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INTRODUÇÃO AO PLANEJAMENTO NA CHINA

Planos Quinquenais e Desenvolvimento Urbano

FERNANDO MARCELINO PEREIRA

2023

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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA
PUBLICAÇÃO (CIP)

Marcelino, Fernando

Introdução ao planejamento na China: Planos


Quinquenais e Desenvolvimento Urbano / Fernando
Marcelino Pereira. – Curitiba, 2023.

1. Planejamento 2. China 3. Desenvolvimento

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SUMÁRIO

1. PLANEJAMENTO DE LONGO PRAZO POR MEIO DOS PLANOS


QUINQUENAIS NA CHINA p. 05

2. PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO URBANO NA CHINA p. 27

3. DESAFIOS DO NOVO URBANISMO NA CHINA p. 36

4. REFERÊNCIAS p. 40

5. SOBRE O AUTOR p. 45

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1. PLANEJAMENTO DE LONGO PRAZO POR MEIO DOS PLANOS
QUINQUENAIS NA CHINA

O plano diretor da China para o desenvolvimento econômico e social nacional,


bem como os planos específicos, são geralmente concebidos para um período de cinco
anos, comumente chamado do Plano Quinquenal. A China está realizando o 14º Plano
Quinquenal, até 2025. Os planos servem como o planejamento governamental de longo
prazo, caracterizados por diagnósticos bem elaborados, conteúdos objetivos claros com
metas quantificadas, cronogramas definidos e controlados ao longo de sua execução.

Os comunistas chineses designaram o período 1950-52 como o período de


reabilitação da economia nacional. Planejavam restaurar instalações produtivas e
sistemas de transporte que foram danificados ou destruídos durante a Guerra Sino-
Japonesa (1937-45) e a Guerra Civil (1946-49). Após a fundação da República Popular
da China em 1949, num contexto como o bloqueio e embargo contra a China por parte
dos países ocidentais e o congelamento das suas propriedades, bem como a Guerra da
Coreia, o governo chinês começou a adotar uma moeda comum, retificar o mercado
financeiro, confiscar o capital burocrático e estabelecer empresas estatais, estabilizar os
preços das commodities e esforçar-se para retomar e desenvolver a produção industrial e
agrícola.

No âmbito do programa de reforma agrária, as propriedades dos proprietários


foram confiscadas e redistribuídas aos camponeses. A lei de reforma agrária de 1950
previa especificamente que os proprietários que agissem de maneira inadequada com
seus inquilinos poderiam ser executados ou reformados laboriosamente Ao mesmo
tempo, foram formadas “equipas de ajuda mútua” agrícolas e cooperativas para
aumentar a produtividade através da partilha de recursos. Em termos de recuperação e
desenvolvimento agrícola, a China aumenta o investimento governamental e o
fornecimento de materiais para a agricultura, lança projetos de conservação da água,
conduz a reforma agrária e a recuperação de terras, abre a comunicação urbano-rural,
aumenta a taxa de paridade dos produtos agrícolas, desenvolve equipes de ajuda mútua
de produtores agrícolas, populariza técnicas agrícolas para a agricultura científica e
melhora a produtividade; em termos de recuperação e desenvolvimento industrial, se
confisca o capital burocrático e o capital estrangeiro, estabelece empresas estatais,
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permite a coexistência de múltiplos sistemas de propriedade, respeita a lei do valor e
mobiliza o entusiasmo pela produção; em termos de reformas fiscais e fiscais, reforça a
cobrança, gestão de impostos e a gestão financeira das empresas estatais, emite títulos
governamentais e recebe ajudas para dívidas externas, melhorando assim a situação
financeira do país. No aspecto financeiro, inclui o negócio de depósitos e empréstimos
no planejamento estatal, fortalece a gestão cambial, realiza o equilíbrio das receitas e
despesas cambiais e assume a liderança na transformação socialista e na nacionalização
da indústria financeira privada. No final de 1949, a economia estatal chinesa já estava
desempenhando um papel de liderança em áreas como finanças, indústria moderna e
transportes e, em 1952, a economia nacional da China se recupera bem e a sua produção
industrial e agrícola excede os níveis mais elevados antes da revolução.

A China formula seu primeiro Plano Quinquenal em 1953. Para apoiar uma
estratégia que priorizava o desenvolvimento da indústria pesada, o Plano Quinquenal
tinha a função principal de alocar recursos e atribuir projetos industriais, sendo criado
para planejar e acelerar o desenvolvimento econômico. A China então recebe da União
Soviética e dos países europeus de democracia popular diversos equipamentos e
experiência técnica, da sua experiência de organização do trabalho e da produção em
grandes empresas socialistas. No decurso dos anos do primeiro plano quinquenal de
desenvolvimento da economia nacional (1953-1957), foi ampliada a base siderúrgica no
Nordeste, iniciada a construção de duas novas bases siderúrgicas na Mongólia Interior e
na China central, construção de uma série de novas e a ampliação de velhas estações
elétricas, minas de carvão, campos petrolíferos, empresas de metalurgia não ferrosa,
extração de metais não ferrosos, indústria química e indústria de materiais de
construção, bem como de uma série de fábricas de construção de máquinas e empresas
de indústria leve. No decurso do plano quinquenal, foram postas em construção mais de
10.000 instalações industriais, incluindo 312 empresas de metalurgia ferrosa, 599
estações elétricas, 600 minas de carvão, 22 empresas da indústria de petróleo e 637 da
indústria química, 1921 empresas de construção de máquinas e de elaboração de metais,
613 empresas têxteis e outras. Entre as empresas em construção, figuravam 921 grandes
instalações industriais, 227 a mais do que fora traçado pelo plano. Os ritmos anuais
médios de crescimento da produção indústria representaram 19,2% ao invés de 14,7%,
como se previa no plano. Ao término de 1957, haviam sido entregues a exploração,
integral ou parcialmente, 537 grandes instalações industriais. Nos anos do primeiro
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plano quinquenal, construíam-se na China, com a colaboração da União Soviética, 166
grandes empresas, das quais, ao término de 1957, 68 entravam integral ou parcialmente
em ação. Durante o primeiro plano quinquenal foram produzidas 16,6 milhões de
toneladas de aço, ao passo que, durante 49 anos (1900/1949), a produção de aço não
totalizou mais do que 7,6 milhões de toneladas. A produção industrial global, em 1957,
tinha aumentado em 141% com relação a 1952 e superava em 21% o nível prefixado
pelo primeiro plano quinquenal. No espaço de quatro anos, entre a segunda metade de
1952 e o final de 1956, a China completa a transformação para uma economia
planificada pelo Estado e estabelece um sistema econômico nacional baseado na
propriedade pública. Em 1956, 96% de todos os agricultores de todo o país aderiram a
cooperativas (incluindo equipas de ajuda mútua, cooperativas elementares e
cooperativas avançadas), mais de 90% dos artesãos aderiram a cooperativas e a
transição das empresas para a propriedade pública foi realizada através de parcerias
público-privadas.

Após o 1º Plano Quinquenal, este modelo de desenvolvimento entrou em crise


com os conflitos entre China e URSS, conhecido como Cisma Sino-Soviético que
rachou o Campo Socialista. Com a morte de Stálin, em 1953, a relação entre URSS e
China começa a degringolar. O novo governante soviético faz severas críticas ao
antecessor e promove o que se convencionou chamar de "desestalinização". Kruchev
idealizou e colocou em prática a "doutrina de coexistência pacífica", que preconizava o
caminho pacífico para se alcançar a revolução comunista pelo mundo. Ou seja, a
política externa soviética passou a defender estratégias de construção do socialismo sem
recorrer à violência revolucionária. As diferentes visões chinesa e soviética da
colaboração provocariam um conflito crescente. Enquanto a União Soviética pretendia
tratar a China como mais um dos seus satélites, os dirigentes da República Popular
desejavam um tratamento em condições de igualdade, bem como defender o legado
socialista.

A fim de criar uma sólida base para a industrialização socialista do país, foi
traçado no segundo plano quinquenal (1958-1962) continuar a construção de empresas
metalúrgicas, assegurar o rápido desenvolvimento da construção de máquinas, acelerar
o desenvolvimento das indústrias de energia elétrica, de carvão e de materiais de
construção, bem como adiantar a construção das indústrias petrolífera, química e de
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rádio, que são as menos desenvolvidas. Porém, as disputas com a URSS acabaram por
levar os chineses a colocar em prática uma nova política de desenvolvimento econômico
e social, que foi oficialmente chamada de o Grande Salto para Frente, iniciada em 1958.
Foi imputado como tarefa mais importante prosseguir a construção industrial com base
na indústria pesada, avançar a reconstrução técnica da economia nacional, criar uma
sólida base para a industrialização socialista do país. Por um lado, o rápido crescimento
da indústria (aço) e da agricultura (grãos), por outro lado, a realização do comunismo o
mais rápido possível. O Grande Salto tinha como premissa a mobilização de todos os
recursos humanos da China, enfatizar a "iniciativa subjetiva" do povo, em particular da
massa camponesa, que constituía cerca de 80% da população, a fim de acelerar o
desenvolvimento econômico e a igualdade entre todos num curto período de tempo. O
núcleo do projeto desenvolvimentista era a auto-suficiência e a auto-sobrevivência, ou
seja, cada vilarejo deveria produzir os alimentos e os bens necessários. Nas áreas rurais,
o movimento das comunas populares foi realizado em todo o país. No final de 1958, um
total de 740.000 cooperativas agrícolas em todo o país foram transformadas em 26.000
comunas populares através de reorganização e combinação, e as famílias de agricultores
integradas em comunas populares representavam 99% de todas as famílias de
agricultores na China. No nível administrativo, os governos municipais foram
removidos e a "integração da administração governamental com a gestão comunal" foi
posta em prática.

Após a Segunda Crise do Estreito de Taiwan, temendo um confronto armado


com os Estados Unidos, em junho de 1959, Kruchov revoga a promessa de fornecer
tecnologia necessária para a construção de uma bomba atômica chinesa. Em 1960,
ordena a saída de todos os seus especialistas estabelecidos na China e cancela os
projetos de cooperação técnica. Esses fatores geraram muita desconfiança dentro da
China e fez com que os dirigentes chineses se afastassem ainda mais da URSS.
Em 1962, a ruptura se aprofunda quando a União Soviética, com base no princípio
da coexistência pacífica, adota uma postura de neutralidade em relação à Guerra sino-
indiana. Estas disputas territoriais alcançariam o seu momento de tensão máxima no
incidente da ilha de Zhenbao ("Damanski" em russo) no rio Ussuri, onde houve uma
batalha entre tropas chinesas e soviéticas pelo controle do ilha. Este confronto armado
iria ser o ponto mais baixo nas relações entre os dois países, e chegou-se a temer a
possibilidade de uma grande guerra entre as duas potências comunistas. Assim, a China
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via-se ainda mais isolada internacionalmente ao não contar nem com o apoio do
Ocidente nem com o do bloco soviético.

