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BRENDA CASTRO
Florianópolis
2020
BRENDA CASTRO
Florianópolis
2020
BRENDA CASTRO
______________________________________________________
Prof. Paulo Roberto Ferreira, Me.
Universidade do Sul de Santa Catarina
______________________________________________________
Prof. José Baltazar Salgueirinho Osório de Andrade Guerra, Dr.
Universidade do Sul de Santa Catarina
______________________________________________________
Prof.ª. Silvia Natália Barbosa Back, Dra.
Universidade do Sul de Santa Catarina
À todas as pessoas, mesmo aquelas de
passagem, que de alguma maneira inspiram
outros na busca do conhecimento e reafirmam
a importância da ciência frente aos achismos.
AGRADECIMENTOS
Meus agradecimentos são longos, pois diversas pessoas, tanto na minha vida
acadêmica quanto a profissional e pessoal, foram essenciais para a criação desse trabalho
assim como do meu desenvolvimento e amadurecimento pessoal e intelectual. Agradeço em
primeiro lugar à minha família, a casa das cinco mulheres, que me ensinou que o mais
importante na vida é viver como uma pessoa que pode andar de cabeça erguida, sem vergonha
das minhas ações e decisões, e sempre tratar as pessoas com o devido respeito e consideração.
Mãe, vó, tia e irmã, tenho muito orgulho de tê-las em minha vida. Diante de todas os
problemas que essa sociedade enfrenta, só posso ser eternamente grata por toda a liberdade e
confiança depositadas em mim e nunca ter me decepcionado com seus posicionamentos
políticos.
Aos meus professores da graduação que desde o primeiro dia de aula despertaram em
mim a paixão pelo curso, profº Luciano você foi destinado como um dos meus professores
favoritos já pelas disciplinas que aplicava. Serei eternamente grata por toda a disponibilidade
e visível interesse em transmitir o máximo de conhecimento possível a nós, e por toda a
preocupação com nossas dificuldades e inquietações acadêmicas. Suas histórias de vida serão
algo que sempre vou lembrar com um sorriso.
Ao meu orientador profº Paulo, que infelizmente só tive o prazer de ter aula durante
um semestre, mas que foi o suficiente para eu panfletar seu intelecto durante todo o curso pra
quem quisesse ouvir e até a quem já estava cansado de ouvir. As suas metáforas referente às
teorias de RI e armadilhas intelectuais me causaram várias crises existências e tenho certeza
que nunca mais esquecerei os livros que lemos durante sua disciplina.
Acredito que ninguém poderia ter me feito gostar tanto de Economia como a profª
Katia, chamada secretamente por nós alunos de Rainha da Unisul. Queria que todos tivessem
o prazer de ter uma mulher tão esclarecida e inteligente nas suas trajetórias acadêmicas. Profª
Rejane, que me apresentou à todas as escolas da estratégia possíveis e me transformou numa
especialista de design de slides, e me fez rir em sala mais vezes do que consigo contar nos
dedos, agradeço por tudo isso e muito mais, que o seu espírito positivo e brincalhão nunca se
apague.
Às professoras Larissa e Graciela, que infelizmente não fazem mais parte do corpo
docente da Universidade e que sinto falta até hoje, muito obrigada por todo o conhecimento
durante o curto momento que passamos juntas. Acredito que nenhuma prova me deixava mais
ansiosa e ao mesmo tempo nervosa como as provas de direito da profª Larissa, que sempre
buscou deixar claro que uma nota não representava nossa capacidade intelectual. Aos
professores Ricardo, João e Silvia, muito obrigada por toda a fé em minha capacidade e
grande incentivo à participação ativa fora da Unisul, de modo que não tivéssemos apenas uma
visão de mundo.
Agradeço aos meus amigos e colegas de classe, que me aturaram tagarelando no
primeiro semestre, o que não foi uma tarefa fácil eu admito. Agradeço imensamente à Renata
Magalhães pelo seu companheirismo e fé na minha capacidade. Obrigada André Deggau pelo
seu constante racionalismo das coisas, que apesar de algumas vezes me deixar frustrada me
fez aprender a não me deixar levar pelas emoções sempre, além de me abrir para a visão de
outros lados na política e na vida. Sou grata também por ter tido o prazer de compartilhar da
companhia da Gabriélli Livramento, que ilumina qualquer lugar com seu espírito de artista,
enquanto ao mesmo tempo se prova uma internacionalista nata. Larissa Ribeiro, agradeço por
decidir voltar ao curso depois de anos para concluir seu TCC, graças à sua decisão pude fazer
uma nova amizade mesmo no último ano da graduação.
Devo minha gratidão também ao time do Centro Acadêmico, que me empolgou
novamente para o movimento estudantil de uma maneira que eu nunca imaginaria ser
possível. Lara Haro você foi a melhor presidente que eu poderia imaginar, fico muito feliz por
poder contar com a sua sensatez e perseverança, espero algum dia ser tão organizada e
disciplinada como você. Manoela Veras, acredito que não existam palavras nesse mundo pra
descrever você, uma pessoa tão jovem mas tão a frente e segura de si, sem medo de declarar
suas opiniões mesmo que sejam controversas, muito obrigada por todas as conversas, guardo
todas elas no coração e sempre me foram consolos quando esse mundo parecia louco e sem
esperança. Amigos, vocês foram a melhor bolha que eu poderia ter encontrado pra manter
minha sanidade no meio dessa bagunça que virou a Academia.
Ao Greens, o grupo de pesquisa responsável por todo o meu desenvolvimento na
pesquisa e elaboração de artigos, não faço ideia do que seria esse TCC sem o aprendizado que
recebi durante os anos vividos ali. Por isso, agradeço a todos que tive o prazer de trabalhar em
conjunto, professores e acadêmicos, em especial à Stephane Louise e Gisele Mazon. Profº
Baltazar, muito obrigada por toda a confiança e incentivo depositados mesmo que eu ainda
não tivesse a qualificação para tal. Tenho certeza que as oportunidades que me foram
concedidas impactarão positivamente na minha trajetória profissional.
Não poderia deixar de agradecer por todo o apoio e fé das minhas amigas que conheci
graças à dança. Obrigada Aryelle, Rebeca, Geórgia, Natália e Gabriela por todo o acolhimento
e engajamento com minhas aspirações acadêmicas. Apesar de não estudarem Relações
Internacionais, vocês sempre discutiram os assuntos que eu trazia à tona e foram fonte do meu
crescimento pessoal. Espero que possamos seguir sendo uma rede de apoio umas às outras.
Não posso deixar de agradecer também Leonardo Estevo, que me salvou na criação desses
gráficos que apesar de parecerem simples, sempre me deixavam louca.
Agradeço aos meus colegas de trabalho da NC8, que me acompanharam desde o início
da minha trajetória acadêmica e acreditaram no meu potencial quando nem mesmo eu era
confiante dele. Vocês estarão sempre na minha memória como o primeiro emprego em que
me senti valorizada e acolhida como família, e o qual tive prazer de rir muitas vezes. Vocês
me viram como alguém capaz de liderar e investiram nisso, apesar da minha própria
contrariedade quanto a assumir esse papel. Carlise, Mariana, Talita e Jéssica, vocês foram as
melhores líderes que eu já encontrei. Muito obrigada por toda a paciência e parceria, sem a
ajuda de vocês eu não teria conseguido.
Por fim, não posso deixar de agradecer a mim mesma por toda a persistência e
inteligência emocional investida para a conclusão desse curso e equilíbrio com meu trabalho e
vida pessoal. Posso falar com alívio que sairei formada tendo aproveitado todo o
conhecimento colocado à minha disposição.
“O que é uma mulher? Eu lhes asseguro, eu não sei. Não acredito que vocês saibam. Não
acredito que alguém possa saber até que ela tenha se expressado em todas as artes e profissões
abertas à habilidade humana” (VIRGINIA WOOLF, 1979).
RESUMO
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Coreia, a Coreia do Sul apresentou
uma acelerada industrialização e conquistou em poucas décadas o status de país desenvolvido.
Diversos fatores contribuíram para esse avanço, dentre eles se destaca a intensa intervenção
do Estado na economia, através de políticas econômicas e investimentos que beneficiaram o
crescimento da indústria nacional. Os grupos empresariais que tiveram esses privilégios se
tornaram grandes conglomerados, com suas famílias no comando dos negócios e logo se
transformaram em marcas globais. Esses conglomerados são chamados de Chaebols e são os
principais representantes da economia coreana no cenário internacional. Graças à sua
estrutura e cultura organizacional, eles foram e seguem sendo as engrenagens principais da
movimentação da economia sul coreana.
Since the end of World War II and the Korean War, South Korea has experienced accelerated
industrialization and achieved the status of a developed country in a few decades. Several
factors contributed to this advance, among them the intense State intervention in the economy,
through economic policies and investments that benefited the growth of the national industry.
The business groups that had these privileges became large conglomerates, with their families
in charge of the business and soon became global brands. These conglomerates are called
Chaebols and are the main representatives of the Korean economy on the international stage.
Thanks to their organizational structure and culture, they were and continue to be the main
actors of South Korean economy.
