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Envelhecimento, Velhice e Políticas Públicas: uma análise crítica.

Resumo: O objetivo deste artigo é analisar a questão do envelhecimento e velhice do


trabalhador. Assim busca apreender alguns pontos fundamentais como o surgimento da
categoria velhice na sociedade burguesa bem como aspectos relevantes para a criação da
terceira idade, perpassando por fatores que contribuíram efetivamente para que o
envelhecimento fosse incluído na agenda política, resultando na elaboração de políticas
públicas voltadas a este segmento. A concepção teórico-metodológica desse ensaio teórico se
embasa no materialismo-histórico dialético, a pesquisa é do tipo bibliográfico. Portanto, esse
trabalho busca apreender a questão da velhice e envelhecimento e as políticas públicas para
esta população a partir de uma perspectiva crítica.
Palavras-chave: Envelhecimento; Velhice; Políticas Públicas.

Abstract: The purpose of this article is to analyze the issue of aging and old age worker .
Thus attempts to grasp some fundamental points as the emergence of old age category in
bourgeois society and relevant to the creation of the third age , passing by factors that
contributed effectively to aging were included in the political agenda , resulting in the
development of public policies to this segment . The theoretical and methodological design of
this theoretical essay was grounded in dialectical materialism , historical , research is the
bibliographical . Therefore, this work attempts to grasp the issue of old age and aging and
public policies for this population from a critical perspective.
Keywords: Aging ; Old age; Public policy.

Autoras:
Denise Gisele Silva Costa

Doutoranda Programa de Pós-Graduação em Serviço Social UNESP/Franca


Bolsista CAPES – denisermjc@gmail.com

Nanci Soares
Profª Drª Departamento de Serviço Social/Programa de Pós Graduação em Serviço Social.
nancisoares15@gmail.com
Introdução

Vivencia-se um momento ímpar de aumento da expectativa de vida da população


mundial, podendo ser sentido em todos os continentes com suas devidas especificidades. A
questão do fenômeno do envelhecimento da população mundial torna-se um fator
extremamente relevante chamando a atenção e exigindo novas posturas tanto do poder
público quanto da sociedade civil.

O processo de transição demográfica em curso marcado pelo crescimento da


população idosa e o declínio da taxa de natalidade pede um enfrentamento consistente que
englobe as múltiplas questões impostas. No Brasil, desde fins dos anos de 1960 foram
detectadas sensíveis alterações na composição da faixa etária de idosos, atingindo o
percentual de 8,6% da população total nos anos 2000.

De acordo com o Relatório de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial de


Saúde (2015) uma criança nascida no Brasil em 2015 pode esperar viver cerca de 20 anos a
mais que uma criança nascida há 50 anos na mesma região, é inegável que o aumento da
expectativa de vida é uma conquista social, porém deve-se considerar que esta conquista não
é linear, nem todas as populações tem tido o mesmo êxito em relação à longevidade, em
países africanos como Serra Leoa a expectativa de vida em 2003 não ultrapassava a 36 anos,
não tendo se alterado significativamente até o momento.

Sob o aspecto cronológico, a fronteira do envelhecimento tende a expandir-se, embora


biologicamente devamos enfrentar os problemas de uma velhice subdesenvolvida, em
decorrência das carências nutricionais, sanitárias, educacionais, habitacionais, etc. provocadas
pelos desequilíbrios sociais e regionais do desenvolvimento.( MAGALHÃES,1989, p.20)

É necessário destacar que o processo de envelhecimento se dá por toda a vida, do


nascimento até a morte, assim a partir do nascimento estamos envelhecendo, já a velhice é
uma construção social, demarcada como a última fase da vida, carregada de preconceitos e
mitos.