Apesar de ter alguns avanços na ampliação da industrialização em grandes setores


da economia, o Grande Salto Adiante criou desiquilíbrios insustentáveis. As minas de
carvão que se proliferaram por todo o país arruinaram campos férteis. Diversos casos de
contaminação pela instalação de pequenas fábricas de aço construídas no quintal de
casas. O cultivo irregular de determinados grãos e alimentos ocasionaram maior
infertilidade das terras que, conjugado com a construção de represas sem o devido
planejamento e estudo técnico, se arruinou os solos, tornando-os imprestáveis para o
cultivo. Máquinas agrícolas careciam de peças de reposição, entre inúmeros outros
problemas. O valor da produção agrícola bruta em 1959 caiu 13,6% em relação ao ano
anterior e o valor de 1960 caiu 12,6% em relação ao nível de 1959. A vida da população
rural e urbana encontrou grandes dificuldades. Financeiramente falando, a China sofreu
um déficit fiscal durante quatro anos consecutivos (1958-1961), levando à falta de
controle macro à escala global, o crédito bancário ficou fora de controle e a pressão
inflacionista foi enorme, o que reduziu ainda mais o nível de vida dos residentes
urbanos e rurais.

O Terceiro Plano (1966-1970) foi originalmente previsto no início de 1963, mas


a economia da China estava em crise para permitir quaisquer operações planejadas. A
Revolução Cultural Proletária substituiu o Terceiro Plano Quinquenal da mesma forma
que o Grande Salto em Frente substituiu o Segundo Plano Quinquenal em
1958. Quando foi colocado em prática o terceiro plano, a Revolução Cultural estava
sendo lançada por Mao. Em 16 de maio de 1966, Mao advertia num documento interno
que o PCCh estava repleto de revisionistas capazes de, a qualquer momento, instaurar o
capitalismo na China. Na “Resolução dos 16 pontos” - que foi o documento que regeu a
Revolução Cultural - a revolução tinha como objetivo identificar e destituir os
elementos que seguiam a “linha capitalista” e aqueles que difundissem a ideologia
burguesa na academia e na cultura. Depois de conseguir o controle do Politburo, Mao
lançou uma série de apelos às bases do Partido, nomeadamente os Guardas Vermelhos e
os jovens, no sentido de expurgar a China do que considerava serem os restos do
feudalismo e da burguesia. Por trás do desencadeamento de um grande movimento de
massa, visava-se a transformação ideológica e cultural do país. Nos meses seguintes, foi
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elaborado um programa de eliminação dos chamados 4 velhos de que padecia a China:
as velhas ideias, a velha cultura, os velhos costumes e os velhos hábitos. Para reger a
Revolução Cultural foram criadas várias organizações de massa, como comitês e grupos
dentro das escolas, instituições e fábricas. Esse processo contou com a participação dos
guardas vermelhos, os quais surgiram na cena política chinesa e passaram a exercer um
papel de grande importância no desencadeamento da Revolução Cultural. A Guarda
Vermelha era formada por estudantes secundaristas e universitários cuja origem era
operária ou camponesa, promovendo uma forte atividade de propagação da Revolução
Cultural por toda a China, incentivando o combate contra a reprodução de práticas ditas
burguesas. A ação cada vez mais radical destes grupos levou a multiplicação de disputas
entre os grupos. O caos traduziu-se no assalto e destruição do património cultural do
país, com a queima de livros, destruição de obras de arte, muitas sessões de auto-crítica,
etc. A literatura, a filosofia, a medicina e a arte tradicional chinesa foram declaradas
decadentes e banidas e substituídas por uma literatura e uma estética revolucionária,
substancializada na épica peça de balé Dong Fang Hong. Durante os anos da Revolução
Cultural, a reeducação se tornou uma prática largamente utilizada como instrumento de
correção dos quadros do Partido que haviam se burocratizado e perdido contato com os
setores populares. Ex-funcionários do governo, escritores, médicos, intelectuais,
professores que “seguiam a via capitalista”, eram enviados para se reeducarem através
do trabalho produtivo e também receberem cursos de formação política. Esses campos
receberam os guardiões da cultura – artistas, escritores, intelectuais, atores e jornalistas.
(CHANG, 2006, p. 642) Os locais da reeducação se situavam no interior da China, em
aldeias onde não havia água encanada, sistema de esgoto e luz elétrica, ou seja, os
reeducados deveriam viver, comer e trabalhar como o povo. A dureza do trabalho no
campo e na fábrica estava ligada à ideia de aprendizado com as massas através da
“reeducação ideológica” pelo trabalho produtivo. Desde o início da planificação, os
anos de 1967 e 1968 teriam sido os únicos momentos da história da China Popular em
que não foram implementados planos econômicos, em razão da “Revolução Cultural”.

O quarto plano (1971 – 1975) foi marcado pelo arrefecimento da Revolução


Cultural. A ênfase geral depois de 1969 foi na reconstrução do partido, estabilização
econômica e uma maior sensibilidade aos assuntos externos. Em 1971, Mao encarregou
o primeiro-ministro Zhou Enlai da responsabilidade de acelerar o desenvolvimento da
economia nacional. Ele percebe que o desenvolvimento exige a modernização das
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máquinas e equipamentos antigos utilizados pela indústria chinesa. Em particular,
percebe que a indústria chinesa não poderia ser modernizada sem importações de
tecnologia estrangeira. Assim se decidiu importar o necessário de tecnologia estrangeira
e melhorar as relações econômicas da China com os países ocidentais, especialmente
com os Estados Unidos.

O Presidente Nixon visitou a China de 21 a 28 de fevereiro de 1972, reuniu-se


com o Presidente Mao, manteve conversações diversas vezes com o Primeiro-Ministro
Zhou Enlai e publicou um Comunicado Conjunto Sino-Americano em Xangai. O seu
encontro com o Presidente Mao, que alegadamente não tinha sido agendado, chamou a
atenção como uma indicação das verdadeiras boas-vindas da República Popular da
China ao Presidente e também do seu entusiasmo pelas conversações. O Comunicado
Conjunto expressou as opiniões de ambos os países sobre questões que lhes dizem
respeito e também sobre vários problemas internacionais. Afirmou que ambos os lados
concordaram com a coexistência pacífica e a normalização das relações sino-
americanas, expressou lado a lado as diferentes opiniões dos dois países sobre Taiwan, a
Indochina e outros problemas sobre os quais discordaram. E, acima de tudo, abriu
caminho para a China importar tecnologia dos EUA e outros países.

Em janeiro de 1975, Zhou Enlai, falando perante o Quarto Congresso Popular


Nacional, delineou um programa do que veio a ser conhecido como as Quatro
Modernizações para os quatro setores da agricultura, indústria, defesa nacional e ciência
e tecnologia. Esta proposta constituiu a principal diretriz para planos econômicos
subsequentes.

Durante o quinto plano (1976-1980), após a morte de Mao Zedong em 1976, o


partido foi liderado pelo sucessor designado, Hua Guofeng, que defendia um desvio
mínimo das doutrinas maoístas no que diz respeito aos sistemas políticos e econômicos.
Em abril de 1978, Hua Guofeng lança um ambicioso plano de desenvolvimento decenal,
centrado no investimento na indústria pesada, grandes obras de infraestrutura e na forte
dependência das importações de equipamento de capital. Entretanto, no XI Congresso
do PCC, em julho de 1977, Deng Xiaoping e outros veteranos foram reabilitados, além
da incorporação de novos quadros dessa mesma corrente, modificando sensivelmente a
correlação de forças dentro da composição do Comitê Central e do Bureau Político.
Deng propunha um reajustamento da economia, “uma retirada parcial, no estilo da

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Grande Marcha”, e insistia na avaliação crítica de Mao. A corrente liderada por Deng
impôs a rejeição da linha política da manutenção do maoísmo, na famosa 3ª Sessão
Plenária, em dezembro de 1978, e, em abril de 1979, classificou como grande fracasso o
plano econômico recém-adotado de Hua Guofeng. Apontaram os resultados de déficit
orçamentário, déficit comercial, inflação etc. Decidiu-se por uma nova política para
“reajustar, reformar, corrigir e melhorar” a economia. Wing contrasta a tentativa de
política econômica de Hua (WING, 1999, p. 28-9), cujo conteúdo era caracterizado por
massiva e acelerada industrialização, isolamento comercial e planificação estatal, com
as propostas de Deng, que se baseavam em incentivos materiais, busca de eficiência
econômica e desenvolvimento com destaque ao comércio exterior.

No final de 1978, as visões reformistas, lideradas por Deng Xiaoping, tornaram-


se dominantes no partido. A facção ultra-esquerda foi deposta do poder por uma
coligação de forças moderadas composta por veteranos seniores do Partido Comunista e
quadros mais jovens que surgiram durante o período da Revolução Cultural. Deng
Xiaoping refutava um pensamento rígido sobre planejamento e economia de mercado.
Defendia que era preciso uma grande e perigosa retirada estratégica, vagarosa e
complexa, no ritmo que conseguisse manter desenvolvimento econômico e estabilidade
política, um sistema de transição socialista, partindo das condições nacionais,
combinando regulação do mercado com medidas globais de planificação, admitindo
uma diversidade de formas produtivas para equilibrar o desenvolvimento econômico e
social. No Terceiro Plenário do Comité Central do Partido Comunista, em dezembro de
1978, a liderança rompeu decisivamente com o legado da Revolução Cultural e decidiu
centrar o trabalho do partido no desenvolvimento econômico. A principal contradição
na China foi identificada como o atraso da economia na resposta às necessidades do
povo. Assim, a principal tarefa do partido foi definida como o desenvolvimento das
forças produtivas.

As reformas tiveram início no campo, dando aos 800 milhões de camponeses o


direito de escolher diferentes sistemas de responsabilidade pela produção agrícola, de
forma cooperada, familiar ou individual. O que se precisava para garantir insumos e
alimentos para 1 bilhão de pessoas era ampliar o incentivo aos camponeses com a rápida
expansão da indústria leve, bens de consumo e serviços. A nova linha passou a visar o
crescimento de formas diversificadas de direito de propriedade, se introduzindo

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reformas com o objetivo de fortalecer o mecanismo do mercado, sempre com o
pressuposto que a propriedade pública deve permanecer dominante. E o motor deste
processo foram as empresas estatais consideradas de segurança nacional (indústrias
estratégicas ou chaves), como energia, defesa, telecomunicações, máquinas e
equipamentos, automotiva, tecnologias da informação, siderurgia, química, construção
naval e aviação, pesquisa e desenvolvimento. Elas começaram a implantar uma
autonomia para negociar no mercado, para que viessem a se transformar em grandes
conglomerados, que pudessem liderar o processo de modernização no país.

