Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
O objetivo deste artigo é refletir sobre Educação em Moçambique, a partir da dinâmica
de gênero e suas interseções, dando enfoque nas desigualdades sociais e políticas públicas daí
decorrentes. O presente estudo integra meu projeto de doutoramento, no qual pretendo
discutir sobre as políticas públicas que o governo moçambicano vem desenvolvendo e que
visam promover a igualdade de gênero através do empoderamento das mulheres.
Realizamos pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo (Cervo e Bervian, 1983:55) a
partir da utilização dos descritores “Gênero” e “Moçambique” nas bases de dados do
AFRICABIB. Foram localizados 96 artigos originais e de revisão publicados em periódicos
nacionais e internacionais, os quais foram classificados de forma contextual nas categorias:
Gênero, Educação, Violência e Políticas Públicas. Observamos uma lacuna em relação às
interseções, apenas poucos estudos sobre violência apontam para a importância da interseção
com raça e classe.
Quando os indicadores básicos do desenvolvimento humano são desagregados por
gênero, demonstram claramente a existência de um fosso significativo entre os sexos, fazendo
com que as mulheres sejam incapazes de participar na íntegra do desenvolvimento social,
econômico e político do país (Bergh-Collier, 2007). É interessante, destacar o surgimento de
políticas públicas que visam criar condições para que a igualdade de gênero possa
efetivamente se concretizar, e é sobre as mudanças sociais pelas quais vem passando
Moçambique nas últimas décadas que se debruça este texto.
1
Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de
2014, Natal/RN.
1
SITUANDO A PESQUISA: DESIGUALDADE DE GÊNERO
Nas Ciências Sociais o conceito de gênero é considerado culturalmente construído
(Scott, 1998), servindo, para distinguir a dimensão biológica da social (Giddens, 2001:110). O
debate internacional esta marcado pela emergência de categorias que aludem a multiplicidade
de diferenciações que, articulando-se com categoria de gênero, permeiam o social (Piscitelli,
2008: 263). Para Avtar Brah dentro das estruturas de relações sociais, as mulheres não
existem apenas como mulheres, mas como categorias diferenciadas “mulheres trabalhadoras”
ou “mulheres negras”, cada uma delas relacionada a uma condição social específica (Brah,
2006: 341). O gênero se entrecruza com outros marcadores como gênero e raça, gênero e
classe, permitindo perceber dentro do debate sobre as interseccionalidades a coexistência de
diversas abordagens. Algumas feministas (Shohat, MacKlintock, Mohanty) que trabalham
com a teoria pós-colonial, chamam a atenção para necessidade de também articular gênero
com as categorias religião e nacionalidade (Piscitelli, 2008: 265).
Para Stuart Hall (2003:56) o “pós-colonial” não sinaliza uma sucessão cronológica do
tipo antes e depois, uma vez que muitos dos problemas do colonialismo como dependência
econômica, subdesenvolvimento e desigualdades sociais não foram resolvidos no pós-
colonialismo, essas relações apenas assumiram uma nova configuração. Com bem adverte
Mia Couto (2008) as ex-colônias já tiveram várias nomenclaturas “terceiro Mundo, países
subdesenvolvidos, nações da periferia, hoje, países ricos e pobres são chamados de
parceiros”, o problema para este autor é que não se resolve nas palavras o que não esta
resolvido na substância. Os modos de classificação e identificação social que estruturam uma
sociedade determinam também a forma pela qual sua reprodução social é organizada,
determinando de que forma as concepções e as relações sociais são construídas (Stolcke,
2006:26).
Segundo Kimberlé Crenshaw (2002:178), as interseccionalidades são formas de
capturar as consequências da interação entre duas ou mais formas de subordinação: sexismo,
2
racismo, patriarcalismo. Ao analisar a Antropologia feminista, Verena Stolcke (2004:83)
destaca que a subordinação das mulheres não é exercida exclusivamente pelos homens, mas é
um fenômeno universal produzido ao longo da história a partir do surgimento da propriedade
privada e do colonialismo.
Antes, a mulher moçambicana não tinha voz, a mulher não podia estudar mais
que o homem, diziam que a mulher não pode conduzir o carro, a mulher não
pode trabalhar nas secretarias. Então, a FRELIMO começou a luta armada,
dizia que na nossa luta não há homem, não há mulher, mas sim todos somos
militantes. – Depoimento de Rosa ex-guerrilheira (Corrêa e Homem,
1977:415).
