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1. INTRODUÇÃO
A partir deste momento, iniciaremos a Introdução à Gerontologia, para tanto, apresentaremos
uma breve conceituação sobre o processo de envelhecimento populacional e suas teorias
biológicas e sociais.
2. TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA E EPIDEMIOLÓGICA
Como já dito anteriormente, a Gerontologia constituiu-se como ciência no século 20 e tem por
objetivo estudar o envelhecimento como uma especialidade transversal que aborda o processo
em seus aspectos físicos, biológicos, psíquicos, emocionais, sociais, culturais, ambientais,
políticos e econômicos para, assim, intervir em todos os contextos do idoso (PAVARINI et
al., 2005).
A Gerontologia se constitui como ciência devido ao processo de transição demográfica,
fenômeno representado pelas modificações nas taxas de fecundidade, mortalidade e
expectativa de vida, que, juntas, contribuíram para o aumento do número de velhos na
sociedade.
De acordo com o Banco Mundial (2011), tais mudanças começaram no Brasil por volta de
1940, quando iniciou o registro de queda nas taxas de mortalidade infantil e aumento da
expectativa de vida ao nascer, que passaram de 135/1.000 para 20/1.000 e de 50 anos para 73
anos entre 1950 e 2010, respectivamente. Veja o Gráfico 1 e a seguir a Tabela 1:
Gráfico 1 Taxa de mortalidade infantil, segundo as Grandes Regiões 1930/2010.
4. TEORIAS DO ENVELHECIMENTO
Verifica-se então que a determinação do envelhecimento não é algo exclusivamente
cronológico, mas sim algo influenciado por fatores biológicos e sociais, o que originou
propostas teóricas que buscam explicar essa fase da vida.
As teorias biológicas do envelhecimento são divididas em “genético-desenvolvimentista” e
“estocásticas” e baseiam-se na ótica do declínio e degeneração das funções e estruturas dos
sistemas orgânicos e das células que influenciam diretamente na resposta do organismo frente
às alterações ambientais, que deixam, assim, o corpo mais vulnerável. Na Figura 3, é
apresentado um esquema que demonstra como essas teorias são organizadas e as suas ideias
principais.
UNIDADE 2
ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS,
POLÍTICAS DE SAÚDE E ESTATUTO DO IDOSO.
Objetivo
• Conhecer as principais políticas públicas de atenção ao idoso e compreender suas
contribuições para o envelhecimento populacional.
Conteúdos
•Definição de políticas públicas.
•Políticas públicas de atenção ao idoso.
•Política Nacional do Idoso (PNI).
•Pacto pela vida e saúde do idoso.
•Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI).
•Estatuto do Idoso.
•Política Nacional de Humanização.
•Política Nacional da Atenção Básica.
1. INTRODUÇÃO
Iniciaremos agora a discussão sobre as políticas públicas planejadas e desenvolvidas para a
população idosa. Para isso, inicialmente será realizado uma breve discussão sobre o
significado de política, para após focarmos exclusivamente nas questões do envelhecimento.
2. DEFINIÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Iniciaremos esta unidade com a apresentação do que realmente é política, visto que o
entendimento desse conceito irá permitir desvelar claramente todos os meandros do presente
tema.
O termo “POLÍTICA” tem dois significados distintos que são apresentados por Lima (2012)
como sendo, uma atividade humana necessária para obter e manter recursos para o exercício
do poder sobre o homem ou uma atividade destinada para orientar decisões e ações. (LIMA,
2012).
Dessa forma, verifica-se que o termo pode refletir ações de poder/dominação ou ações para
nortear condutas e decisões para resultados e benefícios, sendo essa última forma a adotada
quando se trata de políticas públicas.
De acordo com Teixeira (2002), as políticas públicas visam mediar à relação entre os atores
sociais e o Estado, sendo descritas, pensadas ou formuladas em documentos que orientam
ações para as aplicações dos recursos públicos aos setores marginalizados ou vulneráveis da
sociedade. E os atores sociais correspondem aos representantes estatais oriundos do Governo
ou representantes privados oriundos da sociedade civil.
Quadro 1 Atores sociais estatais e privados.
Para serem formuladas, as políticas públicas devem seguir as cinco fases descritas por
Teixeira (2002):
1) Formação da Agenda – caracterizada pela fase de seleção das prioridades, sendo realizada
a partir do diagnóstico da situação que se deseja modificar com os principais envolvidos, bem
como levantamento dos obstáculos e potencialidades dessas ações.
2) Formulação de Políticas – corresponde a apresentação de soluções ou alternativas por
meio de um debate público e mobilização social em torno das alternativas elencadas. É nessa
fase que se define os objetivos, os programas a serem desenvolvidos e as metas almejadas;
bem como analisadas a viabilidade técnica, legal, financeira, política e de interesses.
3) Processo de Tomada de Decisão – constitui a escolha das ações a serem adotadas frente à
primeira fase (formação da agenda). Também são definidas as competências das esferas
envolvidas, os recursos e estratégias implantados, cronogramas, parâmetros de avaliação,
detalhamento de modelos, projetos, diretrizes e estratégias; identificação das fontes de
recursos. Após essas definições as resoluções serão apresentadas a sociedade na forma de leis,
decretos, normas e resoluções.
4) Implementação – essa fase corresponde à execução da ação, a qual iniciará somente após
a publicação da política para a sociedade.
5) Avaliação – caracterizada pela avaliação, acompanhamento do processo e dos resultados e
redefinição das ações e projetos.
