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Neste texto de leitura inicial trazemos uma discussão em torno dos termos que fundamentam o
presente curso: sexo, sexualidade, gênero e literatura infantil. Entrelaçamos esses termos
destacando algumas problematizações sobre as possibilidades pedagógicas da literatura infantil
na construção pela criança de suas percepções de mundo, de vida, de sexualidade, de gênero,
das diferenças que constituem os sujeitos, de cuidado e proteção.
Bons estudos!
Vamos começar nosso estudo diferenciando dois termos fundamentais para nossa
discussão: sexo e sexualidade.
O sexo é a nossa marca biológica, hereditária. É a condição orgânica que nos define e
nos diferencia enquanto “machos” e “fêmeas”, seja em seres humanos, plantas ou animais.
Algumas vezes pessoas e animais nascem sem essa marca definida, são os denominados, na
espécie humana de intersexos.
Além disso, é comum usarmos a palavra sexo para nos referirmos aos órgãos
sexuais/genitais, ao ato sexual, ao conjunto de pessoas que pertencem a um mesmo sexo e,
inadequadamente, como sinônimo de sexualidade.
A sexualidade é a nossa marca humana, uma produção histórica e cultural, que nos
acompanha por toda a vida e que envolve os valores relacionados à vivência do sexo, à
identidade, à construção dos gêneros à orientação sexual, ao erotismo, ao prazer, às práticas
sexuais, à intimidade e à reprodução. É vivida e expressa em pensamentos, fantasias, desejos,
crenças, atitudes, comportamentos, práticas, papéis e relações. Conforme Guacira Louro (2000,
p. 5) “podemos entender que a sexualidade envolve rituais, linguagens, fantasias,
representações, símbolos, convenções... Processos profundamente culturais e plurais.” Segundo
a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002), a sexualidade é influenciada pela interação de
fatores biológicos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos, culturais, éticos, legais,
históricos, religiosos e espirituais.
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Curso online: Literatura Infantojuvenil, gênero e sexualidade na infância: diálogos pertinentes
Se a sexualidade pode incluir todas essas dimensões, nem todas elas são experienciadas
ou expressas com tranquilidade e harmonia, uma vez que, em torno dela, se produzem normas,
modelos e padrões que ditam as formas "corretas" de expressão de masculinidade e
feminilidade, de desejo, de conjugalidade e afetividade.
Ela é construída a partir dos discursos que cada cultura elabora sobre a vivência do sexo.
Conforme o historiador Michel Foucault (2015), a sexualidade é uma produção discursiva que
envolve tanto os ditos quanto os não ditos, isto é, o que se produz por palavras, frases,
enunciações, mas também por imagens, comportamentos, posturas e atitudes. A sexualidade
envolve o verbal e o não verbal. Foucault denominou como o dispositivo da sexualidade essa
produção discursiva e não discursiva no âmbito do sexo, que envolve a construção de normas,
padrões e verdades sobre as práticas sexuais. Esses discursos fazem parte do dispositivo da
sexualidade e
A sexualidade, nesse sentido, envolve relações de poder, mas também de saber, que são
voltados ao controle dos sujeitos, para fins específicos de regulação e normalização. Não basta
apenas regular, é preciso colocar os sujeitos nas normas, estabelecer o que seja o normal e o
anormal no âmbito da sexualidade e das práticas sexuais.
Segundo Foucault (2015), a sexualidade enquanto produção de poder e saber, no
mundo ocidental, se dá pelos discursos médico e religioso, tornado objeto de vários campos
disciplinares e de conhecimento, como por exemplo, a sexologia, psiquiatria, psicanálise, e até
mesmo a própria educação. Há todo um dispositivo constituído por práticas discursivas e não-
discursivas que produzem uma concepção do indivíduo como sujeito detentor de uma
sexualidade, ou seja, dotado de saberes e poderes que buscam normalizar, controlar e
estabelecer “verdades” acerca desse sujeito na relação com seu corpo e seus prazeres.