No entanto, embora a nova liderança tenha concordado quanto à necessidade de


romper com o passado e de reformar o sistema econômico, não houve unanimidade nas
opiniões sobre o ritmo e a natureza da reforma, particularmente o papel do mercado
versus o do planejamento numa economia socialista. economia. Nos primeiros anos de
reforma, tais diferenças de pontos de vista tinham pouca importância política, uma vez
que as reformas então adoptadas eram experimentais e parciais, dirigidas principalmente
ao rejuvenescimento de uma economia que se tinha tornado moribunda como resultado
de anos de interferência política combinada com a diminuição da eficácia do
planejamento administrativo. Na fase inicial do processo de reforma, a questão foi
resolvida considerando o mercado como um complemento útil a uma economia
predominantemente planificada. Em meados da década de 1980, o papel do mercado foi
elevado quando o objetivo das reformas econômicas foi declarado como o
estabelecimento de uma “economia de mercadorias socialista planejada”. Nesta
formulação, considerava-se que a China se encontrava numa fase primitiva do
socialismo, na qual a economia mercantil era uma parte essencial. Assim, o objetivo da
reforma era estabelecer um sistema econômico que combinasse o planejamento com a
utilização das forças de mercado. No entanto, à medida que as reformas começaram a
espalhar-se pela economia, a inadequação de uma abordagem parcial tornou-se cada vez
mais evidente, conforme se manifesta nos surtos periódicos de instabilidade
macroeconômica. Consequentemente, à medida que uma abordagem mais abrangente às
reformas se tornou imperativa, as diferenças de pontos de vista começaram a influenciar
diretamente a direção e a substância das políticas, resultando em mudanças periódicas
na ênfase das reformas.
Em 1982, no texto “No domínio das tecnologias, seremos bons em aprender; em
particular, devemos ser bons em inovar”, Deng Xiaoping aponta:
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Qual é a linha ideológica? Aderir ao marxismo e integrá-lo às realidades chinesas -
em outras palavras, buscar a verdade dos fatos, como defendido pelo camarada Mao
Zedong, e defender suas idéias básicas. É crucial para nós aderir ao marxismo e ao
socialismo. Por mais de um século após a Guerra do Ópio, a China foi submetida a
agressões e humilhações. É porque o povo chinês abraçou o marxismo e manteve o
caminho que conduzia da nova democracia ao socialismo que sua revolução foi
vitoriosa ...

Na fundação da República Popular, herdamos da velha China uma economia em


ruínas, praticamente sem indústria. Havia escassez de grãos, a inflação era aguda e a
economia um caos. Mas resolvemos os problemas de alimentação e emprego da
população, estabilizamos os preços das commodities e unificamos o trabalho
financeiro e econômico, e a economia se recuperou rapidamente. Nesta base,
iniciamos uma reconstrução em grande escala. Em que confiamos? Confiamos no
marxismo e no socialismo. Algumas pessoas perguntam por que escolhemos o
socialismo. Respondemos que era necessário, porque o capitalismo não levaria a
China a lugar nenhum. Se tivéssemos trilhado o caminho capitalista, não
poderíamos ter acabado com o caos no país nem com a pobreza e o atraso. É por
isso que declaramos repetidamente que devemos aderir ao marxismo e manter o
caminho socialista.

O que é socialismo e o que é marxismo? Não éramos muito claros sobre isso no
passado. O marxismo atribui extrema importância ao desenvolvimento das forças
produtivas. Dissemos que o socialismo é o primeiro estágio do comunismo e que no
estágio avançado será aplicado o princípio de cada um de acordo com sua
capacidade e de cada um de acordo com suas necessidades. Isso exige forças
produtivas altamente desenvolvidas e uma abundância avassaladora de riqueza
material. Portanto, a tarefa fundamental da etapa socialista é desenvolver as forças
produtivas. A superioridade do sistema socialista é demonstrada, em última análise,
pelo desenvolvimento mais rápido e maior dessas forças do que sob o sistema
capitalista. À medida que se desenvolvem, a vida material e cultural das pessoas
melhorará constantemente. Uma das nossas deficiências após a fundação da
República Popular é que não prestamos atenção suficiente ao desenvolvimento das
forças produtivas. Socialismo significa eliminar a pobreza. Pauperismo não é
socialismo, muito menos comunismo.

O mundo atual está aberto. Uma razão importante para o atraso da China após a
revolução industrial nos países ocidentais foi sua política de portas fechadas. Depois
da fundação da República Popular fomos bloqueados por outros, então o país ficou
praticamente fechado, o que nos criou dificuldades. A experiência dos últimos trinta
anos demonstrou que uma política de portas fechadas atrapalharia a construção e
inibiria o desenvolvimento. Partindo das realidades na China, devemos antes de
mais nada resolver o problema do campo. Oitenta por cento da população vive em
áreas rurais, e a estabilidade da China depende da estabilidade dessas áreas. Por
mais bem-sucedido que seja nosso trabalho nas cidades, isso não significará muito
sem uma base estável no campo. Assim, começamos por dinamizar a economia e por
aí adotar uma política aberta, de modo a colocar em ação a iniciativa de 80 por
cento da população. Adotamos essa política no final de 1978 e, depois de alguns
anos, ela produziu os resultados desejados.

Abrimos 14 cidades costeiras de grande e médio porte. Congratulamo-nos com o


investimento estrangeiro e técnicas avançadas. A gestão também é uma técnica. Eles
vão minar nosso socialismo? Provavelmente não, porque o setor socialista é o esteio
da nossa economia. Nossa base econômica socialista é tão grande que pode absorver

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dezenas e centenas de bilhões de dólares em fundos estrangeiros sem ser abalada. O
investimento estrangeiro servirá, sem dúvida, como um importante complemento na
construção do socialismo em nosso país. E do jeito que as coisas estão agora, esse
suplemento é indispensável. Naturalmente, alguns problemas surgirão na esteira do
investimento estrangeiro. Mas seu impacto negativo será muito menos significativo
do que o uso positivo que podemos fazer dele para acelerar nosso
desenvolvimento. Pode acarretar um pequeno risco, mas não muito.

Bem, esses são nossos planos. Devemos acumular novas experiências e tentar novas
soluções à medida que surgem novos problemas. Em geral, acreditamos que o caminho
que escolhemos, que chamamos de construção do socialismo com características
chinesas, é o certo. Há cinco anos e meio percorremos esse caminho e alcançamos
resultados satisfatórios; de fato, o ritmo de desenvolvimento até agora excedeu nossas
projeções. Se continuarmos assim, poderemos atingir a meta de quadruplicar o PIB da
China até o final do século. E assim posso dizer aos nossos amigos que estamos ainda
mais confiantes agora.

As reformas liberalizaram a administração das empresas, tanto em relação aos


investimentos e produção, quanto no que diz respeito às compras e vendas dessas firmas
no mercado. A multiplicação impressionante das empresas de municípios e aldeias
também significou um tipo de esvaziamento das possibilidades da planificação e gestão
estatais como controle, direção, coordenação da atividade econômica nacional. Durante
os anos 1980 tentou-se uma conciliação entre a administração e a liberalização dos
preços. Isso pode ser visto como um sistema trinitário, com o Estado fixando alguns
preços e monitorando outros, enquanto para uma quantidade cada vez maior de produtos
admitia-se a determinação dos preços pelas forças de mercado (MACEDO, 1994, p. 40)
Isso é, alguns preços ainda determinados administrativamente, como nas cotas de
produtos a serem vendidas ao Estado no início das reformas e outros preços
determinados pelo mercado. Já em outubro de 1984, foram liberados os preços da
maioria dos produtos agrícolas e da maioria dos produtos manufaturados (esses últimos,
dentro de uma banda de variação dos preços).
O sétimo plano quinquenal (1986-1990) foi feito para construir uma base para o
novo sistema econômico socialista com características chinesas. Este plano, concebido
após a reforma e abertura da China, incluiu pela primeira vez seções sobre "expansão do
intercâmbio econômico e tecnológico externo" e "estrutura e política de investimento",
e também colocou o desenvolvimento da ciência e da educação em posições
estratégicas. Embora a China tenha prosseguido com sucesso uma estratégia de reforma
e abertura da sua economia durante 15 anos, as reformas não derivaram de qualquer
plano abrangente. Em geral, as medidas de reforma foram inicialmente introduzidas
numa base experimental em algumas localidades – muitas vezes como resultado de
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iniciativas locais – e foram adotadas à escala nacional apenas quando se revelaram bem
sucedidas a nível local. Esta abordagem pragmática às reformas ajudou a evitar grandes
perturbações econômicas e a transformar a economia de um sistema de planejamento
predominantemente central para um sistema em que os mecanismos de mercado
desempenham um papel importante também.
No ano de 1988, a reforma do aparelho do Estado redundou na eliminação de
cerca de 4 milhões de postos de trabalho na máquina pública (RODRÍGUEZ, 2005, p.
18) Os ministérios e comissões no governo central passaram de 40, em 1983, para 29,
em 1989. Na nova estrutura, a área de controle macroeconômico reunia o Ministério da
Fazenda, o Banco Popular da China (Banco Central), a Comissão Estatal de
Planificação e Desenvolvimento e a Comissão Estatal de Economia e Comércio. A área
de gestão econômica contava com os ministérios dos Transportes Ferroviários, das
Comunicações, da Construção, da Agricultura, Conservação da Água, Comércio
Exterior e Cooperação Econômica e da Informação (fusão dos ministérios dos Correios
e Telecomunicações e da Indústria Eletrônica), além da Comissão de Ciência,
Tecnologia e Indústria de Defesa. A área de administração agregava os ministérios da
Educação, Ciência e Tecnologia, Cultura, Trabalho e Seguridade Social, Recursos
Naturais. Os demais 12 ministérios compunham a área de assuntos de governo e de
Estado. A estrutura do Conselho de Estado contava com comissões centrais que
desempenhavam um importante papel de articulação dos diversos ministérios, ajudando
a formular propostas mais globais para a política, planificação e gestão da economia e
da administração na China. Mas, com as transformações econômicas do mercado e da
propriedade privada, tudo isso foi perdendo sentido, substância, efetividade.
A liberalização dos preços, com impactos de inflação e de desorganização
econômica, foi um importante objeto de disputa no interior do sistema Partido-Estado,
na segunda metade da década de 1980. A inflação avançou com taxas de 6% em 1986,
7,3% em 1987 e 18,5% em 1988. Deng Xiaoping insistiu na liberalização de preços em
1986 e começou, a partir de maio de 1988, a conclamar, publicamente, pela adoção da
liberdade dos preços de mercado. O superaquecimento da economia, a inflação e a
ameaça de desequilíbrios maiores, em 1988, ao lado dos protestos na praça Tiananmen,
em 1989, suscitaram divergências, alinhando, de um lado, os assim chamados
reformadores e, de outro, os tidos conservadores.

