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Latrocínio ou homofobia?

Análise discursiva da notícia Morte e mistério na praça

Liliane Silva de Aquino 1


Gilberto Nazareno Telles Sobral2

RESUMO: Circulam, com espantosa frequência, na mídia nacional, as mais diversas notícias que
envolvem a diversidade sexual, inclusive crimes como fator prioritário ou motivação agravante. Nesse
artigo, refletiremos a respeito da sexualidade e da homossexualidade como construções socío-históricas e
acerca da homofobia como um fenômeno social que ocasiona a violência contra homossexuais. Além disso,
apresentamos uma análise discursiva de uma notícia sobre o assassinato do estudante Itamar Ferreira Souza
com base na Análise do Discurso francesa, articulada por Michael Pêcheux, analisando a linguagem no
auge do seu funcionamento, atrelando-a ao contexto sócio histórico e ideológico.

Palavras chave: Sexualidade; Análise do Discurso; Homofobia; Sentidos.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Definir o que seja a sexualidade já é tolhê-la, visto que, em seu oposto, já


estaremos deixando de lado o que supomos não ser sexualidade. É nesse emaranhado de
conceitos e definições do que seja ou não sexualidade que nos deparamos com a grandeza
da sua natureza e as possibilidades de sua realização.
Há uma infinidade de conceitos que, de certo modo, são aprimorados e
metodologicamente construídos com a finalidade de nos auxiliar na tarefa de
compreender o que, de fato, viria a ser o fenômeno da sexualidade em si, como a
sexualidade humana foi percebida ao longo da história e, consequentemente, como esse
conceber moldou as visões que atualmente vigoram no quadro social contemporâneo.
A tarefa de tentar compreender a sexualidade requer desprendimento e
plasticidade, visto que a mesma ultrapassa, e muito, a compreensão do sexo biológico dos
indivíduos, perpassando uma elasticidade perene, moldável e de caráter fluido, logo faz-
se necessário que retomemos uma singularidade elementar que ela possui: a
individualidade.
De natureza fluida, a organização e compreensão do conceito de sexualidade
deram-se a partir de construções sociais, em outras palavras, sua concepção foi elaborada
sócio-historicamente, sendo portadora das oposições sociais existentes entre as relações
de poder. Dessa forma, podemos presumir um emaranhado de questões conflitantes que

1
Mestre em Estudos de Linguagem / Universidade do Estado da Bahia – UNEB.
2
Doutor em Letras e Linguística / Universidade do Estado da Bahia – UNEB.
originam demandas biológicas, sociais, políticas, religiosas, pessoais e, porque não dizer,
até emocionais.
Todavia, ao compreendermos que a sexualidade não é estática por natureza, pelo
contrário, está exposta a constantes manipulações e sensações, percebemos que sua
construção não se deu – e ainda não se dá – de maneira previamente estabelecida. Na
contemporaneidade, de forma evolutiva, vem-se construindo, cada vez mais, uma visão
estereotipada da sexualidade. A noção de que ela é muito mais que o corpo físico e que
não está limitada às genitálias com as quais os indivíduos são classicamente classificados
em homens ou mulheres transpõe essa dualidade, agregando a si muito mais que as
possibilidades biológicas herdadas com o nascimento do indivíduo. Há, nela, elementos
como desejos, impulsos, necessidades, comportamentos e até mesmo sentimentos, sendo
assim, o biológico não é fator decisivo ou mesmo limitante para a expressão da
sexualidade.
A sexualidade ultrapassa o corpo físico e não está presa a teorias biologizantes e
dicotômicas, suas possibilidades estão fortemente articuladas com o que é sexualmente
possível e isso não está necessariamente vinculado ao determinismo imposto pelo corpo
físico.
Corpos, por si mesmos, não agregam um único sentido. Há uma intrínseca relação
com ideologias, desejos e necessidades. Debater, portanto, tais aspectos é de suma
importância para a qualidade de vida do ser humano.
As questões que envolvem o corpo, seja na perspectiva antropológica, que agrega
uma visão de construção sócio-histórica, ou mesmo a noção biologizante, que parte do
determinismo biológico, sempre estiveram na pauta das demandas mais urgentes no
desenvolvimento histórico das sociedades, o ocidente sempre as buscou, minuciosamente,
como algo singular e merecedor de uma peculiar atenção. Grandes esferas sociais
investiram tempo, esforços e pesquisas na busca pelo conhecimento do que, de fato, seria
a sexualidade.
Havia, até o século XIX, um forte empenho pela busca e conservação da moral,
para que esta fosse estabelecida. A filosofia juntamente com a religião e a medicina
instituíram e empoderaram personalidades que, legitimadas por tais seguimentos,
constituíram ideologias, debates e até mesmo ações que propunham medidas enérgicas
em busca de respostas palpáveis para as questões da sexualidade.
O surgimento da sexologia como disciplina de estudo do comportamento sexual,
tomando como base o corpo e a sexualidade, destaca a tácita ligação entre o sexo e um
instinto natural que exige uma satisfação. Para Mendes (2007, p.253),
a partir do conhecimento das neurociências, admite-se o sistema
límbico, grupo de estruturas no qual se inclui o hipotálamo, como o
responsável pelos acontecimentos referentes à sexualidade, à
agressividade e aos padrões primitivos de sobrevivência, como a fome,
a sede e o sono. Por outro lado, a região que comanda os movimentos
da racionalidade, do pensamento é a do córtex cerebral, que está
imediatamente acima do sistema límbico.

