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Argumentum

E-ISSN: 2176-9575
revistaargumentum@yahoo.com.br
Universidade Federal do Espírito Santo
Brasil

de Paula FALEIROS, Vicente


Envelhecimento no Brasil do Século XXI: transições e desafios
Argumentum, vol. 6, núm. 1, enero-junio, 2014, pp. 6-21
Universidade Federal do Espírito Santo
Vitória, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=475547142002

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DEBATE

Envelhecimento no Brasil do Século XXI: transições e desafios

Vicente de Paula FALEIROS1

uando se coloca em discussão o concreto é concreto por ser a síntese

Q as categorias “velhice, envelhe- de múltiplas determinações” (MARX,


cimento, longevidade”, o que 1983, p.218).
querem dizer? Bourdieu (1998-
2002) afirmou que a “juventude Ao se falar em velhice é preciso olhar a
é apenas uma palavra” ao voltar-se complexidade desse campo e suas
para a produção dos conceitos e signi- múltiplas determinações nas relações
ficações. Diz Bourdieu (2005, p. 15) que com a demografia, com as perdas bio-
“[...] compreender, é em primeiro lu- lógicas, de funcionalidade, e sociais, no
gar, compreender o campo em nos fi- processo de trabalho, de trocas em di-
zemos e contra o qual nos fizemos”, ou versos âmbitos (família, amigos, gera-
seja é preciso olhar o contexto e as for- ções, cultura), e de estilos de vida.
ças contraditórias com suas estratégias.
Como assinala Marx (1983), é preciso O envelhecimento implica deterioro ou
olhar para a produção dos indivíduos diminuição da capacidade funcional,
em sociedade, superando a compreen- mas inseridos num contexto de traba-
são isolada ou abstrata dos fenômenos lho/aposentadoria, político, cultural,
ao pensá-los concretamente, pois “[...] social, familiar e de percepção de si e
do mundo.
1 Graduado Direito e Serviço Social. Doutorado
(PhD) pela Université de Montreal (1984) e A dinâmica social do envelhecimento,
pós-doutrados pela Escola de Altos Estudos neste texto, está situada no contexto de
em Ciências Sociais (EHESS, Paris, França, mudanças por que passa a sociedade,
1991) e Université de Montréal (1996, Canadá). mas buscando entender que essas mu-
Especialista em Gerontologia pela Sociedade
danças não são lineares, mas expres-
Brasileira de Geriatria e Gentologia (SBGG).
Professor colaborador da Universidade de sam conflitos nas relações de produ-
Brasília (UnB, Brasil) e professor da Universi- ção, de poder, culturas, grupos. Vamos
dade Católica de Brasília (UCB, Brasil). Autor colocar essas dimensões em seus con-
de artigos publicados em periódicos nacionais flitos, abordando, em primeiro lugar, a
e internacionais e de livros, dentre eles, Estra-
transição demográfica complexa com
tégias em Serviço Social (2013), Globalização,
correlação de forças e Serviço Social (2013) e envelhecimento acentuado das faixas
Saber profissional e poder institucional, todos de mais idade; em segundo lugar a
publicados pela Editora Cortez. E-mail:< vicen- condição econômica, o trabalho e a
tefaleiros@terra.com.br>. aposentadoria como determinação es-
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Vicente de Paula FALEIROS

truturante, seguida de uma discussão O envelhecimento implica, ao mesmo


da dimensão político-jurídica na garan- tempo, o desenvolvimento pessoal e a
tia de direitos e de proteção social; em garantia das condições de vida, da pro-
quarto lugar tratamos da transição teção social, da saúde, dos serviços e
epidemiológica e na educação; final- de um ambiente propício e favorável a
mente, abordamos a transição nas rela- ele, conforme preconiza o Plano de
ções sociais e familiares, incluindo a Ação Internacional para o Envelheci-
discussão do maior número de casais mento (ORGANIZAÇÃO DAS NA-
sem filhos, rearranjo da família, maior ÇÕES UNIDAS, 2003).
número de idosos vivendo sozinhos,
novos papeis para os idosos e constru- Nesse sentido, processa-se uma des-
ção do da categoria de envelhecimento construção das categorias “velhice,
ativo. Não tratamos da transição para a envelhecimento, longevidade” como
morte, que faz parte da finitude da vi- categorias homogêneas, considerando-
da em qualquer idade, mas que tam- se a desigualdade, a heterogeneidade e
bém tem sua especificidade no morrer a diversidade social, cultural, biológica
idoso e frágil. e psicológica.

