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Revista Eletrônica Estácio FATERN v02 (2018) 166–172 - ISSN - 2595-1173

REVISTA ELETRÔNICA ESTÁCIO FATERN


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CORPO E CINEMA: A SEXUALIDADE E A


DESCONSTRUÇÃO DE SEUS TABUS NA EDUCAÇÃO

Francisco Julio Santiago

Emanuelle Justino dos Santos

FACULDADE ESTÁCIO DE NATAL

RESUMO

O corpo é nossa forma de existir sexualmente no mundo, e as obras cinematográficas permite refletir as nuances
culturais da visão construída sobre o corpo, sexualidade e seus tabus, e a noção de sexualidade na educação.
Entendendo que a relação corpo e cinema traz pistas sobre a educação estética e sexualidade, delimitamos os
seguintes objetivos: Analisar o corpo, sexualidade e suas nuances educativas existentes nos roteiros
cinematográficos e específicos: Configurar uma cartografia do corpo e da sexualidade através das narrativas
cinematográficas, elencar as contribuições educativas que o cinema traz para os estudos do corpo, sexualidade,
Pedagogia e áreas afins. Utilizando o método fenomenológico, pois é a atitude de envolvimento com o mundo da
experiência vivida, com o intuito de compreendê-la, contribuindo com inserções e interpretações de narrativas
sobre sexualidade, expressividade, superação de preconceitos e práticas da cultura de movimento, ampliando as
noções de corpo e educação, respondendo aos elementos do quadro interpretativo do cinema (estética e técnica
cinematográficas), dialogando com Merleau-Ponty (1999) e Nóbrega (2010). Iniciamos estudos o filme “Love,
Simon”, no qual aborda a história de um adolescente e seus desafios sobre sua orientação sexual. A obra traz a
problemática pouco tratada na escola sobre o corpo, sexualidade e seus desafios familiares. Então refletindo
sobre tabus, repressões sociais, desmistificando tabus impostos socialmente dentro das escolas, buscando
maneiras de refletir os assuntos envolvendo sexualidade. Apesar do preconceito, a sexualidade e suas descobertas
devem ser vividas sem medo por todos, independentemente de sua orientação sexual.
Palavras-chaves: corpo, cinema, sexualidade.

ABSTRACT

The body is our form of exist sexuality in the world, and works cinematographics allow reflect the cultural nuances
of vision built about the body, sexuality and your taboos, and notion of sexuality in education. Understanding that
the a relation body and cinema brings about education aesthetic and sexuality, we delimited the following
objectives: Analyze the body, sexuality and your educational nuances existent in scripts cinematographics and
specifics: Configurate the cartography of body and sexuality through of narratives cinematographics, list the
contribution educational that the cinema brings to study about body, sexuality, Pedagogy and related areas. Using
the method phenomenology., since it’s the attitude of envolvement with the world and experience lived, with
intention of understand it, contribution with insertion and interpretation of narratives about sexuality
expressiveness, superation of prejudices and practices of culture and movement, expanded notions of body and
education, answering the elements of board interpretative of cinema (aesthetic and technique cinematographics),
dialogue with Merleau-Ponty(1999) and Nóbrega (2010). We started study about Love, Simon, in which the
aboard the history of teenager and his challenges about his sexual orientation. The work brings the problematic
little treated in school about the body, sexuality and his familiar challenges. Then reflecting about taboo, social
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repression, demystify taboos imposed socially inside in the schools, seek many ways of reflect the topics involving
sexuality. Despite prejudices, the sexuality and your discovery may be lived whitout fear for all, independent of
your sexual orientation.

Key Words: Body, Cinema, Sexuality.

1. INTRODUÇÃO

O corpo é nossa forma de existir no mundo, todavia se falar de um corpo com atribuições
sexuais são motivos de afronta aos tabus existentes no meio social. Refletindo sobre o que motiva tais
reflexões envolvidas nos tabus impostos na sociedade, observamos que talvez a maior dificuldade de se
dialogar sobre sexualidade na escola e família, esteja em associar o tema a obscenidade e algo
pecaminoso, que é feio e sujo, proibindo sua manifestação pelos jovens e crianças. (MOIZÉS &
BUENO, 2010).

