Você está na página 1de 24

Género e o Impato na Sociedade e Na Comunicação Social

TERESA RAMOS CORREIA


Professora e Investigadora de CIGEF-UNICV
teresa.ramosc85@gmail.com

Pensar na questão do género normalmente pensa-se na questão de Homem e Mulher, mas


acredido que este assunto deve ser tratado e vista de uma forma mais ampla, pois a questão
de género vai muito mais além de homem e mulher, mas sim acaba por ser uma questão
transversal, passando desde da luta pela igualdade e equidade entre homem e mulher,
homosexual, lesbica, transvestis, etc., todos acabam por fazer parte do grande tema,
género.

Deste modo, a adoção e implementação de medidas legislativas, destinadas a combater


as situações de desigualdades e discriminação em função do sexo e que promovam a
efetiva igualdade entre homens e mulheres, através da remoção de todos os obstáculos
que possam dificultar esta tarefa, revela ser urgente e necessária. A prossecução deste
objetivo constitui, por um lado, um imperativo constitucional e, por outro, contribuirá
seguramente para repôr a justiça social, o desenvolvimento económico, social e cultural
da sociedade humana.

A questão do género vem sendo uma problemática desde muito tempo no seio da
comunidade humana. Mas nos séculos XIX e XX , a luta pela igualdade e equidade entre
homem e mulher nas sociedades democratas foi intensificando. As questões como
condições de trabalho e de vida social iguais são alguns dos exemplos da luta que a mulher
vem travando ao longo do tempo. Entre encontros, workshops, criação de leis e de
movimento de mulheres, esta classe social vem conseguindo impor o reconhecimento do
seu valor na sociedade.

A luta que ja passou por vários momentos e percursos mundiais, tem vindo a ser em Cabo
Verde assunto de momento, pois este país acolheu e se engaja nesta luta, por uma
sociedade justa e equatitária. Mas é importante realçar que há muito por fazer nesta área.
Pois vários autores, têm vindo a tentar explicar a problemática do dilema do género,
tentanto perceber o papel que ambos os sexos têm na sociedade e no desenvolvimento de
um país.

Desta forma, este artigo visa levantar véu para uma questão pertinente e crucial nesta luta,
pretendendo ao mesmo tempo levar as pesssoas a refletirem sobre o desempenho e o papel
de cada um, para o desenvolvimento da sociedade. Nesta perspetiva Roudinesco (2008),
traz a biológica para estudo realizado no século XVI no Ocidente pelo catolicismo e,
posteriormente, aprimoradas no século XIX pelo Badinter que explica que:
“(…) os machos/homens, por possuírem biologicamente mais massa muscular que as
mulheres, seriam os principais responsáveis pela caça e pelo sustento do lar; e das suas
características físicas decorreriam características psicológicas, como maior capacidade de
organização grupal (necessária para a caça, e depois para a ocupação do espaço público)
e de dominação das fêmeas...”(BADINTER, 1993; s/p).

Importa realçar que a diferença biológica entre Homem e Mulher é tomada pela
mentalidade vulgar e, mesmo no seio de alguns teóricos, eruditos e doutrinários como
diferença intelectual, cultural e social. Por isso, não é de se estranhar que, muitos tiveram
e ainda têm atitudes de descriminação e segregação de sexos com base na superioridade
do sexo. Ainda pode-se perceber, que a questão do género não é um assunto atual, mas
sim um objeto de estudo que há muito vem sendo trabalhado por alguns investigadores.

Neste sentido, a partir da década de 70 do século passado, vários investigadores se


debruçaram sobre as diferenças comunicativas de género, tal como Foucault (1997),
Thompson (1998), Santos, (1998), Roudinesco, (2008), Miskolci (2009), Butler (2014)
entre outros. Tendo como ponto de partida estes e outros estudos, este trabalho de
investigação procurou-se verificar como os meios de Comunicação Social, em particular
a Televisão de Cabo Verde, promove a equidade de género a partir da sua programação.

Desta forma, foi analisado o telejornal da noite, entre os meses de Junho, Março,
Setembro e Dezembro do ano 2016. E foi aplicado entrevistas a 9 jornalistas e 100
questionários aos cidadãos e telespetadores com intuito de conhecer e analisar o papel
que a Televisão de Cabo Verde vem desempenhado e principalmente a forma com que
têm tratado a questão de género.

1. A Questão do Género em Cabo Verde

Há muito tempo atrás a classe feminina era completamente excluída da esfera do poder e
em Cabo Verde, esta situação não foi diferente. A participação da mulher cabo-verdiana
na política a partir da independência era reduzida e hoje, três décadas após a
independência o cenário é simplesmente diferente. As mulheres, paulatinamente, vão
ocupando lugares importantes ao lado dos homens, graças aos impulsos de organizações
de defesa e promoção da mulher, como, por exemplo, a OMCV. Porém, não obstante a
participação das mulheres ter aumentado, nota-se que a sua presença ainda é baixa, mas
muitos acreditam que com a aprovação e entrada em vigor da lei de paridade esta situação
pode de alguma forma alterar este cenário.

Neste assunto, foi preciso muita luta para que a esta situação pudesse encontrar um
caminho a percorrer e ancorar em bom porto. Contudo, o dilema ganhou mais visibilidade
quando a classe feminina sentiu a necessidade de também fazer parte das decisões do
país, permitindo desta forma uma visão distinta de humanidade, de poder e equilibrar de
forma equatitária o processo de resolução dos problemas.
Desta forma, as mulheres vêm centrado a sua luta sobretudo na procura de espaços de
participação política e valorização social em mais diversas áreas, tendo como alicerce
várias instituições que têm poder e que lutam da mesma forma para o equilíbrio desta
classe que por vezes era esquecida. João Paulo II (1993), no livro de Estela Pinto Ribeiro
Lamas, intitulado “A Mulher em Questão Contributos para uma pastoral da Mulher”,
mostra a importância de existir uma convivência saudável entre os homens na medida que
todos são igualmente importante para o desenvolvimento da sociedade em diversas
dimensões sociais e não só, afirmando que:

“(...) a sua igualdade capital de dignidade com o homem no plano de Deus (…) o eu
significa como pessoa humana com respeito ao homem para viver numa comunhão
pessoal com ele; a sua vocação de filha de Deus, de esposa e de mãe; o seu apelo a
participar de modo livre e responsável nas grandes tarefas de hoje, dando-lhes o melhor
de si mesma; e, por conseguinte, a sua capacidade e o seu dever de esperar a plena
maturação da própria personalidade: experiência das atribuições, formação para o espírito
de serviço, aprofundamento da sua fé e da sua oração, de que ela fará beneficiar os outros
(…), (Lamas Estela; 1998; p.28). ”

Mas importa realçar que apesar dos ganhos consistentes que a mulher tem conseguido na
esfera social, ainda há quem questiona a capacidade da mulher na resolução de problemas,
bem como a sua presença nas questões ligados ao poder, pondo em causa a sua condição
física e biológica.