As cinco dimensões abordadas são Apesar de o capitalismo contemporâ-


fundamentais para se entender o enve- neo colocar seu fundamento na produ-
lhecimento na sociedade contemporâ- tividade e na competitividade do mer-
nea, com o postulado de que estrutura cado e nos mecanismos financeiros de
econômica e superestrutura política, acesso ao consumo e ao financiamento
articulada à organização e mobilização e controle do crédito, a longevidade
da sociedade estão em movimento in- tornou-se uma conquista social e um
terativo na dialética das relações estru- projeto do imaginário da modernida-
tura/superestrutura (GRAMSCI, 1980). de. Ao mesmo tempo, trouxe à tona a
Faleiros (2010) assinala a importância questão da finitude da vida, com a dis-
de se analisar a estrutura e as forças cussão da eutanásia e dos cuidados
sociais. paliativos. A qualidade de vida passou
a ser considerada não só como condi-
Na visão gerontológica crítica a velhi- ção social, mas como condição de au-
ce é entendida, não como fase terminal tonomia e como satisfação e proteção
da vida, ou com o segmento isolado, social. A seguir, a discussão da transi-
mas como um processo e resultado da ção demográfica nas condições dadas
vida individual e social e de suas desi- na contemporaneidade n o Brasil.
gualdades nas relações e práticas estru-
turadas no processo de correlação de A transição demográfica
forças.
A transição demográfica brasileira, a
partir da segunda metade do Século

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Envelhecimento no Brasil do Século XXI

XX e primeira década do século XXI, A transição demográfica, ao mesmo


chama a atenção por um lado, pela di- tempo, que é efeito de determinações
minuição da taxa de fecundidade, que complexas como da economia, da polí-
se tem mostrado acelerada e, por ou- tica e da cultura, provoca e exige mu-
tro, pelo aumento da proporção de danças na economia, na política e na
idosos. Segundo dados de 2011 do IB- cultura. Assim, por exemplo, na rela-
GE (IBGE 2012) a taxa de fecundidade ção cuidadores/cuidados, na relação
total, que mede o número médio de intra e intergeracional, na provisão de
filhos nascidos vivos que uma mulher equipamentos públicos (cre-
teria ao fim de seu período reproduti- ches/abrigos), na aposentadoria, na
vo era de 1,95 filho por mulher, o que contratação de mão de obra, dentre
se relaciona com a escolaridade, a ur- outras questões. Há uma expressão
banização e a inserção da mulher no pública de que os países centrais se
mercado de trabalho. desenvolveram antes de envelhecerem,
esquecendo-se de que houve forte mi-
Por sua vez, é também acelerado o gração desses países e expropriação de
aumento da população idosa. Em 2011 riquezas da periferia.
havia 23, 5 milhões de pessoas com 60
anos ou mais, passando de 9,0% em O chamado ônus demográfico (velhi-
2001 para 12,1% em 2011, aumento de ce), em oposição ao bônus demográfico
34,4%. É de se ressaltar que o grupo (mão de obra jovem) traduz uma visão
com 80 anos ou mais chegou, em 2011, de que o envelhecimento populacional
a 1,7% da população, com aproxima- é um peso econômico, obliterando-se
damente 3.319.000 de pessoas. sua contribuição na produção e repro-
dução da sociedade no passado e no
No total da população idosa, 55,7% são presente (consumo, trabalho, cultura,
mulheres, 84,1% vivem nas cidades, cuidado aos netos, dentre outros). Em
sendo pessoa de referência em 63,7% algumas sociedades (BEAUVOIR,
dos domicílios (IBGE, 2012). A expecta- 1990), por exemplo nômades ou de
tiva de vida do brasileiro segundo o recursos escassos, os chamados “im-
IDHM de 2013 é de 73, 4 anos e aos 60 produtivos” (denominação atualizada
anos é de 19 anos para o homem e de para “inativos”) podem ser considera-
22 anos para a mulher. dos imprestáveis ou inúteis. No entan-
to em várias outras culturas os velhos
Em síntese, a população brasileira não representam a sabedoria da sociedade,
é mais considerada uma população de o conhecimento acumulado, como as-
jovens, aproximando-se do perfil po- sinala Simonns (1970, p. 242) ao relatar
pulacional de países europeus, que as últimas palavras de um chefe idoso
levaram muito mais tempo para se samoano à beira da morte ao filho:
chegar a ele. “[...] receba a sucessão de meu ofício