É o que ele denomina de “scientia sexualis” em oposição a denominada “ars erótica”
que está presente na cultura oriental e não possui uma ciência dedicada à sexualidade. A
“scientia sexualis”, entretanto, tem como finalidade produzir conhecimento sobre o prazer e
formas que possam ser adotadas para sua ampliação, ou o saber “de dentro”, momento em que
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a verdade do prazer surge do próprio saber. Na Arte Erótica, a verdade é extraída do próprio
prazer, encarado como prática e reconhecida como experiência.
Nesse sentido, a scientia sexualis é uma estratégia de produção de saber e poder para o
controle dos sujeitos e suas sexualidades, estabelecendo as verdades do sexo a partir das quais
postulamos aquilo que é adequado e o que não é adequado, o normal e o anormal, no âmbito
das práticas sexuais.
Na história da sexualidade no mundo ocidental, especialmente a partir da Idade Média,
tudo o que está relacionado com sexo passa a ser alvo de interdição; há uma produção discursiva
sobre a sexualidade que passa a estabelecer proibições, estabelecendo o que seja feio, sujo e
pecaminoso. Como consequência dessa visão repressora do passado (mas que, em muitos
momentos, ainda se mantém atualmente), e da confusão existente entre os conceitos de sexo e
de sexualidade, falar de sexualidade ou realizar a Educação Sexual formal com crianças e jovens
é ainda uma situação muito pouco aceitável e pouco tranquila para muitas pessoas. A criança,
desde o útero materno, é um ser a partir do qual vamos produzindo a sua sexualidade. Podemos
pensar na primeira pergunta que geralmente fazemos a uma mulher grávida: “é menino ou
menina?”. Durante o seu desenvolvimento a criança está sendo educada para uma sexualidade,
na família, na sociedade e na escola. Esse processo pode acontecer por diferentes formas, sejam
elas dialógicas, preconceituosas, ou mesmo pelo ocultamento, pela proibição da conversa.
No entanto, a ideia distorcida, preconceituosa e carregada de negatividade que
permanece ainda hoje acerca do sexo e da sexualidade, aliada à construção de uma história
repressiva da infância, faz com que tenhamos ainda tantas dificuldades para lidar de forma
tranquila com as manifestações da sexualidade infantil e com as dúvidas que as crianças nos
trazem.
Podemos compreender essa dificuldade quando o assunto é sexualidade pela vergonha
de falar sobre este assunto de forma tranquila e positiva com as crianças, levando em
consideração a história da sexualidade. Conhecer a história da sexualidade nos possibilita
compreender as diferentes normas e valores que têm regulado a vivência sexual dos povos ao
longo da história e como a sexualidade foi se modificando através dos tempos.
Quando nos propomos a discutir sobre sexualidade na infância, precisamos considerar
também outro tema que lhe é profundamente ligado: o gênero, ou os gêneros, uma vez que é
de forma indissociável à sexualidade que se produzem as marcas e diferenças de gênero, as
quais construímos a partir da marca biológica do sexo. Uma construção que ocorre até mesmo
antes de um bebê nascer e se estende por toda a vida, quando atribuímos funções, normas,
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padrões e modelos de forma diferenciada para meninos e meninas, homens e mulheres em todas
as faixas etárias.
Assim como a sexualidade, o gênero também é entendido como uma construção social
e cultural, isso porque cada cultura produz as suas normas e modelos de masculinidade e
feminilidade. Tal como afirma Louro (2007, p. 207) “operar com esse conceito implica, pois,
necessariamente, operar numa ótica construcionista. [...] Lidar com o conceito de gênero
significa colocar-se contra a naturalização do feminino e, obviamente, do masculino”.
Considerando as normas de gênero como produção cultural e histórica, podemos
entendê-las na sua possibilidade de mudança e de transformação, conforme as condições sociais
que se colocam a cada tempo histórico. Como professores/as ou educadores/as da infância,
também contribuímos na construção, produção e reprodução desses modelos e padrões de
gênero.
