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Universidade Federal do Rio Grande

Curso de Relações Internacionais

Nome: Auanny Santos, Raíssa Maciel, Fernanda Diel, Dienifer Raenke e Matheus
Pinheiro

Disciplina: Fundamentos de Direito Internacional Público

Semestre Letivo: 3°semestre

Abordagens feministas ao Direito Internacional

1. Introdução

De início, convém destacar que o artigo “abordagens feministas ao direito


internacional” foi escrito no ano de 1991 em um contexto de pós Guerra Fria e de
questionamento do status quo vigente na época. As autoras Hilary Charlesworth,
Christine Chinkin e Shelley Wright são juristas e teóricas feministas que buscavam, por
meio deste e de outros trabalhos, exemplificar a insatisfação com a abordagem
masculinizada do Direito Internacional, questionando principalmente o por que das
preocupações do direito internacional público à primeira vista, não possuírem nenhum
impacto sobre as mulheres em particular, visto que questões de soberania, território, uso
de força e responsabilidade estatal parecem estar, por exemplo, livres de questões de
gênero em sua aplicação às abstratas entidades estatais. Essa jurisprudência feminista
desenvolvida produziu uma rica e frutífera contribuição a ciencia jurídica.

Além disso, ao questionar a abordagem do direito internacional enquanto


disciplina, as autoras argumentam que as estruturas monogenéticas do direito
internacional e o conteúdo das suas regras privilegiam os homens. Nesse contexto, se
porventura os interesses das mulheres são tomados em consideração, eles são
marginalizados, visto que o direito internacional é um sistema completamente marcado
por uma perspectiva de gênero. Esse desafio a natureza e ao funcionamento do direito
internacional contribuiu para o progressivo desenvolvimento da teoria jurídica
feminista, que pode ser evidenciado em um relato feminista do direito internacional, o
qual sugere que habitamos em um mundo no qual homens de todas as nações têm usado
o sistema estatal para estabelecer prioridades econômicas e nacionalistas que servem às
elites masculinas, enquanto necessidades humanas, sociais e econômicas básicas não
são atendidas.

Diferentes vozes no direito internacional:

Observando o disposto no referido capítulo, cabe discorrer que há uma


análise das diferentes vozes no contexto internacional. Há um destaque inicial referente
a uma relação entre o ponto do feminismo frente ao terceiro mundo. Subsequentemente,
há uma análise destas vozes de mulheres no âmbito de mundos desenvolvidos e em
desenvolvimento, bem como analisa-se ideias, pensamentos e posições em comum.
Também, é importante destacar que na área jurídica, as feministas expõem
preconceitos de gênero que por vezes se mostram neutros em diversos sistemas
normativos. Observa-se um ponto central onde na maioria das teorias ocidentais este
direito é tratado de forma autônoma, diferentemente da sociedade a qual o regula
Sendo assim, destaca-se que há uma demasiada preocupação em relação aos
estudos referente ao feminismo e, ainda, uma preocupação quanto a identificação das
vozes distintas, às vezes caladas e esmagadas, observando que, justamente essas vozes
que desafiam os fatores culturais criados e defendidos pelo homem. A doutrina se
embasa em um posicionamento referente a análise da questão de haver ou não haver
alguma “voz” diferente, em raciocínios e pensamentos em relação a forma cultural
masculina.
Há de se ressaltar que a mesma doutrina que em tese instiga a analisar se
ocorre de forma relevante uma diferenciação de pensamentos masculinos e femininos,
examina a questão desde o desenvolvimento infantil, trazendo o pensamento e opinião
de jovens meninas, para assim tentar abarcar uma nova ideia sobre o tema. Destaca a
ideia de que se resolva um dilema moral em uma situação hipotética, a pensar e a reagir
sobre o problema de forma diferente dos meninos (GILLIGAN, 1982, p. 25-51).
Diferencia neste ponto a reação entre os dois sexos, sendo o feminino
voltado a “ética do cuidado”, voltadas a responsabilidade, enquanto o lado masculino
encontra a “ética do direito”, ou ainda, “justiça”, diferenciando a análise dos problemas
de uma forma mais abstrata, em termos de certo e errado, lógico e racional.
Assim, as teorias psicológicas destacam um padrão de raciocínio masculino
como um pouco mais avançado do que o padrão de raciocínio feminino. Neste
seguimento, o desenvolvimento de pesquisa fora proveitoso frente a criação de análises
de raciocínio a processos abstratos e ainda objetivos. Entendeu que a simples
reprodução do raciocínio do homem reduz a objetividade.
Ocorre neste caso que as “feministas” compreendem a possibilidade deste
raciocínio, agora feminino, igualmente válido aos masculinos, porém tomam como base
fatores de certo modo analisados irrelevantes frente ao pensamento jurídico. Identifica
portanto alguns aspectos como, meios alternativos para resolução de conflitos, técnicas
de negociação não confrontacionais.
Sendo assim, frente aos demais entendedores e doutrinadores que também
estudam o tema do feminismo, a ideia da “voz diferente” veio a ser criticada. Enfatizou
o estudo a diferença entre os sexos advindos de uma questão voltada às práticas de
educação infantil, observando as orientações de gêneros, entendem a diferença como
“afirmarem as qualidades e características da impotência”.