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com toda a sabedoria necessária a seu do seguro social, tendo caráter contri-
cumprimento”. butivo. Dos 76,8% dos idosos que re-
cebiam benefícios da previdência soci-
Saliente-se que a sabedoria dos ofícios al, 59,7% são de aposentados, 9,9% de
era acumulada e transmitida, o que pensionistas e 7,2% de aposentados e
muda na sociedade contemporânea pensionistas. Pensionistas recebem
que acumula conhecimentos informa- benefícios decorrentes da morte do
tizados, mas com invisibilida- segurado.
des/visibilidades diferentes, conforme
as gerações e formações que podem Sendo contributiva, a aposentadoria
questioná-los, pois há vários modos de implica descontos do salário dos traba-
ser no mundo. lhadores e contribuições patronais. O
Benefício de Prestação Continuada,
Do trabalho à aposentadoria/pensão: estabelecido pela Lei Orgânica da As-
a persistência das desigualdades sistência Social de 1993, não é contribu-
tivo e atende a maiores de 65 anos com
A geração atual de idosos pode inserir- um renda per capita familiar menor de
se em programas de proteção social ¼ do salário mínimo vigente. Em 2012,
num processo de conquista do direito à havia 1.750.000 idosos beneficiários do
aposentadoria ao longo do Século XX, BPC, com um gasto de R$12.805.000.
culminando com a Constituição de Segundo dados de Silva (2012) a por-
1988 que assegurou esse benefício, in- centagem de concessão desse benefício
clusive às trabalhadoras e trabalhado- em relação ao requerimento teve uma
res rurais (FALEIROS, 2008). média de 84,80% no período de 2004 a
2009. Segundo dados copilados por
Segundo dados do IPEA (2014) a pro- essa autora (SILVA, 2012 p. 379)
porção de pessoas com mais de 65 anos 19,86% dos benefícios do BPC foram
na extrema pobreza caiu de 8% em concedidos a pessoas que tiveram al-
1990 para 0,7% em 2012, mas a maioria gum vínculo coma previdência social,
relativa desse segmento (49%) continua mas não puderam dar continuidade à
com ganhos de até um salário mínimo contribuição, evidenciando a precarie-
e 72,4% têm ganhos de até dois salários dade do trabalho.
mínimos. A grande maioria (76,8%)
recebe algum benefício da previdência Trata-se de uma transferência de renda
social, mas aproximadamente um de base para a camada mais pobre da
quarto dos idosos reside em domicílios população idosa, mas que permite co-
com rendimento mensal per capita in- locar-se no patamar mínimo de quem
ferior a 1 salário mínimo. está no mercado ou como beneficiário
da previdência social. O BPC é o único
A aposentadoria é estruturada pelo piso de transferência de renda equiva-
trabalho ao longo da vida e faz parte lente ao salário mínimo, mas alcança as

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famílias que ganham até um quarto do mais o que correspondia 68,32% do


mesmo. total. Pouco mais da metade dos bene-
ficiários tem 65 anos ou mais, e um
A aposentadoria por idade reflete tam- dos fatores pelos quais há uma concen-
bém a precarização do trabalho, que tração elevada na faixa de 60 a 69 anos
exige dos trabalhadores grande rotati- decorre do fato de o maior estoque de
vidade, incluindo o exercício do traba- benefícios ser de aposentadorias por
lho informal para sobreviver. No início idade, que são concedidas aos traba-
do século XXI havia aproximadamente lhadores urbanos com, pelo menos, 15
40% de trabalhadores na informalida- anos de contribuição, aos 60 anos de
de, o que também dificulta ou impede, idade, para mulheres, e 65 anos, para
inclusive pela baixa remuneração, a homens.
contribuição. A aposentadoria por ida-
de só é alcançada por idosos com 65 Para os trabalhadores rurais, aos 55
anos de idade e por idosas com 60 anos anos (mulheres) e aos 60 anos (ho-
e 15 anos de contribuição. Em 2009 mens). Havia 8.808.969 benefícios por
(SILVA, 2012) havia 59,9 % de traba- idade. Os beneficiários com 65 anos ou
lhadores com carteira assinada do total mais constituem mais da metade desse
de empregados no trabalho principal. estoque. As aposentadorias por tempo
de contribuição concedidas alcançam a
No trabalho rural a obtenção de renda cifra de 4.4354.366 e as pensões por
monetária é também precária. Segundo morte 6.486,282, sendo estas 84,76%
o INSS em 2012, 99,6% dos benefícios delas para mulheres.
concedidos à clientela rural apresenta-
vam valor de até um piso previdenciá- A conquista da aposentadoria é um
rio, enquanto que os benefícios da cli- processo de lutas, mas sua concessão
entela urbana dessa faixa corresponde- reflete as condições desiguais de traba-
ram a 41,5% do total. Observa-se que lho, com o mostram os dados acima
98,3% dos benefícios urbanos estavam dos Regime Geral da Previdência Soci-
contidos na faixa que atinge até cinco al. A menor longevidade dos homens
pisos previdenciários. Cerca de 55,4% está articulada a relações de trabalho e
dos benefícios foram concedidos a pes- estilos de vida, como o abuso de álcool
soas do sexo feminino, sendo que na e presença de riscos. As aposentadori-
clientela urbana esta participação foi as do serviço público (civis e militares)
de 52,2% e na rural 67,7%. têm regras mais generosas, mesmo
com o FUNPRESP, mas que também
Segundo dados do INSS (SILVA, 2014) refletem as relações de trabalho, como
em 2012 havia 23.702.704 benefícios as do Judiciário e do Legislativo.
concedidos, sendo que 16.195.844 o
eram para pessoas com 60 anos ou