Verificamos que a língua, como prática cultural, é importante não apenas por ser capaz
de comunicar e ter acesso à informação, mas também para entendimento mais profundo do
2
Entre os onze principais grupos étnicos de Moçambique foram identificadas 31 línguas diferentes, todas de
origem Bantu (Corrêa e Homem, 1977:182).
3
mundo em mudança onde as pessoas vivem. O problema em Moçambique, de acordo com o
último Censo realizado em 2007, é que apenas 40% da população sabe falar o idioma, quando
utilizamos gênero como categoria de análise os números são bem mais alarmantes, apenas
20% das mulheres moçambicanas falam o idioma, em termos educacionais a escolarização
feminina também foi sempre menor que a masculina. Em todas as idades as taxas de
analfabetismo são maiores entre as mulheres, nas áreas rurais a taxa de analfabetismo
feminina é 1,5 vezes superior à masculina e nas cidades é 2,4 superior. Isto significa que os
homens são mais favorecidos pelas facilidades urbanas ao acesso às escolas, em
contraposição ao campo. Quando realizamos um recorte por faixa etária/localização
geográfica verificamos altíssimas taxas de analfabetismo feminino nos grupos etários a partir
dos 40 anos de idade e que habitam zonas rurais, todas as taxas superam os 90% (Caccia –
Bava e Thomaz, 2001:38). Nas últimas décadas o governo tem investido massivamente num
sistema de educação básica gratuita, mas na prática ainda é preciso pagar pelo fardamento e
material escolar, nesse contexto as famílias pobres continuam tendo dificuldade para educar
as crianças.
3
De acordo com a UNICEF em Moçambique as taxas de alfabetização de mulheres das famílias mais abastadas
tende a ser oito vezes superior do que as famílias pobres (Maputo, 2005:38).
4
estudos obrigatórios e optar por um curso profissionalizante que leve a um
ofício manual seriam escolhas racionais (senão as mais racionais e eficientes)
diante da estrutura de oportunidades que se impõe sobre essa posição de
classe (Bertoncelo, 2009:29).
5
A construção cultural de homens e mulheres em Moçambique é inserida hoje através
das práticas culturais, influenciadas pelos dogmas religiosos e propagadas através do Alcorão
e da Bíblia. No que tange as questões de gênero é clara a similaridade, seja qual for a
confissão religiosa, das desigualdades entre homens e mulheres, colocando-as num patamar
de inferioridade (Silva, 2007:62). A frequência escolar tem correlação direta com a religião do
chefe familiar, dentre os católicos 63% das crianças frequentam a escola, enquanto nas
famílias mulçumanas este percentagem cai para 48% (Tvedten, Paulo e Tuominen, 2009: 45).
Em pesquisa realizada pelo CMI - Chr. Michelsen Institute as meninas entrevistadas
declararam que sua educação escolar seria interrompida caso seus pais identificassem um bom
marido para elas (Ibdem, 2009: 17), parte do problema esta relacionado com a percepção de
que a educação é perda de tempo e gasto de recursos financeiros, principalmente em relação
às meninas (Tvedten, Paulo e Tuominen, 2009: 23).
6
Taxa de alfabetização 67,0 37,5
Frequência na escola primária 62,7 56,7
Fonte: Banco Mundial 2007
Durante muito tempo o conceito de classe teve lugar central para compreensão dos
conflitos e transformações da sociedade (Bertoncelo, 2009: 25), ao correlacionar gênero e
classe, Bergh-Collier (2007:44/45) percebeu que a alfabetização entre as mulheres urbanas
(65%) é três vezes maior do que as mulheres rurais (21,6%), enquanto a taxa de alfabetização
de mulheres de famílias mais abastadas tende a ser oito vezes superior as mulheres pobres,
sendo mais provável que as mulheres pobres não terminem o ensino primário. Como vimos
anteriormente apesar do ensino em Moçambique ser “gratuito” as famílias tem de pagar uma
matricula, sobre este pagamento o diretor de uma escola rural falou:
Em Maputo o modo de vida das pessoas é diferente, a maior parte das pessoas
trabalha e aí pode pagar. Ao passo que aqui é muito complicado e para não se
vedar a escola às crianças que não têm possibilidades de pagar, faz-se mais
barato. Mesmo assim há crianças que chegam até à quinta classe e nunca
puderam pagar e a gente vai deixando (Silva, 2007:134).
