vendeia e na Bretanha, a recente derrota de seus exércitos, e do
abandono de seu comandante general". O Comitê realizou milhares
de execuções contra inimigos da jovem República. O uso da
guilhotina se generaliza. Ainda em junho, grande parte dos
deputados girondinos foi presa. Executam Maria Antonieta e
membros da família real assim como grupos revolucionários, como
os dantonistas e hérbertistas. Cerca cinquenta mil pessoas foram
mortas nesse período.

Em 27 de julho de 1794, Robespierre e seus seguidores foram


feitos prisioneiros pelos girondinos da Convenção Nacional. Em 28
de julho de 1794, é executado Robespierre e mais 25 jacobinos
na guilhotina. No período posterior à queda de Robespierre e
dos jacobinos, o congresso passou a ser dominado pelos
girondinos, os deputados conseguiram avançar com pautas de
incentivo à liberdade econômica e com uma série de vitórias
militares na Europa, em especial na Itália e na Áustria.

Em 1799 a população francesa volta a eleger maioria de


jacobinos para a Convenção. Essa volta ao poder causa temor em

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girondinos e burgueses, e em conjunto, estes dois grupos apelam
para um golpe de Estado para ceder o poder a um novo monarca.

Em 18 de Brumário do ano VIII (9 de novembro de


1799), Napoleão toma o poder por meio de um golpe militar e se
declara cônsul da França. Esse golpe tem o apoio da burguesia,
que enxerga em Napoleão um aliado de seus interesses
econômicos, que se transforma no Primeiro Império Francês, no
ano de 1804.

A abolição da escravatura foi uma das medidas adotadas


durante a Revolução Francesa, a partir de uma lei, chamada “16
pluviôse” e editada em 4 de fevereiro de 1794. Napoleão Bonaparte
revogaria parcialmente essa proibição, assinando um novo texto em
20 de maio de 1802. No mesmo ano, foi proclamado cônsul vitalício
e, dois anos depois, ele se autoproclamou Imperador dos franceses.
Nos quinze anos em que permaneceu no poder, normalizou as
relações com a Igreja Católica, rompidas desde 1790, e criou o novo
código civil (ou Código Napoleônico), reunindo princípios do direito
romano, das ordens reais e da legislação civil e criminal vigente
durante a revolução.

Napoleão e suas tropas invadiram a Rússia em 1812. Apesar de


terem tomado Moscou, os franceses não conseguiram a vitória. Se
depararam com a cidade deserta e em chamas, não conseguiram
abrigo para descansar nem alimentos para repor as forças das tropas
e dos cavalos famintos. Também não encontraram os inimigos. A
manobra representou um desastre para o exército francês. Sem
saída, as tropas napoleônicas deixaram a cidade sob rigoroso
inverno. Desgastadas, foram quase aniquiladas pelos ataques
realizados à retaguarda, pelo frio e pela fome. A derrota fortaleceu a
36
Grã-Bretanha e seus aliados. Arruinado, Napoleão teve de renunciar,
em 1814, ao trono francês e foi exilado na Ilha de Elba. Os vitoriosos
ocuparam a França, restabeleceram a monarquia dos Bourbon e
conduziram ao trono Luís XVIII, irmão do rei Luís XVI guilhotinado
em 1793. O restabelecimento da monarquia dos Bourbon na França
foi seguido do retorno dos nobres que haviam fugido do país no
início da revolução. Ao voltar, os exilados tentaram recuperar os
antigos direitos e reaver seus bens, o que gerou grande insatisfação
popular.

Percebendo que o momento era propício para intervir mais


uma vez no cenário político, Napoleão fugiu de Elba e, em março de
1815, retomou o poder. Curiosamente, o mesmo Napoleão que
reinstituiu a escravidão em áreas controladas pela França seria
responsável, anos mais tarde, por eliminar o tráfico de escravos no
império francês. O imperador tomou uma série de ações políticas,
tentando evitar que a Coroa Britânica se juntasse a uma nova
coalizão para derrubá-lo – entre elas, a assinatura de um decreto
abolindo o comércio de escravos, em 29 de março de 1815. A medida
se encaixava na política inglesa de então, mas foi insuficiente para
evitar novos conflitos. O novo governo durou apenas cem dias.
Napoleão foi definitivamente vencido pelo militar britânico Arthur
Wellesley, Duque de Wellington, na Batalha de Waterloo, na Bélgica,
em junho de 1815. Dessa vez, os ingleses o enviaram para um local
mais distante: a Ilha de Santa Helena, em pleno oceano Atlântico,
onde morreu em maio de 1821.

Como vimos na revolução norte-americana e francesa, tão


importante como as revoluções são as contra-revoluções. Nesses
períodos revolucionários, a disputa de forças entre grupos favoráveis

37
e contrários a mudança tem sua intensidade elevada e decidirá a
formação do futuro. Não raramente as forças reacionárias vencem o
confronto e então podemos dizer que toma forma a contrarevolução.

A contra-revolução engloba um conjunto de estratégias de


manutenção de privilégios da antiga ordem que se formam e são
postas a prova nos momentos em que a insurreição dos grupos
dominados ou a revolta das elites dissidentes adquirem força
suficiente para contestar estruturalmente a revolução. Mesmo
reformas leves já podem causar fortes reações. As revoluções
historicamente foram sempre seguidas por contra-revoluções,
reunindo as forças descontentes para fazer a sociedade
retroceder. Muitas vezes se utilizando da desilusão de um setor
considerável das massas oprimidas com os benefícios imediatos da
revolução se desencadeia a confiança entre as classes contra-
revolucionárias, tanto entre aqueles derrotados pela revolução mas
não completamente aniquilados, como aqueles que ajudaram a
revolução num certo momento, mas foram jogados ao campo da
contra-revolução pelo devir da revolução. E assim a própria
revolução passa a ser uma reação diante da contra-revolução.

A grande questão de qualquer revolução é como lidar com as


forças contra-revoluçionárias. Elas se unem para retornar ao poder à
qualquer custo. Exilados fazem conspiração. Abundam recursos para
suas incursões. Se busca dividir e aumentar as tensões entre forças
revolucionárias para desestabilizar um novo regime. Se utilizam as
mídias para desmoralizar e se opor a governos que aspirem defender
interesses soberanos e populares. Setores dirigentes que perdem
poder buscam retomá-lo. Aliados de ontem se tornam adversários ou
desiludidos.

38
Quando a contra-revolução alcança a um nível militar, os
revolucionários (ou reformistas) devem ter condições de dissuadir as
manifestações de violência, desde a sabotagem até o terrorismo.
Mesmo em situações em que existe uma rejeição estratégica da
guerra civil, a contra-revolução se atira num confronto armado
quando não consegue impor sua vontade pelas articulações políticas.
A medida que velhas classes dominantes percam poder, prestígio e
legitimidade, transformam o governo em inimigo, que os leva a
desenvolver sua capacidade de financiamento, apoio político,
autodefesa, segurança, contatos militares e então numa dinâmica
violenta quando acreditam que podem fazer frente a um governo
nascente, muitas vezes confuso e cheio de distensões. Provocações
para arrastar o governo para repressão e perder apoio popular e
internacional.

Qualquer revolução começa não apenas sobre os escombros da


velha sociedade e suas classes dominantes, mas também sua herança
viva. Mesmo que as classes dominantes sejam removidas do poder
do Estado, não são destruídas, mantendo parte considerável das
forças para combater os revolucionários. Elas se conservam nas
heranças e nos interesses do antigo regime. Após a tomada de poder,
qualquer revolução ainda não está institucionalizada. Existe um
tempo para que tenha condições para se organizar. Esse é o período
em que as classes dominantes enxergam uma possibilidade de
reação, pois o novo regime ainda não se estabilizou e suas forças não
foram dissipadas completamente. Nessa transição existe o
aprendizado sobre o exercício do poder, período de acertos e erros,
debilidades e fortalecimento, de vitórias e derrotas.

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FLORIANO

Com Floriano Peixoto, ascende ao poder a primeira liderança


de origem popular ao cargo máximo da nação.

Nascido em 30 de abril de 1839 no engenho de Riacho Grande,


em Ipioca, distrito da cidade de Maceió, um dos dez filhos de
Manuel Vieira de Araújo Peixoto e de Ana Joaquina de Albuquerque
Peixoto. De família pobre, foi entregue, ainda recém-nascido, ao
padrinho e tio, o coronel José Vieira de Araújo Peixoto, por quem foi
criado, pois tinha melhores condições financeiras para criá-lo, sendo
um senhor de engenho local e influente político provincial. Estudou
em regime de internato no Colégio Espírito Santo, em Maceió, até
completar os estudos primários. Aos 16 anos, em 1855, mudou-se
para o Rio de Janeiro para fazer os estudos secundários no Colégio
São Pedro de Alcântara.