Quando nos referimos a modelos e a padrões de gênero, queremos nos referir às normas
que determinam modos de existência adequados a homens e a mulheres, muitas vezes de forma
hierarquizada, por exemplo prover e ser provido, aos padrões de força x fraqueza/fragilidade,
razão x emoção, e às inúmeras características que vão sendo colocadas como adequadas de
modos diferentes conforme o gênero de cada pessoa.
Com isso, buscamos questionar por exemplo, ideias como “homem não chora”, “lugar
de mulher é na cozinha”, “menino veste azul e menina rosa”, “menino não brinca de boneca”,
“mulheres não servem para serem líderes”, entre outras que circulam na sociedade e configuram
preconceitos que estabelecem lugares sociais determinados e hierarquias entre homens e
mulheres.
Essas discussões sobre as diferenças não estritamente biológicas, mas sociais e culturais
entre homens e mulheres vêm sendo discutidas há algum tempo por diferentes estudiosos/as,
configurando um campo denominado Estudos de Gênero.
Para aprofundarmos um pouco sobre os Estudos de Gênero, trazemos as teorias que
embasam diferentes olhares para essas questões: as teorias essencialistas, as teorias feministas
e os estudos queer.
Para a perspectiva essencialista, a diferença biológica dos sexos determina os rígidos
papéis de gênero e de vivência da sexualidade. Tais perspectivas
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femininas que existem na sociedade. Como resultado dessa terceira onda, podemos considerar
as recentes leis em defesa da mulher, como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio.
No campo dos Estudos de Gênero, assim, as lutas feministas representam a busca pela
igualdade de direitos, pelo reconhecimento da mulher como sujeito, pelo combate à
discriminação, pela inferiorização da mulher em relação ao homem e a violência sofrida por
elas nas suas mais diferentes identidades, compreendendo as diferenças étnico-raciais, as
diferenças religiosas, culturais, de idade, econômicas e sociais.
Na atualidade, também se destacam os estudos de gênero da denominada Teoria Queer,
resultantes da confluência de vertentes radicais do feminismo, e dos estudos gays e lésbicos que
propõem uma crítica à hegemonia heterossexual, vista como uma imposição cultural, presente
no discurso e na prática, nos diversos âmbitos da realidade social, cultural e política.
Os Estudos Queer ensejam uma mudança epistemológica, contrária à lógica binária, a
qual hierarquiza, classifica, domina e exclui, revelando que o sexo, o corpo e o próprio gênero
são construções culturais, linguísticas e institucionais, geradas no interior das relações de saber,
poder e prazer, numa determinada sociedade. Não trazem propostas, não dão soluções, mas
questionam o que antes parecia inquestionável. Visam a transformar o olhar que produz
desigualdades sobre os sujeitos acerca de gênero e de sexualidade.
Essa proposição de desconstrução das dicotomias que marcam a superioridade do
primeiro elemento, em se tratando de gênero, significa problematizar tanto a oposição entre eles
quanto a unidade interna de cada um. Isso implicaria
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homem cabe ainda o papel de provedor viril e corajoso que pode se expor sem
constrangimento nos espaços públicos.
Ao assumirmos a categoria de gênero, tal como defende Joan Scott (1995) enquanto
categoria de análise das relações entre homens e mulheres, temos por interesse produzir um
olhar para os modos como se produzem e reproduzem as figuras masculinas e femininas,
buscando desconstruir esses ideais de superioridade e inferioridade, a busca pelos direitos
iguais, pelo reconhecimento das diferenças, pelo direito de ir e vir, assim como combatendo
qualquer preconceito que oprime meninos e meninas, homens e mulheres.
de gênero e sexualidade. A literatura infantojuvenil pode ser um caminho para que as novas
gerações construam uma percepção mais positiva, prazerosa, afetiva e respeitosa sobre gênero
e sexualidade, bem como sobre as diferenças que comportam o ser humano.