4
“Os custos das propinas e dos materiais escolares podem ser demasiado elevados para muitas famílias e no caso
da principal actividade da família depender da mão-de-obra de todos os familiares, significam uma redução de
recursos humanos na economia familiar” (Silva, 2007: 103).
7
no texto de Bertoncelo (2009: 29/30), podemos afirmar que as famílias optam por manter os
meninos uma vez que o trabalho desenvolvido pelas meninas na machamba 5 não exige
escolaridade. No entanto o que temos percebido e que está alinhado com muitos outros
estudos é uma tendência das famílias em evidenciar a educação as meninas, principalmente
quando o chefe familiar é uma mulher. Tvedten, Paulo e Tuominen (2009: 44) afirmam que as
mulheres com capacidade de tomar decisões tendem a investir mais na educação das suas
crianças do que os homens. Como já foi dito anteriormente a valorização da educação escolar
feminina é predominante em famílias com capital cultural médio ou elevado e em famílias
pobres chefiadas por mulheres, que não tiveram acesso a escola e em muitos casos já foram
vítimas de violência doméstica (Osório, 2007).
5
Significa pedaço de terra, utilizado para ser referir as lavouras.
6 Coordenadora da ONG Women for Women.
8
No exemplo acima a mulher foi abusada em um espaço público enquanto realizava
suas responsabilidades femininas na machamba, geralmente locais isolados, um contexto em
que sua condição de mulher lhe deixa vulnerável a violência dos homens. Para Kimberlé
Crenshaw esta violência é intersccional, uma vez que as dimensões raciais, de gênero ou de
classe, que são parte da estrutura, têm de ser colocadas em primeiro plano, como fatores que
contribuem para a produção da subordinação (Crenshaw, 2002: 176). A falta de compreensão
das desigualdades nas relações de poder acabam tornando as mulheres e meninas vulneráveis
a violência e ao abuso sexual (Bergh-collier, 2007: 78), principalmente no espaço escolar.
Em sua pesquisa sobre socialização escolar e violência de gênero nas escolas,
Conceição Osório (2007) constatou que as vítimas de assédio sexual são desencorajadas pela
família e pela direção da escola a denunciar o agressor, sendo em muitos casos
responsabilizadas pelo assédio sofrido em virtude do uso de roupas socialmente condenáveis.
Nos casos de abuso sexual cometido na escola, por professores ou outros estudantes, as
meninas acabam sendo culpabilizadas ou incitadas a aceitar formas de mediação
insatisfatórias, que as deixam mais vulneráveis e ainda tornam a violência aceitável na
sociedade (Bergh-Collier, 2007:77).
Para Sherry Ortner essa desvalorização universal das mulheres pode ser explicada pela
concepção da “cultura como uma classe especial de manipulação do mundo” (Ortner, 2006:
111). No que diz respeito a posição dos rapazes entrevistados, Conceição Osório, constatou
que o assédio sexual esta sempre relacionado ao poder, a posição de supremacia dos
professores e da manipulação das meninas que usam o corpo como forma de troca de bens
materiais e favores escolares, para eles não há como competir com os professores ou com
outros homens adultos fora da escola. Para pesquisadora da WLSA - Women and Law in
Southern Africa Research and Education Trust a combinação desses fatores pode ser uma das
explicações para violência sexual sofrida pelas meninas no caminho para escola ou nela, “a
violação aparece nestes casos como vingança e como punição” (Osório, 2007). A violência
sexual contras as meninas não é praticada apenas pelos colegas de escola, mas por professores
9
e funcionários, trazemos como exemplo o caso noticiado no Jornal de Notícias de 23 de junho
de 2001, que um professor no distrito de Xai-Xai violentou quatro alunas de 11 e 12 anos, o
que mais chama atenção neste caso é que a direção da Escola Primária de Magawane tinha
conhecimento do caso, mas apesar disso o professor continuava a lecionar na escola. A
pesquisadora Maria José Arthur (2003) reflete sobre o assédio sexual e a violência nas escolas
a partir de carta escrita por um cidadão (sem identificação) sobre o caso acima, transcrevemos
algumas trechos:
Como foi possível deixar um incidente como este tão visível e descaradamente
impune? Perguntamos nós! Como foi possível uma instituição educadora fazer
“vista grossa” a tamanha barbaridade? Como pôde um país inteiro com 26
anos de independência não ter um destino claro para um crime desta
natureza? Exigimos e aguardamos com a paciência quase esgotada, que tal
professor violador, e os seus imitadores que sabemos existirem às dezenas
deambulando pelas instituições de ensino, sejam exemplarmente punidos com
a merecida expulsão do Aparelho de Estado e com alguns anos de cadeia
intensamente vividos (Arthur, 2003).
