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Disciplina Psicologia do Desenvolvimento III

Aluna: Ana Júlia Dias Alves (12121PSI012)

Resumo do Capítulo 47 do Tratado de Geriatria e Gerontologia com temática


"Envelhecimento e Gênero".

As diferentes relações de gênero atravessam em completude à existência humana, ou seja,


as questões identitárias por trás do conceito de gênero carregam implicações sociais para
todas as esferas da vida. Dessa forma, é fato que tal questão também está atrelada ao processo
de envelhecimento e permite entendê-lo como heterogêneo e múltiplo para homens e
mulheres, sendo de extrema importância reconhecer as diferenças e discriminações.

A priori, definir o próprio processo de envelhecimento é uma tarefa complexa, uma vez
que envolvem questões biológicas, sociais, culturais e psicológicos, assim, o envelhecer
muda tanto em um aspecto macro (a depender de contextos sócio-históricos-culturais
diferentes) quanto individualmente (a depender da história de vida individual). Por isso, o
envelhecimento deve ser visto com um fenômeno social e entendido por um constante e
inacabado processo de subjetivação (Lopes, 2006). Essa subjetividade pode ser construída a
partir de determinadas categorias sociais como classe, gênero, etnia, geração, e tais elementos
se relacionam intimamente. Dessa forma, o envelhecer é múltiplo pois próprio sujeito é
múltiplo e reflexões importantes surgem ao destinar um olhar mais específico para as
diferenças de gênero.

Nesse contexto, Motta (2006) considera que as concepções sobre a velhice, assim como a
vivência do processo de envelhecimento são distintas entre homens e mulheres, em função
dos diversos processos de sociabilização e, principalmente, da constituição do sujeito
masculino e feminino nas sociedades contemporâneas. A fim de ilustrar um pouco essas
diferenças utiliza-se de pesquisas dentro dessa temática. Fernandes e Garcia (2010)
pesquisaram o sentido da velhice para homens e mulheres idosos, com idades entre 60 e 83
anos, e alcançaram resultados muito heterogêneos, entretanto apesar de muitas queixas
convergentes, percebeu-se que algumas mulheres pontuaram uma satisfação com a velhice
devido a perspectiva de libertação dos papéis tradicionalmente assumidos em suas vidas
(scripts femininos). Cardoso (2006) estudou o envelhecimento e as diferenças de gênero a
partir das posturas de casais idosos frente ao processo de envelhecimento, foi percebido que
os homens se queixavam mais sobre o processo de aposentadoria e a perda do ciclo social que
o trabalho configurava, enquanto as mulheres mencionam um contentamento por terem os
filhos crescidos e não terem mais tantas obrigações domésticas. Diferenças nas
representações sociais sobre a velhice, apresentadas por homens e mulheres com mais de 60
anos, também são relatadas por Areosa (2006), o qual concluiu que os homens se fecham
mais socialmente após a aposentadoria, sentindo-se inativos, enquanto as mulheres se
envolvem em outras atividades sociais, mantendo muitos papéis ativos.

Tendo em vista esses resultados, fica evidente que os homens e mulheres pesquisados
atribuem a si e aos outros o exercício de papéis sociais de acordo com as características de
suas gerações e dos contextos social e cultural em que vivem (Torres et al., 2013). Além
disso, a questão de gênero influencia na qualidade de vida na velhice devido a crescentes
riscos à proteção, funcionalidade, integração social e saúde. Entretanto, as mulheres têm
como vantagem uma maior manutenção dos laços sociais e uma variedade atividades
ocupacionais destinada ao público feminino. A autonomia e liberdade conquistada pelas
mulheres idosas dizem da possibilidade dessas mulheres de se dedicarem mais a si mesmas,
inclusive participando de grupos de idosos, nos quais adquirem informações sobre o
autocuidado e como preservar a saúde (Menezes e Lopes, 2007). Percebe-se então, que o
envelhecer, para homens e mulheres, provoca diferentes formas de agir, sentir e pensar.

Aprofundando-se um pouco na concepção de gênero, trata-se da constituição dos


sujeitos masculino e feminino, como também das relações entre homens e mulheres, mas
especificamente do domínio de um gênero sobre o outro, do masculino sobre o feminino,
sobretudo nas sociedades ocidentais contemporâneas (Fonseca, 2001; Motta 1999). Assim as
formas de ser homem e mulher precisam ser contextualizadas e existe uma construção social
de uma masculinidade hegemônica e uma feminilidade subordinada. Torna-se interessante,
então, perceber uma possível mudança desses papéis na velhice, pois como já elaborado os
homens tendem a permanecer mais reclusos em casa, a medida em que as mulheres passam a
ocupar mais espaços e grupos.