O ingresso na carreira militar se deu dois anos depois, em 1º


de maio de 1857, quando assentou praça como soldado voluntário no
1º Batalhão de Artilharia a Pé. No ano seguinte, aos 19 anos de
idade, matriculou-se na Escola Militar do Rio de Janeiro, concluindo
o curso em 1861, declarado segundo-tenente e integrando o Corpo de
Artilharia. Com a eclosão da Guerra do Paraguai, Floriano foi para
o Rio Grande do Sul em maio de 1865 juntamente com o 1º Batalhão
de Voluntários da Pátria. Participou, até o fim do conflito, das
batalhas mais importantes da guerra, tais como as
de Tuiuti, Itororó, Lomas Valentinas e Angostura. Ao término da
guerra, foi promovido a tenente-coronel em 9 de abril de 1870. Em
18 de abril de 1874 foi promovido a coronel e nomeado comandante
40
do 3.º Regimento de Artilharia a Cavalo, posto que ocupou até 1878.
Comandou o Arsenal de Guerra de Pernambuco de 1879 a 1881, cuja
missão era inspecionar as unidades militares da região Nordeste.

No dia da Proclamação da República, encarregado da


segurança do ministério do Visconde de Ouro Preto, Floriano se
recusou a atacar os revoltosos e assim justificou sua insubordinação,
respondendo ao Visconde de Ouro Preto:

Sim, mas lá (no Paraguai) tínhamos em frente inimigos e aqui


somos todos brasileiros!

Em seguida, aderindo ao movimento republicano, Floriano


Peixoto deu voz de prisão ao chefe de governo, Visconde de Ouro
Preto. Após a Proclamação da República, assumiu a vice-presidência
de Deodoro da Fonseca durante o Governo Provisório, sendo depois
eleito vice-presidente constitucional com mais votos que o
presidente. Foi Ministro da Guerra, de 19 de abril de 1890 a 22 de
janeiro de 1891.

O marechal Floriano encarnava uma visão da República não


identificada com as forças econômicas dominantes. Pensava
construir um governo estável, centralizado, nacionalista, baseado,
sobretudo, no exército e na mocidade das escolas civis e militares.

Floriano Peixoto, segundo presidente militar, o qual atuou


entre 1891 e 1894, é avaliado pela historiografia como o primeiro
grande líder político popular na história republicana. Seus
seguidores foram militares e civis, chamados de florianistas,
oriundos de grupos populares e das camadas médias da cidade do
Rio de Janeiro, da jovem oficialidade da Escolar Militar da Praia
Vermelha e dos sócios do Clube Militar.

41
A propaganda florianista difundia a ideia de que o Marechal
não estava só, tinha o “povo” a seu lado. Isto é o que dava
legitimidade à sua obra política e coletiva. Era uma “relação dialética
que se justificava porque Floriano Peixoto e florianistas se
apropriavam reciprocamente.” (PENNA, 1999, p. 18). Dentre estes
florianistas havia positivistas. Destaca-se, sobretudo, os
pertencentes à Igreja Positivista do Brasil, IPB, sob liderança de
Miguel Lemos e Teixeira Mendes. Estes respeitavam uma liderança
militar genuína, saída da aclamação popular. Para a direção política
era necessário apenas o decreto de medidas por um líder sábio. Esse
líder era Benjamin Constant, segundo os membros da IPB, os quais
o incentivaram a proclamar a ditadura republicana, quando a
República foi instituída em 15 de novembro de 1889. Benjamin
Constant não aceitou essa sugestão. Floriano Peixoto não era o líder
sábio ideal, entendiam os pertencentes à IPB, mas tinha o carisma
popular, além de ter participado “positivamente” para a
Proclamação da República. Assim, o apoio ao governo de Floriano
Peixoto era dúbio por parte da IPB, que entendia ser ele um líder
forte e autoritário (características admiráveis para os positivistas),
mas que se negou a implantar uma ditadura republicana.

As ações enérgicas e centralizadoras de Floriano Peixoto


contribuíram para sua popularidade. O controle da crise herdada do
governo de Deodoro resultou a consagração popular de Floriano
Peixoto. O apreço por demonstrações públicas de patriotismo, por
cerimônias cívicas e por solenidades em exaltação a figuras
nacionais como Tiradentes para eles admiráveis era estratégia
comum a positivistas e militares. Durante seu governo, dois
militares positivistas estiveram envolvidos na promoção de
atividades cívicas e na produção de imagens a heróis nacionais.
42
Ximeno de Villeroy recebeu orientação da IPB para as homenagens a
Tiradentes e para o erguimento de uma coluna comemorativa na
casa onde nasceu o inconfidente. Lauro Sodré, também positivista,
porém totalmente independente da IPB, concedeu uma pensão
artística a Carlos Gomes e presidiu a comissão para o monumento a
Benjamin Constant, no Rio de Janeiro.

Chama atenção os ataques dos oponentes contra Floriano.


Eram contra as várias medidas, nos planos social e econômico, que
foram tomadas pelo marechal para satisfazer setores médios e
populares, melhorando suas condições de vida. Logo nos primeiros
dias decretou a baixa nos aluguéis das casas operárias, concedeu
isenções de imposto sobre a carne à venda nos açougues,
promovendo a queda dos preços. Desencadeou violento combate aos
especuladores, estabilizando os preços dos gêneros alimentícios.
Também foram melhoradas as condições de habitação, sendo seu ato
mais conhecido a demolição de um imenso cortiço carioca chamado
“cabeça de porco”, onde coabitavam mais de 4.000 pessoas (os
casebres pertenciam ao Conde d´Eu). No entanto, o conjunto da
política econômica florianista, embora tenha concedido estímulo à
economia nacional, não interferiu na estrutura básica agrário-
exportadora. Por essas medidas os interesses monarquistas – que
também dominavam na Marinha - e escravistas dos proprietários
agrícolas se uniram para derrubar a República e reverter suas
reformas. Queriam que fosse instaurada uma "República dos
Fazendeiros", liberal e descentralizada, adequada as “vocações
agrícolas do Brasil”.

Floriano Peixoto entregou o poder em 15 de novembro de 1894


a Prudente de Moraes, e morreu em 29 de junho do ano seguinte, em
43
sua fazenda em Ribeirão da Divisa, distrito de Barra Mansa, no
estado do Rio de Janeiro. Deixou um testamento político:

A vós, que sois moços e trazeis vivo e ardente no coração o amor da Pátria
e da República, a vós corre o dever de amparal-a e defendel-a dos
ataques insidiosos dos inimigos". A mim me chamais o consolidador da
República. Consolidador da obra grandiosa de Benjamin Constant e
Deodoro são o exército nacional e uma parte da armada, que a Lei e às
instituições se conservaram fiéis.
Consolidador da República é a guarda nacional, são os corpos de polícia
da Capital e do estado do Rio, batendo-se com inexcedível heroísmo e
selando com o seu sangue as instituições proclamadas pela Revolução
de 15 de novembro.
Consolidador da República é a mocidade das escolas civis e militares
derramando o seu sangue generoso para com ele escrever a página
mais brilhante da história das nossas lutas.
Consolidador da República, finalmente, é o grande e glorioso partido
republicano, que, tomando a forma de batalhões patrióticos, praticou
tais e tantos feitos de bravura, que serão ouvidos sempre com
admiração e respeito pelas gerações vindouras.
São esses os heróis para os quais a Pátria deve volver os olhos,
agradecida.
À frente de elementos tão valiosos, não duvidei, um momento sequer , do
nosso triunfo, e, pedindo conselhos a inspiração e a experiência e
procurando amparo no sentimento da grande responsabilidade que
trazia sobre os ombros tive a felicidade de poder guiar os nossos no
caminho da vitória. [....]" – Floriano Peixoto, junho de 1895.

Sob grande comoção foi realizado seu enterro, a maior


manifestação popular ocorrida até então no Rio de Janeiro para
cultuar a memória de um político. Assim afirmou Luiz Edmundo,
jornalista que esteve presente em toda a solenidade: “Jamais uma
romaria cívica, até hoje, logrou, que eu saiba, uma imponência igual.
Os funerais de Rio Branco foram notáveis, foram, mas não tiveram,
como os de Floriano Peixoto, a solenidade, a magnificência e até
mesmo o concurso de uma tão grande massa popular”. Talvez, na

44
história do Brasil, apenas o suicídio de Getúlio produziu tal comoção
nacional.

Seu corpo foi embalsamado e colocado na Igreja da Cruz dos


Militares e a semana inteira recebeu multidões que passavam
silenciosamente para ver seu corpo. As flores extras vindas de
Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo para abastecer as
floriculturas, logo acabaram. Ao enterro precedeu um cortejo pela
cidade, formado por populares e onze Batalhões Patrióticos
(formados por militares e civis, antes já organizados na Revolta da
Armada para defender o governo do Floriano Peixoto). Luiz
Edmundo também fala sobre a multidão:

Um terço dos moradores da cidade ou, talvez, mais, assistiu à solene


passagem desse cortejo, que levou horas e horas a desfilar. Pelas
calçadas, portas e janelas das casas, toda uma multidão se aglomerava,
em cachos. Vi homens de joelhos, pelas ruas, senhoras que choravam.
Gente trepada pelos combustores da iluminação, pelos postes dos fios
telegráficos e até pelos beirais de altos e íngremes telhados.