Neste sentido, Alves e Pitanguy (1985) partiram do pressuposto de que o


desconhecimento da mulher perante o seu próprio corpo acaba por gerar uma alienação,
quanto a uma perda de capacidade de controlo no que se tange o funcionamento do seu
organismo, referindo-se ao período menstrual, a reprodução, as relações sexuais, o
controle da embriosa fase da natalidade, a menopausa, assim como outros grandes
processos que está sujeita a passar. (Ferreira, Morreira & Alvares (Eds.), p. 54, 1999).

Esta e outras questões, são considerados como aspetos importantes e que podem colocar
em causa a decisão sensata e imparcial na resolução dos problemas, bem como a sua
presença no poder.

No entanto, Crispina Gomes (2011), deixa bem claro que a consolidação da democracia
esta em fazer e reconhecer a mulher como um sujeito importante no processo de
desenvolvimento da sociedade em mais diversas dimensões, tendo em conta que a mulher
acaba por ser um pilar importante na formação e educação da sociedade. É de realçar que
da mesma forma que a visão do homem é pertinente nas resoluções dos problemas, a
mulher também tem opiniões pertinentes e valiosas para resolução dos mesmos,
contribuindo desta forma para um grande desenvolvimento de um determinado(Idem;
s/p).

Importa lembrar que a problemática de exclusão da mulher na esfera politica e social, já


é um assunto que remota. Na década de 70 já tinha existido a problematização do
eleitorado feminino no Brasil, onde a discussão aponta a razão de uma frágil democracia
brasileira:

Uma agenda política pressionada por seríssimos problemas sociais, com uma presença
ainda mais forte do clientelismo e do “Coronelismo1” político, com um sistema partidário
anárquico e last but not least, com desigualdades sociais que excluem pobres, mulheres,
negros, velhos, a participação política, no sentido clássico do termo está dominada por
homens adultos de meia idade, brancos e proprietários. (Pinto, 1994, p.201, In Mulher,
Gênero e Políticas Públicas, p.51, 1999).

Se se fizer uma reflexão, sobre o sentido verdadeiro da democracia, sente-se a


necessidade de repensar sobre os valores como a: igualdade, justiça social, o respeito
pelo outro, e a participação equatitária em espaços de diálogo.

Neste sentido importa trazer a ideia defendida pelo Rosseau, Montesquieu e Voltaire, no
século XVIII, afirmando que a génese da democracia no Ocidente como sendo uma
“ilustração”, de que a democracia se baseia no direito de forma natural de todos os
homens à vida, à liberdade e à propriedade, tendo o Estado na frente fazer a defesa desses
direitos e garanti-los a todos.

Nesta perspetiva Ferreira, Morreira & Alvares (Eds.);1999 s/p) acreditam que:

(…) os países africanos têm muito que aprender das suas tradições e algo que ensinar aos
demais povos sobre o verdadeiro significado e o espírito da democracia. A democracia é
muito mais do que a celebração de eleições que decidem de forma imparcial, que
candidato ou que partido conta com o apoio maioritário (Idem; p.52).

Contudo a mulher em Cabo Verde, mostrou-se estar preparada para equacionar qualquer
problema e enfrentar a democracia rumo a conquista de mesmos direitos que os homens,
conseguindo assim a aprovação da “Lei de paridade”. Enfrentando desta forma a realidade

1
foi um sistema que ficou conhecido durante a República Velha, onde os coronéis (ricos fazendeiros)
eram os principais responsáveis por comandar o cenário político do país. Para mais informação acesse o
site: In: https://www.significados.com.br/coronelismo/
existente e modificando-a. É notável a presença desta classe nos vastos encargos de chefia
e não só, dando o seu contributo para uma Sociedade democrática equatitária. Mas ainda
não constituiu uma realidade já conseguida, como se pode verificar no gráfico 1, que
apresenta um dado claro. Em que os inqueridos questionado sobre a existência da
igualdade de género em Cabo Verde, cerca de 53% concordam em parte, contra 20% de
discordo em parte. Olhando para este resultado pode-se verificar que ainda paira uma
dúvida significativa, se realmente existe igualdade e equidade de género em Cabo Verde,
ao mesmo tempo apresenta como sendo um ganho nesta luta, tendo em conta que há bem
pouco tempo, Cabo Verde era leigo na materia. Contudo o resultado aponta como sendo
um indicador de que o trabalho esta ser feito, mas que ainda falta muito para fazer.

Segundo Paulo, Freire 1970, os homens são produzidos e têm a mesma capacidade para
produzir uma realidade e da mesma forma, moldá-la e modificá-la, fazendo uma grande
ou pequena transformação. Este é o ser que por si só já tem uma capacidade de ter uma
relação constante com o mundo, em ação e reflexão (idem p.58,).

Nesta ótica o dicionário de ação humanitária e cooperação para o desenvolvimento,


define a participação como sendo um:

Processo pelo qual as comunidades ou os diferentes sectores socias, sobretudo os


marginalizados ou excluídos, com interesses legítimos com respeito a um determinado
projecto, programa, ou política de desenvolvimento, exercem influência sobre eles e são
implicados na tomada de decisões na gestão dos recursos, sendo, desse modo, actores do
seu próprio desenvolvimento (Ferreira, Morreira & Alvares (Eds.), 1999; p.58).

Na perspetiva do programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o


desenvolvimento implica a participação e envolvimento do indivíduo, nos processos sociais,
económicos, políticos e culturais que integram a vida do indivíduo numa sociedade, onde por
vezes consegue ter o controle direto sobre este processo. Da mesma forma, pode-se ter um
controlo parcial ou também indireto. O que se almeja é o acesso às instâncias e às tomadas de
decisões e de poder. Conclui-se então, que só se pode ter um elemento essencial do
desenvolvimento humano com a participação (Idem; p.59).

A participação exige a presença do empoderamento, o que incluí de certa forma, a capacitação


dos indivíduos, para que se encontrem aptos para ocupar os espaços nas tomadas de decisões e de
fazerem um uso adequado e de forma efetiva (Idem; p.60). No caso de Cabo Verde, o
empoderamento feminino teve uma grande referência e encorajamento por parte das várias
Instituições que lutam constantemente para um equilíbrio de classes, face as decisões e ao
desenvolvimento do país. Esses movimentos feministas vêm ao longo do tempo denunciando e
reivindicando a deficiente de participação da mulher nas tomadas de decisões e na visibilidade
perante o país, que dizem estar em Desenvolvimento médio. O primeiro obstáculo encontrado ao
longo deste percurso, foi o sistema patriarcado, que defende o homem como sendo um ser público
e a mulher privada. Contudo a corrente destes movimentos feminista lutou pelo direito ao voto e
pelo reconhecimento da condição de cidadã da mulher (Idem, p.61 e 62). Nesta perspetiva a autora
Ana Soja faz um apelo a classe feminina:

(…) o poder exerce-se com legitimidade e transparência sempre e quando as mulheres


tenham participação nele. Além disso, elas, também, devem lutar para que haja relações
simétricas de poder entre homens e mulheres (Sojo: 1998;p. 70).