A fim de compreender a construção histórica do termo, o gênero como uma categoria de


análise surgiu a partir do movimento feminista nos anos de 1970, a fim de colocar em pauta a
opressão e discriminação da mulher perante a sociedade patriarcal. Os primeiros estudos
elaborados nessa temática visavam denunciar as estruturas e sistemas sociais que contribuem
para a manutenção das desigualdades e romper com a naturalização da superioridade
masculina. Inicialmente, o foco estava na proposta de equiparação da mulher à posição
ocupada pelo homem, depois a ênfase era a diferença, por meio do questionamento da
desvalorização do universo feminino. Outro aspecto importante, diz respeito ao caráter
político desses estudos, os quais passaram a ampliar a discussão e considerar aspectos de
classe e raça. Ademais, dentro das pesquisas nesse campo existe uma diferenciação entre os
termos "gênero" e "raça", essa diferença está pautada no uso tradicional da variável sexo,
utilizada nas pesquisas de caráter descritivo, ao passo que, sob a perspectiva de gênero, as
relações entre homens e mulheres tratam de construções sociais, das formas de ser, pensar e
agir. Dessa forma, é possível traçar um paralelo com a frase símbolo feminista de Simone de
Beauvoir: "Não nasce mulher, torna-se mulher", tendo em vista que o ser mulher vai muito
além da determinação biológica. Logo, o gênero está estritamente relacionado com as
relações de poder entre os sexos e a valorização do universo feminino, colocar esses temas
em pauta representa um importante compromisso político.

A partir do supracitado, Figueiredo e Tyrrel (2005) consideram que os pesquisadores


sobre o envelhecimento devem incluir as questões de gênero em suas pesquisas, uma vez que
são fundamentais para a garantia da cidadania como também determinam a qualidade de vida
dos idosos. Nesse cenário, a evolução do movimento feminista tem gerado transformações
naquilo que é denominado "masculinidade", Adorno et al. (2005) indicam que os estudos de
gênero revelam a pertinência em falar de masculinidades no plural, à medida que referem
tanto a construção do gênero masculino como masculinidade hegemônica, quanto ao fato de
ser esta dominação exercida sobre outros homens que não a incorporam. Entretanto, apesar
das significativas evoluções, ainda perdura uma ideologia sexista na sociedade e existem
associações e restrições impostas à mulher, como por exemplo ser naturalmente maternal e
realizar atividades domésticas. Outra problemática, é a falta de participação de homens em
estudos sobre as desigualdades de gênero, sobretudo no processo de envelhecimento,
considerando que é possível abordar o processo de feminização da velhice, cabe ponderar
sobre a importância de também dar voz aos homens de diferentes gerações, incluindo os
idosos, que convivem com essas mulheres idosas.

Portanto, é impossível discutir etapas da vida ou vivências sociais que não perpassem por
questões de gênero, e é necessário compreender a velhice de forma múltipla em especial para
homens e mulher. Sendo assim, a velhice feminina é atravessada por inúmeros complicadores
frutos do processo histórico patriarcal, o qual estabelece uma relação de poder em que a
mulher é posicionada como inferior e restringida a determinados papéis sociais. As mulheres
idosas precisam lidar com os padrões estéticos, as cobranças sociais e a percepção de
invalidez de maneira diferenciada dos homens. Por fim, objetiva-se que as próximas gerações
de idosas possam estar mais libertas dessas amarras sociais e que estudos focados nesse grupo
sejam investidos e realizados.

Referências:

Adorno RCF, Alvarenga AT, Vasconcellos MPC. Jovens, gênero e sexualidade: relações em
questão para o campo da Saúde Pública. In: Jovens, Trajetórias, Masculinidades e Direitos.
São Paulo: FAPESP, Editora da Universidade de São Paulo, 2005. p. 12145.

Areosa SVC. O que pensam as mulheres e os homens idosos sobre o seu envelhecimento?
Textos & Contextos (Porto Alegre). 2006; 3(1):113.

Cardoso VS. Envelhecimento e diferenças de gênero: postura de casais idosos frente ao


processo de envelhecimento. Seminário Internacional Fazendo Gênero. 2006.

Fernandes MDGM, Garcia LG. O sentido da velhice para homens e mulheres idosos. Saúde e
Sociedade. 2010; 9(4):771 83.

Figueiredo MDLF, Tyrrel MAR. O gênero (in) visível da terceira idade no saber da
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Fonseca C. Uma genealogia do gênero. Revista de Antropologia da UFPE. 1996; 2(1):522.

Freitas, Elizabete Viana; PY, Ligia. Tratado de geriatria e gerontologia. 4. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.

Lopes RGC. Diversidades na velhice: reflexões. In: Velhices: Reflexões Contemporâneas.


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Menezes TMDO, Lopes RLM. Revisando o viver da pessoa idosa na perspectiva de gênero.
Rev Enferm UERJ. 2007; 15(4):591596.

Motta AB. As dimensões de gênero e classe social na análise do envelhecimento. Cadernos


Pagu. 1999; (13):191221.

Torres MCC, Silva P, Novais C, Carvalho J. Gênero, sexualidade e atividade física: uma
leitura sobre masculinidades e feminilidades (re) construídas à luz do envelhecer. Revista
Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano. 2013; 9(1).

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