Mas, independentemente das cinco fases, as políticas públicas devem sempre pensar em
estratégias que visem ampliar e efetivar os direitos de cidadania; promover o desenvolvimento
com alternativas para geração de emprego e renda; contornar conflitos sociais entre os
poderosos e os marginalizados. Sendo tais objetivos sobrepostos por qualquer interesse
pessoal ou de classe dos atores sociais (governo ou sociedade).
Porém, quando colocadas em prática, tais premissas nem sempre são fáceis de serem pensadas
ou organizadas devido a questões que perpassam desde problemas culturais, sociais e por
interesses próprios. Um exemplo, são as políticas direcionadas a população idosa, as quais
iniciaram no ano de 1982 com o Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento
apresentado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e que propõe estratégias e
recomendações prioritárias aos aspectos envolvidos no processo de envelhecimento.
No Brasil, diversas medidas foram propostas e desenvolvidas ao longo dos anos e
contribuíram diretamente para formulação das políticas públicas de atenção aos idosos
vigentes na atualidade. Sendo essas apresentadas a seguir de acordo com a cronologia de sua
elaboração.
A Lei Eloy Chaves de 1923, é considerada o marco inicial das políticas de envelhecimento
devido ao fato de ser a primeira a garantir o benefício em dinheiro aos trabalhadores
ferroviários e seus dependentes econômicos contra a perda ou redução da capacidade laboral
decorrentes de mortes, invalidez, idade avançada, acidentes de trabalho, tempo de serviço por
meio das Caixas de Aposentadorias e Pensão (CAP’s). Sendo posteriormente expandido aos
demais trabalhadores, surgindo assim, os Institutos de Aposentadores e Pensões (IAP’s) e que
mais tarde foram unificados com a criação do Sistema Nacional de Previdência e Assistência
Social.
Outro marco para as políticas ao idoso foi a Constituição Federal promulgada em 1988 que
introduziu o conceito de proteção social mais abrangente ao efetivar o dever do Estado à
proteção social independente das contribuições prévias da população ao sistema. Ou seja,
antes da constituição a proteção social era baseada em princípios sociais-trabalhistas e
assistencialistas, regidos pela ideia de que só tinham direitos os indivíduos inseridos no
mercado de trabalho.
Essa nova reorganização permitiu a inclusão dos idosos ao debate e contribuiu para
formulação de uma legislação própria destinada a essa parcela da população. Exemplos dessa
inclusão são visto nos trechos a seguir da Constituição Federal:
Art. 203- A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I - à proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e
ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família...
Art. 229- Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores
têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
Artigo 230- A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas,
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e
garantindo-lhes o direto à vida.
§ 1˚ - Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares.
§ 2˚ - Aos maiores de 65 anos é garantida a gratuidade nos transportes coletivos urbanos
(BRASIL, 2018).
De acordo com Silva (2008), a Constituição foi uma inovação para os direitos das pessoas
idosas, mas não findaram a discussão, uma vez que outros direitos ainda precisavam ser
definidos, dando continuidade à discussão das políticas para o envelhecimento.
Em 1994, a Política Nacional do Idoso, instituída pela Lei nº 8.842/94, busca igualar as
responsabilidades por essa população a família, sociedade e Estado. Além de assegurar os
direitos sociais, amparo legal e promoção da integração, autonomia e participação do idoso na
sociedade.
Dessa forma, todos os órgãos sociais tornam-se responsáveis pela cidadania; combate à
discriminação; conhecimento sobre o processo de envelhecimento a partir das vertentes
econômicas, sociais e regionais do meio rural e urbano que estão envolvidas no processo de
envelhecimento humano.
Tal política, também, institui várias modalidades de atendimento ao idoso como, por exemplo,
os Centros de Convivência, Centro de Cuidados Diurnos, Hospital-Dia e Centro-Dia, Casa-
Lar, Oficina Abrigada de Trabalho e o atendimento domiciliar (BRASIL, 1996).
Outra política que contribuiu para valorização do idoso, foi o Estatuto do Idoso promulgado
pela Lei nº 10.741/03, o qual utiliza como demarcação de velhice a idade cronológica de 60
anos.
O estatuto busca estabelecer medidas e deveres punitivos promovendo assim uma maior
regulamentação dos direitos da pessoa idosa.
Art. 2º - O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se-lhe, todas as
oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu
aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e
dignidade (BRASIL, 2003).
Além disso, o Estatuto reafirma a obrigação da família, sociedade e Estado nos cuidados.
Art. 3º - É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar
ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade,
ao respeito e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2003).
Tal política também assegura os direitos à saúde através da atenção integral por intermédio do
Sistema Único de Saúde – SUS, em vista de promover, prevenir, proteger e recuperar a saúde
dessa parcela da população. Bem como, define medidas para condutas e punições em casos de
violência.
Outra política pública que corrobora com a assistência ao idoso refere-se à Política Nacional
de Saúde a Pessoa Idosa (PNSPI), instituída pela portaria nº 2.528/GM de 19/10/2006 e que
visa orientar os serviços de saúde públicos a identificar o nível de dependência do idoso para
determinar qual forma de acompanhamento será ofertado. Ou seja, a partir desse momento, os
serviços de saúde devem identificar o nível de independência e fragilidade do idoso por meio
da sua capacidade funcional a fim de direcionar qual o tipo de assistência prestada, conforme
apresentado no quadro a seguir.
Para garantir essa nova assistência, a PNSPI adotou como medida as seguintes estratégias:
• Implementar a Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa.
• Editar e distribuir o Caderno de Atenção Básica – Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa
e o Guia Prático do Cuidador.
• Promover e realizar a capacitação dos profissionais de saúde por meio do Curso de
Educação à Distância em Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa.
• Elaborar o Plano Integrado de Ações de Proteção à Pessoa Idosa (SUAS-SUS).
