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Resumo
Este artigo refere-se a uma pesquisa inicial, qualitativa, realizada por intermédio de
revisão teórico-bibliográfica, sobre sexualidade e educação sexual nas instituições
sociais - família, escola e igreja - com o objetivo de averiguar qual a concepção e o
tratamento de cada instituição, relativos a tais temáticas. Relacionamos cinco conceitos
básicos: a sexualidade; a educação sexual; as instituições sociais e a psicanálise. Tais
conceitos são os nexos da pesquisa, porque são pouco desenvolvidos em nossa tradição
acadêmica, institucional, ocidental. Muito embora se pense que não estamos educando
para a sexualidade, sempre há uma educação sexual. Mesmo na ausencia da fala, de
ensinamentos e de informações sobre a sexualidade e o sexo; a educação sexual está
sendo promovida pelo silêncio. Isso é o que se chama de educação informal; aquela que
acontece no dia a dia, sem que haja um planejamento. Atualmente, após diversos
avanços e conquistas na história da sexualidade e da educação sexual, ainda se
encontram presentes discursos reducionistas acerca das mesmas, principalmente frente
ao atual cenário de retrocessos nas políticas sociais e o avanço do conservadorismo, que
prolifera o entendimento sobre tais categorias de análise no nível do senso comum. É
imprescindível que todas as instituições sociais, disponham de conhecimentos
científicos sobre a sexualidade humana, na sua totalidade. Assim, poderão proporcionar
uma educação sexual emancipatória, aquela que busca compreender a sexualidade,
realizando intervenções informativas, subjetivas, qualitativas, éticas e que sirva de
referência na vivência social e pessoal da sexualidade para os indivíduos de todas as
gerações.
Abstract
This article refers to an initial research, with a qualitative approach, carried out through
a theoretical-bibliographic review, on sexuality and sexual education in social
institutions - family, school and church - with the objective of finding out what the
conception and treatment of each institution, related to such themes. Our research
sought to relate five basic concepts: the first – sexuality; the second – sex education; the
third – social institutions; the fourth - psychoanalysis. Such concepts are the nexus of
research, especially because they have been little developed in our academic,
institutional, and western tradition. It should be noted that, even though it is thought that
we are not educating for sexuality, there is always sexual education. Even in the absence
of speech, teaching and information about sexuality and sex; sex education is being
promoted by silence. This is what is called informal education; the one that happens on
a daily basis, without planning. Currently, after several advances and achievements in
the history of sexuality and sex education, reductionist discourses about them are still
present, especially in the face of the current scenario of setbacks in social policies and
the advance of conservatism, which proliferates the understanding of such categories of
analysis at the level of common sense. It is essential that all social institutions have
scientific knowledge about human sexuality in its entirety. Thus, they will be able to
provide an emancipatory sexual education, one that seeks to understand sexuality,
carrying out informative, subjective, qualitative, ethical interventions that serve as a
reference in the social and personal experience of sexuality for individuals of all
generations.
INTRODUÇÃO
O avanço da tecnologia, as transformações sociais, ao longo das últimas
décadas, não foram suficientes para a transformação humanista da sociedade. Os
assuntos sexo, sexualidade e educação sexual são concebidos como questões ainda
bastante complexas. Na tentativa de educar sexualmente, algumas instituições sociais
como a família, a igreja e a escola realizam ensinamentos, a seu modo, sobre sexo e
sexualidade.
Através de uma visão histórico-crítica da sexualidade, pesquisas recentes, como
as de Ribeiro (2009), Figueiró (2009) e Gagliotto (2020), mostram, na atualidade, os
discursos dogmáticos do senso comum, dos tabus, dos preconceitos e da repressão
sexual e advertem que a educação sexual, na família, na escola e na igreja, se apresenta
parcial e deficitária. Muitas vezes abordam apenas os aspectos biológicos e os
conhecimentos técnicos e higienistas, negligenciando os fatores subjetivos e a condição
humanista do sexo e da sexualidade.
Para entendermos a complexidade que envolve a temática da sexualidade
humana, se faz necessário considerar os aspectos históricos que abarcaram as
sociedades no decorrer dos séculos até chegarmos ao status quo1, e que comumente são
desconhecidos por aqueles que se propõem a discutir, com certo reducionismo, sobre
sexualidade. Segundo Engels (2005) é necessário considerar que “a ordem social em
que vivem os homens de determinada época ou determinado país, está condicionada por
duas espécies de produção: pelo grau de desenvolvimento do trabalho, de um lado, e da
família, de outro” (p. 8). Para Chauí (1984) “desde que o mundo é mundo, seres
1
Status quo: Estado atual das coisas (ONLINE, 2022).
humanos e animais são dotados de corpos sexuados e as práticas sexuais obedecem a
regras, exigências naturais e cerimônias humanas” (p. 9).