Atualmente o direito á participação da vida política é concedida a todos de forma


equatitária, sem restrições e discriminação. Tal como a Declaração Universal dos Direitos
Humanos (1948), a Convenção sobre os Direitos Políticos das Mulheres (1952), o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e políticos (1966), assim como, a Convenção para
eliminação de todas as formas de Discriminação contra mulheres (1979), entre outros
instrumentos internacionais que lutam pela classe feminina com o propósito de ter o
direito à participação na vida Política (Ferreira, Morreira & Alvares (Eds.) 1999; p.62) e
a nível nacional, recentemente aprovada, a Lei de paridade que garante a participação da
mulher na politica (Projeto lei de paridade, pág.5, 2019):

Entende-se por paridade na representação política, para efeitos de aplicação da presente


lei, a representação mínima de 40% de cada um dos sexos nas listas de candidatura aos
órgãos colegiais do poder político, nomeadamente, Assembleia Nacional, Câmara
Municipal, Assembleia Municipal e outros órgãos supramunicipais ou inframunicipais.
2. Para cumprimento do disposto no número anterior, os dois primeiros lugares nas listas
de candidatura plurinominais apresentadas são ocupados por candidatos de sexo
diferente, não podendo ser colocados mais de dois candidatos do mesmo sexo ,
consecutivamente, na ordenação dos restantes lugares nas listas. 3. Na formação e
constituição do Governo da República de Cabo Verde, a chefia do Governo empenha-se
na aplicação do princípio da paridade.A aprovação desta é mais prova de mais uma
conquista da mulher em Cabo Verde e que demostra o engajamento da sociedade cabo-
verdiana em aceitar e fazer valer o estado democrático bem como o esforço a dedicação
da mulher e o reconhecimento desta no desenvolvimento do país.

Desta forma, pode-se concluir que apesar de forma paulatina, Cabo Verde tem vindo a
dar o seu contibuto e passos siginificativos para construnçao de uma sociedade justa e
com um sentido apurado de igualdade social, proporcionando a homem e mulher igual
oportunidade profissional, reconhecendo o valor de cada um no desenvolvimento do país.
Ainda assim a questão do genero no país constitui uma problematica social bastante
sensivel e que é necessario um forte trabalho educativo ou reducativo como forma a
garantir que os ganhos conseguidos sejam douradoras e consolidadas.

2. O Género e o impacto na Sociedade e na Comunicação Social

Os meios de Comunicação Social também colaboram para que esta, possa chegar ao auge
e se posicionar de igual forma que todos. Rosa Cabecinhas e Carla Sequeira no artigo que
tinha como objetivo analisar a evolução da cobertura jornalística do Dia Internacional das
Mulheres na imprensa portuguesa respetivamente no ano 1975-2007, cujo o titulo “A
cobertura jornalística do Dia Internacional das Mulheres na imprensa portuguesa:
mudanças, persistências e reconfigurações” realçaram uma mudança sagaz demostrando
os ganhos que a mulher conseguiu com a sua luta e persistência no mundo.

O estudo foca num período marcado por profundas transformações na sociedade em geral,
nos movimentos de mulheres/ feministas e com o propósito das médias particularmente.
O movimento feminista ao perceber o poder que os meios de comunicação social tinham
(têm) na construção de identidades, sendo estes os tais agentes responsáveis pela
produção e representação das práticas que acabam por definir o género, sentiu-se então a
necessidade de se impor a este grande desafio na década de 1960, (Betterton, 1987;
Silveirinha, 2004; Van Zoonen, 1994). Estabelecendo essa aliança, o movimento foi
assumindo a sua posição na sociedade e disseminar o seus ideais de forma mais
sedimentada e enraizada por todo país e no mundo.

Os meios de comunicação social tiveram um papel fundamental no processo de


reconstrução e construção de significados que por vezes não favorecia a legitimidade e a
constituição de uma imagem que podia captar mais simpatizantes, expressar os seus
posicionamentos e lutar amplamente pelas suas causas, contribuindo desta forma, para
mais visibilidade na esfera pública (Ashey, Olson, 1998; Barakso, Schaffner, 2006;
Gallagher, 1981; Mcneil, 1975; Rhodes, 1995; Robinson, 1978).

Ciente daquilo que queriam, quando o assunto se direcionava ao papel que os Meios de
Comunicação pudessem permitir-lhes adquirir, as mulheres já tinham uma ideia clara
daquilo que se era capaz de se obter, deste modo, cercaram a média para que juntos
pudessem fazer uma maior mobilização e sustentação pública dos seus ideais, marcando
então a presença na agenda, o que acaba por ser justificado com as organizações de
diversas iniciativas. É visível a influência ou o impacto dos meios de comunicação na
mudança de mentalidade e na resolução de conflitos sociais. Neste sentido, é de crucial
importância que o movimento feminista em Cabo Verde, crie um aliança com os meios
de comunicação e que possam juntos trabalharem os caboverdianos de forma a instrui-los
educá-los, desformatar e formatar conceitos que possam ajudar a chegar a um bom porto
e a irecadizar tudo e qualquer vestigios de duvidas relativamente a importância da mulher
no desenvolvimento de Cabo Verde.

As vastas formas ligadas as desigualdades de género que são levadas à antena, verificadas
nas práticas e conteúdos mediáticos são enquadradas em contexto diversos que se alonga
desde os remotos tempos no processo de discriminação e exclusão das mulheres nas mais
diversas áreas da sociedade.

Na década de 80, o discurso do Backlash (Faludi, 1991), releva-se como marcante,


mostrando a empoderamento da classe feminina, alcançando as metas propostas
(igualdade). Existia uma escassa visibilidade nos media, demonstrando que o movimento
feminista já não era considerado necessário na época em que se encontravam, já que os
objetivos se tinham alcançados e já se encontravam ultrapassados da fase de exigir a
presença por questões de igualdade. Na mesma sequência, no artigo é destacado ainda
vários entendimentos que se conotam perante a questão do género.

Os autores como Grever (1997) e Kaplan (1985) consideraram que a gênese é uma das
efemérides mais marcantes para o movimento feminista, permitindo posionar na esfera
pública algumas temáticas relacionadas às assimetrias de género e questões que levam ao
debate em contorno do tema. Desta forma vê-se a media como um dos grandes pilares
para as representações sobre as mulheres, vendo-a ainda como um sistema legitimado na
esfera pública, posicionado como espaço de debate sobre várias questões de relevâncias,
trazendo temas diversos e trazendo o parecer de interação entre indústrias culturais,
audiências, instituições sociais e a própria 60 sociedade em geral, mostrando a realidade
nua e crua, e vastas problemáticas que cada um tem em particular, em torno de relações
de poder estrutural que é preciso desconstruir.