Só assim as novas gerações terão uma percepção mais positiva, prazerosa, afetiva e mais
respeitosa em relação a essa tão fantástica dimensão, exclusiva do ser humano, que é a
sexualidade!
Iniciamos nosso estudo sobre a literatura infantojuvenil com uma breve abordagem
sobre alguns aspectos históricos que nos possibilitam perceber suas condições de emergência.
Entender suas condições de emergência nos permitem compreender um pouco sobre os
movimentos históricos, culturais e sociais que possibilitaram sua existência, sua finalidade, o
público destinatário dentro de um contexto histórico mais amplo. Pesquisadores/as da literatura
infantil confluem em um ponto de emergência dessas produções: o seu surgimento se dá a partir
de determinadas condições históricas que passaram a reconhecer a criança sob um outro olhar.
Isso porque na Idade Média, conforme aponta Philippe Ariès (1980) não havia infância, tal
como a compreendemos atualmente, assim como era outra noção de família existente nessa
época. A criança era vista como um “adulto em miniatura”, participava da vida adulta e dos
acontecimentos sociais, sem distinção. Com a modernidade, passa a ser produzido sobre as
crianças um olhar específico para as suas necessidades de proteção, cuidado e educação. Há
um sentimento de família e um sentimento de infância que se desenvolvem, o qual vem a
produzir uma noção de maternidade (Marcello, 2003) que coloca sobre a mãe o papel principal
da criação dos filhos. É nesse contexto que passa a nascer a infância, conforme a entendemos
na contemporaneidade.
Também nesse contexto social, uma literatura destinada às crianças emerge para
responder a uma necessidade ligada ao seu processo educativo, no contexto do surgimento da
infância como uma etapa da vida que precisa de cuidados especiais, bem como de necessidades
educacionais específicas acordadas à emergência da sociedade moderna.
Nessa direção, podemos destacar o que colocam as pesquisadoras Regina Zilberman e
Ligia Magalhães (1987, p. 11-12)
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Tendo em vista esses aspectos sobre a história da literatura infantil como instrumento
da pedagogia escolar, podemos compreender as suas bases voltadas ao ensino de determinadas
normas. Normas essas que se modificam com as transformações culturais e sociais.
No entanto, ainda que a literatura infantil se modifique, conforme veremos adiante, há
aspectos em que nela permanecem enquanto gênero literário. Nos recursos utilizados nos textos
destinados à criança, com o propósito de atender o universo e a linguagem da criança, há a
junção do texto visual e do verbal. E, não raro, sonora e tátil. Assim sendo, conforme Gregorin
Filho (2009, p. 109),
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Portanto, na literatura infantil há formas utilizadas para falar à criança, a partir da junção
entre texto e imagem, mas também podendo utilizar linguagem tátil e sonora, tendo em vista a
utilização da ludicidade para atingir a compreensão e construção de significados pelas crianças.
Tendo destacado essas características da literatura infantil como gênero literário,
podemos aprofundar as modificações que ela sofreu ao longo dos anos. Essas mudanças estão
presentes, como veremos, para além de outras questões, nos temas que ela aborda.
Podemos entender essas transformações da literatura infantil a partir do que tem se
entendido como os períodos que ela compreende. A literatura infantil no Brasil é vista pelos
estudiosos e estudiosas desse campo a partir de três grandes momentos: os clássicos da literatura
infantil (os contos de fadas) que foram trazidos da Europa para cá, a literatura tradicional, cujo
expoente são as obras de Monteiro Lobato, e a literatura contemporânea, na qual se entende a
emergência de temas até então não encontrados na literatura infantil: preconceito,
discriminação, diferenças sociais, sofrimento, mas também livros que falam sobre a sexualidade
infantil e adulta, sobre as diferentes configurações familiares, sobre diferentes formas de
violência, incluindo a sexual, entre outros temas.