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................13
2 METODOLOGIA.............................................................................................................15
3 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUL COREANO NO SÉCULO XX...........17
3.1 LIBERAÇÃO E REESTRUTURAÇÃO NACIONAL (1945-1959)...............................18
3.2 POLÍTICAS ECONÔMICAS VOLTADAS PARA INDUSTRIALIZAÇÃO (1960-
1970).........................................................................................................................................21
3.3 A PROMOÇÃO DAS EXPORTAÇÕES E A BUSCA PELA ESTABILIZAÇÃO (1971-
1981) 24
3.4 REESTRUTUAÇÃO ECONÔMICA E REDUÇÃO DA INTERFERÊNCIA ESTATAL
(1981-1991)...............................................................................................................................26
3.5 A CRISE ASIÁTICA E A '' REPÚLICA CHAEBOL'' (1991-2000)..............................30
4 CHAEBOLS: ESTRUTURAS E PAPEL NA ASCENSÃO GLOBAL SUL
COREANA..............................................................................................................................36
4.1 CARACTERÍSTICAS DOS CHAEBOLS......................................................................37
4.2 OS PRINCIPAIS CHAEBOLS NO PAÍS E SUA PARTICIPAÇÃO NA
ECONOMIA.............................................................................................................................38
4.2.1 Samsung........................................................................................................................40
4.2.2 Hyundai........................................................................................................................41
4.2.3 SK..................................................................................................................................43
4.2.4 LG.................................................................................................................................44
4.2.5 Lotte..............................................................................................................................46
4.3 AS DESVANTAGENS DO MODELO CHAEBOL E SEU IMPACTO NO
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUL COREANO.....................................................47
5 O MODELO DESENVOLVIMENTISTA SUL COREANO E OS CHAEBOLS.......51
5.1 O ESTADO DESENVOLVIMENTISTA E O MODELO ECONÔMICO SUL
COREANO...............................................................................................................................51
5.2 A AUSÊNCIA DA CULTURA ORGANIZACIONAL NO DEBATE DO ESTADO
DESENVOLVIMENTISTA.....................................................................................................58
6 CONCLUSÃO...................................................................................................................61
REFERÊNCIAS......................................................................................................................64
15
1 INTRODUÇÃO
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, e com a saída dos japoneses do território
coreano, a Coréia do Sul apresentou entre 1960 e 1990 um acelerado desenvolvimento que os
colocou no patamar dos países com maior taxa de crescimento mundial (BECK, 1998) e
dentro de um grupo que ficaria conhecido como os Tigres Asiáticos, destino de grandes
investimentos estrangeiros. Durante esse período, o PIB do país saltou de 4 bilhões de
dólares a 148 bilhões.
O papel do Estado foi essencial para esse avanço. Seguindo o modelo japonês dos
zaibatsu, o governo coreano investiu fortemente na formação de grandes conglomerados a
partir de grupos empresariais, que ficaram responsáveis por setores estratégicos da economia.
Com isso, o Estado planejava transformá-los em campeões da economia nacional, com o
objetivo de possibilitar à Coreia do Sul superar os anos perdidos e sair da sua condição de país
agrário (GUIMARÃES, 2010).
Esses conglomerados ficaram conhecidos como chaebols, que significa literalmente ‘’
clã da fortuna’’, devido sua estrutura ser composta por famílias no centro dos cargos centrais
das empresas. Graças à todas as concessões e recursos dados à esses conglomerados, a
industrialização coreana foi alcançada com uma velocidade sem igual, refletindo um caso de
sucesso da intervenção do Estado na economia (CHANG, 2006). Semelhante a teoria
apresentada por Chang (2002), o governo coreano buscou seu desenvolvimento econômico
através da adoção de políticas comerciais e industriais como proteção à indústria nascente,
subsídios à exportação, disponibilização de terras e baixa tributação.
O acelerado desenvolvimento da economia sul coreana durante o século XX é
discutido com ares de milagre, é inclusive chamado de o ‘’ Milagre do Rio Han’’ (LE et al.,
2016). O país atravessou um período de longas décadas ocupado por tropas japonesas e sem
autonomia, e junto do resto mundo enfrentou a tensão que se seguiu durante a Guerra Fria e
logo depois uma guerra civil, que dividiu a península em dois países com modelos político e
economicamente diferentes. Não seria exagero afirmar que o sistema econômico sul coreano
não estava nada bem (PYO, 2001).
O contexto de como a recuperação econômica foi possível, e de que modo os chaebols
foram e continuam sendo relevantes, apresentam uma temática interessante para análise sob a
ótica da Economia Política Internacional, devido ao estreito relacionamento deles com o
Estado. A Economia Política Internacional é um campo que tem crescido nas últimas décadas
na área das Relações Internacionais, graças à sua combinação de discussões acerca da
16
2 METODOLOGIA
Os anos que se seguiram após o fim da Segunda Guerra Mundial foram um período de
grande conturbação para a economia sul-coreana. Houve desordem devido a separação
abrupta da economia coreana do bloco econômico japonês e também por conta da divisão
entre as Coreias em 1948. Durante o período colonial entre os anos 1910 à 1945, o
funcionamento da economia coreana apoiou-se no capital, tecnologia e administração
japoneses. A parcela dos negócios e mão de obra do Japão no território correspondia
aproximadamente à 90% e 80% respectivamente (BANK OF KOREA, 1948; FRANK et al.,
1975).
Assim, com o fim dos longos 35 anos da ocupação japonesa no país em agosto de
1945, pode-se dizer também que acabou em partes a engrenagem que fazia a economia do
país girar. Uma série de empresas foram fechadas e diversas produções interrompidas. Devido
à forte presença comunista no norte e influência capitalista no sul, uma partilha formal que era
pra ser temporária foi assinada e dividiu o território no paralelo 38. O número de coreanos que
exerciam atividades nos setores de alta tecnologia eram baixos e para agravar o cenário,
indústrias ligadas ao metal, geração de energia e produtos químicos estavam localizadas
principalmente na região que fazia parte da Coreia do Norte, enquanto na Coreia do Sul a
concentração eram de indústrias têxteis, alimentícias e produção de máquinas, o que os deixou
em condições mais precárias que seu vizinho (FRANK et al., 1975).
Com a liberação, o governo sul coreano tomou como princípio econômico um sistema
de mercado livre e estabelecimento da Propriedade Privada. Através da reforma agrária entre
1947 à 1949, as terras que pertenciam aos japoneses foram confiscadas e vendidas. Segundo
Park (2019), a reforma ocorreu por meio da compra por parte do governo das terras agrícolas,
que as vendeu à agricultores a preços abaixo do mercado.
Ela foi essencial para redistribuição da riqueza e redução nas desigualdades de renda
entre a população. Apesar da intensa intervenção estatal, o governo assegurou medidas que
cultivassem os negócios do setor privado e estes trabalharam em conjunto para o
desenvolvimento do país. No entanto, as restrições às propriedades agrícolas dificultaram o
crescimento da agricultura em larga escala e foram responsáveis pelo baixo crescimento da
produtividade do setor agrícola nos anos seguintes (PARK, 2019).
Em 1950, quando o líder norte-coreano Kim Il-Sung invadiu a Coreia do Sul com o
objetivo de unificar o país através da força, Rhee Syngman que havia sido reinstaurado como
presidente pediu ajuda aos EUA e à Organização das Nações Unidas (ONU). A partir daí, a
relação com o governo estadunidense apenas cresceu, apesar das tensões geradas com a
24
recusa de Rhee em concordar com propostas de cessar-fogo para pôr fim à Guerra da Coreia.
Ele tinha como slogan ‘’ Marche para o Norte e unifique a Coreia’’ e acreditava que sem a
presença do regime comunista, o território poderia alcançar a paz e voltar a ser um só
(HONG, 1999).
O fim da Guerra da Coreia em 1953 selou formalmente a divisão na península em duas
por meio da linha invisível do paralelo 38, e os EUA se responsabilizaram em grande parte
pela reconstrução, devido ao seu interesse estratégico na região e em defesa do capitalismo. O
presidente Eisenhower investiu em torno de 200 milhões de dólares à mais para essa
reconstrução como meios de acabar com a oposição de Rhee em assinar o armistício (KIM,
2013).
A ajuda dos EUA entre 1953 à 1961 contribuiu para as necessidades de produtos e
capital sul-coreano, com um auxílio financeiro de aproximadamente 70% para as importações
e 75% para formação de capital. Esse auxílio financeiro permitiu que as empresas locais
continuassem com suas atividades e acumulassem capital, que foram usados no mercado
especulativo (KIM, 2013; LE et al., 2016).
Haggard et al., (1991) afirma que o programa de ajuda dos Estados Unidos tinha duas
prioridades: estabilidade e desenvolvimento. De um lado, o exército estadunidense se
preocupava com a segurança do país e sua estabilização frente ao conflito com a Coreia do
Norte. Do outro lado, responsáveis pela equipe de reestruturação econômica tinham grande
preocupação em tornar o país autossuficiente e sugeriram um programa voltado para o
desenvolvimento da infraestrutura sul coreana e substituição das importações.
Os chaebols são o fruto dessas estratégias e tinham como missão liderar a Coreia do
Sul ao status de país desenvolvido (BECK, 1998). Semelhante ao governo japonês e seus
zaibatsus, o governo apostou na formação de grandes grupos empresariais em estrutura de
conglomerado com atuação em diversos setores para assim ter um alcance internacional, mas
somente os grupos de empresas que se destacavam quanto a sua performance foram
selecionados (CAMPBELL, 2002).
Byung-Kook et al. (2011) aponta que Park foi um dos grandes responsáveis pela
evolução que os chaebols alcançaram ao longo dos anos, pois todos aqueles que batiam as
metas estabelecidas pelo governo eram recompensados com empréstimos com condições
facilitadas de pagamento, subsídios ou cortes de impostos. Com o início do novo governo,
uma profunda mudança foi instaurada no sistema financeiro do país, que transformou desde
os bancos às companhias de seguros em instrumentos para o desenvolvimento da economia.
Por pressão dos EUA, o país retomou suas relações econômicas com o Japão, que
assinou um contrato de 10 anos em 1965 com a Coreia do Sul onde concedia 300 milhões de
dólares para auxílio financeiro. Park tinha grande interesse em livrar-se das políticas
econômicas de Washington e por isso solicitou empréstimos do Banco Mundial em 1962 e
posteriormente à bancos estrangeiros em 1967. Toussaint (2007) discute que esses
empréstimos pertenciam mais à uma agenda política que econômica, já que a intenção de Park
era lentamente cortar sua dependência dos EUA.
A Coreia do Sul implementou entre os anos 60 à 90 sete planos econômicos com
duração de cinco anos, todos focados em questões estratégicas que poderiam alavancar o país.