16
O oitavo plano (1991-1995) priorizou a reestruturação industrial e promoção do
desenvolvimento baseado em tecnologia, educação e comércio exterior. Em 1992,
ocorre uma mudança ideológica decisiva quando o partido abraça definitivamente as
opiniões do líder sênior Deng Xiaoping e apelou ao estabelecimento de uma economia
de mercado socialista. As diferenças de pontos de vista começaram a influenciar
diretamente a direção e a substância das políticas, resultando em mudanças periódicas
na ênfase das políticas. O Comité Central do Partido Comunista da China decide
estabelecer uma economia de mercado socialista, e os elementos de planejamento
originais foram gradualmente substituídos, com o governo central a deixar de dar
instruções diretas aos governos e empresas locais. O partido resumiu a experiência dos
15 anos anteriores e adota o mecanismo de mercado como apenas um instrumento de
desenvolvimento econômico e não uma característica definidora de um sistema social
e o caráter socialista da economia é preservado pela propriedade predominante do setor
público (incluindo o Estado e os coletivos) sobre os meios de
produção. Consequentemente, os elaboradores de planos recorreram ao planejamento
baseado no mercado, integrando as principais tendências de desenvolvimento dos
mercados internos e externos em planos de médio e longo prazo para fornecer
orientação macro para a transformação estrutural econômica. O foco do Plano
Quinquenal para este período mudou gradualmente para a direção, tarefas, políticas e
disposições principais para a reforma e abertura para o desenvolvimento econômico e
social nacional.
O nono plano quinquenal (1996-2000) inclui o estabelecimento preliminar de
uma economia socialista de mercado e a melhoria da estrutura industrial. Coloca a
agricultura no centro das atenções. Em linha com o crescimento populacional e o
aumento da prosperidade, o plano estabelece uma meta de produção de 500 milhões de
toneladas de cereais para 2000. O plano enfatiza a necessidade de melhorar os
rendimentos, expandir a utilização de terras subdesenvolvidas, recuperar terras em
pousio e introduzir novas tecnologias. Na prossecução de objetivos políticos, o Banco
Popular da China anunciou em 1995 que a agricultura, juntamente com grandes projetos
de infra-estruturas, será uma prioridade de empréstimo para os bancos estatais. O plano
propõe também a renovação dos sistemas de crédito cooperativo e a introdução de
novas companhias de seguros agrícolas. Destaque também para a previsão de uma série
de meios fiscais para encorajar o investimento no interior, uma maior transferência de

17
recursos do leste para o interior e uma mudança gradual das indústrias de mão-de-obra
intensiva das regiões costeiras para o interior.
O décimo plano (2001-2005) teve como objetivo construir um sistema de
previdência social relativamente completo e fazer progressos significativos no
estabelecimento de um sistema empresarial moderno em empresas estatais. Foi a época
em que a China articulou pela primeira vez planos para desenvolver uma indústria de
energias renováveis. No início deste período de cinco anos, a China não tinha
praticamente nenhuma indústria solar e eólica doméstica e a própria indústria global era
minúscula. Num documento denominado Décimo Plano Quinquenal para o
Desenvolvimento da Indústria de Energias Novas e Renováveis, se apresenta uma visão
para industrializar as indústrias de energias renováveis. construindo na China economias
de escala. Parques eólicos estão planejados para as províncias de Xinjiang, Mongólia
Interior, Hebei, Jilin, Liaoning, Hubei e Guangdong, com uma capacidade combinada
de 500 MW.
O 11º plano quinquenal (2006-2010) propôs otimizar e atualizar a estrutura
industrial e melhorar a utilização de recursos. Este plano prevê a duplicação do PIB do
país até o ano 2010 (em relação a 2000) e a obtenção de uma média taxa de crescimento
anual de 7,0%. Desde o início da década de 1980, o governo chinês vem elaborando
programas nacionais de ciência e tecnologia (C&T) que tem sido executados ao longo
de sucessivos planos qüinqüenais. As áreas prioritárias, objetivos e metas desses
programas foram sendo revistos e reorientados às diretrizes e aos objetivos estratégicos
do plano em vigor. Chama atenção o fato destes programas serem muitas vezes
implementados ao longo de dois, três ou quatro planos qüinqüenais. Apesar da
importância dos programas iniciados ainda nos anos oitenta, os fatos mais marcantes da
nova estratégia chinesa vieram com o 11º Plano Qüinqüenal (2006-2010), quando a
China mudou o foco de sua estratégia de crescimento, priorizando atividades orientadas
à inovação tecnológica no lugar da indústria e agricultura tradicionais. O Programa
Nacional de Médio e Longo Prazo para Desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia
(MLP) de 2006, cujo horizonte vai até o ano de 2020, é o grande instrumento desta
mudança, com ênfase na inovação nativa, no salto tecnológico em áreas prioritárias e já
com ambição de alcançar um protagonismo global.
O 12º (2011-2015) teve como objetivo aumentar as contribuições em educação,
ciência e tecnologia e estabelecer metas para a proteção ambiental. A partir de 2010, a

18
China passou a liderar o mercado mundial em alguns segmentos da indústria, como
máquinas e equipamentos elétricos e na química, e se posicionou como um dos
principais produtores em quase todos os demais segmentos industriais. O desempenho
da China não se restringiu apenas aos setores de média ou baixa intensidade
tecnológica. Ao contrário, progressivamente a China ampliou sua fatia dos chamados
bens de alta intensidade tecnológica (informática, equipamento de telecomunicações,
instrumentos médicos e ótica, aeronáutica e a indústria farmacêutica). O 12.º Plano
Quinquenal objetiva reestruturar a economia chinesa, incentivando o consumo interno,
desenvolvendo o setor dos serviços, mudando para a indústria transformadora de maior
valor agregado. Três aspectos principais da política industrial do 12º Plano Quinquenal
são (1) o foco no desenvolvimento científico, (2) o apoio governamental a sete
indústrias emergentes estratégicas e (3) a construção de infra-estruturas de transporte e
energia. O 12.º Plano Quinquenal designa sete indústrias emergentes estratégicas (SEI)
como motores do futuro desenvolvimento econômico da China, desde a produção de
baixo custo até às indústrias de maior valor e para a criação de crescimento
sustentável. Estas indústrias incluem tecnologia de energia limpa; tecnologia da
informação (TI) de próxima geração; biotecnologia; fabricação de equipamentos de alta
qualidade; energia alternativa; novos materiais; e veículos de energia limpa. Quatro
destas indústrias (biotecnologia, fabrico de equipamentos de alta qualidade, novos
materiais e TI da próxima geração) foram previamente identificadas como indústrias-
alvo no 11.º Plano Quinquenal.
O 13º plano (2016-2020) apresentou o uso da inovação para impulsionar o
desenvolvimento. A China já se convertera no principal exportador de produtos
manufaturados e o segundo fabricante de bens de alta tecnologia do mundo. Sua meta é
deixar de ser uma plataforma de exportação de grandes empresas multinacionais
estrangeiras e, também das empresas nacionais, para dar um salto qualitativo passando
da imitação para a inovação, buscando a liderança mundial apoiada na inovação. No
período do 13º Plano Quinquenal, o avanço do novo tipo de urbanização com
características chinesas avança, criando uma procura incomensurável de investimento e
consumo. Em 2015, a taxa de urbanização da China atingiu 56,1%, mas a população
com residência urbana registada representava apenas menos de 40%. Existe uma grande
lacuna entre a China e os países desenvolvidos ou mesmo alguns países em
desenvolvimento na extensão e qualidade da urbanização. Portanto, o governo chinês

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atribui grande importância a isto, e o 13º Plano Quinquenal propõe aumentar os dois
números para 60% e 45%, respectivamente, até 2020. Para atingir esta meta, haverá
mais 55 milhões de residentes urbanos e cerca de 70 milhões de pessoas com residência
urbana registada nos próximos cinco anos, o que sem dúvida trará uma enorme procura
de investimento e consumo.
Amplamente delineado no final de outubro de 2020, o 14º Plano Quinquenal
(2021-2025) visa que a China se torne uma economia "moderadamente desenvolvida"
até 2035, com um PIB per capita de cerca de 30.000 dólares, quase três vezes o nível de
2020. Antecipa que o crescimento futuro se baseará em grande parte no consumo
interno de bens e serviços e visa reduzir as disparidades entre os padrões de vida
urbanos e rurais. O 14º Plano Quinquenal é o primeiro Plano que se baseia no objetivo
do primeiro centenário, a erradicação da pobreza rural absoluta. Sendo realizado, o
segundo objetivo centenário é “construir um país socialista moderno que seja próspero,
forte, democrático, culturalmente avançado e harmonioso” até 2049, através de “realizar
basicamente modernização socialista” até 2035. As metas de crescimento econômico do
país estão atreladas aos seguintes objetivos de longo prazo: até 2035, tornar-se uma
economia de alta renda e até 2050, transformar-se em uma economia avançada.
Destaca-se um “novo conceito de desenvolvimento” que combina “economias
sustentáveis e saudáveis desenvolvimento” com “melhorias óbvias na qualidade e
eficiência”. O objetivo é “alcançar maior qualidade, mais eficiência, mais justiça e mais
desenvolvimento sustentável e mais seguro”. O 14º Plano Quinquenal apresenta metas e
propostas de aprofundar as transformações no modelo de desenvolvimento, inserindo-o
em bases mais equilibradas e com uma ênfase reservada à qualidade do crescimento,
sendo a auto-suficiência em ciência e tecnologia um componente-chave. A área de
semicondutores é citada como estratégica para o alcance de posição segura e
privilegiada nos segmentos de inteligência artificial, comunicação 5G e
supercomputação – inclusive computação quântica. É importante ressaltar que o Plano
inclui diretrizes detalhadas para o desenvolvimento da ciência e tecnologia (C&T). Em
particular, designou claramente as áreas de investigação focadas e os objetivos para a
reforma do sistema nas instituições de investigação chinesas e indústrias relacionadas.
Os principais projetos de C&T são nas áreas fronteiriças da inteligência artificial,
informação quântica, circuitos integrados, saúde pública, ciências do cérebro,
biotecnologia de reprodução, investigação em terras raras e águas profundas e

20
tecnologia espacial. Em linha com as áreas focadas, serão criados novos laboratórios
nacionais e os laboratórios-chave estatais existentes serão reorganizados. Grande parte
dos esforços apoiará o desenvolvimento das regiões de Pequim, Xangai e Guangdong-
Hong Kong-Macau nos três principais centros internacionais da China para a inovação
em C&T. Pela abordagem das cadeias globais de valor, o novo modelo envolveria a
internalização de etapas ou elos considerados sob diversos aspectos relevantes para a
economia, como por exemplo, elos estratégicos em termos de conhecimento e inovação,
ou em termos de agregação de valor e de geração de emprego e renda, da otimização do
uso de materiais e energia ou ainda em termos de sua maior ou menor capacidade para
dominar e orientar as cadeias produtivas nas quais estão inseridos.

Um breve balanço

Os chineses deixaram de acreditar que o planejamento econômico centralizado


seria capaz de resolver todos os problemas da transição socialista. Para superar a
condição de ser um país industrialmente atrasado, seria preciso combinar a ação do
mercado com a orientação científica, econômica, social e política do Estado, criar um
plano ousado e realista para desenvolver as ciências, as tecnologias e as indústrias como
carros chefes do processo geral de desenvolvimento econômico e social. A orientação
passou a ser a elevação constante da produtividade, tanto na indústria como na
agricultura, bem como a elevação do padrão de vida e da capacitação da população
trabalhadora. Esta orientação passou a ser realizada por planos (anuais, quinquenais, de
quinze anos ou mais longo prazo), com participação concorrencial das empresas
estatais, empresas agroindustriais cooperadas, capitais externos e privados, além de
novas formações mistas entre as empresas para planos específicos. O importante é que
garantir as condições para o desenvolvimento das diversas formas produtivas e evitar a
monopolização. Cada setor deve ter concorrentes entre si, evitando a burocratização,
elevando o padrão tecnológico e rebaixando os preços. Com a criação das zonas
econômicas especiais, se estabeleceu um projeto de longo prazo visando captação de
tecnologias das grandes potências, pois investimentos eram admitidos apenas com o
estabelecimento de joint ventures com empresas chinesas e transferência a elas novas
e/ou altas tecnologias. A urbanização das cidades costeiras se fez neste ritmo de
inovações, integrando massas do campo gradualmente, não gerando a perda do controle

21
sobre o território. Foram incentivados projetos financiados pelos bancos estatais,
diversificando a produção industrial e cadeia de serviços, suprindo necessidades sociais
crescentes.

