Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
E-ISSN: 2176-9575
revistaargumentum@yahoo.com.br
Universidade Federal do Espírito Santo
Brasil
7
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.1, p. 6-21, jan./jun. 2014.
Envelhecimento no Brasil do Século XXI
8
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.1, p. 6-21, jan./jun. 2014.
Vicente de Paula FALEIROS
com toda a sabedoria necessária a seu do seguro social, tendo caráter contri-
cumprimento”. butivo. Dos 76,8% dos idosos que re-
cebiam benefícios da previdência soci-
Saliente-se que a sabedoria dos ofícios al, 59,7% são de aposentados, 9,9% de
era acumulada e transmitida, o que pensionistas e 7,2% de aposentados e
muda na sociedade contemporânea pensionistas. Pensionistas recebem
que acumula conhecimentos informa- benefícios decorrentes da morte do
tizados, mas com invisibilida- segurado.
des/visibilidades diferentes, conforme
as gerações e formações que podem Sendo contributiva, a aposentadoria
questioná-los, pois há vários modos de implica descontos do salário dos traba-
ser no mundo. lhadores e contribuições patronais. O
Benefício de Prestação Continuada,
Do trabalho à aposentadoria/pensão: estabelecido pela Lei Orgânica da As-
a persistência das desigualdades sistência Social de 1993, não é contribu-
tivo e atende a maiores de 65 anos com
A geração atual de idosos pode inserir- um renda per capita familiar menor de
se em programas de proteção social ¼ do salário mínimo vigente. Em 2012,
num processo de conquista do direito à havia 1.750.000 idosos beneficiários do
aposentadoria ao longo do Século XX, BPC, com um gasto de R$12.805.000.
culminando com a Constituição de Segundo dados de Silva (2012) a por-
1988 que assegurou esse benefício, in- centagem de concessão desse benefício
clusive às trabalhadoras e trabalhado- em relação ao requerimento teve uma
res rurais (FALEIROS, 2008). média de 84,80% no período de 2004 a
2009. Segundo dados copilados por
Segundo dados do IPEA (2014) a pro- essa autora (SILVA, 2012 p. 379)
porção de pessoas com mais de 65 anos 19,86% dos benefícios do BPC foram
na extrema pobreza caiu de 8% em concedidos a pessoas que tiveram al-
1990 para 0,7% em 2012, mas a maioria gum vínculo coma previdência social,
relativa desse segmento (49%) continua mas não puderam dar continuidade à
com ganhos de até um salário mínimo contribuição, evidenciando a precarie-
e 72,4% têm ganhos de até dois salários dade do trabalho.
mínimos. A grande maioria (76,8%)
recebe algum benefício da previdência Trata-se de uma transferência de renda
social, mas aproximadamente um de base para a camada mais pobre da
quarto dos idosos reside em domicílios população idosa, mas que permite co-
com rendimento mensal per capita in- locar-se no patamar mínimo de quem
ferior a 1 salário mínimo. está no mercado ou como beneficiário
da previdência social. O BPC é o único
A aposentadoria é estruturada pelo piso de transferência de renda equiva-
trabalho ao longo da vida e faz parte lente ao salário mínimo, mas alcança as
9
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.1, p. 6-21, jan./jun. 2014.
Envelhecimento no Brasil do Século XXI
10
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.1, p. 6-21, jan./jun. 2014.
Vicente de Paula FALEIROS
11
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.1, p. 6-21, jan./jun. 2014.
Envelhecimento no Brasil do Século XXI
12
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.1, p. 6-21, jan./jun. 2014.
Vicente de Paula FALEIROS
13
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.1, p. 6-21, jan./jun. 2014.
Envelhecimento no Brasil do Século XXI
14
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.1, p. 6-21, jan./jun. 2014.
Vicente de Paula FALEIROS
15
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.1, p. 6-21, jan./jun. 2014.
Envelhecimento no Brasil do Século XXI
de 9,2% para 12,4% no mesmo período, As pessoas idosas com 60 anos ou mais
variando de 8% no Amazonas a 17,1% ainda são pessoas de referência em
no Rio de Janeiro. 64,1% dos domicílios, sendo cônjuge
23,8% e outra condição em 12,1% (IB-
No total, nas famílias de pessoas com GE, 2010).
