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Arlete Salante
Antonio Meneghetthi Faculdade (AMF)
arletesalante@gmail.com
Ana Petry
Antonio Meneghetthi Faculdade (AMF)
anapetry@profilo.com.br
RESUMO
A produção de estudos sobre gerações no Brasil acontece de forma mais recente. A pesquisa
bibliográfica deste artigo aborda a caracterização das gerações com a história do Brasil nos
seus aspectos sociais, políticos e econômicos, e estes, em relação à situação mundial no
período estudado. Contextualiza-se os coortes das gerações de Tradicionalistas, Baby
boomers, X, Y e Z definidos pelas ciências humanas e sociais com as gerações brasileiras,
uma vez que todas elas se encontram no mercado de trabalho nos nossos dias. Conclui-se com
as principais características de cada geração.
ABSTRACT
The scientific research on generations in Brazil happens to most recent form. The literature of
this article discusses the characterization of generations with the history of Brazil in their
social, political and economic aspects, and these, in relation to the world situation during the
study period. Contextualizes the cohorts of generations of Traditionalists, Baby Boomers, X,
Y and Z defined by the humanities and social sciences with Brazilian generations, since all of
them are in the job market today. It concludes with the main characteristics of each
generation.
1
Parte do Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao curso MBA Business Intuition como
requisito parcial para obtenção do título de pós-graduação.
1
1 INTRODUÇÃO
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 AS GERAÇÕES
O conceito de gerações está relacionado com as mudanças sociais e suas
transformações. É um dos temas de estudos e pesquisas nas ciências humanas e sociais que,
através da história, tem a oportunidade de refletir sobre a humanidade. Uma geração refere-se
a pessoas nascidas em um determinado período cronológico que vivenciam os mesmos
acontecimentos e processam experiências semelhantes (CORDEIRO, 2012). Também o nome
das gerações é atribuído fazendo menção a fatos: os Tradicionalistas representam valores da
época como austeridade, autoridade e lealdade (OLIVEIRA, 2010); os baby boomers são
chamados os bebês nascidos após a Segunda Guerra Mundial; geração X refere-se ao contexto
americano de Malcon X; geração Y faz alusão a escolha de muitos nomes de bebês russos
com a primeira letra Y; na sequencia, inclusive alfabética, vem a geração Z. Z por “zapear”,
gíria usada pela troca constante de canal da televisão com o controle remoto. Esta geração
também é chamada de “nativos digitais” por ter nascido no momento da criação de muitos
aparelhos tecnológicos.
Cada geração possui uma identidade geracional que se evidencia em comportamentos
e atitudes, do mesmo modo em que cada geração mantém conexão com as anteriores e as
2
“Conjunto de indivíduos que estão experimentando um acontecimento similar no transcurso de um mesmo
período de tempo” (Disponível em: www.ibge.gov.br; Acesso em: 23jun2013).
2
seguintes (WELLER, 2010). Compreende-se que há um elo entre as gerações e, deste modo,
se entrelaçam os modelos comportamentais e observa-se que o modo da educação familiar
também influencia muito. Embora não seja o foco deste artigo compreende-se a relevância.
Observou-se que não há consenso entre os anos limítrofes das gerações citadas em
diferentes referências bibliográficas. Corroborando com essa afirmação, Parry e Urwin (2010,
p. 68 apud CORDEIRO, 2012) escreve que “nem mesmo os estudos internacionais
apresentam convergência de início e término de cada geração.” Para tanto, este estudo
delimita as gerações com coortes aproximativos encontrados nas bibliografias já supracitadas,
conforme descrito no Quadro 1
Por este quadro é possível visualizar anos, os tempos de cada coorte e idades. Olhando
as idades dos tradicionalistas aos jovens da Geração Z, é claro perceber que o mundo hoje em
2014, contém pessoas de todas as faixas etárias mencionadas. A expectativa de vida cresceu
entre os humanos, assim, todas as gerações estão no mercado de trabalho, apenas não na
mesma proporção.
ditadura com nome de Estado Novo que faz poucas conquistas nacionalistas, mas suficientes
para contrariar interesses norte-americanos. Com isso Getúlio em 1945 é deposto pelos
mesmos militares que comandaram a repressão durante a ditadura (ARNS, 1985).