Desafios Feministas e Terceiro - Mundistas para o Direito Internacional:

Sobre os desafios feministas , questiona-se se a questão por sua vez acaba


inserida ou não no direito internacional, visto que as divisões entre as nações
desenvolvidas e em desenvolvimento geram um grande debate sobre o tema em um
contexto geral internacional.
A doutrina destaca que um grande fator da descolonização no continente
Africano e Asiático, tem sido por conta da criação de Estados independentes e,
consequentemente esses Estados acabam desafiando as normas de direito internacional
por diversos fatos, mas os mais relevantes quando prejudiciais a seus interesses.
Também, cabe discorrer que o Estado em desenvolvimento utiliza da
tomada de decisões em negociações favoráveis para tratar de forma não convencional,
ou métodos não tradicionais, o que de fato encontra um conflito com as vozes
feministas, ou “a voz diferente das mulheres”.
Cabe destacar o disposto no corpo do texto quanto às visões não ocidentais
feministas das relações internacionais estarem de todo modo interligadas umas às
outras, destacando o que segue:
" Se […] ao invés de nos tornarmos escravos de conceitos de
direito internacional e moralidade, nós confinássemos estes
conceitos à função não obstrutiva, quase feminina, de um
civilizador gentil dos auto interesses nacionais, nos quais tais
conceitos encontram seu real valor; se fôssemos capazes de
fazer estas coisas em nossas tratativas com os povos do Leste,
então, penso eu, a posteridade poderia olhar para os nossos
esforços com questionamentos menos numerosos e menos
conturbados" (KENNAN,p. 53-54, 1953; JAQUETTE;
STIEHM, p. 9, p. 22, 1984).

Em um estudo, destacado na doutrina, se examinam algumas visões de


mundo e feministas, que determinam se seria ou não uma visão sucessora alternativa da
ciência da epistemologia. Destaca-se que na geração das verdades científicas, as partes
feministas acabam sendo consideradas subordinadas.
Ocorre que existem problemas para se verificar quais realmente seriam estas
vozes subordinadas, deixado o questionamento de que até qual ponto as visões de
mundo não são produtos dos padrões conceituais colonialistas. Entende-se então que
pode-se haver uma ligação com a ausência do tema nas atividades sociais de homens
europeus e portanto, analisa que é possível haver uma ordem que se baseie no gênero e
raça, que deve vir a existir.
Há uma comparação entre a posição dos Estados do Terceiro Mundo e das
mulheres. Entende-se culturalmente que se encontra uma questão mais paternalista, que
entende como alguém que tem que vir a ser treinado para se encaixar no mundo
desenvolvido pelos homens, adequar-se às regras já estabelecidas e assim poder fazer
parte deste ordenamento.
Por este fato que feministas e algumas nações em desenvolvimento tem
resistido em aplicar esses padrões e argumentam em favor de mudanças de certa forma
elevadas em prol de uma cooperação e progresso.
Ocorre que frente ao direito internacional esse assunto de todo modo
mostra-se de certa forma uma matéria com uma agenda despreocupada. A própria
sociedade por sua vez mostra-se contra as posições das mulheres, estruturas de poder e
os processos de decisões por sua vezes mostram-se contrários por diversas vezes aos
interesses femininos, mostrando-se excludentes na sociedade.
O direito internacional por sua vez mostrou-se muito mais preocupado com
questões econômicas que de certo modo acabou deixando de fora o interesse feminino e
a voz das mulheres em diversas questões importantes e relevantes, como também regras
em ordenamento de direito internacional sobre as mulheres.