No cemitério, houve discursos emocionados à beira de seu


túmulo. Foram atos solenes de reverência ao morto e, sobretudo,
atos políticos que precisavam ser publicizados aos oponentes,
reforçando o discurso da República não corrompida, inaugurada por
Benjamin Constant e reforçada por Floriano Peixoto. Entre esses
atos também houve leitura de poesias, como a do positivista
Generino dos Santos — Irmãos d’armas: junto aos túmulos de
Benjamin Constant e Floriano Peixoto —, escrita em 1895 e lida
juntamente com inúmeros discursos à beira do túmulo de Floriano.
Embora fosse ele o homenageado com o poema, Benjamin Constant

45
também ganhou destaque, estando em ordem cronológica inclusive
no título do poema.

O primeiro aniversário da morte de Floriano Peixoto também


seguiu esse modelo apoteótico, ocorrendo uma grande procissão
cívica pela cidade do Rio de Janeiro com diversos representantes da
sociedade civil e militar, onde se destacaram a IPB, o Clube Militar, a
Guarda Nacional, o Partido Republicano Federal, a Escola de
Medicina, entre outras associações. A visita ao túmulo de Floriano
Peixoto continuou, sempre no aniversário de sua morte, nos anos
seguintes.

A capital de Santa Catarina, Florianópolis, tem seu nome em


homenagem e inspiração a Floriano Peixoto. Em 1939, Getúlio
coloca a face e o nome de Floriano Peixoto ganharam a inscrição na
moeda nacional de 2000 réis. O distrito em Barra Mansa, no Rio de
Janeiro, onde Floriano morreu, recebeu o nome “Floriano” em 1951.

Ilustração de Angelo Agostini para a Revista D. Quixote representando Floriano


frente à Revolta da Armada

46
A GUERRA CIVIL BRASILEIRA

O Marechal Deodoro da Fonseca preside o governo provisório,


com importantes ações para dar ao Brasil o caráter de república
federalista. Nas mãos dos militares, ministros foram nomeados,
foram extintas instituições como as Câmaras Municipais e o Senado
Vitalício. Além do banimento da família real, separou-se a Igreja do
Estado, fez-se reformas financeiras elaboradas pelo Ministro da
Fazenda Rui Barbosa, adotou-se de uma bandeira nacional e uma
nova constituição foi elaborada. A constituição de 1891 estabeleceu
que a eleição para primeiro presidente seria feita pelo Congresso.
Assim sendo, o Marechal Deodoro foi eleito para presidente e
Floriano Peixoto para vice. Com o apoio dos militares o Marechal
centralizou o poder para direcionar o país a República, enfrentando
a oposição da oligarquia cafeeira fortemente representada no
Congresso Nacional. Com as inúmeras dissidências e atritos entre
presidência e congresso, o Marechal Deodoro dissolve o Congresso,
desrespeitando a constituição. Contrário a essa atitude, o Almirante
Custódio José de Melo ameaçou bombardear o Rio de Janeiro, no
que ficou conhecido como a Primeira Revolta da Armada. Em meio à
violenta oposição, o Marechal Deodoro da Fonseca, renuncia o cargo
de presidente em 28 de novembro de 1891. Assume então o vice
presidente Floriano Peixoto.

Abolicionista convicto e crítico dos privilégios da monarquia,


Floriano Peixoto assume a Presidência em 23 de novembro de 1891.
O controle da crise herdada do governo de Deodoro resultou a
consagração popular de Floriano Peixoto. As primeiras ações de
47
Floriano Peixoto foram a reabertura do Congresso Nacional, o
afastamento dos chefes de estado nomeados pelo antigo presidente e
a entrega da total responsabilidade de emissão de papel moeda ao
Estado, além da adoção de práticas de incentivo à industrialização.
Porém, pouco tempo depois de assumir, começam as articulações
restauradoras para derrubar a República recém proclamada.

Em 13 de dezembro de 1891, marinheiros do cruzador “1 de


maio” se rebelam, sendo presos 70 marujos na fortaleza Santa Cruz.
Inconformados com Floriano, intelectuais do Rio de Janeiro
promovem uma “passeata cívica” em homenagem a Deodoro. Ao
ficar sabendo, Floriano vai pessoalmente ao local e dá voz de prisão
aos manifestantes, incluindo alguns generais reformados que lá
estavam.

Com menos de um mês de sua posse, já se conspirava contra


Floriano. Na casa de Deodoro diversos políticos se reuniam, como o
Barão de Lucena, Francisco Portela, o almirante Manhães Barreto,
José Carlos de Carvalho, capitães Jaques Ouriques e Mena Barreto.
Em Minas Gerais, articulações de Cesário Alvim. Em Pernambuco,
José Mariano. Em São Paulo, Américo Brasiliense, Rodolfo Miranda
e Angelo Pinheiro. O conde de Leopoldina e outros banqueiros se
organizavam para financiar e reconhecer fundos ao levante. Na
imprensa, apoiavam a destituição de Floriano jornalistas famosos,
como José do Patrocínio, Pardal Mallet, Olavo Bilac e outros. O
levante deveria acontecer dia 20 de janeiro de 1892. Na última hora
foi adiado. Entretanto, o sargento Silvino Honório de Macedo, não
recebendo o aviso à tempo, levantou a guarnição da Fortaleza de
Santa Cruz que que fora apoiado pelo forte de Laje. Isolados, não
podem resistir e revelam os planos. Floriano responde obtendo do
48
Congresso poderes excepcionais para “esmagar qualquer tentativa
reacionárias dos inimigos da República”. Apenas dois senadores –
Pinheiro Gomes e Joaquim de Oliveira Catunda – votam contra. O
líder da revolta, sargento Sílvio Honório de Macedo, foi fuzilado.

No início de 1893, a oposição ao governo se torna pública. Rui


Barbosa, que comprara o Jornal do Brasil, passa a atacar o governo
falando que Floriano degenerava a república pela ditadura. Com seu
liberalismo monárquico, convocava os setores tradicionais contra o
jacobinismo dos militares.

No Rio Grande do Sul, com a renúncia de Deodoro, se


abandona o governo Júlio de Castilhos instalado em 12 de novembro
de 1891. Uma dissidência republicana ligada aos monarquistas,
liderada por Barros Cassal, assume o governo. Em 17 de junho de
1892, com apoio de Floriano, os castilhistas retornam ao governo
com militares e populares. Uma guerra entre as facções políticas se
exaspera. Em novembro de 1892, chega a Floriano a total ausência
de garantias constitucionais e o quadro de guerra civil no sul.
Durante os conflitos, muitas famílias se refugiaram no Paraná,
Uruguai e Argentina. Vilas ficaram desertas, abandonadas pela
população em pânico. Estima-se que 100 mil pessoas saíram de suas
cidades. Em janeiro de 1892, Castilhos toma posse como governador
após eleição. Em fevereiro e março ocorrem mobilizações militares
de grupos no Uruguai para invadir o estado e guerrear com tropas
legalistas. Os principais líderes eram Joca Tavares e Gumercindo
Saraiva, vinculados ao Partido Liberal e próximos da corte imperial.
Na parte civil, a maior liderança era Gastar Silveira Martins. As
forças contavam com 3 mil homens, inclusive recrutados no
Uruguai. Com armamento comprado por Silveira Martins em
49
Montevidéo, organizou-se o Exército Libertador sob o comando do
general Luis Alves Salgado. E assim passaram a crescer,
arregimentando homens por onde passavam, passando a ser
identificados como “maragatos”.

Para se defender, o senador Pinheiro Machado se licencia para


organizar com cinco brigadas e uma divisão de artilharia na região
das Missões a Divisão Norte, para se juntar às tropas federais.
Passaram a ser chamado de “pica-paus”, pelo armamento precário,
similar ao do Exército.

Em março de 1892 treze generais enviaram uma Carta-


Manifesto ao Presidente da República, exigindo a convocação de
novas eleições presidenciais. Floriano susta o golpe determinando a
prisão de seus líderes. Alguns foram deportados para pontos
extremos do território nacional. José do Patrocínio, acusado de
conspiração foi preso e condenado ao desterro em Cucuí, no
Amazonas. Rui Barbosa, em agosto de 1892, apresenta habeas
corpus em favor do Almirante Eduardo Wanderkolk, enviado para
Tabatinga, no alto Amazonas. De volta à capital federal, e
incorporado ao grupo descontente, Eduardo Wandenkolk assumiu
em 11 de junho de 1893 a presidência do Clube Naval. Comandando
o navio “Júpiter”, Wandenkolk se dirige ao sul para se unir aos
maragatos gaúchos. No litoral de Santa Catarina, o cruzador
“República” aprisiona o “Júpiter”. Wandenkolk foi novamente preso
e, dessa vez, levado para a fortaleza de Santa Cruz, em Niterói.

Após o fracasso da expedição do “Júpiter” e prisão do


almirante Wanderkolk, Floriano se prepara para a reação da
oficialidade demitindo alguns. A pretexto de reparos, envia para
50
Europa o cruzador “Tiradentes” e o encouraçado “Riachuelo”. O
encouraçado “Aquidabã” tem suas máquinas imobilizadas. Os clubes
jacobinos se espalhavam pelo país, pressionando o governo por
medidas mais intensas sobre as forças restauradoras e
monarquistas.