Quando se refere às medias centra-se a questão nos discursos e na importância que estes
assumem enquanto formas de poder. Assim: “defining gender as discourse leads to the
question of what “role” the media play in gender discourse and how that role is realized”
(Van Zoonen, 1994, p. 41).

Nesta aceção, entende-se a sua designação como: “[…] (social) technologies of gender,
accomodating, modifying, reconstructing and producing disciplining and contradictory
cultural outlooks of sexual difference” (Idem Ibidem).

Nesta perspetiva, é importante realçar a importância do papel dos meios de comunicação,


o órgão que tem o encargo de levar o homem a fazer uma crítica daquilo que se passa na
sociedade, neste sentido, são responsáveis pela pauta do dia, a formação de várias
opiniões sobre adjuntos diversos. Apoiando na metáfora das medias, sendo uma janela
aberta para o mundo e a pirâmide invertida, que apoia na ideia de que a forma como se
coloca a informação cria o acontecimento e (re) constrói a “realidade” (Carey, 1986 s/p),
como forma de mostrar o poder e a importância desse instrumento na promoção da
questão de género, bem como, da luta da mulher na ocupação justa na sociedade,
consciencializando a sociedade.

Nesta linha, Silveirinha (2009) no seu estudo, declara que:

Por detrás das imagens “lisas” dos textos os mediáticos que nos dão retratos que
consumimos de modo acrítico ou que, pelo contrário, reconhecemos como “distorcidas”
residem complexas lutas em torno dos significados, da sua produção, da sua compreensão
e das suas implicações normativas. (Silveirinha, 2009, p. 8, In Revista Novos Olhares -
Vol.4 N.1).

Importa ainda realçar que o género tem um grande impacto na Sociedade e na


Comunicação Social, na medida em que, através das rotinas jornalísticas, os meios de
comunicação privilegiam aqueles que tem o ponto de vista dominante, contribuindo para
a homogeneização de determinados grupos e acabam por legitimar as relações de poder
existentes na sociedade, deixando uma pequena margem para as estratégias de resistência
discursiva. Com esse tratamento de forma desigual, diminui e afasta da esfera mediática
o ponto de vista e a voz dos grupos menos favorecidos (Cabecinhas, 2007 s/p).

Gallagher (1995), chama atenção, aos meios de comunicação que por vezes, são acusados
de retirar poder às mulheres, e têm da mesma forma o igual potencial para lhes
proporcionar esse mesmo poder. Ainda alerta que os movimentos de média de mulheres
se têm caracterizado por um crescimento estável das redes e associações de média no que
concerne ao poder e a presença da mesma, contribuindo com um papel importante na luta
por “um sistema de informação e comunicação mais diverso e democrático” (Gallagher,
1995). (In P. Lobo & R. Cabecinhas 1731 s/p).

Segundo a Silveirinha (2001) esta luta poderá passar pela criação de um contra público,
que é capaz de fazer o uso público da razão: “Às feministas competirá repolitizar o que a
média despolitizam”. Neste contexto torna fundamental “a exigência de prestação de
contas por parte dos média, relativamente ao modo como assumem as suas
responsabilidades e compromissos com os cidadãos” (Pinto, 2004 p.13) já que “o
exercício da cidadania encontra, hoje, no campo dos média um terreno de eleição” (Idem
Ibdem; In P. Lobo & R. Cabecinhas 1731 s/p). A autora Yolanda Tejedor (2007) nos seus
estudos, realça que a denúncia da desigualdade é uma responsabilidade própria da
comunicação social que em o propósito de fazer uma mudança nas estruturas injustas
desde raiz, demonstrando a pertinência que esta assume para os movimentos sociais em
geral e para os que trabalham com as assimetrias de género em particular. No entanto,
diversos estudos feitos por vários autores como: Álvares, 2010; Barreno, 1976; Cerqueira,
2008, 2012; Díez, 2005; Farré et al., 1998; Gallagher, 1981, 2001, 2006; Gallego, 2013;
Monteiro, Policarpo, 2002; Mota-Ribeiro & Pinto-Coelho, 2005; Ross, 2009; Silveirinha,
2006; Tuchman, 1978, 1979), chegaram á uma conclusão que ainda existe uma
dificuldade e “uma espécie de apagamento das “lentes de gênero” na informação. (Revista
Novos Olhares - Vol.4 N.1)

Segundo Leslie Steeves (2007) “feminist and social theories may be helpful in
understanding shared patterns of oppression and resistance” (p.192). Existe uma tensão
entre os discursos dominantes e as narrativas de resistência onde os meios de
comunicação social se movem. Nos estudos de Byerly e Ross (2006) destacam e
acentuam sobre tudo na importância do ativismo e da investigação na criação de 62
alicerces conjuntos, pois acreditam que é só desta forma que é possível ter uma mudança
social. E a partir deste intuito a abordagem feminista ganha nas Mídias um espaço e se
afirma como “explanatory, political, polyvocal and transformative” (Wackwitz, Rakow,
2007, p. 258).

3. Igualdade e Equidade do Género

Existe muita confusão a volta desses dois termos, que vem sendo assunto de conferencia,
palestras e até de conversas de hiaces. Por isso, convém clarificar esta questão antes de
entrarmos verdadeiramente no assunto deste artigo.
A igualdade de género diz respeito à igualdade de direitos, de responsabilidades e de
oportunidades no que tange os dois sexos (feminino e masculino). A igualdade do género
permite que os dois géneros sejam retratados da mesma forma, face as oportunidades que
possam vir a surgir numa sociedade, implicando sobretudo os interesses, as necessidades
e prioridades das mulheres e homens.

É necessário frisar que a igualdade de género não é apenas uma questão de mulheres, mas
sim uma questão que também envolve todo o homem, tendo em vista
direitos humanos e como condição prévia para que se possa ter um desenvolvimento
sustentável, (Aristóteles; 2007;s/p).

Já a equidade de género foi considerada uma das virtudes definidas por Aristóteles na sua
obra Ética a Nicômaco. Aristóteles fez uma comparação com a justiça e ressaltou que os
dois termos não são idênticos e nem muito menos diferentes, mas tem o mesmo
significado. Contudo, sublinha-se que quando se refere a equidade não se pode referir à
justiça legal. Ainda o autor sublinha que, devido a insuficiência da lei, pelo seu caráter
universal, a equidade denota-se como uma retificação da mesma. Por isso, é revisto o erro
devido a uma expressão absoluta da justiça absoluta, em situações especiais ou de
exceção.

Gender equity denotes the equivalence in life outcomes for women and
men, recognizing their different needs and interests, and requiring a
redistribution of power and resources. (…) Gender equity goals are seen
as being more political than gender equality goals, and are hence 68
generally less accepted in mainstream development agencies (Reeves e
Baden, 2000, pp.09 e10).