• Criar e implementar o Programa Nacional de Formação de Cuidadores de Idosos
Dependentes na Rede de Escolas Técnicas do SUS (RET-SUS).
• Publicar a portaria sobre prevenção e cuidado à Osteoporose e Quedas (portaria nº
3.213/GM de 20/12/2007).
• Ampliar o acesso à consulta no Programa Olhar Brasil.
• Fomentar pesquisas na área de Envelhecimento de Saúde da Pessoa Idosa.
• Implementar o Programa de Internação Domiciliar (portaria nº 2.529/GM de 19/10/2006).
• Fomentar o acesso e uso racional de medicamentos.
Neste contexto, a Rede Nacional de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa trata-se de uma ação
prevista na Política Nacional do Idoso que tem por objetivo articular o Estado e sociedade
civil para criar e gerir programas, ações e órgãos de assistência voltados à efetivação dos
direitos da pessoa idosa. Visto que seus objetivos devem ser voltados a perceber o
envelhecimento em todas as suas dimensões a fim de assegurar a dignidade e respeito a esse
indivíduo.
Sendo assim, suas ações são voltadas para a garantia de políticas públicas para pessoas idosas,
baseando nos princípios legais (constituição, estatuto do idoso e política nacional do idoso), a
fim de promover os direitos humanos de forma interdisciplinar e intersetorial (secretarias,
coordenadorias, instituições, escolas, defensorias, ministério público, conselhos de direitos,
universidades entre outras instituições) para estruturar programas aos indivíduos mais velhos.
Por fim, apesar dessas determinações e políticas, as ações sociais destinadas à pessoa idosa
ainda são constituídas por ações isoladas e que esbarram na burocracia, nos recursos escassos
e na falta de vontade política (FERNANDES; SANTOS, 2010).
CONSIDERAÇÕES
Você já consegue compreender um pouco mais como está organizada a assistência ao idoso
perante a lei.
QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
1) A Política Nacional do Idoso – Lei n° 8.842/1994, a qual busca assegurar os direitos
sociais do idoso de forma a garantir sua autonomia, integração e participação efetiva na
sociedade. Com base nos princípios que regem essa Política, julgue os itens a seguir:
I - A família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da
cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e
o direito à vida.
II - O processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objeto de
conhecimento e informação para todos.
III - As diferenças econômicas, sociais, regionais e as contradições entre o meio rural e o
urbano do Brasil são irrelevantes para os poderes públicos e para a sociedade em geral, na
aplicação dessa lei. F
IV - O idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem
efetivadas por meio dessa Política.
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas uma é verdadeira.
b) Apenas duas são verdadeiras.
c) Apenas três são verdadeiras.
d) Todas são verdadeiras.
e) Todas são falsas.
2) O Estatuto do Idoso garante, no sistema de transporte coletivo interestadual, a
obrigatoriedade de:
a) Reserva de 5 (cinco) vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a 2
(dois) salários mínimos.
b) Desconto de, no mínimo, 20% (vinte por cento) no valor das passagens para os idosos com
renda igual ou inferior a 2 (dois) salários mínimos que não dispuserem de vagas gratuitas.
c) Reserva de 2 vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a 2
(dois) salários mínimos.
d) Desconto de, no mínimo, 20% (vinte por cento) no valor das passagens para os idosos com
renda igual ou inferior a 3 (três) salários mínimos que não dispuserem de vagas gratuitas.
e) Reserva de 5 vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a 5 (cinco)
salários mínimos.
3) (PCI Concursos) De acordo com o Estatuto do Idoso, Lei N. 10.741, de 1º de Outubro
de 2003, julgue cada uma das assertivas verdadeira (V) ou falsa (F):
I - O idoso deve ter atendimento preferencial no Sistema Único de Saúde (SUS).
II - A distribuição de remédios aos idosos, principalmente os de uso continuado (hipertensão,
diabetes etc.), deve ser gratuita, assim como a de próteses e órteses.
III - Os planos de saúde podem reajustar as mensalidades de acordo com o critério da idade,
sendo o reajuste permitido até os 65 anos.
Assinale a alternativa correta.
a) V – V – F.
b) V – F – F.
c) F – V – F.
d) V – V – V.
e) F – F – F.
4) A política nacional do idoso reger-se-á pelos seguintes princípios:
a) O processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objeto
de conhecimento e informação para todos.
b) Viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso, que
proporcionem sua integração às demais gerações.
c) Participação do idoso, através de suas organizações representativas, na formulação,
implementação e avaliação de políticas, planos, programas e projetos a serem desenvolvidos.
d) Priorização do atendimento ao idoso através de suas próprias famílias, em detrimento do
atendimento asilar, à exceção dos idosos que não possuam condições que garantam sua
própria sobrevivência.
e) Descentralização político-administrativa.
UNIDADE 3
MODALIDADES DE ATENÇÃO À SAÚDE DOS IDOSOS E O TRABALHO EM
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR NA ATENÇÃO À SAÚDE DO IDOSO
Objetivos
•Conhecer as modalidades de atenção à saúde do idoso disponíveis no Brasil: processo de
transição entre doenças crônicas transmissíveis e não transmissíveis para condições agudas e
crônicas.
•Diferenciar as formas de atuação da equipe multidisciplinar de acordo com a modalidade de
atenção à saúde.
Conteúdos
•Os diferentes níveis de complexidade em saúde.
•Referência e contrarreferência nos serviços de saúde.
• Equipe multidisciplinar e sua atuação junto ao idoso.