Este caso apresentado como exemplo, que infelizmente não é um caso isolado 7 ,
demonstra a complacência das autoridades em relação a este tipo de ocorrência. Ao
estabelecer o ensino gratuito e priorizar o campo da educação, o governo moçambicano se
comprometeu em garantir à igualdade de acesso a escola para meninos e meninas, mas
infelizmente na prática a realidade escolar ainda é muito hostil e perigosa para as meninas. A
questão central para Conceição Osório envolve a desvalorização, a super-valorização e a
negação da sexualidade feminina, o seu corpo é representando como exterior, de disputa de
dominação masculina e não para si (Osório, 2007).
Na África do Sul uma em cada três alunas do ensino secundário engravida, em muitos
casos do próprio professor, a situação moçambicana não é muito distinta. Diferentemente do
país vizinho, em Moçambique quem é punida é a estudante que devido a gravidez tem de
abandonar a escola para casar, em muitos casos com o agressor, ou ser transferida para cursos
noturnos. Como bem destaca Maria José Arthur (2003) os co-responsáveis pela gravidez,
colegas ou professores, não sofrem nenhum tipo de sanção
7
Para confeção do “Relatório do estudo sobre abuso sexual de raparigas nas escolas moçambicanas” foram
aplicados 1.191 questionários destes 117 estudantes, sendo 38 crianças (32,4%) e 79 adolescentes (67,5%),
afirmaram já ter sido vítimas de violência sexual. Em 37% dos casos o agressor é o professor/funcionário ou
colega da escola (SAVE THE CHILDREN, CARE, REDE-CAME, MEC E FDC, 2005: 25 E 31).
10
É interessante constatar que a gravidez, objecto de grandes encómios, quando
vivida no seio do casamento, é diabolizada entre as jovens sem marido porque
é elemento de desordem social, de conspurcação de valores, de fuga ao
controle social (Osório, 2007).
8
Em Moçambique esse acordo de casamento é chamado lobolo, neste caso a familia do noivo tem que dar uma
compensação financeira ou material a familia da noiva. Ver mais sobre o tema no texto “A antropologia na
África e o lobolo no sul de Moçambique” de Osmundo Pinho publicado na revista Afro-Ásia, 43 (2011), p. 9-41.
11
Cabral (2004) fica claro que as medidas corretivas que se destinam aos agressores são letra
morta, restando então aplicar a pena que se prevê para as adolescentes grávidas, aquelas que
carregam a “prova do crime”.
Os esforços no sentido de melhor compreender os problemas ligados à
interseccionalidade passam por um ponto de inflexão que vai da invisibilidade até a
conscientização dos membros de órgãos revisores dos tratados internacionais, dos
formuladores de políticas públicas, de ativistas de ONGs e de tantos outros atores (Crenshaw,
2002: 182). Tanto que no ano de 2009, após grande pressão da sociedade civil de ONG’s que
atuam em defesa dos direitos das mulheres o Parlamento Moçambicano aprovou a Lei nº
29/2009, um dos grandes avanços foi determinação de uma pena de seis meses a dois anos de
prisão em caso de estupro, e se dessa relação sexual resultar a transmissão de vírus de
imunodeficiência adquirida (AIDS), a pena será muito mais grave, entre oito a doze anos de
prisão.