O primeiro plano quinquenal foi lançado em 1962, e como já observado teve como foco
transformar o país economicamente independente, o que se alinhou aos interesses dos EUA,
que já vinham declinando consideravelmente a saída de dólares do país (DALL'ACQUA,
1991).
Mais do que voltado para exportação, o plano tinha como objetivo essencial a
substituição das importações através da produção dos bens que seriam importados. Para isso o
governo concedeu assistência às indústrias básicas e melhorias nas infraestruturas sociais e
econômicas. Outras medidas protecionistas foram implementadas, principalmente no setor
agrícola com a proibição da importação de arroz (DALL'ACQUA, 1991).
A política apresentou impactos diretos na aceleração da industrialização. A
substituição de bens importados nas indústrias leves já tinha quase acabado no fim da década
de 1960 e a qualidade dos produtos coreanos alcançou padrões elevados, que lentamente se
expandiram para o mercado internacional. Com as melhorias na infraestrutura, a agricultura
27
que era a responsável por aproximadamente 50% do total da estrutura industrial entrou em
equilíbrio com a manufatureira, que anteriormente ocupava entre 10 à 20%. No fim dos anos
60, ambos corresponderam à aproximadamente 30% da estrutura industrial nacional
(KUZNETS, 1985; TOUSSAINT, 2007).
O primeiro plano econômico foi centrado na produção de energia elétrica, fertilizantes,
refino de petróleo, cimento e fibras sintéticas. Uma das reformas mais aclamadas de Park foi a
provisão de energia elétrica durante 24 horas, que mudou a realidade da população e das
empresas que tinham acesso à eletricidade durante apenas poucas horas. Naquela época, a
Coreia do Sul era um país extremamente mais pobre que seu vizinho, pois todas as áreas de
produção e geração de energia relevantes estavam estabelecidas no norte, que contavam
também com ajuda da União Soviética e China (BYUNG-KOOK et al. 2011).
Apesar do país não ter iniciado uma política voltada exclusivamente para a promoção
das exportações até o início do segundo plano quinquenal, Kwong (2001) aponta que logo
após Park assumir o país ele determinou a criação do Economic Planning Board (EPB), uma
agência com capacidade financeira e autônoma pra as ações estatais na economia, que
respondia diretamente ao presidente. Essa agência foi responsável pela coordenação dos
planos econômicos e por meio dela eram realizadas conferências mensais sobre exportações
com a presença do próprio Park e outros políticos e especialistas da área a fim de monitorar o
progresso das exportações (DALL'ACQUA, 1991).
Nessas conferências eram determinados objetivos a serem alcançados pelas empresas e
a performance de cada uma era analisada pelo próprio presidente. Com a implementação do
primeiro plano a economia cresceu a uma taxa média anual de 8,5% entre 1961 à 1962, no
entanto a instalação das indústrias de substituição de importações impactou negativamente a
balança de pagamentos, devido ao aumento das importações de bens de capital e matérias-
primas que eram importadas e não tinham como ser produzidas no país. Logo, a principal
preocupação do governo que era a dependência do capital estrangeiro não foi resolvida
mesmo com o rápido crescimento econômico. Isso levou posteriormente à um novo
direcionamento na implementação do segundo plano quinquenal (DALL'ACQUA, 1991).
Em 1967, se iniciou o segundo plano quinquenal que transformou a exportação de
manufaturas leves no elemento chave para desenvolvimento econômico do país. Esse
processo foi iniciado na esperança de que com o aumento das exportações o desequilíbrio na
balança fosse reduzido. O governo prestou suporte às indústrias leves através de um sistema
de câmbio flexível e investiu no desenvolvimento da indústria pesada de aço, bens de capital e
indústria petroquímica afim de intensificar as exportações (TOUSSAINT, 2007).
28
Foi durante esse período que o Estado favoreceu o desenvolvimento dos chaebols para
que pudessem liderar e fortalecer essas indústrias. As empresas que se destacaram nas
exportações usufruíram de regalias que aquelas com resultado mediano não tiveram acesso, e
com isso puderam expandir ainda mais seus negócios (TOUSSAINT, 2007). Park viabilizou a
criação do Parque Industrial Kuro e de uma empresa estatal de aço e ferro na cidade de Pohan,
que deram assistência exclusiva e venderam aço com baixo custo aos chaebols que estavam
fundando as primeiras fábricas de automóveis e estaleiros no país (BYUNG-KOOK et al.,
2011).
A rápida expansão dos conglomerados aos diferentes setores da economia foi tão
expressiva a ponto da população sul-coreana considerar suas naturezas semelhantes às de um
‘’ polvo’’, pois conseguiam ‘’ estender’’ seus tentáculos aonde desejassem (BYUNG-KOOK
et al., 2011). Graças aos investimentos nas indústrias nacionais o país lentamente se tornou
menos dependente das importações e da ajuda estrangeira, atraindo muitos investimentos. A
taxa anual do PIB chegou até 14,5% em 1969 e a agricultura deixou aos poucos de ser o setor
predominante do país, dando espaço para as indústrias que agregavam mais valor (BANCO
MUNDIAL, 2020a).
É importante ressaltar que esse cenário foi possível devido a uma combinação de
fatores, desde as ações governamentais e das indústrias privadas, até os esforços da mão-de-
obra. Conforme analisou Chung (1974), a política estatal voltada totalmente para o
investimento de uma infraestrutura nacional que poderia fortalecer o país economicamente foi
revolucionária e apesar de alguns saldos negativos - como o número de importações ainda ter
excedido em muitos momentos o de exportações e algumas empresas não terem apresentado o
lucro desejado - foi o suficiente para pavimentar o caminho para a autossuficiência do país.
Pode-se dizer que o terceiro plano quinquenal entre os anos 1972 à 1976 foi uma
continuação dos planos anteriores e deu início a uma política voltada para exportação, e não
mais substituição das importações. O governo deu curso à uma série de ações, como a
expansão das indústrias manufatureiras, desenvolvimento do setor agrário e rural e
intensificação das exportações. Por conta das crescentes tensões com a Coreia do Norte e
desejo de diminuir a dependência de sua segurança nacional junto aos EUA, o governo se
29
voltou para o desenvolvimento das indústrias pesadas e químicas, a ponto do terceiro plano ter
sido chamado de Industrialização dos Químicos Pesados (CHUNG, 1974).
Cinco setores estratégicos foram designados: petroquímica, aço, metais não-ferrosos,
maquinaria e construção naval. Através dessa estratégia o país teria como construir suas
próprias forças armadas e também reduzir a importação de matérias-primas, máquinas e
equipamentos, e voltar seu polo industrial para a produção de produtos de maior valor
agregado. Em poucos anos essas indústrias deixaram de atender somente ao mercado interno e
se expandiram ao mercado internacional, e a participação delas nas exportações pulou de 14%
em 1971 para 30% em 1976 (DALL'ACQUA, 1991).
Nesse cenário os laços entre as empresas e o governo se aprofundaram, um grande
nível de capital foi alocado aos grupos empresariais que tinham como dever promover a
economia nacional. As empresas que faziam exportações ganharam tratamento preferencial
graças ao controle estatal sobre o mercado financeiro, que além de possuir ações dentre
muitos bancos era também dono de alguns dos principais do país. Durante esse período, a
moeda local foi desvalorizada para incentivar as exportações. Ainda, graças à uma lei criada
em 1965 o governo tinha o poder de limitar as taxas de juros e com isso conseguiu alocar
capital do setor privado para os bancos, controlando as taxas de juros do setor privado e
aumentando as taxas de juros da conta poupança, que permitiu o aumento de reservas para o
investimento doméstico (HEO et al., 2008).
Foi permitido aos bancos estrangeiros a instalação no país desde que esses
concedessem empréstimos às empresas locais. A criação do Fundo para Investimento
Nacional permitiu que o regime mapeasse em que setores o dinheiro seria alocado. Em 1977,
foi lançado o quarto plano quinquenário, nesse período a renda per capita do país chegou a
1000 dólares, um contraste impressionante comparado aos 87 dólares do ano de 1962.
Contudo, o contexto mundial não era otimista, como levantado por Kuznets (1985) a década
de 70 foi marcada por momentos críticos como o crescente protecionismo dos países frente a
queda do sistema de taxas de câmbio fixos; o aumento da inflação por conta do boom das
commodities entre 1972-73; e a crise do petróleo entre 1973 e 1974.
A ampliação do setor agrícola através do financiamento dos bancos locais também
agravou ainda mais a situação inflacionária no país que já se encontrava fora de controle. O
governo buscou diversificar os mercados e instruiu as empresas a expandirem seus negócios
para outros países a fim de angariar novos faturamentos. Durante os anos 1977 à 1981, o
desenvolvimento das indústrias que poderiam competir internacionalmente nos mercados de
exportação foram fortemente promovidos. As empresas sul-coreanas do setor de construção
30
civil entraram com grande ambição no exterior, porém isso acabou contribuindo para a
escassez de mão-de-obra qualificada no país e inflação dos salários, o que prejudicou ainda
mais a competitividade das exportações (KUZNETS, 1985; CHO, 2019).
Apesar da intervenção estatal com a desvalorização do won, foi o controle dos preços
que apresentou resultado efetivo em deter a inflação. Ansiosos por voltar ao rumo de
estabilização que o país vinha seguindo nos últimos anos, o governo lançou no início de 1979
um programa de base liberal, que teria como objetivo atrair investimentos estrangeiros ao
país. No entanto, o segundo choque do petróleo ocorrido no mesmo ano de sua
implementação impediu que o programa apresentasse resultados. Ainda, a Coreia do Sul vivia
na época grandes conturbações políticas (KUZNETS, 1985; CHO, 2019).
Toussaint (2007) relembra a ditadura de Park como um período marcado por
constantes manifestações estudantis, que aos poucos receberam apoio também dos operários.