Sendo assim, podemos afirmar que não há uma determinação pessoal do sujeito a
respeito do seu próprio desejo erótico, em outras palavras, não é uma escolha ou opção
feita de forma consciente pelos indivíduos. Independente da expressão da sexualidade
que ele desempenhe, o sujeito não possui completa autoridade sobre seus desejos eróticos.
Determinar a sexualidade não é uma tarefa muito fácil, visto que ela engloba uma
série de elementos que apenas de maneira conjunta a constituirão. É a sexualidade uma
faceta do ser humano, sendo ela universal e individual. Universal porque está presente
em todos os indivíduos, sem exceções, e, ao mesmo tempo, individual, por se manifestar
de forma totalmente singular para cada um, pois sua manifestação sempre estará
vinculada a muitos outros aspectos.
Nesse sentido, a sexualidade é uma necessidade elementar para todos os humanos,
visto que tomará como base o próprio indivíduo e suas referências para, então, manifestar-
se. Ela é intrínseca aos indivíduos e os influenciará em aspectos como pensamentos,
ações, estilo de vida e até mesmo saúde mental e física. Não está vinculada apenas ao ato
sexual ou mesmo de reprodução da espécie humana, pelo contrário, vincula-se ao
psicossocial de cada um.
Essa plasticidade inerente à sexualidade concebe um potencial de variação tão
poderoso, e porque não dizer também místico, que oferta a cada pessoa um leque de
possibilidades de realizações vastíssimo. São tantas transformações às quais a
sexualidade está exposta que, embora esta tenha sido alvo de debates, nunca houve um
movimento de pesquisas e estudos tão aflorados e necessários como na
contemporaneidade.
E, de tanto se construir, desconstruir e reconstruir essa temática, o que se tem
percebido é um aprimoramento e decadência dos princípios fundamentalistas a partir da
crescente tendência das possibilidades da realização da sexualidade.
HOMOSSEXUALIDADE E HOMOFOBIA

Assim como a noção de sexualidade, pensar a homossexualidade não é algo


simplório, pelo contrário, é necessário abarcar inúmeros fenômenos que fazem referência
a essa orientação sexual, visto que ela compreende mais que apenas a relação sexual entre
duas pessoas do mesmo gênero, ela requer a presença de laços afetivos entre ambas.
Pensar a homossexualidade é exigir a quebra da dicotomia dos gêneros masculino
e feminino e possibilitar a existência da variante dos mesmos. O senso comum social
considera a homossexualidade a partir do jogo binário de contraposição entre ela e a
heterossexualidade, todavia essa assertiva passaria despercebida pelo fato de que, ao
longo de sua vida, o indivíduo é passível de sofrer uma determinada fluidez na sua
sexualidade. Segundo Fleury e Torres (2010, p. 29),

de modo geral, há um conjunto de variáveis biopsicossociais e culturais


que contribuem para que uma orientação sexual seja eventualmente
identificada, com diferentes indivíduos chegando às suas orientações
adultas por diferentes caminhos.