Enquanto a marinha se sublevava, em maio de 1892, nas


margens do arroio Inhanduí, próximo de Alegrete, cerca de 6 mil
maragatos vindos do Uruguai entram em guerra com 4.500 pica-
paus. Foram mais de setes horas de combate, até que a Divisão
Norte faz recuar os maragatos, numa derrota que desmoraliza as
tropas. Visando se reorganizar, o general Salgado, Jova Tavares e
Gumercindo e seu irmão, Vasco Alves e outros chefes maragatos
decidem retornar ao Uruguai, impondo derrotas nas tropas federais
no caminho, na região de Campanha.

Em agosto de 1892, Deodoro morre. Na manhã de 6 de


setembro de 1893 toda armada naval se revolta em conjunto com
alguns navios mercantes. O grupo de altos oficiais da Marinha exigia
a imediata convocação dos eleitores para a escolha dos governantes.
Entre os revoltosos estavam os almirantes Saldanha da
Gama, Eduardo Wandenkolk e Custódio de Melo, ex-ministro da
Marinha e candidato declarado à sucessão de Floriano. No
movimento encontravam-se também jovens oficiais e muitos
monarquistas.

Lá estavam o “Aquidabã”, os cruzadores “República”,


“Trajanos”, “Orion” e “Guanabara”, os torpedeiros de alto-mar
“Araguari” e “Marcílio Dias”, o vapor “Júpiter” e os navios “Uranus”
e “Marte”. Pouco depois, se incorpora o cruzador “Sete de
51
Setembro”, o encouraçado “Javari” e o vapor “Amazonas”. Algumas
horas depois, o batalhão naval da Ilha da Cobras adere à revolta e
operários da Central do Brasil começam uma greve por tempo
indeterminando. O movimento combinado buscava emparedar o
governo Floriano sob liderança de Custódio - que poucos meses
antes tinha forçado a renúncia de Deodoro. O desfecho seria igual,
pensaram. Mas Floriano não é Deodoro.

Contando com apoio do Exército, Floriano convoca a guarda


nacional, leva canhões para os morros do Rio e organiza batalhões
patrióticos por todo Brasil. Reforça as fortalezas que circundam a
baía da Guanabara, onde haveria possibilidade de desembarque –
Santa Cruz, São João, Lage e Pico. A reação de Floriano faz os
revoltosos reverem sua posição. Custódio tem a maioria dos navios
de guerra e dezoito navios mercantes. Floriano convoca os oficiais da
Marinha e considera desertores mais de trezentos homens.

No dia 13 de setembro, cinco navios bombardeiam o Rio de


Janeiro. Diversas unidades encouraçadas trocaram tiros com a
artilharia dos fortes em poder do Exército. Custódio manda uma
força se apoderar da Ponta da Armação, em Niterói. Depois de dois
dias, ocupa uma parte do litoral próximo da capital. A área estava
guarnecida por aproximadamente 5 mil governistas, os quais eram
compostos entre outros por batalhões da Força Pública e da Guarda
Nacional. Um grupo de marinheiros explodiu três bombas de
dinamite no túnel da Estrada de Ferro. Num dos assaltos,
marinheiros com lanchas abateram sentinelas com machadinhas.
Tomaram oficinas da Companhia Frigorífica. Atacaram a Armação, o
Toque-Toque, o Porto da Madame e ponta Areia. Dois batalhões de
pica-paus, o Tiradentes e Benjamin Constant, defendiam a cidade.
52
Ainda em setembro de 1893, os maragatos ficam sabendo da
revolta da Marinha. Desenham um novo plano, de avançar nos
estados sulinos, se unir com antiflorianistas em São Paulo e
derrubar Floriano no Rio de Janeiro em conjunto com os
marinheiros. Ainda em setembro, com a intenção de estabelecer
contato com os maragatos, uma frota chefiada pelo Capitão-de-Mar-
e-Guerra Frederico Guilherme de Lorena com o encouraçado
Aquibadan escapa da baía de Guanabara sob fogo das fortalezas
Santa Cruz, São Jose e Lage para chegar ao Desterro, em Santa
Catarina, em 26 de setembro. Com localização estratégica, é
instalado o Governo Provisório da República Brasileira na ilha sob a
liderança de Lorena. O novo governo considerava-se separado da
União, enquanto Floriano Peixoto, que comandava o país desde o
Rio de Janeiro, não fosse deposto. Por quase seis meses, se tornou a
sede independente da república, formada pela união dos maragatos
com rebelados da Marinha, provavelmente à revelia de outras
lideranças como Custódio e Silveira Martins. Mesmo assim, Rui
Barbosa buscou obter empréstimos para comprar armas e obter
reconhecimento internacional ao governo provisório.

Neste momento, o general Piragibe organiza o Corpo do


Exército Provisório que iria seguir para São Paulo e Rio de Janeiro.
O comandante-chefe Salgado do Exército Libertador estava em
Lagoa Vermelha, no Rio Grande do Sul, assim como Joca Tavares.
As tropas de Gumercindo já haviam invadido Santa Catarina.

Neste momento o florianismo estava na defensiva. Sem frota


marinha e não conseguindo parar os sucessivos avanços dos
maragatos. Até outubro de 1893, a guerra pendia para os revoltosos.

53
No Rio de Janeiro, Floriano tinha receio de que Custódio
poderia se coadunar com forças estrangeiras num cenário de
conflito. Havia na baía da Guanabara um navio de guerra francês,
três ingleses, um italiano e um português. Seus comandantes
levaram aos revoltosos a preocupação com a destruição de vidas e
propriedades estrangeiras. Custódio se comprometeu a não atacar
mais a cidade. Para Floriano, pediram que retirasse as baterias
instaladas, que não o fez, mantendo as fortificações no morro apesar
de por vezes dizer que ia retirá-las. No “acordo de 5 de outubro”, as
força estrangeiras estabeleceram um conjunto de regras a serem
seguidas pelo governo e pelos revoltosos. Entre as medidas, o Rio de
Janeiro foi considerado “cidade aberta” e, portanto, não poderia
sofrer ataques ou agressões de ambos os lados. A proibição de
bombardeios à capital, deu à Floriano tempo necessário para
reorganizar suas forças.

No começo de outubro de 1893, chega uma esquadra norte-


americana, bem maior do que a força efetiva das outras potências.
Ao mesmo tempo em que buscavam afastar a influência comercial
europeia na região, os Estado Unidos pretendiam consolidar sua
hegemonia no continente, conseguindo assim, privilégios
comerciais. Já o Brasil, via na aproximação uma forma de evitar a
preponderância dos países europeus no país, reputados como
possíveis restauradores da monarquia, sobretudo, Portugal. Os
revoltos passam a suspeitar que poderiam intervir a favor de
Floriano. Em 9 de outubro, a fortaleza Villegagnon adere à revolta.

Enquanto isso, no mesmo outubro, passam pelo planalto as


tropas maragatas, impondo derrotas às forças castilhistas, chegando
a serra rio-grandense. Em novembro, atravessam o rio Pelotas,
54
entrando em Santa Catarina. Se juntam com revoltosos que vinham
do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, tropas castilhistas de Pinheiro
Machado e Rodrigues Lima chegavam em São Joaquim, preparando
um cerco às forças de Gumercindo, Aparício Saraiva e Piragibe.

A guerra civil se torna rapidamente nacional, do Rio de Janeiro


ao Rio Grande do Sul, nas prisões no norte e na Amazônia e as
operações no nordeste para construção de uma nova frota
republicana.

Em dezembro de 1893, o almirante Saldanha da Gama assume


o comando dos revoltosos da Marinha. Lança um manifesto
divulgado pela imprensa, destacando alguns pontos positivos da
monarquia, o que foi destacado pelo governo expondo suas
intenções. Gama teve que fazer outro manifesto, em 20 de
dezembro, no qual se dizia defensor de uma “República Civil”. Isso
não impediu Floriano se assentar ao lado da legalidade contra os
revoltosos dados os motivos descarados de restauração. A Marinha
já era conhecida pela influência monarquista desde o Império. Isso
aumentou a adesão aos batalhões patrióticos que apoiavam Floriano,
na juventude, academias militares, intelectuais e positivistas.