A população já se mostrava insatisfeita com o regime desde a assinatura do tratado com o
Japão em 1965 e da lei marcial instaurada em 1972. A proclamação de uma nova Constituição
no mesmo ano da nova lei determinou que Park poderia permanecer no poder até a sua morte,
o que instigou grande revolta e aderência de ainda mais pessoas à manifestações. A repressão
contra essas manifestações foi marcada por forte violência policial.
Em 16 de outubro de 1979, Park determinou estado de sítio na cidade de Pusan por
conta de uma das maiores manifestações estudantis já vistas no país, mas mesmo isso não foi
suficiente para deter o movimento e em pouco tempo várias outras cidades se juntaram a
causa, inclusive a capital do país. Kim Jae Kyu, diretor da Agência Central de Inteligência
Coreana (KCIA) da época, e antigo parceiro de Park, observou que a situação já saía do
controle após mais de quatro dias de confrontos dos manifestantes com a polícia. No dia 26 de
outubro daquele mesmo ano, Kim assassinou Park, pois acreditava que a morte do ditador era
a única forma de manter o seu poder na KCIA.
Kim e dos agentes que lhe ajudaram no assassinato de Park pois não acreditava nas alegações
de que lutara pela liberdade do povo sul-coreano, e sim que Kim agiu sob interesses próprios
(TOUSSAINT, 2007; HEO et al., 2008).
Não levou muito tempo para que a ditadura militar retornasse ao país, em maio de
1980 Chun assumiu o poder e determinou a prisão de todos aqueles que se opunham ao seu
regime. As manifestações não cessaram mesmo com a determinação da nova lei marcial, e
grandes confrontos se seguiram, com muitos manifestantes sendo até mesmo assassinados.
Kwanju foi uma das cidades mais marcadas por esses confrontos, e foi palco do evento
chamado de Movimento Democrático de Kwanju onde estudantes tomaram a cidade e lutaram
contra o poder do regime e a favor da democracia (TOUSSAINT, 2007; HEO et al., 2008).
Os atos foram pintados pela mídia nacional como movimentos a favor do comunismo
à mando de Chun, e mesmo que as alegações não fossem verdadeiras o domínio do regime
sobre os canais de comunicação contribuiu muito para que a mídia internacional não soubesse
de fato o que acontecia no país. No entanto, é importante observar que as ações do general
tiveram total apoio do Japão e que os EUA além de apoiar Chun chegaram inclusive a mandar
apoio das tropas estadunidenses presentes no território para repressão das manifestações. A
população sul coreana chegou a pedir ajuda ao presidente estadunidense Jimmy Carter, mas o
pedido foi negado. A posição geoestratégica do país era de grande interesse para os EUA e os
mesmos desejavam manter controle dela (TOUSSAINT, 2007; HEO et al., 2008).
Mesmo após ser eleito oficialmente como presidente em 1981, Chun continuou a
enfrentar protestos por parte da população. A situação econômica do país agravou-se e ele
teve dificuldades para conter a inflação causada por conta do segundo choque do petróleo em
1979, que foi acentuada pela insistência do antigo governo em seguir com os investimentos
nas indústrias químicas e pesadas mesmo à custa de empréstimos estrangeiros. As exportações
também não alcançaram os resultados desejados devido ao protecionismo que permeou os
países após as crises do petróleo (TOUSSAINT, 2007).
Chun diminuiu as taxas de juros esperando que isso estimulasse a economia e
incentivou que as empresas não aumentassem os preços ou que os sindicatos pedissem por
aumentos salariais. Mesmo assim, em 1983, a Coreia do Sul chegou ao posto de quarto país
com mais dívidas externas, principalmente por seus empréstimos terem sido com base em
taxas variáveis, que culminaram em uma alta dos juros após as crises do petróleo. Graças ao
Japão e sua concessão de 3 milhões de dólares como meios de reparação pela ocupação, o país
manteve o reembolso da dívida aos banqueiros japoneses e não precisou pedir auxílio ao FMI
(TOUSSAINT, 2007; HEO et al., 2008).
32
Para Bedeski (2002), um dos legados da administração de Roh foi a política externa
adotada, que direcionou o país para uma nova aproximação com a Coreia do Norte através da
cooperação com seus aliados tradicionais como a China e União Soviética. Essa política ficou
conhecida como Nordpolitik, e por meio dela Roh conseguiu trazer ganhos econômicos para o
Sul e ao mesmo tempo isolar o Norte. Ao longo de sua administração, Roh foi cada vez mais
reconhecido por suas táticas diplomáticas, e esforços por reformas socioeconômicas.
A promoção de um crescimento econômico com equidade também foi um marco de
seu mandato, contudo mesmo que isso tenha lhe rendido elogios da população,
economicamente isso levou à uma queda no crescimento anual do país, que foi de 11,9% em
1988 para 7,03% em 1989. Isso se agravou também por conta da valorização do won que
implicou em um obstáculo para o crescimento das exportações, e tornou os produtos menos
competitivos internacionalmente (BEDESKI, 2002).
Com o fortalecimento da democracia, também aumentaram as greves dos trabalhadores
que exigiam por melhores condições de trabalho e redução dos privilégios concedidos aos
grandes grupos empresariais. Como salientado por Guimarães (2010) e Chang (2006), essa
reação era esperada já que sem as imposições autoritárias dos regimes anteriores, a
manutenção de um modelo que se baseava na exclusão de muitos grupos estava fadada à
desafios. Nesse mesmo contexto, os chaebols se fortaleceram graças as novas vantagens
democráticas que reduziram burocracias anteriores e permitiram meios deles alcançarem seus
objetivos, além de estreitar seus laços com os políticos ao financiar suas campanhas eleitorais.
Semelhante as políticas de Chun, Roh não tentou eliminar o poder dos chaebols e sim
domá-los. Em 1990, ele lançou medidas que proibiram os conglomerados de entrarem em
setores da indústria vistos como improdutivos e impôs um limite na quantidade de terrenos
adquiridos por eles. Mas na prática, essas medidas apenas redirecionaram o foco deles para as
indústrias principais do país, que já era algo comum. Isso não fez com que eles atuassem
organizacionalmente de maneira diferente e nem atingiu o principal problema estrutural, que
era a concentração de poder nas mãos das famílias que geriam e ainda gerem os grupos
(BYUNG-KOOK et al. 2011).
Em 1992, o sétimo e último plano quinquenal econômico foi estabelecido e deu
sequência ao desenvolvimento das indústrias de alta tecnologia e internacionalização das
empresas. Para isso, o governo e as indústrias se uniram na construção de novas instalações
tecnológicas em regiões diferentes afim de promover uma melhor distribuição geográfica da
indústria do país. Nesse mesmo ano, o país alcançou uma taxa de crescimento de 6%,
36
conseguiram alcançar uma expansão corporativa. Isso é observado em 1994, quando trinta dos
principais chaebols registraram aproximadamente 112 empresas como suas empresas líderes
(BYUNG-KOOK et al., 2011).
Chiang (2017) acrescenta que a privatização dos bancos e das instituições financeiras
na década de 1980 foi a peça chave que faltava para que os chaebols desenhassem seu
domínio de acordo com seus desejos. Com a privatização, muitos se tornaram donos de
bancos comerciais e passaram a ter acesso facilitado à capital, além disso, sem a interferência
estatal seu foco passou de projetos nacionais para investimentos de curto prazo que
apresentavam retorno rápido.
A proteção ao mercado doméstico também contribuiu para que eles crescessem ainda
mais e logo os chaebols estavam presentes em setores de varejo, construção e financeiro do
país. Com as novas mudanças, os conglomerados exigiram cada vez mais pela não
interferência do Estado na economia, enquanto ao mesmo tempo se aproveitaram da proteção
que o governo lhes concedeu ao bloquear a entrada de empresas estrangeiras no país. Por
esses e outros fatores Kalinowski (2009) chama esse período de ‘’ República Chaebol’’,
quando o poder deles chegou a superar o do Estado.
O crescimento anual do país retomou seu curso entre 1994 e 1995 com um crescimento
de aproximadamente 9% graças ao aumento da exportação de produtos de alto valor agregado
(BANCO MUNDIAL, 2020a). No entanto, desde o início da década de 90 o país enfrentava
dificuldades devido ao déficit nas contas correntes, recessão global e valorização do won.
Segundo relatório do FMI em 1999, a economia começou a apresentar sinais de que poderia
enfrentar uma grande crise em 1996 e por isso o governo sul coreano buscou formas de
resolver os desequilíbrios da conta corrente por meio da entrada de capital no país, que já
tinha sido liberado e incentivado fortemente desde 1991 com a ‘’ Lei de Gerenciamento de
Câmbio Estrangeiro’’. Ainda em 1993, já tinha sido anunciado um plano para a liberalização
do setor financeiro que desregulamentou as restrições à gestão de ativos e passivos das
instituições financeiras.
Assim como desejado, o aumento de capital no país foi expressivo, no entanto ao
implementar essas medidas o governo ignorou a necessidade de um sistema que regulasse
devidamente essas transações. O que se seguiu foi um aumento de dívidas em moeda
estrangeira nos investimentos de curto prazo, pois em 1996 a Coreia do Sul atendeu às
exigências para entrada na OCDE e liberou as entradas de capital de curto prazo no país
(BYUNG-KOOK et al., 2011).
38
Byung-Kook et al. (2011) detalha que em junho de 1997, a dívida externa dos bancos
coreanos chegou à 24% do PIB nacional e os empréstimos de curto prazo representavam em
torno de 350% de suas reservas cambiais. Como agravante, os trinta principais chaebols que
eram responsáveis por mover a economia tinham uma taxa de endividamento em média de
400%. As taxas de juros sul-coreanas eram maiores que de outros países na época, o que fez
com que muitos chaebols buscassem empréstimos fora.