Muitas são as possibilidades de interpretações que surgem e são fomentadas ao se


pensar a respeito da homossexualidade. Há uma gama de opiniões, estereótipos e
construções sociais que, como fantasmas, pairam pela sociedade. Infundadas, essas
noções pré-concebidas são matriarcas de inúmeros erros, além de abrir uma cancela,
confortável, por onde passam o preconceito, a discriminação e as ações automáticas do
cotidiano social.
Ao analisarmos a história da sexualidade, confirmamos que o preconceito contra
os indivíduos homossexuais nada mais é do que uma construção fundamentada em
questões sociais e históricas. Fleury e Torres (2010, p.312) confirmam esse aspecto sócio-
histórico ao afirmarem que “ao se aceitar a concepção da homossexualidade como
construção social, deve-se estar consciente da relação existente entre a análise da história
da homossexualidade e as relações de poder estabelecidas em determinadas épocas e
culturas”. Sob essa perspectiva, afirmamos que existem diferentes formas de conceber a
homossexualidade, em diferentes sociedades, diferentes localidades, diferentes grupos,
deferentes interesses e, mesmo grupos iguais, de uma mesma sociedade, de uma mesma
localidade, podem diferir de uma verdade absoluta do que vem a ser a homossexualidade.
Nos dias atuais, mesmo com tanto conhecimento acumulado a respeito da
sexualidade e de seu caráter multifacetado, ainda há muitos relatos a respeito do
comportamento social frente a algumas orientações sexuais. Nas palavras de Fleury e
Torres (2010, p.31), “o fundamento desse juízo de condenação situa-se no contexto
histórico ocidental, na interpretação dominante da doutrina cristã. Nesse contexto, toda
prática sexual não reprodutiva é qualificada negativamente”.
O sujeito homossexual, de fato, é, na maioria das situações, colocado à margem
do padrão eleito como modelo por grande parte das culturas. Por vezes visto como inferior
pela sociedade contemporânea, ele é julgado pela sua sexualidade e não pela capacidade
que possui em desempenhar determinadas funções ou, então, subjugado a desempenhar
outras por ser homossexual.
Por se tratar de um fenômeno muito complexo, a homofobia constitui uma das
temáticas que, na atualidade, encontra-se em voga, de maneira ampla, nos mais variados
setores sociais, já que a mesma vem constantemente figurando os altos índices de
atentados aos gays e lésbicas como nunca antes constatados.
Usaremos a definição de homofobia, concebida por Borrillo (2010, p. 15), que “é
a atitude de hostilidade para com os homossexuais”, ou seja, atitudes preconceituosas e
discriminatórias para com o indivíduo homossexual, como também ódio ou aversão à
homossexualidade. Essa manifestação de cunho arbitrário insiste em designar o outro
como contrário, inferiorizando-o e marginalizando-o, levando-o, assim, a uma
subordinação social.
A homofobia vai além da violência contra gays e lésbicas e tem dimensões
maiores que puramente o medo, repulsa e aversão, às cegas, aos homossexuais; sendo
assim, podemos concluir que a homofobia é uma atitude não pensada, que está arraigada
em conflitos/motivos interiores do indivíduo agressor. Ainda, segundo Borrillo (2010,
p.17),
a homofobia é o medo de que a valorização dessa identidade seja
reconhecida; ela se manifesta, entre outros aspectos, pela angústia de
ver desaparecer a fronteira e a hierarquia, da ordem heterossexual. Ela
se exprime, na vida cotidiana, por injúrias e por insultos [...]. A
homofobia é algo familiar e, ainda, consensual, sendo percebida como
fenômeno banal [...] invisível, cotidiana, compartilhada, a homofobia
participa do senso comum, embora venha a culminar, igualmente, em
uma verdadeira alienação dos heterossexuais.

Podemos afirmar que a homofobia também constitui uma forma de expressão da


heteronormatividade, visto que seus adeptos criaram um sistema de inferiorização para
subjugar os homossexuais, surpreendendo-os com diferentes estratégias, muitas vezes
silenciosas como, por exemplo, a exclusão de determinados ambientes, a elaboração de
piadas pejorativas, ou formas mais concretas, como a humilhação social e a violência em
suas diferentes esferas, podendo ocorrer de forma simbólica, verbal ou física, levando a
vítima, em alguns casos, até ao óbito, demonstrando pouco respeito para com o indivíduo
gay. Isso torna a homofobia um fenômeno assustador e merecedor de uma estratégia de
combate imediato.
Faz-se necessário, então, que essa questão social, que se tornou uma ameaça para
os homossexuais, tenha um espaço de atenção e reflexão mediante a complexidade de sua
natureza.