Os jovens Tradicionalistas não tinham muitos direitos trabalhistas assegurados. A
CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas, sancionada pelo então presidente Getulio Vargas
em 1º de maio de 1943, unificou e assegurou o que existia no Brasil até aquele momento.
O Brasil, um país novo, estava ainda recebendo imigrantes, especialmente no Sul e no
Sudeste. Os imigrantes contribuíram fortemente para a miscigenação cultural e formação de
muitos municípios. São reconhecidas pelo desenvolvimento de muitas microrregiões de
estados brasileiros.
Por outro lado, a relação com a natureza era intensa e regeneradora, dela eram
extraídos os alimentos, as brincadeiras e o desenvolvimento da própria força física. No Brasil
rural a academia era na roça, no cabo da enxada, tocando uma junta de bois no arado, no uso
da foice, machado e serrote. Ou seja, os instrumentos de trabalho que davam acesso a fazer
tudo que era necessária para sobrevivência ou desempenho do trabalho como abrir mato,
cortar árvore, serrar em tábuas, inclusive para fazer as próprias casas, plantar e colher para
próprio sustento e dos animais de criação que ajudavam como força extra e de locomoção. No
Brasil rural as comunidades se formavam com imigrantes colonizadores de todas diversas
partes da Europa.
No Brasil urbano, sem muitos recursos de transporte, o físico ganhava musculatura
nos deslocamentos de bicicleta ou nas longas caminhadas o até o local de trabalho.
Os jovens da geração chamada Tradicionalista hoje estão com idades de 69 e 94 anos.
Estão ativos os que incorporaram as mudanças na vida cotidiana. Alguns optaram por
permanecer trabalhando, vencendo os limites físicos da idade.
3
Metafísico: é um ramo da filosofia que estuda a essência do mundo e do homem.
5
partir de uma realização existencial, que transcende a existência física. Diferente do lugar
subjetivo ocupado pelo sujeito no “pensamento fraco”, quando ele executa papéis aos quais
foi condicionado pela mídia de massa.
Para DEFLEUR et al. (1993), o conceito de sociedade de massa teve origem com as
tendências apresentadas pela própria sociedade no fim do século XIX. A sociedade mudava a
imagem de um sistema tradicional e estável com pessoas ligadas umas às outras para uma
representação de maior complexidade e indivíduos isolados. O mundo ocidental passava por
um aumento de heterogeneidade e individualidade, inclusive com crescente alienação do
indivíduo com sólida identificação com a comunidade como um todo. As relações tornaram-
se segmentárias e contratuais, o isolamento psicológico do ser humano agravou-se.
Neste contexto, junto com a Comunicação de Massa surgiu a Indústria Cultural que é
parte dos reflexos pós-Revolução Industrial e do próprio estilo da modernidade.
A representação da palavra “massa” remete a um bolo de massa onde não há um grupo
social entrelaçado e com certo conformismo. Na sociedade de massa os indivíduos estão em
situação de isolamento psicológico uns dos outros, predomina a impessoalidade em suas
interações com outros indivíduos e de alguma forma estão isentos de obrigações sociais
informais. Há um empobrecimento das relações, bem como uma despersonalização, aspectos
que o pensador espanhol José Ortega y Gasset denomina de “homem-massa”.
Pode-se dizer que neste período – décadas de 60 e 70 – mundialmente impôs-se um
modelo de ser jovem que rapidamente se estereotipou4 e ainda perdura porque ganhou força
com as mídias de massa. O movimento hippie defendia um modelo de vida alternativo que
pregava paz e amor, buscando experiências com psicotrópicos, alucinógenos e maconha para
transcender seus limites físicos e viver uma espiritualidade transcendental (GROF & GROF,
1980), que em última análise, é autista5. Os chamados “bichos grilo” escolheram ficar a
margem da sociedade, se alienando dela e ao mesmo tempo acreditando fazer alguma
revolução. Conforme Meneghetti (2013), a revolução externa é o jogo do sistema pesado, já a
revolução interior desperta a si mesmo porque o importante é ser verdadeiro para si mesmo.