Nesse contexto de grande dívida estrangeira e baixa regulação, Kim não controlar a
situação antes que a crise estourasse e se viu obrigado à pedir auxílio ao FMI. Com base nas
condições da Organização, o governo coreano teria que implementar diversas reformas
econômicas baseadas principalmente no Consenso de Washington, desde cortes nos gastos
públicos; desregulamentação do mercado; privatização do setor público e abertura do mercado
interno (SHIN, 2019).
Muitos investidores hesitaram em seguir com investimentos na Coreia do Sul devido as
perdas sofridas em outros países do leste asiático, o que gerou uma redução do capital
disponível. São vários os motivos que explicam a Crise Asiática de 1997, mas seguramente
como destacado por Byung-Kook et al. (2011) e Guimarães (2010) a falta de uma estrutura
reguladora foi um ponto que contribuiu para a precariedade da situação.
A crise também acentuou problemas que estavam mascarados graças ao forte
crescimento econômico que o país vivia. Ainda, apesar da transição para a democracia e
criação de novas instituições políticas e econômicas independentes, o problema da corrupção
ainda era presente no país e os laços entre empresários e políticos seguiram fortes.
Dentre a literatura estudada, muitos autores concordam que somente a Crise Asiática
foi efetivamente capaz de frear a expansão do poder dos chaebols que já superava o do Estado
na economia. Muitos deles tiveram que pedir ajudar para escapar da falência e assim o papel
dominante na orientação da economia nacional foi retomado pelo Estado. As reformas de
mercado que eram tão almejadas pelo Estado puderam por fim ser colocadas em prática já que
os chaebols se encontravam em situações vulneráveis e a opinião pública deles era negativa,
pois os consideravam os principais responsáveis pelo colapso econômico do país.
Guimarães (2009) acrescenta que a criação da Financial Supervisory Commission
(FSC), que teve autonomia pra implementar as reformas necessárias foi essencial para o
sucesso que se seguiu após a crise. Por meio dela, os chaebols foram sinalizados em quais
setores deveriam atuar e pressionados por fusões quando necessário. Aqueles que não
adotaram as orientações sofreram restrições no acesso ao crédito e receberam um tratamento
mais agressivo quanto ao pagamento de impostos.
39
O novo presidente Kim Dae Jung que assumiu o país em 1988 também foi um
importante ator na recuperação financeira, pois era contrário aos privilégios dos chaebols e
por isso aproveitou do apoio dos trabalhadores e outros grupos para pressionar e assegurar
que as reformas estruturais fossem feitas. Ele também garantiu aos trabalhadores a
oportunidade de poder opinar nas negociações e foi o responsável pela criação do seguro
desemprego dentre outras melhorias sociais que serviram como uma moeda de troca em fazê-
los aceitar o grande número de demissões que se fizeram necessárias (GUIMARÃES, 2009).
Byung-Kook et al. (2011) p. 676 destaca:
Esse capítulo busca traçar brevemente o percurso de alguns dos principais chaebols
desde sua criação até os dias atuais, afim de mostrar como eles foram importantes para a
consolidação da Coreia do Sul como um importante ator no comércio internacional e o
alcance global que o país conquistou por meio de marcas renomadas nacionais.
Após a década de 90, a Coreia do Sul passou por inúmeras reformas estruturais,
pautadas pelas exigências do FMI após a Crise de 1997 e também pelo novo contexto que
surgia globalmente, com a abertura de mercados e intensificação do comércio internacional.
Um novo cenário surgiu e o que antes era um país marcado pela presença do Estado, se
transformou em um país que despontava como ator na economia global, com multinacionais
que rapidamente expandiram suas cadeias de produção.
Yeung (2017) defende que desde esse período, a relação entre o Estado e os chaebols
mudou significativamente, principalmente seu papel na economia. Conforme aponta o autor, o
Estado se tornou um mediador responsável por facilitar a competitividade global dos grandes
conglomerados.
Onder e Nyadera (2019) analisaram em seu estudo a importância de atores (drivers)
não econômicos no desenvolvimento econômico. Eles apontaram os chaebols como grandes
forças responsáveis pela economia sul coreana, graças a considerável parcela que ocupam no
PIB nacional, principalmente no que se refere as exportações.
Na seção 4.1, serão aprofundadas as principais características que representam os
chaebols, a estrutura em que eles estão apoiados e que garantem seu funcionamento e controle
das famílias sobre os conglomerados.
Na seção 4.2, serão apresentados os principais chaebols existentes no país atualmente,
suas áreas de atuação e a parcela que ocupam na economia sul coreana. Na última seção,
serão discutidas as críticas feitas aos conglomerados e os impactos negativos do forte controle
deles dos mercados domésticos e escândalos no meio político do país.
Chang (1988) afirma que os sistemas pelos quais as empresas operam dentro dos
países estão diretamente ligados às suas culturas, a Coreia do Sul é um grande exemplo disso.
Os valores do Confucionismo estão intrinsicamente presentes no país, com algumas
características únicas que os diferem dos observados na China e Japão. As relações entre as
42
filiadas aos conglomerados. Contudo, conforme levantando por Chiang (2017b) essa lei não
mostrou grandes resultados visto que é válida somente para as novas filiações, e as antigas
seguem sendo permitidas.
Murillo (2013) apresenta o lobby político como uma prática comum dos chaebols, já
que com o apoio do governo e líderes políticos eles são capazes de levantar capital com maior
facilidade. Outra característica marcante é a compra ou fusão de empresas que facilitem sua
entrada e expansão em novos mercados domésticos e internacionais.
Ainda, apesar de ser uma prática proibida no país, eles possuem em seus grupos ‘’
salas presidenciais’’ ou setores estratégicos onde seu principal responsável serve as famílias
seguindo a tradição japonesa onde os servos trabalhavam para o reinado. Nessas salas, são
tomadas as decisões quanto a sucessão de CEOs ou investimentos que serão feitos, o que
garante uma rápida decisão quanto ao rumo das empresas dentro do grupo (MURILLO,
2013). Park (2012) acrescenta que essa estrutura permitiu às famílias um monitoramento
interno único sem interferências externas, que levou a expansão da integração das empresas-
membro de forma vertical e horizontal.
Uma das críticas feitas ao seu modelo de gestão é a prática comum de adquirir
produtos e serviços somente das empresas que pertencem ao conglomerado, apesar de em
alguns casos essas decisões não serem economicamente inteligentes e darem preferência à
estabilidade e não lucro (MURILLO, 2013). Contudo, esses fatores não significam que a
capacidade dos seus funcionários sejam inferiores, pois as vagas disponíveis nas empresas são
altamente disputadas, e as contratações por padrão são dos candidatos que se formaram dentre
as melhores universidades no país e possuem currículo impecáveis (CHANG, 1988;
MURILLO, 2013).
A maioria dos chaebols mais relevantes atualmente tiveram sua origem ainda no
período da colonização japonesa e continuam seu legado familiar através da criação de
centenas de subsidiárias nacional e internacionalmente (BYUNG-KOOK et al., 2011). O
crescimento da Coreia do Sul como ator relevante na economia global é segundo Pawlas
(2017) fruto do forte engajamento do país no comércio internacional conquistado em grande
parte por meio da presença dos chaebols no mercado estrangeiro através da venda de produtos
e serviços que lhes garantiu uma extensa rede de distribuição e capacidade financeira.
44
4.2.1 Samsung
4.2.2 Hyundai
O grupo Hyundai foi fundado por Chung Ju-Yung ainda em 1946, inicialmente como
uma pequena loja de reparos de carros na capital Seoul. Nunes et al. (2017) salienta que já nos
seus primórdios a família Chung se mostrou pronta para os negócios, pois buscaram assegurar
contratos de manutenção dos veículos, já que na época grande parte dos carros eram de
propriedade do governo. Com a ajuda do seu irmão que falava inglês, Chung conseguiu fechar
contratos com soldados da base militar dos EUA e logo conseguiu fortalecer laços com o
governo sul coreano.
Em poucos anos, o negócio da família rapidamente evoluiu e no fim da década de
1950, eles já tinham presença sólida no mercado de construções, tendo recebido importantes
contratos do governo que na época estava reconstruindo o país, como a construção de uma
rodovia que ligava Seoul à Busan. Com a experiência acumulada nesses projetos, eles
conquistaram contratos bem sucedidos no Oriente Médio no setor de construções e iniciaram
também sua expansão internacional (NUNES et al. 2017).
Uma característica que lhes garantiu a condição de grande conglomerado foi seu
alinhamento estratégico junto às políticas do governo dentre 1960 a 1988. Quando os
governantes iniciaram medidas que incentivavam a indústria automobilística, o grupo também
deu início à expansão dos seus negócios nesse setor (NUNES et al. 2017). Graças ao contrato
estabelecido com a Ford em 1968, eles obtiveram o licenciamento para produzir os carros
deles no mercado interno e assim conseguiram absorver tecnologias muito importantes para o
desenvolvimento da empresa. Logo a companhia criou sua mais importante subsidiária que foi
chamada de Hyundai Motor Company (LIM, 1997).
Em 1976, a Hyundai desenvolveu seu primeiro carro e iniciou suas exportações para
outros países como Canada e EUA. Em 1973, estabeleceu a subsidiária Hyundai Heavy
Industries e entrou na indústria naval. Diversas empresas afiliadas foram criadas para suprir
os materiais necessários para a expansão de cada subsidiária, focando em um crescimento
vertical. Na década de 1980, o grupo focou em se diversificar e entrou no mercado de seguros,
eletrônicos, lojas de departamento, indústria petroquímica e fretes (CHANG, 2003).
Atualmente, o conglomerado é conhecido como Hyundai Motor Group e tem como
destaque o título de maior indústria automotiva da Coreia do Sul. Eles também são o segundo
maior fabricantes de carros na Ásia e mundialmente ocupam o quarto lugar. No primeiro
semestre de 2020, o carro Genesis da linha premium do grupo ultrapassou o Benz da BMW
como o mais vendido internacionalmente (SHIN, 2020).