Assim, verificamos que a sexualidade está para além do sexo biológico ou do ato
sexual em si. A vivência da sexualidade é influenciada por normas sociais, regras
pré-estabelecidas e que passam de geração em geração, transmitidas por diversas
instituições sociais existentes, dentre elas a família, a escola e a igreja, atuando na
educação sexual do indivíduo. Nesse sentido, trata-se de uma dimensão humana
constituída “de um elo entre aspectos subjetivos do ser humano (filosóficos, sociais,
históricos, antropológicos, pedagógicos e psicológicos) e aspectos biológicos
(genéticos, reprodutivos, identidades genitais)” (GAGLIOTTO, 2009, p. 4).
Diante desta realidade, se faz necessária a distinção entre os conceitos de sexo
e sexualidade, a fim de contribuir para que a sexualidade, uma complexa dimensão da
existência humana, não sofra com mais reducionismos. Entendemos que, muito embora
o ato sexual se constitua como parte importante da sexualidade no ser humano, este de
modo algum compreende sua totalidade. Gagliotto (2009) assevera que:
Podemos também observar o quão distintos são os papéis que essas instituições
sociais colocam para meninos e meninas, apresentando uma função de repressão sexual
do sexo feminino desde a infância, que desponta, na vida adulta, a concepção de que o
lícito para o homem é inadequado para a mulher.
MÉTODO
Nossa pesquisa é qualitativa, quanto à abordagem, e empírico-bibliográfica de cunho
histórico-filosófico sobre Sexualidade, Educação Sexual e Instituições Sociais. Toma a
sexualidade como produto histórico e dimensão da práxis social humana,
circunscrevendo-se ao método do materialismo histórico dialético. Identifica-se com a
concepção dialética da história e da educação para fundamentar-se numa concepção
dialética da sexualidade. Mapeia o estatuto da Educação Sexual no Brasil, em seus
aspectos históricos, políticos e institucionais e sua constituição como problema
investigativo. Busca elementos para a compreensão dos papéis desempenhados por
instituições formativas, de disciplinarização, na sociedade brasileira.
DESENVOLVIMENTO
Segundo Chauí (1984):
O Édipo [...] é uma lenda que explica a origem de nossa identidade sexual de
homem e mulher [...] Essa lenda envolve todas as crianças, vivam em uma
família clássica, monoparental, recomposta ou, ainda, cresçam no seio de um
casal homossexual, ou até mesmo sejam crianças abandonadas, órfãs e
adotadas pela sociedade. Nenhuma criança escapa ao Édipo! Por quê? Porque
nenhuma criança de quatro anos, menina ou menino, escapa à torrente das
pulsões eróticas que lhe afluem e porque nenhum adulto de seu círculo
imediato pode evitar ser o alvo de suas pulsões ou tentar bloqueá-las. (s/p.)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Gagliotto (2020), diferentemente da Idade Média, quando o sexo era
visto como fonte de pecado, na Idade Moderna, a mulher tinha o papel de produzir
filhos para o trabalho; o sexo deveria suprir a demanda das forças produtivas. Ocorreu
uma puritanização do sexo na primeira fase do capitalismo, em que predominava a
perspectiva médico-higienista, com foco na fisiologia e na anatomia dos órgãos sexuais,
roubando-lhe sua condição humanista.
Figueiró (2013), em sua obra Educação Sexual no dia a dia, assevera que a
educação sexual formal se relaciona com o ensino intencional, em que ocorre o
planejamento para ensinar sobre a sexualidade. Esse pode ser realizado pela escola,
família ou igreja, por meio dos postos de saúde, ou ainda, na própria casa do sujeito,
quando, por exemplo, os pais realizam a leitura de um livro sobre a temática da
sexualidade junto aos seus filhos. A educação sexual informal, se dá, a partir do
nascimento, não de forma planejada e sim, na medida em que os sujeitos transmitem
seus valores, suas ideias e crenças a respeito do corpo, o namoro, atividade sexual, a
nudez, o beijo e etc. Neste caso, as informações são transmitidas à criança de diversas
formas, tais como: olhares, comentários, atitudes ou até mesmo com o silêncio. Para
Figueiró (2013), pensar em educação sexual é pensar nos ensinamentos sobre a
sexualidade dos seres humanos, uma vez que:
Quando se pensa em educação sexual, pensa-se em uma aula, ou em um bate
papo no qual o educador, na maioria das vezes, de forma proposital e
planejada, dispõe-se a explicar sobre sexualidade para a criança ou
adolescente, enfim, para seus alunos e alunas (p. 19).
Por meio dessa pesquisa de Lorenzi (2017), podemos observar que ainda hoje a
sexualidade e a educação sexual é um tabu social, e que, tanto na educação básica
quanto no ensino superior, se apresentam como temáticas veladas e não abordadas.
Concluímos, que as instituições sociais, principalmente as aqui abordadas -
família, igreja e escola - educam, na maioria das vezes, por meio do silêncio, do não
dito, do oculto e do velado, de forma reducionista e não-humanista. É imprescindível
que todas as instituições sociais, disponham de conhecimentos científicos sobre a
sexualidade humana, na sua totalidade. Assim, poderão proporcionar uma educação
sexual emancipatória, aquela que busca compreender a sexualidade, realizando
intervenções informativas, subjetivas, qualitativas, éticas e que sirva de referência na
vivência social e pessoal, da sexualidade, para os indivíduos de todas as gerações.
REFERÊNCIAS