1. INTRODUÇÃO
Nesta unidade, estudaremos e discutiremos as diferentes modalidades de assistência à saúde
do idoso existentes no Brasil para podermos compreender como são realizados os
movimentos de referência e contrarreferência entre os diferentes setores de saúde. Além disso,
discutiremos também sobre o papel dos diferentes profissionais de saúde, bem como suas
interações em uma equipe multidisciplinar, pluridisciplinar, pluriauxiliar, interdisciplinar e
transdisciplinar.
2. MODALIDADES DE ATENÇÃO À SAÚDE DOS IDOSOS DISPONÍVEIS NO
BRASIL
Inicialmente, o sistema de saúde brasileiro era estruturado de forma a atender apenas doenças
infecciosas e transmissíveis, que assolavam a população e auxiliavam na manutenção do
equilíbrio populacional. Porém, os avanços no setor de saúde proporcionaram um processo de
transição epidemiológico que contribuiu para a alteração do perfil da população e das
doenças, que passaram a ser crônicas e não transmissíveis.
Tendo em vista esse novo perfil epidemiológico, os setores de saúde são obrigados a se
reestruturar e abandonar a antiga forma de organização e assistência voltada apenas para as
condições agudas de doenças e tratamento dos sintomas momentâneos, para assumir uma
estrutura que visa ao tratamento das condições crônicas.
Mas como seria essa organização do sistema de saúde voltado para as condições crônicas?
Essa organização da saúde tendo em vista as condições crônicas foi realizada de acordo com a
complexidade da doença, ou seja, conforme o tipo de assistência necessária, sendo definidas
em níveis:
• Nível Primário ou de baixa complexidade: constitui-se como o primeiro nível de atenção à
saúde no SUS e que visa, por meio de um conjunto de ações de saúde, à promoção e à
proteção da saúde, à prevenção de agravos, ao diagnóstico, ao tratamento, à reabilitação e à
manutenção da saúde de forma individual e/ou coletiva. Como exemplo desse nível de
complexidade, citam-se as estratégias da Saúde da Família e as Unidades Básicas de Saúde
(UBS).
• Nível Secundário ou de média complexidade: representa um tipo de assistência mais
especializado e organizado para atender os principais problemas e agravos de saúde da
população, por meio de profissionais e recursos tecnológicos mais especializados e que
possibilitam um diagnóstico e tratamento mais preciso para a condição do quadro. Fazem
parte desse nível as Unidades de Pronto Atendimento (UPA), os hospitais secundários e as
unidades de atendimento especializadas.
• Nível Terciário ou de alta complexidade: assistência constituída por serviços que envolvem
alta tecnologia e alto custo. Fazem parte desse nível as assistências hospitalares que atendem
demandas específicas, como: diálise para portadores de doença renal crônica; pacientes
oncológicos; cirurgia cardiovascular, vascular, neurológica; reabilitação protética; assistência
em traumato-ortopedia; genética clínica; entre outros.
Dessa forma, a atenção à saúde passou a ser organizada de maneira verticalizada, formando
uma pirâmide, em que o comprometimento do estado de saúde definia o tipo de cuidado a ser
ofertado ao indivíduo, conforme demonstra a Figura 1.
Fonte: adaptado de Mendes (2011). Figura 1 Hierarquização vertical da saúde.
Porém, tal reestruturação não conseguiu garantir a assistência à saúde a todos os indivíduos de
forma adequada, visto que mantinha o tratamento apenas dos sintomas ou das complicações
dos quadros clínicos. Além disso, essa organização hierarquizada contribuiu para a inversão
de valores referente à importância dos setores de saúde, uma vez que os setores terciários
passam a ser mais valorizados pelos governantes e pela população, devido à sua quantidade de
recursos técnicos e financeiros.
Dessa forma, a visão de saúde passa a ser comandada pela quantidade de recursos
assistenciais disponíveis e não pela necessidade real do indivíduo. Ou seja, a população passa
a acreditar que só terá uma adequada assistência à saúde quando essa for prestada pelos
setores secundários ou terciários, desvalorizando o nível primário e suas ações de promoção,
prevenção e proteção à saúde.
Entretanto, a saúde é diretamente influenciada por fatores contextuais e externos
(envelhecimento da população, transição epidemiológica, avanços científicos e tecnológicos)
e por fatores internos (cultura organizacional, recursos, sistemas de incentivo financeiro,
estrutura organizacional e estilo de liderança e gestão), os quais, ao se modificarem de forma
independente e constante, acarretam mudanças contínuas nos quadros de saúde (MENDES,
2011; UNA-SUS/UFMA, 2018).
Foram justamente essas modificações constantes que colaboraram com a situação de tripla
carga de doença (Figura 2) vivenciada atualmente, e que se caracteriza pela presença das
doenças infecciosas não resolvidas, das causas externas (situações de violência, acidentes e
homicídios) e das condições crônicas, que, juntas, contribuem para aparecimento de novos
problemas e novas demandas por parte da população e para a formação do caos que a saúde
brasileira vive (MENDES, 2011).
Figura 2 Tripla carga de doenças.
Dessa forma, o SUS novamente passa por um momento em que necessita abandonar os
preceitos de hierarquização, fragmentação e medicalização desenvolvidos no século 20 para
se alinhar a uma nova forma de sistema de atenção à saúde, a fim de buscar integrar os
sistemas para permitir respostas efetivas, eficientes e seguras aos problemas de saúde,
garantindo a qualidade e a equidade das condições de saúde da população brasileira.
Segundo Mendes (2011, p. 18), o SUS está organizado em um “sistema de atenção à saúde
totalmente fragmentado, reativo, episódico e voltado, prioritariamente, para o enfrentamento
das condições agudas e das agudizações das condições crônicas” e, por isso, não consegue ou
conseguirá resolver as demandas apresentadas por essa tripla carga de doença.