Saldanha da Gama tinha a tarefa de aumentar a moral da


esquadra, abalada pelos obstáculos de 1893, que passou a ser muito
mais forte do que imaginavam as intenções iniciais de que seria
simples forçar Floriano a renunciar como fez com Deodoro. Nos seis
meses de sublevação, não foi possível o desembarque massivo da
Armada. No dia 12 de novembro, o navio “Javari” afundou. O
objetivo da capitulação de Floriano parecia cada vez mais distante.
Quando Saldanha assume o comando, percebe que Floriano
55
continua fortalecendo todas as frentes da cidade com baterias de
canhões. Foram fortificados o morro Castelo, São Bento e da
Conceição. Além de armar os dispositivos de defesa, Floriano trata
de organizar outra frota que viesse a fazer frente à esquadra
revoltada. Saldanha da Gama passa a entender que era necessário
organizar forças de terra para conquistar a capital, solicitando que as
tropas do sul se deslocassem para Guanabara. Sem chance de vitória
na baía da Guanabara, os revoltosos dirigiram-se para sul do país.
Analisando os revoltos da armada, Floriano disse:

Todos esses elementos de natureza heterogênea fundiram-se na mesma


ação e pensamento dos chamados federalistas do Rio Grande do Sul,
mensageiros da depredação e do morticínio, ao mando de um antigo
ambicioso político que, privado dos privilégios que astutamente gozava
no regime decaído. Nesse amálgama de ódios, de desrespeito e de
egoísmo, o que sobreleva em ignomínia em tudo, era o pensamento
perverso de fazer a Pátria voltar ao julgo Monárquico de que se havia
libertado a 15 de novembro de 1889 (p.34)

Os objetivos militares de cada um dos lados eram bastante


distintos. Para vencer, Floriano precisava que suas forças detivessem
a invasão da Armada na capital e detivesse as tropas maragatos
vindo do sul até a capital. Floriano contava com apoio dos
republicanos conservadores de São Paulo, dos setores mais
desvinculados à economia escravista, o Exército, os positivistas além
do apoio popular. Custódio de Melo tinha que forçar a renúncia de
Floriano com a Armada, primeiro com ameaças e depois pela
invasão da capital. Silveira Martins, Gumercindo e outras lideranças
dos maragatos visavam depor Julio de Castilhos e Floriano, saindo
do Uruguai até chegar à capital, passando pelo Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Contavam com apoio dos
monarquistas que perderam postos e prestígio com a República e
com Floriano, banqueiros cariocas, setores médios contra o
56
militarismo e populares movidos a voltar à ordem monárquica.
Também tinha espaço na opinião pública o objetivo de “retirar os
militares do poder”, como se tornou o bordão da época.

A revolta federalista liderada por Silveira e Gumercindo e a


revolta armada da Marinha são dois movimentos paralelos, ambos
voltados contra Floriano. Eles se fortalecem mutuamente, com a
pressão sobre a capital. Se espalham por um largo território, no Rio de
Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A pouca ligação
inicial vai se tornando no final de 1983 num entrosamento necessário
que tinha um objetivo comum – a derrota de Floriano. E assim jogaram
o país numa guerra civil sem precedentes.

Em dezembro de 1893, as tropas de Gumercindo avançam


rumo a Curitiba para instalar outro governo provisório. Também
vencem forças castilhistas no Rio Negro, próximo de Bagé, com a
prática generalizada de degolas, cortando a garganta até dos mortos,
espalhando medo. A invasão da baía de Paranaguá se deu em janeiro
de 1894. Com pouca resistência, o desembarque das tropas foi bem
sucedido. Gumercindo comandava as tropas vindas de Santa
Catarina para atacar Tijucas do Sul, já na fronteira. Paranaguá já
tinha sido ocupada e o governador Vicente Machado deslocava a
capital de Curitiba para Castro. Não foi tão fácil como as excursões
anteriores, encontrando resistência nos dias 15, 16 e 17 de janeiro.
Não conseguindo deslocar as tropas, cercados e sem cavalaria, com
suprimentos e munição acabando, rendem-se. Os maragatos
conseguem um reforço de armas e decidem ir para Curitiba e a Lapa
aniquilar as tropas de lá. A invasão ao Paraná acontece também em
outras cidades. No município de Palmas, foram excursões
predatórias, invasão de casas, degolamentos, estupros. Os maragatos
57
transformavam as cidades por onde passavam em praças de guerra.
Em Palmeira, penduravam cabeças nos postes das ruas. Muitos
foram mortos cortados vivos em pedaços depois de cavar a própria
cova. Por toda parte, bandidos se aproveitavam para praticar todo
tipo de crimes.

Os maragatos não encontraram ao chegar Curitiba qualquer


resistência em 20 de janeiro de 1894. Sob ameaça de saque da
cidade, é organizada pela Junta Comercial, presidida pelo Barão do
Cerro Azul, uma intermediação que previa grandes quantias de
dinheiro e suprimentos para os maragatos. A espera das tropas
dispersas, durante dois meses, os maragatos participaram de
espetáculos, bebedeiras no Largo São Francisco, reuniões solenes,
discursos e bailes com bandas de música, no Teatro São Teodoro e
nos palácios e salões da elite. Era comemorada a vitória. Nesse
tempo, mandaram tropas de reconhecimento para Castro, onde
Vicente Machado já havia transferido a capital para São Paulo.

Em 14 de janeiro de 1894, os pica-paus sob o comando de


Gomes Carneiro são atacados. A missão de barrar o avanço dos
revoltosos dada por Floriano ao coronel Gomes Carneiro, com 700
homens, contraponha-se aos 3 mil soldados, fuzileiros navais,
guardas nacionais catarinenses, mercenários de Corrientes e
Entrerios, caboclos e bugres sob o comando de Gumercindo. Para
resistir, Carneiro transformou a Lapa numa fortaleza e aproveitou a
topografia do terreno para impedir um assalto de cavalaria,
dispondo de artilharia em pontos estratégicos, cavando trincheiras,
barricadas e cerca de arama farpado. O que era para ser um
massacre passa para semanas de combates esganiçados.

58
Na madrugada de 22 de janeiro, Gumercindo preparava o
ataque ocupando a mata e as casas do morro do Monge. De manha
atacavam a vila com canhões, fuzis e metralhadoras. Tomam a
estação da Estrada de Ferro, o cemitério e o engenho. Os pica-paus
com artilharia e fuzilaria respondem desalojando maragatos das
matas e das casas invadidas, retomam o cemitério e a estação. O fogo
cerrado contínuo dos outros dias destrói a cidade.

Na manhã de 27 de janeiro, Gumercindo manda um emissário


que é preso por Carneiro. Os maragatos atacam retomando o
cemitério e instalando artilharias na Rua das Tropas, comprimindo
as trincheiras dos pica-paus. Explodiam granadas nas ruas e dentro
das casas. Nos primeiros dias de fevereiro, canhões dos navios de
guerra do litoral chegam para reforçar os ataques às tropas de
Carneiro, Perdendo forças, passaram a controlar um território cada
vez menor. No norte, a fuzilaria conseguia repelir os maragatos, mas
os combates já eram feitos corpo a corpo em diversas partes da
cidade. Em 7 de fevereiro, Carneiro é ferido, vindo a morrer dois
depois. Logo após sua morte, após quase de um mês, cai a Lapa.
Depois de 2.500 km que as tropas maragatas marcharam do Uruguai
até o Paraná, foi no cerco da Lapa que encontrou maior resistência.
Durante 26 dias, os pica-paus sob o comando do coronel Gomes
Carneiro resistiram ao cerco. A ordem de Floriano para Carneiro era
“resistir até o último homem”.

Em 9 de fevereiro de 1894, Saldanha realiza um assalto à


Armação para abastecer-se de munições, saindo ferido do combate.
Enquanto Floriano conseguira completa o cinturão de fogo na
capital, sustentando sua autoridade sem se afastar, os revoltosos
estavam sem recursos.
59
Em 10 de março de 1894, a nova esquadra foi posta em
operação no ancoradouro da Praia Vermelha. Os principais navios
adquiridos nos Estados Unidos e Europa. As embarcações que
chegavam dirigiam-se primeiro para Pernambuco e Bahia para
reparos. Formada por uma divisão de cruzadores e outra de
torpedeiros, na primeira se agrupam o “Niterói”, “Andrada”,
“Itaipu”, “Paranaíba” e “São Salvador”. A segunda os torpedeiros
“Pedro Ivo”, “Bento Gonçalves”, “Silvado”, “Silva Jardim”, “Pedro
Afonso”, “Gustavo Sampaio”, “Sabino Vieira” e “Tamborim”.

Em 11 de março, Floriano divulga que em 48 horas


começariam as operações contra os revoltosos. Saldanha decide pela
capitulação, recolhendo-se aos navios portugueses na baía. Ordenou
o abandono dos fortes e dos navios. Em cinco corveta portuguesas
saem rumo à Buenos Aires quinhentos homens. Em 13 de março de
1894, sob o comando do Almirante Jerônimo Gonçalves, a frota
florianista derrota as forças de Saldanha da Gama, afastando a
possibilidade de desembarque dos marinheiros no Rio de Janeiro ou
Niterói. Quando a esquadra organizada na Bahia chega, resta-lhes
apenas apossar-se dos navios e fortalezas. No dia 15 de março, o
conde de Parati, representante de Portugal no Brasil, comunica que
havia concedido asilo aos insurrectos em seus navios, partindo dia
18 à revelia do governo brasileiro. O Conde assume o compromisso
de não deixar ninguém desembarcar. Floriano pede para
desembarcá-los em Portugal, mas os portugueses rumaram para a
Bacia do Prata, onde rebeldes se juntaram com os maragatos. Com
as notícias de espalhando, lojas portuguesas foram depredadas e
incendiadas.