Feminismo no Primeiro Mundo e no Terceiro Mundo

Uma análise feminista do direito internacional sempre deve levar em questão as


realidades distintas do meio social. Sendo assim, considerando que mulheres do
Primeiro e Terceiro Mundo estão situadas em contextos divergentes, as suas
perspectivas feministas também o são. Como já mencionado anteriormente, o ambiente
do direito é masculinizado, logo, o que se observa é a caracterização das preocupações
feministas como uma esfera à parte, que tanto no Primeiro quanto no Terceiro Mundo
são completamente ignoradas.
O que se toma por estudo e discussão no capítulo apresentado é a distinção entre
a realidade de um feminismo ocidental e um “não ocidental”. Assim, o feminismo
ocidental originou-se com o objetivo de reivindicar o direito de tratamento igualitário
entre homens e mulheres, buscando tais exigências por meio do Estado. Diferentemente,
as autoras citam que essa busca de garantias, como o aborto, não é tão interessante para
mulheres não-ocidentais, já que, a exemplos citados, enquanto no mundo ocidental o
aborto é uma questão de constante busca, no Terceiro Mundo há controles de natalidade
que limitam o número de filhos.
Ainda, a obra analisada destaca a questão colonial na abordagem feminista das
mulheres do Terceiro Mundo. Considerando que as mulheres eram usadas como
provedoras de sexo aos colonizadores, além de reservatórios de mão de obra, o
colonialismo reafirmava o poder masculino colonizador sobre as mulheres. No período
em que essa estrutura começa a ser ameaçada e lentamente substituída por movimentos
nacionalistas, apesar do nacionalismo criar uma ideia de sociedade igualitária e não
exploradora, ele não é uma moção que atende às questões feministas. Longe disso, o
nacionalismo é um movimento que perpetua a ignorância em relação às perspectivas
feministas.
Ademais, o que nota-se é que, apesar das demandas do público feminino serem
ignoradas, as mulheres do Terceiro Mundo, para tais movimentos, continuam possuindo
as suas imagens abusadas, forçadas a adotarem um comportamento ocidental, para criar
uma identidade nacional. Mais uma vez, mulheres não ocidentais não são ouvidas e
apenas impostas a um papel que atenda as demandas dos homens. Ainda, é explicitado
que nas culturas não ocidentais, é notório que a atuação feminina sofre uma aversão,
principalmente quando é fora do mundo doméstico, maior do que em uma sociedade
ocidental. Por isso, o feminismo terceiro-mundista é, majoritariamente, voltado para
atender demandas de mulheres mais oprimidas e menos privilegiadas, em contraste com
o feminismo do Primeiro Mundo.
Em conclusão, o que une tanto o Primeiro quanto o Terceiro Mundo nas
perspectivas feministas é que ambos se preocupam com a dominação dos homens no
mundo. O patriarcado é uma constante que ameaça o feminismo. Portanto, o que
persiste em ambos é a tentativa de lidar com tal sistema ou estrutura que permite que o
patriarcado, essa dominação masculina, perpetue e reprima os direitos femininos.
Assim, a idealização de uma perpesctiva feminista em relação ao direito internacional
permite que as mulheres sejam ouvidas, desmistificando sua capacidade voltada apenas
para o mundo doméstico.