O autor afirma que a solução para essa nova demanda é a reestruturação da saúde seguindo os
princípios das Redes de Atenção à saúde (RASs), que visam à integração dos sistemas de
forma horizontal. Observe a Figura 3.
Fonte: Mendes (2011, p. 86). Figura 5 A estrutura operacional das redes de atenção à saúde.
Ao analisar a estrutura operacional das RASs, é possível verificar a importância da atenção
primária à saúde como centro de comunicação e coordenação dos fluxos e contrafluxos do
sistema de atenção à saúde. Tal fato é devido à posição de “porta de entrada” assumida pela
saúde primária.
3. MODALIDADES DE ATENÇÃO SOCIOASSISTENCIAIS
Seguindo essa mesma linha de organização, voltada para as doenças crônicas, o setor
socioassistencial também promoveu mudanças em sua organização, de forma a se integrar
dentro das RASs.
Portanto, a partir da aprovação da Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais
(BRASIL, 2014), os serviços de proteção social básica e especial aos idosos ficaram
organizados da seguinte maneira:
Quadro 1 Serviços Socioassistenciais ao Idoso.
Vale destacar que cada uma das modalidades anteriores apresentam características específicas
para a assistência social do idoso, a fim de garantir uma melhora na qualidade de vida e de
saúde.
Outro ponto importante a ser mencionado: ao incorporar os serviços de assistência social à
RAS, há uma melhora do fluxo de atendimento, visto que o encaminhamento do idoso ao
setor social passa a ser orientado e condizente com as ações de promoção e prevenção.
Assim, o cuidado organizado ao idoso permite traçar planos de assistência adequados, que
visam à organização e à articulação dos diferentes serviços e níveis de atenção para garantir o
acesso ao cuidado e à proteção do idoso.
4. SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO DO FLUXO DE ATENDIMENTO
(REFERÊNCIA E CONTRARREFERÊNCIA)
Como dito anteriormente, a função de regulação da assistência prestada pelas RASs é dever
dos Centros de Comunicação, sendo, portanto, os movimentos de referências de
responsabilidade desses centros.
De acordo com Silva (2010), os modelos de referência e contrarreferência se caracterizam por
mecanismos articulados de fluxos para encaminhamento dos usuários do setor de saúde
conforme o nível de assistência necessário no presente momento.
Para Mendes (2011), esse modelo seria constituído pela necessidade de consulta de uma
especialidade para obtenção de um diagnóstico ou tratamento mais preciso para a condição de
doença apresentada pelo indivíduo.
De acordo com o autor citado, o médico da APS referenciaria seu paciente ao especialista
quando houvesse dificuldade em realizar um diagnóstico, metas de tratamento não atingidas e
necessidade de tratamentos especializados, sendo necessário, para isso, descrever a razão do
encaminhamento, os questionamentos que não conseguiu resolver, os procedimentos
utilizados (exames, medicamentos e tratamentos prescritos), os resultados obtidos e qual a
conduta esperada pelo especialista.
Após a consulta especializada, essa deveria contrarreferenciar o paciente ao setor de origem,
descrevendo as condutas e os resultados obtidos, as respostas aos questionamentos elencados
anteriormente, as recomendações necessárias frente ao problema de saúde e as circunstâncias
e o tempo de retorno ao setor especializado (MENDES, 2011).
Tal modelo auxiliaria na melhora da atenção à saúde, devido à redução de gastos e de recursos
desnecessários, porém, na prática, essa integração não é verificada.
Para Alencar, Pereira e Ramos (2012), a dificuldade em realizar ativamente essa integralidade
da assistência deve-se ao modelo hegemônico, fragmentado, hierarquizado, individualizado e
superespecializado desenvolvido anteriormente na saúde brasileira. É, portanto, urgente a
reorganização das práticas em saúde para que as equipes possam coordenar o cuidado nas
RAS.
Segundo a PNAB (2011), os profissionais que integram as RAS devem ser tecnicamente
competentes, possuindo capacidade de analisar, intervir e ter autonomia para estabelecer
práticas transformadoras, além de gerir mudanças e estreitar os elos entre concepção e
execução do trabalho.
5. EQUIPES MULTIDISCIPLINARES E SUA ATUAÇÃO JUNTO AO IDOSO
Após a explanação anterior, referente ao tipo de assistência à saúde e social organizados por
meio das Redes de Apoio à Saúde (RASs) e a importância da Atenção Primária a Saúde
(APS) nessa nova organização, fica evidente a necessidade de se constituir uma equipe coesa,
com integrantes que se relacionem entre si independentemente do nível de assistência a ser
prestado. Mas, para compreender de forma efetiva como seria esse trabalho comum, faz-se
necessário primeiramente definir alguns conceitos relacionados às principais práticas de
assistência em equipe.
A primeira refere-se às práticas multidisciplinares, que consistem em diferentes profissionais
de saúde atuando em um mesmo espaço, porém sem relação entre eles. Ou seja, seria a
existência de diferentes áreas e especialidades de saúde em um mesmo espaço físico, porém
sem qualquer discussão ou objetivo em comum, caracterizando um trabalho individualizado.
A segunda prática seria a pluridisciplinar, caracterizada pela presença de diferentes
profissionais e especialidades trabalhando em um mesmo recinto, sem objetivos em comum,
apesar de realizarem diálogos e discussões entre si e sobre o caso determinado. Porém,
novamente não há uma intersecção entre as áreas.
A terceira prática é a pluriauxiliar, em que se verifica a presença de diferentes áreas e
especialidades, as quais são comandadas por uma delas, estando as demais exercendo papel
coadjuvante no tratamento.