Paiva (2014) a partir de dados fornecidos pelas Nações Unidas revela que a população
idosa têm crescido de forma expressiva, considerando que em 2000 o número estimado de
pessoas com mais de 60 anos era de 605 milhões, em 2011 passou-se para 893 milhões com
uma perspectiva para 2050 de se atingir 2 bilhões de idosos em todo o mundo, neste período
há a probabilidade de os idosos se equipararem em número com a população infantil de 0-14
anos. “[...] O crescimento da população idosa e o declínio da infantil irão marcar a primeira
vez na história em que o número de crianças e pessoas idosas será semelhante”. (PAIVA,
2014,p.25)

O processo de envelhecimento e velhice revela-se como uma questão nova e urgente,


ocorrendo assim um adensamento nos debates, sejam eles no âmbito acadêmico, da sociedade
civil e do Estado, visando à busca por soluções viáveis que contribuam para um melhor
enfrentamento desta expressão da questão social

Da velhice à terceira idade

A fragmentação do tempo de vida ou o surgimento das categorias etárias tem seu


início na modernidade, com o advento da industrialização e de uma nova organização social –
o capitalismo -, nas sociedades pré-industriais não havia a separação nítida entre as diversas
fases da vida, tampouco as especializações funcionais de cada idade.

Segundo Silva (2008), foi a partir do século XIX que passam a surgir gradativamente
as diferenciações entre as idades, os espaços e hábitos de cada faixa etária e as funções
socialmente delimitadas a cada uma delas. Assim tem-se o início da fragmentação do curso de
vida em estágios mais formais, em transições mais rígidas, em funções determinadas para
cada estágio da vida.

Desse modo, o reconhecimento da velhice como uma etapa única é parte tanto de um
processo histórico mais amplo – que envolve a emergência de novos estágios da
vida como a infância e a adolescência – quanto de uma tendência contínua em
direção à segregação das idades na família e no espaço social. (SILVA, 2008,p.157)

A partir do século XX já se pôde observar dentro dos grupos etários uma


homogeneização de cada fase da vida, com uma demarcação mais ou menos precisa entre as
diferentes idades bem como a institucionalização de ritos de passagem como o ingresso na
escola, na universidade, no mercado de trabalho ou na aposentadoria.
Desta forma a identidade do sujeito moderno passa a ser forjada no ato de “habitar”
cada uma das etapas da vida – infância, adolescência, juventude, idade adulta e velhice.
A crescente institucionalização das etapas da vida e o processo de identificação dos
sujeitos com as categorias etárias atingiram praticamente todas as esferas da vida
social, fazendo-se presentes no espaço familiar, no domínio do trabalho, nas
instituições do Estado, no mercado de consumo e nas esferas de intimidade.
(SILVA, 2008, p.157)