MORTE E MISTÉRIO NA PRAÇA: UMA ANÁLISE DISCURSIVA

A Análise do Discurso, doravante AD, foi institucionalizada como uma disciplina


que observa o funcionamento da língua do ponto de vista da materialização da ideologia
e como esta mesma se manifesta através da linguagem e do discurso. Para a época, essa
teoria representou uma nova possibilidade de se pensar as Ciências Sociais e a linguagem.
Até a década de 60 do século XX, na Europa, a Ciência Linguística possuía uma
visão Estruturalista, ou seja, a linguagem era concebida tão somente como um elemento
facilitador da comunicação entre os sujeitos, não havia, então, a ideia da linguagem em
movimento como objeto de estudo.
Passou-se, então, a considerar o contexto no qual os signos são evocados, já que
são as questões ideológicas em jogo, nas relações sociais, que constituirão diferentes
sentidos aos mesmos. Leva-se em conta a linguagem e o seu funcionamento e, ainda, a
autonomia da língua de forma relativa, diferentemente do estruturalismo, criticando-o, a
fim de contribuir, significativamente, para uma visão inovadora no que tange aos estudos
da fala. Não há, pois, espaço para a negação das situações exteriores à língua, visto que a
linguagem é tida como movente. Em outras palavras, a AD tenta mostrar que a história
perpassa a linguagem para, assim, existir a construção de determinados sentidos.
Sendo considerada uma disciplina fundada a partir de elementos de três regiões
diferentes do conhecimento, a saber: o Materialismo Histórico, a Linguística e a
Psicanálise, a AD passa a ser conhecida como uma disciplina nascida no entremeio
teórico destas. Segundo Pêcheux (1997 B, p.8), ela é, então,
[...] de imediato, concebida como um dispositivo que coloca em relação,
sob uma forma mais complexa do que o suporia uma simples
covariação, o campo da língua (suscetível de ser estudada pela
linguística em sua forma plena) e o campo da sociedade apreendida pela
história (nos termos das relações de força e de dominação ideológica).

A noção de discurso, para a AD, vai muito além da mera transmissão de uma
determinada informação específica ou qualquer, quando comparada ao modelo
convencional que explica o caminho traçado pela comunicação, desde sua emissão até
sua chegada ao receptor, pois, já no ato de produção do discurso, há uma quebra nessa
aparente organização da transmissão, visto que não há uma transmissão ou troca de
informações que sejam realizadas de forma tão unidimensional e sequenciada.
A AD passa, então, a compreender o discurso como seu objeto de estudo, que,
segundo Pêcheux (1997 A, p.77), é um processo, uma constante, e não apenas um objeto
estático. Trata-se de uma retomada ao já-dito que está em constante movimentação. Nas
palavras do autor,
em outros termos, o processo discursivo não tem, de direito, início: o
discurso se conjuga sempre sobre um discurso prévio, ao qual ele atribui
o papel de matéria-prima, e o orador sabe que quando evoca tal
acontecimento, que já foi objeto de discurso, ressuscita no espírito dos
ouvintes o discurso no qual este acontecimento era alegado, com as
“definições” que a situação presente introduz e da qual pode tirar
partido (PÊCHEUX, 1997 A, p.77).

O discurso não é a fala, da mesma forma que não pode ser a língua, nos moldes
estruturalistas de sistema abstrato, como fora concebida por Saussure. Instaura-se, assim,
a noção de discurso como efeito de sentido entre os interlocutores. Por esse ângulo, o
discurso é considerado como objeto construído a partir das condições de produção,
sinalizando o sentido e a posição que o sujeito ocupa ao materializar determinado
enunciado.
A partir destas considerações iniciais acerca da noção de discurso, passaremos à
análise da notícia Morte e mistério na praça.
Falar em notícias é trazer à baila os discursos que circulam socialmente, que não
devem ser simplesmente deixados de lado, ou esquecidos, pois é através deles que os
sujeitos atuam como seres sócio-históricos e se inscrevem em determinados espaços
sociais previamente organizados e não em outros.
Circulam, com espantosa frequência, na mídia nacional, notícias sobre
acontecimentos, questões e até mesmo crimes que envolvem a diversidade sexual como
fator prioritário ou motivação agravante. São fatos que são expostos com tanta frequência
e, não raro, envolvem episódios de violências contra transgêneros e homossexuais,
passando a ser, comumente, encontrados nas seções criminais.
A mídia impressa, com sua função divulgadora dos fatos que ocorrem na
sociedade, muitas vezes, torna-se uma espécie de porta-voz dos grupos sociais,
contribuindo para a construção de determinados discursos em torno da temática da
criminalidade que os envolve, e com a comunidade LGBT não é diferente.
Entre as notícias que circularam, nos últimos anos, encontra-se a do assassinado
do jovem universitário Itamar Ferreira Souza, estudante do curso de Produção Cultural
da Universidade Federal da Bahia – UFBA, ocorrido no dia 12 de abril de 2013. O
estudante foi encontrado morto na Praça do Campo Grande, em Salvador. O crime passou
a ser pensado sob duas perspectivas: a de homofobia - preconceito devido à orientação
sexual da vítima – e a do latrocínio – roubo seguido por morte.
O corpo de Itamar Ferreira de Souza, 25 anos, foi encontrado na manhã do sábado,
13, por volta das 7h da manhã, imerso no fundo de uma fonte (um lago construído
artificialmente) na Praça Dois de Julho, também conhecida como praça do Campo
Grande. Segundo o 18º Batalhão da Polícia Militar do Estado da Bahia, lotado no Centro
Histórico de Salvador, o corpo do jovem estava vestindo apenas uma cueca azul e com
um ferimento na cabeça, bem próximo ao supercílio direito.
Na seção intitulada “Morte e violência”, do dia 14 de abril, o Jornal Correio da
Bahia (2013, p. 26) vai relatar o caso Itamar.
Figura 1 – Morte e mistério praça.