A quarta forma de assistência é a prática interdisciplinar, que consiste no encontro de
diferentes profissionais de saúde com um único objeto ou objetivo em comum. Essa forma de
assistência é horizontalizada, permitindo trocas, interação, reciprocidade de conhecimento,
informações para a construção conjunta de estratégias e enriquecimento mútuo dos
envolvidos.
A última prática configura-se pela transdisciplinaridade, na qual há o encontro de disciplinas
com a perspectiva de construir uma prática de assistência comum e capaz de romper
fronteiras.
Em se tratando da assistência à saúde do idoso, Moraes (2012) afirma que o plano de cuidado
deve ser estruturado por uma equipe capaz de trabalhar de forma interdisciplinar, tendo em
vista o cuidado baseado em evidências e centrado no paciente. Sendo assim, as decisões
clínicas consideram as evidências científicas disponíveis e aplicáveis ao caso, sem esquecer
preferências, necessidades, desejos e valores do idoso e de sua família.
A Figura 6 descreve o tipo de assistência à saúde do idoso nomeado como Cuidado Guiado
(Guided Care), que busca traçar seu plano de cuidado levando em conta a interação dos
diferentes setores de saúde para permitir sua integração e uma assistência adequada ao idoso,
à família e à sociedade de forma eficiente.
Fonte: adaptado de Moraes (2012). Figura 6 Modelo de Guided Care.
Portanto, ao se falar na saúde da pessoa idosa, verificasse a necessidade de uma assistência
que dialogue entre seus diferentes níveis e entre os diferentes profissionais de saúde, sendo o
gerontólogo um dos integrantes desse diálogo, pois apresenta conhecimentos sobre o processo
de envelhecimento, o que auxilia no desenvolvimento de pesquisas e na administração dos
serviços de saúde e prevenção de doenças, devido à sua formação generalista e integrada à
velhice como categoria etária e social.
Sendo assim, são os profissionais que irão articular e auxiliar na formação das RASs, devido à
sua visão abrangente do envelhecimento, que não é centrado apenas no contexto da saúde ou
do social.
E o seu trabalho em conjunto com os demais profissionais da saúde ou da assistência social
irá auxiliar a traçar as estratégias dos planos de cuidados elaborados em cima das demandas
apresentadas e verificadas no idoso após a avaliação geriátrica multidimensional.
CONSIDERAÇÕES
Você já consegue entender de que diferentes formas o setor de saúde se organizou ao longo
dos anos e a necessidade dessa nova reestruturação.
QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
1) Julgue a afirmativa a seguir, referente ao conceito de Redes de Atenção à Saúde,
como verdadeira (V) ou falsa (F) e justifique-a.
( ) De acordo com a portaria GM nº 4.279, de 30 de dezembro de 2010, as Redes de
Atenção à saúde constituem-se como diferentes arranjos organizativos de ações e
serviços de saúde, que por meio de um sistema de simples apoio busca garantir o
cuidado à saúde.
Resposta:1) Falsa, visto que a Rede de Atenção à Saúde é composta pela integração de
sistemas complexos que envolvem apoio técnico, logístico e de gestão.
2) Julgue a afirmativa a seguir, referente ao conceito de Redes de Atenção à Saúde,
como verdadeira (V) ou falsa (F) e justifique-a.
( ) Uma das seis características importantes que podem caracterizar as RAS é a
composição multiprofissional da equipe, que deve agir de forma interdisciplinar para
garantir o compartilhamento e a corresponsabilização da prática de saúde entre os
membros da equipe.
Resposta: 2) Verdadeira. As seis características das RASs são: formar relações
horizontais entre diferentes pontos de atenção; ter a atenção primária como centro
comunicador; definição, planejamento e execução de ações com base nas necessidades da
população assistida; ofertar atenção contínua e integral; cuidado multiprofissional;
alinhar objetivos e resultados a serem alcançados, considerando aspectos sanitários e
econômicos.
3) Julgue a afirmativa a seguir, referente ao conceito de Redes de Atenção à Saúde,
como verdadeira (V) ou falsa (F) e justifique-a.
( ) O acesso, a suficiência e a qualidade são alguns fundamentos das Redes de Atenção à
Saúde e estão relacionados à prestação dos serviços de saúde em qualidade, de fácil
acesso e em quantidade suficiente. Têm como objetivo proporcionar o adequado manejo
das condições de saúde identificadas em nível local.
Resposta: 3) Verdadeira, visto que os fundamentos das RASs são: acesso, suficiência,
qualidade, economia de escala, disponibilidade de recursos, integração vertical e
horizontal, processo de substituição, região de abrangência e níveis de atenção.
UNIDADE 4
ENVELHECIMENTO ATIVO, CAPACIDADE FUNCIONAL, QUALIDADE DE
VIDA E CUIDADOS PALIATIVOS AO IDOSO.
Objetivos
• Conhecer os conceitos de envelhecimento ativo, capacidade funcional e qualidade de vida e
discuti-los sob a perspectiva da promoção de saúde.
• Compreender os principais instrumentos de avaliação utilizados como rastreio das condições
funcionais do idoso.
• Entender os conceitos envolvidos no contexto dos cuidados paliativos.
Conteúdos
• Conceituação de envelhecimento ativo, capacidade funcional e qualidade de vida.
• Instrumentos de avaliação utilizados para rastreio das condições funcionais do idoso.
• Conceituação de cuidados paliativos.
1. INTRODUÇÃO
Iniciaremos agora a conceituação e a discussão de alguns termos essenciais para a
Gerontologia, os conceitos de envelhecimento ativo, capacidade funcional e qualidade de
vida, os quais serão utilizados durante toda a prática do gerontólogo para compreender,
formular e colocar em prática as ações de saúde voltadas para a população idosa.