Na China, a economia de mercado passou a ser profundamente conectada com o


sistema econômico socialista, cujo fundamento é a propriedade pública como base da
coexistência de uma variedade de propriedades. A China tomou um caminho distinto de
transição econômica, combinando o mercado e o plano. Ao introduzir o mecanismo de
mercado, o governo não abandonou o mecanismo de planejamento, como foi feito noutros
países socialistas, mas em vez disso reformou-o. O Comité Central do Partido Comunista
da China inicia o processo de formulação do Plano Quinquenal. Elabora as diretrizes
iniciais que se convertem em milhares de subplanos a serem implementados por
entidades governamentais em todos os níveis de administração. Após a aprovação
inicial dos planos globais, um processo incessante de coordenação e avaliação reúne as
operações das agências estatais e partidárias. Este sistema difere dos métodos utilizados
na chamada era da “economia planificada” porque não comanda o uso de recursos. Os
planos modernos são concebidos para cumprir objetivos operacionais através da
utilização de políticas macroeconômicas executadas por agências governamentais. O
plano quinquenal foi assim transformado de planejamento econômico para planejamento de
governação de assuntos públicos. Hoje o plano e o mercado estão combinados para que os
dois se complementem e se estimulem.

Durante todo o processo de reformas, de 1978 até nossos dias, a China manteve
a característica leninista-stalinista em torno da natureza sistemática e continuada do
planejamento chinês e a capacidade de fazer políticas efetivas de seu Estado nacional. A
sistemática chinesa de formulação e implementação de planos qüinqüenais confere ao
seu planejamento, quer em termos gerais ou setoriais, grande eficácia. Em primeiro
lugar, porque a cultura de planejamento de longo prazo já está estabelecida e é uma
rotina para todos os órgãos de governo. Em segundo lugar, porque há continuidade nas
ações e os novos planos dão sequência aos anteriores, sem as rupturas que comumente
ocorrem na democracia liberal. Em terceiro lugar, porque a implementação dos
programas é favorecida pelo grau de comando e controle que o Estado chinês possui
sobre muitos dos atores envolvidos, que em grande parte depende diretamente do

22
governo (empresas estatais, institutos federais de pesquisa, etc.) ou estão sujeitos a
regras bem rígidas.

Elias Jabbour entende que umas principais características da China como uma
nova formação econômico-social é a imensa capacidade de coordenação do Estado para
colocar suas dezenas de conglomerados e sistema financeiro a executar imensas obras
de infraestruturas, podendo ser caracterizada pela coexistência em uma mesma
formação econômico-social de modos de produção distintos. Assim novas e superiores
formas de planificação sendo gestadas e executadas em larga escala na China:

A partir de 1978, a China fez sucessivas alterações em seu modo de produção,


conformando o que hoje é a economia socialista de mercado. Planejamento global
amplo, produção de mercadorias respeitando a lei do valor, propriedade estatal da terra,
controle da política monetária e da de investimentos, remuneração segundo o trabalho,
ter por objetivo central o desenvolvimento das forças produtivas, ampliar a democracia,
reforçar o sistema legal socialista, descentralizar e, finalmente, promover a coexistência
de diferentes formas de propriedade sob a égide da propriedade social, tais são, em
grandes linhas, algumas das características da economia socialista de mercado que se
desenvolve na China. Ditas características ultrapassaram a planificação
ultracentralizada, de inspiração soviética, a uniformidade distributiva que mirava o
“igualitarismo”, a estatização total dos meios de produção e a exacerbação da
burocracia (JABBOUR, 2022).

Ao longo dos últimos 70 anos de evolução, o planejamento do desenvolvimento


passou gradualmente de “planejamento obrigatório” para “planejamento estratégico”,
que se tornou uma base importante para o governo desempenhar as suas funções de
regulação econômica, supervisão de mercado, gestão social, serviços públicos e
proteção ambiental ecológica. O plano de desenvolvimento inovou, melhorou e
construiu continuamente um sistema de planejamento de “três níveis e três categorias”
(níveis nacional, provincial, municipal e distrital, planejamento diretor quinquenal,
planejamento especial quinquenal e planejamento regional).

Devido a razões históricas específicas, os Planos Quinquenais antes da reforma e


abertura não foram totalmente implementados, exceto o Primeiro Plano Quinquenal. No
entanto, os Planos Quinquenais forneceram um programa orientador para a estratégia de
desenvolvimento prioritário da indústria pesada do país no período inicial da fundação
da República Popular. Embora os planos quinquenais tenham diferentes tarefas em cada
período, há uma progressão lógica entre o desenvolvimento e os objetivos dos planos.

23
Existe uma progressão lógica do modo de desenvolvimento econômico a partir
do 1º e 2º Plano Quinquenal, que se concentrou apenas no desenvolvimento de
indústria, ao 5º Plano Quinquenal, que melhorou a relação desproporcional entre
acumulação e consumo na economia nacional, até o 8º Quinquenal Plano, que propunha
uma mudança fundamental no modo de crescimento econômico, depois para o 13º
Plano Quinquenal, que propunha um ambiente verde em torno do desenvolvimento com
harmonia entre o ser humano e a natureza. Do desenvolvimento de uma economia
planejada nos primeiros cinco planos a uma economia de mercado planejada no 7º
Plano Quinquenal, e depois para o fundamental papel da economia de mercado no 9º
Plano Quinquenal, uma mudança para o papel decisivo do mercado no 12º Plano
Quinquenal, se reflete a progressão lógica da evolução do sistema econômico. Do 3º
Plano Quinquenal para focar na construção da civilização material no 6º Plano
Quinquenal e, em seguida, no fortalecimento da construção da civilização espiritual no
8º Plano Quinquenal, se reflete a natureza progressivamente lógica do nível de
exigência humana.

Ao longo dos últimos 70 anos, a China vem expandindo o escopo e o nível do


espaço de planejamento. Mudanças no conteúdo do planejamento e nos meios de
controle do planejamento levaram ao surgimento de cada vez mais novas formas de
planejamento. O surgimento e desenvolvimento de vários tipos de planejamento se
torna assim uma ferramenta necessária de governança para apontar soluções para os
problemas do desenvolvimento. Desde a implementação dos planos quinquenais, a
economia geral da China fez um grande progresso. O plano torna-o uma garantia
poderosa para o crescimento econômico e promove o desenvolvimento rápido e
saudável da economia da China. O plano quinquenal melhorou o sistema econômico
geral e gradualmente desenvolveu um sistema industrial completo.

Durante os mais de 70 anos desde a fundação da República Popular e dos


últimos 40 anos desde suas reforma e abertura, a China registrou notáveis conquistas
históricas. Porém, o principal fator para o crescimento econômico acelerado por um
longo período foi o sistema socialista da China. Neste sistema, é o Partido Comunista
que lidera as reformas econômicas, políticas, sociais, culturais e ambientais. O PPCh é a
força-motriz do forte e poderoso Estado Socialista da China.

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O processo pelo qual a China constrói o socialismo sob a liderança do Partido
Comunista pode ser dividido em duas fases históricas - uma que antecedeu o
lançamento da reforma e sua abertura em 1978 e outra que se seguiu a esse evento. As
duas fases - ao mesmo tempo relacionadas e distintas uma da outra - são ambas
explorações pragmáticas na construção do socialismo conduzidas pelo povo sob a
liderança do Partido. Embora as duas fases históricas sejam muito diferentes em seus
pensamentos orientadores, princípios, políticas e trabalho prático, elas não estão de
forma alguma separadas ou opostas uma à outra. Não se deve negar a fase de pré-
reforma e abertura em comparação com a fase de pós-reforma e abertura, nem o
contrário.

O principal fio condutor entre os dois períodos que é a persistente estrutura


institucional Partido/Estado, com toda sua centralidade, ora contestada, ora reforçada, e
seus efeitos amplos e profundos, ideológicos, políticos e econômicos, na vida chinesa.
O enraizamento do partido em cada província, cada cidade, escola, asilo, vilarejo,
comandos por bairro, etc – hoje até nas grandes empresas. O sistema de governança
nacional sob a liderança do Partido Comunista da China é o resultado do
desenvolvimento de longo prazo, melhoria gradual e evolução endógena com base na
herança histórica, tradições culturais e desenvolvimento econômico e social da China. O
conceito de aperfeiçoamento integra a expectativa entre as gerações. O Partido, com
cerca de 80 milhões de pessoas, é singular em tamanho e sua forma de organização,
com capacidades de governança incomparáveis aos sistemas ocidentais, tendo vantagens
significativas que outros partidos políticos não possuem.

A vantagem da liderança do Partido Comunista é conseguir unir todas as forças


que podem ser unidas, com fortes capacidades organizacionais e de mobilização para
realizar tarefas importantes. Absorve grande maioria dos membros proeminentes da
sociedade chinesa para se tornarem membros do partido, mas também tem talentos
notáveis de todas as esferas da vida, o que é incomparável a qualquer outra organização
política. A utilização dessas vantagens permitiu ao socialismo com características
chinesas mostrar seu vigor e vitalidade, com caráter cada vez mais sistemático,
cientificamente padronizado e eficaz.

Mesmo os observadores mais exigentes têm que admitir que sob a liderança do
Partido Comunista da China, a força nacional abrangente da China tem sido

25
continuamente aprimorada, os padrões de vida das pessoas têm melhorado
continuamente e a harmonia e estabilidade sociais foram alcançadas enquanto se
continua a promover grandes reformas. A garantia da estabilidade política – principal
mantra de Deng – é o sustentáculo de um projeto de longo prazo. No início da reforma e
da abertura, Deng Xiaoping disse uma vez: "Nosso sistema será aperfeiçoado dia a dia.
Ele vai absorver os fatores progressivos que podemos absorver de todos os países do
mundo e se tornar o melhor sistema do mundo". Para o horror dos liberais, o Partido
Comunista da China pratica o centralismo democrático, tem um sistema organizacional
e disciplina rígidos, cobrindo todos os departamentos e campos e alcançando o nível de
base. Ao contrário dos partidos ocidentais que são relativamente frouxos, sem base de
mobilização popular real, o Partido Comunista da China é capaz de unificar
pensamentos e ações, tem forte coesão, alta eficiência e execução e pode responder
efetivamente aos principais desafios nacionais. A China costuma ser alvo de críticas por
concentrar o poder no Partido Comunista. Entretanto, as vantagens de tal sistema
político são evidentes. O país com sistema único fortalece o comando e as funções de
controle do executivo. Assim, é possível coordenar ações externas, províncias, setores
industriais, empresas, etc, atingindo um grau de coordenação estatal completamente
impossível em qualquer país ocidental.

