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Estereótipos de

género e a sua
desconstrução

Escola Secundária Rainha Dona Leonor


Carolina Silva 12º9
Projeto Final: Estereótipos de género e a sua desconstrução

1. Introdução

A Antropologia é a ciência que estuda os diversos aspetos da vida social em diferentes culturas e
sociedades humanas, dedicando-se ao estudo da humanidade de forma abrangente, estudando tanto as
sociedades passadas como as contemporâneas.
A Antropologia procura compreender a diversidade cultural, social e biológica da espécie humana,
investigando as diferentes formas de vida, comportamentos, crenças, linguagem, rituais, entre outros
aspetos. Pelo facto de um dos grandes objetivos da Antropologia ser compreender a complexidade da
experiência humana e promover uma visão mais ampla e inclusiva da sociedade, concluí que seria
interessante e desafiante estudar no meu projeto da disciplina de Antropologia os estereótipos de género
(focando-me no género feminino e masculino) e como desconstrui-los, já que a sua desconstrução seria
benéfica para uma sociedade mais ampla, inclusiva e igualitária. Quando soube no início do ano que
poderia escolher um tema livre para o meu projeto, percebi que este seria perfeito para estudar e
apresentar à turma, por ser um tema que me interessa muito e dá gosto trabalhar!
Com isto, irei expor o estudo que fiz ao longo do ano de forma a tornar o meu projeto mais rico em
informação. Para o avançar do trabalho recorri ao uso de diferentes métodos de pesquisa, entre eles
análise de dados, entrevistas, entre outros que serão sempre mencionados ao longo do documento de
forma a torná-lo o mais claro possível. Foi um gosto poder trabalhar um tema ao longo do ano na
disciplina de Antropologia que tanto me agrada e ter a oportunidade de informar os meus colegas acerca
deste!

2. Desenvolvimento

2.1. O que são os estereótipos de género?

Os estereótipos de género são crenças, expectativas e atribuições sociais (normalmente moldadas ao


longo do tempo) sobre como homens e mulheres se devem comportar, baseadas em noções simplificadas
e muitas vezes generalizadas de características associadas a cada género. Estes estereótipos têm um
grande marco na sociedade já que definem comportamentos, papéis, habilidades e características
consideradas apropriadas para cada género, criando ideias irreais e limitadas acerca do papel do homem e
da mulher.
Alguns pontos importantes para a formação de estereótipos de género são:
- Bases biológicas: Muitos estereótipos têm origem nas diferenças biológicas entre homens e
mulheres, tendo essas diferenças levado à atribuição de diferentes papéis para o homem e a
mulher na sociedade, por exemplo a suposta maior força física associada aos homens levou à
associação a trabalhos mais pesados, e a suposta fragilidade e sensibilidade da mulher foi ligada a
trabalhos domésticos.
- Cultura e tradição: Mitos, crenças, religiões, entre outros levaram também à ideia de papéis
específicos para homens e mulheres ao longo do tempo;
- Estruturas sociais e poder: Em muitas sociedades, homens tiveram acesso privilegiado a cargos
políticos, ao poder económico e social, entre outros, o que levou também ao reforço dessa divisão
de poderes e papéis entre o homem e a mulher;
- Media e representação: Os media tiveram um papel significativo no reforço dos estereótipos de
género. Representações tradicionais em filmes, literatura e outras formas dos media, ajudaram a
reforçar certas expectativas relativamente aos papéis do homem e da mulher na sociedade.

2.2. Estereótipos de género em Portugal

Falando mais especificamente acerca dos estereótipos de género em Portugal, estes têm raízes históricas
profundas. Durante grande parte da história portuguesa houve uma clara divisão de papéis entre o homem
e a mulher, focando mais a mulher nos trabalhos domésticos, e os homens vistos como líderes. têm sido
uma grande parte da cultura e vida social dos portugueses, influenciando bastante diversas áreas vida,
desde o trabalho, às relações familiares. Embora tenha havido avanços significativos na desconstrução
dos estereótipos de género em Portugal, ainda persistem estereótipos em diferentes áreas, como por
exemplo no trabalho e na educação. Nas escolas, certos cursos ainda são associados aos homens e outros
às mulheres, como as humanidades ou artes para as mulheres, e as ciências ou economias para os homens.
No mercado de trabalho, as mulheres continuam pouco representadas em áreas como a tecnologia, e os
homens pouco representados em áreas como a enfermagem. Acontece também em certas empresas, os
homens não reconhecerem as mulheres com o seu devido valor, não lhes atribuindo cargos mais elevados,
por serem mulheres, não lhes permitindo que evoluam no trabalho. No dia 1 de abril de 2024 tive a
oportunidade de falar com um trabalhador (Anónimo) de uma empresa em Portugal onde este fenómono
machista acontece. Esta empresa é a SP Televisão. A SP Televisão é uma empresa portuguesa que tem
como foco a criação de conteúdos (novelas, séries, etc.) para os canais televisivos. Nesta empresa, que
requer muitos grupos de trabalhadores, grande parte são mulheres. No entanto, num relativamente extenso
grupo de diretores e subdiretores, apenas uma é mulher, o que é do meu ponto de vista muito negativo e
não contribui para a desconstrução dos estereótipos de género em Portugal. A pessoa com que falei não
me soube explicar o porquê de algo assim ainda acontecer nos dias de hoje, dizendo me apenas que
“Infelizmente a SP sempre foi assim e ao longo dos anos não tem evoluído muito, como se tivesse ficado
parada no tempo, é uma empresa muito retrógrada, machista, e pouco desenvolvida nesse aspeto.”
(Anónimo).
Apesar dos desafios persistentes que temos diariamente para enfrentar estes estereótipos muito
prejudiciais na nossa sociedade, houve progressos significativos na luta contra estes. A revolução 25 de
Abril de 1974 e a entrada de Portugal na União Europeia trouxeram grandes avanços para a igualdade de
género, levando as pessoas a ter mais consciência acerca da importância que este tema tem nos dias de
hoje e passaram a haver mais iniciativas e políticas para promover a igualdade de género nas diversas
áreas da sociedade. Sem dúvidas que estas duas mudanças contribuíram muito e da minha perspetiva se
não fossem elas a sociedade estaria ainda mais dividida