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A vida no trabalho, no entanto, conti-


nua para boa parte das pessoas idosas. A tendência da previdência social,
Assim, 27,0 % dos idosos trabalham , expressa nas reformas de 1998 e 2003
sendo 40,2% de homens e 16,6% de (FALEIROS, 2003) e na criação do
mulheres, e 15,4% dos aposentados FUNPRESP é de capitalização,
com 60 anos ou mais continuam traba- reduzindo-se o regime de repartição,
lhando, sendo, nesse caso 23,3% de com favorecimento do capital
homens e 9,1% de mulheres (IBGE financeiro dos fundos de previdência,
2012). inclusive com descontos no Imposto de
Renda. Por sua vez, os funcionários
Quase metade dos idosos (42,4%) não públicos passaram a pagar 11% do
conseguem fechar as despesas do mês, rendimento acima do teto do INSS. A
sem recorrer ao trabalho. Segundo a extinção do fator previdenciário foi
pesquisa SESC/SP – FPA 88% dos en- aprovada pelo Congresso Nacional e
trevistados idosos contribuem para a vetada pelo Executivo.
renda familiar (NÉRI, 2007).
As Reformas da Previdência se inscre-
O crédito consignado representa uma vem num processo de profundas mu-
fonte de renda e um compromisso da danças econômicas no modo de pro-
renda das pessoas idosas. De março de dução capitalista baseado na produti-
2013 a março de 2014 foram efetuadas, vidade, na informática, na terceiriza-
em média 981.135,07 operações de ção, na competividade global contro-
crédito mensais. Segundo dados lada pelas multinacionais e no merca-
disponíveis do INSS (2014) do financeiro, o que tem provocado
terceirização e precarização do traba-
“[…] do total de empréstimos lho, inclusive para pessoas idosas que
concedidos em março de 2014 – se inserem no mercado.
1.046.291, correspondentes a R$ 3,543
bilhões –, 921.484 foram parcelados
entre 49 e 60 meses. A maior parte dos A transição demográfica e a informali-
segurados que realizou operações de dade interferem nos gastos da previ-
crédito em março estava na faixa etária dência em relação ao PIB, de 7,38% em
de 60 a 69 anos: 418.224 pessoas. Em 2010, sendo de 47,% seu peso no gasto
seguida, a faixa com mais contratos
social federal. Nessa perspectiva é
ficou entre 70 e 79 anos, responsável por
264.640 segurados”. fundamental que haja a construção
pública de um pacto social em torno
Além do trabalho, a inserção das do tema, com participação das organi-
pessoas idosas no mercado se faz por zações dos trabalhadores sem que se
meio do financiamento, implicando o afetem os direitos adquiridos. Será que
capitalismo financeiro, com acentuação o ônus de mais encargos ficará para as
do comprometimento da renda dos próximas gerações, aumentando-se,
idosos. por exemplo, a idade de aposentadoria

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e o tempo de contribuição? Essa seria grupos na disputa por reconhecimento