A equidade de género significa ter uma equivalência perante os resultados da vida para
mulheres e homens, tendo em consideração as diferentes necessidades e os possíveis
interesses de cada género, exigindo uma redistribuição de poder e recursos.
(...) os objetivos de igualdade de gênero são vistos como sendo mais
políticos do que os objetivos de igualdade de gênero e, portanto,
geralmente são menos aceitos nas principais agências de desenvolvimento
(Reeves e Baden, 2000, págs. 9 e10).

Nesta perspetiva das Nações Unidas2 declara que:

Gender Equality refers to the equal rights, responsibilities and


opportunities of women and men and girls and boys. Equality does not
mean that women and men will become the same but that women’s and
men’s rights, responsibilities and opportunities will not depend on whether
they are born male or female. Gender equality implies that the interests,
needs and priorities of both women and men are taken into consideration,
recognizing the diversity of different groups of women and men. Gender
equality is not a women’s issue, but should concern and fully engage men
as well as women. Equality between women and men is seen both as a
human rights issue and as a precondition for, and indicator of, sustainable
people-centered development (Relatório das Nações Unidas; s/d; s/p).

A igualdade ganha um novo rumo neste contexto. Dependeria do conceito da equidade para se
realizar enquanto superação da desigualdade de género:

Gender equality denotes women having the same opportunities in life as


men, including the ability to participate in the public sphere. This expresses
a liberal feminist idea that removing discrimination in opportunities for
women allows them to achieve equal status to men. (…) However, this
focus on what is sometimes called formal equality, does not necessarily
demand or ensure equality of outcomes. It assumes that once the barriers
to participation are removed, there is a level playing field…(Ídem
Ibdem).

Com o decorrer dos anos a perspectiva da igualdade de género sofreu grandes alterações e
detalhada cronologicamente a partir destas definições:

Igualdade perante a lei: toda discriminação arbitrária, seja da parte do legislador, ao


elaborar as normas, seja da parte do juiz, na aplicação das normas aos casos concretos foi
rompido;

2
Para mais informação consultar o relatório, Nações Unidas: https://pjp-
eu.coe.int/documents/4223560/7907258/Norman.pdf/f50c75e2-7e0e-44cd-
8f47-6b56c1429be1, consultado em 12 de junho de 2018
Igualdade de direito: os dois géneros tinham os mesmos direitos de forma igualitária,
no que tange sobretudo, nos direitos fundamentais assegurados pela Constituição;

Igualdade de fato: tendo a mesma igualdade na realidade;

de oportunidades: os cidadãos independentemente dos sexos, tinham os mesmos


direitos, podendo participar de igual modo nas oportunidades que apareciam na Sociedade

Igualdade de trato: todos eram tratados de igual maneira, independentemente de sexo,


raça, idade, religião, etc.

Igualdade de resultados: todos os cidadãos devem ter acesso ao mesmo ponto de


chegada em cada uma das áreas nas quais querem inserir e obter os mesmos benefícios
das ações que foram implementadas (In Ética a Nicômaco 2007; s/p).

O movimento marxista deu um grande contributo para a defesa da Igualdade de Género ao aplicar
de forma imparcial o conceito de igualdade para todas as classes sem fazer nenhuma exclusão de
qualquer que seja a identidade coletiva.

O marxismo teve uma ideologia que mostrou alternativas verdadeiras à solução da exploração
que a mulher passava, nos momentos familiares, na sociedade moderna.

3.1. Cabo Verde e o Problema da Igualdade e Equidade do Género

A luta pela igualdade e equidade de género remonta o ano de 1848 em Nova Iorque, EUA,
numa Convenção em Seneca Falls, sobre direitos das mulheres. Posto isto, a questão do
género passa a ganhar mais visibilidade no mundo e a luta continua.

A era da revolução francesa e da pós-revolução deu continuidade à luta persistente da


classe feminina, tendo como preocupação princiapl a melhoria das condições de trabalho
e de vida.

Em Cabo Verde, no ano 1974, “homem e mulher passam a ter, perante a lei, os mesmos
direitos” (Osório, 2000 pág. 27). A partir desse período, começa a luta pela igualdade de
género no país, de forma a fazer com que tais direitos se reproduzissem nas práticas
sociais, aproximando os dois géneros nas condições de vida e nas oportunidades. No
entanto, para os inqueridos, a existência de igualdade de género em Cabo Verde não é
notável em todas as esferas e panoramas sociais. Embora, um número considerável de
inqueridos concordam, apenas parcialmente, que existe a igualdade de género no nosso
país, como se pode verificar no gráfico acima identificado.
Ciente da importância dos meios da comunicação nesta luta é preciso que a realização de
uma cobertura jornalística seja livre de estereótipos e com uma melhor abordagem nas
questões em que se envolve o género.

Neste sentido, o ICIEG, no âmbito do Projecto de implementação da lei, levou a cabo


uma sessão de formação/capacitação de jornalistas em Género e VBG em 2013, com o
propósito de proporcionar-lhes ferramentas que lhes permitam utilizar uma linguagem mais
inclusiva e livre de estereótipos e uma abordagem mais ligadas à temática de género e de
VBG, enquadrado no projecto ‘Trust Fund’.

Contudo, vale a pena reforçar que, em Cabo Verde, a questão de género ainda esta muito
associado a mulher, se calhar por estas estarem mais envolvidas nessa luta, mas é
importante realçar que a questão de género vai muito mais além, ela abrange homens,
mulheres e também as orientações sexuais.

Neste sentido, Natacha Magalhães afirma que a televisão “é um meio poderoso para
veicular valores da igualdade e da equidade, da aceitação das diferenças e do respeito e
da tolerância” (Entrevista: 15/11/18). Como forma de conscientizar a sociedade a
respeitar e aprender viver e conviver de forma igual com as diferenças e opções de
escolha.

Pois, os meios de comunicação social têm o poder construir a opinião publica, através do
ângulo de abordagem de um determinado assunto. E neste sentido a televisão, porque une
todas as caraterísticas que se pode encontrar nos outros meios, textos, imagens, videos,
som e animação, tem a vantagem face aos outros meios de comunicação, tornando num
meio interativo que nos permite ver e ouvir o mundo ao mesmo tempo.

A revolução nas várias artérias sociais e de severas transformações no domínio das novas
tecnologias, hoje pode-se dizer que a sociedade de cultura é também uma sociedade de
audiovisual, pois tudo o que se passa nos dias de hoje, é retrado de forma audiovisual nos
meios de comunicação, como nas redes sociais e com um clique, já se tem informações
com conteúdos, escritos e audivisuais.

Importa realçar, que num mundo globalizado, o homem valoriza muito a sensação com
que as coisas provocam do que propriamente o objeto em si. Nesta linha, Flusser (2008)
entende que: “O novo homem não é mais uma pessoa de ações concretas, mas sim um
performer [...]. Não se trata mais de ações, e sim de
sensações. O novo homem não quer ter ou fazer, ele quer vivenciar” (Flusser, 2008, p.58).
Abreu e Monteiro (2010) acredita que através da aglutinação da linguagem verbal
discursiva com as linguagens sonora e visual, pode-se então consolidar uma nova forma
de pensar o mundo que se está a viver.