Percebe-se que as gerações não são homogêneas, ou seja, os comportamentos e
atitudes diferem conforme os grupos, ideias, enfim, as pessoas se atraem também pelas
semelhanças psicológicas ou complexuais. Do mesmo modo, o fator educação familiar e as
vivencias em cada núcleo familiar influenciam e até determinam o modo de processar os
fatos, pensar, entender o mundo, agir ou interagir.
Assim, ocorreu num mesmo período parte da geração deflagrar a rebeldia e outra
parte direcionar seu ímpeto rebelde para desafiar o status quo e elevar o nível profissional no
âmbito do trabalho, inclusive empenhando-se no desenvolvimento tecnológico. No filme
Piratas do Vale do Silício (1999) o personagem de Steve Jobs em meio a um protesto dos
estudantes da Universidade de Berkeley contra a guerra do Vietnã diz: “aqueles caras pensam
que são revolucionárias, não são, nós é que somos” quando fala ao seus colaboradores diz:
“estamos reescrevendo a história do pensamento humano”. Assim, na realidade prática da
4
Referente a estereótipo: um modelo de comportamento geral que se faz referência de outros semelhantes e que
se torna valor de apoio para individuar segurança e razão dialética com a sociedade – Dicionário de
Ontopsicologia, 2012.
5
Em artigo - Colpa evica e deliquio narcótico – Meneghetti (2000) escreve sobre o comportamento autista
causado pela droga. Tradução nossa.
6
vida este e muitos outros Baby Boomers marcaram sua época no contexto americano.
Enquanto isso, no Brasil 38.987.526 brasileiros viviam no meio rural e a população
urbana era de 32.004.814 brasileiros, conforme censo do IBGE de 1960. O Brasil continuava
mais rural que urbano, logo teve uma formação cultural própria, com muitas desigualdades
sociais e poucas pessoas em condições econômicas de estudo e aprimoramento. Neste período
começa em algumas regiões uma correção adequada do solo visando maior produtividade6 .
A mecanização da agricultura brasileira começa após a Segunda Guerra Mundial e foi um
processo repleto de problemas. O maquinário importado, além de caro, não era adequado às
condições das propriedades rurais brasileiras, não havia a disposição peças sobressalentes
para reposição e a espera podia demorava meses.
No Brasil o intervalo 1946-1964 é vivido como uma etapa de desenvolvimento
econômico e mudanças sociais que provocam modificações profundas na sociedade em dois
sentidos opostos: nacionalista e democrático e, autoritarismo militar de viés fascista (ARNS,
1985). O alinhamento ideológico entre militares brasileiros e norte-americanos é um reflexo
da direita do presidente Marechal Dutra, um governo pró-Estados Unidos (ARNS, 1985).
Os tais “Anos Dourados” no Brasil fizeram a invasão dos eletrodomésticos nas casas
de classe média fazendo o retrato da American Way of Life no Terceiro Mundo. Embora o
estilo americano de viver não passasse pela restrição econômica que o Brasil vivia. No âmbito
econômico...
“A geração que chegou à vida adulta no final dos anos setenta tinha
razões para estar amargurada com uma longa ditadura militar, em um
Brasil cruelmente desigual. Desconfiavam, crescentemente, que pela
via do esforço individual pudessem melhorar de vida. A perspectiva
de transformação do Brasil e de seus destinos pela organização
coletiva foi ganhando credibilidade. Greves defensivas contra a
superinflação se legitimaram diante da maioria do povo como justas.
Foi uma experiência geracional de classe que levou o Brasil a bater,
nos anos oitenta, todos os recordes mundiais de números de horas de
greve” (ARCARY, 2010, p.153-154).