Fonte: Correio da Bahia: Salvador, 14 abr. 2013. p.26.

Inicia-se a narração dos fatos dando informações básicas para que o interlocutor
consiga compreender a situação ocorrida. Em um dado momento, o sujeito do discurso
apresenta características básicas da vítima, como ocupação social, nome e idade, nesse
ínterim, é exposta a orientação sexual da vítima: “assumidamente homossexual”. É
trazida, à baila, ainda no primeiro momento, a sexualidade da vítima, a fim de traçar seu
perfil, elemento chave na construção discursiva do crime. Vejamos:
O corpo do Estudante Itamar Ferreira Souza, 25 anos, foi encontrado
ontem, por volta de 7h, na Praça do Campo Grande, imerso em um lago
artificial de cerca de meio metro de profundidade. Vestido apenas com
uma cueca azul, seu corpo apresentava um ferimento na cabeça,
próximo ao supercílio direito. Assumidamente homossexual, Itamar
se formaria em setembro no curso de Produção Cultural da Faculdade
de Comunicação da Ufba (LYRIO, 2013. p.26, grifo nosso).

Quais as condições de produção imediatas, ou seja, o sujeito e a situação nas quais


as palavras “assumidamente homossexual” são citadas? A vítima foi encontrada morta
em uma manhã, ou seja, morreu já tarde da noite, horário que, provavelmente, não deveria
estar na rua, numa praça, dentro de um lago, de cueca azul, era assumidamente
homossexual e estudante da UFBA.
Ao expor a orientação sexual da vítima, o sujeito discursivo aciona a memória
sobre os dizeres e sentidos que a sociedade produziu, ao longo dos tempos, do que é ser
homossexual. Além do mais, citar a sexualidade da vítima já vincula o crime às questões
que envolvem a homofobia, por outro lado, isso também pode ser associado a já-ditos
como: - todo homossexual é promíscuo, logo justifica-se o fato de ele ter sido encontrado
seminu em uma fonte do Campo Grande.
Destaca-se o marcador discursivo assumidamente para estabelecer uma relação
de organização das ideias presentes no discurso, as quais, a partir desse momento, irão
trazer à tona os sentidos já-ditos a respeito da homossexualidade.
Se a vítima não fosse assumidamente homossexual, não faria sentido dizer
assumidamente heterossexual, pois, levando em consideração que, segundo a
heteronormatização, a heterossexualidade é a sexualidade normal, tanto biológica como
socialmente, seria até uma redundância citar a sexualidade da vítima. Logo, ao dizer
assumidamente homossexual, o sujeito discursivo chama a memória social tudo o que já
foi dito a respeito dos homossexuais, o saber discursivo pré-existente, o já dito. Tal dizer
pode, também, dar a ideia de uma justificativa ao crime, além da retomada no
interdiscurso aos já ditos que relacionam homossexualidade e violência.
“Assumidamente homossexual” produz sentido, pois significa, através da
memória, com sentidos outros, muitas vezes mais destacados do que as demais
características que fazem parte dos elementos que traçam o perfil da vítima, trazendo para
essa característica específica possibilidades de interpretações, visto que a linguagem não
é transparente, tais como ser uma pessoa autêntica, um militante da causa GLBT, mas,
por outro lado, também significa não ser discreto, ou seja, exibe a sua homossexualidade,
não tem o comportamento que a sociedade espera de alguém do sexo masculino, etc. Para
Pêcheux (1997 A, p. 160),
[...] o sentido de uma palavra, de uma expressão, de um posicionamento
etc., não existe “em si mesmo” (isto é, em sua relação transparente com
a literalidade do significado), mas, ao contrário, é determinado pelas
posições ideológicas que estão em jogo no processo sócio-histórico no
qual as palavras, expressões e proposições são produzidas.