uma mudança paramétrica, mas os legal.
neoliberais insistem sempre no regime
de capitalização. A construção dos direitos da pessoa
idosa (FALEIROS, 2007) implica o mo-
A transição jurídico-política vimento econômico e político de sua
inserção no mercado e nas lutas soci-
A questão sobre a relação entre direitos ais. Foi na Constituição de 1988 que a
e a sociedade capitalista se articula à velhice foi reconhecida não só no âm-
questão de direitos específicos em rela- bito da seguridade social (Artigos 193 a
ção aos direitos universais. A viabili- 203) enquanto previdência, saúde e
dade de um estado social, de direitos assistência, mas como protagonista na
sociais, em uma economia capitalista, sociedade. É importante ressaltar que a
que preconiza o mercado, a competi- seguridade social pressupõe a partici-
ção e o lucro é contraditória na articu- pação da população.
lação do pacto político na correlação de
forças (FALEIROS, 2010a). Essa pro- No Art. 230 da Constituição de 1988
blematização torna-se mais aguda em ressalta-se que a velhice implica digni-
referência à pessoa idosa, considerada dade, a responsabilidade da família, da
no contexto da competitividade e na sociedade e do Estado, e a participa-
ótica dos estereótipos, como improdu- ção, com prioridade para o atendimen-
tiva e sem função econômica. Assim, to domiciliar. No Artigo 229 estabelece
ela não faria parte do mercado, pois a reciprocidade entre pais e filhos.
seu lugar social tem sido construído
como o de pessoa inativa (como são A legislação mais específica quanto aos
classificados os aposentados), fora da direitos dos idosos foi se afirmando.
população economicamente ativa. Além do SUS é preciso ressaltar a Lei
Orgânica da Assistência Social – Lei nº
As reformas da previdência social, co- 8.742, de 07/12/1993 que garante
mo vimos, têm proposto desvincular as benefícios continuados aos idosos com
aposentadorias dos reajustes salariais renda de ¼ de salário mínimo per
dados aos “ativos” e estabelecer regi- capita. Em seguida a Política Nacional
mes de mercado. O estabelecimento do do Idoso – Lei nº 8842, de 04/01/1994,
direito formal dominante, da lei, não que estabelece direitos para os idosos e
reduz, per se, a desigualdade social re- integração das políticas públicas. O
al, visto que a lei não é neutra; ela se Estatuto do Idoso - Lei nº 10.741, de 1
inscreve num processo político de cor- de outubro de 2003 define a velhice
relação de forças, implicando, pois, como direito personalíssimo. A Lei da
uma posição desigual dos indivíduos e Acessibilidade de 2004 estabelece,
dentre outras, que qualquer obra

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pública seja construção, comunicação, lidade com gestão integrada. Delibe-


informação ou transporte só poderá ser rou-se pela criação da Secretaria Naci-
aprovada, se houver acessibilidade onal do Idoso e pela garantia de pro-
para as pessoas com deficiência, ou gramas de prevenção. Além disso
mobilidade reduzida (gestante, idoso, houve a recomendação de ampliar o
etc). acesso à educação e assegurar a parti-
cipação efetiva da pessoa idosa no pla-
É preciso ressaltar a Regulamentação nejamento dos programas sociais na
das Instituições de Longa Permanência defesa dos seus direitos.
pela Resolução 283 da Agência Nacio-
nal de Vigilância Sanitária de A proteção social se coloca como direi-
26/09/2005. to e garantia da longevidade e da dig-
nidade, mas entra em contradição com
Em 2010 foi criado o Fundo Nacional o desmonte neoliberal do Estado de
do Idoso pela Lei 12.213. O Sistema direito. A adequação das instituições à
Único da Assistência Social (SUAS), realidade do envelhecimento está em
com seu sistema operacional melhorou processo muito lento e ainda faltam
a estrutura de atendimento à pessoa condições para a aplicação da legisla-
idosa. Os Conselhos de Direitos da ção.
Pessoa Idosa foram impulsionados pe-
los movimentos sociais e definidos no Essa legislação possibilita a consciência
Estatuto do Idoso, tornaram-se delibe- da cidadania em todas as idades, mas
rativos somente pelo Decreto nº 5.109, precisa ser efetivada no pacto federati-
de 2004, com participação de vários vo e na Intersetorialidade, com traba-
órgãos do Executivo e de representan- lho em redes.
tes da sociedade. O controle social é
fundamental para implementar as polí- Transição na saúde e na educação
ticas, como assinala Giacomin (2013)
num balanço dos 10 anos do Conselho A atenção domiciliar está prevista na
Nacional dos Direitos do Idoso Constituição, na Política Nacional do
(CNDI). Idoso, no Estatuto do Idoso e na Políti-
ca Nacional de Saúde da Pessoa Idosa
As Conferências Nacionais dos Direi- (Portaria GM nº 2.528, de 19 de outu-
tos da Pessoa Idosa (2006, 2009 e 2011) bro de 2006) que estabelece a centrali-
tiveram essas três edições com partici- dade da ação da saúde na promoção
pação de representantes de todo país e do envelhecimento ativo, da capacida-
com recomendações em várias áreas de funcional do idoso, da atenção in-
do processo de envelhecimento. Na tegral, integrada e de qualidade da
última Conferência houve priorização participação social. Essas diretrizes se
na relação com a políticas públicas da embasam na Lei Orgânica da Saúde
necessidade de pactuar a Intersetoria- (Lei 8.080/90) e na Lei 8.142/90 que