2.3. O Feminismo e o seu impacto nos Estereótipos de Género

O Feminismo é um movimento social, político, e cultural que luta pela igualdade de género entre
homens e mulheres, e pela eliminação de qualquer discriminação existente baseada no género. O
feminismo procura desafiar e transformar as estruturas sociais, culturais, económicas e políticas que
perpetuam a desigualdade entre os géneros. Existem várias vertentes do feminismo, como o feminismo
liberal, feminismo radical, feminismo cultural, entre outros, no outro todos têm o mesmo objetivo:
alcançar a igualdade de género e promover uma sociedade mais justa e inclusiva para todos.
O feminismo e os movimentos feministas têm tido um papel fundamental na luta contra as
desigualdades de género e desconstrução dos estereótipos associados aos papéis tradicionais de homens e
mulheres na sociedade.
Nesta parte do relatório irei abordar o impacto e importância dos movimentos feministas para a
desconstrução dos estereótipos de género, referindo os seus objetivos e conquistas ao longo do tempo.
Os movimentos feministas têm raízes profundas na história, com diferentes ondas e manifestações ao
longo dos séculos. Desde o movimento sufragista do século XIX até o movimento feminista
contemporâneo, os ativistas têm lutado por direitos iguais, autonomia e libertação das restrições impostas
pela sociedade. Cada onda feminista trouxe consigo novas questões e desafios, desde o direito ao voto até
questões como igualdade salarial, direitos reprodutivos e violência de género.
Foram adotadas inúmeras estratégias para desafiar os estereótipos de género e promover a igualdade,
entre elas manifestações, greves, campanhas de conscientização, protestos artísticos, entre outras. Estes
movimentos feministas têm tido um impacto significativo na desconstrução dos estereótipos de género em
várias áreas da sociedade. Nas esferas da educação e do trabalho, as feministas têm lutado por igualdade
de acesso e oportunidades, desafiando a ideia de que certas profissões ou áreas de estudo são exclusivas
para homens ou mulheres. Nos media e na cultura popular, as feministas têm trabalhado para combater
representações sexistas e promover imagens mais diversas e realistas de homens e mulheres. Além disso,
os movimentos feministas têm contribuído para mudanças nas normas sociais e culturais em relação aos
papéis de género na família e nas relações interpessoais.
Apesar de grandes conquistas, os movimentos feministas continuam a ter grandes desafios na
desconstrução dos estereótipos de género. Apesar de haver ainda alguma resistência de certas partes que
dificulta na promoção da igualdade de género, existem nos dias de hoje novas tecnologias que permitem
uma grande promoção e tentativa de conscientização da importância dos movimentos feministas.
Concluindo, os movimentos feministas têm sido catalisadores importantes na transformação dos
estereótipos de género e na promoção da igualdade de género em todo o mundo. O seu impacto é evidente
em várias esferas da sociedade, desde a política até a cultura popular. No entanto, ainda há muito trabalho
a ser feito para alcançar uma sociedade verdadeiramente igualitária e livre de estereótipos de género. O
papel dos movimentos feministas continua a ser crucial na promoção dessa mudança e na construção de
um futuro mais justo e inclusivo para todos.