Na liderança chinesa, projeta-se o futuro no presente, baseado nas lições do


passado, com escalas de curto prazo (5 anos), médio prazo (15 anos) e longo prazo (30 a
50 anos). Os planos de curto prazo se remetem aos objetivos de médio e longo prazo. O
planejamento conecta o presente e o futuro, em esforços coordenados e nas suas devidas
etapas. Ao mesmo tempo, é flexível, se adaptando as necessidades gerais. Planejamento
como ação de intervenção no futuro, mediando tendências, mas seguindo diversos
planos simultaneamente, definindo prioridades e fortalecendo as formas de execução no
devido tempo. O planejamento como um processo contínuo que busca conduzir o país
para uma visão de longo prazo, com prioridade num conjunto de ações e monitoramento
da implantação do plano que contenha indicadores e metas de forma a controlar o
progresso de sua implantação e mecanismos e estruturas que permitam a sua avaliação e
a proposição de ajustes. Planejamento de longo prazo que revela grande potencial em
fomentar o desenvolvimento social, econômico e urbano.

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2. PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO URBANO NA CHINA

A China é uma civilização milenar formada inicialmente em cidades-Estado às


margens dos grandes rios, onde a água estava facilmente disponível para irrigar os
campos agrícolas e alcançar a produção. Por volta de 3000 a.C., já havia comunidades
agrícolas no território chinês. Esses grupos desenvolveram suas sociedades nas
proximidades dos Rios Huang-Ho, popularmente conhecido como Rio Amarelo, e
Yang-tsé, conhecido como Rio Azul – lógica de ocupação que segue até os dias atuais.

As cidades da Dinastia Shang (1600 aC-1046 aC) foram os primeiros


assentamentos urbanos historicamente documentados na China. A Dinastia Shang foi a
primeira dinastia chinesa a deixar registros escritos, e a ideia e a função das cidades
assumiram uma importância elevada. Vinte e seis cidades foram desenvolvidas no
período ao longo do rio Weihe, sendo “complexos palácio-templo-cemitério” que
funcionavam como centros administrativos, econômicos e religiosos do governo. Essas
cidades foram construídas dentro de muralhas que forneciam defesa. Mais tarde, as
cidades muradas foram capitais de condados (hsien) e provinciais (LIU, 2009). Assim a
civilização urbana se espalhou rapidamente. No período entre 722 a 481 a.C. havia pelo
menos 210 cidades e várias cidades-estados rivais. Algumas delas eram bastante
grandes e bem organizadas numa hierarquia urbana e política, incluindo capitais
nacionais, provinciais e distritais. À medida que a China foi unificada sob o reinado de
Qin (221 a.C.) e o império resultante foi expandido sob o reinado de Han (206 a.C. a
220 d.C.), a estrutura hierárquica dos centros urbanos, o planejamento urbano e as redes
administrativas e de transporte entre os centros populacionais foram cuidadosamente
desenvolvidas (ZHUOYONGI, 2008; LEE, 2002).

O escrito antigo clássico “Zhōu lǐ (周礼)” 'Kaogong ji (考工記)' (Ritos de Zhou,


Livro de Artesanatos Diversos) menciona o modelo ideal de uma capital
chinesa. Provavelmente escrito durante o período final da dinastia Han Ocidental (206
aC-8 dC) até o início da dinastia Han Oriental (25-220 dC), “Zhōu lǐ” descreve o
modelo fundamental da cidade chinesa ideal: construídas em um terreno quadrado com
quatro arestas de 3.742,2 metros, e cada lado da muralha da cidade seria criado com três
portões da cidade, uma grelha de 9 por 9 seria usada para dividir e zonear o terreno
hierarquicamente para diferentes fins, as ruas teriam cerca de 16.632 metros de
27
largura, o palácio real voltado para o sul seria colocado no centro da cidade com um
Templo Ancestral a oeste e um Templo do Solo e dos Grãos a leste, ao sul do palácio
real seria uma praça onde os imperadores se reuniam com seus oficiais administrativos,
enquanto um mercado estaria localizado ao norte do palácio (FU; CAO, 2019). O texto
se tornou uma das literaturas confucionistas mais essenciais, como o modelo urbano
defendido por governadores. Outros confucionistas propuseram planos de diversas
maneiras. Muitos governantes e os seus arquitetos tentaram construir a cidade ideal
como forma de expressar a sua legitimidade. O plano quadriculado das cidades foi
assim desenvolvido e utilizado para gerir a ordem confucionista nos séculos seguintes e
finalmente tornou-se a abordagem mais típica do planejamento urbano tradicional na
China, especialmente nesses centros políticos (FU, 2001; STENHARDT, 1999).

A China também experimentou importantes mudanças no sistema urbano


durante o “Século das Humilhações”, entre 1840 e 1949. Neste período o mundo
ocidental exerceu grande influência nas atividades políticas e econômicas chinesas, o
que ocasionou a realocação de indústrias próximas às grandes cidades, principalmente
nas áreas costeiras e ribeirinhas. Estas cidades cresceram muito mais rapidamente do
que outras cidades localizadas em toda a China. Neste momento, 76,2% das cidades da
China existiam em zonas costeiras. Após a invasão japonesa na Segunda Guerra
Mundial e a guerra civil, apenas 10,6% da população vivia nas cidades na proclamação
da República Popular da China em 1949 (XIAN, 2013).

Em 1952, a China lançou o primeiro plano quinquenal (1953–1957) que visava


“construir projetos-chave, fazendo progressos constantes”, promovendo a urbanização
da China. Muitos camponeses migraram para vilas, cidades e áreas industriais e
mineiras em busca de emprego. Sob influência soviética, as cidades foram concebidas
como cidades de produção, nas quais o consumo foi minimizado para que o
investimento no desenvolvimento industrial pudesse ser maximizado. O espaço
habitacional foi minimizado com espaços públicos utilizados para cozinhas, cantinas,
lavagens e limpeza de roupas (ZHAO, 2007). Com o Grande Salto Adiante, no final da
década de 1950, houve a mobilização massiva da população camponesa para a
industrialização local com uso intensivo de mão-de-obra, resultando na criação da noite
para o dia de milhares de centros comunitários. Cada um abriga dezenas de milhares de
pessoas. Porém, num contexto de isolamento internacional, o foco em desenvolver a

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indústria desestabilizou as cadeias produtivas do país, criando escassez de recursos.
Com o fracasso do Grande Salto Adiante, a prioridade passou ser a promoção de
indústrias leves, reduzindo o número de trabalhadores das empresas estatais e o
tamanho da população urbana por meio do sistema de registro Hukou. Como resultado,
o processo de urbanização foi interrompido. Naughton destaca que no período havia
receio de uma invasão tanto da União Soviética, quanto dos Estados Unidos, e grandes
indústrias foram instaladas em pequenas e médias cidades de forma espalhada para que
as mesmas não fossem rapidamente apropriadas em caso de conflito, enfraquecendo
assim o processo de urbanização (NAUGHTON, 2007). No final de 1965, a população
urbana foi reduzida em 14% e o número de cidades foi para 169, 7 a menos que em
1957. Em 1966, o governo central lança a Revolução Cultural. Milhares de lideranças
políticas, professores e estudantes são transferidos das cidades para o campo, levando a
um movimento de anti-urbanização. Em 1976, a urbanização era de 18% da população,
o mesmo que em 1965 (QIU, 2022).

No período em que Mao Tsé-Tung esteve no poder (1949-1976) destaca-se uma


industrialização pesada sem um processo de urbanização intenso. A indústria atinge
uma participação no PIB de 48% em 1978 (ante 21% em 1949) com a indústria pesada
representando 57% da mesma. Ao mesmo tempo, a grande maioria dos trabalhadores,
71% do total, ainda se encontrava no setor agrícola. Foi no final da década de 1970 e
início da década de 1980 que a urbanização foi impulsionada sob o período de reformas
lideradas por Deng Xiaoping. Pela primeira vez na história, a China experimentou uma
urbanização rápida e sem precedentes a partir de 1978, sendo considerado como o maior
fluxo mundial de população de áreas rurais para urbanas na história. Isso num processo
em que o PIB chinês cresceu em média 9,7% entre 1978 e 2009, o PIB per capita
cresceu a uma média anual de 8,5%, e a população em pobreza absoluta decresceu de
75% em 1980 para 12,49% em 2001 (AGLIETTA & BAI, 2013). E o dinamismo mais
recente da economia chinesa esteve associado principalmente ao processo de
urbanização e ao conjunto de transformações relacionadas às modificações de uma
sociedade que, no início das reformas iniciadas em 1978, tinha uma taxa de urbanização
inferior a 20% (cerca de 171 milhões de cidadãos) e que chegou a 55% em 2015. Em
2022, já eram 910 milhões de pessoas vivendo em cidades, com taxa de urbanização
beirando 65% (HIRATUKA, 2018, p.3). São quase 740 milhões de novos cidadãos
urbanizados neste período (1978-2022), 100 cidades com mais de 1 milhão de
29
habitantes - o Brasil tem 17 - e 16 megacidades – no Brasil apenas São Paulo tem mais
de 10 milhões de habitantes. A título de exemplificação: Chongqing tem mais de 32
milhões, Xangai, quase 25, Pequim 22 e Chengdu 20. Somente seis países da União
Europeia tem população maior do que Chongqing.

As principais reformas promovidas para a urbanização no contexto do


socialismo de mercado chinês são: 1) descoletivização da agricultura; 2) a abertura do
país ao investimento estrangeiro e capital privado e 3) utilização das terras agrícolas
para urbanização.

Durante o período maoísta, toda a produção agrícola era adquirida pelo governo
a preços baixos, não existindo a possibilidade da venda dos excedentes. Em 1978, o
governo passou a estipular metas de produção que seriam adquiridos a preços fixados.
Todo excedente produtivo permaneceria com a comuna que poderia comercializá-lo a
preços de mercado. Dessa maneira, o setor agrícola foi estimulado a aumentar sua
produtividade. O conjunto de produção agrícola da China apresentou grande
crescimento e a pressão pela produção de alimentos foi reduzida fazendo com que
grande número de trabalhadores rurais pudesse ingressar em indústrias não agrícolas.

A política de abertura também incentivou um grande montante de investimento


governamental na região costeira para lançar novas Zonas de Desenvolvimento
Econômico e parques de alta tecnologia. As “áreas industrializadas” foram
desenvolvidas principalmente nas zonas costeiras, em Shenzhen, Zhuhai e Shantou na
província de Guangdong, Xiamen, na província de Fujian, em 1979, e 14 cidades
costeiras — Dalian, Qinhuangdao, Tianjin, Yantai, Qingdao, Lianyungang, Nantong,
Xangai, Ningbo, Wenzhou, Fuzhou, Guangzhou, Zhanjiang e Beihai – foram abertas ao
investimento estrangeiro em 1984. Em 1985, o governo central decidiu expandir as
zonas costeiras abertas, alargando as zonas econômicas abertas ao Delta do Rio Yangtze
e ao Delta do Rio das Pérolas e toda a província de Hainan em 1988. A industrialização
liderada pela exportação foi fundamental, tornando a região costeira mais uma vez o
centro de crescimento do desenvolvimento urbano. Com a abertura econômica, abriram
sua economia de forma calculada e gradual, apresentando como atração o baixo custo
relativo de mão-de-obra, a boa infra-estrutura de energia, transporte e comunicação,
orientação no processo de investimentos e a estabilidade social e política. Aproveitando
o capital externo para criar e adensar suas cadeias produtivas, condicionaram os

30
investimentos à associação com empresas chinesas, a transferência de novas e altas
tecnologias e a participação no comércio internacional (MARCELINO, 2023).