60 anos ou mais, em 2009 existiam
13,8% de arranjos unipessoais, 23,8% As mudanças na família implicam con-
de casal sem filhos, 10,5% morando flitos de cuidado e de orçamento do
com outras pessoas, sem a presença de conjunto do grupo familiar. Nessas
filhos e 43,2% morando com filhos, relações familiares há um processo de
sendo que este tipo de família é mais construção entre a autonomia como
prevalente no Norte e no Nordeste. valorização da decisão do idoso em
Dados de 2011 mostram que havia 3,4 contradição com a mudança das rela-
milhões de idosos de 60 anos ou mais ções familiares e o locus da família,
de idade (14,4%) vivendo em domicí- principalmente pós-aposentadoria.
lios unipessoais. Assim, a família se apresenta com me-
nos possibilidade de cuidado em con-
Já no total de arranjos unipessoais, na tradição com os papeis sociais de cui-
faixa etária de 60 anos ou mais, havia dador e suas condições com maior
42,3% de arranjo unipessoal segundo a número de idosos cuidando de idosos,
idade da pessoa de referência da famí- trazendo estresse aos cuidadores.
lia, sendo a maior proporção de uni-
dades unipessoais no conjunto deste Por sua vez, a vida mais longa junto à
tipo de arranjo, mostrando que as pes- família e novos papeis a serem exerci-
soas idosas estão em condição de viver dos pelos seus membros implicam
só. maior atenção à fragilidade e à depen-
dência. Com o papel de cuidador im-
A condição do domicilio ainda é precá- plica uma questão de gênero (FALEI-
ria, pois o acesso simultâneo a energia ROS, 2013a) e considerando que a pro-
elétrica e saneamento somente alcan- porção de mulheres sozinhas (em 2003
çam 69,4% dos domicílios deixando de de10,95%) é maior que a de homens
fora 30,6%. Os domicílios urbanos com (em 2003 de 1,94% ) exige-se uma dis-
rendimento mensal domiciliar per ca- cussão da necessidade de suporte fa-
pita de até ½ salario mínimo só alcan- miliar para o cuidado, da sobrecarga
çavam 10,8% na simultaneidade de da mulher e do suporte das políticas
iluminação elétrica, computador, TV públicas, hoje muito limitadas no
em cores e maquina de lavar (IBGE, atendimento domiciliar.
2012).
16
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.1, p. 6-21, jan./jun. 2014.
Vicente de Paula FALEIROS
17
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.1, p. 6-21, jan./jun. 2014.
Envelhecimento no Brasil do Século XXI
Idosos têm direitos enunciados e defi- Sem suporte social adequado e eficaz o
nidos, mas a violação desses direitos é sujeito que envelhece não dá conta das
um dos principais obstáculos à inser- demandas. Embora na pesquisa de
ção social da pessoa idosa, com desta- Fontes et al, dentro do Projeto FIBRA
que para a discriminação e o precon- Campinas (2011, p.63), 90% dos idosos
ceito. A luta contra a discriminação é digam que têm com quem contar em
fundamental num processo de educa- caso de necessidade, há 10% que não
ção para o envelhecimento e sobre o têm ninguém. Na maioria contam com
envelhecimento e a velhice. É preciso filhos, noras e 20% contam com vizi-
romper o silêncio sobre a velhice e nhos/amigos. A rede pessoal e primá-
abrir espaços na escola, na família, nas ria das pessoas idosas é fundamental
pesquisas e na sociedade para se falar para o cuidado, mas precisa estar arti-
abertamente dessa questão. culada à rede secundária de serviços,
que aliás, precisa funcionar como rede
A feminização da velhice não se reflete compartilhada de responsabilidades.
somente no maior número de mulhe-
res idosas que de homens, mas na Referências
“domesticação” do envelhecimento,
com atividades dentro de casa. Em BEAUVOIR, S. A velhice. Trad. Maria
pesquisa do Estudo FIBRA Campinas Helena Franco Monteiro. Rio de Janei-
com 687 idosos, o maior gasto calórico ro: Nova Fronteira, 1990.
constatado foi em “cozinhar”, a que se
dedicam 74,9% dos participantes da BOURDIEU, Pierre. Esboço para uma
pesquisa, muito acima de caminhada autoanálise. Lisboa: Edições 70, 2005.
(43,8%) ou ginástica em academia, com
18% (NERI et al., 2011, p. 83). Nesse BOURDIEU, Pierre. La “jeunesse”
sentido, o tema de gênero se torna n´est q´un mot”. In: BOURDIEU, Pie-
18
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.1, p. 6-21, jan./jun. 2014.
Vicente de Paula FALEIROS
19
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.1, p. 6-21, jan./jun. 2014.
Envelhecimento no Brasil do Século XXI
20
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.1, p. 6-21, jan./jun. 2014.
Vicente de Paula FALEIROS
21
Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n.1, p. 6-21, jan./jun. 2014.