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tradição, pois os adultos querem que o ado- que são redirecionados aos jovens. Dessa
lescente seja autônomo (exigência de ter maneira, é trazida, então, uma das questões
uma posição social de destaque), mas lhe já postuladas: o que diferenciaria o adoles-
recusam a autonomia; querem que tenha cente do adulto na atualidade?
sucesso social (exigências de performan- As diferenças estão cada vez mais di-
ce), mas postergam essa situação para que fusas, mas há uma característica que parece
ele possa se preparar melhor. Além disso, aproximar os dois momentos de vida com
não fica claro se desejam que o adolescen- impactos distintos para ambos: uma dificul-
te aceite ou desafie a moratória imposta, o dade enorme de compreender o que o mun-
que traz outra questão importante: como do deseja e, consequentemente, como agir
conseguir ser reconhecido e admitido como no mundo, a partir de escolhas e projetos, e
adulto? Afinal, o principal objetivo da ado- como se projetar no futuro.
lescência ainda se configura como o desejo No jovem, a falta de parâmetros cla-
de ser adulto. ros gera a busca mais individualizada da
O problema atual, já postulado, é que construção identitária e do lugar no mun-
os adultos oferecem referências e modelos do, marcando uma dificuldade de fortale-
ambíguos, imprecisos, múltiplos, difusos, cimento identitário pela falta de reconheci-
heterogêneos e contraditórios, dificultando mento do outro significativo. Além disso, a
muito a resposta à pergunta colocada por ação sobre o mundo por meio da estratégia
Calligaris (2000, p. 23): “O que eles espe- impulsiva de tentativa e erro redunda em
ram de mim?”. falta de limites.
Ao mesmo tempo, uma parte dos ado- No adulto, há a emergência de crises
lescentes vive uma falta de limites, com o mais frequentes pela dificuldade de com-
declínio da autoridade parental e dos inter- preensão dos critérios para ser desejável e
ditos próprios desta e dos representantes invejável e por movimentos complicados,
paternos, e uma cobrança para seguirem como a tentativa de voltar, concretamen-
as normas sociais, por exemplo, ter sucesso te, a ser jovem. Isso configura um dos gran-
profissional; ou os jovens são supercuida- des problemas atuais: se o dever dos adul-
dos e, ao mesmo tempo, deixados à deriva, tos é envelhecer, o que acontece quando o
em uma economia dos cuidados igualmente ideal dos adultos é rejuvenescer? Assim, a
ambígua, segundo Birman (2006). ação no presente e a projeção para o futuro
Para Calligaris (2000), no contexto di- tornam-se uma ação complexa e enigmática
fuso atual, haveria duas qualidades subja- para o jovem, pois não há referências clara-
centes importantes postas ao adolescente mente colocadas como predominantes, em-
pelo mundo adulto: ser desejável e ser inve- bora coexistam no mundo atual desde mo-
jável. Em outras palavras, um adolescente delos tradicionais que garantem segurança,
deve enfrentar dois pontos centrais na sua estabilidade e uma referência clara a seguir
vivência atual: o sucesso nas relações amo- até modelos mais abertos e flexíveis (Ribei-
rosas e sexuais e a conquista do poder, o ro & Uvaldo, 2011).
que o levaria às crises contemporâneas, in- O adolescente, então, vê-se diante da
tensificadas pela enorme exposição a que impossibilidade de definir o que é ser adul-
estão submetidos nas redes sociais virtuais. to, pois há várias formas socialmente legi-
Vale salientar que esses também são timadas de ser adulto hoje em dia, muitas
dois objetivos centrais para os adultos, que delas não conhecidas ou reconhecidas pelos
igualmente enfrentam dificuldades para próprios adultos, que são referência presen-
compreender e alcançar tais ideais sociais, te direta para esses adolescentes.
Orientação vocacional e de carreira em contextos clínicos e educativos 19
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