De fato as várias formas que se pode fazer uma linguagem e a junção destas formas na
televisão, permite ter uma outra imagem de um determinado assunto e da situação de um
determinado país no momento ou no mundo.

Quando se fala da imagem do país, no que tange a igualdade e a equidade de género, o


impacto que se tem e que se nota é importante para o país, quer de forma positivo ou
negativo.

Na mesma linha, Rocha defende no seu artigo O poder da imagem na Comunicação,


mostra a importância do uso da representação gráfica numa peça, defendendo que esta
permite estimular nas reações, atraindo um olhar e despertando alguns pensamentos, ou
seja, a imagem que os meios de comunicação passam sobre um determinado assunto,
interfere ou influenciam na construção da imagem sobre um determinado assunto ou de
um país.

Ciente da importância da imagem na construção da opinião publica, Rocha, afirma que:

O processo de assimilação e retenção da informação de uma


imagem acontece de forma emocional e subliminar e, por isso, é bem mais fácil do que o
de uma palavra. Devido à força que ela tem para transmitir idéias ou conceitos, a imagem
se torna elemento estrutural essencial nas peças de comunicação. Ela reforça a intenção
da mensagem e amplia a sua permanência em nossos pensamentos. Através da emoção
conseguimos convencer as pessoas a “comprarem” uma idéia. A função primordial de
uma peça de comunicação, afinal, é conquistar a todos com a sua mensagem, seja para
vender ou informar. (Rocha 2017).

Magalhães partilha a ideia afirmando que:

Tendo em conta o poder que a imagem tem, é um meio poderosíssimo para transmitir
exemplos positivos, quer de mulheres quer de homens e também um meio para educar e
formar cidadãos para uma cultura onde homens e mulheres são vistos como pessoas
iguais, em liberdades, direitos e oportunidades.” (Entrevista:15/11/18).

Contudo, é visível que a televisão aliado as novas tecnologias tem se revelando cada vez
mais eficaz e frutífero no processo de transmissão e consolidação das mensagens ou
informações transmitidas, contribuindo desta forma para melhor difusão da informação,
bem como para na formação de uma sociedade consciente e evoluída. De acordo com os
dados recolhidos através do inquerito, pode-se verificar de uma certa forma o
reconhecimento do papel e importaância da TCV nesta luta.

Existe promoção de igualdade e equidade de género na TCV através dos seus conteúdos?

Posto isto, pode-se afirmar que a televisão ganhou mais visibilidade e teve mais saídas
nas compras, as fábricas de televisores tiveram que produzir mais peças e em grandes
quantidades, tornando-se um novo modo de ver e perceber o mundo.

Segundo Kellner (1995) o evento da televisão, paralelamente com outras medias, ganha
o papel no meio social de um novo modo de ver e perceber o mundo.

[...] os indivíduos são submetidos a um fluxo sem precedentes de imagens


e sons dentro de sua própria casa, e um novo mundo virtual de
entretenimento, informação, sexo e política está reordenando percepções
de espaço e tempo, anulando distinções entre realidade e imagem,
enquanto produz novos modos de experiência e subjetividade. (Kellner,
1995, p.27 apud Jesus Jordane & Resende Vitor, 2013).

Assumindo desta forma, a televisão como um instrumento de transformação social que se


apoia sobretudo no que produz, emite e veícula, “ela mistura percepções, alterando
– para muitos – a concepção entre ficção e realidade” ( KELLNER, 1995, p.27 apud Jesus
Jordane & Resende Vitor, 2013)

Nesta logica, baseando na análise do Jornal da Noite efetuada, referente aos meses de
março, junho, setembro e dezembro de 2018 chega-se a conclusão que a Televisão de
Cabo Verde, procura nas suas peças sempre trazer e promover a equidade de género,
dando vez e voz somente as mulheres, pondo-se de lado as outras orientações sexuais.
Contudo, vale pena reforçar que em Cabo Verde este assunto ainda carece de um maior
cuidado, pois durante a análise das peças não se constatou nenhuma entrevista ou
participação de gay, lésmicas, bissexual ou transsexual nas peças. Importa realçar, que
diferente das mulheres, estes ainda não conseguiram ocupar ou singrar na sociedade, o
que tem revelado ser uma questão sensível e problemático, pois suscita-se ser uma decisão
difícil para os Governantes, aceitar a inclusão social das outras orientações sexuais no
mercado de trabalho formal (numa posição de poder).

Ciente de que a sociedade cabo-verdiana, uma boa parte, é católico e seguindo os


preceitos da Bíblia3 de que:

Deus criou o sexo para ser feito apenas entre um homem e uma mulher, e
apenas se forem casados. (Gênesis 1:27, 28; Levítico 18:22; Provérbios
5:18, 19).

A Bíblia condena a fornicação, quer entre pessoas do mesmo sexo


quer entre pessoas de sexos diferentes. (1 Coríntios 6:18) Isso inclui ter
relações sexuais, acariciar os órgãos genitais de outra pessoa e praticar sexo
oral ou anal.
Embora a Bíblia desaprove as práticas homossexuais, ela não apoia a
homofobia ou o ódio aos homossexuais. Em vez disso, os cristãos são
aconselhados a ‘respeitar todas as pessoas’. Pedro 2:17.

Nesta ótica de Sacha Montez, ativista social e transsexual, afirma que o problema assenta
mesmo no Governo, que não dão vez e voz e nem oportunidades ás pessoas com outras
orientações sexuais, confessando que:

Tive tantos projetos, no entanto não tive


apoio nem sequer do Governo, quanto mais dos orgãos de Comunicação Social. Apenas
os meus projetos ficaram em sonhos infelizmente. E já agora eu não tenho mais força de
lutar por isso, tentar ajudar o Governo e os orgãõs de Comunicação Social e resolver este
dilema dos géneros (Entrevista 20/12/18).

Montez frisa ainda que:

(...) nos vêm com um olhar de quem não faz nada, mas a maioria
dos que fazem parte da comuniadade LGBTI têm os seus trabalhos, os seus negócios, os
seus afazeres e levam uma vida comum como as outras pessoas. Esqueçam que falar do

3
O que a Bíblia diz sobre a homosexualidade; s/d; s/a Disponível em: https://www.jw.org/pt/ensinos-
biblicos/perguntas/biblia-diz-sobre-homossexualidade/~
género não é somente falar dos héteros sexuais mas sim de todas as outras orientações
sexuais que existem”.

Posto isto, pode-se afirmar que Cabo Verde esta ainda dar os seus primeiros passos nesta
luta, muito já se conseguiu, mas é importante que esta batalha seja vista como um todo e
por todos e criar uma frente única, em vez de frentes fragmentados, focalizado e centrado
em um único ponto, a mulher.