2.4. Estudos feitos acerca dos Estereótipos de Género

Ao longo do tempo foram feitos diversos estudos relacionados com os estereótipos de género, como por
exemplo o seu impacto no desenvolvimento infantil, nos media, no ambiente de trabalho, na saúde
mental, e na política. Estes foram algumas das áreas de pesquisa relacionadas com os estereótipos de
género. No entanto, a literatura académica está em constante evolução, à medida que os estudos evoluem
consigo continuando a explorar os vários aspetos dos estereótipos de género e os seus impactos na
sociedade de hoje em dia.
No dia 27 de abril de 2023 saiu uma notícia no jornal observador com o título “Estudo defende formação
para combater estereótipos de género das escolhas profissionais”. Este estudo foi apresentado em
Coimbra no âmbito do “Projeto Igual Pro – As Profissões não têm género”, que tem como objetivo
combater a segregação sexual nas escolhas educativas e vocacionais de raparigas e rapazes e a
consequente segregação das escolhas profissionais” e “desconstruir os estereótipos de género associados
às respetivas áreas de estudo e profissões, com especial enfoque nas áreas de formação em que se
verifique uma efetiva segregação entre raparigas e rapazes”. O estudo conclui que os estereótipos de
género influenciam as escolhas profissionais e as vivências nos locais de trabalho. Os autores deste estudo
deram variadas recomendações de forma a combater estes estereótipos, entre elas “levar a cabo formações
transformadoras de normas de género que promovam uma visão abrangente da igualdade de género e a
alteração de atitudes e comportamentos, por forma a parar a transmissão intra e inter geracional de
estereótipos”.

2.5. Análise de dados

Um dos métodos de pesquisa que utilizei para o desenvolvimento deste trabalho até ao momento foi a
análise de dados, em que perguntei a 10 homens e 10 mulheres residentes em Lisboa com idades entre 14
e 45 anos, qual seria a atividade e característica emocional que mais associavam ao género oposto, de
forma a poder tornar o meu trabalho mais rico em informação real e atual. Os dados recolhidos podem ser
observados abaixo:
 Atividades que as mulheres associam ao género masculino: Carros; obras; rugby (2 respostas);
pilotagem; mecânica; futebol (2 respostas); andebol; construção civil.
 Características emocionais que as mulheres associam ao género masculino: emocionalmente
distantes; teimosos; ego alto (3 pessoas); práticos; agressivos; cavalheiros; defensivos; raiva.

 Atividades que os homens associam ao género feminino: Maquilhagem; ballet; dança (2


respostas); cuidadora (2 respostas); moda (2 respostas); yoga; ginástica.
 Características emocionais que os homens associam ao género feminino: frágeis (2 respostas);
responsáveis; emocionalmente inteligentes; ternurentas; amorosas (2 respostas); emotivas;
impulsivas; stressadas.
Depois de observar os dados recolhidos até ao momento podemos analisá-los. Estes dados revelam uma
grande diferença entre os tipos de atividades e características emocionais associadas ao género feminino e
masculino, sendo muito limitados para a sociedade contemporânea. As associações que podem ser
observadas acima não são obviamente regras fixas que têm que ser seguidas, pois cada pessoa
independentemente do género pode se interessar por uma ampla variedade de atividades, sejam estas
associada ao seu género ou não.
Mas se qualquer pessoa pode interessar-se por qualquer atividade seja esta qual for, quais são as
adversidades dos estereótipos de género? Estes estereótipos podem influenciar as perceções e
expectativas relativamente aos comportamentos adequados aos homens e às mulheres, levando a
preconceitos para com quem não vai ao encontro das expectativas do que seria considerado “normal” para
a forma de ser do seu género. Por esse motivo, é fundamental que se desafie e desconstrua os respetivos
estereótipos para promover a igualdade e inclusão entre todos, de forma a que as pessoas se possam
expressar e interessar-se pelos variados assuntos, sem que tenham que sentir algum preconceito das
pessoas à sua volta.

3. Conclusão

Os estereótipos de género são construções sociais complexas que afetam profundamente a vida das
pessoas, mesmo que estas possam não ter essa consciência. A sua desconstrução requer esforços
multifacetados a níveis individuais, institucionais e culturais. Ao desafiar e desconstruir essas limitações
de género, conseguiremos chegar a uma sociedade mais igualitária, diversificada e inclusiva para todos.
Este projeto, oferece uma visão rica e antropológica dos estereótipos de género e destaca a importância
da desconstrução dos mesmos para alcançarmos uma sociedade mais equitativa e respeitosa das
diferenças de género, sem inferiorizar nenhum género.
Para a produção deste trabalho utilizei a internet, a inteligência artificial, o jornal observador, e
comuniquei com diversas pessoas, pessoalmente e via telemóvel, de forma a conseguir recolher os dados
que precisava para o desenrolar do projeto.
Quero reforçar que apesar de difícil e desafiante, tive muito prazer em fazer este trabalho e estudar
Antropologia!

4. Bibliografia
https://observador.pt/2023/04/27/estudo-defende-formacao-para-combater-estereotipos-de-genero-nas-
escolhas-profissionais/
https://chat.openai.com/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Feminismo
https://www.sptelevisao.pt/
https://www.publico.pt/2020/09/27/sociedade/noticia/cem-anos-lutas-femininas-feministas-portugal-
exemplo-pioneiras-1932367
https://www.instagram.com/feminist/?hl=pt
https://antropologia.fflch.usp.br/antropologia
Trabalho realizado por Carolina Silva, 12º9

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