Para Kohli e Meyer (1986 apud DEBERT 2012, p. 50) há um processo de


individualização que é próprio da modernidade, onde a “cronologização da vida”
institucionaliza o curso da vida humana, envolvendo praticamente todas as dimensões do
mundo familiar e do trabalho, estando presente na organização do sistema produtivo, nas
instituições educativas, no mercado de consumo e nas políticas públicas, que cada vez mais
tem como alvo grupos etários específicos.
Assim segundo os autores, uma organização social em que a idade cronológica era
irrelevante, acabou sendo suplantada por outra, onde a idade é fundamental para a
organização social. Explicitando as possíveis razões, atribuem às mudanças estruturais da
economia, na transição da economia doméstica para economia de mercado e inversamente
enfatiza-se o Estado Moderno, que por excelência seria a instituição que orienta o curso de
vida, “[...] regulamentando todas as suas etapas, desde o momento do nascimento até a morte,
passando pelo sistema complexo de etapas de escolarização, entrada no mercado de trabalho e
aposentadoria” (KOHLI, MEYER, 1986 apud DEBERT, 2012, p.51).
Em seu estudo sobre a relação entre infância e velhice, Gusmão (2003) indica que
tanto as crianças quanto os velhos são alvos de procedimentos educativos que visam à
homogeneização do diverso, pois ambos de certa forma não estão inteiramente subsumidos
aos ditames da ordem social objetiva, podendo em algum momento escapar da opressão
causada pelo capital. “Não é sem razão que, nos tempos de hoje, similar ao que aconteceu e
acontece com a criança, a chamada ‘terceira idade’ constitui uma nova etapa educativa no
interior das sociedades modernas” (GIDDENS, 1995 apud GUSMÃO, 2003, p. 25).
Silva (2008) afirma que a noção de velhice como etapa diferenciada da vida surgiu no
período de transição entre os séculos XIX e XX, determinada por uma série de mudanças
específicas e a convergência de diferentes discursos.
Desde o seu surgimento, a metáfora médica da velhice passou a exercer acentuada
influência social, definindo não somente o envelhecimento físico como também as
representações sobre a experiência de envelhecer. A aceitação e a justificação de tal
metáfora incidiram sobre a percepção dos sujeitos, que passaram a recorrer ao
discurso médico para definir a si mesmos e a sua experiência. De fato, a definição
médica da velhice disseminou-se para outros campos de saber e determinou
amplamente o seu espectro no imaginário cultural, alimentando os discursos do
Estado, a formulação de políticas assistenciais e a formação de outras disciplinas
como a gerontologia. (SILVA, 2008, p. 159)

Os hábitos, as práticas, os costumes, e as necessidades sociais e psicológicas dos


velhos passam a ser o objeto de um saber especializado, a Gerontologia, que começa a incluir
novos aspectos em sua definição, tornando mais complexa a categoria velhice.
De acordo com Silva (2008,p.159), “a ampliação do olhar das disciplinas
especializadas sobre a velhice também se relaciona com o processo de institucionalização da
aposentadoria [...]”. Este fator é destacado pela autora como o segundo ponto fundamental
para o surgimento da categoria velhice. A mesma considera que o fruto do processo da
industrialização, a criação de pensões foi uma resposta às modificações e aos problemas
surgidos ao longo dos séculos XIX e XX.
Seguindo sua análise, a autora cita (LENOIR,1979 apud SILVA, 2008, p.157) que
realiza uma minuciosa reflexão do contexto francês relacionando diretamente a
institucionalização das aposentadorias com a definição da velhice enquanto “categoria etária
diferenciada” que posteriormente será definida como terceira idade. Já
[...] na segunda metade do século XIX, a velhice começou a ser objeto do discurso
de legisladores sociais, dando ensejo à criação de instituições específicas, como as
caixas de aposentadoria para a velhice, e à especialização progressiva de
determinados hospícios em asilos para velhos. (SILVA, 2008, p.160)