Os livros contemporâneos, em relação aos que lhe antecedem, inovam a literatura
infantil por buscarem a valorização das diferenças identitárias, étnicas, culturais, entre os
sujeitos. Há uma busca pela desconstrução de normas, modelos e padrões, problematizando
verdades, tendo em vista a formação de um sujeito que compreende e respeita seu corpo, sua
identidade e a dos demais, que valoriza sua cultura e o meio ambiente em que vive.
Favorecendo, assim, sujeitos com uma consciência social, política, ambiental, econômica e
cultural.
Se observarmos mais atentamente o teor dessas obras, veremos que elas possuem uma
estrutura profunda com temáticas que contêm valores humanos, pois os valores sobre os quais
as sociedades são construídas não são exclusivamente infantis, adultos ou senis, são fundantes
das relações humanas.
Podemos perceber, no entanto, que um princípio pedagógico ainda é inerente à literatura
infantil, não porque está apenas voltada à educação das crianças para normas sociais ou para a
desconstrução delas, ou porque seus autores e autoras buscam transmitir ensinamentos (em
muitos casos querem apenas divertir as crianças), mas porque as histórias, enquanto portadoras
de sentidos e significados, interpelam as crianças para modos de existência, para diferentes
formas de ser e agir na sociedade.
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É nessa direção que compreendemos a literatura infantil como um artefato cultural que
possui pedagogias culturais que produzem os sujeitos. Artefato cultural é um conceito que tem
sido utilizado, no campo da educação, em associação aos diferentes produtos midiáticos
existentes na sociedade, incluindo o que se tem disponível na world wide web. Tal conceito
corresponde à compreensão das mídias como portadoras de sentidos e significados que
interpelam os sujeitos, por meio da representação de formas de ser, de identidades, homem,
mulher, branco, negro, rico, pobre, heterossexual, homossexual, entre outras identidades
possíveis. Para Constantina Xavier Filha (2014, p. 155)
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em relação aos textos. Nesse contexto de caráter coletivo e social a criança vai se deparar com
as mais variadas temáticas necessárias ao seu processo de construção de valores.
Assim, como professores/as ou educadores/as da infância, nos cabe perguntar: o que
esses livros ensinam? Que pedagogias há neles presentes? Quando escolhemos um livro para
ser lido para uma criança, precisamos ter claro quais as potencialidades pedagógicas do livro,
visibilizando o que ele possibilita ensinar, no entanto, não deixar que o aspecto do ensino seja
ressaltado sobre o prazer da leitura/escuta da obra.
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pererês, fantasmas, princesas e seus príncipes encantados, dentre outras. Esse fato faz parte de
nossas vidas.
O encantamento de contar histórias faz parte do mundo infantil e adulto. Ao chegar à
escola, a criança, tanto da educação infantil, como dos anos iniciais e até mesmo dos anos finais
serão privilegiadas se tiverem professores e professoras que lhes oportunizem esses momentos
lúdicos e de conhecimento que deverá acontecer de forma planejada, mas sem cobranças
avaliativas, que seja um momento de despertar interesse da criança e do jovem para o universo
literário. E, nesse contexto, é importante salientar que
O/a educador/a, em seu planejamento, deverá escolher um local e hora apropriados para
a contação de histórias que poderá ser feita com as crianças em círculo na sala de aula, na
biblioteca, no pátio de recreio, no jardim da escola ou em outro espaço aconchegante. Antes de
iniciar,
é bom pedir que se aproximem, que formem uma roda, para viverem
algo especial. Que cada um encontre um jeito gostoso de ficar: sentado,
deitado, enroladinho, não importa como... cada um a seu gosto... E,
depois, quando todos estiverem acomodados, aí começar “Era uma
vez...” (ABRAMOVICH, 1997, p. 22).
Na narrativa feita pelo educador, é importante que os elementos do texto sejam bem
captados, revelando o ambiente e situação em que se passa o enredo da história que poderá ser
lida ou contada. O contador ou contadora transformam-se em intérpretes, passam a interpretar
as personagens, aumentando ou diminuindo a voz, sussurrando ou mudando de expressão de
acordo com as características dessas personagens e do conteúdo da narrativa. As respostas das
crianças serão diversas, pois cada criança é única e tem suas predileções, indiferenças e medos
em relação aos enredos das histórias escolhidas. Assim, quando ler ou contar uma história, não
tenha medo de interpretar de deixar fluir as emoções junto com a história!