60
Na madrugada de 16 de abril de 1894 ocorre o último combate
naval. Eram 11 embarcações florianistas contra o temido
encouraçado Aquidaban, principal navio da Revolta Armada. Era o
último elo de resistência. Quase meia-noite, a frota bombardeia a
Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, ao norte de Desterro. O
comandante e toda tripulação abandonam a embarcação, buscando
abrigo e retirada por terra. Era a primeira vez que se utilizava
torpedos num combate naval no Brasil. Na fortaleza da ilha de
Anhatomirim, próxima de Desterro, quase duzentos maragatos,
estrangeiros, políticos e juízes, como o desembargador Francisco
Antônio Vieira Caldas, são fuzilados por ordem do coronel Moreira
César – que depois veio a morrer em Canudos, na Bahia. Moreira César
iniciou então uma operação pente fino na ilha de Santa Catarina e
colocou toda força à sua disposição no encalço dos remanescentes
revolucionários. A cidade recuperada foi batizada de Florianópolis.

Debelando a Revolta Armada, Floriano organiza tropas para,


partindo de São Paulo, ataquem os maragatos em Curitiba. Começa
a feroz ofensiva de Floriano. Percebendo a iminência do ataque
florianista, o governador provisório do Paraná, Menezes Dória, a
pretexto de comprar armas com o dinheiro arrecadado, abandona o
Estado. Curitiba, Lapa e Paranaguá são evacuadas. Gumercindo e
suas tropas seguem rumo ao Rio Grande do Sul. Juca Tigre se exila
na Argentina. Depois da retirada de Gumercindo de Curitiba, as
tropas florianistas comandadas pelo general Ewerton Quadros
ocupam a capital. A cadeia ficou lotada, sendo o usado o teatro como
prisão. Inúmeros fuzilamentos e prisões. Diversos membros da elite
local foram mortos. No quilometro 65 da estrada de ferro na Serra do
Mar são fuzilados o barão do Serro Azul, José Scheleder, Balbino de

61
Mendonça, Matos Guedes, José Ferreira e Presciliano Correia. No Rio
Grande do Sul, em abril de 1894, tropas do general Firmino de Paula
conseguem surpreender um grupo maragato de Ubaldino Machado.
Foram degolados 370 maragatos em respostas às degolas em Rio Negro,
poucos meses antes. Nos conflitos posteriores não se pouparam os
adversários. Em novembro, morria Gumercindo em Corovi. No dia 15
de novembro de 1894 assume Prudente de Moraes.

A contra-revolução foi derrotada definitivamente em 24 de


junho de 1895 na Batalha de Campo Osório, quando o almirante
Saldanha da Gama, possuidor de um contingente de 400 homens,
100 deles marinheiros, lutou até a morte contra os pica-paus
comandados pelo general Hipólito Ribeiro. A derrota acelerou o
processo de paz, que foi assinada no dia 23 de agosto de 1895, em
Pelotas. A contra-revolução terminou no governo de Prudente de
Moraes, o sucessor de Floriano Peixoto. O saldo da guerra foram
pelo menos doze mil mortos e incontáveis feridos.

Algumas guerrilhas prosseguem até 1895 no Rio Grande do Sul,


Santa Catarina e fronteiras com Uruguai e Argentina. O almirante
Saldanha da Gama, exilado em Buenos Aires, reúne 700 homens para
combater as tropas castilhistas em abril. Em junho foram destruídos nas
proximidades de Santana do Livramento, com degolas generalizadas.
Em 29 de junho de 1895, morre Floriano.

O “Protocolo da Pacificação”, de 10 de julho de 1895, assinado


pelos generais Galvão Queiroz e Joca Tavares, colocou fim na contra-
revolução, numa das guerras civis mais terríveis da história.
Aproximadamente 12 mil morreram, muitos ficaram incapacitados por
ferimentos, doenças ou amputações. Praticamente por toda cidade onde
tiveram conflitos, famílias perderam entes e as imagens da guerra ainda
62
ficariam na memória dos sobreviventes. Um mês depois, todos são
anistiados. Silveira Martins vai para o Uruguai.

Na guerra civil brasileira foi decisivo que os chefes da contra-


revolução não tinham unidade política. Saldanha da Gama era
monarquista. Custódio de Mello republicano e candidato à
presidência. Gumercindo Saraiva separatista, pretendia criar uma
nova nação unindo o sul do Brasil com Uruguai. Uns queriam o
retorno de Deodoro, outros de Dom Pedro II e outros empossar a
Princesa Isabel. Alguns queriam o parlamentarismo. Isso teve
impacto para que não tenham conseguido um comando unificado,
facilitando a dispersão da sua força.

63
POR QUE FLORIANO VENCEU A GUERRA,
MAS PERDEU O PODER?

Durante a segunda metade do século XIX, o centro de


gravidade econômica do país se deslocara do Norte para o Sul. A
prosperidade gerada pela mineração, no século anterior, havia dado
lugar a um longo período de estagnação até o surgimento do café
como o elemento mais dinâmico e promissor da economia nacional.
A organização social no sul, especialmente em São Paulo, passou a
sofrer intensa transformação com a crescente admissão de mão de
obra assalariada, vigoroso fluxo imigratório europeu e rápida
expansão da agricultura. No Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Paraná, multiplicou-se rapidamente o número de pequenas
propriedades.

Para São Paulo, porém, não bastaria a proclamação da


República. Seria preciso dominá-la. De outra maneira, governos
militares fortes constituiriam ameaça não apenas à sua autonomia,
mas à sua própria prosperidade. Assim, logo na primeira eleição
presidencial republicana, São Paulo lança uma candidatura civil – a
de Prudente de Morais – para contrapor-se à de Deodoro, chefe do
governo provisório. Procura reforçá-la com um vice-presidente
militar e alicia Floriano. Realizada a eleição pelo Congresso
Nacional, sai vitorioso o marechal Deodoro, embora não o seu
companheiro de chapa (almirante Eduardo Wandenkolk). São Paulo,
entretanto, alcança uma vitória parcial com a eleição de Floriano,
que aquiescera em apoiar o candidato civil. O Exército estava
dividido. Durante os primeiros anos do novo regime, os políticos

64
paulistas mantiveram firme controle do governo estadual e
protegeram-no contra interferências excessivas do governo federal,
em parte pela manutenção de uma forte organização militar própria
– a polícia estadual – à qual não regateavam recursos os prósperos
cafeicultores.

Ao mesmo tempo em que a Marinha ameaçava a capital da


República, os federalistas do Rio Grande do Sul invadiam Santa
Catarina e Paraná, com os olhos fixados nas fronteiras de São Paulo.
O estado de São Paulo, por ser economicamente o mais forte,
militarmente o melhor equipado e politicamente o mais estável,
tornou-se o fiel da balança. Para onde pendesse, penderia a vitória.

Durante a guerra civil, Floriano não podia rejeitar a aliança


com a oligarquia paulista, pois era garantia de força no Congresso e,
numa eventual revolta em São Paulo, a revolta da armada e os
maragatos teriam quase certa uma vitória. Floriano não tinha opção,
pois sem o apoio dos paulistas não poderia vencer os gaúchos
maragatos de Silveira Martins e Gumercindo, que ameaçavam
marchar até o Rio de Janeiro.

Logo após a revolta Armada, em junho de 1953, o Partido


Republicano Federal é fundado. Resultante da fusão do Partido
Republicano Paulista, forças oligarquias rurais e clubes republicanos
estaduais. Lançam o nome de Prudente de Moraes candidato à
Presidência. Buscam a transição de um “governo militar” para um
“governo de ordem civil”. Isso foi causando fissuras na base política
de Floriano, que após o golpe de Deodoro, passou a se colocar ao
lado da legalidade. Prisioneiro da guerra civil, Floriano não deu
coesão aos republicanos que desejavam transformações profundas e
sua manutenção na presidência. Os militares que proclamaram a
65
República unidos logo se dividiram ao longo dos governos Deodoro e
Floriano. Seja pelo radicalismo ou dificuldade em concentrar
esforços, mantiveram-se desunidos enquanto as oligarquias
regionais, lideradas por São Paulo, se uniam e se organizavam.
Como salienta Hamilton Monteiro, enquanto os militares e civis
revolucionários gastam forças na luta contra a revolta Armada e no
sul, as oligarquias, sob coordenação paulista, trabalha pela eleição
de Prudente de Moraes, sem deixar de apoiar Floriano na luta contra
os revoltosos. Para eles, o melhor seria o desgaste de ambas as
partes, com vitória republicana para assegurar a transmissão da
presidência posterior. Por isso a oligarquia paulista não se envolveu
diretamente nos combates. Enquanto as forças republicanas se
defendiam da revoltar armada e dos maragatos, eles se mantiveram
longe do conflito e se organizavam para sucessão de Floriano.
Afastavam os militares com seu viés positivista da política enquanto
ocupavam todos os espaços. Soma-se a isso a falta de comando
político dos republicanos, a desilusão de vários com as alianças feitas
com as oligarquias regionais, sem contar as lideranças que foram
afastadas ou morreram no processo. Não se criou um núcleo político
capaz de sustentar a continuidade da revolução, estrangulada pela
contra-revolução armada de um lado e a dependência tática da
oligarquia paulista que assumia o protagonismo político.