Em outras palavras, as palavras podem mudar seus sentidos dependendo da


posição na qual se coloca o sujeito discursivo que as emprega. De certa forma, podemos
perceber que o sujeito discursivo não possui uma neutralidade dentro do fato que está
narrando, pois, ao citar assumidamente homossexual, ele coloca, simbolicamente, em
evidência essa característica da vítima, produzindo, assim, efeitos de sentido no
interlocutor/leitor.
O sujeito é constituído pela ideologia que o inscreve em sua discursividade, tendo
ele a impressão de que é o detentor dos sentidos do que diz, já que imagina ser ele o
originador, quando, na realidade, além de ele não o ser, através dos seus ditos, ecoa a
memória de tudo que já foi dito, em outros lugares e de outras formas, em outros
discursos. Ele é, então, constituído pelo esquecimento. Segundo Pêcheux (1997, p. 155),
“a Ideologia interpela os indivíduos em sujeitos” e “[...] o sujeito é desde sempre “um
indivíduo interpelado em sujeito”. Nesse sentido, podemos constatar que o sujeito é,
então, traspassado por outros dizeres em seu próprio dizer, materializando-os na sua
linguagem, trazendo à baila as ideologias nas quais o sujeito, de forma inconsciente,
encontra-se inscrito.
O discurso é estimado como a instância pela qual as ideologias se manifestam em
sua materialidade, através da língua. É também a partir dos estudos sobre a ideologia que
Pêcheux formula a noção de Formação Ideológica (FI). As ideologias são as instâncias
responsáveis pelo assujeitamento do sujeito em seu papel de sujeito ideológico. Para
Orlandi (2009, P. 43),
[...] tudo o que dizemos tem, pois, um traço ideológico em relação a
outros traços ideológicos. E isto não está na essência das palavras mas
na discursividade, isto é, na maneira como, no discurso a ideologia
produz seus efeitos, materializando-se nele.

O processo de assujeitamento pelo qual o sujeito é submetido, naturalmente, a


partir da ideologia, o traduz em sujeito ideológico, todavia ele não possui consciência
desse processo, tendo assim a falsa impressão de que ele próprio é o autor do seu dizer,
no entanto sabe-se que tudo que ele diz faz parte de um já-dito. Nesse sentido,
compreende-se que o assujeitamento do sujeito discursivo leva-o a filiar-se a uma
determinada FD e não a outra, visto que é a FD que tem o controle do que pode e deve
ser dito a partir de uma determinada filiação ideológica, o que, como consequência,
também o filia a uma ou a várias outras Formações Discursivas.
Formação Discursiva é um conceito elementar no arcabouço teórico da AD.
Pêcheux (1997, p. 160) nos dirá: “chamaremos, então, formação discursiva aquilo que,
numa formação ideológica dada, isto é, a partir de uma posição dada numa conjuntura
dada, determinada pelo estado da luta de classes, determina o que pode e deve ser dito”.
Logo, percebemos a importância da FD para a compreensão e interpretação dos sentidos.
É sabido que o conceito de sentido utilizado pelos analistas de discurso difere do que é
empregado pela semântica estruturalista, que o considerara a partir dos seus mandos,
buscando assim um sentido unívoco, para cada termo.
Logo, percebemos que a AD pondera com a semântica da língua até o momento
em que ela e a AD trabalham com a língua a partir da sua visão de não transparência, não
trazendo em si mesma um sentido inato e completo. Sendo assim, a AD não a toma como
doadora de um sentido universal, já que o mesmo passa a ser apurado a partir das posições
ideológicas dos sujeitos.
De posse dessa informação e intencionando identificar as FD’s presentes na
reportagem do dia 14, buscamos identificar quais as ideologias que deram origem as FI’s
materializadas nos dizeres das autoridades policias em oposição ao dizer do Grupo Gay
da Bahia (GGB), representado pelo seu diretor.
Investigação: Segundo o diretor-adjunto do departamento de
homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), José Bezerra, a polícia
trabalha com a hipótese de latrocínio (roubo seguido de morte). “Ele
estava sem o celular, máquina fotográfica e documentos”. De acordo
com Bezzera, a polícia aguarda o laudo do Instituto Médico Legal Nina
Rodrigues (IMLNR), com a causa da morte. “Precisamos saber se ele
morreu por asfixia, em decorrência de afogamento ou por causa da
pancada na cabeça” (LYRIO, 2013. p.26).

A ideologia que assujeita o sujeito das autoridades policiais, representada aqui


pelo individuo José Bezerra, deixa marcas nos dizeres referentes ao latrocínio, filiando-o
assim a uma FI que pondera os ditos filiados a essa ideologia, originando assim a FD.
O latrocínio é definido como um tipo penal em que se verificam duas ações: o
roubo seguido pela morte da vítima. Trata-se de um crime complexo, haja vista que,
juridicamente, ele é a união de duas práticas criminais, a saber: o crime fim (roubo) e o
crime meio (homicídio). Por tal característica, é considerado crime hediondo e está
descrito no código penal, artigo 157, §3. Quando o homicídio é consumado, a pena
prevista é de 20 a 30 anos.
Em conformidade com essa Ideologia e, por conseguinte, a FI que esta produz, o
sujeito discursivo está assujeitado à FD que será responsável pelos seus discursos,
limitando o que pode e o não pode ser dito, dentro do espaço dessa ideologia. Nesse
sentido, ao dizer “ele estava sem o celular, máquina fotográfica e documentos” (LYRIO,
2013, p. 26), o sujeito enunciador reafirma sua posição ideológica pautada no latrocínio.
Em oposição, a notícia apresenta a ideologia do GGB que está filiada à FI da
homofobia. Desse modo, sua formação discursiva traz sentidos outros, ou seja, seu
sentido é constituído a partir da agressão que levou à morte não um estudante da UFBA,
mas a mais um indivíduo que é assumidamente homossexual. Segue a materialidade
linguística do GGB na notícia:
Para o presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB), Marcelo Cerqueira,
o crime tem características de crime homofóbico. O Campo Grande é
uma área de frequência de gays, de pegação. Recebi informações de que
estava no Beco dos Artistas e seguiu para a Boate Tropical, antes de ir
ao Campo Grande (LYRIO, 2013, p. 26).