6
operação tatu no Rio Grande do Sul - informação disponível em http://agribrasil.blogspot.com.br
7
Pacifista porque defendia uma nova sociedade em comunhão e harmonia com outros padrões.
7
2.2.3 GERAÇÃO X
Os “X” nascem entre 1964 a 1977, anos que trazem o reflexo das mudanças sociais
como divórcio e mulheres entrando em maior número no mundo de trabalho. Por isso,
flexibilizam o mercado promovendo equilíbrio entre sua vida pessoal e emprego
(LANCASTER & STILLMAN, 2011). A geração X surpreendeu as gerações anteriores que
não estavam preparadas ou abertas para serem questionadas e admitir suas próprias
frustrações apontadas por jovens novatos. Além disso, esta geração não estava disposta a
repetir os pais e pagar o alto preço do sucesso com incessantes horas de trabalho. Afinal, eles
cresceram ouvindo as queixas dos pais em relação aos seus sacrifícios e suas dificuldades no
trabalho.
No Brasil, o nascimento da geração X coincide com o início da ditadura militar de
1964. Porém, a ditadura vai além, perdura até 1985 e depois, começa um período de grande
instabilidade econômica e de inflação. Os X crescem sob-regime de ditadura que fazia coação
psicológica e social aos adultos da época, os Tradicionalistas e os Baby Bomers, ou seja, aos
8
Em Maio de 1968 a onda de protestos que começou com o movimento dos estudantes pedindo reforma
educacional, evoluíram para greve dos trabalhadores. Desencadeou a rebeldia, o desapego material e a crítica ao
sistema.
8
seus pais ou avós. Viram ou sentiram a liberdade vigiada. Também as informações eram
restritas, não havia liberdade de expressão nos jornais, livros e televisão. Esses jovens
cresceram sob o impacto de um país com renda concentrada, acesso à credito limitado,
restrito investimento social e um número grande de pobres. Viveram sua adolescência sob
constante ameaça do Brasil “quebrar”, termo usado na época e bem lembrado por quem
escreve esta reconstituição da história. Não havia uma orientação para o futuro do país,
embora o FMI – Fundo Monetário Internacional – interferisse constantemente na economia,
mas nada surtia efeito. Conforme Leitão (2011) entre 1986, ano do Plano Cruzado, do
primeiro governo pós-ditadura, até 1994, ano do Plano Real, o Brasil teve 11 ministros da
Fazenda.
“O sofrimento que provocou nas famílias, o empobrecimento dos mais
pobres, a desordem na contabilidade das empresas, a incapacidade
absoluta em fazer qualquer previsão e planejamento, tudo ficou
insuportável. A inflação inflacionou a vida brasileira. Ocupou todos os
espaços. Era o único assunto das editorias de economia, era a
manchete mais frequente nos jornais, era a obsessão do cidadão, a
derrota dos governantes” (LEITÃO, 2011, P. 20).
Esta era a realidade da maioria dos estados brasileiros. Ficaram fora do drama
econômico os estados que estavam sendo criados na época e recebiam grandes incentivos com
subsídios e aporte de dinheiro do governo para se desenvolver, como é o caso do Mato Grosso
e Tocantins. Quando os X estavam entrando no mercado de trabalho o País vivia momentos
dramáticos na economia. Após os muitos anos de inflação e hiperinflação a moeda não tinha
valor, não conseguia estabilizar, mas alguém, que não era o povo, ganhava com todo caos. “O
dinheiro jorrava através de inúmeros mecanismos sempre em direção aos mesmos
destinatários” (LEITÃO, 2011, p.92).
Resumidamente, o Brasil teve contas caóticas desde a proclamação da república,
quando acreditava que bastava emitir dinheiro e haveria riqueza. Atitudes violentas como
confisco do dinheiro em aplicações, poupança e até conta corrente que deixaram marcas
dolorosas (LEITÃO, 2011).
