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A priori, definir o próprio processo de envelhecimento é uma tarefa complexa, uma vez
que envolvem questões biológicas, sociais, culturais e psicológicos, assim, o envelhecer
muda tanto em um aspecto macro (a depender de contextos sócio-históricos-culturais
diferentes) quanto individualmente (a depender da história de vida individual). Por isso, o
envelhecimento deve ser visto com um fenômeno social e entendido por um constante e
inacabado processo de subjetivação (Lopes, 2006). Essa subjetividade pode ser construída a
partir de determinadas categorias sociais como classe, gênero, etnia, geração, e tais elementos
se relacionam intimamente. Dessa forma, o envelhecer é múltiplo pois próprio sujeito é
múltiplo e reflexões importantes surgem ao destinar um olhar mais específico para as
diferenças de gênero.
Nesse contexto, Motta (2006) considera que as concepções sobre a velhice, assim como a
vivência do processo de envelhecimento são distintas entre homens e mulheres, em função
dos diversos processos de sociabilização e, principalmente, da constituição do sujeito
masculino e feminino nas sociedades contemporâneas. A fim de ilustrar um pouco essas
diferenças utiliza-se de pesquisas dentro dessa temática. Fernandes e Garcia (2010)
pesquisaram o sentido da velhice para homens e mulheres idosos, com idades entre 60 e 83
anos, e alcançaram resultados muito heterogêneos, entretanto apesar de muitas queixas
convergentes, percebeu-se que algumas mulheres pontuaram uma satisfação com a velhice
devido a perspectiva de libertação dos papéis tradicionalmente assumidos em suas vidas
(scripts femininos). Cardoso (2006) estudou o envelhecimento e as diferenças de gênero a
partir das posturas de casais idosos frente ao processo de envelhecimento, foi percebido que
os homens se queixavam mais sobre o processo de aposentadoria e a perda do ciclo social que
o trabalho configurava, enquanto as mulheres mencionam um contentamento por terem os
filhos crescidos e não terem mais tantas obrigações domésticas. Diferenças nas
representações sociais sobre a velhice, apresentadas por homens e mulheres com mais de 60
anos, também são relatadas por Areosa (2006), o qual concluiu que os homens se fecham
mais socialmente após a aposentadoria, sentindo-se inativos, enquanto as mulheres se
envolvem em outras atividades sociais, mantendo muitos papéis ativos.
Tendo em vista esses resultados, fica evidente que os homens e mulheres pesquisados
atribuem a si e aos outros o exercício de papéis sociais de acordo com as características de
suas gerações e dos contextos social e cultural em que vivem (Torres et al., 2013). Além
disso, a questão de gênero influencia na qualidade de vida na velhice devido a crescentes
riscos à proteção, funcionalidade, integração social e saúde. Entretanto, as mulheres têm
como vantagem uma maior manutenção dos laços sociais e uma variedade atividades
ocupacionais destinada ao público feminino. A autonomia e liberdade conquistada pelas
mulheres idosas dizem da possibilidade dessas mulheres de se dedicarem mais a si mesmas,
inclusive participando de grupos de idosos, nos quais adquirem informações sobre o
autocuidado e como preservar a saúde (Menezes e Lopes, 2007). Percebe-se então, que o
envelhecer, para homens e mulheres, provoca diferentes formas de agir, sentir e pensar.
Portanto, é impossível discutir etapas da vida ou vivências sociais que não perpassem por
questões de gênero, e é necessário compreender a velhice de forma múltipla em especial para
homens e mulher. Sendo assim, a velhice feminina é atravessada por inúmeros complicadores
frutos do processo histórico patriarcal, o qual estabelece uma relação de poder em que a
mulher é posicionada como inferior e restringida a determinados papéis sociais. As mulheres
idosas precisam lidar com os padrões estéticos, as cobranças sociais e a percepção de
invalidez de maneira diferenciada dos homens. Por fim, objetiva-se que as próximas gerações
de idosas possam estar mais libertas dessas amarras sociais e que estudos focados nesse grupo
sejam investidos e realizados.
Referências:
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