Ressalta-se que a questão das pensões não era considerada relevante até o
envelhecimento das primeiras gerações de operários, as primeiras discussões a esse respeito
na França partiram das dúvidas sobre qual o tratamento dispensado aos incapazes de trabalhar
e garantir seu próprio sustento. Desta forma a velhice começa a ser atrelada à invalidez, com a
perspectiva de inutilidade dentro de um sistema de produção.
Esse sistema de proteção social apresenta dois fatores básicos, a necessidade de
“contenção” do “perigo social” provocado por uma massa de trabalhadores que colocavam em
risco os interesses capitalistas, sendo uma estratégia política cujo propósito era dar uma
resposta ao grande problema social da época e ao mesmo tempo se caracterizava como uma
luta política da classe trabalhadora.
Esta associação velhice e invalidez foi utilizada por muito tempo como estratégia de
reivindicação para a implementação de políticas de atenção à velhice, ainda que tais
definições depreciativas sejam a conseqüência da institucionalização das aposentadorias,
contribuiu para a ampliação do debate sobre os direitos dos aposentados, politizando essa
categoria e criando sua subjetividade.
Tratando-se especificamente do contexto francês (LENOIR,1979 apud SILVA, 2008,
p.157) considera que a categoria da terceira idade passa a existir com a nova organização dos
agentes da gestão da velhice, a partir de 1945 culminando na década de 1960, os discursos e
práticas preocupados com a velhice passam por um processo de aperfeiçoamento e
unificação, com a elaboração de uma “política de velhice” – o desenvolvimento da
gerontologia e a aparição da noção de terceira idade. A partir daí os sistemas de aposentadoria
se universalizam e passa-se a gradual substituição da associação entre velhice e indigência
para uma nova categoria – a terceira idade.
As classes médias são o grupo mais interessado na invenção da terceira idade,
pois não são mais velhos e sim “jovens senhores” dispostos a inúmeros esforços para
manterem-se jovens, sadios e atuantes. Assim a partir da década de 1960 o termo velho
começa a desaparecer da redação dos documentos oficiais franceses passando a utilizar-se
agora o termo idoso. “Surge o termo ‘terceira idade’ que torna pública, estabiliza e legitima a
nova sensibilidade investida sobre jovens e respeitados aposentados. Parece claro a
contribuição decisiva dessa nova denominação para a criação e difusão de uma nova e
positiva imagem da velhice. (SILVA, 2008, p.163)
Magalhães (1989) discorre sobre o papel da classe média para a incorporação da
terceira idade no Brasil, o mesmo afirma que no Brasil a questão do idoso e da velhice tem
sido tratada predominantemente como questão de classe média. A realidade e os ensejos dos
velhos da classe média, agora idosos, são referências para o planejamento e implantação de
políticas sociais públicas voltadas ao seguimento idoso. Para o autor a classe média apresenta
um conjunto de situações de classe e de grupos sócio-ocupacionais, aliados a uma consciência
social formada e polarizada pelos valores dominantes, trata-se de um grupo intermediário
entre a elite e a classe trabalhadora, sendo pólos estratégicos de formação de opiniões e
reelaboração ideológica.

Políticas Públicas de atenção à velhice

A discussão sobre o papel do Estado dentro do sistema capitalista produz inúmeras


análises que baseiam a questão das políticas públicas, Serafim e Dias (2012) em seu artigo
“Análise de Política: uma revisão de literatura, percorrem por várias concepções acerca do
Estado e sua interação com a sociedade a partir do “jogo político” materializado nas políticas
públicas. Dentre as posturas levantadas pelos autores algumas visões se fazem relevantes
neste manuscrito, (O’DONNELL,1981 apud SERAFIM, DIAS, 2012) traz a questão de que as
políticas públicas uma vez geradas no âmbito do Estado capitalista, os maiores beneficiários
dessas seriam os sujeitos pertencentes à classe dominante. “Afinal, o Estado capitalista é,
simultaneamente, um produto da estrutura de classes das sociedades capitalistas e a entidade
que garante a preservação dessa estrutura.” (p.124).
No entanto há de se considerar o fato de que o Estado é em complexo formado por
diversos atores com interesses, valores e ideologias distintos, havendo um constante
tensionamento entre forças muitas vezes opostas, desta forma ele não se mantém imune aos
conflitos existentes dentro da sociedade capitalista e seus embates de classes.
Ora, se as características do contexto social influenciam os processos políticos
dentro e ao redor do Estado, e se este é capitalista, é evidente que os conflitos entre
classes sociais, típicos das sociedades capitalistas, também se manifestarão no
âmbito do Estado. (SERAFIM;DIAS, 2012, p.125)

Para O’Donnell, (1981 apud SERAFIM e DIAS, 2012), a relação entre Estado e
políticas públicas é dinâmica, uma vez que o Estado produz um padrão particular de políticas
públicas e também é por elas atingido, caracterizando o movimento contraditório do real,
onde o Estado influencia e também é influenciado.
De forma despretensiosa, podemos afirmar que as políticas públicas são o Estado em
movimento. Não são, evidentemente as únicas formas de ação estatal. Mas
constituem sem dúvida, aquela forma que melhor reflete a natureza do Estado
capitalista. Não é trivial, portanto, que tanta atenção tenha sido despendida pelos
analistas de políticas públicas ao momento de definição da agenda. (SERAFIM,
DIAS, 2012, p.125)