A geração X cresce acompanhando os problemas da nação e ainda ouvindo que “a
criança é o futuro da nação”9. De um modo ou de outro já lhe foi atribuída à responsabilidade
de cuidar do “gigante pela própria natureza”, ou seja, a herança de um País grandioso, mas
com problemas de gestão dos recursos públicos desde sua descoberta.
Em 1989 acontece a primeira eleição por voto direto após 21 anos de governo militar,
4 de governo civil, porém com voto indireto. Em 1992, os jovens X com idades entre 15 e 28
anos, com bom humor e disposição fazem a revanche contra a corrupção e ao tipo de política
praticada até o momento, saem para as ruas com rostos pintados com as cores da bandeira do
Brasil. Oportunidade de extravasar a indignação e a insatisfação com os anos de ditadura,
inflação alta, falta de saúde, educação, economia deteriorada, o que era assistido e vivendo
desde criança.
9
Slogan das décadas 70 e 80 muito usado pelos militares no poder.
9
2.2.4 GERAÇÃO Y
Os primeiros “Y” nascidos em 1978 estão com 16 anos em 1994, “ano do real”. Neste
período de estabilidade política e econômica brasileira a geração Y termina de nascer. Ou
seja, os primeiros Y viveram o processo brasileiro com desestabilização econômica enquanto
crianças e entraram no mercado de trabalho já com moeda estabilizada, a economia em
retomada e desenvolvimento “real” do País. Com Brasil que cresce e emprega, a geração Y
vem para ficar nas próximas décadas no mundo do trabalho e traz suas inovações. Conforme a
Folha de São Paulo (21nov2010), no Brasil esta geração já ocupa 20% dos cargos de gerência
e considerando o quadro geral de funcionários nas empresas, mais de 40% estão dentro desta
faixa etária.
A geração Y, nascida entre 1978 e 1994, conforme Lancaster e Stillmam (2011),
valoriza o legado dos pais, tende a reconhecê-los como pessoas inteligentes, recebem deles
amplo investimento. Também são bastante protegidos com tecnologias disponíveis e maior
conectividade que possibilita aos pais maior controle. A mudança de hábitos dos pais da
geração Y também ocorreu em função do aumento da violência e das distâncias entre casa,
escola e trabalho (OLIVEIRA, 2010).
Lancaster e Stillman (2011) coordenaram um projeto norte-americano chamado
Arquivo da Geração Y, que identificou as tendências que formam e acompanham a geração Y
no trabalho. O item significado do trabalho chama a atenção. No referido projeto estes jovens
manifestaram que o trabalho precisa significar alguma coisa, além de ter uma vida boa graças
a ele. Querem um ganho psicológico proveniente do trabalho, ambientes interessantes com
10
10
Grifo nosso.
11
si é desafio diário que requer empenho, contudo é o melhor caminho para resgate e reforço da
própria dignidade da pessoa humana. Por pessoa lê-se no latim per se esse = ser para si
(MENEGHETTI, 2012). Pode-se compreender então que a responsabilidade foca em fazer a
si mesmo, por consequência tem resposta social, econômica, de crescimento.
A oferta de emprego favorece a geração Y na tendência em trocar de emprego com
maior rapidez que as gerações anteriores. É sempre justo buscar o melhor para si, porem de
forma consequente. Nem sempre os desconfortos causados em uma empresa são negativos,
eles podem oportunizar desenvolvimento da resiliência e amadurecimento profissional e
pessoal
Além destas características citadas, observa-se através dos espaços profissionais, em
sala de aula e na vivência clínica a tendência que os Y têm à dispersão num emaranhado de
redes sociais e na influência por modelos midiáticos. O resultado evidencia-se por certa
superficialidade consigo mesmo, no querer as gratificações sem empenho ou mérito, na
hipervalorização do mundo afetivo, de relações e das aparências. Compreende-se que, embora
tragam a necessidade de ver sentido no que estão fazendo, muitas vezes o sentido é mais
externo, porque entram fácil no discurso ideológico do momento, em detrimento à identidade
própria. Aspecto que denota pouca capacidade reflexiva.