Percebemos que a FI que interpela o sujeito associa a morte do estudante à questão


da sexualidade, pois reafirma esses sentidos ao dizer que “o Campo Grande é uma área
de frequência de gays, de pegação” e, logo após, “recebi informações de que estava no
Beco dos Artistas e seguiu para a Boate Tropical, antes de ir ao Campo Grande”, locais
também conhecidos pela frequência do público homossexual.
Localizada no Largo do Campo Grande, a Praça do Campo Grande é um dos
pontos turístico da cidade do Salvador. Construída no século XIX, é símbolo de
acontecimentos históricos decisivos para o estado da Bahia. No entanto, atualmente,
tornou-se um espaço de lazer, distração familiar, ponto de encontro, arena de eventos,
além de práticas esportivas. Quem quer que seja que busque diversão e também paquera,
encontra nela a possibilidade de socializar-se com outras pessoas.
Não seria diferente para a comunidade LGBT, em especial em dias de
movimentação no Beco dos Artistas, é a praça um dos locais de encontros para que,
juntos, os amigos possam partir para o Beco.
Tanto o Beco dos Artistas como a Boate Tropical são espaços frequentados pela
comunidade homossexual, na cidade do Salvador. O Beco dos Artistas fica localizado nas
proximidades do Teatro Castro Alves. Considerado um dos mais antigos pontos de
encontro LGBT da cidade, como o próprio nome indica, o local é um beco, muito simples,
constituído por bares acessíveis. A atração principal é a possibilidade de encontrar uma
paquera e a diversão, normalmente é uma parada antes de se dirigirem para a Boate
Tropical. A Boate Tropical, por sua vez, é um local também frequentado pelo público
LGBT. Um ambiente um pouco mais rebuscado, visto que sua estrutura é palco de
atrações como shows de transformistas, músicas e danças. De porte da construção desse
contexto sócio-histórico, percebe-se que os sentidos construídos pela fala do
representante do GGB convergem para a filiação ideológica da homofobia.
E ainda, não apenas a fala do GGB, como também os efeitos de sentidos que
emanam dos dizeres produzidos pela comunidade que fazia parte do cotidiano da vítima,
representados aqui pelos colegas e professores da UFBA, filiam-se à FD da homofobia.
Citamos, então, as materialidades linguísticas afiliadas (LYRIO, 2013, p. 26):

Pelo que interpretam amigos, colegas e professores da instituição na


qual Itamar Ferreira estudava, o jovem foi vítima de um crime com
motivação sexual. Professores da Faculdade de Comunicação
(FACOM) lamentaram o ocorrido e destacaram a personalidade do
estudante. “Os indícios mostram que o crime está relacionado com a
questão sexual. Mas, independente de qualquer coisa, é lamentável,
ainda mais dentro de um local como o Campo Grande”, afirmou o
diretor da faculdade, Giovandro Ferreira (LYRIO, 2013, p. 26).