As oligarquias beneficiadas com o federalismo da república


aproveitam o combate armado entre florianistas e restauradores
para imprimir efetivamente a direção à sociedade brasileira. O
melhor para eles era uma aniquilação mútua, por mais que a
oligarquia paulista também precisava momentaneamente de
Floriano, pois uma eleição de Custódio, o retorno de Lucena e

66
deodoristas ou o federalismo monarquista de Silveira Martins
colocaria em xeque a autonomia dos estados e as classes dominantes
locais. Só que enquanto Floriano mobilizava a resistência armada
contra as forças reacionárias, os paulistas tratavam de ocupar a
política, se organizando num novo partido e lançando Prudente de
Moraes para sucessão. Ficaram em campanha por quase um ano, se
articulando com as oligarquias regionais para garantir a ascensão ao
poder depois da guerra civil que se desencadeava fortemente de
março de 1893 até fevereiro de 1894, quando o governo passou a
ofensiva para debelar definitivamente os revoltosos. Neste meio
tempo, as divisões entre os revolucionários cresciam e a unidade das
oligarquias aumentava.

A contra-revolução, apesar de militarmente derrotada,


conseguiu esgotar as forças revolucionárias. Por isso, é uma
revolução estancada, que não conseguiu ter tempo para se delinear.
Sendo sufocada pela contra-revolução, não se tornou aquilo que
estava em seus planos. Os grupos dominantes do regime imperial –
os barões do café de São Paulo, os coronéis dos engenhos do
Nordeste, os grandes charqueadores do Sul – se reorganizam e
retomam o poder, deixando frustração aqueles que acreditavam nos
“ideais republicanos” de Silva Jardim, da igualdade, da fraternidade,
da liberdade, a República do cidadão, dos direitos civis e do interesse
público. Após a guerra civil, Floriano Peixoto e os florianistas
perderam força com a ascensão de Prudente de Moraes e sob a
liderança da oligarquia rural paulista, que depois com Campos Salles
passa a se revezar com a oligarquia pecuária mineira.

Se esgotavam as forças para uma nova guerra contra os ex-aliados


momentâneos que se fortaleceram no período, que passou a guerra civil
67
sem entrar em ação direta nos conflitos da Armada e no sul. Nem
recursos para o coronel Gomes Carneiro na Lapa conseguiram enviar. E,
no final da guerra, a correlação de forças já era muito diferente daquela
no início do governo Floriano. As oligarquias estaduais se unem com os
liberais, ex-monarquistas, escravistas e setores da classe média
emergente para isolar os ideais da revolução republicana.

Floriano Peixoto passou seus anos de governo tentando se


defender de ataques dos seus opositores e se adaptando às reformas
administrativas impostas pela Constituição promulgada em 1891. E,
assim, não foi possível criar um bloco político, social e militar para fazer
frente as classes dominantes lideradas pela oligarquia paulista.

Floriano decide adiar as eleições gerais, para presidência,


Câmara e Senado, de 20 de novembro de 1893 para 1 de março de
1894. Desde agosto, boatos de cancelamento das eleições se
espalhavam. Floriano diz para Lauro Sodré que “amigos querem
ditadura”. Mas não havia clima. Militares divididos, politicamente
desorganizados e as oligarquias não aceitavam um cancelamento. E
o governador de São Paulo, Bernardino de Campo, não
desmobilizara os batalhões e os quartéis, esperando como se
desenrolavam os acontecimentos.

Em 1 de março de 1894 é confirmada a vitória de Prudente,


com 2% dos brasileiros participando da escolha. Muitos acreditavam
que não assumiria o cargo. Floriano estava no auge do seu poder e
popularidade, apontado como herói que havia impedido a
fragmentação política e do território nacional. Boatos diziam que ele
não entregaria o cargo. A posse realiza-se no dia marcado sem a
presença de Floriano, que alegou não passar bem. Com o desgaste
dos revolucionários na guerra e a derrota dos restauracionistas, os
68
fazendeiros paulistas assumem o Brasil, cerceando os militares e
revolucionários restantes.

Em 5 de novembro de 1897, um soldado tenta matar a facadas


Prudente de Moraes numa recepção feita para dois batalhões que
retornavam de Canudos. O presidente foi salvo pelo Ministro da
Guerra, Carlos Machado Bittencourt, que foi morto esfaqueado. Com
as notícias, a população se mobiliza para a apoiar o presidente.
Jornais florianistas foram depredados. O Clube militar fechado.
Militares florianistas importantes estavam envolvidos. Houve o
boato de que se tratava de uma conspiração do Clube Militar e
também de uma tentativa do vice-presidente da nação, o florianista
Manuel Vitorino Pereira, de assumir interinamente. Corriam
insinuações na imprensa de que os positivistas também eram
responsáveis, em certa medida, embora, indiretamente, por
“aconselhar a ditadura republicana, por querer suprimir as crenças
religiosas, e por ter corrompido o espírito cristão de nossos
soldados!” (LEMOS, 1899, p. 53).

A investigação do caso revelou um complô que tinha, além do


soldado, 22 pessoas incluindo o vice-presidente Manuel Vitorino
Pereira e o chefe republicano paulista Francisco Glicério. Assim,
Prudente consegue desmontar o grupo florianista e eleger como
sucesso seu conterrâneo Campos Salles, contra Lauro Sodré que
representada os florianistas. Sua vitória estabelecer a chamada
“política café com leite” que, no lugar da aristocracia escravista do
café e açúcar, passam a dominar os grandes fazendeiros de São
Paulo e Minas Gerais. E, assim, operam a contra-revolução dentro
do Estado, promovendo o massacre de Canudos e depois
Contestado, impedindo políticas de industrialização e que

69
atendessem as camadas populares, afastando militares da política e
desmontando seus aparelhos ideológicos.

Quando o terceiro mandato civil parecia ter debelado as forças


florianistas, em 1904 houve a tentativa do Clube Militar de entregar
um ultimatum ao presidente Rodrigues Alves e tomar o poder com o
apoio dos alunos da Escola Militar do Realengo e da Praia Vermelha,
mas a ação foi frustrada pelas forças do governo. Contribuíram para
esse ano de conflitos as greves operárias, em abril e maio e a Revolta
da Vacina, a partir de outubro. Ainda em 1904, e não menos
mobilizadora, iniciou-se a campanha de subscrição pública de
florianistas e positivistas para erguer um monumento a Floriano
Peixoto, em um dos pontos mais centrais da cidade do Rio de
Janeiro.

70
MOTIVAÇÕES E CONSEQUÊNCIAS DA
GUERRA CIVIL BRASILEIRA

A Guerra Civil Brasileira pode ser considerada uma guerra


moderna por causa da grande destruição gerada. Foi a segunda
guerra total do mundo (depois da norte-americana), onde todos os
recursos disponíveis foram usados por ambos os lados para os
esforços de guerra. Os maragatos adotaram uma linha de guerra
total, com apoio material e logístico do Uruguai e da Argentina.
Muitas vezes, a degola era praticada em meio a zombarias e
humilhações. Com o passar da barbárie da guerra, a prática foi
adotada também pelos pica-paus.

A Guerra Civil Brasileira foi motivada basicamente pelas


diferenças existentes entre a burguesia rural paulista e pequena
burguesia das cidades e os setores restauradores, concentrados na
Marinha e no sul do Brasil do final do século XIX. Nos centros
urbanos o desenvolvimento manufatureiro e a crescente
predominância do trabalho livre assalariado. No sul, o cultivo
agrícola baseado muitas vezes no trabalho escravo.
Economicamente, esses modelos antagônicos complementavam-se,
mas, politicamente, cada lado possuía interesses distintos, que
contribuíram para o desgaste das relações entre essas classes e
regiões.

A grande divergência envolvendo os dois lados era pautada


pelo debate do modelo de sociedade que seria implantado no Brasil.
Uma com república federalista – entre a oligarquia rural de São
Paulo e os positivistas revolucionários - livre de trabalho escravo,
71
outra anti-federalista, com vertentes parlamentaristas, monarquistas
e escravistas.

Muito foi escrito sobre como a “Revolução Federalista”


remontando a antigas rivalidades entre os partidos que disputavam
o poder do estado riograndense. Alguns historiadores dizem que a
“revolução federalista” foi uma a luta entre castilhistas e gasparistas
teria origem nos perfis de Gaspar Silveira Martins e de Júlio de
Castilhos, cujo objetivo era liquidar um ao outro. Isso teria motivado
ressentimentos e ódios entre as facções políticas gaúchas em luta
pelo poder no Rio Grande do Sul após a proclamação da República.
Outros dizem que a revolução teria sido motivada pelo perfil
autoritário de Júlio de Castilhos, que, para manter a ordem e o
progresso no estado, era capaz de utilizar o terror. Outras análises
chamam a atenção que, na guerra, os dois lados não lutavam por
uma mudança estrutural profunda, e sim por mudanças específicas,
como alguns dispositivos constitucionais. Outros, mais elaborados,
dizem que a luta que se seguiu de 1893 a 1895 entre federalistas e
republicanos pode ser interpretada como um conflito intraclasse,
pela posse do aparato estatal, o que permitiria exercer a dominação
política sobre o Rio Grande do Sul.