Outro aspecto perceptível clinicamente é o tipo de educação com muita gratificação e
proteção. “Quando um jovem é muito gratificado, fica debilitado de ser protagonista da ação
que gostaria. O jovem deve ganhar sozinho o próprio protagonismo; a grandeza, a
magnanimidade é tão bela e densa de dignidade que é preciso conquistá-la e ganhá-la sozinho,
com o próprio coração” (MENEGHETTI, 2013, p.137). Percebe-se que quando as crianças
são substituídas em tarefas como arrumar o quarto, cuidar dos brinquedos, fazer o dever da
escola, entre tantas outras que desenvolvem a criança, tornam-se jovens condicionado a
ganhar, a receber sem merecer. Tornam-se jovens adultos que não construíram a própria
autenticidade, logo não sabem fazer a si, conforme seu projeto existencial, apenas seguem os
memes da massa. Meneghetti observa: “é importante ser verdadeiro para si. Chegar a saber
ser, significa observar todas as regras externas sem nunca trair dentro o verdadeiro que se é,
aquele sentido verdadeiro que faz alma, vida, presença ou angústia (MENEGHETTI, 2013,
p.132).
Em pesquisa realizada com jovens da geração Y em nove empresas de quatro capitais
brasileiras: Porto Alegre, Brasília, São Paulo e Florianópolis, além de uma cidade do Noroeste
do Rio Grande do Sul, totalizando 102 pesquisados presencialmente, Salante (2014)11 ,
através do cruzamento de dados, encontra uma contradição: entre satisfeitos e muito
satisfeitos o total geral chega a 80, 72%, porém, 84% possuem remuneração inferior a quatro
salários mínimos e destes, 64% são graduados e pós-graduados. Além disso, outro ponto são
cargos ocupados pelos jovens. A amostra não reflete nada próximo ao anunciado em revistas
e jornais citados na revisão bibliográfica deste estudo - 20% dos cargos gerenciais ocupados
por jovens Y- foi encontrado 2%. .
Ainda com olhar sobre a pesquisa, aparecem outros aspectos: a autoimagem está
construída na crença que quando focam em algo na carreira obtém satisfação, que sabem
11
Artigo no prelo
12
2.2.5 GERAÇÃO Z
A nomeação “Z” foi atribuída aos nascidos entre 1995 e 2012 em função do “zapear”
com controle remoto trocando de canais constantemente, o que remete a vários aspectos
12
Edgar Schein (1996, apud KNABEM 2005), define oito âncoras que funcionam como referências
estabelecidas pelas pessoas ao fazerem suas escolhas, baseadas nos seus talentos, habilidades, competências,
motivos, necessidades e valores associados à carreira.
13
Em relato de aluno em aula lê-se: “ o mundo de trocas, onde muitas vezes, nós os filhos fazemos favores para
os pais em troca de alguma coisa, dinheiro ou um bem. Essa troca não deveria acontecer, assim o jovem faz as
coisas sem vontade própria” (Y, 21 anos).
13
14
Em aula ensino superior sobre Geração onde este artigo foi lido por jovens Z Segue depoimento por escrito de
aluno sobre sua geração: “Pelo fato de termos nascido na era digital já estamos adaptados às novidades, temos
mais facilidade em aprender e trabalhar com as novas tecnologias, o que nos deixa mais coragem de buscar
novidades. O fato de que somos impacientes e hiperativos está totalmente de acordo com a nossa realidade, pois
como já fomos criados em uma forma onde tudo é para ontem, o pouco que acontece mais devagar já nos deixa
insatisfeitos” ( A. 18 anos)
15
Dr. Jaderson Costa da Costa é médico neurologista, Prf..Ms em Neurologia na PUC-RS e Diretor do Instituto
do Cérebro - RS.