Sexualidade é a forma do corpo existir, mas se reduz na visão comum como ato sexual, mas
vai além disso, o corpo é sexuado (NÓBREGA, 2016) e possui distinções entre si. O sexo está ligado
às questões biológicas: fisiológicas e anatômicas, agora a sexualidade submete-se a cultura, a
afetividade e aos costumes, ligadas ao modo de viver de cada um. (MENEGOZZO; ARAUJO;
PRZYBYSZ , 2014).

Dessa maneira as obras cinematográficas nos permite perceber as nuances culturais da visão
construída sobre o corpo, a sexualidade e seus tabus, como subsidiar ao enfrentamento à erotização
corporal e no que implica no ensino formal, onde o docente deve buscar o êxito na superação das várias
formas de discriminação decorrente das diversidades presentes na sociedade.
Então a pesquisa utiliza o método fenomenológico, que é a atitude de envolvimento com o
mundo da experiência vivida, com o intuito de compreendê-la (NÓBREGA, 2010) consistindo na
inserção e interpretação de narrativas cinematográficas que abordam assuntos sobre sexualidade,
expressividade, superação de preconceitos e práticas da cultura de movimento, objetivando extrair as
significações que dialoguem entre si e ampliem as noções de corpo e educação, respondendo a um
quadro interpretativo do cinema (estética e técnica cinematográficas) em diálogo com os referenciais.
Iniciamos as análises envolvendo corpo e sexualidade e suas nuances educativas existentes nas
películas cinematográficas com o filme “LOVE SIMON”, no qual foram analisadas três cenas em que
o protagonista vive os desafios sobre sua orientação sexual, envolvendo seus familiares e amigos num
drama comum a muitos jovens, assim dialogando com as análises de nossos referenciais.
Assim sendo, o estudo reflete sobre a sexualidade em detrimento aos tabus na educação, e
contribuindo com o acesso aos saberes culturais, práticas corporais e outras questões da formação

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educativa das pessoas, preparando-as para conviver, valorizar as relações, os afetos entre os pares, o
cuidar do outro e de si mesmo na sociedade contemporânea.
Contudo, a utilização de recursos cinematográficos é relevante no ambiente escolar, atendendo
aos objetivos diversos, levando a reflexão sobre vários temas, até a auto reflexão de suas próprias ações,
sendo necessário manter o diálogo, desmistificando os tabus. Portanto a sexualidade em sua diversidade
deve ser vivida de modo intenso, em suas descobertas e dilemas, apesar do preconceito imposto pelos
padrões sociais.

2. DESENVOLVIMENTO

O corpo é a forma de existir sexualmente no mundo, sendo acompanhado por tabus que cercam
a discussão sobre sua dimensão educacional. É notório que nas escolas o assunto ganha visibilidade
mais pelos tabus que pela sua relevância educacional, mesmo entendendo que a sexualidade acompanha
o ser desde antes de seu nascimento.
A sexualidade funciona como uma estrutura social e cultural situada dentro de um sistema de
poder, que traz repressões e incentivos diversos ao longo da história. Desde a Pré-História vemos
registros do corpo humano nu, muitos com ênfase nos órgãos genitais, significando fertilidade, sorte,
proteção, poder e liderança pelas mais diversas culturas.
Na Grécia Antiga, nos escritos de Platão, há o deus Eros que se refere ao amor e aos apetites
sexuais e responsável pela atração entre os corpos (BARBOZA, 2007). Segundo Barboza (2007), há
outros discursos que são contrários a esse entendimento, pois traz Eros como um demônio hostil,
causador de tormentos pecaminosos do viver e da busca incessante da satisfação dos desejos carnais,
sendo assim, marcada por relações de poder.
Como afirma Nunes (1987, p. 23), a sexualidade “se encontra em volta de um feixe de valores
morais, determinando e determinantes de comportamentos, usos e costumes sociais”, assim entendemos
sexualidade como a construção de padrões que vem sendo trabalhado na criança desde seu nascimento,
quando identificam ter genitália masculina ou feminina, assim o conjunto de “normas” a serem
moldadas na criança já está proposta.
A sexualidade, em geral, e as práticas sexuais, em específico, vem sendo carregadas de
valores, estigmas e preconceitos em várias épocas. A erotização do corpo e a banalização do sexo tanto
pela indústria cultural quanto pelas relações sociais trazem um abismo e os paradoxos em que somos
colocados, quando lidamos com esse tema na educação formal, especialmente, pois há enfretamentos
de muitos desafios docentes no sentido de superar atitudes de discriminação e preconceito sobre as
diferentes formas de ser e de amar que as sexualidades revelam em nossa sociedade (BRASIL, 2009).
Sobre o assunto, a Constituição em seu artigo 5°, nos leva a compreender que “Todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se [...] inviolabilidade do direito à vida, à