Do ponto de vista institucional, um dos elementos mais importantes das


reformas na China foi a introdução de um sistema de terras e de um mercado de terras
(LIN; YI, 2011). Nela, o governo central permitiu que os municípios arrendassem as
propriedades rurais em contratos de longo prazo para fossem desenvolvidas. Para
promover o desenvolvimento urbano, o Estado realiza chamadas públicas, leilões e
concessões para a transmissão de posse dos terrenos, que podem durar entre 40 e 70
anos dependendo do seu uso. Os leilões de terra são essenciais para as finanças públicas
municipais, que somam cerca de 30% da receita dos governos municipais (KAMAL-
CHAOUI, LEEMAN e RUFEI, 2009). Isso deu origem a um sistema duplo desde os
anos 1980, no qual a terra urbana é propriedade do Estado e a terra rural é de
propriedade coletiva. A terra urbana permanece como propriedade do Estado ainda hoje,
mas os direitos de uso podem ser concedidos ou alugados para fins comerciais. A
propriedade da terra e os direitos de uso foram separados. As municipalidades e os
condados tornaram-se responsáveis pela alocação e a expropriação da terra em benefício
de diferentes usuários. Além disso, o arrendamento tornou-se uma grande fonte de
receita para os municípios para que houvesse a possibilidade de investimento na
infraestrutura local (KAMAL-CHAOUI, LEEMAN e RUFEI, 2009).

As motivações financeiras dos governos locais foram a força que dirigiu a


acumulação baseada na terra. Nesse conjunto de transformações, o papel que a terra
passa a cumprir na acumulação chinesa precisa ser particularmente ressaltado,
sobretudo seu processo de capitalização, o qual tem ocorrido em três sentidos: (i) taxas
de transferência da terra são coletadas pelos governos municipais para financiar o
desenvolvimento, o aperfeiçoamento e a manutenção do ambiente urbano construído de
modo a atrair investimento estrangeiro e aumentar a base de impostos; (ii) as terras
pertencentes ao Estado são alugadas pelos governos municipais para fins industriais,
comerciais, mercado imobiliário; (iii) a terra urbana tem sido empregada como forma de
obter empréstimos bancários e mobilizar o capital necessário para promover melhorias e
expandir o ambiente urbano construído. Portanto, a terra na China urbana
contemporânea é usada como um ativo crucial para servir ao incremento da urbanização
e à acumulação de capital local (LIN, 2011).

31
Nesse contexto, o governo central descentralizou os poderes e responsabilidades
sobre investimento e sobre o desenvolvimento econômico, favorecendo os governos
provinciais e municipais. Apesar do sistema centralizado de governo para uma série de
políticas, a gestão territorial segue um modelo em “pirâmide” onde, a partir da capital,
são determinados padrões gerais de planejamento que devem ser seguidos em todo país.
Regiões e municípios tem o dever de elaborar seus próprios planos, mais detalhados. No
entanto, diferente do Brasil, onde um município tem autonomia para aprovar o seu
Plano Diretor, na China os planos devem ser sempre aprovados pela instância superior:
o xiangxi guihua, ou Plano Detalhado, e o zongti guihua, ou Plano Geral, devem ser
aprovados pela instância regional, e os planos regionais devem ser atualizados quando
há mudanças nas recomendações em nível federal. O efeito em cascata também ocorre
para questões como, por exemplo, quanta área será urbanizada em cada ano, pois o
Ministério de Terra e Recursos Naturais define quanta área pode ser urbanizada em cada
província e, em seguida, a província aloca esta área entre as suas cidades. Além disso,
são os municípios que decidem sobre a venda das posses, sobre o desenvolvimento de
infraestrutura e a emissão de licenças de construção, e o governo central interfere no
mercado imobiliário através de condições de financiamento e no planejamento macro-
econômico (QIU, 2022). E a urbanização está diretamente ligada ao processo de
industrialização. Um dos diferenciais do desenvolvimento chinês é a vantagem que as
suas empresas têm por ter uma conexão íntima entre elas por meio da lógica econômica
dos distritos industriais ou “clusterização” da urbanização. Clusters se espalham ao
longo do Delta do Rio das Pérolas, região que engloba Hong Kong, Macau e a província
de Guangdong. Os clusters de cidades tornaram-se as áreas-chave estratégicas para
China para promover a urbanização e o desenvolvimento econômico, chegando a uma
série de aglomerações urbanas que incluem cidades centrais e vários agrupamentos de
cidades dentro das províncias para promover o desenvolvimento de aglomerados de
cidades.

Com estas reformas, a China vem adotando a urbanização como um importante


ponto de partida para acelerar o processo de modernização das estruturas industriais,
sendo um poderoso motor para alavancar as demandas internas e manter um
desenvolvimento econômico sustentado e saudável (WANG, 2023). Entretanto, como se
prevê pela dimensão do processo, o aumento da urbanização não trouxe apenas aspectos
positivos. Dentre os efeitos negativos, destaca-se o aumento rápido na poluição, uso
32
intenso de energia, emissões de dióxido de carbono, escassez de água, dificuldade no
abastecimento alimentício, aumento na desigualdade de rendimentos, todas questões
que a China enfrenta hoje como resultado da urbanização. A estrutura da escala urbana
está desequilibrada entre as cidades pequenas, médias e grandes. A China está sofrendo
de “doenças urbanas” devido à rápida expansão da escala urbana causada pelo
carregamento de funções excessivas e indústrias altamente aglomeradas. Cidades de
médio porte e cidades pequenas carecem de potencial de desenvolvimento econômico e
social devido ao atraso no desenvolvimento de infra-estruturas e serviços públicos,
insuficiência de apoio industrial e menos empregos. Em junho de 2016, o número de
novas cidades e novos zonas de desenvolvimento eram mais de 3.500 em nível de
condado ou acima, levando ao uso homogeneizado da terra e crescentes “cidades
vazias”, “cidades adormecidas” e “fantasmas”. Entrementes, em linhas gerais, a
urbanização na China repercute em outras regiões não desenvolvidas e contribui para a
prosperidade econômica global. O argumento é que a urbanização acelerada na China
levou a um maior desenvolvimento econômico e diminuição da disparidade de renda
(XUEMEI, 2012).

Na China, o planejamento nunca foi considerado um obstáculo ao crescimento


econômico. Os líderes políticos na China que planejam acreditam que o crescimento
deve-se em grande parte a uma atitude pró-ativa, com uma interpretação do papel do
planejamento para fortalecer a economia, bem como moldar o mercado de acordo com
as necessidades sociedade. Através da transformação das práticas de planejamento e
novas capacidades de planejamento, pode-se desempenhar um papel de liderança na
geração de valor na economia.

Os casos da nova cidade de Wuxi Taihu e Songjiang ilustram como o


planejamento e o desenvolvimento da terra pode ser eficaz usado para criar novas
habitações atendendo a vários grupos populacionais, bem como ofertas oportunidades
de emprego nestas novas cidades satélites. São exemplos de transformação da demanda
por moradia em um impulso para o desenvolvimento e o crescimento da economia.

Além da habitação e do emprego, o caso do Parque de Alta Tecnologia de


Zhangjiang ainda mais mostra que o planejamento é um importante mecanismo que
facilita a inovação e a competitividade regional na China. Incluindo o Parque de Alta
Tecnologia de Zhangjiang em o plano de desenvolvimento urbano da cidade e

33
financiando sua construção através de terrenos desenvolvimento, Xangai conseguiu
consolidar-se como um local importante no mercado farmacêutico global, bem como
promover a inovação biotecnológica e a desenvolvimento de empresas de biotecnologia.

A evidência do mercado imobiliário da China revela também que a natureza


regulatória do planejamento não causa menor desempenho econômico, que é a
percepção atual de planejamento em alguns países. O governo adota controle regulatório
de preços da habitação para garantir que os preços da habitação aumentando a um ritmo
natural, em vez de impulsionar uma bolha imobiliária artificial. Assim, na perspectiva
chinesa, a regulamentação resulta diretamente em maior crescimento econômico como
também impede perdas potenciais em grande escala, como no caso do ganho a curto
prazo resultante das especulações no mercado imobiliário.

O Estado chinês possui alta capacidade institucional e “territorial” na forma


como governa as cidades e a sociedade como um todo. Por “territorial” se entende a
técnica de governo, que está muito centrada num conjunto de “instituições territoriais”,
como o sistema hukou, a propriedade coletiva rural da terra e a maneira como a China
promove as autoridades locais. Todas essas instituições definem direitos e
responsabilidades de acordo com as jurisdições administrativas.

Desde meados dos anos 2000, uma mudança de qualidade acontece com o
movimento da urbanização chinesa transbordando as fronteiras do país (CHU, 2020).
Esse processo faz parte de um projeto chinês que busca estimular o consumo e o setor
de serviços, incrementar o consumo diário e espalhá-lo para cidades menores. Além do
controle do crescimento das grandes cidades e a promoção do desenvolvimento
coordenado das grandes, médias e pequenas cidades, eles marcam a virada chinesa em
direção às megarregiões (HARRISON; GU, 2021). O planejamento urbano centra-se na
conexão de cidades-chave nacional e internacionalmente, e não mais em cidades
individuais. O Plano Ferroviário Nacional de 2004, que propôs eixos verticais e
horizontais de trens de alta velocidade (expandido nos anos seguintes), expressa essa
mudança. Projetos como o Plano Nacional de Sistemas Urbanos (2005-2006), o Plano
Nacional da Área Funcional Principal (2010-2014) e o Novo Plano de Urbanização
(2014- 2020) começam a projetar a urbanização chinesa para além de seu território
(HARRISON; GU, 2021). Aos poucos, a busca por estender funções de uma cidade

34
global para cidades do centro e do oeste e por aprofundar a conexão com a Indo-China,
Ásia Central, Rússia e a Europa Central vai ganhando corpo (CHU, 2020).

Dentre as muitas iniciativas desse período, a Belt and Road Initiative (BRI) é
emblemática. Esse projeto, lançado alguns anos depois da crise de 2008, representa uma
direção à expansão de capital, em um processo de extensão mundial da urbanização
chinesa, que demanda um novo regime de comércio mundial amparado em políticas de
coordenação econômica que fomentem a conectividade da Ásia, da Europa e da África,
de modo a promover investimento e consumo, além de criar demanda e oportunidades
de emprego. A iniciativa segue a operação do mercado, suas regras e normas
internacionais, e atribui a ele um papel decisivo na alocação de recursos, em que os
governos são agentes importantes para o processo. Xu e Niu apontam que a
urbanização, baseada no desenvolvimento da economia doméstica, e a BRI, focada na
abertura ao mundo externo, deveriam, portanto, ser analisadas de forma conjunta. O
projeto sinaliza uma expansão das aglomerações urbanas da costa leste para as regiões
central, oeste e sudeste, eixo que influencia a urbanização da Ásia Central, do oeste da
Ásia, do Sudeste Asiático e do sul desse mesmo continente. Dessa forma, as
transformações urbanas na China sinalizam centralidade da urbanização não apenas para
o desenvolvimento chinês, mas também para seu processo de extroversão (XU; NIU,
2018).