48
O chaebol exporta para 193 países, com seis centros de Pesquisa e Desenvolvimento
localizados na Coreia do Sul, Alemanha, Japão, Índia e Estados Unidos. Além dos centros o
grupo fundou diversas sedes espalhadas pela América do Norte, Europa e Ásia para auxiliar
no planejamento, finanças, produtos e experiência dos clientes. Na Índia eles tem uma de suas
subsidiárias mais importantes onde é feita a fabricação das linhas destaque do grupo, e dali
exportam para até 88 países, na América Latina, África, Europa e Ásia (HYUNDAI, 2020).
Jang (2020) destaca o importante papel da Hyundai para a economia do país, devido à
grande importância da indústria automobilística, que corresponde a aproximadamente 13% da
produção manufatureira, e 12% dos empregos no país. Só na Índia, o país se tornou o primeiro
fabricante a exportar mais de 3 milhões de carros no país.
Apesar de estar presente em diversos mercados, é evidente que o setor automobilístico
é o que mais contribui financeiramente para o conglomerado e a economia sul-coreana. No
ano de 2018, o conglomerado também foi responsável por 5,9% das exportações nacionais,
assegurando o seu título de segundo maior chaebol sul coreano (JANG, 2020).
4.2.3 SK
O grupo SK, chamado atualmente de SK Holdings, foi fundado em 1953 por Jong Kun
Chey com a compra da fábrica têxtil Sunkyong, que pertencia ao Japão antes voltar as mãos
do governo sul coreano. Seu rápido desenvolvimento se deu principalmente por meio das
exportações durante a era Park e o grupo logo expandiu seus negócios para o mercado de
construções e produção de fibras sintéticas. Chang (2003) aponta que sua conexão com o
governo era mais estreita do que os outros chaebols, e uma das ações comuns do
conglomerado era a aquisição de empresas estatais.
Mesmo com a mudança de presidentes, a conexão com o governo persistiu, o que fica
evidente em 1980 quando o grupo adquiriu a empresa Yokung - estatal responsável pelo
refinamento de petróleo - com a ajuda de um empréstimo governamental em condições
extremamente favoráveis sem taxas de juros significativas. No mesmo período, o grupo
ganhou direitos exclusivos na importação de petróleo da Arábia Saudita (CHANG, 2003).
Em 1991, o conglomerado abriu um escritório na China, feito que até então nenhuma
das outras empresas sul coreanas havia realizado. Não satisfeitos com suas áreas de atuação, o
grupo entrou no mercado de telecomunicações em 1994 com a aquisição da única estatal
detentora dos serviços de telecomunicações no país, que fora extremante disputada entre
vários chaebols. Chang (2003) especula que sua vitória nessa competição foi possível graças
49
4.2.4 LG
Fundado por In Hwoi Koo em 1947, o grupo LG, conhecido atualmente como LG
Electronics, iniciou suas operações no setor químico, se tornando o primeiro do país a
desenvolver cosméticos. Na época, a companhia era chamada de Gold Star e ficou conhecida
por sua grande capacidade de inovação e forte expansão para o setor de eletrônicos
(HIGARA, 2010).
Entre o fim da década de 50 e durante os anos 60, o chaebol foi responsável por
produzir no país o primeiro telefone automático, rádio, refrigerador e TV. Em 1982,
estabeleceu seu primeiro centro de produção internacional nos EUA e seguiu na busca de uma
identidade global intensa, através de joint ventures e campanhas de sua marca, com a
mudança do nome do grupo para LG em 1995 (LG, 2020a).
Higara (2010) destaca que após a crise Asiática de 1997, o conglomerado realizou uma
grande reforma corporativa interna, que foi bem sucedida em devolver o chaebol ao seu eixo.
Diferente dos outros chaebols, a LG sempre teve uma boa cooperação entre os membros da
família fundadora o que facilitou sua administração e evitou disputas de herança e sucessão. O
autor ressalta também que a ligação com o governo era e segue sendo mínima o que lhes
tornou mais independentes e resilientes.
Os valores de harmonia e respeito são a base do conglomerado e constantemente
promovidos em suas estratégias de marketing. Por conta disso, o grupo ficou conhecido no
país como o chaebol ‘’ dócil’’ dentre as grandes famílias, principalmente por conta da
ausência de escândalos de corrupção ligados a eles (HIGARA. 2010).
Atualmente, o conglomerado é gerido pela holding estabelecida em 2003, a LG
Corporation. A mesma foi fundada na ambição do grupo de intensificar sua expansão global e
distribuir recursos às suas subsidiárias de maneira mais eficiente. Mundialmente, o grupo
possui cerca de 142 subsidiárias espalhadas em todos os continentes responsáveis pela
produção, design, marketing e serviços. Dos seus 74 mil funcionários, 46% fazem parte das
suas afiliadas globais (LG, 2020a).
Apesar de estar presente em diversos setores, os negócios principais do chaebol
atualmente são os setores eletrônicos e de produtos químicos que deram fama à companhia
desde sua origem. No entanto, apesar da sua linha premium de eletrodomésticos ter
impulsionado as vendas do conglomerado em 2019 para 53 bilhões de dólares (o maior
número em 3 anos) analistas alertam para a perda de mercado que o grupo tem sofrido nos
últimos anos (LG, 2020b).
51
4.2.5 Lotte
(Fonte: Adaptado de Albert (2018) e Ministério das Pequenas e Médias Empresas, 2020)
fraudulenta. Esses interesses são divididos pela agência em diferentes categorias, que vão
desde transações com termos e condições consideravelmente favoráveis, à transações em uma
escala consideravelmente grande sem comparação razoável. Como resposta à essas infrações
a KFTC pode estabelecer a descontinuação imediata dessas práticas e exigir prevenção de sua
recorrência, além de impor multas de até 5% no volume de vendas da empresa infratora e
denunciá-la ao Ministério Público do país.
A agência tem tomado como princípio medidas focadas no monitoramento e controle
dos chaebols - assim como o atual presidente Moon Jae In-, através de políticas
administrativas e estruturais que alimentem a competitividade no país e desmantelem o
grande controle exercido por eles no mercado (NAM, 2019; FTC, 2020).
Não se é possível dizer com precisão se o ressentimento do público em geral ou as
medidas tomadas no governo atual influenciaram no rumo tomado dentro desses
conglomerados nos últimos quatro anos. Contudo, uma pesquisa realizada recentemente
dentro das empresas que compõe os chaebols mostrou que o número de CEOs que não fazem
parte das famílias fundadoras tem aumentado cada vez mais. Das principais empresas
analisadas em 2019, 29.1% tinham executivos contratados externamente, enquanto 52.5% das
empresas tinham elegido seus CEOs por meio de promoções internas e somente 18.4% tinham
membros da família fundadora como CEOs (SONG, 2020).
Seria precipitado dizer que esses números significam o fim dos legados familiares no
sistema empresarial do país, apesar do atual presidente da Samsung ter anunciado no início
desse ano que não pretende passar a empresa para os seus filhos (PARK, 2020). Pode-se
levantar que essas ações revelam as novas estratégias dos chaebols em lidar com os
obstáculos que tem surgido ao longo dos anos devido as reformas governamentais, dentre elas
o aumento da taxa de imposto sobre heranças que pode chegar a 65%, uma das maiores dos
países pertencentes à OCDE. Virou costume os conglomerados contratarem os melhores para
suas equipes legais, já que a fiscalização tem aumentado e os processos multiplicado, então
muitos analistas veem esses movimentos mais como uma forma de se esquivar do que um
efetivo avanço da reestruturação dos chaebols (YOU, 2020).
56
O leste asiático tem por muitos anos sido utilizado como exemplo de sucesso
econômico, principalmente pelas suas performances sólidas apesar das crises que afetaram a
região. A Coreia do Sul, apesar de espelhar muitas similaridades dos casos dos seus vizinhos
Taiwan e Japão, possui características que a separam deles, que é o caso dos chaebols. Em
nenhum outro país, a presença de conglomerados familiares é tão relevante e expressiva
quanto na região.
Os modelos econômicos no país são divididos em dois momentos chave. O primeiro
que se deu principalmente entre a década de 45 a 80 com base nas ações estatais e o segundo
após as reformas neoliberais voltadas para o mercado no fim dos anos 80 em diante.
A teoria econômica utilizada para explicar o processo do desenvolvimento do país tem
sido pautada principalmente na teoria do Estado Desenvolvimentista, com grande parte dos
autores concordando que o papel do Estado foi de fato muito importante para o país. Por isso,
na primeira sessão será apresentada uma discussão acerca do que seria essa teoria com base
em Gilpin (2001). Também será explicado como o modelo desenvolvimentista possibilitou o
avanço da economia sul coreana e o papel dos chaebols nesse contexto.
Notou-se durante o levantamento bibliográfico para essa análise que a ótica ocidental
das teorias econômicas internacionais e seus debatedores não explicam em sua totalidade as
singularidades presentes no contexto sul coreano, que está permeado por valores e cultura
diferenciados. Por isso, na última seção será discutida as lacunas da teoria do Estado
Desenvolvimentista no que diz respeito ao funcionamento dos chaebols e sua cultura
organizacional que é o fato chave responsável pelo sucesso deles.
Os economistas defensores dessa teoria acreditam que somente com a ajuda de outros
países já industrializados e a presença de um Estado forte, os países subdesenvolvidos teriam
chance de desenvolver suas indústrias. A estratégia principal adotada era substituição das
importações e um forte protecionismo. No entanto, durante a década de 1970 economistas
neoclássicos argumentavam que o ciclo de pobreza dos países subdesenvolvidos eram gerados
por eles mesmos, e que tudo seria resolvido se os governos deixassem de interferir na
economia e abrissem os seus mercados ao mundo (GILPIN, 2001).
A teoria do Estado Desenvolvimentista surgiu no fim da década de 1980 e desafiou as
teorias neoliberais que buscavam explicar a rápida industrialização que aconteceu nos países
do Leste Asiático. Para os defensores do Estado Desenvolvimentista, essa industrialização só
foi possível graças a liderança do Estado nas políticas implementadas, voltadas
principalmente para as indústrias (GILPIN, 2001).