O Mundo Masculino do Direito Internacional

Este tópico em específico trata sobre o Estado e as organizações internacionais


como sujeitos de direito internacional que compartilham de uma visão masculinizada da
ordem jurídica e por isso, uma invisibilidade feminina. Adiante, sobre a estrutura
organizacional do direito internacional, considerando o Estado e as organizações
internacionais, o que se vê é a mínima presença feminina nesses espaços. Dessa forma,
os sistemas ou estruturas de poder dentro dos Estados são, até os dias atuais,
majoritariamente masculinos, dando às mulheres pouca representação e poder decisório.
Analisando os Estados, o que se vê é que eles são estruturas consolidadas na dominação
masculina, de forma que ele não só exclui o público feminino mas se sustenta em uma
elite composta por homens.
Em relação às organizações internacionais, considerando que elas são extensões
dos Estados, também replicam sistemas que restringem o papel da mulher, tornando-as
subordinadas ou direcionadas a cargos insignificantes, sem poder decisório. Como
exemplo de OI, a ONU apesar de ser um uma organização conhecida pelo aceite de
membros universais, a mesma situação se repete, a universalidade não é aplicada às
mulheres. Por isso, foi criado na Carta da ONU, um artigo para que essas restrições em
relação à empregabilidade fosse anulada, em uma tentativa de igualar os gêneros. Sem
surpresas, o artigo foi redigido como algo não obrigatório, sob o pressuposto de que as
escolhas dos admitidos não poderiam ser anuladas, já que isso impedia a liberdade de
escolha. Ou seja, se tais preferências não fossem por homens, feria a liberdade da
organização. Em síntese, eram decisões e argumentos que mantinham a ordem
masculina e a sua perpetuidade.
Não obstante todas essas decisões serem tomadas por homens, é necessário
considerar o impacto que elas possuem no público feminino. A maioria dos refugiados
no mundo, por exemplo, são mulheres, mas em 1989 apenas 1 dos 28 cargos plenos do
Secretariado do Alto Comissariado das Nações Unidas pelos Refugiados era ocupado
por uma mulher (CHARLESWORTH, CHINKIN e WRIGHT, 2019, p.182). Na Corte
Internacional de Justiça, apenas uma mulher foi juíza e, na Comissão de Direito
Internacional, nunca houve um membro que fosse mulher. Ainda, o único comitê que é
completamente formado por pessoas do gênero feminino é o Comitê pela Eliminação da
Discriminação contra as Mulheres e este, foi criticado pela “desproporcionalidade” de
mulheres. Assim, quando há órgãos completamente femininos, eles geram incômodo,
mas quando são completamente masculinos, a problemática não é digna de atenção.
Em suma, é notório que as instituições jurídicas internacionais citadas são
majoritariamente compostas por homens e, tal sistema se dá pela continuidade do
patriarcado. Essa vigência acaba tornando normal que as questões dos homens se
tornem assuntos de importância cotidiana, enquanto que as demandas do público
feminino tornam-se “extremas”, já que as mulheres sofrem muito mais violência
doméstica e sexual, assim como discriminação sexual, do que homens, tornando esses
problemas uma esfera à parte. Assim, caso essas instituições fossem alteradas para
atender verdadeiramente a todo o público, o direito internacional e a política mudariam
de tal forma que as demandas femininas seriam consideradas iguais ao dos homens,
contribuindo para um sistema mais avançado e universal.

A Estrutura Normativa do Direito Internacional

No direito internacional, os Estados são sujeitos primários sendo afetados


diretamente, mas o fato é que o direito internacional também afeta os indivíduos como
foi reconhecido pelo Tribunal Internacional, as normas aplicadas pelo direito
internacional são direcionadas aos indivíduos, sendo neutras e aplicadas universalmente.
Entretanto, o direito internacional não analisa como essas normas afetam homens e
mulheres de maneiras diferentes, além de ignorar as experiências das mulheres.