Além disso, serão estudados e discutidos alguns instrumentos de avaliação utilizados para o
rastreio das condições de saúde dos idosos, realizado com base na funcionalidade do
indivíduo.
Por fim, será abordado o contexto dos cuidados paliativos, uma área de atuação que vem
ganhando espaço na discussão dos temas em saúde devido às mudanças no perfil
epidemiológico.
2. ENVELHECIMENTO ATIVO
Como já apresentado na Unidade 1, à terminologia envelhecimento ativo refere-se à
compreensão do processo de envelhecimento sob a ótica do idoso como ser social e
participativo nas decisões relacionadas à sua saúde e segurança.
Segundo a OMS (2005), em sua obra Envelhecimento ativo: uma política de saúde, a
terminologia é utilizada para otimizar oportunidade de saúde, participação e segurança aos
idosos por meio da melhora da qualidade de vida durante todo o processo de envelhecimento.
Segundo a organização, o envelhecimento ativo trata-se de:
[...] reconhecimento dos direitos humanos das pessoas mais velhas e dos princípios de
independência, participação, dignidade, assistência e autorrealização estabelecidos pela
Organização das Nações Unidas (OMS, 2005, p. 14).
Dessa forma, o envelhecimento ativo aborda conceitos importantes como autonomia,
independência, qualidade de vida e expectativa de vida saudável, sendo esses definidos como:
• Autonomia: habilidade de controlar, lidar e tomar decisões pessoais sobre como se deve
viver diariamente, de acordo com suas próprias regras e preferências.
• Independência: habilidade de executar funções relacionadas à vida diária.
• Qualidade de vida: é a percepção do indivíduo frente à sua posição na vida, tomando como
base o contexto de sua cultura e do sistema de valores, e em relação a seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações.
• Expectativa de vida saudável: sinônimo de “expectativa de vida sem incapacidades físicas”,
ou seja, refere-se ao tempo de vida que o indivíduo espera viver sem limitações ou cuidados
especiais.
Portanto, o objetivo do envelhecimento ativo é:
[...] aumentar a expectativa de uma vida saudável através da qualidade de vida para todas as
pessoas que estão envelhecendo, inclusive as que são frágeis, fisicamente incapacitadas e que
requerem cuidados (OMS, 2005, p. 13).
Para isso, é necessário compreender os fatores determinantes (Figura 1) que influenciam
diretamente no envelhecimento ativo para, só assim, conseguir formular políticas e programas
voltados a essa população.
Para avaliação das questões referentes à alimentação e nutrição, utiliza-se o Índice de Massa
Corporal, que é calculado por meio da fórmula a seguir. Veja a Figura 3.
Para que tanto o hospital quanto o domicílio se tornem um ambiente adequado para a
assistência ao paciente em cuidado paliativo, é importante que os serviços de saúde discutam
e elaborem uma rede integrada de assistência, a fim de facilitar a comunicação entre os
diferentes setores e profissionais.
A ANCP (2009) apresenta um modelo de rede de assistência justificando que:
[...] o fluxo de pacientes para internação numa unidade de Cuidados Paliativos, as
necessidades de investigação diagnóstica e o seguimento do doente durante sua estadia no
domicílio devem ser parte de uma rede integrada e muito bem articulada, de modo a oferecer
segurança ao doente e a sua família em todas as etapas do adoecimento e no respeito às
decisões previamente acordadas para o final da vida (ANCP, 2009, p.74).
Observe o modelo de rede de assistência em cuidados paliativos proposto pela ANCP (2009)
na Figura 4.
Fonte: ANCP (2009, p. 75). Figura 4 Modelo de Rede de Assistência em Cuidados Paliativos.
A academia ainda afirma que, na rede de cuidados paliativos, o:
[...] fluxo de pacientes em sistema de referência e contrarreferência deve ser claro e objetivo:
quem encaminha, quais os critérios de admissão, qual o propósito da internação e para onde
será encaminhado o paciente após a alta hospitalar (atendimento domiciliar, ambulatório ou
hospedaria de Cuidados Paliativos) (ANCP, 2009, p.74).
Para que haja esse fluxo, cada serviço de saúde envolvido nessa rede terá um objetivo claro no
atendimento dos pacientes, sendo:
• Unidade de internação: consiste em uma enfermaria de um hospital geral, secundário ou
terciário, que tenha leitos próprios e com equipe mínima e especializada em cuidados
paliativos, que será composta por médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, psicólogo,
assistente social, capelão. Outros profissionais também podem integrar essa equipe. Um
exemplo de estrutura é a ala de cuidados paliativos do Hospital do Servidos Público Estadual
de São Paulo (HSPE/SP).
• Unidades externas: são os chamados hospices, que são unidades de saúde com complexidade
mediana, aptas a responder a intercorrências e necessidades mais complexas do indivíduo.
Diferenciam-se da unidade de internação devido à presença de atividades diversas e à
convivência (pacientes, familiares, profissionais de saúde e amigos), à flexibilidade e à
atuação contínua de equipes multiprofissionais. Dois exemplos de hospedarias são: a unidade
do Hospital do Câncer IV do Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Rio de Janeiro, e a
Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital do Câncer de Barretos (Hospital São Judas
Tadeu).
• Hospedaria: destina-se a pacientes com quadro clínico mais estável, que apresentam
dependência e que poderiam permanecer no domicílio, mas não conseguem devido à falta de
cuidador habilitado, à distância do centro de tratamento paliativista ou à alta dependência de
cuidado.
• Ambulatórios: unidades de atendimento externo em que são realizadas consultas com
especialistas, para promover um excelente controle de sintomas, comunicação adequada,
informações sobre a evolução da patologia, perspectivas de tratamento e elaboração de
perda/luto/morte.