14
criança está se formando, as células se formando, formando tecidos que constituem mapas
cerebrais e recebendo estímulos desde o pré-natal, ou seja, antes de nascer. Após bebê nascer
continua em ampla atividade com maior número de sinapses que o cérebro adulto. Momento
apontado como propicio para formação de novas cadeias. Esta atividade cerebral está
naturalmente absorvendo o meio, assim com um pouco de estímulo a linguagem tecnológica é
inserida biologicamente nas crianças. Porém, é preciso ter claro que é uma ferramenta, não é
“inteligência superior”, é uma linguagem que se forma por haver mais estímulo, logo, resulta
na absorção maior do meio. Enquanto os bebês de antigamente ficavam isolados, os de hoje
participam da vida adulta e são mais estimulados.
Em conversas informais percebe-se as pessoas mais velhas atribuem as crianças
nascidas a partir do ano 2000, em especial, uma aura de inteligência a qual a qual inexiste.
Percebe-se que este mundo de facilidades tecnológicas forma na criança a fantasia de
superior, afinal em um “clic” ela tem o brinquedo, move imagens no celular e por isso é
exaltada. Mas esta criança fora da tecnologia, onde recebe tudo pronto da televisão ou da
máquina, desperta menos a criatividade, a invenção de brincadeiras. Se o brincar é com
celular, computador, assistir televisão, o correr, subir em árvore entre outras brincadeiras, não
acontecem. Com isso, o contato com a natureza e até atividades físicas que desenvolvem
capacidades motoras, estão reduzidas. A capacidade reflexiva é mínima, assim o copiar e
colar torna-se sua maior especialidade. Em sala de aula percebe-se a dificuldade de análise e
interpretação de texto, quando solicitados à reflexão é superficial ou fantasiosa. Percebe-se
também que há uma visão do trabalho reduzida ao contexto digital, conforme relato de aluna:
“No âmbito dos empregos, ainda não temos nenhuma experiência comprovada, mas
percebemos que podemos ter grande sucesso à área profissional, pois estamos sempre atentos
às novidades e dispostos a adaptar-se a elas”(Z, 18anos) Outro relato diz: “somos desta
geração e temos o hábito de viver ligado a tecnologia, muitas vezes sendo impaciente,
insatisfeito ou hiperativo..também concordamos que seguimos os comportamentos e atitudes
das gerações X e Y” (Z 19 anos) .
Os relatos acima denota autoestima e revelam expectativa de sucesso pelo perfil de
adaptação às novidades. Mas e o cotidiano do trabalho? Como lidar com a insatisfação frente
atividades repetitivas ou sem muita novidade? Empresários16 que já estão com estes jovens no
mercado relatam que é preciso desenvolvimento no comportamento com as pessoas,
capacidade de relação interpessoal e reflexão sobre situações que precisam compreender o
real. Vive a exaltação da própria vida em consumação sem retorno.
Para Meneghetti (2005, p. 343), o jovem “é capaz de formalizar um élan vital, o jato
do que a vida, no principiar-se, expõe como próprio escopo e investimento”. Embora cada
geração cresça em contextos sócio-econômico-culturais diversos, no princípio, a essência que
cada jovem traz é a vida expondo sua necessidade de realização de um projeto existencial
único. Compreende-se que cada geração, dentro do seu contexto histórico, primava pela
autorrealização, por fazer algo que fizesse sentido.
16
Nas consultorias prestadas, pesquisa realizada (2013) e empregadores do Programa Jovem Aprendiz sinalizam
as dificuldades que enfrentam com comportamento dos jovens Zsariais
15
16
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera-se que a revisão de bibliografia fez a pesquisadora perceber que existe uma
lacuna no conhecimento da formação das gerações brasileiras. A base de muitos estudos
publicados no Brasil sobre gerações é a partir da bibliografia americana disponível no
mercado editorial brasileiro. Assim, situar as gerações aos principais fatos do contexto
brasileiro possibilitou compreender que cada geração, ao seu tempo, com suas características
gerais.