A estrutura normativa que envolve as questões de gênero, são divididas entre


esfera pública e privada. Na estrutura normativa pública, principalmente em locais de
trabalho - em áreas intelectuais - em que a autoridade e o poder estão em jogo, é visto
como um mundo dos homens, sendo algo natural e de mais importância do que na
esfera privada. Na estrutura normativa privada, as mulheres dominam lugares como o
lar e cuidando de crianças, sendo vistas e possuindo um status de inferioridade na
cultura dos homens. Carole Pateman explica a dominação dos homens sobre as
mulheres diante desse conceito de natureza para as mulheres, sendo reduzida a uma
análise biológica, deixando de focar nas questões sociais, históricas e culturais.

A psicologia social explica que o comportamento de homens e mulheres diverge,


pois os homens possuem um caráter mais ativo, de curiosidade, ambição,
responsabilidade e competição, características adequadas para atuar no mundo público.
O caráter normal para as mulheres é reativo, passivo, afetuoso, obediente e que espera
aprovação. Desse modo, o direito tem a cultura do poder, da objetividade, termos que
são associados à esfera pública e consequentemente à esfera masculina. Portanto, o
direito diverge das características associadas ao feminino que são os sentimentos, a
emoção, a passividade e a subjetividade. Com o direito voltado a essa esfera pública, as
questões domésticas das mulheres, como a violência no lar, são ignoradas e pouco
recebem atenção, além de terem dificuldade em provar esse ato.

Desse modo, é possível notar que a dominação masculina sobre as mulheres é


relacionada ao poder, enraizado como um problema estrutural. Mackinnon reflete a
questão de gênero como hierarquia. Sendo assim, essa análise é feita a partir da
dominação masculina e subordinação feminina.

Rumo a analise feminista do direito internacional

A teoria jurídica feminista é vista aplicando várias atividades no direito


internacional. Essas atividades interessam e focam sua atenção na questão de gênero,
nas mulheres como indivíduos e como parte de um grupo, além de ter uma postura
crítica sobre a hierarquia masculina e reformular o direito para que possa se aplicar e
refletir nos problemas e ações de todos (WISHIK, 1985).
Assim, quando se utiliza o método feminista para reavaliar o direito, é preciso
analisar os métodos jurídicos, a linguagem utilizada, os conceitos abstratos e
principalmente a estrutura hierárquica masculina em organizações políticas e jurídicas.
(referencia do autor). Tal abordagem deveria começar a levar os interesses das mulheres
a sério e também a levarem a sério seus anseios (LITTLETON, 1989).

Crítica dos direitos

A critica feminista é sobre a aquisição de direitos femininos para as mulheres,


em busca por igualdade, mas se apenas concentrar nessa questão, pode não ter tantos
resultados positivos. (GROSS, 1986). Além dos problemas de interpretação, aplicação e
acesso juridicamente, a própria retórica do direito estaria desgastada (SMART, 1989).

Na teoria ou juridicamente, a aquisição do direito igualitário, resolve um


desequilíbrio de poder. Mas, na prática, tal promessa é desfeita pela desigualdade de
poder (CHARLESWORTH, CHINKIN, WRIGHT, 1991). Essa desigualdade social e
econômica e a dependência causada por essa patriarcal, desencoraja as mulheres de
possuir seus direitos. Isso se aplica em direitos que são exclusivos das mulheres, como
aborto e a liberdade de se reproduzir (SMART, 1989).

O direito prioriza os direitos civis e políticos que não oferecem tanto seus
direitos que se adequem à experiência das mulheres. Os direitos econômicos, sociais e
culturais vistos pelo direito internacional são os mais difíceis de se implantar e são
nesses ambientes em que as mulheres sofrem mais opressão (CRANSTON, 1983).

A segunda crítica se baseia que os direitos concedidos às mulheres, pouco ajuda


no progresso dessa causa, quando omite a competição entre direitos. Um exemplo é o
direito de crianças e mulheres que a não ser que sejam violentadas dentro do lar, podem
competir com o direito à propriedade dos homens em seus lares ou com direito destes à
vida em família. Na Convenção Europeia de Direitos Humanos sobre a vida familiar, os
pais usaram para assegurar sua autoridade sobre filhos fora do casamento (SMART,
1989). Para evitar que essas situações aconteçam, é necessário pressentir que esses
direitos não recaiam só para alguns grupos. Entretanto, caso alguns direitos fossem
aplicados apenas para as mulheres, esses direitos poderiam ser marginalizados assim
como é na esfera pública (internacional) (CHARLESWORTH, CHINKIN, WRIGHT,
1991).
A terceira crítica é da abordagem da igualdade de gênero por meio da aquisição
de direitos, e que alguns dos direitos podem funcionar em prol das mulheres. Isso se
evidencia no direito à liberdade religiosa que se aplica diferente para homens e
mulheres, pois algumas práticas religiosas impõe na sociedade um status menor para as
mulheres (SHARMA, 1987).