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define a participação e o controle soci- conforme pesquisa de 7 cidades de


al. A perda da condição ou capacida- regiões diferentes (NERI et al., 2011,
de para Atividades da Vida Diária p. 213). Na pesquisa do SESC/FPA
(AVD) e para Atividades Independen- (SESC/FPA, 2007), 68% dizem se utili-
tes da Vida Diária (AIVD) implicam zar dos serviços do SUS.
uma interação com a família, com a
rede secundária, com meio ambiente e Existe uma transição epidemiológica
com as políticas públicas, inclusive os configurada por: mais mortes por do-
cuidados ambulatoriais e hospitalares. enças não transmissíveis e causas ex-
A questão da AIDS na velhice, do en- ternas; mais carga de morbimortalida-
velhecimento com deficiência vem se de transferida para os mais idosos e
tornando uma questão de saúde cole- uma predominância de morbidade em
tiva. substituição da predominância da
mortalidade. A estrutura da mortali-
No entanto, essas propostas ainda são dade vem se caracterizando como a de
incipientes com iniciativas municipais uma população envelhecida com pre-
diversas, tanto no sentido de promo- dominância de mortes por doenças do
ver o envelhecimento ativo, como na aparelho circulatório com 34,7% dos
atenção hospitalar (ROSA; BARROSO; óbitos entre homens e 36,8% dos óbi-
LOUVISON, 2013). tos entre mulheres; e neoplasias com
respectivamente 16,1% e 13,5%. Os
A dependência se torna uma questão homens têm uma taxa de sobremorta-
crucial no processo de longevidade, lidade em relação as mulheres vincu-
exigindo cuidados prolongados e ao ladas as condições de vida como alcoo-
mesmo tempo articulados aos cuida- lismo, tabagismo, riscos de envolvi-
dos paliativos. A Estratégia de Saúde mento em homicídios e de acidentes.
da Família ainda não está preparada Os anos vividos com incapacidade
para a devida atenção ao idoso, e a tiveram como principal causa as doen-
articulação da atenção domiciliar com ças neuropsiquiátricas configurando
a institucional não parece nos planos 34% do total de Anos Vividos com In-
nacional, estaduais e municipais. Os capacidade (AVINC). A segunda cau-
asilos ou ILPIs têm um número redu- sa de AVINC foi doenças respiratórias
zido de pessoas idosas, em torno de – 11% e a terceira as doenças muscu-
1% (CAMARANO, 2010), recaindo o loesqueléticas 11% (CHAIMOWICZ,
cuidado sobre a família. Apenas 5,2% 2006). E fundamental considerar a sa-
das instituições são públicas. Uma úde mental e as condições de compor-
parcela dos idosos, aproximadamente tamento e do meio ambiente para se
de 40% dispõe de possibilidades pla- evitar o tabagismo e as quedas.
nos de saúde, sendo que a grande
maioria se utiliza dos serviços do SUS,

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Ao mesmo tempo, os custos da saúde mente 18,14% de idosos tinham 0 de


são maiores na velhice, mas seu impac- consumo de medicamentos e 31,70 %
to é maior no sistema, do que o de ou- consumiam de 4 a mais de 6 medica-
tras faixas etárias, havendo prevalência mentos.
das doenças coronarianas e cardiovas-
culares. Conforme o IBGE (2010) a A saúde é a condição fundamental pa-
maior proporção de queixas de pessoas ra se envelhecer bem, considerando as
com 60 anos ou mais é de hipertensão perda da capacidade funcional, as rela-
(53.3%), seguida de doenças na coluna ções sociais e o suporte das políticas
e nas costas (38,1%), de artrite e reuma- públicas.
tismo (24,2%), de doença do coração O acesso à educação pela atual coorte
(12,3%), de diabetes (16,1%) e decla- de idosos foi extremamente reduzido,
rando-se sem doença (22,6%). pois em 2011 ainda havia a média de
apenas 4,4 anos de estudo na popula-
Apenas 26,5% realizaram atividade ção com 60 anos ou mais, com 32% sem
física regularmente nos últimos doze instrução ou com menos de um ano de
meses sendo 29,5% de homens e 24,5% estudo (IBGE, 2012). Essa porcentagem
de mulheres. 53,3% declararam ter chega a 51,2% no Nordeste. É razoável
pressão alta (SABE-DUARTE, 2005), pensar que a proporção vai diminuir,
31,7% artrite/artrose ou reumatismo, mas a escolaridade dessa população
19,5% problema cardíaco, 17,9% diabe- ainda não tem uma política consisten-
tes, 23,88% (mulheres) osteoporose, te. Sem escolaridade torna-se mais difí-
12,2% doença crônica pulmonar. cil o enfrentamento da vida contempo-
83,8% dos idosos declararam haver rânea, a comunicação e o enfrentamen-
perdido metade ou mais dos dentes to da violência.
(SABE-DUARTE, 2005) e o mini exame
do estado mental indica que uma pre- Transição na família quanto ao
valência de deterioração cognitiva de envelhecimento
6,9% dos idosos (SABE-DUARTE,
2005, p. 147). Existe também uma pro- As mudanças na família brasileira vêm
porção de idosos deficientes de 5,2% ocorrendo de maneira expressiva em
entre 60-64 anos e de 13,1% na faixa de razão da mudança nas condições de
80 anos ou mais (IBGE, 2000). trabalho, principalmente do trabalho
da mulher e da estrutura do mercado,
O acesso a medicamentos é fundamen- acrescentando-se a queda da fecundi-
tal para essa população, o quem tem dade e novos arranjos de convivência,
menor dificuldade com a farmácia po- inclusive com a facilitação do divórcio.
pular, mas nem sempre há disponibili- Na população em geral a proporção de
dade suficiente ou no tempo necessá- casais sem filhos passou de 13,8% em
rio. Em pesquisa de Guariento et al. no 2001 para 18,5% em 2011 (IBGE, 2012) e
âmbito de FIBRA Campinas (2011) so- a proporção de unidades unipessoais