A descrição conforme os coortes, fez perceber que a geração Tradicionalista foi
constituída em grande por imigrantes que colonizara o Brasil fundando cidades e
desenvolvendo microrregiões. Os Baby Boomers seguiram na mesma direção em especial,
com a população rural que trabalhou muito para aumentar a produtividade agrícola do País. A
população urbana das capitais sentiu de modo mais forte o peso da ditadura militar que
provocava coação psicológica aos contrários ao regime. A geração X cresce sob efeito da
ditadura e sofre seu legado com economia ruim. Conseguem romper com muitos padrões
antigos e atuaram em prol de fazer um Brasil melhor. Acreditavam no esforço pessoal e na
capacidade de fazer um País melhor de se viver.
As gerações Tradicionalistas, Baby Boomer e X precisaram ainda se adaptar a
linguagem tecnológica e construir as bases neurológicas, tarefa que requer empenho para
aprendizagem. A privação do consumo e a falta de dinheiro e de liberdade sofrida pelas
gerações anteriores também podem ser compreendidos como limite de viver e até sonhar. A
partir da metade da década de 2000 ocorrem transformações como que, conquistas que se
somam a um resgate de todas as classes sociais.
A geração Y recebe uma condição de vida melhor, um Brasil com mais oportunidades
e talvez por isso, não considerando o legado recebido, comporte-se de modo diferente da
geração anterior os X, vive os reflexos das conquistas das gerações precedentes. Pode
canalizar sua energia, disposição e sentido de liberdade para a própria carreira, sem se alienar
aos fatos sociais, culturais, políticos e econômicos, se assim escolher. O mundo do trabalho
parece ser o local propício para iniciativas que busquem autonomia, liberdade de ação e
criação. Porém, até que ponto está geração quer isso? Até que ponto a herança recebida não se
torna ponto de apoio para acomodação e exaltação de um estilo de vida que prima pelo
equilíbrio entre vida profissional e pessoal, buscando ascensão e remuneração sem maiores
sacrifícios?
A geração Y enfrenta suas batalhas buscando soluções aos problemas que encontra de
um modo que prima pela facilidade. O considera-se que a inconstância, a falta de persistência,
a dificuldade em responder em primeira pessoa ou o caminho mais curto do copiar e colar são
fatores que impedem o próprio desenvolvimento. Com a própria vida não há atalho, ou o
sujeito é autentico, fiel ao seu projeto existencial ou sofre sendo massa de manobra.
A geração Z recebida pelo senso comum como de excepcional inteligência, segue o
caminho traçado pelos Y, mas com tom mais forte no aspecto humano, no comportamento
interpessoal profissional. Valoriza excessivamente o receber pronto que muitas ferramentas
tecnológicas, fator impeditivo do desenvolvimento das próprias funções. Talvez por isso
tenha menos noção de comportamento social e profissional, conforme alguns empregadores já
perceberam.
A partir do estudo das gerações pode-se concluir que independente do tempo e do
17
contexto, os jovens anseiam por se realizar. Os movimentos juvenis clamam pelo novo a
partir da necessidade de romper com modelos ultrapassados. Dos Tradicionalistas até a
geração X houve lutas e manifestações coletivas para alcançar maior liberdade política,
econômica e social.
Além dos coortes que definem uma geração, elas se formam pela rede discursiva do
meio em que vivem. Desde Psicanálise até as abordagens mais contemporâneas sabe-se que
os jovens captam o inconsciente reprimido dos adultos e o executam. Assim, pode-se dizer
que ao compreender a geração Y e Z, lê-se, em parte, o reprimido das gerações precedentes.
Conclui-se que é importante uma pedagogia social e educacional humanista,
favorecendo o desenvolvimento e responsabilizando desde crianças a se tornarem autênticos
em seu caráter humano e reversíveis ao projeto existencial próprio e intransferível.
18
19
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARNS, Paulo E. (Org.) A origem do Regime Militar. In: Brasil: nunca mais. 5º Ed.
Petrópolis: Ed.Vozes, 1985, p.53-59.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. 5. ed. São
Paulo: Atlas, 2007. 312 p.
20
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