12
gênero, classe e sexualidade através da raça (2006: 345). Já o conceito de raça é um dos mais
difíceis de definir cientificamente, referindo-se ao multiculturalismo Stuart Hall afirma que o
termo raça, como outros relacionados, encontra-se tão discursivamente enredado que só pode
ser utilizado “sob rasura” (Hall, 2003:51). Neste artigo estamos trabalhando com o conceito
de raça social de Antonio Sérgio Guimarães (1999), retomado por Lia Schucman (2012) em
sua tese de doutorado, que vai além da questão biológica ao afirmar que as raças são
construtos sociais baseados numa idéia errada, mas eficaz de uma “superioridade” branca.
Conceitos plenamente existentes no mundo social, produtos de formas de classificar e de
identificar que orientam as ações dos seres humanos (Guimarães, 1999 apud Schucman,
2012:36).
A colonização efetiva de Moçambique começa a partir do século 19, marcada por uma
política economicista de exploração de mão-de-obra, sem nenhum investimento em estrutura,
saúde ou educação, que era fornecida pelas missões religiosas. De acordo com Gabriela Silva
(2007: 54) é só a partir da década de 1930 que o governo colonial implementa uma profunda
modificação no sistema educacional separando negros, brancos e assimilados, visando obter
um controle mais direto sobre a educação da população negra o ensino das línguas nacionais
fica proibido. Termo assimilado era utilizado para descrever os “indígenas” que sabiam falar
o português, em alguns casos também sabiam ler/escrever e tinham uma boa conduta social.
Para os Comaroff (2010:41) os textos escritos sobre o período colonial mostram uma
cadeia de elementos e revelam um conjunto de argumentos que nos permitem verificar como
se davam as relações raciais em Moçambique durante este período a partir da analise do
sistema educacional, que desde aquela época se mostrava discriminatório, uma vez nas
escolas dos negros não havia estrutura adequada, bem como aulas ministradas por professores
mal preparados, vedando o acesso dos negros ao ensino superior e a postos de trabalho mais
valorizados, privilegiando os filhos da população branca (Silva, 2007: 55). A extinção deste
sistema segregacionista, com escolas para negros e escola para brancos, tem início em 1975
com a independência do país, também é a partir desta época são criadas as primeiras escolas
mistas, para meninos e meninas.
13
En una sociedad estructurada por desigualdades de clase y raciales las
feministas negras tuvieron que movilizarse en dos frentes: por un lado, contra
los hombres negros que las oprimían en tanto que mujeres y, por otro, contra
el racismo de la población blanca que las explotaba y discriminaba. (Stolcke
2004: 91)
14
prazo. As políticas de Moçambique reduziram o número de pessoas vivendo na pobreza
absoluta de 69.4% entre 1996/1997 para 54.1% entre 2002/2003 (Bergh-collier, 2007:26).
As áreas estratégicas de ação são: 1. Educação, 2. Saúde, 3. Agricultura e
desenvolvimento rural, 4. Infra-estrutura básica, 5. Boa governação e 6. Gestão macro-
económica e financeira. De acordo com o texto do PARPA II a seleção dessas prioridades
resultou do diagnóstico dos determinantes da pobreza em Moçambique, dos estudos
direcionados à redução da pobreza (a luz de lições de experiências internacionais) e das
consultas com a sociedade civil e setor privado. Neste artigo daremos maior destaque as
estratégias de ação do PARPA em relação a Violência e Educação, sobre este último aspecto
o plano conjetura melhorar o nível educacional da população economicamente ativa, com
maior destaque para as mulheres que apresentam uma taxa de analfabetismo na área urbana de
46% e na zona rural de 85%. Isto significa que uma criança pobre numa zona urbana tem
maior probabilidade de frequentar a escola do que uma criança não pobre na zona rural,
entretanto, numa zona rural um rapaz pobre tem maior probabilidade de frequentar a escola do
que uma mulher não pobre (PARPA III). Outras ações chave incluem a criação de um
programa de alfabetização de adultos, direcionado particularmente para mulheres das zonas
rurais através de parcerias com instituições religiosas e ONG’s, tendo como modelo o
PASMO - Programa de Alfabetização Solidária de Moçambique9 e a formação de professoras
primárias elevando pelo menos para 45% a proporção de mulheres com magistério. Para
Elísio Macamo (2002) as intervenções humanitárias, o reajustamento estrutural, o alívio à
pobreza, a democratização, a reconciliação, tornam Moçambique em grande parte visível e
compreensível como realidade social. O plano também destaca a relação entre a educação do
chefe familiar e o estado de pobreza da família, esta relação é especialmente forte nas zonas
urbanas e nos agregados chefiados por mulheres. Lembrando que nos países africanos a
matrilinearidade permanece, o poder de máximo de decisão continua nas mãos das mulheres
(Corrêa e Homem, 1977:31). O novo PARP, aprovado pelo Conselho de Ministros em maio
de 2011, também prevê a titulação de terras para as comunidades, especificamente em nome
das mulheres da família. A violência nem é citada na primeira versão do PARPA, surgindo
apenas dentro da área de Boa Governação onde o programa prevê:
9 O Pasmo é um programa de origem brasileira, podemos ler mais sobre ele no artigo “Reflexões sobre
alfabetização em Moçambique” de Cristina Martins Fargetti (UNIMEP).