O comitê CEDAW (Convenção para a Eliminação de todas as Formas de


Discriminação contra a Mulher) pediu para as Nações Unidas realizar um estudo sobre o
status das mulheres na família e sua participação na sociedade, considerando os
princípios do El Ijtihad no Islã. Os representantes das nações islâmicas consideraram
uma ameaça de liberdade à religião. (BYRNES, 1988) Desse modo, a sugestão do
comitê foi rejeitada. O CEDAW se justificou dizendo ser necessário esse estudo para
que as obrigações sejam feitas de acordo com a Convenção das Mulheres e que não
tinham o direito de desrespeitar o Islã (BYRNES, 1988).

O direito à proteção da família também afeta de forma diferente homens e


mulheres. Na Declaração Universal de Direitos Humanos proclama que: “A família é o
núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do
Estado”. Essa definição ignora que nem sempre o lar é seguro para as mulheres que
sofrem ou que podem sofrer violência doméstica, além de continuar a estrutura de poder
nessa instituição, sendo considerada a dominação dos homens sobre as mulheres
(CHARLESWORTH, CHINKIN, WRIGHT, 1991).

No Terceiro Mundo, o desenvolvimento desse direito - igualdade entre homens e


mulheres - ainda é um problema, pois há o medo dos valores tradicionais serem
quebrados. Um exemplo é da Carta de Banjul que frisa a necessidade das comunidades
e povos serem reconhecidos como sujeitos de direito. A Carta inclui o direito das
“gentes” e dentro dele está o direito à autodeterminação, da exploração de recursos, do
desenvolvimento, da paz e segurança. Apesar disso, o direito das “gentes” não inclui as
limitações das mulheres dentro dessa comunidade (CHARLESWORTH, CHINKIN,
WRIGHT, 1991). No artigo 18 da carta, apresenta a proteção da família e dos valores
tradicionais e como a família sendo um núcleo fundamental e como base da sociedade e
a eliminação da discriminação contra a mulher. Há uma contradição em ter os valores
tradicionais - a maioria derivado de uma sociedade pré-colonial em que a mulher teria a
função biológica de reproduzir essa linhagem social e os homens controlavam a
capacidade de trabalho das mulheres - e da liberdade das mulheres
(CHARLESWORTH, CHINKIN, WRIGHT, 1991). No âmbito nacional e
internacional, dos Direitos Humanos as mulheres são iguais aos homens, tratados como
indivíduos e com o mesmo tratamento. Mas os “valores tradicionais” podem impedir
que as mulheres utilizem dos direitos humanos (AMOS, 1984).

Embora haja esses problemas, conseguir direitos é um modo de mostrar a força


das mulheres na sociedade e na luta contra a desigualdade. Em nível internacional, a
busca por direitos possui um meio de desafiar a ordem jurídica tradicional. Porém essa
aquisição de direitos não deve ser vista automaticamente como um avanço das
mulheres. Os diretos possuem uma limitação diante das necessidades das mulheres,
sendo um desafio para o direito internacional (CHARLESWORTH, CHINKIN,
WRIGHT, 1991).