Ao citar Oszlak (1997) Serafim e Dias (2012) pontuam que para este autor o Estado é
capitalista e atua no sentido de amenizar os conflitos entre capital e trabalho, com tendência
em beneficiar o capital, acrescenta ainda que as regras na relação Estado-sociedade não têm se
alterado, permanecem sustentando o sistema capitalista como modo de organização social, as
transformações superficiais que tem acontecido se devem a “atores sociais, suas estratégias e
formas de atuação e os resultados do ‘jogo’ político”. (p.123)
Assim, é importante colocar que, embora as mudanças no Estado inegavelmente
acomodem as novas exigências do capital, elas não alteram a essência do Estado O
que de fato muda é a agenda do Estado. (SERAFIM, DIAS, 2012, p.123)

A agenda é um instrumento que traz os temas prioritários a serem trabalhados por um


determinado governo, um tema é incorporado na agenda quando ele é identificado como um
problema passível de se converter em política pública, esse processo é permeado por diversos
fatores como valores e interesses, sendo estes condicionados por elementos ideológicos e
projetos políticos, refletindo diretamente as relações de poder entre os atores envolvidos.
A inclusão da questão do envelhecimento na agenda governamental brasileira se deve
a fatores como os movimentos sociais que pressionaram o Estado em relação à necessidade de
políticas voltadas ao segmento idoso, assim como a revolução demográfica mundial que
indicava um aumento significativo da população envelhecida bem como imposições de
organismos internacionais que determinavam a instituição de políticas, programas e projetos
destinados a esta população.
As décadas de 1980 e 1990 são marcadas pela emersão do envelhecimento na
agenda social como um problema social e político relevante. Essa transformação da
velhice em tema privilegiado deve-se tanto à revolução demográfica mundial, com o
aparecimento do fenômeno da longevidade, também em países em desenvolvimento
como o Brasil, quanto à força de grupos de pressão como o movimento de
aposentados e pensionistas, as diversas organizações da sociedade civil, organismos
internacionais, responsáveis pela vocalização do envelhecimento, sob a influência da
Gerontologia Internacional, principalmente norte americana, cuja a orientação
influenciará o modo de interpretar a problemática do envelhecimento e as políticas
públicas. (TEIXEIRA, 2008, p.170)

O maior movimento social a favor do segmento idoso sem dúvida foi a criação da
Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (Cobap) em 1985, idosos de todo o
país demonstraram sua força política e seu poder organizativo tornando os trabalhos da
Assembléia Constituinte como seu principal interlocutor para as conquistas previdenciárias,
os vários eventos promovidos pelo movimento foram responsáveis por grande parte das
conquistas na Constituição de 1988.
Ao final dos anos de 1980, o poder de organização das associações e das federações
era tanto que os aposentados e pensionistas formaram o segundo maior lobby na
Constituinte, perdendo apenas para o grupo ruralista da União Democrática
Ruralista (UDR).(TEIXEIRA, 2008, p.173- grifo da autora)