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Envelhecimento no Brasil do Século XXI

de 9,2% para 12,4% no mesmo período, As pessoas idosas com 60 anos ou mais
variando de 8% no Amazonas a 17,1% ainda são pessoas de referência em
no Rio de Janeiro. 64,1% dos domicílios, sendo cônjuge
23,8% e outra condição em 12,1% (IB-
No total, nas famílias de pessoas com GE, 2010).
60 anos ou mais, em 2009 existiam
13,8% de arranjos unipessoais, 23,8% As mudanças na família implicam con-
de casal sem filhos, 10,5% morando flitos de cuidado e de orçamento do
com outras pessoas, sem a presença de conjunto do grupo familiar. Nessas
filhos e 43,2% morando com filhos, relações familiares há um processo de
sendo que este tipo de família é mais construção entre a autonomia como
prevalente no Norte e no Nordeste. valorização da decisão do idoso em
Dados de 2011 mostram que havia 3,4 contradição com a mudança das rela-
milhões de idosos de 60 anos ou mais ções familiares e o locus da família,
de idade (14,4%) vivendo em domicí- principalmente pós-aposentadoria.
lios unipessoais. Assim, a família se apresenta com me-
nos possibilidade de cuidado em con-
Já no total de arranjos unipessoais, na tradição com os papeis sociais de cui-
faixa etária de 60 anos ou mais, havia dador e suas condições com maior
42,3% de arranjo unipessoal segundo a número de idosos cuidando de idosos,
idade da pessoa de referência da famí- trazendo estresse aos cuidadores.
lia, sendo a maior proporção de uni-
dades unipessoais no conjunto deste Por sua vez, a vida mais longa junto à
tipo de arranjo, mostrando que as pes- família e novos papeis a serem exerci-
soas idosas estão em condição de viver dos pelos seus membros implicam
só. maior atenção à fragilidade e à depen-
dência. Com o papel de cuidador im-
A condição do domicilio ainda é precá- plica uma questão de gênero (FALEI-
ria, pois o acesso simultâneo a energia ROS, 2013a) e considerando que a pro-
elétrica e saneamento somente alcan- porção de mulheres sozinhas (em 2003
çam 69,4% dos domicílios deixando de de10,95%) é maior que a de homens
fora 30,6%. Os domicílios urbanos com (em 2003 de 1,94% ) exige-se uma dis-
rendimento mensal domiciliar per ca- cussão da necessidade de suporte fa-
pita de até ½ salario mínimo só alcan- miliar para o cuidado, da sobrecarga
çavam 10,8% na simultaneidade de da mulher e do suporte das políticas
iluminação elétrica, computador, TV públicas, hoje muito limitadas no
em cores e maquina de lavar (IBGE, atendimento domiciliar.
2012).

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Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.1, p. 6-21, jan./jun. 2014.
Vicente de Paula FALEIROS