• Atendimento domiciliar: atendimento que busca monitorar os sintomas e aplicar planos de
cuidados previamente estabelecidos. Para isso, são realizadas visitas dos profissionais de
saúde (médico ou enfermeiro), que avaliam e referenciam o paciente em caso de
complicações. Um exemplo é o Programa de Internação Domiciliar Interdisciplinar de Pelotas
(RS).
Porém, independentemente do tipo de cuidado requerido pelo paciente e sua família, os
profissionais devem estar atentos às condições de saúde de todos os envolvidos, uma vez que,
ao lidar com a morte, alterações emocionais e espirituais também são vivenciadas, decorrentes
muitas vezes do processo de antecipação do luto. Tal termo refere-se à reação que precede a
perda, que ocorre antes da morte física, gerando sentimentos como ambivalência de emoções
na família e no paciente.
De acordo com Kovács (2010), o luto refere-se ao conjunto de reações diante de uma perda,
sendo descritas por Elizabeth Kübler Ross (1969) e dividido em cinco fases: negação, raiva,
barganha, depressão e aceitação.
• Negação: caracteriza-se pela negação do paciente e familiares da condição de saúde, sendo
comuns reações de isolamento social. Exemplo de discurso: “Não pode ser comigo!”.
• Raiva: sentimento de revolta, ressentimento, inveja e hostilidade frente à vida e às pessoas
que o cercam. Exemplo de discurso: “Por que eu?”.
• Barganha: possibilidade de entrar em acordo para evitar ou adiar o desfecho inevitável. Fase
das promessas e trocas buscando melhora ou mais dias de vida. Exemplo de discurso: “De
agora em diante, farei um trato”.
• Depressão: fase em que não há mais como negar a doença, a barganha não aconteceu e o
inevitável está por vir. Caracteriza-se pelo sentimento de perda (do corpo, das finanças, da
família, do emprego, da capacidade de realizar certas atividades profissionais e pessoais).
Exemplo de discurso: “Não tem mais jeito! ”.
• Aceitação: concordar com a realidade vivenciada, porém não mais com sentimentos de
desespero ou de entrega. Há o reconhecimento da finitude, da busca pela qualidade de vida
nos dias que restam e pelo sentimento de cumprimento de metas e perdão. Exemplo de
discurso: “Já estou pronto para partir! ”.
Sendo assim, fica evidente a necessidade de suporte/apoio a todos os indivíduos envolvidos
no processo de cuidados paliativos (paciente, família e profissionais de saúde), uma vez que
todos, ao vivenciarem a finitude do outro, se deparam com a sua própria.
CONSIDERAÇÕES
Você foi conduzido ao estudo do processo de envelhecimento passando pela trajetória
histórica (conceitos, teorias e transformações fisiológicas decorrentes do desenvolvimento
humano), transformações sociais e políticas decorrentes da transição demográfica e
epidemiológica, condições para o envelhecimento ativo e bem-sucedido até culminar com a
finitude humana e a busca pelo cuidado no fim de vida.
QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
1) Na comunicação de más notícias, salienta-se a importância de resgatar inicialmente o
sentido da comunicação, suas interfaces e sua complexidade. Diante desses princípios,
assinale a alternativa correta.
a) Limite um tempo para que possa conversar com os familiares e com o paciente.
b) Manter uma atitude hierárquica. Afinal, o profissional detém o saber.
c) Mantenha a calma e tente atenuar a situação com frases do tipo “é a vida”, “todos temos de
morrer”.
d) Acompanhar e apoiar a pessoa e/ou família na tomada de decisões.
e) Encaminhar para recursos da comunidade; apoio espiritual deve ser desencorajado.
2) Segundo a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (2012), foram estabelecidos
alguns critérios de recomendação para cuidados paliativos, considerando a possibilidade
de indicação para aqueles pacientes que esgotaram todas as possibilidades de
tratamento de manutenção ou prolongamento da vida. Assinale a alternativa que deve
considerar os cuidados paliativos.
a) Paciente candidato à terapia curativa.
b) Internação prolongada em UTI.
c) Níveis aceitáveis de dor por mais de 24 horas.
d) Sintomas bem controlados como náuseas e vômitos.
e) Pacientes com apenas uma admissão hospitalar pelo mesmo diagnóstico nos últimos 60
dias.
3) (UnB/CESPE) Acerca da filosofia e dos princípios que embasam os cuidados
paliativos, julgue os próximos itens.
I - O cuidado paliativo deve ser iniciado de forma precoce junto a outras medidas de
prolongamento de vida, como quimioterapia e radioterapia, e incluir todas as investigações
necessárias para compreensão e manejo de sintomas.
II - Considera-se ação paliativa qualquer medida terapêutica, sem intenção curativa, que vise
diminuir as repercussões negativas da doença sobre o bem-estar do paciente.
III - A assistência multiprofissional em cuidados paliativos inclui ações que interferem nas
dimensões física, psicossocial e espiritual do paciente e de sua família, estendendo-se ao
período de luto familiar após a morte desse paciente.
IV - No conceito de dor total, introduzido por Cecily Saunders, as dimensões física, mental,
social e espiritual são indissociáveis e devem ser consideradas no manejo e controle da dor em
cuidados paliativos.
V - O plano de cuidados assistenciais não deve incluir prescrição de ações relativas à família
do paciente em cuidados paliativos.
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas I está correta.
b) Apenas II, III e IV estão corretas.
c) Apenas III e V estão corretas.
d) Apenas V está incorreta.
e) Apenas I, II e IV estão incorretas.