4. Programação da TCV e a Problemática da Igualdade e Equidade


de Género

A imagem que TCV tem transmitido sobre Cabo Verde, tem revelado ser algum motivo
de preocupação de alguns cabo-verdianos, na medida que esta de alguma forma, esta
sendo manipulada, tendo em conta que muitas informações ou acontecimentos estão
sendo simplesmente colocadas na gaveta como forma de construir uma imagem que de
uma certa forma não corresponde a realidade que se vive no país. Ou de simplesmente
ignorar certo fenómenos ou uma terminada camada social (mulher; lésbicas; gays; etc.),
em detrimento do outro (políticos, empresários, etc.).

Nesta perspetiva, Sacha Montez (2018), mostra a satisfação com o trabalho que a
Televisão de Cabo Verde relativamente a matéria de igualdade e equidade de género,
sendo que a televisão nacional muito contribui para a projeção da
imagem do país, afirmando que:

A TCV não tem desempenhado função alguma quando o assunto for promoção da
igualdade e a equidade de género, prova disto é que quando se asiste a qualquer programa
da TCV ligado ao género o ângulo de abordagem é sempre héterossexual. Se formos ver
os assuntos da Comunidade LGBTI praticamete é nulo, não temos promoção, nem
auxílio, praticamente somos esquecidos, e muito não há uma incitiva de se ter um convite
para debruçarmos deste tema nos meios de Comunicação Social (Entrevista 20/12/18).

Já Nazaré Barro, jornalista pivot do Jornal da Noite da Televisão de Cabo Verde, numa perspetiva
contraria, acreditam que a Televisão de Cabo Verde, faz o seu trabalho de acordo com as
suas possibilidades, afirmando que:

Sempre que retratamos nas reportagens e programas da estação sobre a necessidade de


promoção da igualdade de género, da necessidade do empoderamento das mulheres para
que fiquem menos dependentes dos homens, sobretudo, em termos financeiros, estamos
a contribuir para a equidade de género. Porque mais do que mostrar os casos de VBG e
de pedir justiça aos agressores, é preciso dar alternativas às vítimas para não se sujeitarem
às situações recorrentes de agressões porque não têm como "sobreviver " longe dos
companheiros. E Mostrando tudo isso, como mostramos nas reportagens e debates que
fazemos, estamos a contribuir para a promoção do género, (Entrevista:13/01/19).

Opinião partilhada pelos jornalistas, Margarida Fontes, da TCV, acredita que este orgão de
comunicação tem feito a sua parte, afirmando que “a TCV dá um contributo importante enquanto
veículo de intermediação, e de promoção de vozes que lutam pela causa da igualdade de género”
(Entrevista: 22/01/19).

Pode-se reparar nas controvérsias relativamente ao performance da TCV, no que tange a cobertura
e o trabalho que tem desenvolvido no âmbito da questão de género, mas importa aqui realçar que
realmente a TCV tem feito alguma coisa, mas a questão que aqui se coloca é que se esta sendo
feito de forma adequada? a abordagem esta sendo a mais adequada e principalmente a
continuidade que se tem se suficiente? e de que forma que esses assunto estão sendo retratado?
estas são questões devem servir de fio condutor para uma reflexão profundo, entre os ativistas
sociais, feministas e não e jornalistas como forma de junto delinear a melhor forma ou estratégia
de cobertura ou de promoção desse assunto, como forma evitar ou acabar com acontecimentos ou
episódios poucos comuns de acontecerem como feminicidio.

Neste sentido, Eleanor Maccoby apresenta uma preocupação sobre a aceitação da igualdade de
género no trabalho. Uma critica que revela ser importante, tendo em conta q era em que a
sociedade esta a ultrapassar, casos de VBG que tem resultado em perdas de vidas.

The fact that there is a generational shift in attitudes, with younger people
taking gender equality in the workplace more for granted, also holds
promise of greater cross-sex acceptance in the future. Nevertheless, there
are still some sobering impediments to change (Maccoby 2003: 253)

Voltando a questão relativamente ao contributo da Tcv na promoção da questão de genero.


Ekivity dos Santos, membro da ONU-Mulher, acredita que sendo o, jornalista ser considerado
como o quarto poder, exerce um papel fundamental na luta pela igualdade do género.

Realizar um Jornalismo mais comprometido com questões de género exige uma grande
desconstrução, que passa pela desnaturalização de tudo o que é, e o que os Jornalistas
entendem sobre as relações de género. Exige estudo, debate, fazer perguntas e escutar,
mais do que tudo (Entrevista 11/01/19)
Ainda acredita que há passos que podem ser dados visando uma responsabilização dos conteúdos
que são transmitidos, principalmente nas reportagens. A membro da ONU Mulher, aproveita
então para deixar algumas sugestões que podem auxiliar para que se possa ter uma comunicação
mais feminista:

1. Usar linguaguem não sexista: A linguagem sexista por si só já nos traz a desigualdade,
a ironia e a descriminação nas suas orações e o uso de estereótipo o que não favorece a
igualdade de género muito menos a equidade da mesma. A cultura é um dos agentes que
favorecem a linguagem sexista.

2. Utilizar fontes especialistas em género: Ter especialistas focados no género, que


infelizmente em Cabo Verde não temos. A presença de especialistas favorece a luta por
direitos iguais e sobretudo contribui para esclarecer as dúvidas acerca do assunto.

3. Utilizar fontes mulheres Fontes mulheres sao válidos, mas a nossa observação também
inclui homens, e em Cabo Verde temos homens que abraçam as mulheres nesta causa,
desafiando os restantes a colaborarem nesta luta.

4. Ter um banco de dados acessível sobre género: É possível ter um banco de dados onde
pode-se encontrar dados concretos sobre os diversos tipos de casos que incluem o género
em Cabo Verde, onde facilita e faculta aos Jornalistas, em tempo real as informações
pertinentes para a elaboração de uma peça ou até mesmo para o pivot.

5. Referir-se às fontes de ambos os géneros de forma igualitária. O que mais se clama é a


inclusão de todos os géneros, principalmente das vastas orientações sexuais que existem,
de forma a termos uma sociedade justa e iqualitária, sem tabus e sem discriminação.

6. Ilustrar com imagens que humanizem e empoderem as mulheres A TCV já tem andado
a fazer isto, contudo nunca é demais reforçar aquilo que é bom. (Entrevista 11/01/19)

7. Ter um manual de género sempre à mão O ICIEG disponibiliza este Manual e é também
facultado aos Jornalistas e já fizeram parte de várias formações ligados ao género.

A nível mundial os orgãos de Comunicação carregam este dever de promoverem o bem


social e a educação acima de tudo, ou seja, os meios de comunicação de ser um meio que
estabelece comunicação entre o povo, governado e elites, governantes, que mais do que
fazer de simples intermediário de garantir e supervisionar os interesses dos governados,
sendo olhos desses e possibilitar e garantir momentos de antena a todos de forma igual.
Neste sentido, é muito importante que se reconheça essa responsabilidade social dos
medias para que se possa permitir que medias possam cumprir da melhor forma o seu
propósito, o de servir a sociedade.
Nesta perspetiva, Magalhães (2018) confia que a televisão por ser um espaço que se
encarrega da projeção visual de iniciativas e exemplos positivos, é atribuido a
responsabilidade de veicular valores da igualdade e da equidade, da aceitação das
diferenças e do respeito e tolerância. (Entrevista 15/11/18).