As questões sobre o processo de envelhecimento e velhice devem ser cuidadosamente


analisadas a partir do contexto sócio-econômico em que estão inseridas, ao se analisar as
primeiras políticas e intervenções a respeito da questão da velhice, constata-se que estas
foram realizadas nos países desenvolvidos, com uma população idosa inegavelmente mais
expressiva que a existente nos países periféricos até então, e com padrões de qualidade de
vida muito superiores aos vivenciados nestes países.
A Primeira Assembléia Mundial sobre o Envelhecimento ocorrida em Viena – 1982,
foi considerada como um marco inicial na constituição de uma agenda internacional de
políticas públicas dirigidas ao segmento idoso.
Na verdade, o foco de atenção principal do plano era a situação de bem-estar social
das pessoas idosas dos países capitalistas hegemônicos, dotado de um forte apelo à
promoção da independência e autonomia do(a) idoso(a), ‘novo ator social’
concebido como indivíduo independente financeiramente. O fato, porém, de ter sido
destinado ao segmento idoso dos países capitalistas hegemônicos não impediu,
afirma Camarano (2004), que vários governos da América Latina modificassem suas
Constituições, criando leis que favoreciam a população idosa, a exemplo do Brasil
em 1988; Peru, 1993; Bolívia 1994; Equador, 2998 e Venezuela em 1999. (PAIVA,
2014, p. 171)
Ressalta-se que apesar da influência da Primeira Assembléia Mundial sobre o
Envelhecimento (AME) de Viena, os movimentos sociais foram fundamentais para a
implantação das questões do envelhecimento na agenda política nacional, caracterizando-se
assim a existência do “jogo político” entre Estado e movimentos sociais na busca de
efetivação de direitos. Esta primeira AME tinha como foco principal os velhos dos países
desenvolvidos que vivenciavam uma velhice quantitativamente maior e qualitativamente
melhor.
Vinte anos após houve a Segunda Assembléia Mundial sobre envelhecimento em
Madri (2002), esta Assembléia passa a incorporar também os velhos dos países periféricos,
que começam a vivenciar de forma mais expressiva a velhice. O discurso principal é o do
Envelhecimento Ativo, com o tripé “independência participação e segurança”.
No Brasil, a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso são legislações que
reafirmam as políticas de seguridade social (saúde, previdência e assistência) abarcando
também outros fatores como educação, lazer, socialização e convívio, entre outros. Pode-se
afirmar que tais legislações se caracterizam como avanços e conquistas da população
envelhecida, afirmando ao menos em texto, vários direitos aos velhos trabalhadores.
No entanto verifica-se que as respostas dadas pelo Estado através destas legislações,
programas e projetos sociais visam proporcionar alguma melhora na qualidade de vida deste
segmento ao mesmo tempo em que se mantém como espaços de controle social e
administração de conflitos. Constata-se o agravante da parceria público/privado –
terceirização e privatização – de serviços sociais que deveriam ser públicos, instituídos
enquanto direitos, mas quando são repassados à esfera privada a partir de convênios, passam a
intermediar a relação Estado/cidadão, tendo um caráter de ajuda social, filantropia social e
não como um direito de fato de todos os cidadãos.

Considerações Finais
A questão do processo de envelhecimento e velhice passa a ter visibilidade e alcança
sua inserção na agenda governamental brasileira, sem dúvida com significativos avanços no
que diz respeito à legislações e conquistas de direitos, no entanto há de se ressaltar que dentro
deste “jogo político” há muito que se conquistar.
Com o processo de privatização dos serviços sociais através de convênios
Estado/terceiro setor, direitos conquistados pelos velhos trabalhadores tendem a sofrer
regressões, inclusive com o caráter de culpabilização do sujeito por uma velhice doentia e
miserável, desconsiderando-se todo o processo de exploração e expropriação de seu tempo de
vida.
Para que a questão do envelhecimento se mantenha no “jogo político” com
perspectivas de conquistas, é necessário o fortalecimento dos movimentos sociais dos velhos
trabalhadores e a ampliação e concretização dos espaços democráticos, a fim de que os
direitos sejam propositivamente materializados.
Referências
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Idoso. (PNI). Brasília, 1994
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GUSMÃO, N. M. M. (Org.). Infância e velhice: pesquisa de idéias. Introdução. Campinas:


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MAGALHÃES, D.N. A invenção social da velhice. Rio de Janeiro: Ed. Papagaio, 1989.

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