15
desenvolvimento de um programa focalizado para reduzir e conter a
corrupção a todos os níveis. PARPA I
16
necessidade de aprofundamento dos estudos dos perfis da pobreza em Moçambique na
perspectiva do gênero, esperando-se que produzam informações que permitam aperfeiçoar as
políticas públicas neste país.
17
formação das concepções de masculinidade, feminilidade e relações de género
em Moçambique (Tvedten, Paulo & Montserrat 2008).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABUDO, José. (2011). “A Lei da Família não está a funcionar”. Entrevista para o Jornal
“O País”, publicada em 04 de julho de 2011. Disponível em:
http://www.opais.co.mz/index.php/entrevistas/76-entrevistas/14456-
imagesstoriessociedadejose-abudo-entrevist06x11x625x230jpg.html
ARTHUR, Maria José (2003) Assédio sexual e violação nas escolas. Recortes de imprensa.
Outras Vozes, nº 3, maio de 2003.
ARTHUR, Maria José e CABRAL, Zaida (2004) Essas gravidezes que embaraçam as
escolas. Violação dos direitos humanos das jovens adolescentes. Outras Vozes, nº 7, maio
de 2004.
18
BRAH, Avtar (2006) Diferença, diversidade, diferenciação. Cadernos Pagu [online]. n.26,
pp. 329-376, 2006. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-83332006000100014.
CERVO, Amado Luiz e BERVIAN, Pedro Alcino (1983) Metodologia cientifica: para uso
dos estudantes universitários. São Paulo: McGran Hill do Brasil.
CHANT, Sylvia (2007) Gender, Generation and Poverty. Exploring the 'Feminisation of
Poverty' in Africa, Asia and Latin-America. Londres: Edward Elgar.
19
OSÓRIO, Conceição (2007) A socialização escolar: educação familiar e escolar e violência
de género nas escolas. Outras Vozes, nº 19, maio de 2007.
________________ (2001) Género e Pobreza em Moçambique: Revisão de Literatura:
Questões Conceptuais de Género e Vulnerabilidade. Harare: ILO/SAMAT
RUBIN, Gayle (1993) O tráfico de mulheres: notas sobre a “economia política” do sexo.
Recife: SOS Corpo.
SAVE THE CHILDREN, CARE, REDE-CAME, MEC E FDC (2005). Estudo sobre o
Abuso Sexual das Raparigas nas Escolas Moçambicanas. Síntese dos Resultados
Principais editado pela WLSA e publicado em Outras Vozes, nº 20, Agosto de 2007.
SCOTT, Joan (1998) La Citoyenne Paradoxale: les féministes françaises et les droits de
l’homme. Paris: Ed Albin Michel.
__________. (1995) Gênero, uma categoria útil de análise histórica. Educação e
Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2.
SILVA, Mariza Maffei da (1995) Mulher, identidade fragmentada. In: ROMERO, Elaine
(org.). Mulher, corpo e sociedade. Campinas, São Paulo: Papirus, 1995. p. 109-123.
SORG, Letícia (2011) A mais covarde das armas de guerra. In: Revista Época nº 687, p.
104 a 106.
STOLCKE, Verena (2006) O enigma das interseções: classe, ‘raça’, sexo, sexualidade: a
formação dos impérios transatlânticos do século XVI ao XIX. Revista Estudos Feministas,
vol.14, nº.1, p.15-42.
________________ (2004) La mujer es puro cuento: la cultura del género. Revista Estudos
Feministas, vol. 12, nº. 2 pp. 77-105.
20