A TCV é a maior estação de televisão em Cabo Verde, como tal tem uma grande
responsabilidade na promoção da igualdade de género. Na ótica dos inqueridos, esse
contributo não é cabal e necessita ser acentuado. Ekvity dos Santos, acentua que, “O papel
dos jornalistas é fundamental para termos uma sociedade mais igualitária e justa para
ambos os sexos. Os
jornalistas podem e devem usar as suas ferramentas “as suas vozes” para passar
mensagens.” (Entrevista 11/01/19).

A progamação da Televisão de Cabo Verde não tem sido de agrado de muitos


telespetadores quando o assunto é igualdade e equidade de género, pois não existe um
programa especifico voltado a está temática. Os jornalistas e os apresentadores incutem
está temática nas suas peças e nas suas apresentações nos programas que existem dentro
desta estação.

De acordo, com a leitura da análise de conteúdos feito do Jornal da Noite é visível épocas
em que o género (somente a mulher) se destaca mais e tem meses que se nota menos a
presença da mesma. O que mostra claramente défice na programação, dando apenas maior
ênfase em datas marcantes, (mês de março nota maior presença das noticias relacionadas
com mulheres, bem como a participação das mulheres em programas como convidadas,
dados recolhidos através da análise dos conteúdo, Jornal da Noite, entre programas).

O jornal da noite da TCV é um dos programas de maior interesse e maior audiência. Pelo
que, a seu papel na promoção da igualdade de género torna-se pertinente. Apesar disso,
dos inqueridos não estão totalmente convencidos de que esse contributo seja notável, uma
vez que, a maiora concorda em parte com esse contributo. Apresentando cerca de
44,324% dos inqueridos concordando em parte, como se pode verificar no gráfico que se
segue:

Jornal da noite contrbui para promoção de igualdade e iquidade de género


Contudo, importa realçar que este resultado revela que os conteudos transmitido através
de TCV, influência de uma certa forma na formação de opinião dos individuos, revelando
assim um instrumento ideal nesta luta. Pois sendo a televisão um dos instrumento que
fazem parte do cotidiano dos caboverdianos, fazendo companhia todos so dias às familias
é importante a aliança entre o movimento feminista, entre outro movimento que visa a
promoção de igualdade social com os medias, televisão.

5. Considerações Finais

Como se pode concluir em Cabo Verde, também, segue esta luta em prol do
empoderamento feminino e dos direitos iguais entre homens, mulheres e a comunidade
LGBTI. Também, espelha-se muito na realidade das mulheres em que a cultura as
oprimiram, evitando que se revelassem ao mundo, conscientes e firmes do caminho que
estavam à espera, deixando de lado a narrativa conservadora em que os nossos
antepassados nos deixaram sobre o papel da mulher na família e na educação dos filhos,
estando sob a sua tutela a tarefa de cuidar da família. A mulher pode também cuidar da
família e ser independente, ter o seu próprio emprego e garantir a sua independência
económica.

Ainda se pode concluir que é necessária uma força conjunta entre diversos intervenientes,
para que juntos possam conseguir levar a um bom porto nesta matéria. Pois, muito já se
conseguiu, mas pode-se conseguir muito mais envolvendo meios de comunicação,
homens héteros, gays, lésbica, mulheres, junto com um único propósito, não tendo apenas
mulheres a frente, mas sim partilhar a luta, na logica de divergir para convergir.

Importa ainda realçar, que o conceito da igualdade está na diversidade e não na


incapacidade dos iguais se tornarem diferentes.
No que tange aos objetivos específicos, pode-se constatar que apesar da TCV colaborar
com as ONGs que lutam pela igualdade e equidade de género, fazendo cobertura de
atividades, de entre as quais, palestras, conferências e workshops. Há que admitir que
falta muito por fazer e melhorar e a necessidade deste órgão estar mais próximo e
comprometido com a sociedade como forma de melhor servir a sociedade, ouvindo-o e
fazendo ser ouvido e que pode passar pela criação de programas especificos que visa
debater assuntos ligados a mulher, permitir uma participação permanente e ativa da
mulheres e mais diversos assuntos.

Referencias bibliográficas

FERREIRA, MORREIRA & ALVARES (Eds.) (1999). Mulher, Gênero e Políticas


Públicas; São Luís; Roberto Sousa Carvalho;

GOMES (2011). Mulher e Poder – O caso de Cabo Verde; Cabo Verde: Instituto da
Biblioteca Nacional e do Livro (IBNL);

LAMAS, (1998). A Mulher em Questão – Contributos para uma pastoral da mulher,


Portugal: Federação as mulheres Metodistas;

SILVA (2002). Feminismo em Portugal- na voz de mulheres escritoras do início do


século XX 3° Edição Lisboa: Negócios- Artes Gráficas, Lda:

ROCHA Romina (2004). Mulheres em posto de decisão: a questão do género;

ARISTÓTELES.(2007). Ètica a Nicômaco. Bauru: Edipro, tradução Edson Bini, 2 ° ed;


disponível em:
http://portalgens.com.br/portal/images/stories/pdf/aristoteles_etica_a_nicomaco_poetica
.pdf, consultado em 21de maio de2018

CABECINHAS (2004).Representações sociais, relações intergrupais e cognição social;


Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/paideia/v14n28/03.pdf, consultado em 21de
maio de 2018.

CERQUEIRA, Magalhães, Cabecinhas, Nogueira (2011). As representações de género


nas revistas portuguesas de informação generalista: em busca de uma cidadania inclusiva,
Disponível em: http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/lmc/article/view/465/436
consultado em 21de maio de2018

CERQUEIRA & CABECNHAS (2015). A cobertura jornalística do Dia Internacional das


Mulheres na imprensa portuguesa: mudanças, persistências e reconfigurações,;
Disponível em: http://www.revistas.usp.br/novosolhares/article/view/102209
consultado em 21de maio de 2018.

ROCHA Heron , 2017; O poder da imagem na Comunicação; Disponível em


https://www.interligar.com.br/o-poder-da-imagem-na-comunicacao/ consultado em 22
de maio de 2018.

JESUS Jordane & RESENDE Vitor, 2013; A Televisão e sua influência como meio: uma
breve historiografia; Disponivel em http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-
1/9oencontro-2013/artigos/gt-historia-da-midia-audiovisual-e-visual/a-televisao-e-
suainfluencia-como-meio-uma-breve-historiografia, consultado em 05 de maio de 2018.

Projeto Lei de paridade (2019). Disponivel em:

Você também pode gostar