Estas explicações não colocam em questão o movimento


gerado pela Abolição e a Proclamação da República, além de omitir o
sentido histórico dos personagens e acontecimentos. As
inconsistências factuais são diversas, seja as posições políticas das
lideranças, a estratégia de Gumercindo para ir ao Rio de Janeiro, os
ideais positivistas dos pica-paus, a prática de guerra total
desencadeada pelos maragatos e a base de apoio monarquista e
restauradora da escravidão. Afinal, se era uma “disputa local contra
72
Castilhos”, por que as tropas de Gumercindo queriam tomar o Rio de
Janeiro e não Porto Alegre? Porque os marinheiros que buscavam
restaurar o Império na Revolta da Armada vão para a Ilha de
Desterro, atual Florianópolis, onde foi estabelecido um governo
provisório? Por que a Marinha se lança em Paranaguá? Por que
Custódio de Melo almejava depor Floriano e assumir o poder? E o
almirante Saldanha da Gama que aderira à revolta em sua fase final
e não escondia o desejo de restabelecimento da monarquia,
entregando-se o poder moderador à princesa Isabel? Ele estaria
interessado nos conflitos de poder no Rio Grande do Sul? Por que a
Guarda Imperial que defendia a volta à monarquia se envolveu nos
conflitos? Porque políticos monarquistas e grandes proprietários de
terra apoiavam e financiavam os “federalistas”? Lembrando que a
República já tinha instalado uma Federação. Em 1891 foi
promulgada a primeira Constituição da República brasileira que,
entre outras coisas, instituiu o sistema federativo. Mesmo assim, se
lançam na contra-revolução visando derrubar a República por meio da
Revolta da Armada no Rio de Janeiro (1893-1894) e o que ficou
conhecido como “Revolução” Federalista no Rio Grande do Sul
(1893-1895). Isso nos leva a crer que não houve uma “Revolução
Federalista”, mas uma contra-revolução que buscava encerrar a
República e restaurar as formas políticas (monarquia) e econômicas
(escravidão) do Império, bem como depor os militares liderados por
Floriano. Isso é, a “revolução federalista” só pode ser entendida
como “revolução” no mesmo sentido que é designada a Revolução
Constitucionalista de 1932 e a Revolução de 1964, visando esconder
uma contra-revolução reacionária.

73
O que alguns entendem como “Revolução Federalista” foi a
união de interessados na restauração monárquica e escravocrata,
promovendo uma guerra civil de grandes proporções. Era um
movimento retrógrado e armado, contra-revolucionário, de objetivos
restauradores. Eram os pica-paus os defensores da república e do
federalismo, com um governo era de orientação nacionalista e
centralizadora. Os escravocratas, monarquistas e liberais acusavam
o Floriano de autoritário. Para seus apoiadores, chamados
florianistas, seu lider era o “Salvador da República”, ou mesmo o
“Robespierre brasileiro” em referência a Revolução Francesa e
“Lincoln brasileiro’ em relação à guerra civil nos Estados Unidos.

Floriano tratou de dois objetivos na Guerra Civil, um de


carácter político (a preservação da unidade nacional) e outro de
natureza social (consolidação do fim da escravatura). No Brasil,
durante a guerra civil, a abolição da escravatura já tinha sido
assinada pela Lei Áurea. Tratava-se, portanto, de não permitir que a
restauração pudesse abolir a abolição, mantendo a economia
escravocrata.

A vitória de Floriano e dos pica-paus garantiu que não


houvesse uma virada napoleônica no Brasil. Lembrando que leis
assinadas por Napoleão em 1802 reverteram a abolição da
escravidão que havia sido anunciada oito anos antes, na esteira da
Revolução Francesa. Foram 300 mil pessoas que voltaram para
escravidão, além dos 450 mil escravos no Haiti que trabalhavam em
plantações que exportavam açúcar e café. Essa legislação fez da
França o único país a ter realmente reintroduzido a escravidão após
torná-la ilegal. A França só veio abolir definitivamente a prática, em
1848. Este parece ser o sentido da revolta da armada e o movimento

74
federalista dos maragatos: derrubar a República, reinstalar a
escravidão num sistema parlamentarista, que incluísse a antiga
realeza, ou mesmo restaurar a monarquia. Monarquistas (que
diziam ser “federalistas”), apoiados por poderosas fracções
regionais, não conformados pelo novo regime, desencadeiam uma
guerra total contra Floriano Peixoto, numa contra-revolução
extremamente violenta. Enquanto os centros urbanos queriam que o
Brasil avançasse contra a escravatura e a monarquia, as forças
monarquistas misturadas com escravistas e parlamentaristas
passaram para ações visando depor Peixoto e implantar um
parlamentarismo ou o retorno da monarquia de tal forma que fosse
possível restaurar a escravidão.

Se o sul tivesse ganho a guerra, a escravidão seria mantida ou


revogada? Considerando as forças contra-revolucionárias que se
sublevaram instaurando uma guerra civil em 1894, é de se acreditar
que seu intuito seria o mesmo, restaurando a monarquia sob novas
bases e revogando os avanços promovidos pela Abolição bem como
as políticas econômicas promovidas por Floriano. Foi a vitória dos
pica-paus na guerra civil que acabou com as forças armadas
restauradoras, que passaram a agir dentro da ordem republicana
para manter seus privilégios e interesses.

Floriano Peixoto não deveria ser lembrado apenas como


“consolidador da República”, mas também o principal responsável
para que o Brasil não tenha se dividido e voltado ao escravismo. Sua
derrota poderia significar uma divisão nacional e a regressão à
escravidão sabe-se lá por quanto tempo. Assim, a figura de Floriano só
poder ser remetida com Lincoln nos Estados Unidos. A vitória dos
pica-paus republicanos liderados por Floriano Peixoto sedimentou a

75
hegemonia burguesa em relação às outras regiões e, finalmente,
encerrou o debate sobre as possibilidades de restauração da
monarquia, inaugurando uma duradoura era de reconhecimento da
República. Não só a escravidão jazia ferida de morte, como a elite
escravocrata, que havia controlado o Império por várias décadas,
agora estava militar e economicamente derrotada. E essa passagem
da Monarquia para a República não teve nada como uma transição
pacífica entre as classes dominantes, culminando com a guerra civil
de maragatos e pica-paus, um dos mais trágicos e sangrentos
conflitos naquela época no mundo.

A guerra civil brasileira no final do século XIX é herdeira do


movimento revolucionário que se desenrola da Conjuração Mineira
até a República, numa série de rebeliões e conflitos sangrentos que
marcam profundamente o país por décadas e conquistam a abolição
da escravidão e a queda da Corte Imperial. Trata-se do momento
mais decisivo de nossa história, que coloca fim ao escravismo
colonial que por séculos era a marca do Brasil. Nunca um
acontecimento fora tão decisivo para os rumos da nação. Nenhum
outro evento foi tão determinante para a história do Brasil quanto a
Guerra Civil (1891-1894), nem mesmo sua Independência em 1822
ou a Revolução de 1930. Ironicamente, com o tempo, o que fora
central na guerra, a escravidão, foi minimizado em sua importância
por uma série de historiadores e memorialistas, especialmente
liberais. Expor essa realidade, privilegiando a visão de processo
histórico, permite um entendimento mais profundo da realidade
política, econômica e social do Brasil.

A categoria revolução brasileira foi criada por Urias Antônio da


Silveira em 1890 para se referir ao movimento que deu origem à

76
república brasileira. Ela foi usada com base em um critério
republicano radical, nas suas promessas para o contexto brasileiro
da época. Contribuiu para criar uma narrativa política sobre os
acontecimentos ocorridos e vindouros, para enaltecer o
protagonismo político das forças armadas no combate contra a
escravidão. Na verdade, ao alegar a falta de importância histórica da
revolução e contra-revolução brasileira, que revisionistas e liberais
almejam, se nega o papel do povo na história e sua capacidade em
mudar os rumos da sociedade. Hoje, 120 anos depois, é possível
reconstruir o sentido histórico da guerra civil com maior clareza,
expressão da luta pela emancipação nacional.

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SOBRE O AUTOR
Fernando Marcelino, graduado em Relações Internacionais pela
UNICURITIBA, Mestre em Ciência Política e Doutor em Sociologia
pela UFPR. Atuou no Escritório Paraná-China ligado ao Instituto
Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES).
Autor dos livros “Classes Dominantes no Paraná” (2019), “COVID e
a nova geopolítica global” (2020), “Em defesa do projetamento:
Ignácio Rangel e o desenvolvimento brasileiro” (2022), “Última
Hora” (poemas, 2022), “China: novos ensaios” (2023), “Marx no
século XXI” (2023) e diversos textos e artigos. Militante do
Movimento Popular por Moradia – MPM.

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