Velhice e sociedade previdência social articulou a dupla


segurança: a do trabalhador e a do ca-
A perda da capacidade funcional pre- pitalismo (FALEIROS, 2012 ), com a
cisa estar articulada ao suporte social e constituição de um fundo público.
ao autocuidado, pois as trocas sociais
são fundamentais para assegurar a Por outro lado, novos desafios estão
qualidade de vida na complexidade surgindo diante da política do neolibe-
das relações humanas e das relações ralismo, da transição demográfica, do
sociais nas condições objetivas em que aumento da longevidade, da incidência
se envelhece. A velhice se apresenta, se de doenças degenerativas e da mudan-
representa e se estrutura nas determi- ça na família.
nações da economia internacional e
nacional, pelo enfrentamento de inte- Hoje não vivemos somente novas fron-
resses e articulação das dominações teiras da idade, mas se coloca em ques-
sociopolíticas e pelo marco de proteção tão a sociedade e os mitos sobre a ida-
social existente no pacto legal estabele- de avançada (LEFRANÇOIS, 2004).
cido e efetivado. Essas fronteiras são ao mesmo tempo,
societárias e pessoais, salientando
Numa sociedade de economia rural e Guillemard (2010) que o envelheci-
de subsistência a união familiar era mento traz desafios na relação entre
fundamental para a sobrevivência, pois gerações, na repartição dos tempos
pressupunha a produção centralizada sociais, na formulação de políticas pú-
em torno de um chefe que determinava blicas, na dinâmica do envelhecimento
seu processo e resultado, tendo conso- demográfico e no sentido que a velhice
lidação de seu poder pela idade. Numa tem para as pessoas.
sociedade industrial o modo de produ-
ção está centrado num processo de tra- A violência contra a pessoa idosa tem
balho voltado para o mercado e não uma expressão estrutural nas condi-
para a subsistência, sendo que a inser- ções de vida e na discriminação uma
ção no trabalho assalariado tornou-se o expressão intrafamiliar com violência
crivo incontornável para a vida da psicológica, violência financeira, vio-
maioria “forçada livremente” na ex- lência física, cada uma com aproxima-
pressão de diz Marx, a vender sua for- damente 30% de incidência. Faleiros
ça de trabalho. (2007), em ampla pesquisa nas 27 capi-
tais brasileiras constatou que a violên-
A proteção da velhice pobre foi e ainda cia tem uma incidência diferenciada
se coloca como obra filantrópica com o atingindo mais as mulheres ( 60% da
estereótipo do chamado “compassionate vítimas) tendo como agressores filhos e
ageism” que significa tratar a velhice filhas (54%). A prevalência da violên-
com os estigmas do coitado, do pobre- cia contra a pessoa idosa foi indigitada
zinho, do fragilizado e miserável. A na pesquisa SESC/Perseu Abramo

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Envelhecimento no Brasil do Século XXI

(SESC/FPA, 2007) que revelou que 15% transversal na discussão da velhice,


dos idosos de 60 anos ou mais relata- principalmente n o cuidado de netos.
ram ter sofrido violência.
O protagonismo da pessoa idosa im-
Considerações finais plica o fortalecimento das instâncias
participativas na defesa dos direitos da
No contexto neoliberal, de redução do pessoa idosa, pois o envelhecimento e
Estado, é preciso enfrentar a competi- a velhice são uma conquista da huma-
vidade, a financeirização das políticas nidade, necessitando-se desconstruir a
sociais e novos riscos de violência, so- velhice, como categoria social somente
lidão, depressão, isolamento e falta de de perdas ou de doenças (FALEIROS;
suporte social . REBOUÇAS, 2006).

Idosos têm direitos enunciados e defi- Sem suporte social adequado e eficaz o
nidos, mas a violação desses direitos é sujeito que envelhece não dá conta das
um dos principais obstáculos à inser- demandas. Embora na pesquisa de
ção social da pessoa idosa, com desta- Fontes et al, dentro do Projeto FIBRA
que para a discriminação e o precon- Campinas (2011, p.63), 90% dos idosos
ceito. A luta contra a discriminação é digam que têm com quem contar em
fundamental num processo de educa- caso de necessidade, há 10% que não
ção para o envelhecimento e sobre o têm ninguém. Na maioria contam com
envelhecimento e a velhice. É preciso filhos, noras e 20% contam com vizi-
romper o silêncio sobre a velhice e nhos/amigos. A rede pessoal e primá-
abrir espaços na escola, na família, nas ria das pessoas idosas é fundamental
pesquisas e na sociedade para se falar para o cuidado, mas precisa estar arti-
abertamente dessa questão. culada à rede secundária de serviços,
que aliás, precisa funcionar como rede
A feminização da velhice não se reflete compartilhada de responsabilidades.
somente no maior número de mulhe-
res idosas que de homens, mas na Referências
“domesticação” do envelhecimento,
com atividades dentro de casa. Em BEAUVOIR, S. A velhice. Trad. Maria
pesquisa do Estudo FIBRA Campinas Helena Franco Monteiro. Rio de Janei-
com 687 idosos, o maior gasto calórico ro: Nova Fronteira, 1990.
constatado foi em “cozinhar”, a que se
dedicam 74,9% dos participantes da BOURDIEU, Pierre. Esboço para uma
pesquisa, muito acima de caminhada autoanálise. Lisboa: Edições 70, 2005.
(43,8%) ou ginástica em academia, com
18% (NERI et al., 2011, p. 83). Nesse BOURDIEU, Pierre. La “jeunesse”
sentido, o tema de gênero se torna n´est q´un mot”. In: BOURDIEU, Pie-

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