Distinção Público/ Privado na questão de gênero:

Existe um debate muito grande dentro do direito internacional sobre a distinção


entre público e privado na questão de gênero. O Direito ao desenvolvimento tem uma
óptica mais voltada para os direitos humanos visando o social ser plenamente realizado
neste contexto. A principal critica a este direito é a sua concepção extremamente
idealista, enquanto seus apoiadores afirmam que a razão social é voltada a solidariedade
e uma ideia de mudança em conjunto dentro do corpo civil.
Os Estados devem aplicar o direito ao desenvolvimento de forma benéfica para
ambas das partes dentro da questão de gênero. No entanto, dentro desse idealismo do
desenvolvimentismo faltam deveras práticas que olhem para as mulheres como
membros ativos à frente da sociedade. Também, acredito que há a necessidade de olhar
para situações específicas de gênero, vendo que dentro da questão das mulheres existe a
questão de raça, classe e orientação sexual que não entram em pauta, sendo que elas
influenciam diretamente a questão de gênero do direito internacional. Portanto, é
necessário levar em pauta essas questões por conta delas, que é prioridade para cada
grupo social dentro da questão das mulheres no direito internacional.
Dentro da declaração dos direitos humanos a discriminação contra as mulheres não
é levada como um coeficiente em relação ao cálculo para a justa distribuição de
benefícios . Existem três teorias de subdesenvolvimento que são importantes dentro do
DIP. A escassez de capital, exploração de riquezas e a dependência econômica faz as
nações desenvolvidas usarem as nações subdesenvolvidas como fonte para seu
desenvolvimento. No entanto, essa dependência econômica não é tão vantajosa para os
países explorados dentro do sistema. Dentro desse sistema não é levado em
consideração o trabalho doméstico das mulheres para que o desenvolvimento dentro
destes países seja desenvolvido com êxito.
Dentro do DIP é previsto o direito internacional ao desenvolvimento que tem
como uma das principais propostas auxiliar países menos desenvolvidos. Nessa questão
mais uma vez as mulheres não são levadas em consideração sendo as que mais morrem
de fome e muitas vezes tendo que sustentar famílias inteiras sozinhas, levando em conta
principalmente a situação do Brasil que apenas este ano teve 56 mil bebês sem nome do
pai na certidão de nascimento. Portanto, é perceptível o maior auxílio que deveria ser
oferecido a elas.
O trabalho doméstico é visto como algo irrelevante dentro das esferas que
envolvem a questão do trabalho doméstico das mulheres para o desenvolvimento destes
países. Atividades como essas são consideradas fora do limite de produção. Além disso,
enxergar mulheres dentro da esfera de atuação pública não é comum pelas condições de
emprego não serem iguais para ambos os gêneros.
Segundo a autora ¨ Essa visão do trabalho da mulher como não sendo trabalho foi
bem resumida em 1985 em um relatório do Secretário-Geral na Assembleia Geral,
Perspectiva socioeconômica geral da economia mundial no ano 2000. Lia-se: “Os
papéis produtivos e reprodutivos das mulheres tendem a ser compatíveis nas áreas rurais
de países de baixa renda, visto que a agricultura familiar e as indústrias caseiras mantêm
as mulheres próximas de seus lares, permitindo assim condições flexíveis de trabalho e
exigindo baixo investimento do tempo das mães” Portanto, é visto que dentro dessas
condições a visão da mulher da mulher como um ser ativo dentro da esfera pública e
privada ainda parece uma questão utópica a ser resolvida.

Conclusão:

As teorias feministas tem como um dos principais objetivos dentro do sistema


internacional de delinear uma nova agenda que seja de fato vigente com a realidade
destas mulheres. Dentro do direito internacional simplesmente existe um silêncio
ensurdecedor em relação ao papel das mulheres dentro do sistema. Essa falsa concepção
de igualdade entre homens e mulheres acaba mascarando toda desigualdade que existe,
principalmente considerando o papel social empenhado por cada uma.
O gênero deve ser enxergado como material de pesquisa, já que a neutralidade
não é aplicada a estes estudos. Dentro do direito internacional é necessário o estudo de
gênero de forma empírica, porque ele é um fenômeno que afeta diretamente o espaço
onde vivemos. Portanto, é necessário ver que não apenas áreas do direito internacional e
sim as demais áreas como até a segurança internacional e os direitos humanos são
afetados diretamente quando não olhamos para mulheres como seres não homogêneos
no direito internacional.