Por outro lado, os neoliberais defendiam que as estratégias adotadas tinham tomado o
mercado como foco, adotando principalmente estratégias incentivadas no Consenso de
Washington, como a abertura dos mercados e crescimento baseado em exportações. No caso
da Coreia do Sul esse argumento se prova inválido, pois apesar da abertura do mercado ter
ocorrido e o país ter passado a incentivar as exportações, o Estado ainda tinha controle sobre o
que ocorria e continuou a privilegiar as indústrias nacionais, oferecendo subsídios e
protegendo os seus interesses. Em diversos momentos, o governo sul coreano recusou
investimentos estrangeiros a fim de impossibilitar futuras interferências externas.
É baseado nesse contexto que os teóricos do Estado Desenvolvimentista divergem dos
neoliberais, apesar de concordarem que o crescimento baseado em exportações foi essencial
para o desenvolvimento dos países do leste asiático. Eles contestam que é necessário analisar
porquê determinados produtos eram exportados. No centro disso, estava a ação do Estado que
promovia esses setores através da seleção de empresas que ficariam responsáveis por setores
estratégicos e assim contribuiriam para um acelerado avanço industrial do país.
Conforme apresentado por Gilpin (2001) e defendido por Amsden (1989), os governos
do leste asiático, em específico a Coreia do Sul, angariaram investimentos à indústrias
estratégicas para o país por meio de empresas privadas. Com isso, essas indústrias que eram
essenciais para o desenvolvimento nacional foram solidificadas para que tivessem capacidade
de competir nos mercados internacionais de forma eficiente.
Esses Estados atuaram para usar as empresas ao seu favor e adaptar suas ações ao
interesse nacional, por meio de incentivos financeiros e um rígido controle que exigia
resultados consideráveis no que dizia respeito as exportações de cada setor. Para os
58
defensores dessa teoria, isso não teria ocorrido de forma natural caso o desenvolvimento se
desse por meio dos mercados, já que as empresas privadas teriam perseguido interesses
próprios.
O sucesso do leste asiático foi possível principalmente por conta de fatores domésticos
singulares, como a grande autonomia do Estado e capacidade de implementar políticas e
reformas sem interferência. No caso da Coreia do Sul, isso foi possível principalmente por
conta de um Estado autoritário, que repudiava fortemente qualquer tipo de contestação às suas
ações. Para os teóricos, os valores da sociedade coreana também contribuíram para o
resultado final, pois validavam a existência dos chaebols e a busca por um ganho coletivo
nacional (AMSDEN, 1989).
Gilpin (2001) acrescenta ainda que esses valores, embasados principalmente no
Confucionismo, garantiu a submissão da sociedade sul coreana aos líderes dos regimes.
Contudo, as manifestações ocorridas durante esse período contestam essa generalização.
Apesar da população ter como interesse coletivo o avanço econômico depois de anos de
atraso e subjugação à outros países, a violação da sua liberdade e crescimento desigual deram
sim vazão a contestações com o passar dos anos, que cresceram de forma exponencial à
medida que o país se fortaleceu.
Além das questões domésticas, alguns fatores externos também contribuíram para a
industrialização desses países. No contexto sul coreano, o principal foi sua ligação com os
EUA que prestaram ajuda financeira e possibilitaram as reformas iniciais no país. A proteção
estadunidense também contribuiu para a segurança nacional o que lhe permitiu focar no
avanço da economia, e diminuir seus gastos militares. No entanto, é importante lembrar que
essas regalias exigiam concessões e quando julgado necessário o governo sul coreano rebateu
exigências de Washington referente a abertura do seu mercado a países estrangeiros,
principalmente no governo de Park.
Bresser-Pereira (2020) aponta que todas essas políticas econômicas são comumente
discutidas no modelo desenvolvimentista, mas o que diferenciou o caso da Coreia do Sul –
assim como o da China- foi o uso de políticas macroeconômicas, que ele atribui o nome de
Novo Desenvolvimentismo. No contexto sul coreano, além das políticas monetárias, as
políticas fiscais e cambiais foram monitoradas a fim de manter as taxas de lucro, juros,
câmbio e inflação sob controle. Isso permitiu que os grupos empresariais competissem com
empresas estrangeiras apesar das suas desvantagens estruturais (BRESSER-PEREIRA, 2020).
Pirie (2016) defende que o modelo do Estado Desenvolvimentista deixou de existir no
país após metade da década de 1980. Ele embasa essa afirmação ao apontar que o Estado
59
Desenvolvimentista possui três características principais que depois desse período não
estavam mais presentes. Essas características seriam o foco na maximização das taxas de
investimento (acumulação de capital) e na minimização do consumo; extrema cautela com os
Investimentos Estrangeiros Diretos (IDE) e o papel central do Estado na alocação de capital.
De fato, durante a década de 80 até a crise Asiática de 1997 os chaebols haviam
superado o papel do Estado significativamente, tomando rumos opostos ao que era esperado
pelos governantes. Ainda, a liberalização do sistema financeiro e incapacidade de
regulamentação dos empréstimos estrangeiros feitos aos chaebols tornou o contexto
financeiro no país extremamente frágil. As diversas reformas neoliberais que ocorreram
durante esse período e que seguiram após a Crise Asiática também tiraram do Estado o papel
central, dando espaço a uma atuação de regulador.
Sobre as taxas de investimento, o autor aponta que o investimento como proporção do
PIB aumentou de 8% em 1956 para 39,1% em 1991 devido a intensa promoção estatal. No
entanto, entre 1998 à 2013 a média dessa taxa caiu para aproximadamente 30%. Pirie (2016)
destaca que os altos níveis de investimento na economia doméstica até a década de 90 deu-se
graças ao incentivo Estatal, porém custou a população acesso ao crédito que era
disponibilizado principalmente aos grandes conglomerados. Essa conjuntura posteriormente
resultou em grandes problemas de seguridade social (CHUNG, 2007; PIRIE, 2016).
Mesmo assim, Pirie (2016) aponta que apesar das mudanças nas políticas econômicas,
o passado de Estado Desenvolvimentista não pode ser ignorado. Pois além explicar o contexto
atual do cenário econômico no país, ele pode ser usado também como forma de compreender
os desafios contemporâneos da Coreia do Sul.
Gilpin (2001) evidencia que o modelo desenvolvimentista na Coreia do Sul alcançou
sucesso graças a sinergia entre o governo, bancos locais e a indústria, que facilitaram a
alocação de capital nos setores essenciais e possibilitaram uma coordenação voltada para o
desenvolvimento nacional. Guimarães (2010) complementa que o controle financeiro, aliado a
uma alta capacidade de monitoramento, garantiu que o governo pressionasse por resultados e
produtividade dos conglomerados.
Segundo Guimarães (2010), as condições para o modelo desenvolvimentista já
estavam estabelecidas graças a colonização japonesa no país. Os japoneses ao tomarem posse
da região deram fim ao antigo Estado patrimonialista e submisso aos grupos locais. A partir
daí, criaram uma estrutura burocrática e um Estado com alta capacidade tributária, que
permitiria no pós-guerra a coordenação do capital de acordo com seus interesses.
60
Guimarães (2010) acrescenta que o golpe militar nos anos 60 também agregou para a
aplicação do modelo desenvolvimentista graças as reformas instituídas por Park e a criação da
agência EPB que detinha autonomia sobre todos os assuntos econômicos do país. Foi durante
esse período também, que iniciou-se um forte incentivo à criação de conglomerados
empresariais que liderariam o catch up industrial do país, para alcançar o desenvolvimento
industrial já presente em outros países.
Lee et. al (2002) destaca que a intervenção estatal presente dentre os anos 60 a 80,
estava associada principalmente a política industrial, devido a intensa promoção
governamental das indústrias por meio dos chaebols. Lee (1992) compara o relacionamento
estabelecido entre o governo e conglomerados com os de uma organização com estrutura
hierárquica. Dando nome ao seu conceito, ele denomina esses laços entre ambos como uma
quasi-internal organization, onde o governo delega diferentes tarefas equivalente às diretivas
internas de uma sede corporativa às suas subunidades em um sistema multi-divisional.
Nesse contexto, Lee et al. (2002) argumenta que essa estrutura possibilitou ao governo
implementar com eficiência suas políticas de desenvolvimento, ao mesmo tempo que
contribuiu para os objetivos dos grupos empresariais que tiveram maior acesso a recursos
estratégicos. O autor acrescenta que a intervenção do governo no sistema financeiro na época
simulou um mercado interno de capitais e permitiu uma alocação de crédito estratégica que
não teria sido possível em um mercado livre.
Os autores defendem que o caso sul coreano funcionou especialmente bem com a
implementação interna ao invés de pelos mercados. Isso porque o contato direto entre o
governo e os conglomerados possibilitou uma troca de informações eficaz e menos custosa, já
que os custos de transações oferecidos pelo governo eram mais vantajosos aos grupos. Ao
mesmo tempo, o governo detinha controle dos incentivos oferecidos e os usava como
barganha junto aos chaebols, tendo como retorno avanço da economia nacional.
Esse poder de controle seria justamente o que tornou possível o rápido avanço
econômico do país, já que os chaebols estavam subordinados aos desejos do Estado. Lee et
al. (2002) argumenta que sem a presença de um Estado forte a estrutura quasi-internal não
apresenta grandes chances de obter resultados, o que seria um dos motivos que levaram a
crise de 1997. Desde a liberalização financeira no país durante a década de 80, os
conglomerados tinham se tornados mais independentes e passaram a buscar interesses
próprios, deixando de lado o interesse nacional.