Tanto as histórias contadas com apoio do livro, quanto as sem esse apoio, são
importantes para a construção da criança, cada qual oferecendo suas contribuições. Assim, cabe
ao professor/a utilizar essas diferentes estratégias com apoio da literatura infantil, isto é, leitura
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2. Narração como “Conspiração” - revela o caráter dialógico das narrativas orais. Nelas há
sempre troca que
não ocorre apenas no plano da linguagem, mas também através do ar: pelo
sopro compartilhado em que vibra a voz de quem fala no ouvido de quem
escuta, pelo calor físico gerado pelos gestos de que monta e de quem reage,
pela vibração motriz involuntária – arrepios, suspiros, sustos – causada pelas
emoções que a história desencadeia. (pág. 3).
Neste item destaca três aspectos: a voz, a presença e a imaginação. Faz reflexões sobre
as peculiaridades sutis que distinguem a leitura da história e a narração sem o apoio do
livro, sobre a atitude física do contador de histórias e o que ela representa na interação
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com a criança e destaca que a troca narrativa com crianças pequenas possui muitas
dimensões, além do estímulo à leitura, e provavelmente todas elas – ao enriquecerem a
linguagem e a imaginação - acabam também favorecendo o amor aos livros.
Neste curso, cada tópico irá propor a leitura de obras de literatura infantil de acordo com
a temática em discussão. Ao final de cada texto de leitura obrigatória, iremos trazer algumas
estratégias possíveis que podem basear um processo de educação sexual apoiado na literatura
infantil. Essas estratégias não significam receitas, mas ideias a partir das quais cada professor/a
ou educador/a pode se fundamentar, fazendo as adaptações necessárias conforme o contexto e
as crianças com as quais convive, tendo em vista proporcionar às crianças conhecimentos que
as permitam compreender as diferenças familiares, de gênero, étnico-raciais, assim como
compreender seu corpo, ter acesso à informação que esclareça suas dúvidas e saiba reconhecer
uma situação de violência e a quem pode recorrer.
Assim, no presente tópico, sugerimos a leitura do livro “O príncipe Cinderelo”.
Deixamos, então, algumas possibilidades e reflexões sobre a obra:
Este livro é uma versão divertida do clássico infantil Cinderela. O príncipe Cinderelo
não correspondia ao estereótipo de príncipe, era baixinho, magricela e também sofria com os
abusos de seus três irmãos. Nessa história também há uma fada madrinha, mas é muito
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Atenção!
No fórum de debates deste tópico 1, você pode deixar seus comentários sobre a obra e apontar
outras estratégias possíveis de realização com as crianças no âmbito da educação sexual.
Vamos lá?
Referências:
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: Gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. São Paulo: Paz e Terra,
2015.
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FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. . Rio de Janeiro (5a ed.):
Paz e Terra, 2017.
GREGORIN FILHO. José Nicolau. Concepção de infância e literatura infantil. Revista USP
Linha D’Água, São Paulo, n. 22, 2009. Disponível em:
<http://www.revistas.usp.br/linhadagua/article/view/37329>. Acesso em: 25 fev. 2019.
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6. Ed. São Paulo: Ática, 2005.
LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: das afinidades políticas às tensões
teórico-metodológicas. Educação em Revista, n. 46. p. 201-218. dez. 2007. Disponível em:
<https://www.scielo.br/pdf/edur/n46/a08n46> Acesso em 15 março 2020.
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XAVIER FILHA, Constantina. Gênero, corpo e sexualidade nos livros para a infância. Educar
em Revista, edição especial, n. 1, 2014, p. 153-169. Disponível em:
<https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-
40602014000500011&script=sci_abstract&tlng=pt> Acesso em 20 fev. 2020.
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