Sendo assim, o enfoque na pesquisa feminista conta como um ponto necessário para
a reestruturação das normas dentro do direito internacional e do meio juridico. Tal
reforma busca que o sistema jurídico consiga enxergar o mundo de uma forma não
aliada ao patriarcado e sim a partir das teorias feministas e de como podemos
compreender o mundo e o papel feminino dentro dele.

Dentro da reestruturação do direito internacional é o objetivo de desafiar as normas


existentes e de delinear uma nova agenda dentro da teoria feminista. Os mecanismos
para procurar alcançar essa reestruturação já existem, sendo assim os Pactos
econômicos, sociais e convenção das mulheres. Dentro dessa estrutura deve se focar na
visão como seres ativos na esfera pública. As noções de responsabilidade do Estado
com medidas efetivas para a consolidação desta reestruturação.

“Abordagens Feministas ao Direito Internacional” Direito Internacional e


Sexualidade

Os autores que elaboraram o texto de comentário ao capítulo 4 são


essencialmente professores de Direito com especialidade em direito internacional
público, que tem como principal área de estudo as teorias críticas do direito
internacional no sul global. Eles, enquanto analistas, enfatizam que a escolha do texto
de Hilary Charlesworth, Christine Chinkin e Shelley Wright, “Feminist Approaches to
International Law”, publicado em 1991, para tradução na coletânea tem muitas
vantagens e a principal delas é a de trazer um interlocutor e uma referência frequente
nos estudos sobre feminismo e direito internacional. Os autores utilizam um texto de
feminismo, como base, para discutir e propor um tema mais amplo de gênero, análises
dos estudos queer no direito internacional, ainda enfatizam os lugares de fala, as
condições discursivas e os novos vocabulários proporcionados por estas abordagens.
De modo geral, esses professores críticos do direito internacional ponderam que
os estudos queer problematizam as concepções clássicas de sujeito, identidade, agência
e identificação, procurando, assim, ampliar o espectro das relações de exclusão
denunciadas e o incremento quanti e qualitativo das demandas por inclusão
(MISKOLCI, 2009), ou seja, buscam ampliar o debate para além da questão homem
versus mulher. Pois, é notório que a principal denúncia da abordagem feminista, no
campo das ciências sociais, está em torno da estrutura social do patriarcado, ou seja, o
direito privilegia um unico sexo: o masculino e esse fato é evidenciado em situações
concretas do Direito Internacional sendo elas: baixa presença de mulheres nos principais
órgãos das organizações internacionais, em diferentes níveis de competência decisória,
seja em órgãos administrativos internos, seja em órgãos políticos representativos da
vontade dos Estados-membros.

Nesse sentido, abordar o direito internacional conforme uma perspectiva de


gênero visa problematizar a normalidade pressuposta da normatividade internacional e a
produzir ressignificações favoráveis à estabilização da paz, à rejeição do militarismo e à
promoção de solidariedade, de redistribuição econômica e de desenvolvimento
sustentável (OTTO, 2018, p. 1-2). Assim que Charlesworth (1995, p. 3) qualificou, que
além do seu papel desconstrutivo, as abordagens feministas também teriam um papel
reconstrutivo. A reconstrução do campo direito internacional requer, no entanto, uma
aproximação significativa dos espaços de poder, demandando que se atue nesse espaço e
com as estruturas de poder pertencentes a ele.

Por fim, pensar a influência destas abordagens feministas e queer no campo do


direito internacional no Brasil é um desafio. O caráter civilizatório do direito
internacional (eurocentrismo e ocidentocentrismo) – marcado por um discurso
econômico capitalista (primeiro-mundismo) e que privilegia o Estado como sujeito de
direito internacional (estadocentrismo) – é amplamente conhecido e divulgado nos
manuais e na produção de e sobre o direito internacional no Brasil. Assim, mais do que
novos rótulos e tendências de abordagens, essa análise evidencia a importância do
diálogo com as ciências locais e sua interrelação com as construções globais. Isso
favorece não só novas leituras no campo do direito internacional no Brasil como
também contribui para a construção global deste saber/conhecimento e fazer/ prática.

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