Observar as condições de produção é buscar compreender, a partir de um


determinado momento histórico, o surgimento desse discurso e sua nova forma de
significar, dentro do contexto imediato. Ao dizer “mas, independente de qualquer coisa,
é lamentável, ainda mais dentro de um local como o Campo Grande” (LYRIO, 2013, p.
26), percebemos nas palavras do professor sua indignação com o crime que transcende as
questões que envolvem a sexualidade do jovem. Ferreira ainda faz referência aos fatos
históricos que deram origem à Praça, acionando o interdiscurso e as condições de
produção no contexto amplo.
A Praça Dois de Julho representa um sítio de sentidos, visto que só a sua existência
abriga diversos sentidos, sendo esses o resultado de relações históricas e sociais, uma vez
que o espaço é um palco de grandes manifestações populares, um centro cívico da cidade
de Salvador, pois representa um evento magno do estado: o momento da consolidação da
Independência do Brasil, a independência da Bahia.
A independência ocorreu em 02 de julho de 1823, marcando a consolidação do
triunfo brasileiro sobre Portugal, como também sua dissociação política, entretanto foram
necessárias batalhas e exaustivas lutas por parte da nação brasileira para que o sonho da
independência se tornasse real. Sendo assim, os sentidos presentes neste espaço foram
construídos sócio-historicamente, e são esses sentidos que se fizeram presentes no
discurso de diretor Giovandro Ferreira (LYRIO, 2013, p. 26), a partir do interdiscurso.
Atualmente, a Praça também se tornou um espaço de manifestações de cunho
cultural, político e social da cidade, sendo o local escolhido para sediar embates e
manifestações, um legado transmitido a partir da ideia da independência de 1823.
Entretanto, com a morte do estudante, foram atrelados ao local outros sentidos, entre eles,
criminalidade, violência urbana e homofobia. Sendo assim, no mesmo espaço que outrora
foi o marco da glória de um país, pelo qual muitos cidadãos brasileiros morreram, dando
a vida pela história de uma nação, agora se encontra o sangue de mais um cidadão, não
contra o abuso e a tirania de uma nação estrangeira, e sim por causa da intolerância,
ignorância, discriminação de seu próprio país, dando origem, desta forma, a outros
sentidos.

CONCLUINDO

Os sentidos são de ordem das formações discursivas, visto que são elas que
gerenciam o que pode ou não ser dito em uma determinada conjuntura, bem como sua
regularidade, ou seja, cada sentido de uma FD é materializado a partir das FI’s nas quais
se inscreve, mobilizando ideologias na produção dos sentidos.
O sentido, por ele mesmo, não pode existir, os significados serão alterados muitas
e muitas vezes, à mercê da posição com que sejam as palavras e expressões empregadas.
O sentido é entendido não apenas no ato de sua construção, mas ligado aos já-ditos em
relação com a FI em que se inscreve. Logo, podemos afirmar que o sentido é o resultado
da filiação do sujeito em uma determinada FD, é ela que diz o que pode ser dito dentro
de seus entornos, visto que os sentidos são moventes, ou seja, variam de acordo com a
inscrição do sujeito, bem como sua FI. Os sentidos acerca da morte do estudante Itamar,
como visto, foram construídos a partir de dizeres autorizados por FD’s que regulam
saberes em torno da homofobia e do latrocínio.
Considerando estas questões, chegamos à conclusão de que o pré-construído
regula o sujeito no processo de assujeitamento deste a um determinado sentido já existente
antes da sua manifestação no discurso, situando-o em um determinado contexto, em uma
determinada ideologia, sendo ela necessária à existência dos sentidos. As FD’s colaboram
no entendimento do processo de produção dos sentidos, estabelecendo as escolhas das
palavras, em um contexto, em detrimento de outra, nessa e não naquela posição,
proporcionando uma melhor compreensão dos sentidos, permitindo que se encontre uma
regularidade no mecanismo de funcionamento dos discursos.
São as ideologias que trazem à baila diferentes formações ideológicas, mostrando
as peculiaridades de cada uma delas e assim, previamente, definem em quais formações
discursivas os sentidos podem ser filiados e interpretados. Nesse sentido, destacamos que
as FD’s, quando analisadas, não podem ser concebidas como automáticas e ainda, além
de serem fluidas, elas, por natureza, irão se contrapor.

REFERÊNCIAS

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2007.

BORRILLO, Daniel. Homofobia: história crítica de um preconceito. 1.ed. Belo


Horizonte: Autêntica Editora, 2010.

FLEURY, Alessandra Ramos Demito; TORRES, Ana Raquel Rosas. Homossexualidade


e preconceito: o que pensam os futuros gestores de pessoas. 1.ed. Curitiba: Juruá Editora,
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FRY, Peter; MACRAE, Edward. O que é homossexualidade. São Paulo: Brasiliense,


1983.

LYRIO, Alexandre. Morte e mistério na praça. Corpo do aluno da Ufba é encontrado


dentro de fonte do Campo Grande. Correio da Bahia. Salvador, Bahia. p. 26. n 11135.
14 de abril de 2013.

ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 8.ed. Campinas,


2009.

PÊCHEUX, Michel. A análise do discurso: três épocas. In: GADET, Françoise; HAK,
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PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Tradução


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MENDES, Sandra Magrini Ferreira. Homossexualidade: a concepção de Michel Foucault


em contraponto ao conhecimento neurofisiológico do século XXI. Encontro Revista de
Psicologia. Vol. XI, n. 16, ano 2007. Disponível em:
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%3A%2F%2Fpgsskroton.com.br%2Fseer%2Findex.php%2Frenc%2Farticle%2Fdownl
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