35
3. DESAFIOS DO NOVO URBANISMO NA CHINA

Quando a República Popular da China foi fundada em 1949, apenas 10,6% dos
chineses viviam em cidades. Agora, o número disparou para 65,2% no final de 2022. O
país, que costumava ostentar uma enorme população rural, está hoje a ficar cada vez
mais urbanizado.

No final de 2021, havia 691 cidades em todo o país, 34 a mais que no final de
2012. Entre elas, 297 cidades estavam acima do nível de prefeitura, um aumento de
8, havia também 394 cidades a nível de condado, um aumento de 26 em relação a 2012.
A escala da população urbana está a expandir-se. De acordo com a população
pesquisada no final de 2020, havia 96, 46 e 22 cidades acima do nível de prefeitura com
uma população de 1-2 milhões, 2-4 milhões e 4 milhões ou mais, respectivamente, que
era de 14, 15 e 8 mais do que no final de 2012. A China tem atualmente 93 cidades com
uma população superior a um milhão de habitantes e planeou 19 aglomerados de
cidades, entre os quais os maiores são o Delta do Rio Yangtze (composto por Xangai e
cidades vizinhas), Guangdong-Hong Kong-Macau, Pequim-Tianjin-Hebei e Chengdu-
Chongqing.

Uma rede de trânsito ferroviário multicamadas está sendo rapidamente formada,


a cobertura da rede ferroviária da China entre cidades com uma população de 200.000
habitantes ou mais expandiu de 94% em 2012 para 99% em 2021, e a cobertura da rede
ferroviária de alta velocidade entre as cidades com uma população de 500.000 ou mais
aumentou de 28% em 2012 para 90% em 2021. A cobertura do transporte ferroviário
urbano também está a expandir-se gradualmente. No final de 2021, havia 275 linhas
ferroviárias urbanas operadas em 51 cidades, com uma quilometragem operacional total
de 8.736 km.

Nos últimos anos, a China fez progressos importantes na construção de


aglomerados urbanos. Foram feitos progressos significativos no desenvolvimento
coordenado da região Pequim-Tianjin-Hebei, na Grande Área da Baía Guangdong-Hong
Kong-Macau e no desenvolvimento integrado do Rio Yangtze. Delta, a região de
Chengdu-Chongqing entrou na via rápida do crescimento, e a aglomeração de cidades

36
no curso médio do Rio Yangtze, do Golfo de Beibu e da Planície de Guanzhong tem
sido constantemente reforçada.

Embora o governo chinês tenha cunhado pela primeira vez o termo “nova
urbanização” em 2012, foi em 2014 que o Conselho de Estado emitiu o Plano Nacional
de Nova Urbanização (2014-2020), estabelecendo um modelo para o desenvolvimento
das áreas urbanas da China. Com o objetivo de tornar as cidades chinesas mais
habitáveis e sustentáveis, o plano descrevia a nova urbanização como “orientada para as
pessoas”, “verde e de baixo carbono” e com “um layout optimizado”. Esta visão foi
refletida no Relatório de Trabalho do Governo e no 14º Plano Quinquenal, publicado
em março de 2021, que estabeleceu a meta de aumentar a taxa de urbanização para 65%
até 2025.

O Novo Plano de Urbanização (2014-2020) define quatro objetivos principais:


“promover a conversão ordenada de migrantes rurais em residentes urbanos”, “otimizar
os padrões de urbanização”, “melhorar a sustentabilidade das cidades” e “promover a
integração urbano-rural”.

Dos 200 milhões de migrantes rurais, o plano estabelece uma meta de converter
aproximadamente 100 milhões em residentes urbanos até 2020. O plano propõe que
estes novos residentes urbanos recebam formação profissional, sejam autorizados a
adquirir reforma e seguro médico urbano, ganhem acesso a serviços médicos urbanos e
habitação subsidiada. Além disso, embora o plano imponha restrições rigorosas às
cidades com populações de 5 milhões ou mais, pretende abrir as cidades mais pequenas
aos migrantes rurais que satisfaçam certas condições, tais como residir durante um
determinado número de anos, ocupar postos de trabalho valiosos e participar em
programas de seguridade social por um determinado período de tempo. O NUP também
apela a vários níveis de governo, empresas e indivíduos para que partilhem as despesas
de transformação de migrantes rurais em residentes urbanos. A promoção da residência
urbana para a população rural capaz de garantir um emprego estável nas cidades
continua a ser a principal prioridade do novo tipo de urbanização. Nos últimos 10 anos,
a China concedeu residência urbana a um total de 130 milhões de pessoas que transitam
entre áreas rurais e urbanas e outros residentes permanentes nas cidades.

No que diz respeito à tarefa de otimizar os padrões de urbanização, o plano


observa os efeitos negativos da deterioração das condições ambientais e da intensa
37
concorrência global nos três aglomerados de cidades costeiras (Pequim-Tianjin-Hebei,
Delta do Rio Yangtze e Delta do Rio das Pérolas). Assim, propõe o desenvolvimento
coordenado de pequenas vilas, cidades e aglomerados de cidades no interior e nas partes
ocidentais do país, com base nos progressos alcançados pela Estratégia de
Desenvolvimento Ocidental da China (xibu dakaifa) e pelo Plano para o
Rejuvenescimento da China Central . ( zhongbu jueqi zhanlue), e fazendo uso de redes
de transporte emergentes, incluindo o Rio Yangtze e o Corredor de Transporte Europa-
Ásia e as redes ferroviárias que se estendem de Dalian a Beihai, de Harbin a Hong
Kong, e de Pequim a Kunming. Os pontos nodais destas redes, particularmente a região
de Harbin-Changchun no nordeste, a região de Chengdu-Chongqing no sudoeste, e as
regiões de Zhengzhou-Luoyang-Kaifeng e Wuhan-Changsha-Nanchang no centro da
China, estão marcados para a prestação de apoio especial. O esforço para “otimizar os
padrões de urbanização” propõe desenvolver indústrias mais inovadoras nos três
aglomerados de cidades costeiras, ao mesmo tempo que deslocaliza empresas mais
antigas e menos produtivas para cidades no centro e oeste da China. Além disso, o
desenvolvimento de redes de transporte que ligam estas cidades do interior à Ásia
Central e à Europa pretende expandir os papéis nodais dos aglomerados de cidades
emergentes e, assim, gerar novos motores de crescimento para eles.

Após o 19º Congresso Nacional do PCC em 2017, a nova urbanização da China


mostrou quatro tendências principais. Em primeiro lugar, a nova urbanização com
características chinesas tornou-se um consenso generalizado, passando de um grave
atraso para um movimento precipitado, da aproximação cega aos países desenvolvidos
para a coincidência com a realidade da China, da urbanização centrada na terra para a
urbanização centrada no ser humano. Em segundo lugar, a nova urbanização é uma
abordagem crucial para resolver a contradição entre o desenvolvimento desequilibrado e
inadequado e as necessidades cada vez maiores das pessoas por uma vida melhor na
nova era. A nova urbanização é altamente integrada e precisa de ser coordenada com a
revitalização rural e a Iniciativa Cinturão e Rota. Terceiro, o conteúdo da investigação
da nova urbanização precisa de ser refinado e aprofundado na nova era. As ênfases são a
urbanização centrada no ser humano e a equalização dos serviços públicos
fundamentais, a civilização ecológica e a urbanização sustentável, a governação social e
a inovação institucional, a governação espacial e o planejamento espacial. Finalmente, o
desenvolvimento de aglomerações urbanas está a tornar-se cada vez mais
38
importante. Integração Pequim-Tianjin-Hebei, Grande Baía Guangdong-Hong Kong-
Macau, aglomeração urbana do Delta do Rio Yangtze.

Os governos locais nas cidades chinesas têm implementado ativamente várias


novas iniciativas de urbanização. Por exemplo, Xangai está a reorganizar o seu traçado,
convertendo cinco dos seus distritos suburbanos em novas cidades. Embora os
subúrbios normalmente só proporcionem espaço para as pessoas que trabalham no
centro da cidade, Xangai pretende que se tornem centros independentes de investigação
e produção, mas que permaneçam ligados. Os aglomerados de cidades também estão a
lançar iniciativas locais para uma melhor conectividade. Por exemplo, Chengdu está a
construir um novo grande centro tecnológico e de produção na sua parte oriental para
acelerar a integração com Chongqing. A cidade também anunciou uma série de esforços
de sustentabilidade, incluindo a conversão de um terço da sua área urbana em espaços
verdes. Outras cidades que realizam novos e ambiciosos projetos de urbanização
incluem Shenzhen, que substituiu quase todos os seus 14 mil autocarros e 21 mil táxis
por veículos eléctricos para reduzir o ruído e a poluição atmosférica. Além disso,
Pequim lançou a triagem obrigatória do lixo. Guiyang, na província de Guizhou, está a
transformar uma das suas principais estradas num cluster tecnológico, que se
concentrará na inovação de Big Data e IA no setor do turismo.

Na última década, a China explorou um caminho para um novo tipo de


urbanização que coloca as pessoas em primeiro lugar, integra o desenvolvimento da
industrialização, aplicação de TI, urbanização e modernização agrícola, e apresenta
melhor disposição espacial, proteção eco-ambiental e preservação da cultura chinesa.
Seguindo este caminho, a China é capaz de expandir a sua procura interna, melhorar a
produtividade do trabalho, quebrar a estrutura econômica dual urbano-rural e promover
a igualdade social e a prosperidade comum. Também beneficia a economia global e o
meio ambiente ecológico.

39
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5. SOBRE O AUTOR

Fernando Marcelino Pereira nasceu em Curitiba (1987), graduado em Relações


Internacionais pela UNICURITIBA, Mestre em Ciência Política e Doutor em
Sociologia pela UFPR. Especializado em China, tendo atuado no Escritório Paraná-
China junto ao IPARDES. Membro do Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP),
produzindo diversas pesquisas sobre genealogias de famílias ligadas ao poder
econômico, político, judiciário, midiático e do tribunal de contas no Paraná e no Brasil.
Militante do Movimento Popular por Moradia (MPM). Membro do Mimesis Conexões
Artísticas e Samba da Resistência. Autor de: Desencontros e seus golpes (2016, poesia),
Classes Dominantes no Paraná Contemporâneo (2019), COVID e a nova geopolítica
global (2020, relações internacionais), Revolta Paraná (2022, conto), Vivendo no Fim
dos Tempos (2022, teatro), 93 Haikais (2022, poesia), Oito Breves Amorosidades
(2022, poesia), Última Hora (2022, poesia), Em Defesa do Projetamento: Ignácio
Rangel e os desafios do desenvolvimento brasileiro (2023, planejamento), China: novos
ensaios (2023, ensaios), Marx no século XXI: valor, crise e capitalismo financeiro
(2023, análise), Guerra Civil Brasileira – 1891-1894 (2023, história), Dialética do
Planejamento Urbano em Curitiba (2003, planejamento), Geopolítica Hídrica Global
(2023, relações internacionais), Estratégias de Desenvolvimento no Sul Global (2023),
entre outros textos e artigos políticos.

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