Conforme crítica dos próprios autores, esse cenário é um dos perigos na estrutura
quasi-internal, já que em determinado momento a relação pode se tornar assimétrica, com um
61
dos lados tendo mais poder sob o outro. No caso sul coreano, esse resultado era de certa
forma previsível, já que para alcançar um acelerado desenvolvimento econômico o governo
alocou infinitos recursos aos chaebols. Estes por sua vez se tornaram mais sólidos e passaram
a não precisar mais do auxílio estatal para investimentos financeiros de bancos controlados
pelo governo, chegando a assumir a liderança de instituições financeiras.
O governo se tornou incapaz de mudar as políticas financeiras do país devido à grande
quantidade de empréstimos (principalmente estrangeiros) dos conglomerados. Como eles
acabaram se tornando os principais responsáveis pela produção de receita no país, qualquer
tipo de alteração nas taxas e impostos aplicados poderiam colocar em risco a economia
nacional (LEE et al., 2002).
De certa forma, o governo acabou por criar seu próprio calcanhar de Aquiles, pois
precisavam detê-los mas ao mesmo tempo não podiam lhe causar perdas. Por isso, Lee et al.
(2002) argumenta que devido ao legado dos grupos familiares no país, não é aconselhável
uma economia sem nenhuma interferência do Estado, já que os players mais importantes
perseguiriam interesses próprios.
Para Bresser-Pereira (2020), o sucesso sul coreano durante o século XX está atribuído
principalmente a uma estratégia de catching-up estrutural a longo prazo. Essa estratégia
envolveu uma alta concentração de capital; centralização de grandes conglomerados; ações
governamentais voltadas para o desenvolvimento de infraestruturas; estabilização dos preços
por meio de políticas macroeconômicas; uso do sistema financeiro para alocação de recursos
em setores estratégicos, políticas industriais efetivas por meios dos planos econômicos;
unificação cambial e a capacidade estatal de centralizar suas ações, como foi o caso da
agência EPB.
Não há dúvidas de que as políticas voltadas para exportação renderam resultados
positivos. O avanço das indústrias de tecnologia e químicos aliados a intensa entrada nos
mercados estrangeiros por parte dos chaebols concederam ao país o posto de um ator global
relevante e capaz de competir com países industrializados décadas a sua frente. No gráfico
abaixo, é possível observar o crescimento percentual das exportações no PIB sul coreano
desde a década de 1960 a 2000.
Gráfico 3 – (%) de Exportações no PIB sul coreano (1960-2000)
62
todos os países. Já na faixa etária entre 55 a 66 anos esse número chega a 43.8% (OCDE,
2020a; KIM, 20).
Em 2019, a disparidade no salário entre homens e mulheres no país também foi a
maior dentro da organização, alcançando 32% enquanto a média geral é de aproximadamente
11% (OCDE, 2020b; KIM, 20). A disparidade nos salários entre trabalhadores de empresas
comuns e conglomerados também tem aumentado desde o início dos anos 2000. Segundo
dados da Statistics Korea (2018) o salário das empresas pequenas e médias chega a apenas
60% da média dos conglomerados.
Esse contexto reflete as fragilidades do modelo econômico sul coreano que vão além
dos números apresentados no que diz respeito as exportações e investimentos do país. A
exigência por uma solução ou mitigação dos problemas sociais gerados apesar da evolução
que o país alcançou em poucas décadas tem permeado o debate público e político na Coreia
do Sul nos últimos anos e motivaram diversos movimentos, como o próprio impeachment da
presidente Park Geun Hye em 2013. Logo, faz-se urgente uma reconfiguração no seu sistema
econômico.
suas singularidades racionalistas. Nesse contexto, Yoon (2018) introduz uma versão regional
à essa análise, onde países como Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Hong Kong tiveram os
valores confucionistas como a família, relações hierárquicas e a harmonia coletiva liderando
um tipo de sistema de governança diferenciado, responsáveis pelas suas ascensões e claro
também por suas crises.
Na Coreia do Sul, os chaebols continuamente são culpados pelo declínio que levou a
Crise Asiática de 1997, no entanto como discutido na literatura suas ações espelham também
o lado obscuro dos valores em que estão apoiados e levaram ao desenvolvimento de uma
cultura organizacional hierárquica e competitiva.
Cho (2001) define a cultura organizacional como os valores, comportamentos e
normas divididos por membros de uma corporação no nível organizacional. Para o autor, a
cultura organizacional da Coreia do Sul pode ser caracterizada como um "coletivismo
dinâmico" onde combinou-se coletivismo com progressismo apoiado em uma mentalidade
positiva à mudanças. No entanto, Cho (2001) aponta que apesar da cultura organizacional dos
chaebols ter se estabelecido com base no coletivismo tradicional já conhecidos do Leste
Asiático, ela se diferencia por aplicar-se somente aos membros de dentro dos grupos,
acentuando assim uma competição com os grupos externos.
Baseando-se nos estudos sobre os chaebols de autores como Chang et al. (1994) e
Shin (1992), Cho e Yoon (2001) atribuíram a origem da cultura organizacional sul coreana à
três fatores: um legado cultural inspirado principalmente nos valores confucionistas já
apresentados; o clima social do país, principalmente durante o regime de Park; e a liderança
corporativa paternalista aplicada pelos fundadores dos chaebols.
Durante o regime de Park, o símbolo da família foi usado como uma forma de criar
relações entre o presidente e a população, assim como entre os empregados e seus superiores
no trabalho. Com isso, Park buscava usar o dever filial para motivar os funcionários a confiar
em seus superiores e devotar suas vidas à empresa. A população foi incentivada a abrir mão
de seus interesses individuais em pro dos interesses nacionais, que lhes garantiriam
posteriormente um retorno positivo. A presença de uma harmonia entre os empregados e seus
superiores, assim como um ambiente familiar eram vistas por Park como essenciais para a
produtividade do país (YOON, 2018).
Essa dinâmica perdurou por muito tempo no contexto do país, e mudou ao longo dos
anos a medida que os trabalhadores começaram a exigir direitos trabalhistas e reformas
estruturais ocorreram no funcionamento das empresas devido à Crise Asiática. Cho (2013)
analisa em uma pesquisa feita com funcionários de grandes conglomerados entre 1997 a 2006
65
que é possível observar mudanças na cultura organizacional das quatro principais chaebols.
Um declínio geral do coletivismo e progressismo foi observado em todos, apesar da taxa
maior estar presente na LG e menor na Samsung.
Cho e Yoon (2001) acrescentam que o profundo envolvimento dos chaebols na
economia sul coreana influenciam não só a cultura organizacional como a estratégias de
negócios no país. A figura das famílias e seu poder representam não apenas um símbolo mas
também um instrumento. Os autores discutem ainda que fundadores dos principais
conglomerados como a Samsung e Hyundai tem um foco voltado completamente para o
crescimento independente dos riscos, o que fez com que em muitos momentos as decisões
tomadas pelos grupos ignorassem a racionalidade.
Quando observado a origem dos conglomerados assim como as suas características
estruturais discutidas no capítulo anterior, torna-se questionável a total compreensão e
possibilidade de replicação do seu modelo em outros países sem uma análise que se estenda
além do papel do Estado. Conforme discutido por Lee (2013), é necessário entender as
capacidades desses conglomerados locais e estratégias que levaram ao seu sucesso, como o
forte investimento em Pesquisa e Desenvolvimento e uma extensa rede de distribuição
internacional que garantiu que seus nomes se tornassem uma marca própria reconhecida.
Logo, não é apropriado nem aconselhável que o modelo do país seja analisado por apenas
uma ótica teórica, de modo superficial.
66
6 CONCLUSÃO
FMI, a Coreia do Sul passou por uma ruptura na sua estrutura que moldaria ao observado
atualmente na economia do país.
Reformas na instituições foram feitas, o Estado passou a agir como um mediador e não
mais como o poder supremo ao mesmo tempo que os chaebols enfraquecidos devido ao seu
alto endividamento e insatisfação popular, também já não tinham como agir sem a ajuda
governamental. O movimento da abertura de mercados que já acontecia mundialmente
permitiu que a Coreia do Sul logo se recuperasse, graças ao intenso projeto da promoção de
exportações que já existia.
Atualmente, há uma grande dependência econômica nas atividades dos
conglomerados. A economia nacional está intrinsicamente ligada aos resultados das principais
chaebols no país, o que causa preocupação a eventualidade de prejuízos sofridos por eles. Os
principais conglomerados respondem por cerca da metade das exportações e representam a
maior parte dos ativos financeiros. Contudo, a parcela de geração de empregos é pequena,
apesar de ocuparem a maior parte dos mercados.
Para entender o funcionamento político-econômico do país, é imprescindível estudar a
estrutura desses grupos. O avanço econômico do país, principalmente durante o século XX, é
sempre discutido como exemplo de sucesso. O avanço das economias do leste asiático levou a
um intenso debate das teorias desenvolvimentistas e o papel do Estado para o
desenvolvimento econômico desses países.
A teoria do Estado Desenvolvimentista discute a importância do Estado para
desenvolvimento dos países e o papel do governo sul coreano na formação dos chaebols para
uma rápida industrialização na região. No entanto, apesar de citar a relevância dos
conglomerados no caso sul coreano, a teoria deixa lacunas, principalmente no que diz respeito
a particularidade do seu funcionamento, que é um fator que explica como elas puderam
alcançar o seu sucesso e garantir o seu poder no país.
A cultura organizacional dos conglomerados permitiu a coordenação e condução dos
negócios seguindo os interesses familiares dos seus fundadores. Essa cultura está associada
principalmente aos valores da sociedade coreana e por isso são únicas. Apesar de outros
países terem multinacionais ou empresas específicas que os representem, as situações são
completamente opostas. Mesmo que o modelo sul coreano fosse aplicado em outras regiões,
não se pode afirmar que o resultado seria o mesmo, devido as particularidades, tanto
históricas quanto culturais, que possibilitaram os resultados na Coreia do Sul.
Frente esse contexto, traz-se a necessidade de um olhar mais profundo no caso sul
coreano e a complementação da análise de outros fatores que não somente aqueles discutidos
68
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