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liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, [...]”. Assim, é direito de todos exercerem sua
sexualidade, independentemente de qualquer coisa, sendo garantido no inciso X a inviolabilidade “a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação” (BRASIL, 1988).
Diante da realidade escolar, as películas audiovisuais auxiliam o enfrentamento à erotização
corporal o que implica diretamente no ensino formal, onde o docente deve buscar o êxito na superação
das várias formas de discriminação decorrente das diversidades presentes na sociedade (BRASIL,2009).
Ver e sentir os signos audiovisuais, a dimensão lúdica, bem as significações culturais e históricas
existentes no cinema, constitui-se em um dos variados modos de refletir sobre os cuidados corporais,
os afetos, as relações e a noção de sexualidade na educação.
Iniciamos as análises com o filme “Love Simon”, que é uma obra cinematográfica baseada no
livro “Simon vs. the Homo Sapiens Agenda” escrito por Becky Albertalli, que foi adaptada para o
cinema no ano de 2018. A obra conta a história de Simon Spier, um adolescente de 17 anos que, apesar
de viver uma vida aparentemente dentro dos padrões, sofre com os dilemas da idade, especialmente
pelo fato de sua orientação sexual
Na primeiras cenas, podemos observar o jovem Simon e seus amigos, que vivem no Estado
da Geórgia, sendo considerado o Estado mais preconceituoso dos Estados Unidos. Os jovens estudam
em uma escola regular e são amigos a muito tempo. Como qualquer jovem de sua idade, Simon Spier
tem seus dilemas, descobertas e mesmo que seus amigos não saibam de sua sexualidade, continuam
amigos. Como podemos perceber na imagem 1 seguinte:

Figura 1: Simon e amigos na escola. Fonte: https://www.foxmovies.com/movies/love-simon

Em uma diálogo com os referenciais, o dilema que Simon Spier passa em sua adolescência é
a mesma que muitos jovens passam em suas vidas reais, nisso caracterizamos o conceito de protoplasma
fictício (MERLEAU-PONTY, 2004), no qual o espectador acredita ver uma matéria virtual de si, onde
o mundo não é somente feito de coisas e de espaços, então o ser humano se põe a desenhar por gestos
ou comportamentos uma visão das coisas, a aparecer apenas se nos prestarmos ao animalismo.

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Percebemos essa relação também na cena em que Simon está em família, logo após assumir sua
orientação sexual. Como é percebido na imagem 2:

Imagem 2: Simon em família. Fonte: https://www.foxmovies.com/movies/love-simon

O que os seres vivos desenham em seu ambiente por seus gestos ou por seu comportamento
equivale ao espetáculo da animalidade, no qual os seres coexistem sem recusar o que realmente possuem
em seu interior (MERLEAU-PONTY, 2004). Isso é vislumbrado no momento em que Simon renega o
sentimento de repressão existente em si e passa a agir conforme seu verdadeiro ser interior, assumindo
para si e para todos seus sentimentos pelo colega Bran, a quem trocou e-mails usando um codinome.
Podemos ver na seguinte imagem 3, o momento em que Simon e Bran se beijam em público:

Imagem 3: Beijo de Simon e Bran. Fonte: https://www.foxmovies.com/movies/love-simon

A utilização de películas cinematográficas dentro das escolas atendem a objetivos diversos,


seja para levar a reflexão sobre determinado tema, como para o conhecimento sobre assuntos, como
percebemos em “LOVE SIMON”, a reflexão sobre a descobertas sexuais e tabus sociais. Assim vemos
que a relação entre corpo e cinema traz inúmeras pistas sobre a educação estética, a sexualidade, seus
tabus e outras reflexões sociais na área da educação, portanto um recurso que “pode ser utilizada como
instrumento pedagógico significante para atingir objetivos educacionais” (DANTAS, MARTINS,
MILITÃO, 2011, p. 69).

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3. CONCLUSÃO
Em uma sociedade repleta de tabus relacionados ao corpo como sexuado, vemos a prática de
dialogar sobre sexualidade cada vez mais precisa, principalmente dentro das escolas, e as películas
cinematográficas são recursos que possuem elementos de discussão pertinentes a realidade dos alunos
em todo seu contexto. Com essa reflexão, o seguinte estudo segue em andamento, buscando elementos
de análises em outros recursos cinematográficos.

Portanto, buscar desmistificar tabus impostos socialmente dentro das escolas é relevante,
buscando sempre novas maneiras de refletir sobre os assuntos que envolve a sexualidade, evitando ao
fortalecimento dos tabus já em questão. Nessa perspectiva encontramos na linguagem cinematográfica
recursos para subsidiar as discussões no ambiente escolar.

Contudo é importante sempre ter a sensibilidade que, apesar do preconceito vivido, a


sexualidade e suas descobertas devem ser vividas sem medo por todos, independentemente de sua
orientação sexual. Para isso é necessário que o assunto seja abordado com clareza e respeito,
estimulando a reflexão crítica do assunto, desenvolvendo uma visão humana e não preconceituosa sobre
o corpo e sexualidade.

REFERÊNCIAS
BARBOZA, J. TEORIA DO AMOR SEXUAL: uma reflexão em torno de Platão, Schopenhauer e
Freud. Revista de Filosofia Aurora, v. 19, n. 25, 2007. Disponível em:
https://periodicos.pucpr.br/index.php/aurora/article/view/1162/1090. Acesso em: 30 nov. 2018.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro
Gráfico, 1988.
BRASIL. Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em gênero,
orientação sexual e relações étnico-raciais. Brasília: SMP, 2009. Disponível em:
<http://estatico.cnpq.br/portal/premios/2014/ig/pdf/genero_diversidade_escola_2009.pdf>.
Acesso em: 20 nov. 2018.
DANTAS, A. A.; MARTINS, C. H.; MILITÃO, M. S. R. O cinema como instrumento didático
para a abordagem de problemas bioéticos: uma reflexão sobre a eutanásia. Revista Brasileira de
Educação Médica, v. 35, n. 1, 69-76, 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbem/v35n1/a10v35n1>. Acessado em 21 nov. 2018.

Lima Neto, e Nóbrega; Corpo, cinema e educação: cartografias do ser. (2014)

MERLEAU-PONTY, M. Conversas. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

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MENEGOZZO, Raquel Cristina Serafin; ARAUJO, Débora Soares; PRZYBYSZ, Mariangela.


Intervenções Metodológicas Para Auxiliar Educandos a Compreender a Adolescência e a
Sexualidade. Paraná: Revista Ciências e Ideias, 2014.
Disponívelem:http://revistascientificas.ifrj.edu.br:8080/revista/index.php/reci/article/view/320/281.Ac
esso em: 29 de novembro de 2018.
MOIZÉS, J. S; BUENO, S. M. V. Compreensão sobre sexualidade e sexo nas escolas segundo
professores do ensino fundamental. Revista Escola em Enfermagem, v. 44, n. 1, p. 205- 212, 2010.
NÓBREGA, T. P. Uma fenomenologia do corpo. São Paulo: Livraria da Física, 2010.

NUNES, C. A. Desvendando a sexualidade. Campinas: Papirus, 1987.

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